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QUANDO O CULTO É CULTO

Reflexões sobre como adorar a Deus em um culto completo

Introdução: Assassinatos não são novidade para nós, que vivemos no tempo do fim. Há algum
tempo o país ficou chocado pela crueldade dos jovens que arrastaram por sete quilômetros uma
criança de seis anos, presa ao cinto do lado de fora do carro, roubado de sua mãe. O pai de um
deles afirmou depois: “Ninguém cria um filho para ser marginal. Sabia que meu filho andava
com más companhias, mas não imaginava que pudesse chegar a tal ponto. Talvez por trabalhar
demais para sustentar a casa, deixei de passar tempo com ele...” Hoje, na maioria dos casos, as
histórias de marginalidade têm sua origem no descaso dos pais quanto à sua função de educar.

Mas como tudo isto começou? Quem realizou o primeiro assassinato? Qual foi a causa? Como
era a família do assassino? Talvez você possa ficar surpreso, mas o primeiro assassinato
apareceu justamente dentro de uma família muito religiosa, que fazia o culto todos os dias, e
duas vezes por dia! Além disso, ao que parece, cada membro da família tinha também o seu
momento particular de adorar a Deus, inclusive o assassino!

Na Bíblia, em Gênesis capítulo quatro, onde está registrada a notícia deste primeiro assassinato,
podemos perceber alguns pontos interessantes acerca do episódio. Descobrimos que [1] a causa
do assassinato estava intimamente relacionada com o culto, e mais especificamente, com a
oferta, que sempre era apresentada durante a adoração! Imagine a manchete nos jornais de hoje:
“Matou irmão por motivo religioso”, ou “Deu a oferta e matou o irmão”! E talvez não faltasse
uma acusação leviana de que o assassinato teria sido parte de um ritual religioso macabro...

Outra coisa que descobrimos é que [2] tanto o assassino quanto a vítima consideravam ser parte
do seu dever religioso trazer uma oferta para Deus. Também é surpreendente verificar que [3]
nenhum dos dois foi rebelde a ponto de recusar a entrega da oferta. Mas [4] apesar de os dois
também terem dado daquilo que lhes faria falta, “agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta;
ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou.” Gen. 4:4 e 5. Por que isto aconteceu?
Será que Deus é arbitrário e utiliza a parcialidade, preferindo uns e rejeitando outros? O relato
deixa claro que este não foi o caso quando Ele disse a Caim: “Se procederes bem, não é certo
que serás aceito?” (Gen. 4:7).1

Então, pelo menos duas coisas já estão claras a partir desta história:
1. Para que uma adoração seja aceita por Deus, não basta entregar alguma oferta. Mesmo a
entregando, Caim não agradou a Deus2.
2. Ofertas dadas fora do plano de Deus, da maneira errada, ou com o motivo impróprio revelam
e fortalecem a impiedade no coração de quem as entrega, e, à semelhança de Caim, podem levar
indivíduos e igrejas a impiedades maiores.

1
“Abel escolheu a fé e a obediência; Caim, a incredulidade e a rebeldia. Nisto consistia toda a questão.
Caim e Abel representam duas classes que existirão no mundo até o final do tempo. Uma dessas classes
se prevalece do sacrifício indicado para o pecado; a outra arrisca-se a confiar em seus próprios méritos...”
Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, págs. 72 e 73.
2
Caim “achava, como muitos agora, que seria um reconhecimento de fraqueza seguir exatamente o plano
indicado por Deus, confiando sua salvação inteiramente à expiação do Salvador prometido. Preferiu a
conduta de dependência própria. Viria com seus próprios méritos. Não traria o cordeiro, nem misturaria
seu sangue com a oferta, mas apresentaria seus frutos, produtos de seu trabalho. Apresentou sua oferta
como um favor feito a Deus, pelo qual esperava obter a aprovação divina. Caim obedeceu ao construir um
altar, obedeceu ao trazer um sacrifício, prestou, porém, apenas uma obediência parcial.” Ellen G. White,
Patriarcas e Profetas, pág. 72.

1
Então, se Deus não pode aceitar qualquer tipo de adoração ou oferta, como deve ser o culto
aceitável ao Senhor? Quais são algumas das marcas do verdadeiro culto ao Deus Vivo? Se as
ofertas apontavam para o sacrifício de Cristo, porque continuamos a entregá-las mesmo após a
Sua morte? Se no passado animais eram utilizados como oferta, por que hoje entregamos
dinheiro? Vamos começar analisando a...

I – Freqüência da adoração: deve ser o mínimo necessário ou máximo possível? Veja o que
Deus disse para Israel: “Três vezes ao ano, todo varão entre ti aparecerá perante o Senhor, teu
Deus, no lugar que escolher, na Festa dos Pães Asmos, e na Festa das Semanas, e na Festa dos
Tabernáculos, porém não aparecerá de mãos vazias perante o Senhor;
Cada um oferecerá na proporção em que possa dar, segundo a benção que o Senhor, seu Deus
lhe houver concedido.” Deut. 16:16 e 17.

Este texto (aparece também em Exodo 23:14 e 15) apresenta um mínimo de três vezes ao ano
em que todo o adorador do sexo masculino deveria comparecer ao Templo para adorar ao
Senhor! Claro que este não era o máximo, mas o mínimo do mínimo, não importando o
sacrifício pessoal que isto representasse! Tanto os que moravam perto quanto os de longe
precisavam estar presentes ao templo para adorar, pelo menos nestas três vezes ao ano, não
importando as dificuldades que isto representasse.

Nisto há uma lição para nós. Precisamos nos perguntar se nossa presença ao culto é regida pelas
conveniências, ou pela necessidade de adorar o Criador. Onde costumamos estar, pelo menos
aos sábados pela manhã (que é o mínimo) ou nos dias de Santa Ceia, por exemplo? E quando
chove ou faz frio? Onde estamos e o que estamos fazendo nas quartas ou domingos à noite,
Evangelismos de Semana Santa ou Semanas de Oração, por exemplo? Nossos critérios para
adorar a Deus baseiam-se no mínimo necessário, ou no máximo possível? Por que? Tudo isto
tem a ver com...

II – O motivo para a adoração pública. “Três vezes ao ano, todo varão entre ti aparecerá
perante o Senhor, teu Deus, no lugar que escolher,... porém não aparecerá de mãos vazias”.
Deut. 16:16. Pense agora na parte sublinhada, e avalie honestamente seus motivos para ir à
igreja: encontrar-se com amigos? Assistir a um bom programa com um pregador, cantor ou
conjunto famoso? Cumprir um dever religioso? Aprender mais da Bíblia? Nada disso seria
errado em si mesmo, mas seriam estes os melhores motivos? O texto deixa claro qual deve ser o
maior motivo: aparecer perante o Senhor para adorá-Lo, estar com Ele e contemplar a Sua
grandeza e bondade. Qualquer outra razão vai estar centrada no homem (humanismo) e é vista
pelo Senhor como um insulto. Apenas ir à igreja para cumprir corretamente com seus deveres,
por exemplo, não está de todo errado, porém não é a melhor motivação. Cheira a legalismo. Se
“cumprir com os deveres” também for sua única motivação para encontrar-se com a namorada,
por exemplo, é uma pena, mas seu namoro já acabou...

O texto que vimos acima (Deut. 16:16) ainda nos relembra de um outro aspecto da adoração que
tende a ser cada vez mais esquecido, mesmo pelos cristãos, nesta época materialista e
secularizada: “...Porém não aparecerá de mãos vazias.” Mas será que esta ordem de “não
aparecer de mãos vazias” não estaria ligada apenas a este mínimo de três vezes?

É verdade que a mesma orientação também aparece em Exodo 23:14 e 15, ainda ligada ao
mínimo de três vezes em que o adorador deveria comparecer perante o Senhor, no lugar em que
Ele escolhesse. No entanto, em Exodo 34:20 a ordem de não aparecer de mãos vazias aparece
desconectada de qualquer freqüência específica, e é apresentada como parte de uma série de
outras orientações dadas a Moisés quando ele sobe o Sinai levando ao Senhor as novas tábuas
de pedra.

Mas o que deveria “encher” as mãos do adorador? O verso seguinte (Deut. 16:17) não deixa
dúvidas: deveria trazer algo que relembrasse as bênçãos já recebidas: “segundo a benção”.

2
Será que poderíamos estender este principio para outros atos de adoração? Tanto Exodo 34:20
quanto o contexto mais amplo (de toda a Bíblia), como vamos ver a seguir, parece indicar que
sim. Desde os tempos antigos, sempre que alguém comparecia à presença de um rei ou
governador, levava algo para oferecer. Jacó, por exemplo, ordenou que seus filhos levassem um
presente quando fossem ter com o vice-governador do Egito (que era José). Quando você vai a
um aniversário ou festa de casamento, normalmente fica meio sem jeito se esquece do
presente... Assim, como veremos a seguir, parece que o mesmo deve acontecer com a adoração
pública ao Deus vivo.

