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1 INTRODUÇÃO

A evolução dos sistemas penitenciários, assim como a execução das


penas permanecem em processo de aprimoramento contínuo se fazendo
necessário, cada vez mais, estudos sobre a aplicabilidade dos componentes da
fase denominada de execução penal.
Para a consecução da pesquisa científica, serão analisadas as políticas
públicas, a pena e a prisão no Brasil, focando-se a centralidade do trabalho na
aplicabilidade do regime denominado fechado no interior do ente penitenciário
denominado Casa de Detenção (CADET), entidade inserida no Complexo
Penitenciário de Pedrinhas no Estado do Maranhão.
Sabe-se que o Sistema Penitenciário Nacional, via de regra, sofre de
descrédito perante a sociedade, e esse aspecto é possível de ser traduzido como
a convergência de uma série de problemas que se aglomeram por muito tempo,
sendo necessária a efetivação de reflexões sobre as políticas penais e o
cumprimento da pena dentro de cada regime determinado pela Lei de Execução
Penal (LEP).
A priori é possível dizer que alguns pontos causam a instabilidade no
Sistema Penitenciário: a superpopulação dos presídios e o que isso acarreta para
os internos; a falta de interesse do Estado em investir em Gestores Públicos para
o Sistema Penitenciário; reestruturação do Sistema Penitenciário Brasileiro e, por
conseguinte, Maranhense, o que refletiria em soluções possíveis de causar a
diminuição da situação conflituosa vivenciada no atual Sistema Penitenciário do
Estado do Maranhão, posto que tal ente deve apresentar como princípio
institucional o favorecimento da reintegração do apenado à sociedade.
A escolha do tema se deu devido à extrema necessidade de discutir-se
os motivos que levam a execução da pena ser tão depreciada pelo poder público,
o que se faz mais claro quando a reprimenda é aplicada na Casa de Detenção em
São Luís do Maranhão, a qual, de todas as unidades prisionais ligadas ao
Sistema Penitenciário Maranhense, é a que menos assistência tem por parte dos
gestores da Secretaria de Justiça e Segurança Pública.
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Sem dotar-se de hipocrisia e falso convencimento, os administradores


públicos terminam se esquecendo que naquele local existem pessoas
aguardando possibilidades de reintegração social, de forma a necessitarem de
meios para a citada reinserção à sociedade livre.
Para a execução da pesquisa proposta, elegeu-se dois momentos que
se inter-relacionam dando origem a um trabalho coeso e firmado na produção
científica. Na primeira fase tem-se a pesquisa in loco efetivada no interior da Casa
de Detenção (CADET) no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, a qual visa
facilitar a visão holística da situação-problema ocorrida naquele ente. No segundo
momento, tem-se a base doutrinária na busca de capacitar a análise na parte
bibliográfica, tornando possível o entender de determinados pontos que em um
primeiro momento parecem inexplicáveis.
A pesquisa se faz caracterizada como importante para a ciência do
Direito em razão de todas as questões que nos últimos momentos estão a aflorar
no que tange aos modus da execução penal.
O direito do aprisionado não pode ser renegado ao um segundo plano,
trazendo, por vezes, a falaciosa impressão de pronta legalidade, muito ao
contrário, todos os seus direitos ao atingidos pela sentença devem, devem ser
mantidos, demonstrando assim a plena gerência do estado democrático de
direito.
A monografia está divida em capítulos que buscam dirimir questões
pertinentes a cada tema, de forma a visar a mais perfeita integração do tema
central do trabalho.
Serão tratadas as questões referentes à pena de prisão, dando-se
enfoque ao seu surgimento histórico de forma a possibilitar reflexões sobre a
atualidade da execução da pena. Tal reflexão tende a demonstrar não só
evolução da pena de prisão como também efetiva posições capazes de
delinearem a necessidade do aparecimento do sistema penitenciário como
garantidor de humanidade aos apenados.
Tratar-se-á questões sobre o Sistema Penitenciário Maranhense, como
forma de trazer à baila as situações vivenciadas no citado sistema e os reflexos
desta aplicabilidade.
A princípio discute-se a importância de uma Secretaria de
Administração Penitenciária independente de Secretaria de Segurança Pública ou
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de Justiça, visto que, pelas experiências observadas, fora possível percebe-se


que inúmeros recursos destinados pelo Governo Federal ao Sistema Penitenciário
para o desenvolvimento execução de ações político-penitenciárias, geralmente
são desviados na sua quase totalidade para ações de Segurança Pública
Estadual ou de Justiça, deixando o Sistema Penitenciário em condições de
falência administrativa.
Ainda no interior do trabalho, levantar-se-á a questão da assistência
que deveria ser prestada aos internos da Casa de Detenção no que se refere à
educação, ao material, à religião, assistência social e jurídica que funciona de
forma precária e muitas das vezes ineficaz. Todavia, deve-se dizer que tais
assistências jamais poderão serem restringidas àquela casa penal, mas deve ser
prática constante no sistema penitenciário.
De logo se diz que tal tema estará longe de findar-se, sendo sim
questão merecedora de inúmeros outros trabalhos.
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2 DA PENA DE PRISÃO

A pena de prisão não surge do nada, ela é fruto de uma evolução na


forma de punir. Mesmo que na atualidade entenda-se que a referida pena se
traduz em uma espécie de punibilidade cruel, ainda assim, a pena de prisão
representa um imenso avanço para humanidade.
Ela é fruto de lutas, de revelações e de tudo mais que se possa pensar
em épocas passadas, ainda assim, a história da pena de prisão não tem sido
suficiente para que os legisladores observem que a sua presença tem como
essência a viabilização de punir sem impossibilitar que ao punido seja plausível a
recuperação social.
Nesse sentir, para um melhor entender da questão suscitada, é que se
faz necessário reflexões sobre a evolução histórica da pena de prisão.

2.1 Evolução histórica da pena

A história jurídica, pelo menos a de cunho ocidental, fala de um Direito


e, por conseguinte, da reprimenda como sendo uma narração pautada em duas
grandes civilizações: Grécia e Roma.
Historiadores contam que na Grécia costumava-se prender os
devedores até que eles conseguissem quitar suas dívidas, de forma que sua
custódia servia para abster-lhes a fuga e garantir que fossem apresentados nos
Tribunais Antigos (REALE; ANTISERI, 1991, p. 49).
Dividi-se o direito penal grego em dois períodos: o período primitivo
marcando o seu tempo com sangue e que atingia toda a família do acusado; e o
outro com a adoção da Lei de Talião e a composição.
Também é sabido que na Roma antiga, a prisão não tinha o caráter de
castigar, não constituindo espaço de cumprimento de uma pena, pois as sanções
se restringiam quase unicamente às corporais e à capital; as penas eram
aplicadas com requintes de crueldade, que implicavam no sacrifício do acusado
tais como crucificação, ser queimado vivo, ou mesmo a submersão do condenado
dentro de um saco (NUCCI, 2005, p. 91).
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Segundo Bruno (apud GUIMARÃES, 2000, p. 41) os romanos foram os


