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Preposições
A classe das preposições é fechada de palavras relacionais, pois mediam uma relação entre
dois itens da frase. De forma simplificada, podemos entender as preposições como uma
ponte semântica entre dois itens que, intercalados pela preposição, formam o que
chamaremos de conjunto preposicionado. Esse conjunto é composto de três elementos:
ANTECEDENTE + PREPOSIÇÃO + CONSEQÜENTE
Veja exemplos:
Antecedent Preposição Conseqüente
e
Livro de História.
Viagem a Paris.
Café com leite.
Em português, excepcionalmente, a preposição entre pode mediar a relação entre um
antecedente e dois consequentes, ou então, consequente plural.
Antecedent Preposiçã Conseqüente 1 Conseqüente 2
e o
Ficou entre a cruz e a espada.
As principais preposições do português são:
Preposiçã Exemplo de uso
o
A Viagem a Paris
Afora Todos desistiram, afora os mais insistentes.
Após Paulo retirou-se após a discussão.
Ante Ficou parado ante a porta.
Até Correu até cair de cansaço.
Com Café com leite
Como Receberam o troféu como prêmio.
Conforme Ocorreu conforme o esperado.
Consoante O rito se deu consoante os costumes.
Contra Lutaram um contra o outro.
De Copo de leite.
Desde Não o vejo desde o ano passado.
Durante Ele saiu durante o discurso.
Em Siga em frente.
Entre Estava entre a cruz e a espada.
Exceto Todos votaram a favor, exceto os radicais.
Fora Tudo corre bem, fora alguns detalhes.
Mediante Pudemos participar mediante recurso.
Menos Todos compareceram, menos ele.
Para (pra) Comida para gatos.
Bom pra cachorro.
Por (Per) Passamos por ele no caminho.
Ele passou pelos percalços ileso.
Perante Apresentou-se perante o juiz.
Salvante Resolvi todas as questões, salvante a última.
Salvo Chegaremos logo, salvo algum imprevisto.
Segundo Estamos no caminho certo, segundo o mapa.
Sem Café sem açúcar.
Sob Trabalho sob pressão.
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Sobre Pedra sobre pedra.
Tirante Conheço essas pessoas, tirante uns poucos.
Visto Ele terá alta, visto o resultado do exame.
A forma pra é uma variante informal de para.
As preposições por e per ocorrem em distribuição complementar. A
preposição por predomina, mas não pode ocorrer antecedendo artigos definidos. Não são
válidas as combinações a seguir:
* Por a, * por as, * por o, * por os.
As formas inaceitáveis acima devem ser substituídas pelas contrações equivalentes
de per com os artigos definidos.
Per + a = pela
Per + as = pelas
Per + o = pelo
Per + os = pelos
Afora esses casos de contração, a preposição arcaica per só ocorre em algumas poucas
expressões da língua como de per si ouper capita.
Combinação de preposições
Nas combinações, duas preposições actuam em conjunto para criar o elo semântico entre
antecedente e consequente. As preposições aparecem lado a lado e a interpretação do elo
semântico que elas definem se dá pela composição dos sentidos individuais de cada
preposição. Veja exemplos:
Desceu de sobre a árvore.
Os preços baixaram em até 10%.
Ele tem o maior carinho para com você.
A humidade se infiltrou por entre as tábuas.
Sob perspectiva histórica, as preposições afora, após, dentre e perante são combinações.
Afora = a + fora
Após = a + pós
Dentre = de + entre
Perante = Per + ante
Os falantes de hoje, porém, já deixaram de perceber essas preposições como combinações,
até porque duas delas incluem preposições arcaicas (per e pós). No português
contemporâneo, podemos considerar esses casos como preposições simples.
Necessidade semântica
Observe a série seguinte:
Viajei com documentos.
Viajei sem documentos.
Aqui, a função semântica da preposição é evidente. É pela preposição que diferenciamos o
sentido dos enunciados. Nesse exemplo, se a preposição for removida o enunciado fica
inaceitável e incompreensível. A preposição é necessária à compreensão do enunciado.
Abundância enfática
Observe o exemplo:
Concordo com você.
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Redundância enfática
Veja os exemplos:
Procurar por alguém.
Procurar alguém.