É interessante notar que, através da Bíblia, você sempre vai encontrar pelo menos...

a) Dois elementos na adoração pública. Desde a entrada do pecado, e a saída do Éden,


passando por Caim e Abel, e seguindo pelos patriarcas, pelo tabernáculo no deserto e
adiante, o culto ao Deus do Céu tem mantido pelo menos dois elementos: [1] oração e
[2] oferta. Futuramente, mais dois foram introduzidos (falaremos disto mais tarde). Mas
não se podia conceber um culto, uma adoração a Deus sem pelo menos estes dois
primeiros: oração e oferta. Por isso deveriam aparecer em todos os cultos, sempre que o
Senhor fosse adorado.

A ordem ou pedido específico para se trazer ofertas para a adoração não aparece nem
em Gênesis 4 (na história de Caim e Abel) nem antes. Em Gênesis 4 existe apenas um
relato de uma adoração com ofertas, o que nos leva supor que Deus já havia dado esta
ordem anteriormente. Tudo leva a crer que simplesmente não havia culto de “mãos
vazias”. Provavelmente a primeira oferta-modelo tenha sido oferecida pelo próprio
Jesus, na saída do Éden, quando preparou uma roupa de peles para esconder a nudez de
Adão e Eva3. E esta oferta encerrava uma importante lição: alguém precisava morrer!
Então, podemos enxergar pelo menos...

b) Três objetivos para a necessidade da oferta na adoração. Já que a maioria das


ofertas envolvia o sacrifício de animais o primeiro objetivo era o de [1] fixar na mente
dos adoradores a figura do sacrifício de Cristo pelos pecadores4. O segundo [2] era o de
despertar um espírito de gratidão por aquilo que Deus já havia feito, estava fazendo e
ainda faria pelos adoradores. E o terceiro [3] era o de conscientizar aos adoradores –
pessoas religiosas que gostavam de cultos e cerimônias religiosas – de que mesmo eles
eram pecadores, e que ainda necessitavam de expiação, ou seja, de salvação. Sem isto,
corriam os mesmos riscos que corremos hoje: de serem enganados pela religiosidade e
então pensar que salvação era só para os outros.

A oferta tinha por objetivo lembrar que pessoas muito religiosas, que participam
frequentemente dos ritos e liturgias religiosas, que dão ofertas e dízimos, que respeitam
as leis da saúde, etc, não são automaticamente mais santas ou espirituais por causa disto.
Quando a religiosidade faz com que percam de vista a sua pecaminosidade, deixam de
perceber a necessidade de um Salvador, e ficam fora do alcance da expiação provida por
Cristo. Mas ao trazer a oferta, ou seja, o animal, e ao confessar seus pecados sobre ele, a

3
Genesis 3:21.
4
“As ofertas sacrificais foram ordenadas por Deus a fim de serem para o homem uma perpétua lembrança
de seu pecado, e um reconhecimento de arrependimento do mesmo, bem como seriam uma confissão de
sua fé no Redentor prometido. Destinavam-se a impressionar a raça decaída com a solene verdade de que
foi o pecado que causou a morte. Para Adão, a oferta do primeiro sacrifício foi uma cerimônia
dolorosíssima. Sua mão deveria erguer-se para tirar a vida, a qual unicamente Deus podia dar. Foi a
primeira vez que testemunhava a morte, e sabia que se ele tivesse sido obediente a Deus não teria havido
morte de homem ou animal. Ao matar a inocente vítima, tremeu com o pensamento de que seu pecado
deveria derramar o sangue do imaculado Cordeiro de Deus.” Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág.
68.

3
mente do adorador deveria ser lembrada da própria pecaminosidade e da necessidade de
um meio de escape – Cristo. Se a oferta fosse de gratidão, o adorador também era
levado a lembrar-se do Doador de todas as coisas. Mas qual era...

III. O Lugar da adoração pública. “...perante o Senhor, teu Deus, no lugar que escolher...”
Deut. 16:16. Outro texto: “Mas buscareis o lugar que o Senhor, vosso Deus, escolher... para ali
pôr o seu nome e sua habitação; e para lá ireis. A esse lugar fareis chegar os vossos
holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta das vossas mãos... e as
ofertas voluntárias... Não procedereis em nada segundo estamos fazendo aqui [antes da entrada
na Terra Prometida], cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos...” Deut. 12:5-8.

E para não deixar dúvidas, Deus ainda reforça a ordem poucos versos depois: “Então, haverá
um lugar que escolherá o Senhor, vosso Deus, para ali fazer habitar o seu nome; a esse lugar
fareis chegar... vossos dízimos, e a oferta das vossas mãos, e toda escolha dos vossos votos
feitos ao Senhor...” verso 11. E ainda acrescenta uma advertência: “Guarda-te, não ofereças os
teus holocaustos em todo lugar que vires; mas no lugar que o Senhor escolher... ali oferecerás
os teus holocaustos e ali farás tudo o que te ordeno.” Versos 13 e 14.

Duas coisas deveriam nos chamar a atenção neste ponto: [1] o forte vínculo entre adoração e
ofertas, e [2] a necessidade de se adorar a Deus no lugar por Ele escolhido – a Sua casa! No
Salmo 66, versos13 e 14, Davi revela conhecer muito bem estes dois princípios: “Entrarei na
tua casa com holocaustos; pagar-te-ei os meus votos, que proferiram os meus lábios, e que, no
dia da angústia, prometeu a minha boca.”5 Ou seja, Davi não escolhia um lugar qualquer para
adorar com suas ofertas ou o dízimo, muito menos os entregava de acordo com seus próprios
critérios. Valia a vontade soberana de Deus, ou seja, Davi entregava o presente de acordo com o
gosto do Recebedor. Para ele, levá-los ao lugar estabelecido por Deus era um ato de submissão
e de adoração. Já que a ordem de Deus era tão clara, qualquer coisa diferente disso seria
rebelião.

Em uma época onde reinam o secularismo, o materialismo, o pluralismo e o relativismo (e


outros “ismos”), e onde os limites entre o certo e o errado são praticamente inexistentes, é cada
vez mais difícil para um ser humano, mesmo dentro da igreja, entender que o Senhor é quem
deve estar no controle, e não o homem. Nossa tendência é querer permanecer no controle,
mesmo quando damos nossas ofertas ou dízimos, determinando onde e como os recursos devem
ser utilizados.

Mas a ordem de Deus é clara. Ofertas e dízimos devem ser entregues como um ato de adoração
ao Senhor, no lugar por Ele indicado, que é a Sua casa. Lá serão distribuídos e direcionados
para o seu devido uso, não de acordo com critérios individuais (nem dos líderes), mas segundo
critérios votados em assembléias do povo de Deus, e que são de conhecimento público6. A
instituição que hoje ocupa este lugar de “casa de Deus” é a igreja local, que recebe os recursos e
envia todos os dízimos e parte das ofertas à Associação ou Missão, que por sua vez os distribui
e aplica conforme as praxes denominacionais, fazendo com que seus benefícios possam ir muito
além do lugar onde foram dados e atinjam o mundo!

No entanto, alguém poderá ser impressionado a separar regularmente, além das ofertas, uma
outra porcentagem de suas rendas a ser dedicada aos pobres ou até mesmo a projetos
evangelísticos pessoais. Isto é correto7. Mas as ofertas deveriam mesmo ser normalmente
5
Veja também Salmo 116:12-14 e 19, por exemplo.
6
Na Igreja Adventista do Sétimo Dia, os critérios para distribuição de ofertas são votados por comissões
com ampla representatividade e são de conhecimento público. Além disso, as tesourarias, em todos os
níveis, desde a igreja local até às demais instituições, são auditadas periodicamente.
7
“Se somos prósperos em nossos negócios materiais, é porque Deus nos abençoa. Uma parte de nossa
renda deve ser consagrada aos pobres e uma grande parte à causa de Deus. Se dermos a Deus o que Ele
pede, o restante será santificado e abençoado em proveito nosso.” Ellen G. White, O Lar Adventista, pág.

4
entregues ao Senhor na Sua casa, durante a adoração pública. Tudo isto está de acordo com
aquele conhecido texto de Malaquias 3 que cita a “casa do Tesouro” como sendo o lugar para
onde nossos recursos em dízimos ou ofertas deveriam ser levados (Mal. 3:10).

Mas como a adoração pública, com as ofertas de animais, chegou a ser o que temos hoje, com
outros tipos de ofertas, como em dinheiro, por exemplo?