primeiros antigos que libertaram o direito do domínio religioso, distinguindo
nitidamente na doutrina e na prática, o jurídico do sacral. De forma que a partir
daquele momento, na Idade Antiga, não se via mais o direito com aquela visão
estritamente ligada à questão religiosa.
Com efeito, a origem da pena foi resultado da forma de punir. Durante
séculos, utilizavam-se diversas maneiras de castigos, métodos dolorosos que
maltratavam os condenados, antes de eliminar-lhes a vida. Cada civilização, ou
cada povo, buscava aperfeiçoar a pena para que sua eficácia apresentasse
resultados imediatos, mas o constatável é que cada vez que fora buscado de
alguma forma a exacerbação da punição, sempre os resultados foram os mais
nocivos possíveis, levando a uma espécie de sentimento de fracasso e total
desespero por parte dos aplicadores da reprimenda.
No tocante à idade Média, pode-se auferir que foi naquela época que a
pena, consubstancialmente, passou a ter um cunho de penitência, sendo
apregoada como uma espécie de purificação da alma, de libertação do espírito da
matéria.
Fora a igreja, naquela idade, o ente que ficara responsável pelo
direcionamento do modelo penitenciário, impondo castigos aos monges infratores
em penitenciárias, ou seja, em celas localizadas numa parte dos mosteiros onde
eram obrigados a meditarem sobre a falta cometida, arrependerem-se e buscar a
reconciliação com Deus (NUCCI, 2005, p. 90).
Essa prática que a priori parecia funcionar, vai ser externada aos
muros dos mosteiros com a presença do Santo Ofício, o qual por meio de
medidas unilaterais vai apossar-se da prisão como forma de expurgar demônios
de incrédulos, servindo-se dos mais cruéis meios de torturas na busca de efetivar
uma espécie de limpeza na alma daquele que aos olhos da igreja era considerado
como infrator de alguma norma.
Essa modalidade de prisão ganha acentuação a partir do século XV,
posto ser naquele século que foram construídas as primeiras prisões com a
intenção de lá serem recolhidos mendigos, prostitutas e delinqüentes, dando-se
início a um grande movimento desumano no desenvolvimento de penas privativas
de liberdade, criando-se prisões para a correção de apenados, o que despertaria
mais tarde, como ideia a vontade de fomentar a reforma do delinqüente.
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Segundo a leitura de Nucci (2005, p. 39), a prisão como ente


institucionalizado, tem sua mais antiga representação na “House of Correction”, a
qual fora construída na segunda metade do séc. XVI, na cidade de Londres,
servindo como modelo para construção de outras prisões. Todavia, foi no século
XVIII que se deu alguma atenção à problemática e forma dispensadas no
tratamento dos delinqüentes, de onde se pode defluir a evolução do direito penal,
deixando este de utilizar em grande escala as penas capitais (BECCARIA, 1999,
p. 31).
De tal modo, com o aparecimento das prisões, ocorre o
enfraquecimento da pena de morte, tendo-se deste modo, o início de uma espécie
de humanização da justiça penal, mesmo que sabendo-se que os modus
punitivos, naquele momento, eram ainda mais cruéis que os atuais, ainda assim
dize-se que fora um avanço na práxis da reprimenda.
Pelo narrado, outra não poderia ser a perspectiva da prisão se não
aquele instituto do direito penitenciário desprovido de acompanhamento e rigor
em mínimas garantias, daí o seu surgir ser marcado pela falta de normas de
higiene, pedagogia e moral, ou seja, o cárcere se traduzia em locais sem as
menores condições de abrigar as pessoas que ali eram literalmente jogadas, de
forma que de logo se tinha uma plena visão de que a prisão não possuía este
cabedal de efetivar a recuperação do criminoso, pois mesmo que os discursos
sejam ideológico-falaciosos, ainda assim, não há como se deixar de dizer que a
prisão não tinha, e por muito ainda não tem, essência da ressocialização.
As prisões eram lotadas de homens que estavam subordinados aos
castigos corporais e obrigados a trabalhos forçados, ficando em completo
abandono e desespero estatal, o Estado retirava-lhe (na prática) a segurança que
o próprio direito havia eleito para o ser humano, tornando-se, assim, o preso, uma
espécie de animal dotado de irracionalidade.
Vale dizer que ainda hoje, muitos anos passados, os reclusos
permanecem em locais insalubres e vivendo sob posturas que terminam por
afastá-los da realidade que encontrarão ao saírem da prisão. Situação esta que
permeará inúmeras dificuldades para o seu retorno social em menor grau de
traumatismo.
Pior do que fora dito, é se afirmar pela leitura da realidade
apresentada, que o clima de punibilidade exacerbada e imediatista apregoado por
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uma mídia sedenta de audiência, faz com que os legisladores e executores da


pena percam a observância que a reprimenda não se encerra com o
aprisionamento do infrator, sendo sim, a primeira fase da punição estabelecida
pelo Estado.
Nesse sentido a leitura de Zaffaroni (2005, p. 40) afirmando que:
O empenho do Estado em lutar contra os fenômenos que violentam os
bens jurídicos classificados como protegidos não deve se à utilização de
sanções penais.
A distância que há muito se manifesta entre o ser humano preso, os
órgãos de execução penal e a própria sociedade civil evidenciam a
inadequação de posturas que estão sendo adotadas e a inexata
percepção da nossa realidade.

Como lido, a inadequada forma de aplicação da pena de prisão tende a


facilitar o aumento circunstancial do crime e o facilita, na medida em que deixa o
recluso praticamente em total separação com o mundo livre, dando a impressão
que existem dois mundos separados e que de forma alguma se entrelaçam, e
essa perspectiva proporciona, por certo, com que o interno não se reconheça
mais como elemento inserido naquele mundo pós-muro prisional, levando uma
vida tolhida de sociabilidade.
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3 SISTEMA PENITENCIÁRIO

O surgimento do Sistema Penitenciário é fruto da voz de muitos


defensores da punição sem tortura (pelo menos explícita), fora esta temática que
proporcionou a tentativa de abolição das penas cruéis e o surgimento de um
sistema capaz de congregar os praticantes de ilícitos, como forma de garantir ao
recluso a correta aplicação da pena e à sociedade a certeza da presença do
Estado na aplicação da reprimenda.
Anteriormente ao surgimento do Sistema Penitenciário, os presos eram
tratados de forma totalmente desumana. O condenado era afastado totalmente da
convivência social e para não ter contato com outros seres humanos, levavam-no
para ilhas desertas ou era obrigado a trabalhos forçados com bolas de ferro
acorrentadas nos pés, para não fugir.
Ainda hoje figura a questão do isolamento do acriminado, todavia, não
se pode mais conviver com um modelo de prisão que se configure como um
rompimento total do recluso com a sociedade livre, pois basta se dizer que o
homem é um elemento social e por isso, a vivência extirpada da sociedade é o
mesmo que transformar esse homem em uma espécie de animal semi-racional.
Naquele momento, o Sistema Penitenciário, pela situação prisional, servia como
simples meio de punição e castigo, refletindo um local de suplício e terror.
Os moldes de Sistema Penitenciário só começam a surgir por volta do
século XVIII, a partir de um grupo de pensadores tendo como fundamento a razão
e a humanidade. E assim, na segunda metade desse século ocorre um
movimento encabeçado por filósofos, moralistas e juristas, que indignados com a
legislação penal vigente dedicam-se a defender abertamente as liberdades dos
indivíduos e os princípios da dignidade do homem aprisionado, atingindo o seu
ápice na Revolução Francesa. “Sendo esses pensadores e suas ideias a fonte da
reforma do sistema punitivo e de inspiração dos primeiros ensaios que se pode
chamar de “sistemas penitenciários modernos” (NUCCI, 2005, p. 89).
Ao se analisar a história, são observadas situações semelhantes, de
abandono e perseguição, pelas quais os reclusos passaram, e ainda passam.
No Brasil, de acordo com a legislação, existem diversas formas de
prisão, as quais devem atender conforme as características do crime, do
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criminoso, dentre outras questões pertinentes a cada situação, entretanto seja


