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Esporte

07 de Julho de 2009

Exclusivo VEJA.com | Futebol

Infraestrutura é adversária do Brasil na Copa de


2014
Por Marina Dias

Dentro de campo, as preocupações do futebol nacional se restringem à prepação do


melhor time para a Copa da África, no ano que vem. Fora dele, porém, o que pode fazer o
brasileiro perder o sono não é o time de Dunga, mas a estrutura necessária para receber o
Mundial aqui, em 2014. Isso porque o Brasil deverá receber no mês em que serão
disputados os jogos mais turistas do que costuma hospedar durante um ano todo - e isso
vai exigir infraestrutura extra ao país.

VEJA.com ouviu especialistas de algumas das áreas que serão duramente testadas
durante os jogos: é o caso de telefonia, transportes, hotelaria e estádios. Eles fizeram
alertas sobre gargalos de infraestrutura, como o que pode sufocar a rede de transporte. "O
sistema de aviação não está preparado para receber uma Copa do Mundo: temos
restrições em terminais de passageiros e pátios de aeronaves", sentencia Ricardo
Nogueira, vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). Os
alertas foram repassados às autoridades responsáveis, que apresentaram a sua versão
dos fatos. Confira os dados no quadro a seguir:
Os obstáculos e as possíveis soluções para a Copa de 2014

Telefonia

Obstáculos Soluções O que dizem os responsáveis


Limitação na tecnologia 3G - Instalar mais telefones A Anatel não comenta o
que pode levar à pane na públicos nas imediações de assunto
rede em locais onde estádios e investir em
multidões fazem ligações ou antenas e recursos de rede
enviam fotos e vídeos via
celular simultaneamente

Hotelaria
O que dizem os
Exigências da Fifa Obstáculos Soluções
responsáveis
32.000 quartos por Só São Paulo atende Ampliar e reformar a
cidade-sede e à exigência - nas rede hoteleira,
arredores demais eventuais implementar
sedes, há falta de hospedagem em
hospedagens navios ao longo da
costa e utilizar hotéis
das cidades vizinhas
às sedes
O Ministério do Falta mão-de-obra Formar novos O Ministério do
Turismo aposta em capacitada para vagas profissionais Turismo está criando
hospedagem familiar, a serem criadas no cursos de capacitação
pousadas, albergues e setor
vilas olímpicas como
alternativas

Transporte
Obstáculos Soluções O que dizem os responsáveis
Estádios mal localizados e Ampliar aeroportos e linhas A Infraero promete elevar
sem estrutura de transporte de metrô nas cidades-sede número de pousos e
público decolagens utilizando
capacidade ociosa dos
Sistema aeroportuário aeroportos. O governo
operando no limite da federal promete investir ao
capacidade menos R$ 7,3 bi em metrôs e
infraestrutura de transporte
Estradas que ligam cidades- Melhorar rodovias e investir O trem-bala que ligará São
sede em más condições em trem de velocidade Paulo, Campinas e Rio deve
média (até 250 km/h) no estar pronto até 2014, ao
trecho Rio-São Paulo custo de US$ 15 bilhões, em
parceria entre governo e
iniciativa privada

Estádios
O que dizem os
Exigências da Fifa Obstáculos Soluções
responsáveis
Estacionamentos e Nenhum estádio Reformar os estádios,
hospitais próximos, atende às exigências especialmente nos
corredores de camarotes,
circulação adequados, estacionamentos,
tribunas de imprensa, salas de imprensa,
assentos numerados, banheiros, e serviços
vestiários para
atletas, árbitros e
gandulas
Área livre próxima Morumbi (SP) e o O Morumbi teria de
ao estádio para a Maracanã (RJ), usar áreas contíguas.
concentração de candidatos à abertura
torcedores e à final da Copa, não O Maracanã, demolir
Os responsáveis têm tal área o parque aquático
dizem que os estádios Júlio Delamare
serão adequados:
reformas podem
custar R$ 10 bilhões,
parceria entre
governo e empresas

Fontes consultadas:
Telefonia: Ricardo Rodrigues de França, engenheiro eletricista e especialista em
telecomunicações
Transporte: Ricardo Nogueira, vice-presidente executivo da Associação Brasileira de
Aviação Geral (Abag), Nicolau Gualda, chefe do Departamento de Engenharia de
Transportes da Poli-USP, e Marçal Goulart, superintendente de operações da Infraero
Hotelaria: Alexandre Sampaio, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
(ABIH), Maurício Bernardino, presidente da ABIH-SP, e Luiz Barretto, ministro do
Turismo
Estádios: Vicente de Castro Mello, coordenador da equipe de arquitetos para Copa de
2014, e Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco)

Detalhes nada pequenos - De acordo com Nicolau Gualda, professor titular e chefe do
Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (Poli-USP), os problemas do setor começam no interior das cidades-sede, que
não possuem acessos adequados a estádios nem oferecem ao público condições plenas
de deslocamento para restaurantes, hospitais e outros serviços. "Além disso, há
problemas no transporte interestadual: as rodovias precisam de ajustes, a malha
ferroviária é inadequada e a aeroviária está saturada nas principais ligações do país".

Marçal Goulart, superintendente de Gestão Operacional da Infraero (Empresa Brasileira de


Infraestrutura Aeroportuária) garante que os aeroportos das cidades-sede serão
melhorados. "Esperamos um crescimento de 30% no movimento das principais pistas,
mas descarto completamente a possibilidade de um novo caos aéreo durante a Copa."

Quartos lotados - O Brasil deve receber durante o mês da Copa cerca de 500.000 turistas
estrangeiros. É muita gente para os padrões do turismo local. A cifra é, por exemplo, 10%
maior do que o número de visitantes que aportam por aqui a cada ano.

Por isso, Alexandre Sampaio, um dos diretores da Associação Brasileira da Indústria de


Hotéis (ABIH), adianta que a rede hoteleira precisa de investimentos. "Trabalharemos com
uma taxa de ocupação de 100% dos quartos", diz. Para se ter ideia, a média atual do Rio
de Janeiro, a maior de todo o país, é de 76%.

Sampaio adianta também os preços da hospedagem em 2014. Hotéis turísticos terão


diária de 180 dólares; nos estabelecimentos superiores, 270 dólares; já os pontos de luxo
sairão por 350 dólares por dia. Os hotéis terão autonomia para aderir ou não ao contrato
de preços da Fifa.

Além do eventual apagão aereo, será preciso correr para evitar o telefônico. Para Ricardo
Rodrigues de França, engenheiro eletricista e especialista em telefonia, é possível evitar o
pior com mais investimentos das operadoras. "Mas os investimentos para
resolver problemas devem começar mais para frente, caso contrário, a tecnologia fica
obsoleta até 2014", diz.
Estádios 'verdes' - A situação dos estádios brasileiros é um dos calcanhares de Aquiles
da Copa 2014, talvez o ponto frágil mais visível. Vicente de Castro Mello, coordenador dos
arquitetos que irão trabalhar pela Copa, admite que nenhuma das construções do Brasil
têm condições de abrigar o mundial. "Mas todos passarão por intervenções e
adequações", ressalva.

O diferencial aqui, segundo Mello, será a criação de um modelo tipicamente brasileiro: a


chamada eco-arena, um estádio sustentável, com reaproveitamento de água da chuva,
reciclagem de lixo, tratamento de esgoto, entre outras medidas. Resta saber se, de fato,
haverá dinheiro para todas essas obras, além das prometidas parcerias público-privadas.

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