Kjeld Jakobsen, Comércio Internacional e desenvolvimento: Do GATT à
OMC – discurso e prática
O GATT: de Genebra a Tóquio.
Criação do GATT:
- 1934: Acordos de Comercio Recíproco
- 1944: Bretton Woods: criou o FMI e o BIRD. - Em 1943 a Comissão anglo-americana apresentou um documento chamado “Proposta para expansão do comercio mundial e do emprego” que foi base para as reuniões preparatórias para a Conferência das NU sobre Comércio e Emprego, em 1946 e em Havana, a qual pretendia cirar a Organização Internacional de Comércio (OIC), pilar faltante do tripé de entidades pensadas para melhor regular a economia internacional do pós-2ª GM (BIRD e FMI haviam sido criados em 1944, em Bretton Woods). Criou-se, nessa conferência, a “Carta de Havana”, pela qual se criaria a OIC, no entanto, o congresso americano, que era majoritariamente republicano, era contrário a uma instituição que regulasse e liberalizasse o comércio, pois o comercio bilateral era mais vantajoso para o país do que o multilateralismo. A Carta não foi assinada e a OIC não saiu do papel (ninguém se dispôs a levar a OIC adiante sem os EUA). A solução encontrada foi a adoção somente do aspecto econômico (sem criação de instituição internacional fiscalizadora) de maneira a conceder ao acordo caráter executivo, não necessitando, dessa maneira, da aprovação dos respectivos congressos. Criou-se assim, em 1947, o GATT (general agreement on trade and tariffs), acordo executivo que não previa aprovação do legislativo e que propunha “promover um comércio mais livre e justo” (apesar de que a forma adotada deixou de lado os princípios de desenvolvimento econômico dos países não-industrializados, presentes na Carta de Havana) mediante redução tarifaria, eliminação de BNT, abolição de praticas de concorrência desleal, aplicação e controle de acordos comerciais e arbitragem contenciosas comerciais. O GATT, assinado primeiramente por 23 países (sendo 11 PEDs) e tendo como regra “um país, um voto”, foi concebido com três princípios: 1. Não-discriminação: por meio da cláusula da nação mais favorecida (beneficio para um = beneficio para todos) e do tratamento nacional (igualdade de tratamento entre produtos importados e nacionais). Apesar dessa cláusula, no próprio art.24 autoriza-se a existência de ZLCs e blocos regionais. 2. Redução geral e progressiva das tarifas: RECIPROCIDADE! Pode ocorrer por meio de negociações produto a produto, redução linear ou pela harmonização dos direitos aplicados nos diversos países (direitos de aduana). No entanto, o art.19 estabeleceu a cláusula de salvaguarda, que permitia aumento de tarifas quando setores importantes de economias nacionais se encontrassem ameaçados. 3. Proibições de restrições quantitativas às importações, dumping e subsídio às exportações. Apesar de o art.12 permitir a aplicação de restrições quantitativas às importações quando a BC estiver muito deficitária (desde que essas restrições sejam suspensas quando a situação normalizar). O GATT constituiu conselho permanente de representantes em 1960, com sede em Genebra, para mediar e arbitrar as controvérsias. Permaneceu o principio inicial do GATT que previa que as rodadas de negociações comercio determinavam as regra.As deliberações eram tomadas por maioria simples. Nos casos de decisões sobre admissão de novos membros, autorizações para aplicação de exceções e aprovação de zonas de livre comerciam ou união aduaneira eram necessários 2/3. Ao todo foram efetuadas 8 rodadas ao longo do GATT: - 1947: Genebra. - 1949: Annecy - 1951: Torquay - 1956: Genebra (já surgem, ainda que tímidas, as primeiras reações dos PEDs contra as barreiras tarifárias e não-tarifárias que dificultavam suas exportações). - 1960-61: Rodadas Dillon - 1964-67: Rodada Kennedy - 1973-79: Rodada Tóquio - 1986-94: Rodada Uruguai
Até a Rodada de Dillon (1960-1961) os únicos temas em negociação na pratica
eram sobre redução tarifaria de bens industriais e a política comercial do GATT, que incluíam regras anti-dumping e medidas compensatórias.Nas rodadas seguintes o método adotado foi o da redução linear de tarifas. Em 1956, na Rodada Genebra, houve reação dos PEDs. Em 1964 foi realizada a 1ª UNCTAD, que viria a se tranformar em mecanismo permanente de auxílio aos PEDs por melhores condições nas rodadas comerciais (forte presença do G77).