qual for o crime cometido, seja qual for o criminoso, o preso deverá ser tratado
respeitando-se as exigências da dignidade humana em conformidade com o
estatuído na Carta Política de 1988 (art. 1º, inciso III), sob pena de total ruptura
com o princípio de estado democrático de direito, onde todos estão sob as
normas estatuídas na Carta Magna.
A Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 5º, XLVI admite,
somente, as seguintes penas: privação ou restrição da liberdade; perda de bens;
multa; prestação social alternativa; suspensão ou interdição de direitos. Já no
inciso XLVII do artigo 5º, do mesmo Diploma, são citados os tipos de penas que
não são abrigadas neste ordenamento que são: de morte, salvo em caso de
guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX; de caráter perpétuo; de trabalhos
forçados; de banimento e penas cruéis.
De forma que qualquer tipo de prisão/punição que fuja aos moldes de
humanidade deverá ser combatida posto que se apresenta como uma lesão
gravíssima aos direitos humanos conquistados ao longo da história da
humanidade.
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu
artigo 5º “Ninguém será submetido à tortura, nem penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou aviltantes”.
A atual prisão e todas as suas conseqüências não poderiam deixar de
ser o produto final de todo esse processo de tormento físico e moral aplicado ao
homem, de forma a poder-se dizer que esta instituição está longe de poder
reintegrar os condenados à sociedade.

3.1 Introdução dos primeiros Sistemas Penitenciários

A prisão nos moldes de entes penitenciários é uma invenção criada


pelos norte-americanos. Sabe-se que os primeiros sistemas penitenciários
surgiram nos Estados Unidos, tendo sido inspirados em conceitos religiosos, de
certo que, a nomenclatura sistema dá, a princípio, a ideia de um conjunto
preparado e delineado para o enfrentamento da questão da execução da pena em
ambiente do mais controlável funcionar, destarte que as observações da prática,
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ao menos a nível de Maranhão, demonstram ações descoordenadas e carentes


de objetivos específicos.
Segundo Fontes (apud OLIVEIRA, 2008, p. 71):
A igreja instaura com a prisão canônica o sistema da solidão e do
silêncio. A sua reforma tem profundas raízes espirituais. A prisão
eclesiástica é para os clérigos e se inspira nos princípios da moral
católica: o resgate do pecado pela dor, o remorso pela má ação, o
arrependimento da alma manchada pela culpa. Todos esses fins de
reintegração moral se alcançam com a solidão, meditação e prece.

Na história registra-se que o homem punia seu semelhante sem a


preocupação de avaliar conceitos para essa punição. A falta de coerência no
tratamento do elemento segregado conduziu ao pensamento da criação de um
sistema penitenciário.

3.1.1 Sistema de Pensilvânico

O início do Sistema Pensilvânico deteve em sua essência o objetivo de


reformar as prisões, para configura-se em um sistema muito mais bem definido
para o exercício da punição, posto que estava sob a influência das sociedades
integradas pelos cidadãos mais respeitáveis da Filadélfia. Tendo, entre eles,
Benjamin Franklin difundindo a ideia do isolamento do preso, que é uma das
características do sistema celular pensilvânico (BITENCOURT, 1993, p. 74).
A Philadélphia Society for the Alleviating the Miseries of Public Prision,
fundada em 1787, fez com que autoridades organizassem uma instituição na qual,
o “isolamento em uma cela, a oração e a abstinência total de bebidas alcoólicas
deveriam criar os meios para salvar tantas criaturas infelizes” (BITENCOURT,
1993, p. 32). Neste sistema não era aplicado o sistema celular por completo, visto
que, fora imposto o isolamento em celas individuais somente para os presos mais
perigosos. Todavia, aqueles poderiam trabalhar conjuntamente com os outros
durante o dia. Aplicando rigorosamente a lei do silêncio.
Essencialmente, o isolamento celular dos intervalos, a obrigação do
silêncio, a meditação e a oração, nessa forma de pagar a pena, reduzia os gastos
com vigilância. Mesmo tendo causado graves efeitos, o isolamento de presos
ainda é uma forma de aplicabilidade de punição e controle penitenciário (NUCCI,
2005, p. 41).
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Essa modalidade de punibilidade, longe de ser um método de


recondução social do preso à sociedade, se faz um modelo de prisão capaz de
trazer uma espécie de revolta do recluso contra tudo que significa o Estado e a
própria sociedade, por isso, os crimes tendem a ser cada vez mais graves e mais
requintados de violência.
Nesse sentir, ressaltou Foucault (1993, p. 213):
Sozinho em sua cela, o detento esta entregue a si mesmo; do silêncio de
suas paixões e do mundo que o cerca, ele desce à sua consciência,
interroga-a e sente despertar em si o sentimento moral que nunca
aparece inteiramente no coração do homem. [...] A revolta está presente
[...].

O Sistema Pensilvânico propagou-se para outras prisões, porém


recebendo inúmeras críticas por ocasião do Congresso Penal e Penitenciário de
Praga em 1830, dizendo seus críticos que a sua extrema severidade e solidão,
impedia a readaptação social do apenado (GUIMARÃES, 2000, p. 57).

3.1.2 Sistema Alburniano

O sistema penitenciário denominado de Alburniano, surge em Nova


Yorque, no ano de 1821, da necessidade e do desejo de superação dos defeitos e
limitações do sistema celular, sendo as razões básicas do seu surgimento.
No Sistema de Alburn eram adotados o trabalho em comum e a regra
do silêncio absoluto. Os apenados eram proibidos de falar entre si, podendo falar
com os guardas, somente após licença prévia e em voz baixa. Este sistema é
baseado principalmente no trabalho forçado do apenado.
O Sistema Alburniano considera o trabalho como agente
transformador, de um ponto de vista idealista de reforma, encontrando muitos
defensores, pois esse sistema vincula à atividade de labor, o ensino de ofício,
com a reabilitação do apenado, considerando o trabalho como instrumento de
tratamento do delinqüente (NUCCI, 2005, p. 74).
Para aquele modelo alburniano, se um preso desenvolvesse um
trabalho com disciplina dentro da prisão, podia se considerar que o recluso se
encontrava no caminho da ressocialização, o que por certo não pode ser dito
como uma verdade absoluta, pois uma coisa é aptidão para o trabalho e outra é a
reinserção social daquele que estava segregado, posto saber-se que somente a
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ação do labor, executada de forma isolada, será incipiente para a plena


reinserção social do acriminado.
Sobre este assunto Gomes Neto (1996, p. 44) diz que:
[...] o trabalho constitui, nos reclusos e nas prisões, juntamente com
Educação e a instrução, o eixo sobre o qual deve girar todo tratamento
penitenciário, condição essencial e base eficaz de disciplina; elemento
moralizador mais apropriado para tornar complacente a ordem e a
economia; forma útil da distração do espírito e do emprego da força; [...]
impeditivo da reincidência [...].