Encontrar com um amigo.
Encontrar um amigo.
Observe que a preposição pode ser removida dos enunciados sem prejuízo para a
compreensão ou para a aceitabilidade. A preposição, nesse caso, enfatiza semanticamente a
mensagem. O importante nesse tipo de construção é que o significado associado à
preposição se harmonize com os demais termos do enunciado.
Função adjetiva
Considere os exemplos:
Caminhão de cimento.
Piso de cimento.
Nos exemplos acima, a preposição de coopera na adjetivação do antecedente. O algoritmo
para interpretar o enunciado pode ser expresso assim:
O antecedente tem um atributo intrinsecamente relacionado com o conseqüente e a
preposição explicita a natureza dessa relação.
Mas qual atributo é considerado no conjunto preposicionado? No primeiro enunciado dado,
podemos intuir que o caminhão transporta cimento e no segundo, que o material
construtivo do piso é o cimento. Temos dois usos bem distintos para o trecho de cimento.
Como o falante discerne qual é o sentido correto para esse tipo de adjetivação? Trata-se de
um mecanismo de associação metonímico. A natureza da relação entre o antecedente e o
conseqüente não é explícita. É pelo contexto que o falante chega ao significado. Sem
dúvida, nesses casos o falante deve contar com sua experiência acumulada, intuição e, às
vezes, até com a imaginação. A preposiçãode coopera no processo, pois primariamente
porta a idéia de origem, proveniência. Por meio de recursos retóricos essa significação
básica gera significações correlatas como constituição, propósito, característica primária,
etc.
O caráter adjetivo fica claro nas séries a seguir.
Memória de prodígio.
Memória prodigiosa.
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Homem de consciência.
Homem consciencioso.
Análise da qualidade.
Análise qualitativa.
Observe que sintagma preposicionado pode ser substituído a contento por adjetivos
equivalentes.
Relação de posse
Em Português, a relação de posse é uma função adjetiva específica da preposição de.
Dizemos:
Livro de Pedro.
Carro de Lúcia.
É interessante observar que a língua portuguesa, nesse detalhe, não herdou a solução do
latim, que reservava uma flexão de caso especialmente para indicar a relação de posse.
Função adverbial
A preposição participa de várias construções com função adverbial. Predomina, nesse caso,
a relação locativa e suas derivações.
Relações locativas
As relações locativas ou de movimento e situação são um caso específico de uso das
preposições em função adverbial. Observe a série:
Cheguei de Porto Alegre ontem.
Estou em Curitiba hoje.
Vou a São Paulo amanhã.
As preposições estão ligadas relações espaciais conforme o esquema:
origem=de > situação=em > destino=a
Vetor locativo
Para uma melhor compreensão das relações locativas vamos conceber o vetor locativo.
Vamos considerá-lo como uma seta disparada de uma origem semântica, que passa através
de uma posição referencial de situação e que avança para um destino semântico.
Fraseologias prepositivas
bserve a série de frases:
O gato está embaixo da mesa.
O livro está em cima da cama.
Consideravam-no um cidadão acima de qualquer suspeita.
A qualidade do filme está abaixo da crítica.
Os segmentos marcados em negrito são fraseologias, ou seja, enunciados que se repetem
nos discursos sempre da mesma forma, sob mesmas condições. As fraseologias
apresentadas nessa série estão ligadas a relações locativas. Nas duas primeiras frases da
série as relações locativas estabelecidas pelas preposições são diretas e objetivas. Elas nos
esclarecem sobre relações espaciais entre objetos. Nas duas últimas frases da série, temos
relações derivadas da locativa.
Em muitos casos, as fraseologias prepositivas podem ser permutadas por uma preposição
equivalente como exemplificado a seguir:
O gato está embaixo da mesa.
O gato está sob a mesa.
O livro está em cima da cama.
O livro está sobre a cama.
Essa possibilidade de tratar algumas fraseologias prepositivas como substitutas de
preposição levou muitos gramáticos a considerar essas ocorrências como locuções. A favor
dessa linha de análise temos o fato de que muitas fraseologias prepositivas realmente são
interpretadas pelos falantes como um bloco semântico. Os usuários já não interpretam as
fraseologias prepositivas palavra a palavra. Pelo uso intensivo que fazem delas, assimilam-
nas como um bloco. Em nossa análise, no entanto, não vamos tratar essas ocorrências
como locuções. Entendemos que as fraseologias prepositivas têm uma estrutura sintática
que se integra harmoniosamente à estrutura da frase que as contém. Não precisamos
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considerar as fraseologias prepositivas como uma locução para fazer a análise sintática da
frase.