Decisões aprovadas na UNCTAD e incorporadas no GATT:
1. Principio da não reciprocidade: regulamentada nas Rodadas Kennedy e Tóquio,
onde se logrou agregar ao art.4 do GATT o princípio da não-reciprocidade, o qual permitia que os PEDs não estivessem obrigados ao princípios da NMF, podendo conceder preferências tarifárias a outros PEDs (sem criação de ZLC). 2. Sistema Geral de Preferências (SGP): adotado na 2º Conferencia UNCTAD, em 1968, e regularizado na Rodada Tóquio, o SGP por meio da “cláusula de habilitação”, que permitia concessões unilaterais que não teriam de responder a NMF (no entanto, o cancelamento desses SGPs também é unilateral, podendo influir fatores políticos, além de que os SGPs foram setoriais, não entrando os produtos que os PEDs são mais competitivos). Exemplo de SGP foi efetuado pela UE pelos Acordos de Lomé, onde os principais beneficiários foram suas ex-colônias. 3. Sistema Geral de Preferências Comerciais (SGPC): proposta na UNCTAD de 1976, mas entrou em vigor em 1989.
O GATT e a crise dos anos 1970:
- EUA: cambio livre gerou desestabilização de Bretton Woods. - 1973: Crise do Petróleo - Rodada Kennedy (1964-1967): Tarifas e incorporação do tema ANTI-DUMPING. - Rodada Tóquio (1973-1979): se deu em contexto de crise econômica mundial provocada pelo fim do sistema ouro-dólar (de BW) e pela crise do petróleo. Maior liberalização e criou novas regras que tinham caráter plurilateral, e trataram de temas como: subsídios, medidas compensatórias, barreira técnicas ao comércio (barreiras não tarifarias), compras governamentais, antidumping, comércio de aeronaves civis REDUÇÃO DO PAPEL DA UNCTAD. - Rodada do Uruguai (1986-1994): incorporação dos “novos temas”(commodities, anti-dumping ganha mais força – surgiu na Rodada de Kennedy, produtos agrícolas, serviços, propriedade intelectual, têxtil.), criação da OMC ( o GATT não deixa de existir, pois foi incorporado à OMC em 1994), criação do Grupo de Cairns (produtores primários).
Resumo: PI 322 – Monica Herz e Andrea Ribeiro Hoffmann
A cooperação Funcional na Área do Comércio Internacional e a
Organização Mundia de Comércio (OMC)
Bretton Woods (1944): 44 países se reúnem e decide-se pela criação de três
onrganizações: i. FMI: principal tarefa seria estabelecer e supervisionar um sistema internacional de câmbio fixo, promovendo estabilidade monetária e fornecer cráditos de curto prazo para países com problemas na BP. ii. BIRD: forneceria empréstimos de longo prazo para financiar reconstrução e desenvolvimento para os países destruídos pela Guerra (nessa ordem de prioridade). iii. OIC: acabou não sendo criada devido a não-ratificação pelo congresso americano da “Carta de Havana”, elaborada em conferência da NU em 46. No entanto, dessa mal-sucedida OI aproveitou-se parte do que foi acordado para gerar o GATT (assinado em 47, entrou em vigor em 48). Na falta de uma OI para coordenar a cooperação na área de comercio internacional, o GATT assumiu esse papel de forma menos institucionalizada.