Em contraposição a ideia citada, alguns autores afirmam que a


imposição do trabalho como atividade de labor na prisão incumbe a função de
formar operário disciplinado e subordinado, não sendo o trabalho um instrumento
de tratamento, mas sim uma forma de transformar o preso em um elemento útil ao
sistema capitalista (OLIVEIRA, 2008, p. 41).
Vale ainda dizer, sobre a questão laboral-prisional, que o trabalho do
preso deve ser um trabalho propulsor de mudanças na vida econômica do
recluso, uma atividade laboral que venha a render condições de sustento honesto.
De pouca valia é aquela atividade laboral-penitenciária que se restringe aos
muros da prisão, podendo-se dizer que na melhor perspectiva servirá apenas
como meio terapêutico para o preso enquanto estiver sob o domínio penitenciário.
O Sistema Pensilvânico e o Sistema Alburniano não apresentam
grandiosas diferenças. Todavia, pode-se dizer que o ponto de maior convergência
entre os citados, é o fato de que no sistema celular a separação dos apenados
ocorria durante o dia, enquanto que no Alburniano, os apenados eram reunidos
algumas horas para que pudessem realizar um trabalho proveitoso.
A questão fora analisada por Oliveira (2008, p. 42), manifestando-se da
seguinte forma:
Enquanto que o sistema filadélfico objetivava a transformação do homem
criminoso em bom e de alma pura através do arrependimento levado
pela reflexão, o sistema alburniano pretendia condicionar o apenado pelo
trabalho, disciplina e mutismo.

O certo é que os dois sistemas tinham como finalidade a


ressocialização do apenado, mesmo que fosse através do isolamento, do ensino
dos princípios religiosos, do ensino de um ofício, na dedicação exacerbada do
trabalho etc.
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O Sistema Alburniano serviu como base para a formação do Sistema


Progressivo, claro que foram afastadas a sua estrita regra do silêncio e a rigorosa
disciplina.
Percebe-se que com o abandono dos Sistemas Alburniano e Celular
coincide com o auge da pena privativa de liberdade e da adoção do regime
progressivo.
Aos poucos a terminologia “sistema” vai cedendo lugar para a
nomenclatura “regime”, a qual pretende se apresentar como de melhor eficácia e
eficiência no aspecto curativo da pena.
O regime progressivo fundamenta-se na distribuição dos privilégios que
o apenado pode desfrutar, de acordo com o seu comportamento, ou seja, com a
sua boa conduta e a demonstração do tratamento reformador, possibilitando
também a reintegração à sociedade antes de findar a sua condenação.
Bitencourt (1993, p. 81) ao manifestar-se sobre o regime progressivo
disse que:
a essência deste regime consiste em distribuir o tempo de duração da
condenação em períodos, ampliando-se em cada um dos privilégios
que o recluso pode desfrutar de acordo com a sua boa conduta e o
aproveitamento demonstrado do tratamento reformador. Outro aspecto
importante é o fato de possibilitar ao recluso reincorporar-se à
sociedade antes do término da condenação.

Com essa ideia se crer que esse sistema pretende estimular a boa
conduta e assim reformar e preparar o condenado para sua reinserção à
sociedade (BITENCOURT, 1993, p. 82).
Bitencourt (1993, p. 90) ainda ressalta que o regime progressivo
significou, inquestionavelmente, um avanço favorável no cumprimento das penas.
Ao contrário dos regimes Alburniano e Filadélfico, deu importância à própria
vontade do recluso, além de diminuir consideravelmente o rigorismo na aplicação
da pena privativa de liberdade.
Já está plenamente comprovado que na aplicação da pena, o ambiente
tem fundamental importância no que se refere à custódia e a manutenção da
ordem social dos internos. Quando se tem uma visão de prisionização que leva à
desorganização da personalidade, à deformação do caráter, à degradação do
comportamento e do abandono dos padrões de conduta da vida da pessoa que é
submetida à prisão, então se tem um modelo de prisão que deixa de se configurar
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como uma ferramenta de punição-ressocializadora, caracterizando-se apenas


como uma forma de punição torturante.
Com efeito, tal aplicabilidade da pena é fruto de inúmeras
convergências. Dentre elas têm-se aspectos primários como: o corpo da
administração, os agentes penitenciários, os psicólogos, diretores e demais
servidores do corpo funcional de uma unidade prisional, os quais, também, sofrem
o mesmo processo de assimilação e prisionização, ou seja, “os processos e
efeitos da prisionização atuam sobre os partícipes da relação penitenciária”.
(THOMPSON, 1991, p. 26), e por isso dizer-se que a prisão reflete seu corpo
administrativo-executivo e que os mesmos que prendem, também estão de
alguma forma, aprisionados.

3.1.3 Das políticas públicas penais no cumprimento da pena.

Visando promover a reparação do bem atingido pela ofensa criminal,


realizar a segurança da população, a prevenção da criminalidade e delinqüência,
o Estado utiliza-se das políticas públicas penais, as quais se revestem como um
conjunto de normas e meios orientados na legislação penal e ainda em
documentos oficiais ou em planos de ação que elaborados no íntimo dos
gabinetes executivos onde nem sempre há o debate público ou até mesmo o
debate parlamentar para que seja discutido seu potencial ou eficiência.
A análise formal diz respeito ao objetivo do poder público de legislar
sobre o crime, expedir relatórios oficiais, definir prioridades e metas, formular
regulamentos e normas, planejar atividades e impor regras de funcionamento às
agências de contenção da criminalidade.
De outra sorte, a análise informal refere-se ao modo como atividades
programadas são colocadas em prática no cotidiano das instituições. Essas
atividades tornam-se viáveis pelo intercâmbio entre os diferentes agentes de
controle. Supõe-se que o funcionamento da agência de repressão e controle do
crime pode intensificar o agravamento do quadro do medo e insegurança
vivenciado diariamente pela população. Se os princípios legais não são
observados pelos agentes mantenedores da ordem pública, freqüentemente as
organizações de defesa dos direitos humanos encarregam-se de fazê-lo.
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Quanto ao sistema judiciário, as censuras são tênues e na maioria das