IV. Adoração pública através da eras.

a) Adoração pública na época dos patriarcas. Na época dos patriarcas, como por
exemplo, Abraão, as famílias se reuniam diariamente, ao nascer e ao por do sol para
adorar a Deus8. Erguiam um altar de pedras, geralmente construído sem o uso de
ferramentas, e ali, sobre o altar, ofereciam um animal, ao nascer e outro ao por do sol.
Novamente os dois primeiros elementos do culto, que apareceram desde a saída do
Édem estavam presentes: [1] oração e [2] oferta. Apareciam em todos os cultos
públicos, sempre que Deus fosse adorado.

Esta oferta, um animal, como vimos, simbolizava a Cristo, o Cordeiro de Deus que tira
o pecado do mundo, e era a parte principal do culto! Não se podia conceber um culto ou
um altar sem oferta. Nem todos os participantes levavam a oferta, mas sempre havia a
oferta. Reconhecendo que eram pecadores, que a morte é a conseqüência do pecado, e
que havia um substituto, os adoradores deveriam confessar os pecados e direcionar a
mente para reconhecer no animal, um símbolo do verdadeiro Cordeiro. O erro dos
judeus, posteriormente, foi continuar oferecendo os animais sem, contudo, reconhecer
neles o Cordeiro de Deus. Não podemos nós correr risco semelhante quando entregamos
nossas ofertas?

Noé também, logo ao sair da arca, erigiu um altar e ofereceu um sacrifício. Poucas
vezes paramos para imaginar no risco que este sacrifício significou para ele, diante da
escassez de comida. Ofereceu do pouco que tinha – apenas sete de cada espécie de
animais limpos. Sua tentação poderia ter sido achar mais prudente guardar os animais e
utiliza-los primeiro para reprodução, e só depois oferecer algum em sacrifício. Mas
seguiu o princípio de colocar a Deus em primeiro lugar (Mateus 6:33), e deixar com Ele
a responsabilidade pelo sustento.

Este costume de adorar a Deus todos os dias, ao nascer a ao por do sol, marcava a rotina
das famílias na época dos patriarcas. Nenhuma atividade começava sem que Deus fosse
adorado. E o dia sempre terminava quando todos novamente se reuniam para adorar –
pais, mães, avôs, avós, mães, crianças, parentes, funcionários e visitantes. A ninguém
era permitido ficar de fora. Os horários e as rotinas de cada pessoa eram planejados de
tal maneira que nada entrasse em conflito com este, que deveria ser o momento mais
importante do dia. Ninguém poderia ficar dormindo ou trabalhando enquanto os outros
se reuniam para adorar. “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”, disse Josué mais
tarde.

Como as famílias eram geralmente muito grandes, pertencia ao filho mais velho
(primogênito) a responsabilidade de convocar a todos e dirigir o culto diário, o que no
caso de Abraão, chegava a reunir mais de mil pessoas todos os dias, duas vezes ao dia!

369.
8
“Abraão, o amigo de Deus, dá-nos um digno exemplo. A sua vida foi uma vida de oração. Onde quer
que ele armasse a tenda, junto construía o altar, convocando todos os que faziam parte de seu
acampamento para o sacrifício da manhã e da tarde. Quando a tenda era removida, o altar ficava. Nos
anos subseqüentes, houve os que entre os cananeus errantes receberam instrução de Abraão; e, quando
quer que um desses vinha àquele altar, sabia quem havia estado ali antes; e, depois de armar a tenda,
reparava o altar, e ali adorava o Deus vivo.” Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 128.

5
Em cada culto o momento da oferta ocupava a parte central, ou melhor, a oferta era o
próprio culto. Simplesmente não existia culto público sem oferta! É claro que nem todos
os participantes podiam entregar fisicamente uma oferta em todos os cultos! Isto seria
impossível, e nem era requerido. Note o fato de que nem todos entregavam
individualmente uma oferta, mas havia oferta em todos os cultos. O patriarca, ou o
chefe do clã, provia a oferta e a entregava em nome de todos, enquanto os participantes
o acompanhavam com solenidade e em espírito de adoração ao Senhor, e a mente era
dirigida para o fato de que também seria necessário um sacrifício para remissão de
pecados.

Na verdade, o conceito de sacrifício está intimamente relacionado com a fé e a vida


cristã. Cada crente é chamado a fazer um sacrifício vivo (Rom. 12:1). Paulo sentia-se
“...crucificado com Cristo; logo,”dizia ele, “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive
em mim...” Gal. 2:19 e 20. Seus sentidos e suas coisas haviam sido completamente
devotadas, ao Senhor Jesus. Ele havia permitido que Cristo, através do Espírito Santo,
criasse nele novas vontade, gostos e desejos, em substituição aos antigos. Tudo isto está
implícito no momento das ofertas. O ato espiritual de ofertar durante os cultos públicos
exercita a prontidão do adorador para fazer outros sacrifícios pessoais, sem o que não
pode haver uma experiência cristã significativa. Por isso, ainda hoje, o ato de adorar
através das ofertas é fundamental para o crescimento espiritual de uma congregação.

Mas no tempo de Abraão, a cena era tão impressiva que o povo das vizinhanças se
escondia por detrás das montanhas para contemplá-la. E não raro, depois que ele partia,
utilizavam o mesmo altar para adorar ao Deus vivo! As famílias de hoje ainda são
convidadas a fazer o mesmo9 – seja adorando, seja convidando seus vizinhos para o
culto.

b) Adoração pública no tabernáculo do deserto. Neste período, o culto que era culto
também apresentava os mesmos elementos básicos: oração e oferta, esta última, sendo o
centro do culto. No entanto, Deus ordena a introdução de um novo elemento associado
às ofertas em dias especiais: o som. Duas trombetas de prata deveriam ser
confeccionadas para serem utilizadas também em outros momentos específicos da vida
do povo (Números 10:1-10). Mas a ordem expressa do Senhor dizia que nos dias de
alegria, solenidades e nos princípios dos meses “também tocareis as vossas trombetas
sobre os vossos holocaustos e sobre os vossos sacrifícios pacíficos, e vos serão por
lembrança perante vosso Deus. Eu sou o Senhor vosso Deus.” (v. 10). Parece não que
não havia nenhum outro tipo de som acompanhando as ofertas nos demais dias.

Nesta época, havia dois tipos principais de adoração:


[1] Adoração coletiva. Quando o tabernáculo foi construído no deserto, sempre
deveria haver uma oferta, oferecida por todos, queimando sobre o altar (por essa razão,

9
“Semelhantes aos patriarcas da antiguidade, os que professam amar a Deus devem construir um altar ao
Senhor onde quer que armem sua tenda. Se houve um tempo em que cada casa deve ser uma casa de
oração, é hoje. Pais e mães devem muitas vezes erguer o coração a Deus em humilde súplica por si e por
seus filhos. Que o pai, como o sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e
da tarde, enquanto a esposa e filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa tal, Jesus gostará de
demorar-Se.
... Há lares em que este princípio é levado a efeito, lares em que Deus é adorado, e em que reina o mais
verdadeiro amor. Destes lares as orações matutinas e vespertinas sobem a Deus como incenso suave, e
Suas misericórdias e bênçãos descem sobre os suplicantes como o orvalho da manhã.
Uma casa cristã bem ordenada é um poderoso argumento em favor da realidade da religião cristã,
argumento que o incrédulo não pode contradizer. Todos podem ver que há na família uma influência em
atividade, a qual afeta os filhos, e que o Deus de Abraão está com eles.” Ellen G. White, Patriarcas e
Profetas, pág. 144.

6
este sacrifício era chamado de “contínuo”). Duas vezes ao dia uma nova oferta, um
animal, deveria ser oferecido.
[2] Adoração individual. Cada adorador que desejasse confessar seus pecados,
pagar seus votos, ou simplesmente trazer uma oferta de gratidão, comparecia trazendo o
um animal. É bom lembrar, que a riqueza de uma pessoa era medida em grande parte
pelo número de animais que possuía, ou seja, quanto mais animais, mais rica era.

Ao desfazer-se de um animal para a oferta, ou seja, ao “perder” um animal, entregando-


o a Deus, o adorador era levado a pensar que seu sustento não deveria depender da
quantidade de animais que possuía, mas de Deus, do Criador de todas as coisas (se “o
Senhor é o meu Pastor, nada me faltará”). Oferecendo animais do próprio rebanho, ou
bens da própria renda, o adorador era desafiado a confiar seu sustento Àquele que,
“segundo a sua riqueza em glória, suprirá em Cristo Jesus, cada uma das vossas
necessidades.” Fil. 4:19.

Assim sua mente era desviada das coisas materiais e levada a pensar nas “coisas lá do
alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus” (Col. 3:1). Ainda hoje a atitude de
ofertar consiste em um ótimo exercício espiritual, que ajudaria a livrar indivíduos e
igrejas do materialismo e do secularismo reinantes. Para muitos cristãos hoje, a louca
corrida da luta pelo sustento, e o desejo de ter mais e mais, ou seja, “os cuidados do
mundo, e a fascinação das riquezas”, como disse Cristo, “sufocam a Palavra, e [esta]
fica infrutífera.” Mat. 13:22.