Apesar do sucesso do período inicial por conseguir reduzir tarifas e aumentar o
numero de signatários ao longo dos anos, o GATT se mostrou incapaz de se adaptar às mudanças advindas da globalização (como por exemplo a diminuição de importância do comércio de produtos industrializados e o aumento do comércio de serviços, propriedade intelectual e têxteis, além da diminuição das BTs e aumento das BNTs). Outra que questão que se tornou polemica foi o tratamento especial e diferenciado aos países em desenvolvimento – um dos impasses nas negociações da OIC havia sido o conflito entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento com relação a premissa liberal de que o livre comercio favorecia todo mundo. Para os países em desenvolvimento era necessário considerar o impacto do comercio sobre o emprego e o desenvolvimento dos países mais pobres. Iniciada em 1986 em Punta del Este e finalizada em abril de 1994 em Marraqueche, a Rodada Uruguai foi a mais ampla e complexa negociação sobre o comercio internacional. O lançamento da Rodada se deu com uma clara divisão de interesses entre países desenvolvidos que defendiam a introdução de temas como serviços e propriedade intelectual, e países em desenvolvimento que defendiam negociações em áreas tradicionais como agricultura e têxteis, que estavam praticamente excluídas do Acordo Geral. Em dezembro de 1988 foi realizada em Montreal a Conferencia Ministerial de Meio Termo ( Mid-Term Review), para se avaliar os resultados conseguidos até então e negociar os termos que permitissem a sua conclusão. Em 1990, prazo para o encerramento a Rodada, foi atingido um impasse em Bruxelas sobre as questões da área agrícolas. As negociações recomeçaram em 1991, mas o impasse só foi quebrado em 1992 com o Acorde Blair House entre CE e EUA sobre a área agrícola. Em 1993, os membros do Quad que integra EUA, CE, Canadá e Japão, negociaram com o G7 uma forma de se avançar com as negociações, principalmente na área de acesso a mercados. As negociações em Genebra recomeçaram e, praticamente, foram encerradas em dezembro de 1993. O Acordo de Marraqueche, que engloba todas as áreas negociadas durante a Rodada, foi assinado em abril de 1994. A OMC finalmente entra em operação em janeiro de 1995. Sendo assim a Rodada Uruguai (1986-1994) começou a tratar desse temas, no entanto, a necessidade de reforma no sentido de maior institucionalização levou os países a criarem a OMC. A criação da OMC não representou ruptura do regime de CI mas sim sua ampliação (tanto é que o GATT é parte da OMC). Todos os acordos da rodada uruguai (Agrícultura, têxteis, antidumping) foram somadas a organização, a qual foi criada pelo Tratado de Marraquesh (1994) dando fim a rodada Uruguai. Além dos princípios já existentes no GATT - como a Clausula da Nação Mais Favorecida e Clausula do Tratamento Nacional- foi incluído na OMC o princípio do Single Undertaking ( os países são obrigados a aceitar todos os pontos negociados = aceita tudo ou não aceita nada). Os principais temas negociados na Rodada Uruguai foram: • criação da OMC : status de OI • rebaixamento tarifário para produtos industriais e produtos agrícolas • introdução de novos setores para o quadro do GATT e liberalização dos mesmos: agricultura, têxteis, serviços e propriedade intelectual. • reforço das regras do GATT • negociação de um novo processo de solução de controvérsias • negociação de uma serie de entendimentos sobre diversos artigos do Acordo Geral.