vezes movidas contra a lentidão de seu funcionamento ou ainda contra os
obstáculos impostos ao seu acesso pelas classes com menor poder aquisitivo,
críticas que nem mesmo os próprios agentes judiciários discordam de sua
autenticidade.
Se no dia-a-dia das instituições prisionais aplicam-se espancamentos,
maus tratos e humilhações aos seus tutelados, pode-se dizer que é um sinal do
longo tempo que essas práticas estiveram amparadas na investigação pública.
Dessa forma, numa sucessão de rebeliões, que parecem sem fim, tais
práticas chegam ao conhecimento da sociedade, impulsionando a formulação de
uma coletânea de propostas que denominada de “direitos humanos dos presos”
(RELATÓRIO DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERÍTO CARCERÁRIA,
2008). Com efeito, a nomenclatura “direitos humanos dos presos” se faz
merecedora de observações peculiares, pois o preso não perde o caráter de ser
humano, protegido por inúmeras legislações (constitucional, infraconstitucional e
alienígena).
Os Deputados daquela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
concluíram que o tratamento dispensado atualmente aos condenados à pena
privativa de liberdade no Brasil, não difere em nada daquele dispensado aos
presos comuns e políticos da época ditatorial e de repressão, ocorrida no país
durante o período dos governos militares nas décadas de 60/80. Em decorrência
disso, aumenta a cada dia o índice de insatisfação dos presidiários, estimulando
fugas, motins e rebeliões que se sucedem com espantosa freqüência, resultando
sempre em tragédias com perdas irreparáveis, como a que ocorreu no Complexo
Penitenciário de Pedrinhas no final de 2010 e no início de 2011 na cidade de
Pinheiro-MA, ocasiões em que mais de 20 (vinte) presidiários foram brutalmente
assassinados por seus pares.
Na verdade, as citadas tragédias de muito anunciadas, basta
observar-se que as rebeliões ocorridas no interior dos presídios maranhenses,
sempre terminam em termos de ajustamento que, via de regra, não são
cumpridos, caindo no esquecimento e somente com uma nova rebelião serão
lembrados.
Inspetores e agentes penitenciários de muito denunciam a situação de
caos que passa o Sistema Penitenciário Maranhense, todavia as resoluções
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nunca são observadas, medidas paliativas são retardadas e por isso deixam de
surtir os efeitos necessários para o correto desenrolar da questão.

3.2 Sistema Penitenciário no Maranhão

Quando inaugurado em 1965, o Complexo Penitenciário de Pedrinhas


se fazia possuidor de capacidade total em abrigar 241 presos. Com o passar dos
anos e pela falta de investimentos nesta área, o que se viu foi aquela penitenciária
ir inchando e se transformando em verdadeiro depósito humano, a criação de
anexos1 não só agravou o problema como de mesma forma trouxe a todos os
envolvidos no sistema penitenciário maranhense a certeza de que aquele sistema
iria sobreviver por meio de arranjos.
Assim, nesta temática, com o passar do tempo, em virtude do aumento
de números de crime e aprisionados houve a necessidade de reforma e
ampliação da Penitenciária de Pedrinhas, surgindo o cognominado de Anexo,
atual Casa de Detenção (CADET) e a mais outro anexo, a Central de Custódia de
Presos de Justiça de Pedrinhas (C.C.P.J.), de forma que fora aumentada a
capacidade aprisionamento, totalizando um quantum de mais de 1000 (mil
presos) internos, dando assim origem ao denominado de Complexo Penitenciário
de Pedrinhas.
Embora a CADET encontre-se com suas estruturas comprometidas, é
essa casa de detenção que muitas vezes é utilizada como local de cumprimento
de punições disciplinares. Tal fato, como já dito, se dá em razão daquela unidade
penal ser construída às pressas e toda a sua estrutura convergir para um local de
maior dificuldade em cumprimento de pena, chegando-se ao cúmulo de ter-se
uma cela de punição estilo cisterna, onde o castigado é submetido à prisão no
subsolo. Com certeza, tais práticas burlam a legislação constitucional e
infraconstitucional, posto que recusam o contraditório da ampla defesa, posição
caracterizada como “um primitivo conceito de pena embebido de repressão e
castigo se transfigurou, chegando a exercer hodiernamente função de reeducação
e socialização” (DANTAS, 2004, p. 69).
Com a reforma do Sistema Penitenciário através do Decreto nº. 19.429
de 24/02/03, o qual Instituiu a Gerência de Justiça e Cidadania (GEJUC), e
1
Pequenos pavilhões que vão se acoplando à Penitenciária de Pedrinhas
26

posteriormente a Secretaria de Justiça e Cidadania (SEJUC), o Sistema


Penitenciário passou a constituir-se da seguinte forma: Penitenciária de Pedrinhas
(Regime Semi-aberto); Penitenciária de São Luís (Segurança Média/Máxima);
Casa de Detenção (Regime Fechado); Casa de Assistência ao Albergado e
Egresso (Regime Aberto); Estabelecimento Regional Penal de Timon;
Estabelecimento Regional Penal de Pedreiras; Centro de Ressocialização e
Reintegração Social de Mulheres Apenadas (CRISMA); Centrais de Custódia de
Presos de Justiça (CCPJ - Anil, Pedrinhas, Caxias e Imperatriz); Centro de
Detenção Provisória de Pedrinhas (CDP), inaugurada em 2008; e, o Centro de
Detenção Provisória de Feminina (CDPF) no município de Paço do Lumiar-MA, na
grande São Luís.
Vale ressaltar que o Centro de Detenção Provisória (CDP), diante da
falta de compromisso do governo com a ressocialização dos presos, foi
inaugurado sem agentes capacitados para o exercício da função, sendo
contratados monitores de empresas de segurança particulares, muitos deles sem
o menor preparo psicológico e ou moral para desempenharem essa atividade que
é típica do Estado, e que requer capacitação e avaliação do pessoal designado
para desempenhar essa função. Ressalta-se ainda que tudo isso foi feito com a
conveniência da então Secretaria de Direitos Humanos e outras entidades sociais,
as quais tudo acompanharam sem nada contestar.
Essa iniciativa, do Executivo descompromissado com a própria
sociedade, causou e ainda causam inúmeras situações que demonstraram as
incongruências de tal atitude.
Para se ter uma visão mais contextual da atual situação do
cumprimento da pena, veja-se o quadro nº 1, o qual reflete a população carcerária
e suas condições de alojamento atuais no sistema penitenciário maranhense.

UNIDADE PRISIONAL CAPACIDADE EFETIVO DE %


INTERNOS EXCEDENTE
Penitenciária de Pedrinhas 312 870 180%
Penitenciária de São Luis 114 146 13%
Casa de Detenção 320 869 172%
Casa de Assistência ao 35 35
Albergado e Egresso
Estabelecimento Regional 165 143
Penal de Timon
27

Estabelecimento Regional 165 220 20%


Penal de Pedreiras
Centro de Ressocialização e 36 76
Reintegração Social de
Mulheres Apenadas
C.C.P.J./Anil 80 180 122%
C.C.P.J./Pedrinhas 160 285 80%
C.C.P.J./Caxias 80 90 8,25%
C.C.P.J./Imperatriz 90 205 130%
Centro de Detenção Provisória 402 402
de Pedrinhas
Total Geral: 1971 3526 80%
Quadro 1
Fonte: Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Estado do Maranhão – SINDSPEM.

