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Nasceu em ltabira (MG) em 1902. Fez os estudos secundários em Belo Horizonte, num
colégio interno, onde permaneceu até que um período de doença levou-o de novo para
ltabira. Voltou para outro internato, desta vez em Nova Friburgo, no estado do Rio de
Janeiro. Pouco ficaria nessa escola: acusado de "insubordinação mental" - sabe-se lá o que
poderia ser isso! -, foi expulso do colégio. Em 1921 começou a colaborar com o Diário de
Minas. Em 1925, diplomou-se em farmácia, profissão pela qual demonstrou pouco interesse.
Nessa época, já redator do Diário de Minas, tinha contato com os modernistas de São Paulo.
Na Revista de Antropofagia publicou, em 1928, o poema "No meio do caminho", que
provocaria muito comentário.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A Flor e A Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Mãos Dadas
Quadrilha
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