O processo decisório da OMC segue a pratica do GATT, ou seja, por
CONSENSO, isto é quando nenhum dos membros presentes formalmente objetar à decisão proposta. Quando a decisão não puder ser tomada por consenso, pode ser tomada por votação, em que cada membro tem direito a um voto, nas reuniões da Conferencia de Ministros e do Conselho Geral. Decisão por voto são tomadas por maioria, ou conforme estabelecido nos Acordos. Decisões por maioria são previstas nas seguintes circunstancias: nos casos de interpretação de medidas previstas no acordo, com a maioria de 3/4 dos votos; nos casos de pedidos de derrogações de obrigações (waivers) por parte de um membro, com maioria de 3/4 ; nos casos de modificações dos acordos, com maioria de 2/3; e nos casos de adesão de novos membros à OMC, com maioria de 2/3. No entanto, modificações no próprio Acordo sobre a OMC e sobre o processo decisório exigem a aceitação de todos os membros por consenso. O principal órgão da OMC é a Conferência Ministerial, que se reúne a cada dois anos e toma decisões por consenso, tendo cada membro direito a um voto (diferente do FMI e BM que o voto é proporcional à contribuição financeira). Isso não quer dizer que todos tem o mesmo poder dentro da OMC, uma prática comum é a formação de coalizões normalmente associadas pelos blocos econômicos regionais. Outros grupos são formados por outras afinidades como é o caso do Grupo de Cairns, G20 etc. Além disso, grande parte das decisões é tomada em encontros informais, chamados de processo da Sala Verde ( Green Room), pelos EUA, EU, Japão e Canadá (QUAD). Além da Conferencia Ministerial, os outros órgão da OMC são o Secretariado, o Conselho Geral e os Conselhos setoriais. Esses Conselhos possuem representantes de todos os membros, com direito igual de votos e tomam decisões por consenso (ou maioria simples se necessários). A sede da OMC é em Genebra. A maior inovação da OMC é o Sistema de Solução de Controvérsias, ao qual foi criado – além do já existente Órgão de Soluções de Controvérsias - o Órgão Permanente de Apelação (maior institucionalização jurídica criando instância recursal às decisões dos painels) e instituído o princípio do consenso reverso. O Órgão de Solução de Controvérsias é composto pelos membros do Conselho Geral e atua pela mediação política, procurando solucionar os conflitos de forma diplomática Se necessário, ele pode convocar painéis ad hoc, compostos por 3 especialistas escolhidos pelas partes conflitantes. AMBAS AS PARTES podem, então, recorrer ao Órgão Permanente de Apelação, que tem caráter permanente e é composto por 7 membros – especialistas da área de direito e comercio internacional – apontados pelo Órgão de Solução de Controvérsias para um mandato de 4 anos, e podem incluir medidas compensatórias. Outro órgão criado foi o Órgão de revisão de políticas comerciais – composto por membros do Conselho Geral- que tem como objetivo monitorar as políticas comerciais dos membros da organização por meio de relatórios (Trade Policy Review) : os membros de maior participação no CI são revisados a cada 2 anos, e os de menor a cada 4 anos e os em transiçào a cada 6 anos (contribuiu para aumentar a transparência). As relações da OMC com as ONGs é mais de caracterizada de conflito, do que de colaboração. Apesar de não poderem participar dos grupos de negociação, as ONGs ganharam acesso aos plenários das Conferencias Ministeriais. A OMC também tem enfrentado impasse internos com a crescente polarização entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos nas negociações da Rodada do Milênio. Criação do G20, nas negociações de Cancun, sobre liderança do Brasil: tem como principal objetivo o fim dos subsídios agrícolas nos países desenvolvidos. Conferência de Cingapura: “novos temas” lançados são o da transparência em compras governamentais, facilitação de comércio, comércio e investimento, e políticas de concorrência. O Status da OMC: a OMC tem personalidade legal reconhecida por cada um de seus membros e recebeu de cada um deles a capacidade legal necessária para exercer suas funções.
