Professional Documents
Culture Documents
A retórica considera o discurso nas suas múltiplas manifestações, como meio de persuasão,
Preocupa-se mais com o conquistar a adesão do auditório do que com a verdade;
Serve-se da linguagem comum e tira partido da sua polissemia e ambiguidade;
Pretende modificar as crenças, as atitudes e o comportamento do auditório.
Técnicas retóricas
1. O orador pode usar diferentes estratégias, em função
2. das características do auditório:
3. partir de exemplos e invocar situações reais ou fictícias
4. usar comparações para facilitar a compreensão da mensagem
5. apelar à imaginação do auditório e usar imagens apelativas (caso da publicidade)
6. repetir uma frase (um slogan) para vincar uma ideia
7. usar diferentes gestos e modelações de voz
8. usar figuras de estilo: ironia, metáforas, analogia e metonímias.
Características da Sofística
Para os Sofistas (Górgias e Protágoras) o bem, a verdade e a justiça eram conceitos subjectivos e relativos, por isso
mesmo, ensinavam aos seus alunos técnicas de discurso sem qualquer preocupação pelo conteúdo das teses em
disputa, o importante era convencer e sair vencedor.
Eram contemporâneos dos filósofos marcantes da época – Sócrates e Platão, com os quais vão entrar em conflito.
Tinham objectivos práticos: preparar os jovens para a disputa politica e jurídica;
Preocupavam-se mais com a forma do que com o conteúdo do discurso;
Os mestres da oratória e da eloquência faziam da retórica uma técnica de dar beleza e encanto ao discurso, para
melhor conseguirem convencer.
Transformando o discurso numa arte de sedução, a sofística transformou-se num instrumento de manipulação.
Desenvolveram a retórica ( arte de bem falar );
Tinham uma postura relativista quanto à questão do saber e da verdade, privilegiando a opinião ou “doxa”
PERSUASÃO
É o bom uso da retórica; traduzido pela tentativa de levar um auditório a aderir a uma tese ou acção;
Não se impõe nada, dá-se liberdade aos ouvintes para reflectirem e decidirem individualmente;
O orador procura ajudar a ultrapassar as limitações da racionalidade do auditório;
Há uma relação de igualdade entre orador e ouvintes, estes são respeitados por aquele.
Os objectivos da argumentação estão definidos e são claros, há transparência;
Fomenta-se o espírito crítico e a autonomia de cada um; 1
O orador vê os ouvintes como seres iguais a si e aceita a decisão deles;
A persuasão é moralmente aceitável porque há um uso racional da palavra e "o outro" é visto como um outro "eu".
MANIPULAÇÃO
É o mau uso da retórica;
Consiste em fazer com que outros aceitem ou realizem algo contra os seus melhores interesses;
Há uma imposição, tentando evitar a reflexão e a liberdade de decisão dos ouvintes;
O manipulador procura usar a seu favor as limitações da racionalidade do auditório;
Há uma relação vertical, desigual, em que os ouvintes são usados como instrumentos ao serviço do manipulador;
Os objectivos são escondidos ou apresentam-se de forma confusa para não suscitar reflexão, não há transparência;
O manipulador tenta evitar o espírito crítico e procura desviar as atenções do próprio tema que se devia debater,
anulando ao máximo a autonomia dos ouvintes e a sua capacidade de avaliação da situação;
Na manipulação há um desprezo claro pela individualidade e liberdade de decisão dos ouvintes;
O manipulador vê os ouvintes como seres inferiores, que ele usa em proveito próprio;
A manipulação é moralmente inaceitável porque há má fé e desrespeito pelos outros, os quais são considerados como
meios ao serviço de alguém com objectivos ocultos.
O Nazismo: o ditador Adolfo Hitler, foi o primeiro a integrar a retórica em gigantescos espectáculos de propaganda,
produzindo um poderoso efeito hipnótico sobre os auditórios.
Os discursos de Hitler eram cuidadosamente ensaiados. Modelações no tom de voz, gestos dramáticos, olhares
acutilantes, e expressões faciais acentuavam os momentos mais importantes nos seus discursos. Os discursos
abordavam de forma muito emocional quase sempre os mesmos temas: o ódio aos judeus, o desemprego e o orgulho
ferido da Alemanha. Os locais eram decorados de forma a acentuar a sua presença. As paradas militares, bandeiras e
símbolos conferiam à sua figura e palavras uma dimensão sobrenatural
Censura: a informação é manipulada não apenas tendo em vista omitir factos relevantes, mas também deformar o
conteúdo da informação veiculada de modo a que a mesma se ajuste às ideias dos censores. Em Portugal a censura foi
um dos instrumentos mais utilizados pela ditadura (1926-1974) para a manipulação da opinião pública: a informação
que era autorizada era previamente mutilada. A restante era simplesmente proibida.