A lógica e o bom senso indicam que se eu preciso cuidar de mim mesmo, deveria reter e
guardar o máximo possível para não sofrer pela falta de recursos (a tentação de Noé).
Mas o Senhor trabalha acima da lógica e raciocínio humanos. Se é Ele quem me cuida e
sustenta, cumpre-se então o dito do Sábio: “A quem dá liberalmente, ainda se lhe
acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A
alma generosa prosperará...” Prov. 11:24 e 25.

Surge o dinheiro vinculado a deveres religiosos. Entre as ordens dadas por


Deus para regular o culto que é culto a partir do estabelecimento do povo na
Terra Prometida, aparece a determinação de se separar uma outra porcentagem
(10%) “de todo o fruto das tuas sementes... do teu cereal, do teu vinho, [e] do
teu azeite...” Deuteronomio 14:22 e 23. Este outro dizimo, que era tirado apenas
do fruto do campo (não dos animais), juntamente com os primogênitos das
vacas e das ovelhas, deveria ser levado e comido “perante o Senhor, teu Deus,
no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome...” (v. 23).

Este dizimo não poderia ser comido em outro lugar, como por exemplo em
alguma outra cidade de Israel, mas apenas “no lugar que o Senhor , teu Deus,
escolher”. Deuteronomio 12:17. Isto quer dizer que praticamente todos os
Israelitas precisavam programar uma viagem para comê-lo. E quem deveria
comer? “...Tu, e teu filho, e tua filha, e teu servo, e tua serva, e o levita que
mora na tua cidade; e perante o Senhor teu Deus, te alegrarás em tudo o que
fizeres.” (12:18).

Fica muito claro que o objetivo aqui era que toda a família tivesse recursos para
ir regularmente ao Templo, e que fosse envolvida na adoração (fundamental
para a educação religiosa dos filhos), mantida com recursos separados para este
propósito. E tudo isto deveria gerar momentos de muita alegria e prazer: “e
perante o Senhor teu Deus, te alegrarás em tudo o que fizeres.” (12:18). O claro
objetivo era “para que aprendas a temer o Senhor, teu Deus, todos os dias.”
Deuteronomio 14:23.

7
Desta forma, a viagem com toda a família para Jerusalém, o encontro com
outras famílias, as comidas gostosas e a adoração no Templo, faziam com que
desde cedo as crianças aprendessem a vincular a idéia de adorar a Deus com
coisas prazerosas. Ainda hoje algumas famílias separam regularmente, além do
dizimo e da oferta, uma outra porcentagem (para Israel eram outros 10%!) para
ser usada exclusivamente para envolver a família na adoração ao Senhor em
momentos como Campais, Acampamentos de Verão, Camporis ou até a
Conferência Geral, por exemplo. Estes eventos certamente tem o seu papel em
firmar na mente de crianças, jovens e adultos, o sentimento de que é bom adorar
ao Senhor. É educação religiosa na prática.

Mas como levar os grãos, o vinho, o azeite e os primogênitos dos animais se a


família morasse muito longe? “Quando o caminho te for comprido demais, que
os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que o Senhor, teu Deus,
escolher para ali por o seu nome, quando o Senhor teu Deus, te tiver abençoado,
então, vende-os, e leva o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que o Senhor, teu
Deus, escolher. Esse dinheiro, dá-lo-ás por tudo o que deseja a tua alma, por
vacas, ou ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer coisa que te pedir a
tua alma; come-o ali perante o Senhor, teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua casa.”
Deuteronomio 14:24-26.

c) Adoração pública no Templo de Salomão. Neste período, ou até um pouco antes da


construção do assim chamado templo de Salomão, os dois elementos do culto que é
culto (oração e oferta) permanecem, mas aparece agora, de maneira um pouco mais
destacada, um terceiro elemento: o louvor. Em I Crônicas 16 (especialmente os
versos1-6 e 37-42) podemos encontrar uma descrição de como este novo elemento foi
introduzido por Davi na adoração. Ele determinou que levitas músicos e cantores
fossem escolhidos, em numero de quatro mil, “para louvar ao Senhor com
instrumentos que Davi fez para este mister.” (I Cron. 23:5). Mas em que momento,
durante os serviços do templo, acontecia este louvor?

É importante destacar que o louvor foi estabelecido originalmente com um propósito


específico: adorar ao Senhor justamente durante a apresentação das ofertas! “[Os
levitas] deviam estar presentes todas as manhãs, para renderem graças ao Senhor e o
louvarem; e da mesma sorte à tarde [ou seja, no momento em que a oferta, ou o
sacrifício – o contínuo – estivesse sendo oferecido]; e para cada oferecimento dos
holocaustos do Senhor, nos sábados, nas Festas da Lua Nova e nas festas fixas...”.
Nestes momentos, enquanto ofertas eram apresentadas, o Senhor deveria ser exaltado
pela Sua grande misericórdia em perdoar e pelo grande poder de manter Seus filhos.
Provavelmente esta atitude de Davi, incluindo músicos e cantores na adoração com
ofertas, tenha ocorrido como um desdobramento daquela ordem dada por Deus ainda no
deserto, com relação ao uso das trombetas durante as ofertas nos dias de alegria,
solenidades e Luas Novas. Veja Números 10:10. Por esse motivo, até aos dias de hoje,
as ofertas sempre devem estar acompanhadas com música de louvor ao Senhor.

Culto que é culto passou então a conter três elementos básicos: [1] Oração, [2] Oferta e
[3] Louvor. Tendo a oferta como o centro, eles deveriam aparecer interconectados em
todos os cultos, sempre que Deus fosse adorado publicamente.

d) Adoração pública no exílio e pós-exílio. Mas com a destruição do templo, o exílio e


o fim temporário das ofertas de animais, as sinagogas passaram a centralizar os esforços
da busca de Deus. Este foi um marco importante porque mesmo quando posteriormente
o templo foi reconstruído e as ofertas restabelecidas, as sinagogas não perderam sua

8
influencia. E foi nelas que, agora de maneira formal, aparece um quarto elemento,
fundamental para a educação religiosa e importante na adoração: o estudo da Palavra.

O próprio Jesus, certa vez, quando foi à sinagoga, levantou-se para ler10. Hoje também,
o tempo dedicado ao estudo da Bíblia na adoração pública é uma das maneiras de nos
colocarmos na posição humilde de quem é instruído, ou de quem deseja conhecer a
vontade do seu Criador. Dessa maneira, culto que é culto, passou a conter agora quatro
elementos básicos: [1] oração, [2] oferta, [3] louvor e [4] estudo da Palavra. Estes vão
merecer destaque em todos os cultos, sempre que o Senhor for adorado.

Aparece novamente o dinheiro. Junto com o próprio decreto liberando o povo


para voltar para Judá e Jerusalém, Artaxerxes resolve “espontaneamente”
oferecer a “prata e o ouro” “ao Deus de Israel, cuja habitação está em
Jerusalém”. Esdras 7:15. A seguir ele ordena a Esdras: “Portanto,
diligentemente comprarás com este dinheiro novilhos, e carneiros, e cordeiros, e
as suas ofertas de manjares e as suas libações e as oferecerás sobre o altar da
casa de teu Deus, a qual está em Jerusalém.” (v. 17).

Voltando um pouco no tempo, logo após o decreto de Ciro, os primeiros


adoradores chegam a Jerusalém. E por onde você acha que eles deveriam
começar o processo de restauração da adoração? Havia algo muito urgente a ser
feito, e por este motivo, antes mesmo de o templo ser restaurado, Jesua,
Zorobabel e seus associados, “edificaram o altar do Deus de Israel, para sobre
ele oferecerem holocaustos..., porém ainda não estavam postos os fundamentos
do templo do Senhor.” Esdras 3:2 e 6 (sublinhado nosso). O templo ainda estava
em ruínas, mas eles não queriam passar nem mais um dia sem o altar. E por
quê? Para eles, oferecer os holocaustos, ou seja, as ofertas era um elemento
fundamental na adoração.