Como é possível observar, a presença exacerbada de contingente é


fática nos presídios do Maranhão, isso sem deixar de mencionar as péssimas
condições que são as celas prisionais, as quais nem mesmo de longe podem ser
apresentadas como meio ressocializador, configurando-se na verdade em locais
que refletem total descompromisso com as políticas de reintegração social do
apenado.
28

4 A CRISE NO SISTEMA FECHADO

Atualmente, a prisão não tem cumprido com sua finalidade precípua,


que é a ressocialização do encarcerado, não servindo nem mesmo o discurso do
isolamento do indivíduo que cometeu um ato criminoso, visto que, com frequência
tem-se observado, através das ocorrências internas que relatam apreensão de
aparelhos de telefone celular, drogas etc.
Esses fatos são noticiados frequentemente através dos órgãos de
imprensa, os quais dão a entender para a sociedade que existe, em casos
específicos, uma cooperação do sistema para o ocorrido. A imprensa não informa,
porém, da falta de condições para a correta revista: são apenas 320 agentes
penitenciários para todo o estado do Maranhão, ou seja, quantidade insuficiente
para a demanda; há carência de materiais e equipamentos adequados e
necessários para evitar a entrada de drogas, celulares e outros, omitidos em
nome de uma auto-proteção do ente estatal. Tudo isto somado à questão da
improbidade administrativa ocorrida no interior do sistema penitenciário, convergi
para as mais problemáticas situações presentes na atualidade no Complexo
Penitenciário de Pedrinhas.
De outro ponto pode-se auferir sem prejuízos à necessidade da
reprimenda, que a pena privativa de liberdade é cumprida de forma desumana.
Fazendo com que não haja condições mínimas para ressocializar alguém, pelo
contrário, a sua aplicabilidade nos modus operandi atuais, tende a criar uma
verdadeira universidade do crime, destruindo a personalidade do indivíduo que foi
exposto àquela condição carcerária, sem a função de reinserção social.
Impossibilitando assim a implantação das condições favoráveis à integração
social do condenado.
Qual seria a visão intelectual da pessoa encarcerada, em meio a
pessoas totalmente diferentes, nos estreitos limites de uma cela, dependendo de
suas próprias iniciativas para manter a higiene mental e a ligação com o grupo?
Quando trancafiado, o aprisionado fica impedido de tomar decisões,
exercitar o seu direito de locomoção, político ou usufruir, plenamente da posse de
seus bens e coisas.
29

O medo de agressão faz com que todos procurem auto-proteção, a


qual pode ir do simples armar-se com chuço ao compor de facções, de forma que
tornem a suas defesas mais efetivas no interior do presídio.
O acolhimento do encarcerado vem carregado de hostilidade e com
essa agressão o grupo procura oprimir aquele que chega, fazendo com que
aquele mais novo indivíduo vincule-se ao sentimento contra a autoridade
controladora, sendo ameaçado e despido de sua individualidade. Então, essa
depredação é a primeira intimidação feita ao indivíduo recém-chegado. Se houver
resistência, por parte do recém-chegado, ele será subjugado e passará a sujeitar-
se a brutalização e ameaças físicas por parte daqueles internos que já se
encontravam atrás das grades; tornam-se empregados dos presos mais antigos.
A administração tem pleno conhecimento desses ocorridos, todavia o
império do silêncio, a falta de pessoal, a inércia do ente estatal a indiferença da
sociedade o distanciamento do Poder Judiciário e do Ministério Público, a
omissão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a má vontade de resolução
das problemáticas ocorridas naqueles locais fazem com que surja a figura do
denominado do “dono da cela” ou protetor, o qual irá ditar as normas de cada cela
e de cada unidade prisional, normas que nem de longe o ser humano que
desconhece essa realidade é capaz de compreender.
A violência é base para um código de regras que vigora dentro desse
contexto e na maioria das sociedades carcerárias. O grupo apóia-se nessas
regras como meio de defesa e pela unidade do grupo.
A população carcerária é composta de pessoas que cometeram crimes
de naturezas diversas, todavia a maioria são pessoas que cometeram crimes de
forma pontual ou por pura necessidade como forma de vida. Pessoas que foram
endurecidas pela marginalidade, descrente da vida, totalmente à margem da
sociedade, manifestando nesses indivíduos uma periculosidade de fundo social. A
eles não é oferecida segurança, só lhes restando a prática de novos delitos para
sobreviver, visto que essa é a única forma que dispõem no mundo conhecido por
eles, fechando o ciclo vicioso do crime e da delinqüência e a luta cotidiana pela
sobrevivência.
Com um número maior de encarcerados, faz com que surja a seguinte
pergunta: onde está a solução para esse problema? Certamente não está no
aprisionamento. Este é sim causados, quando mal utilizado, de uma espécie de
30

marginalidade ainda maior, pois ao sair da prisão o ex-recluso terá muito mais
condições de a ela retornar.
O índice de reincidência criminal é galopante, os números demonstram
a total falha do sistema, o qual em sua essência é consubstanciado para a
recondução do homem-infrator à sociedade e o que se pode comprovar é que
com o modelo de gestão atual do sistema penitenciário, em nada a sua
aplicabilidade tende ao exercício da reinserção do apenado.
31

5 A LEI Nº 7.210/ 84: LEI DE EXECUÇAO PENAL

A exposição de motivos nº 213/1983, a qual origina a Lei de Execução


Penal afirma com maestria a necessidade de ter-se um compromisso incontinente
com a mais correta aplicabilidade da execução da pena. Na citada exposição, em
seu item 11 diz que:
A Constituição consagra ainda regras características da execução ao
estabelecer a personalidade e a individualização da pena como garantias
do homem perante o Estado. Também no Código Penal existem regras
de execução, destacando-se, dentre elas, as pertinentes aos estágios de
cumprimento da pena e respectivos regimes prisionais.

Com efeito, tem-se que a execução penal se reveste em ponto de


tamanha relevância que o legislador infraconstitucional se obrigou a normalizar a
sua aplicabilidade, de forma que se tem norma específica da execução penal
denominada de Lei de Execução Penal. Nela tem-se a presença clara do sistema
progressivo de cumprimento da pena, consistindo assim na passagem por
regimes de cumprimentos. Com efeito, essa modalidade de sistema penitenciário
perfaz a possibilidade de preparação do condenado para o retorno à vida em
sociedade, nesse sentir deve-se entender de logo que a execução penal norteou
a sua essência na questão da punição/ressocialização.