Relações locativas
Boa parte das fraseologias prepositivas advém de enunciados baseados em relações
locativas. Podemos analisá-las com auxílio do vetor locativo.
Algumas fraseologias prepositivas são construídas na ordem ORIGEM > SITUAÇÃO >
DESTINO e outras na ordem de sentido contrário: DESTINO > SITUAÇÃO > ORIGEM.
Veja nas tabelas, como fraseologias prepositivas se encaixam no modelo do vetor locativo.
Origem Situação Destino
O batalhão em direção à fortaleza.
avança
Nada farei daqui por diante.
Vocês comandam de agora em diante.
Estou defronte ao portão.
Visito minha tia de vez em quando.
Cuide da tarefa do começo ao fim.
Destino Situação Origem
O gato está embaixo da mesa.
O livro está em cima da cama.
A negociata se deu por baixo dos panos.
Todos estão a par do assunto.
Eles negociam a partir do preço mínimo.
Gostaria de falar a respeito do problema.
O preço está acima da média.
A estrada fica adiante do matagal.
Conseguimos, apesar dos percalços.
A vassoura está atrás da geladeira.
Obtive a através de contatos.
informação
A discussão girou em torno de detalhes.
Através
Defronte
Detrás
Embaixo
Contracções prepositivas
Observe a série:
Festa da vitória.
Brilho do olho.
Estrada das cataratas.
Terra dos pinheirais.
Os itens em negrito são resultados de acomodações fonológicas. No caso, são contrações da
preposição de com os artigos definidos a, o, as e os. Em português, as preposições
interagem fonologicamente com outros itens de léxico. Nessas interações predominam as
contrações. Veja no quadro, a lista completa das contrações prepositivas do português.
Preposiçã Termo adicional Contração
o
A A À*
A As Às*
A O Ao
A Os Aos
A Aquela Àquela *
A Aquelas Àquelas *
A Aquele Àquele *
A Aqueles Àqueles *
A Aquilo Àquilo *
A Onde Aonde
Com Mim (migo) Comigo
Com Ti (tigo) Contigo
Com Si (sigo) Consigo
Com Nós (nosco) Conosco
Com Vós (vosco) Convosco
De A Da
De As Das
De O Do
De Os Dos
De Aí Daí
De Ali Dali
De Onde Donde
De Aquela Daquela
De Aquelas Daquelas
De Aquele Daquele
De Aqueles Daqueles
De Aqui Daqui
De Aquilo Daquilo
De Ele Dele
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De Eles Deles
De Ela Dela
De Elas Delas
De Essa Dessas
De Essas Dessas
De Esse Desse
De Esses Desses
De Esta Desta
De Estas Destas
De Este Deste
De Estes Destas
De Isso Disso
De Isto Disto
De Entre Dentre
Em A Na
Em As Nas
Em O No
Em Os Nos
Em Ele Nele
Em Ela Nela
Em Eles Neles
Em Elas Nelas
Em Aquilo Naquilo
Em Essa Nessa
Em Essas Nessas
Em Esse Nesse
Em Esses Nessas
Em Isso Nisso
Em Isto Nisto
Em Algum Nalgum
Em Outro Noutro
Em Outros Noutros
Em Outra Noutra
Em Outras Noutras
Em Um Num
Em Uns Nuns
Em Uma Numa
Em Umas Numas
Pra a Pra
Pra as Pras
Pra o Pro
Pra os Pros
Per a Pela
Per as Pelas
Per o Pelo
Per os Pelos
* A contração da preposição a como o artigo a, se realiza no discurso oral geralmente como
vogal alongada e na escrita se representa pelo a craseado.
O encontro entre a preposição com e os pronomes oblíquos foge ao padrão válido para as
demais preposições. São válidos os enunciados a seguir:
A mim, a ti, a si, a nós, a vós.
12 | P a g e