Provavelmente a partir da idéia dada por Deus em Deuteronômio 14:24-26, os


moradores mais distantes do Templo perceberam que era bem mais fácil levar o
dinheiro correspondente a um animal para a oferta, do que transportá-lo até lá.
O sistema monetário dos impérios grego e romano (com a existência de
moedas) também contribuiu para isto. Ao chegarem, trocavam o dinheiro de
suas nações pela moeda do templo, e então compravam um animal “vistoriado”,
que já estava à disposição para ser vendido pelos cambistas do próprio templo.
Era comum acontecer de os adoradores serem lesados pelos espertos cambistas
e sacerdotes que faziam sociedade neste lucrativo negócio.11

E muitos adoradores, em lugar de meditarem no Deus do Céu, na confissão dos


pecados e na morte expiatória, ressentidos que ficavam com extorsão praticada,
acabavam pensando mais nas coisas daqui debaixo mesmo. Junto aos líderes,
também imperava o desejo por lucro e vantagens temporais e isso acabou por

10
Lucas 4:16.
11
“E exigia-se que todo dinheiro estrangeiro fosse trocado por uma moeda chamada o siclo do templo, a
qual era aceita para o serviço do santuário. A troca do dinheiro dava lugar a fraude e extorsão, havendo
descaído em desonroso tráfico, fonte de lucros para os sacerdotes.
Os mercadores exigiam preços exorbitantes pelos animais vendidos, e dividiam o proveito com os
sacerdotes e principais, que enriqueciam assim à custa do povo. Ensinara-se aos adoradores que, se não
oferecessem sacrifícios, as bênçãos de Deus não repousariam sobre seus filhos e sua terra. Assim era
garantido elevado preço pelos animais; porque, depois de vir de tão longe, o povo não queria voltar para
casa sem realizar o ato de devoção que ali o levara.” Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações,
pág. 155.

9
lhes tirar completamente a visão da Missão12. Por isso, quando Cristo chegou ao
templo, quase já se havia perdido por completo a noção de adoração e do
sacrifício expiatório do Cordeiro de Deus. Foi por isso que Ele expulsou a
todos, dizendo: “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de
negócio.” João 2:16. Não era o dinheiro que sujava o templo. Era o
exclusivismo, o secularismo, o materialismo e a desonestidade.

e) Adoração pública na Era Cristã. Com a vinda e morte de Jesus, o verdadeiro


Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, não seria mais necessário oferecer
animais como oferta. E como ficaria o culto agora? Perderia algum dos seus elementos
básicos? Como harmonizar o princípio de não aparecer de mãos vazias diante desta
nova realidade? Se tirássemos apenas um dos quatro elementos básicos do culto
público, será que o culto continuaria sendo culto? Para adorar é necessário seguir algum
padrão pré-estabelecido por Deus, ou o culto pode ser baseado nas vontades,
sentimentos ou inclinações do homem? Neste caso, não se estaria prestando um “culto
de Caim”?

Ofertas sem animais. Deus, em sua sabedoria, permitiu que pessoas que não
eram israelitas, ou seja, que eram “de fora da igreja” daquele tempo, nos
ensinassem como fazer. Foram os Reis Magos que, na presença do próprio
Cordeiro, e diante da manjedoura, deixaram-nos o exemplo, inaugurando esta
nova fase das ofertas na adoração – ofertas sem animais: “Prostrando-se, o
adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro,
incenso e mirra.” Mat. 2:11. É interessante notar que esta oferta não era típica,
no sentido de que não tipificava a Cristo, como o Cordeiro de Deus. Era
simplesmente adoração, como devem ser as nossas ofertas hoje!

Assim como os Magos não compareceram diante do Senhor de mãos vazias,


continua válido, desde o início da era cristã, o princípio exposto no Antigo
Testamento segundo o qual ninguém “aparecerá de mãos vazias perante o
Senhor.” Deut. 16:16. Portanto, culto que é culto deve apresentar os quatro
elementos básicos (oração, oferta, louvor e estudo da Palavra). Estes devem
aparecer sempre que o Senhor for adorado.

V – A atitude do adorador. A experiência de Caim e Abel ilustra muito bem a realidade de


que, nem todo culto é culto! A diferença entre os dois não era em relação à entrega de uma
oferta, porque ambos a entregaram! A diferença estava na maneira como a apresentaram e no
modo como enxergavam a Deus. Ainda hoje, entre aqueles que cultuam e/ou entregam suas
ofertas, existem pelo menos dois tipos de adoradores:

[1] Os que, durante o culto e a oferta discernem o verdadeiro caráter de Deus. Estes
conseguem ver na oferta a lembrança do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e
ofertam por gratidão ao Senhor. Durante o recolhimento das ofertas seu coração se dilata de
gratidão pelas bênçãos recebidas. Entregam ofertas porque já foram abençoados, e não com
desejo vil de chantagear a Deus para receber mais dEle. Estão conscientes de que não é possível
comprar a Deus. Nós é que já fomos comprados por Ele – e a preço infinito!

[2] Aqueles que não discernem o cuidado a bondade salvadora de Deus em suas ofertas e culto.
Não enxergam nas ofertas a dádiva do Cordeiro de Deus. Entregam-nas não por estarem gratos
pela “tão grande salvação”, mas por sentirem que é uma obrigação, um requisito de membro, ou
12
D. A. Carson afirma que “em uma outra época, os mercadores estabeleceram suas barracas do outro
lado do vale do Cedrom, nas encostas do monte das Oliveiras, mas, nessa ocasião, eles estavam no pátio
do templo, sem dúvida no pátio dos gentios (o pátio mais externo).” D. A. Carson, O Comentário de João,
pág. 179. Dessa maneira, o amor ao lucro, por parte dos lideres, excluiu os gentios da possibilidade de
adorar ao Senhor. Nem no pátio mais externo agora eles podiam ficar.

10
até para apaziguar a um Deus que eles visualizam como irado. Uma versão melhorada deste
quadro é o caso daqueles que entregam suas ofertas para projetos da Igreja, sem um sentido de
adoração ao Dono da Igreja e do Universo. Não estão gratos por alguma coisa que Ele tenha
feito. No íntimo, pensam estar “ajudando” à Igreja, em lugar de reconhecer que eles é que tem
sido ajudados pelo Senhor. Alguns desse grupo, ainda tentam subornar a Deus, procurando
trocar ofertas por bênçãos, sem perceber tudo o que já receberam dEle. Isto é um insulto ao
bondoso Criador! Entregar ofertas sem discernir o cuidado e a bondade salvadora de Deus foi o
caso de Caim, e eventualmente pode ser o nosso hoje!

Como adorar corretamente no momento das ofertas? Desde a antiguidade, o momento da


entrega da oferta deveria ser uma das ocasiões mais solenes da adoração – o instante em que o
adorador comparece perante o Ser Supremo e o adora no lugar que Ele escolheu para ser
adorado. Quando entregasse sua oferta, fosse ela em animais, bens ou dinheiro, a mente do
adorador deveria estar ligada ao Céu, pensando nas coisas do alto, confessando seus pecados,
reconhecendo a própria pequenez e a grande bondade de Deus.

Se por alguma eventualidade o adorador não pode levar a sua oferta, à semelhança dos membros
da família de Abraão, deve comparecer do mesmo modo e adorar. Pode aproveitar a solenidade
do momento para entregar a Deus suas angústias, preocupações ou até mesmo seus louvores por
livramento. Mas deve entregar algo, porque adoração pressupõem entrega. No entanto, esta
atitude mental de adoração nunca ocorre por acaso, e nem pelo simples fato de haver no culto
um momento dedicado para adoração com as ofertas. É necessário um esforço consciente e
constante por parte do adorador.

Vemos assim, que a oferta, apesar de ser entregue na Igreja, deve ser dada para Deus! Esta
oferta, em alguns casos, poderá não ser em espécie, ou física. Mas sempre deverá representar
uma entrega do coração, ou seja, uma entrega espiritual. Esta é a verdadeira adoração! É culto
que é culto. Quando a oferta me leva a pensar naquilo que é eterno, que não pode ser tocado
com mãos de carne, ou seja, no próprio Filho de Deus, que é a maior Oferta, este momento da
adoração constitui-se em um poderoso exercício espiritual que tende a aproximar a criatura do
Criador. A falta deste exercício produz enfermidade espiritual. É por isso que todo o culto que é
culto deveria oferecer a oportunidade para aqueles que desejam adorar com ofertas.

VI – O que acontece quando o culto não é culto. Mas quando a motivação para o culto não é
espiritual (adorar a Deus), pode acontecer de o líder levantar-se durante os serviços e dizer algo
mais ou menos assim: “Chegou o momento da oferta. Lembrem-se de que nosso templo está em
construção... Nesta semana precisamos pagar a última prestação das esquadrias, dos bancos e da
parte elétrica. Os diáconos agora passarão as salvas”. O que acontece então na mente dos
“adoradores”?

a) Mentes carnais fixam-se em coisas materiais. O pensamento dos adoradores


subitamente baixa das coisas celestes e eternas para fixar-se nas terrenas, passageiras,
transitórias. Quando as salvas passam, em lugar de adorar a Cristo, de lembrar do Seu
poder Criador e Redentor, a mente dos adoradores descuidados fixa-se então nas
esquadrias, nos bancos, no cimento, na madeira, nos lustres ou nas cortinas – coisas
materiais, daqui de baixo, que mesmo sendo da igreja, serão um dia queimadas e
destruídas.

