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article treats of the fact that the main theoretical developments found in the
psychoanalytic literature for understanding the death drive seem to follow lines
that are univocal and independent of other aspects also related to the concept
of the death drive.
Key words: Death drive, metapsychology, pleasure principle
dade como a pulsão de morte gera no fação de suas necessidades vitais, não
autor uma certa hesitação. A questão possuindo o caráter libidinal encontra-
que aqui se coloca é saber escolher o do nas pulsões sexuais.
melhor caminho a ser seguido para que Alguns anos depois dessa primeira teo-
o resultado seja satisfatório. Refletindo rização sobre as pulsões, com o avan-
melhor, nisso já se encontra muito do ço da pesquisa psicanalítica, surgiu a ne-
que se refere à pulsão e às suas vicissi- cessidade de ser elaborada uma segun-
tudes, tendo em vista a idéia de percur- da teoria que supostamente desse con-
so, de caminho pulsional que os quatro ta de certos aspectos estranhos aos pri-
elementos da pulsão – fonte, pressão, meiros achados. No decorrer de sua ex-
objeto e finalidade – por suas defini- periência dentro da psicanálise, Freud sen-
ções, nos sugerem.1 tiu-se compelido a circunscrever as for-
Depois de feita a alusão, talvez seja im- ças que resistem à análise e opõem-se
portante começar diretamente por esse ao sucesso do tratamento psicanalítico.
texto que já de início nos coloca uma Essa segunda teorização sobre as pul-
idéia de difícil digestão quando diz que sões (Laplanche, apud Green, 1988;
o conceito de pulsão se situaria entre o Garcia-Roza, 1988) aparece, então, em
mental e o somático. Mais ainda, que ela 1920, com “Além do princípio do pra-
teria um caráter constante – o que a di- zer”, que trazia fundamentalmente uma
ferenciaria de um instinto – e só pode- intrigante questão à psicanálise por ir de
ria ser aprendida pelo seu representante encontro ao postulado básico de que
na vida mental (Freud, 1969). Em “A todo o psiquismo deveria funcionar de
pulsão e suas vicissitudes”, encontrare- acordo com o princípio do prazer. Ora,
mos o primeiro aspecto importante que como admitir, para citar um dos aspec-
interessa diretamente aos propósitos tos, que ocorra no aparelho psíquico um
deste trabalho. Embora Freud demons- evento com a força de uma compulsão
tre o cuidado de não afirmar o que se- que leva as pessoas a repetirem situa-
gue de maneira definitiva, o texto nos ções supostamente desagradáveis, seja
deixa com a noção de que existem pelo em realizações, relacionamentos, em so-
menos dois grupos de pulsões primor- nhos ou na própria análise?
diais – as autopreservativas e as sexuais. No texto de “Além do princípio do pra-
As primeiras pulsões, também chama- zer”, Freud escreve como se estivesse
das pulsões do ego, estariam envolvidas construindo naquele mesmo momento
na conservação do organismo, na satis- toda sua argumentação. Apresenta seu
1. A partir de uma estimulação orgânica na fonte, estabelece-se uma pressão, uma exigência
de trabalho que, através do objeto – que poderá ser uma parte do próprio corpo do indivíduo
–, passa-se à satisfação pela eliminação do estímulo na fonte.
A pulsão de morte de Freud 49
bate proposto neste trabalho e, portan- móveis nos elementos dos sistemas psí-
to, será retomado adiante. quicos (Freud, 1976: 42)
Frente ao primeiro grande dilema, Freud Nos capítulos que seguem daqui até o
parte para uma mudança de enfoque na final de “Além do princípio do prazer”
argumentação, tal qual um lutador que encontraremos várias hipóteses, antíte-
interrompe a primeira investida para tro- ses, autocríticas e argumentações bus-
car a arma e a estratégia para o próxi- cadas na biologia, na literatura, e até
mo ataque. mesmo na mitologia, que fazem com que
Ele nos convida a imaginar a forma a leitura dessa parte traga enormes difi-
mais simples de um organismo vivo sus- culdades para o acompanhamento do ra-
cetível a uma estimulação, buscando ciocínio desenvolvido e para a
na biologia metáforas que o auxiliem. contemplação do alcance do que está
A observação científica, nos diz o au- sendo construído. Certamente, trata-se
tor, mostra que o impacto incessante de de um texto de fôlego do qual, no mo-
estímulos externos sobre a superfície mento, este trabalho procura trazer suas
do organismo provoca a transformação diretrizes principais a serem ampliadas
da camada cortical em um escudo pro- posteriormente.
tetor que reduzirá a exigência da estimu- Freud elabora nesse momento uma hi-
lação, tornando-a aceitável. O aumento pótese que parte de dois pressupostos
demasiado de estímulos sem que o essenciais: existem as catexias móveis
escudo aumente também a sua ener- ou desligadas, cujo propósito de descar-
gia teria conseqüências danosas ao or- ga é o de restaurar um estado anterior
ganismo. de coisas – relacionando-se, assim, com
As aproximações que Freud procede a compulsão à repetição – e, por outro
desses fatos com o aparecimento do sis- lado, existem os estratos mais elevados
tema Pcpt-Consc. no aparelho psíquico do aparelho mental com a função de su-
sugerem uma semelhança com o pró- jeitar – ligar – essas catexias. Então, se-
prio surgimento do ego consciente e o gundo Freud, parece que tudo na eco-
mecanismo de sua ruptura no caso das nomia psíquica tende a levar a um es-
neuroses. Embora a advertência encon- tado anterior de coisas, porém, isso só
trada no início deste quarto capítulo de poderia ser feito mediante um certo per-
“Além do princípio do prazer” sobre seu curso. O objetivo de toda a vida é a
teor especulativo, as idéias nele conti- morte, mas ela não poderá ser alcança-
das revelaram-se bastante úteis e pro- da senão por determinado circuito a ser
porcionaram material importante para cumprido (Freud, 1976: 56). São as pul-
algumas considerações posteriores a sões autopreservativas que fazem com
Freud sobre a própria questão da pul- que o organismo deva seguir o seu pró-
são de morte relacionada às catexias prio caminho para a morte. Com respei-
A pulsão de morte de Freud 51
t t
Pulsões do Ego Pulsões de Objeto
t
(Pulsões de caráter ñ libidinal) Narcisismo
(Pulsões de caráter libidinal
ego tomado como objeto)
t t
Pulsão de Morte Eros
Fig. 1
Fig. 2
A pulsão de morte de Freud 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, S. Além do princípio do prazer, psico-
logia de grupo e outros trabalhos. E.S.B.
Rio de Janeiro: Imago, 1976. v. XVIII.
____ . Os instintos e suas vicissitudes.
In A história do movimento psicana-
lítico, artigos de metapsicologia e ou-
tros trabalhos. E.S.B. Rio de Janeiro:
Imago, 1969. v. XIV.
GARCIA-ROZA, L.A. Freud e o inconsciente.
4a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
GREEN, A. et al. A pulsão de morte. São
Paulo: Escuta, 1988.
Artigo recebido em novembro/2000
Revisão final recebida em janeiro/2001
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