Propaganda: a informação é forjada de forma provocar a uma adesão imediata a certos estímulos, explorando para
tal as emoções ou os medos das pessoas. Durante a 1ª. Guerra Mundial (1914-1945), as técnicas de propaganda aos
serviços dos Estados tornaram-se enormes máquinas de mobilização de massa, dotadas de enormes recursos técnicos,
que foram depois eficazmente aplicados e desenvolvidos pelos diferentes regimes totalitários.
Karl Popper, no início da década de 90, acusou a televisões de estarem a destruir os regimes democráticos.
Afirmando:
1. A finalidade das televisões não é a educação ou a melhoria das pessoas, mas apenas o lucro.
2. Aquilo que oferecem às pessoas não é o que é melhor para a sua educação, mas apenas aquilo que as seduz e as
mantém presas aos ecrans de televisão, fazendo desta forma subir as audiências. A receita que utilizam é sempre a
mesma: sexo, violência, sensacionalismo, etc. Uma receita que cansa, por isso mesmo obriga-as a um reforço
continuo das suas doses diárias (mais sexo, mais violência, mais sensacionalismo…).
3.Com o aumento do número de canais de televisão, cresceu também o número de pessoas mediocres ou gente sem
escrúpulos ligadas à produção de programas televisivos. Gente que apesar da sua enorme influência social, trabalha
na mais completa impunidade e sem qualquer controlo democrático.
4. As pessoas mais vulneráveis a esta influência nefasta da televisão são as que possuem um nível de formação e
maturidade insuficiente para estabelecerem uma distinção entre a ficção e a realidade.
O bom uso da retórica (persuasão) é o que caracteriza a filosofia e o mau uso da retórica (manipulação) é o que
caracteriza os sofistas.
Argumentação
É a actividade social, intelectual e discursiva que, utilizando um conjunto de razões bem fundamentados
(argumentos), visa justificar ou refutar uma opinião e obter a aprovação e a adesão de um auditório, com o intuito de
alterar o seu comportamento.
1º O ponto de vista do orador: o que se impõe como determinante é a vontade de agradar, de persuadir, de seduzir, de
convencer, e pouco importa se isso é conseguido através de belos discursos ou de argumentos racionais – O ethos do
orador.
O ethos do orador consiste no poder persuasivo que lhe advém do seu prestígio, da sua autoridade moral ou
científica, das virtudes do seu carácter, das potencialidades da sua personalidade e mesmo do seu aspecto físico
encanto ( “charme”) ou beleza natural.
2º O ponto de vista do auditório: o que conta é a decifração das intenções e, por conseguinte, o carácter do orador, a
inferência que temos o direito de fazer a partir daquilo que é enunciado literalmente. – O pathos do auditório
O pathos do auditório é aquilo a que Aristóteles chamou a “disposição dos ouvintes”. Refere-se às emoções
despertadas nos ouvintes e consiste na receptividade com que estes escutam o orador, pois é do mais elementar bom
senso que, quando pretendemos persuadir uma pessoa, não devemos hostilizá-la.
3º O terceiro ponto vista: o do médium [meio], quer seja a linguagem quer seja a imagem, isto é, a mensagem. Aqui,
o que conta são as marcas do implícito, o sugerido, os tipos de discurso utilizados, a narração – O logos da
linguagem.
Assim, por detrás das definições de retórica esconde-se uma estrutura muito precisa: a relação entre si e outrem
( ethos e pathos) via (através de) uma linguagem (logos)
Torna-se fundamental respeitar um conjunto de regras, na análise e comentário de texto, de modo a que a
identificação das teses em confronto possa ser realizada com precisão e clareza, especificando sempre o tema central
do texto e argumentando criticamente acerca das questões colocadas e seguidamente apresentando posições reflexivas
autónomas com elaboração pessoal de uma resposta que apresente de modo fundamentado a defesa de uma
perspectiva própria.
Regras a respeitar:
Características da Filosofia
Hoje, é feita a reconciliação entre filosofia e retórica ( bom uso da retórica ), esta é um instrumento da procura da
verdade como ela é entendida na verdade – plurívoca, biodegradável, renovável.
4
É a verdade possível na busca do preferível de consensos partilhados intersubjectivamente. A verdade é a tarefa do
filósofo autónomo, crítico, humilde e tolerante.
A Filosofia encara a argumentação como um meio na busca da verdade com o intuito ou finalidade de conseguir o
efectivo conhecimento da realidade (ser).