RODADAS DE NEGOCIAÇAO DO GATT
Ano Local Questões temáticas negociadas 1947 Genebra Tarifas 1949 Annecy Tarifas 1951 Torquay Tarifas 1956 Genebra Tarifas 1960-1961 Genebra (Rodada Tarifas Dillon) 1964-1967 Genebra (Rodada Tarifas e medidas Kennedy) antidumping 1973-1979 Genebra (Rodada Tarifas, barreiras de Tóquio) não tarifarias 1986-1994 Genebra (Rodada Tarifas, barreiras do Uruguai) não tarifarias, produtos agrícolas, serviços, propriedade intelectual, têxtil. CONFERÊNCIAS MINISTERIAIS DA OMC Ano Local 1996 Cingapura (“novos temas”) 1998 Genebra 1999 Seattle 2001 Doha (lançou a Rodada do Desenvolvimento ou Rodada Doha – somente para produtos agrícolas) 2003 Cancun
• Conferências Ministeriais: composta pelos MREs, MFs e MDIC.
I. 1996 – Cingapura: primeira conferência, sendo seu grande objetivo fortalecer a OMC e retomar tudo o que foi decidido. Além disso se criam os chamados “Temas de Cingapura”: Investimentos. Concorrência. Compras Governamentais (transparência no setor público). Facilitação de comércio. II. 1997 – Genebra: retoma os pontos de Cingapura, e tem por principal objetivo buscar rearticular as principais instituições econômicas internacionais – para controlar a crise financeira asiática. Buscou-se lançar uma nova rodada, mas em função do single undertaking há certo impedimento para a definição dos temas. III. 1999 – Seattle: grande objetivo dessa conferência era lançar rodada do milênio. No entanto, ocorreram distúrbios devido a protestos de organizações da sociedade civil, envolvendo principalmente a questão ambiental (cláusulas ambiental e social – EUA queriam implementar essas cláusulas mas OMC decide que temas deveriam ser tratados nas respectivas OIs) – Noroeste americano é o epicentro de onde surgiu o movimento ambiental internacional. Resultado da conferência: Impasse e fracasso. IV. 2001 – Doha: conferência se dá logo após os atentados de 11 de setembro, o que criou um clima de solidariedade internacional, isso permitiu o lançamento da Rodada do Desenvolvimento (Rodada Doha) com temas importantes: Agricultura. Negociado principalmente em torno do G20 (surgido em 2003 na conferência de Cancún). NAMA (acesso a mercados de produtos não-agrícolas – non- agricultural market access). Fricções Comerciais: buscava impedir que o OSC fique sobrecarregado. Serviços: junto com a questão agrícola é o que travou a rodada. PDs querem discutir serviços e não agricultura, PEDs querem agricultura e não serviços – visto que os PDs tem vantagem comparativa em serviços (setores bancários mais fortes) e PEDs em Agricultura. Negociação se deu por meio do “QUAD” (EUA, UE, Japão e Canadá). Desenvolvimento: buscavam negociar abertura comercial com padrões diferentes. Fármacos. Propriedade Intelectual. Regras Internacionais: busca por aumentar a fluidez no mercado internacional (logística). Meio Ambiente V. 2003 – Cancún: agricultura gera o impasse de Cancún. Tem início a articulação dos PEDs para negociar agricultura com a criação do G20 – grupo de países agroexportadores que discutem o tema da agricultura na OMC. VI. 2005 – Hong Kong: apesar dos esforços, o impasse persiste nos temas de agricultura e serviços – faz com que não se tenha outra conferência no tempo previsto (2 anos). VII. 2008 – Genebra: tentativa de se estabelecer prazos e acaba por ser remarcada para dezembro de 2008, a qual não ocorre em função da crise internacional.
