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Yasunari Kawabata
895. 63/K22/NEM
BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ
DOAÇÃO
tradução do japonês
Meiko Shimon
Estação Liberdade
Orelha da contracapa
objeto de consenso na crítica literária mundial que
Yasunari Kawabata descreveu com
meticulosa concisão as profundezas da alma feminina
e revelou o corpo da mulher em seu mais
sutil esplendor. Dono de uma capacidade de
observação única, nenhum detalhe, nenhuma
verdade escapam de seu olhar incomum. Em A casa das
belas
adormecidas, Kawabata dedicou-se obsessivamente a
esta marca de sua
literatura. Imbuído do matsugo no me, que talvez
pudéssemos traduzir por
"o olhar derradeiro", Kawabata nos dá a impressão de
pintar em cores vivas as últimas imagens
de quem vai partir deste mundo.
Capítulo 1
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- Não.
- A mocinha já está no quarto ao lado?
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Eguchi tomou na mão a chave deixada pela mulher e a
examinou. Era uma chave comum.
Pegá-la seria a ação antecedente à sua ida para o
quarto ao lado, mas Eguchi permaneceu
sentado. Como a mulher dissera, o ruído das ondas
era forte. Era como se as ondas batessem
na alta falésia, como se aquela pequena casa
estivesse à beira delas. O som do vento trazia a
aproximação do inverno. Senti-lo desse modo talvez
se devesse àquela casa, talvez ao estado
de espírito do velho Eguchi, pois não fazia frio e
só havia o braseiro aceso. Aquela era uma
região de clima ameno. Não havia sinais de que as
folhas secas das árvores se espalhassem
com o vento. Como Eguchi chegara tarde da noite, não
pôde observar a topografia dos
arredores, mas sentiu o cheiro do mar. Além do
portão ficava o jardim, bastante amplo para a
dimensão da casa, onde havia vários pinheiros
gigantes e bordos. Contra o céu sombrio, viam-
se em nítidos contrastes as agulhas dos pinheiros
pretos. Aquela devia ter sido uma casa de
férias.
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- Ah!
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lhe parecia tanto como antes o sinal da aproximação
do inverno. O barulho das ondas que
batiam na falésia, embora continuasse alto, tornara-
se mais suave, e a ressonância do ruído
parecia vir do mar como música tocada pelo corpo da
garota, acrescidas das batidas de seu
coração e das pulsações de seu punho. Atrás das
pálpebras do velho, borboletas brancas
esvoaçavam ao ritmo da música. Eguchi soltou o punho
da menina. Agora ele não tocava mais
nenhuma parte do corpo dela. O cheiro da sua boca, o
cheiro do seu corpo, o cheiro do seu
cabelo não eram fortes.
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- É menino ou menina?
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Capítulo 2
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- Sim.
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- Como?
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parecia esconder um sorriso zombeteiro. - Os
clientes desta casa não são volúveis. Só
recebemos clientes em quem podemos confiar. - A
mulher de lábios finos não olhava para o
rosto do velho Eguchi. Ele quase tremia de
humilhação, mas não sabia o que dizer. "Esta
mulher não passa de uma velhota de sangue-frio
acostumada a tudo", pensou.
- Pois, isso...
A mulher se levantou, abriu a porta do quarto ao
lado e espiou lá dentro. Depois, colocando a
chave na frente do velho Eguchi, disse:
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e virou de bruços. Parecia ser a posição preferida
dessa garota para dormir. Seu rosto
continuava voltado para o lado do velho, com a mão
direita abraçando de leve o travesseiro. Ela
então pousou o braço esquerdo sobre o rosto dele. No
entanto, não falava mais nada. O sopro
suave da sua respiração chegava-lhe quente. Mas o
braço sobre o rosto de Eguchi se mexia,
procurando o equilíbrio. Então, com ambas as mãos,
ele colocou-o sobre os seus olhos. As
pontas das unhas compridas da garota arranharam de
leve o lóbulo da orelha dele. A
articulação do pulso dobrava-se sobre a pálpebra
direita de Eguchi, de forma que a mesma
ficou coberta com a parte mais fina do antebraço.
Desejando conservar a posição, o velho
apertou a mão da garota sobre seus olhos. O cheiro
da pele dela penetrava-lhe os globos
oculares e lhe proporcionava novas e fartas
fantasias. Era bem nessa época do ano que duas ou
três flores de peônia de inverno, banhadas pelo sol
tépido como de um dia de primavera,
floresciam ao pé do alto muro de pedras do velho
templo da região de Yamato, e que
sazanka brancos cobriam amplamente o jardim até a
beira do corredor externo do
pavilhão Shisendo, onde homenageiam-se os poetas.
Também, mais tarde, na primavera em
Nara, as flores de ashibi e as glicínias, além das
camélias despetaladas, estariam
em pleno florescimento no Templo das Camélias.
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a característica de não caírem inteiras, mas
espalhadas, daí serem conhecidas como
camélias despetaladas.
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- Não.
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- Senhor, senhor!
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trasse na rua...
- Sim, senhor!
- Uma desgraça?
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Capítulo 3
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- Filhos?
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- Quatorze anos.
A garota não tinha a menor inibição para com um
homem. Também não tinha nenhum
complexo ou autocomiseração. Era totalmente
espontânea. Mal teve o cuidado de se ajeitar e
logo saiu às pressas para a festa da cidade. Eguchi
ficou fumando, enquanto escutava os
tambores, as flautas e os gritos dos vendedores das
bancas noturnas.
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Capítulo 4
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- Pois é.
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- E a neve?
- Ah, sim.
- Ah, sim.
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Capítulo 5
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- Bem, talvez.
- Não.
103
- Hum.
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105
- Ah, não?
106
- Não.
- Duas?
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- Fez sim.
- Não fiz!
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- Ah!
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YASUNAR1 KAWABATA
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