Estes “adoradores”, em lugar de adorar a Deus, imaginam que estão fazendo uma obra
que é dEle: manter a igreja. Desta forma, mesmo que as intenções sejam as melhores,
acabam tomando o lugar de Deus, e transgredindo o primeiro mandamento. Este pode
ser um culto que não é culto, e acabar desenvolvendo a arrogância e a prepotência do
“adorador”! No fundo, este tipo de culto descamba para egoísmo e adoração do próprio
“eu”: “Quero dar minha oferta para construir a minha igreja, para que ela fique mais

11
bonita que as outras, ou até para investir em meu próprio conforto – bancos estofados ou
ar condicionado...”

Não há nada de errado em termos templos bonitos e confortáveis. Mas se em vez de


levar o adorador a pensar nas “coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de
Deus”, o culto direciona os adoradores para as coisas “aqui da terra” (Col. 3:1 e 2), o
culto não é culto! Baixa do espiritual para o material, do celeste para o terreno, do
eterno para o transitório, e intensifica o secularismo e materialismo de seus membros. É
como a oferta de Caim, que deu o melhor do que tinha, mas não discerniu o Cordeiro. E
trevas espirituais são a conseqüência.

b) Doença espiritual. A Bíblia diz que três coisas aconteceram com Caim depois que
entregou sua oferta em um culto que não era culto (veja Gen. 4:5, 6 e 8): [1] Deus não
aceitou sua dádiva, [2] ele ficou amargurado e [3] irritou-se e agrediu seu irmão.
Quando, à semelhança de Caim, entregamos nossas ofertas ou dízimos em um culto que
não é culto, as mesmas três coisas acontecem: [1] Deus também não os aceita, [2] a
“raiz de amargura” produz frutos, desenvolvendo um espírito de crítica, suspeita e
desconfiança entre os membros e entre eles e seus líderes, e [3] tudo isso vai se
refletindo em seus relacionamentos, podendo tornar o ambiente da igreja extremamente
agressivo (algumas comissões de igreja que o digam...). É uma igreja doente.

É irônico perceber que, em alguns casos, foi a própria igreja que, na figura dos lideres
do culto, e através de uma liturgia secularizada e humanista, acabou contribuindo para
desenvolver em seus membros esta visão materialista de si mesma. Estes membros
continuam na igreja, com culto que não é culto, não porque ali encontram a Deus, mas
apenas porque um bom conjunto vai cantar, um ótimo pregador vai falar, ou ainda
porque a igreja satisfaz a sua necessidade de socialização, e isso em um ambiente
relativamente seguro.

c) Liturgia torna-se humanista. Outro resultado de um culto que não é culto, é que a
liturgia, influenciada pelo secularismo e o humanismo, acaba sendo baseada não naquilo
que Deus ordena, mas no gosto dos membros e dos líderes. Em lugar de Deus, o centro
da experiência passa a ser o homem, seus “sentimentos” e preferências. As necessidades
do ser humano passam a ser mais importantes que a vontade de Deus. E o ‘adorador’ vai
ao culto para sentir-se bem, ou seja, para agradar-se a si mesmo, e não para agradar a
Deus. É o culto do “eu”. É culto que não é culto.

É a influencia do humanismo que tende a produzir uma maior ênfase nas partes do culto
que satisfazem aos sentidos, como o louvor, por exemplo. E nesse caso, a música deve
ser antes do gosto do homem do que de Deus. E se for semelhante àquelas ouvidas
durante a semana nas rádios seculares, tanto melhor, desde que seja ‘santificada’ por
uma letra sacra. E a glória e a honra vão para o músico. Novamente o primeiro
mandamento é transgredido.

Enquanto isso, as partes da liturgia que nos confrontam com a própria pecaminosidade
ou com a natureza carnal, e a necessidade de salvação (como o estudo da Palavra e a
oferta, por exemplo) estão perdendo cada vez mais espaço, simplesmente porque não
são naturalmente atrativas para o ser humano. Exigiriam introspecção, exame do
coração, e isto pode causar dor e algum desconforto. Mas será que o gosto do coração
natural pode ser um critério apropriado para definir nossa liturgia? Podemos deixar de
fora alguma parte do culto simplesmente porque ela não é apreciada pela maioria dos
membros ou líderes? Devemos incluir outras simplesmente porque são do gosto da
maioria?

12
Analise, por exemplo, quanto do tempo total do culto tem sobrado para o estudo da
Palavra em sua igreja. Pense mais: por que será que, em algumas congregações as
ofertas – parte fundamental do culto que é culto – são recolhidas apenas no culto
público do sábado, e ainda assim de forma tímida e envergonhada?

É bom lembrar que tanto na maioria das igrejas evangélicas quanto nas adventistas dos
demais países da América do Sul, ainda permanece o antigo princípio de se adorar a
Deus em todos os cultos através de um momento para as ofertas. Em janeiro de 2007,
por exemplo, assisti a um Culto Jovem, em um sábado à tarde, na igreja da
Universidade Adventista del Plata (Argentina), e fui surpreendido quando, um pouco
antes do encerramento, aconteceu um fervoroso momento de adoração, incluindo o
recolhimento das ofertas!

Mais um dos resultados de um culto que não é culto é que...

d) A igreja perde a visão de missão. Na visão de Deus, líderes que dirigem o culto que
não é culto, ou seja, no formato secularizado, humanista e materialista, ocupam o lugar
deixado pelos cambistas do templo, que foram expulsos por Jesus. E quando a igreja
ainda recolhe as ofertas em cultos deste tipo, acaba se tornando aos olhos dos
“adoradores” mais parecida com um clube que arrecada fundos para a construção ou
reforma de sua sede, do que com um movimento impelido por uma missão de escopo
universal, com implicações eternas, destinado a soerguer pecadores e administrar a
salvação. Preocupados mais com o próprio conforto do que com a Missão de pregar o
evangelho ao mundo, muitos lideres e membros sucumbem aos apelos
congregacionalistas, lutando com todas as forças para que os recursos permaneçam em
sua própria igreja, onde eles, e não outros possam tirar proveito. Alguns inclusive
desviam o dízimo de seu legítimo destino para que, travestido em oferta, sirva mais a
propósitos locais, em lugar de ser distribuído por todo o mundo, para a salvação de
todas as gentes.

e) A Igreja se parece com um clube. Quando os membros entregam a sua oferta para a
Igreja e para projetos, em lugar de entregá-la para o Senhor, tornam-se mais parecidos
com sócios de um clube do que com adoradores do Deus vivo! Seu padrão de conduta
também passa a ser baseado apenas naquilo que é considerado “normal” entre os sócios,
ou seja, naquilo que é socialmente aceito. As mensagens dos profetas, a vontade de
Deus e a obediência aos Seus mandamentos deixam de ser norma para se tornarem em
curiosidade ou tradição. A Palavra de Deus é esquecida e “o que todo mundo faz” passa
a ser a norma.

Outro desdobramento desta idéia: quem é o tal “sócio do clube”, também sente-se meio
“dono”. Assim, quando suas “prestações” estão em dia, acha-se no direito de exercer
controle. Pensa que é ele quem sustenta o clube/igreja, e que por isso pode dizer como
ela deve funcionar. Espera também receber serviços por parte da igreja ou dos oficiais
em troca de sua “contribuição”, e quando não é tratado como pensa que merece, pára de
contribuir ou utiliza meios políticos para alcançar seus objetivos.

Já quem adora a Deus com uma oferta, deve perder controle sobre ela. No caso da oferta
queimada, por exemplo, o animal era completamente incinerado, ou seja, era perdido.
Por isso, a oferta deve ser colocada sob o controle do Senhor Jesus, que é quem
verdadeiramente sustenta a Igreja. É Ele, e não o homem, que através dos canais
divinamente indicados, vai dizer como ela funciona.

Ainda outra conseqüência de um culto que não é culto é que...

13
f) Os membros não gostam do momento da oferta. Enfim, quando a oferta é
recolhida desta maneira profana, membros e líderes sentem grande desconforto, e ficam
envergonhados diante das visitas. Alguns, com boa intenção, procuram até evitar que a
oferta seja recolhida quando são esperadas muitas visitas. Parece que sentem um alivio
quando alguém, por alguma razão a esquece de recolher. (De certa forma, eles tem um
pouco de razão, porque o culto não é culto!). Confundem contribuição com adoração.