O “TRIBUNAL” DA OMC: O ÓGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVERSIAS
O sistema de solução de controvérsias anterior do GATT, em casos de conflito
comerciais, previa um processo de consultas e depois o estabelecimento de painéis de especialistas, que elaboravam um relatório sobre a controvérsia. No entanto, dentro desses sistema, o relatório tinha que ser aprovado pelo Conselho Geral, por consenso. Assim, bastava a parte perdedora não aceitar o relatório para que todo o processo fosse bloqueado. O novo sistema é mais forte porque tem a possibilidade de aplicação de retaliações aos membros que adorem medidas inconsistentes com as regras da OMC, além disso o relatório do painel é obrigatório e exige que o OSC derrube o relatório por consenso, para que o processo seja bloqueado (“consenso reverso” = 1 voto a favor já torna a decisão obrigatória). Outra novidade do Acordo é o estabelecimento de um Órgão de Apelação, que funciona no sistema como um Tribunal de Apelação, e tem como função verificar os fundamentos legais do relatório do painel e das suas conclusões. A prioridade é de solucionar casos de controvérsia entre as partes, primeiro, através de consultas, e somente se um acordo não for possível é que se parte para o painel. No caso de estabelecimento de painéis o objetivo do mecanismo é fazer com que a parte afetada modifique sua política de comercio exterior de acordo com as regras da OMC. Somente nos casos de recusa de tal cumprimento é que a OMC autoriza retaliações. O Entendimento foi estabelecido com o objetivo de estabelecer as regras e procedimentos para aplicar o mecanismo de consulta e solução de controvérsias dentro da OMC. O Entendimento estabelece que o OSC deve ter competência para estabelecer painéis, adotar relatórios de painéis e relatórios do Órgão de Apelação, acompanhar a implementação das decisões e recomendações e autorizar a suspensão de concessões e outras obrigações dentro dos acordos. Caso um acordo não seja alcançado pelo mecanismo de consulta, podem as partes pedir aos OSC o estabelecimento de um painel (são permitidos mecanismos de bons ofícios, mediação e conciliação). O painel deve ser composto por 3 ou 5 indivíduos qualificados, pertencentes ou não aos governos. A função do painel é de auxiliar o OSC, fazendo uma avaliação objetiva sobre a matéria, dos fatos e da aplicabilidade e da conformidade com os acordos, formular conclusões que possam auxiliar o OSC em fazer suas recomendações ou emitir suas decisões. O relatório final do painel deve ser apresentado no prazo de 6 meses, e em caso de urgência em 3, mas nunca pode exceder os 9 meses. Dentro de 60 dias após a circulação do relatório do painel para os membros, a decisão do painel deve ser adotada em uma reunião da OSC, a menos que uma das partes na controvérsia notifique o OSC de sua decisão de apelar ao Órgão de Apelação, ou o OSC decidir por consenso a não adotar o painel. O Órgão de Apelação é composto por 7 pessoas, em processo de rotação, sendo 3 atuantes em cada caso. Deve ser composto por pessoas de reconhecida competência, com domínio nas áreas de direito, comercio internacional e do tema do acordo em questão, e não vinculados aos governos. O Órgão deve apresentar o seu relatório em 60 dias, sendo que nenhum caso pode exceder os 90 dias. Uma apelação deve se limitar a temas legais tratados no relatório do painel e interpretações legais desenvolvidas no painel. O órgão de Apelação pode manter, modificar ou reverter os pareceres e decisões legais e as conclusões de um painel. Um relatório do Órgão de Apelação deve ser adotado pelo OSC e ser incondicionalmente aceito pelas partes na controvérsia, a menos que o OSC decida POR CONSENSO não adotar o relatório dentro de 30 dias de sua circulação pelos membros. Dentro de 30 dias após adoção dos relatórios pelo OSC, o membro envolvido deve informar ao OSC suas intenções de implementar as recomendações e decisões do OSC. Caso isso não ocorra, as compensações e a suspensão de concessões ou outras medidas obrigatórias passam a ser medidas temporárias disponíveis. Caso o membro não for capaz de corrigir a medida que vai contra o acordo, este deve entrar em negociação com a outra parte, com vista a negociar compensações adequadas. Se tais compensações não puderem ser acordadas dentro de 20 dias, a parte que solicitou o painel pode solicitar autorização do OSC para suspender a aplicação de concessões ou outra obrigação dentro do acordo em questão.