5.1 Considerações Gerais

A figura do juiz da execução penal surgiu na Itália em 1930 e na França


após 1945 (NUCCI, 2005, p. 92), o qual passou a gerir diretamente as questões
referentes à questão da execução penal.
A execução penal brasileira objetiva a aplicação das disposições das
decisões criminais e de mesma forma a propiciar condições para reintegração
social do condenado, afirmação esta que se encontra preceituada em seu artigo
1º, normalizando que “a execução tem por objetivo efetivar as disposições das
sentenças ou decisão criminal e de proporcionar condições para harmônica
integração social do condenado e do internado”.
Ora, mais uma vez corroborando o que já fora dito, o Sistema
Penitenciário Brasileiro adere à teoria da recuperação do preso, de forma que tem
32

em sua essência o buscar do regenerar e reintegrar do homem-recluso à


sociedade.
A primeira parte da exposição de motivos da LEP diz que esta lei tem
duas ordens para a sua aplicabilidade: a correta efetivação dos mandamentos
existentes nas sentenças ou outras decisões, destinados a reprimir ou a prevenir
os delitos, e a oferta de meios pelos quais os submetidos à qualquer espécie de
reprimenda, incluindo-se a medida de segurança venham a ter participação
construtiva na comunhão social.
Estudando o capítulo II, da Lei de Execução Penal (LEP), tem-se que o
legislador execucional disse que o Estado deveria fornecer assistência necessária
para que o interno tivesse condições: material, de saúde, jurídica, educacional,
social e religiosa, para que ao deixar o encarceramento deveria ter capacidade de
reintegrar-se à sociedade.
A Lei de Execução Penal, por certo, pode ser dita como uma das mais
completas leis execucionais do mundo, todavia a sua aplicabilidade depende de
compromisso do Executivo e fiscalização do Judiciário, e sem esse binômio se faz
quase que impossível ter-se uma execução penal de qualidade, o que se faria
como uma imensa ferramenta no combate a denominada de reincidência criminal.
Com arrimo na leitura de Nogueira (2009, p. 48) pode-se dizer que:
A verdade é que a Lei de Execução Penal contém avanços e recuos no
tratamento dispensado aos condenados, e não tem encontrado apoio e
meios para colocar em prática as suas normas ou dispositivos de
progressão [para usar um termo da própria lei], o que tem levado o
regime punitivo a uma verdadeira regressão, com criminosos perigosos
sendo tratados com relativa benevolência, já que os pequenos
criminosos são excessivamente punidos, quando o ideal seria
justamente o inverso.

Pela leitura entende-se que o autor diz que a LEP ao dá tratamento


isonômico aos reclusos, deixou de levar em conta as diferenças entre as
personalidades, tratando igualmente os criminosos menos ofensivos e os mais
perigosos. Destarte, não ocorre, in casu, tal situação, pois a LEP apresenta-se
como uma lei que diferencia em vários momentos os reclusos, dizendo de logo da
necessidade de separação de presos, assim como, a proposição de efetivação de
trabalho aos reenducandos diferenciados e atendendo as suas atividades
anteriores.

5.2 Surgimento da Lei de Execução Penal no Brasil


33

A Lei de Execução Penal no Brasil teve como base as recomendações


feitas pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) durante o V Congresso
desta instituição, que tratou de implementações das regras mínimas na
administração de instituições penais e de correção que constitui a declaração de
valores universais tidos como imutáveis no patrimônio jurídico do homem e que
foram adotadas em diversos países (OLIVEIRA, 2008, p. 33). Foi observada a
realidade brasileira, bem como a existência de fatores da diversidade nacional
como a extensão territorial, a falta de presídios, das condições dos nossos
encarcerados (formado na sua maioria de pobres, negros e de semi-analfabetos),
e a dificuldade de recursos financeiros.
Não se pode conservar a declaração desses direitos como regra
meramente delineadora.
A questão não é de tudo simples, ela enfrenta a situação das
dificuldades inerentes à extensão territorial ocorrida no Brasil. Esta posição já fora
defendida por Oliveira (2008, p. 39):
Contudo, não se pode perder de vista a realidade brasileira. Com a
extensão territorial do país, com a falta de estabelecimentos
penitenciários, com a dificuldade de recursos com a própria condição da
clientela carcerária não pode de forma alguma ser comparada com as
dos demais países também destinatários dessas regras mínimas já que
possuem territórios muitas vezes menores que o os menores estados
brasileiros, dispõe de recursos substanciais, que emprestam a outros
mediantes juros escorchantes, dispõe de estabelecimentos penais com
acomodações necessárias e que são monitoradas por empresas
privadas.

A Lei de Execução Penal não encontra condições para que seja


aplicada em todo território nacional. A dificuldade em executá-la contribui para a
instituição da impunidade, servindo para incentivar ainda mais a criminalidade.
Deve-se ressaltar que o reconhecimento dos direitos das pessoas presas deve
configurar exigência fundamental para a aplicabilidade da reprimenda, posto que
ao deixar-se para um segundo plano a prevalência dos direitos do preso ou do
internado, então se estará dizendo ao praticante do ilícito, que o Estado tem o
poder de mesma forma daquele, de que cometer ilícitos.

5.3 Objeto da Lei de Execução Penal


34

No artigo 1º da Lei de Execução Penal, como firmado na exposição de


motivos da citada lei, é possível observar-se que seu foco está centrado na
efetuação da sentença criminal ou outras decisões, impondo ao condenado a
sanção pelo crime praticado a fim de conter e prevenir os delitos, e oferecer
formas pelas quais os condenados venham se reintegrar ao meio social, tendo
uma participação construtiva na comunidade. Ora, se a execução penal tem esse
tom, então se pode dizer que ao falar da reintegração, implicitamente, se está
dizendo que a punição ou reprimenda deverá ter como fim essencial a
reintegração do homem-preso, posto que ao ser verdadeiramente reintegrado ao
sistema social, poderá ser dito que aquele homem entendeu que a punição a ele
auferida revela-se em um modo de indicar-lhe os caminhos corretos da vida
social.
A respeito de reintegração do recluso, Mirabete (2005, p. 38) comenta
da seguinte forma:
O sentido imanente da reinserção social, conforme o estabelecido na lei
de execução compreende a assistência e ajuda na obtenção dos meios
capazes de permitir o retorno ao meio social em condições favoráveis a
sua reintegração [...].

Compete dizer que a Lei de Execução penal adota em seu principio


básico que as sentenças e medidas de segurança, as quais devem verificar a
proteção dos bens jurídicos e a ressocialização do apenado na sociedade.

5.4 Dos direitos dos condenados e internados

A LEP aufere que ao condenado e ao internado serão assegurados


todos os direitos não atingidos pela sentença (art. 3º da LEP), de forma que a
execução da pena deve atender aos ditames legais estipulados previamente pela
lei e designados na sentença condenatória. Portanto, o apenado só deverá estar
sujeito aos tolhimentos expressos em lei. E assim, são suspensos alguns direitos
e deveres dos apenados dentro do limite estabelecido pela sentença.
Por certo, ao dizer o legislador que o condenado ou aprisionado se faz
possuidor de direitos reconhecidos e assegurado (o direito a vida, o direito ao
trabalho remunerado, o direito a integridade física e moral, assistência
educacional, religiosa, jurídica, saúde, material etc.), disse que a mesma norma
35

que serve para ergastular o cometidor de ilícitos, também serve para proteger
seus direitos não sucumbidos pela sentença.
Um dos direitos que mais tem causado polêmica nos últimos dias é
aquele que diz da suspensão dos direitos políticos dos presos (art.15, III, CF),
dando margem para intenso debate sobre a questão. Parafraseando Oliveira
(2008, p. 91) diz-se que o preso, mesmo ergastulado, é parte integrante da
sociedade, e como tal deve manifestar-se por determinadas situações que irão
dar ou não novos rumos à própria sociedade, de forma que se entende que ao
recluso não deva ser tolhido estes direito, até mesmo como forma de mantença
da cidadania.
Para tanto, o Estado deve reconhecer o princípio da igualdade de todas
as pessoas, não havendo nenhuma discriminação de natureza racial, religiosa,
sexual, e política, proibindo qualquer descriminação durante a execução da pena,
contemplando também, o princípio da isonomia, preceituado na tradição jurídica.
Se antigamente pensava-se que com a condenação todos os direitos do
preso estariam revogados, o direito positivo atual disse que é dever do Estado a
garantia de respeito a esses direitos no âmbito da própria eficácia normativa,
respeito que se irradia, nas relações recíprocas dos integrantes da população do
Estado e nas relações deste com a aludida população. De forma que está
plenamente reconhecida a existência de direitos fundamentais do condenado.
36