E quando a oferta ainda é recolhida nestas circunstancias, é comum se ouvir aquelas


frases/chavões como aquela clássica: “... blá, blá, blá, ...as visitas podem se sentir à
vontade...”. E por que não se sentiriam à vontade? Afinal, se não era para adorar ao
Criador, por que teriam vindo ao templo? Muito provavelmente, esta frase poderia ser
traduzida da seguinte forma: “Se você está vindo pela primeira vez, e esperava
encontrar adoração, desculpe-nos porque este não é o nosso forte. Não estamos muito
acostumados a isso. Em lugar de culto verdadeiro ao Deus Vivo, preferimos bons
programas. Ainda recolhemos ofertas porque não existe outro jeito de manter esse clube
(ops!), ou... desculpe, essa igreja... Se pudéssemos, evitaríamos a todo custo este
transtorno. Você que é visitante, não precisa participar porque ainda não é sócio(a)! Está
livre desta chateação!”

Se Maria pertencesse a esse grupo, certamente teria sido vista à porta da estrebaria
aconselhando os Magos a, antes de entrar, voltarem e guardarem suas ofertas sobre os
camelos. “Não precisavam se incomodar com isso”, diria ela. Ora, quem, como os
Magos, veio à presença de Deus, mesmo que ainda não seja membro da igreja, deve ter
vindo para adorar ao Senhor de toda a Terra. Foram eles mesmos, os Magos, que
tiveram a iniciativa de depositar suas ofertas diante da manjedoura. É um absurdo
imaginar Maria ou José à porta com um sorriso amarelo, envergonhados, pedindo
desculpas ou sugerindo embaraçadamente que os ofertantes “ficassem à vontade”. José
e Maria não tinham nada a ver com o assunto, e é lógico que os Magos estavam à
vontade, e muito! Quem não estaria? Haviam feito um enorme sacrifício para estar onde
estavam – na presença de Jesus, o Filho de Deus e Criador do Universo – e não
trocariam este privilégio por nada neste mundo. Era impossível não adora-lO.

Hoje temos ouvido histórias e mais histórias de visitantes que chegam a algumas de
nossas igrejas aos domingos e quartas, desejando entregar suas ofertas, mas não
encontram oportunidade para adorar deste modo. Recentemente um ancião de uma
igreja que ainda não recolhia ofertas aos domingos, relatou que uma visita o procurou
após um culto de domingo dizendo que havia trazido sua oferta, mas chegara atrasada e
provavelmente perdera o momento de entregá-la... Será que ainda poderia fazê-lo,
mesmo depois do culto?!! Se fosse em sua igreja, que resposta você daria? E o que dizer
daqueles que vem à igreja com os mesmos propósitos de adorar e, não encontrando
oportunidade, ficam calados por falta de coragem para se manifestar?

Tudo isto pode acontecer em um culto que não é culto. Mas, ...

VII – Como realizar o motivacional das ofertas em um culto que é culto? Em cada
congregação, e a cada culto, existem pessoas, membros ou visitantes, que durante a semana
passaram por tribulações, experiências perigosas ou difíceis, mas que perceberam a mão santa
de Deus em seu favor. Algumas foram curadas, outras arrumaram um emprego, tiveram um
casamento restaurado, fizeram aniversario, foram livradas da morte, escaparam de um assalto ou
atropelamento, ganharam aumento ou receberam o perdão dos pecados.

No dia de culto, todas estas pessoas, membros e visitantes, vêm à igreja para encontrar um
modo de expressar sua gratidão ao Senhor. Outras desejam pagar seus votos e outras ainda
querem apenas reafirmar sua dependência do Criador. O Senhor determinou que as necessidades
espirituais do adorador deveriam ser satisfeitas destas quatro maneiras durante o culto público:

14
[1] oração, [2] oferta, [3] louvor ou ações de graça (inclui testemunhos), e [4] estudo da Palavra.
Estas são as partes de um culto que é culto! Cada um destes elementos tem importância
fundamental para a adoração pública, e não pode ser deixado de lado sem prejuízo espiritual.
Qual destes elementos precisa ser restaurado ou melhorado em sua igreja?

Em algumas de nossas igrejas, talvez o ponto fraco seja o louvor ou as ações de graças,
acompanhados de testemunhos pessoais. Falar sobre aquilo que o Senhor tem feito “na minha
vida” é considerado por alguns crentes secularizados como sendo coisa de gente simplória, sem
cultura, ou – com pitadas de maldade – para quem deseja estar em evidencia. Pessoas sóbrias,
refinadas e educadas, pensam os secularizados, não deveriam expor sua intimidade desta
maneira, partilhando com os outros episódios de livramento da parte de Deus. Para estes, diz
Jesus: “Se não vos tornardes como crianças...”.

Em outras igrejas, o problema pode ser uma liturgia com viés humanista, que acaba deixando
pouquíssimo espaço para a pregação da Palavra. Mas talvez nossa principal fragilidade neste
momento do mundo, que cada vez se torna mais secularizado, materialista e consumista, seja
mesmo a relutância para adorar com as ofertas. E isto não é por acaso. Faz parte de uma
estratégia bem arquitetada por Satanás para manter igrejas e membros cada vez mais longe de
Deus e da verdadeira adoração, enquanto os prende às coisas deste mundo.

Mas como, afinal, pode ser realizado o motivacional das ofertas? Em uma igreja onde existe
culto que é culto, o líder pode dizer mais ou menos assim: “Nestes últimos dias o Senhor tem
sido bondoso para conosco. Grandes são as suas misericórdias. Muitos aqui hoje têm vários
motivos para agradecer a Deus (... e neste momento cita alguns motivos para agradecer). Este é
o momento de agradecer, de louvar e de adorar ao nosso bondoso Deus através das ofertas.
Você vai ter a oportunidade agora de entregar ao Senhor aquilo que trouxe para adorá-Lo. Você
também pode entregar ao Senhor algum pecado, alguma angústia ou preocupação. Este é o
momento em que Ele comparece para abençoar! Que o Senhor seja exaltado neste momento! (E,
em tom mais baixo, pode acrescentar...) Parte das ofertas de hoje serão utilizadas para a reforma
da Igreja, etc, etc.”.

É simples assim, e a preocupação em ser usado pelo Espírito Santo deve sobrepor-se ao desejo
de parecer original para receber o aplauso humano. Basta que o líder, em nome de Deus,
convide a congregação para a verdadeira adoração. Enquanto se prepara, deve ele mesmo saber
o que é adorar a Deus em seus momentos de devoção particular. Deve também, antes de estar
diante da igreja, passar tempo diante de Deus, em oração, além de estudar aquilo que o Espírito
Santo o impressionar a falar. Algumas igrejas inclusive estão utilizando algo como um “mestre
de cerimônias”, que dirige toda a liturgia do culto, e que portanto acaba fazendo também este
chamado para a adoração. Este é o caso da Igreja Central de Porto Alegre, por exemplo. Outras,
como a Central de Curitiba, fazem uma escala anual especificamente para o motivacional das
ofertas, selecionando para isto as pessoas mais capazes da igreja. Estas, preparam-se com meses
de antecedência para dirigir em dois ou três minutos esta parte altamente espiritual do culto.

Nestas igrejas, o momento da adoração com as ofertas não está isolado na liturgia, mas é
inserido dentro de um contexto de exaltação ao nome de Deus, com louvor e ações de graças, o
que pode incluir cânticos, leituras responsivas, testemunhos impressivos e orações de
agradecimento, e isto, em todos os cultos. Ainda se pode acrescentar um momento de
agradecimento pela benção da vida (chamando aos aniversariantes do mês) ou pela benção do
casamento (destacando os aniversários de casamento da semana ou do mês).

Dentro deste contexto também pode ser realizada a cerimônia de Apresentação ou Dedicação de
Crianças, que, entre outras coisas deve destacar a gratidão dos pais. Estes, antes da oração de
dedicação/apresentação, à semelhança dos pais de Jesus, e seguindo o modelo bíblico, devem
também entregar sua oferta, preparada com antecedência para o momento. Pessoas que foram
curadas podem vir à frente agradecer pela restauração e adorarem ao Senhor... Afinal, é para

15
isto que nos reunimos em Sua casa: para celebrar sua bondade e o Seu grande poder! E o
momento das ofertas deve ser o ápice deste louvor ao Criador.

E onde ficaria a nossa já tradicional Leitura de Púlpito? Deve continuar à disposição, ainda que
seja considerada por alguns como um pouco impessoal (em grande medida devido à leitura
soletrada de última hora que muitos lhe devotam). Pode ser utilizada em congregações cujos
lideres tenham pouco preparo, ou até esporadicamente, quando por acaso não existirem pessoas
habilitadas a conduzir um momento de adoração de modo espiritual.

No exemplo de motivacional citado alguns parágrafos acima, a reforma da igreja não deixou de
ser citada, mas a forte ênfase recaiu na adoração. Talvez em um outro momento, em uma
reunião de negócios, que deveria acontecer pelo menos uma vez por mês (e não na hora do culto
– talvez no intervalo entre Escola Sabatina e Culto), a questão da construção poderia ser
estudada com mais profundidade, juntamente com outros assuntos relevantes que envolvem a
administração da Igreja. Mas o culto, deveria ser reservado solenemente para adoração apenas!
Este é um culto que é culto!

O Sistema Anterior – Durante algum tempo, pelo menos no Brasil, cada membro da igreja era
desafiado a entregar toda sua oferta uma vez por mês, ou de uma vez, logo depois do
recebimento da benção (ou da renda). Normalmente sua próxima contribuição seria apenas no
mês seguinte, ou quando recebesse uma nova renda. Este sistema, que não apareceu por acaso,
provavelmente fez parte do plano de Deus para um contexto social e econômico específico,
muito difícil, com a inflação mensal, na sua pior fase, chegando a passar dos 50% no Brasil.
Naquela época, uma oferta guardada em casa por um mês, para ser distribuída por todos os
cultos, perdia a metade ou mais do seu valor monetário. É possível que o Senhor tenha dirigido
as coisas para que este sistema de entregar toda a oferta do mês de uma só vez fosse utilizado
naquela época como uma exceção, de forma a garantir a manutenção do programa missionário
da Igreja naquela fase difícil de nossa história.

Hoje, um perigo maior que ronda nossas congregações, não é mais a inflação, com suas mazelas
econômicas e sociais, mas o materialismo e o secularismo, com sérias conseqüências espirituais.
Assim, talvez nossa necessidade de oferecer a oportunidade de adorar ao Senhor com ofertas em
todos os cultos seja agora ainda maior que em qualquer época do passado. Precisamos adora-lO
“continuamente”, e relembrar as Suas maravilhas durante todo o mês. E este princípio do
“contínuo” também vale para as outras partes do verdadeiro culto a Deus: a oração, o louvor e o
estudo da Bíblia.

Seria um absurdo se em nossos cultos cantássemos apenas uma vez por mês, orássemos apenas
nas quartas-feiras ou estudássemos a Bíblia apenas no domingo à noite, ou no final do mês! É
lógico que não faríamos isso. A cada culto oramos, cantamos e estudamos a Palavra. E quando,
de acordo com a orientação de Deus, tratamos as ofertas da mesma maneira que lidamos com os
outros elementos do culto, manifestamos coerência e contribuímos para que exista um evidente
ganho no aspecto da adoração. Oramos em todos os cultos, cantamos em todos os cultos,
estudamos a Palavra em todos os cultos e adoramos com as ofertas em todos os cultos. Assim,
teremos um culto completo!

Um processo educativo. Periodicamente, a congregação deve ser ensinada de maneira prática


acerca de como ofertar neste novo sistema divino de adoração (novo para nós – na verdade é o
sistema original). A Bíblia ensina de maneira clara que nossas ofertas devem ser proporcionais
(%) à renda13, ou seja, devem exprimir uma proporção do salário ou das entradas. Então, se há
um ganho maior, o montante ofertado também será maior; se há um ganho menor, o montante
ofertado também será menor; e se não há nenhuma benção (lucro ou ganho), também não vai
haver oferta. Assim como acontece com o dízimo, o método percentual na oferta deixa claro que
13
“Cada um oferecerá na proporção em que possa dar, segundo a bênção que o Senhor seu Deus lhe
houver concedido.” Deut. 16:17 (itálico nosso).

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é Deus quem dá primeiro. Ele pressupõem que você simplesmente não consegue dar jantes de
ter recebido algo de Deus. O homem só reconhece, agradecido, as Suas dádivas.

E para que os adoradores possam ter algo para trazer ao Senhor a cada culto, devem ser
ensinados que podem dividir esse total das ofertas do mês pelo número dos cultos daquele mês,
e a providenciar que cada membro da família possa apresentar algo, por pouco que seja, quando
comparece diante do Senhor. Isto vai causar profunda impressao sobre os adultos e as crianças.
Como vimos anteriormente, aqueles que por algum motivo não trouxeram uma oferta física,
podem neste momento fazer outras entregas ao Senhor (alguma mágoa, ansiedade, planos,
filhos, casamento, trabalho, etc), e adora-lo da mesma forma.

Alguns poderiam até afirmar maliciosamente que a Igreja estaria querendo lucrar algo ao
instituir este “novo” sistema (que como vimos não é novo). Mas se pensarmos que toda a oferta
verdadeiramente bíblica deveria ser proporcional à renda (cada um deve dedicar ao Senhor uma
porcentagem de seu salário/renda), o valor total da minha oferta mensal sempre vai expressar
essa porcentagem de minhas rendas, quer eu a entregue de uma só vez ou a divida para entregá-
la em doze vezes durante o mês!

Conclusão. Ao mesmo tempo em que temos a clara indicação de Deus para que ninguém
apareça diante do Senhor “de mãos vazias”, vemos igrejas procurando evitar a todo o custo o tal
“vexame” do momento das ofertas. De fato, a julgar pelo modo como o culto é conduzido em
algumas congregações, o momento das ofertas não passa mesmo de uma vergonhosa escola de
materialismo e secularismo, deixando a adoração muito de longe. À semelhança de Caim, os
membros destas igrejas não conseguem vislumbrar a Jesus em sua oferta. Em lugar de adorar a
Deus e meditar em Sua grandeza, durante o momento das ofertas pensam apenas em sustentar o
pastor, construir mais igrejas, etc., enfim, pensam apenas nas coisas “aqui de baixo”.

Talvez com o desejo de se diferenciarem de alguns dos ramos pentecostais, que se tornaram em
um verdadeiro comércio da fé, algumas boas igrejas cristãs podem estar se afastando também do
privilégio de adorar a Deus da melhor maneira, da maneira correta, o que inclui as ofertas. Estão
se afastando do culto que é culto. Neste caso, estão permitindo que o procedimento inapropriado
de outros lhes tire o privilégio de fazer o que é correto, lícito, e ordenado por Deus!

Mas, “vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e
em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e
importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” João 4:23 e 24.

Nas últimas horas da história desta terra, o Senhor nos chama para adorarmos “aquele que fez o
céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”. Apoc. 14:7. Caim, inaugurando o culto
humanista, permitiu que os preconceitos moldassem suas atitudes na adoração, enquanto que
Abel, adorou ao Senhor fielmente, do modo indicado por Ele. Um prestou um culto que não era
culto, enquanto que o outro ofereceu um culto que era culto. Como resultado, “agradou-se o
Senhor de Abel e de sua oferta”. Que isto aconteça também com nossa igreja de hoje!

Marcos Faiock Bomfim


Mordomia Cristã/USB
www.mcplus.org.br
www.mordomiacristausb.org.br

Perguntas para Discussão:

1. Em sua opinião, quem sustenta a igreja: Deus, o homem, ou ambos? Procure basear sua resposta
na Bíblia.
2. Em sua opinião, que fator principal difere um “culto que é culto” de um “culto que não é culto”?

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3. Em sua opinião, é correto que alguém procure “sentir” alguma coisa durante o culto? Por que?
4. Quando alguém entrega sua oferta ou dizimo, deveria estar pensando em sustentar a igreja,
adorar a Deus, ou ambas as coisas? Procure sustentar sua opinião pela Bíblia.
5. Oferta e benção estão intimamente relacionadas. Em sua opinião, qual delas vem primeiro?
6. O que você responderia para uma pessoa que fizesse a seguinte afirmação: “Com o programa de
ofertas em todos os cultos a Igreja Adventista está querendo enriquecer”.
7. O que você responderia para uma pessoa que fizesse a seguinte afirmação: “A Igreja Adventista
está ficando como algumas igrejas pentecostais – recolhe ofertas em todos os cultos”. Qual é a
diferença básica?
8. Que estratégia você escolheria para implantar o programa de ofertas em todos os cultos em sua
igreja, sem traumas?
9. Com o seu grupo, apresente um modelo sugestivo de liturgia que inclua de maneira equilibrada
todos os quatro elementos básicos da adoração para os cultos de sábado, domingo e quarta.

Para Dinâmica de Grupo:


1. Divida os participantes em grupos de até 08 pessoas.
2. É melhor ler o texto todo. Mas se o tempo for restrito, determine partes menores para cada grupo ler (de 3 páginas, por
exemplo). Importante:
a. Estabeleça um tempo-limite para a leitura (de 4 a 5 minutos por página).
b. Importante: não permita nenhuma discussão sobre o texto neste período, mas apenas a leitura.
3. Após a leitura, distribua as Perguntas para Discussão entre os grupos. As perguntas não precisam ser necessariamente
relacionadas ao trecho do texto lido pelo grupo).
4. Estabeleça um tempo-limite para a discussão das perguntas (3 a 4 minutos por pergunta). Seja rigoroso(a) no tempo.
5. Cada grupo envia à frente um representante, que deve apresentar em 1 minuto as conclusões da discussão.
6. Encerre o programa enquanto o interesse ainda estiver alto.

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