6 A CLASSIFICAÇAO DO CONDENADO E DO INTERNADO

Os estabelecimentos penitenciários, por força da determinação da LEP,


deverão estar compostos por comissões técnicas de classificação, sendo
integradas pelo diretor do estabelecimento penal, que será o presidente da
comissão, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo, e um
assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade a
comissão deverá ser instalada junto ao juízo da execução.
De logo se observa que a comissão técnica é praticamente composta
por pessoas que estão no cotidiano da perspectiva execucional penal, porém a
falta de presença de representante da classe prisional perfaz com que se tenha
um déficit de interesse e isonomia dos reclusos, mesmo que a situação seja
aquela que diz da classificação do apenado, ainda assim, a presença de um
recluso ou ex-interno na citada comissão poderia evitar situações como de
confrontos internos, já que este poderia ter melhor conhecimento da situação de
cada interno, levando as diversas situações individuais e coletivas ao
conhecimento e apreciação da citada comissão.
A classificação do apenado é expressamente delineada na Exposição
de Motivos da Lei de Execução Penal (nº 26), quando diz que “a classificação dos
condenados é requisito fundamental para demarcar o início da execução científica
das penas privativas de liberdade e da medida de segurança”.
Com efeito, se essa fase da execução penal é burlada então a
execução da pena como um todo já se encontra distorcida dos fins primários,
posto que a classificação execucional do recluso se traduz em desdobramento
lógico do princípio da personalidade do apenado e da pena, já que a reprimenda
se traduz em postura individualista e por isso deve ser devidamente
fundamentada (inciso IX, do artigo 93 da Constituição Federal), então não há de
se falar em aplicabilidade genérica da pena.
A carência de presídios e o excesso de condenados que cumprem
pena em cadeias públicas, faz com que os juízes da execução formem comissões
técnicas de classificação em suas comarcas, compostas pelo diretor do ente
penitenciário local, um médico com curso de psiquiatria, psicólogo, assistente
37

social, o qual fornece parecer técnico de classificação. Tudo isto possui um fim
específico que é o de possibilitar ou não progressão de regime dos condenados.
Lê-se no item 26 da exposição de motivos da LEP que:
A classificação é o desdobramento lógico do princípio da personalidade
da pena, inserido entre os direitos e garantias constitucionais. A
exigência dogmática da proporcionalidade da pena está igualmente
atendida no processo de classificação, de modo que cada sentenciado,
conhecida a sua personalidade e analisado o fato cometido, corresponda
o tratamento penitenciário adequado.

Urge dizer que à comissão técnica de classificação incube a


elaboração de programa individualizado para o condenado, no início da aplicação
da pena, depois de receber o exame criminológico feito pelo centro de
observação criminológica, segundo a norma penal (art. 34, do Código Penal
Brasileiro).
Muitas das vezes as comissões técnicas estão a encontrar obstáculos
para sua formação, principalmente, pela falta de profissionais qualificados para
integrá-las, além da carência de matérias para que possam realizar esse exame
previsto em lei. Com efeito, esta deficiência ou mesmo ausência das citadas
comissões tende a causar danos irreparáveis à mais correta aplicabilidade da
reprimenda, de certo que tais danos terminam por refletirem na pessoa do
recluso. Neste sentido, vale trazer à baila o posicionamento de Albergaria (2008,
p. 46), ao dizer que “grande parte dos estabelecimentos prisionais não possuem
pessoal qualificado para elaboração do diagnóstico inicial, ainda que exista não
duram mais de 15 minutos cada observação”.
Em muitos estabelecimentos, devido à questão das dificuldades
expressadas alhures, a comissão se reúne apenas para decidir sobre o
tratamento, a segurança e a disciplina. É na terceira fase do tratamento que o
fracasso é mais frequente. E se faz mais constante em razão de inúmeras
situações peculiares a cada localidade.
Dentre as questões mais comuns tem-se a situação dos relatórios
apresentados, os quais corriqueiramente deixam de ser lidos, e quando são
expostos ao serviço de segurança dos entes penitenciários, em muitas vezes, são
tidos como contrários às ordens da segurança, e por isso tornados sem valor
perante a classe de funcionários do Sistema Penitenciário.

6.1 Realização do exame criminológico


38

Como é disposto no artigo 8º da Lei de Execução Penal:


o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade, em regime
fechado, será submetido a exame criminológico para obtenção dos
elementos necessários para uma adequação classificação e com vistas à
individualização da execução.

Observa-se, pela letra da lei, que o exame criminológico é obrigatório


para os condenados à pena privativa de liberdade em regime fechado, enquanto
que é posto de forma facultativa para os condenados à pena de liberdade em
regime semi-aberto.
A gravidade do fato delituoso ou as condições pessoais do agente,
determinantes da execução do regime fechado, aconselham o exame
criminológico, que se orientará no sentido de conhecer a inteligência, a vida
afetiva e os princípios morais do preso, para determinar a sua inserção no grupo
com o qual conviverá no curso da execução da pena, entretanto, outra não é a
situação conhecida se não aquela que diz da inaplicabilidade corriqueira do citado
exame, o que por certo e já devidamente comprovado, tende a causar inúmeras
situações constrangedoras e danosas ao preso e ao Sistema Penitenciário.
O exame criminológico é a análise da causa e efeito, ou seja, a relação
do delinqüente e o delito, fazendo-se a investigação médica, psicológica e social,
para que se possa conduzir o condenado a uma instituição adequada e fazer a
escolha de uma melhor metodologia de tratamento, tendo em vista a
ressocialização do apenado.
Nesse sentido correto dizer-se que tal exame tem por finalidade
efetivar um diagnóstico do condenado, no intuito de se conhecer a inteligência, a
vida afetiva e princípios morais. Por conseguinte, após o citado exame, a
comissão técnica deverá elaborar o programa de tratamento, visando a reinserção
social do preso.
Vale ressaltar que a realização do exame criminológico não é
obrigatória aos condenados à pena privativa de liberdade em regime aberto ou à
pena restritiva de direitos.
Os entes penitenciários, corriqueiramente, estão desprovidos de
pessoal e logística que tendem a possibilitar o correto delinear do citado exame,
por isso, a tendência é que o exame criminológico aplicado na porta de entrada
do preso no sistema, seja deixado para um outro momento, perfazendo com que
39

ocorra uma lesão extremamente grande em relação à aplicação correta da


reprimenda delimitada pelo Judiciário.
40

7 A CASA DE DETENÇÃO EM PEDRINHAS

O sistema penitenciário, tido como falido, requer mais cuidado não


somente parra o melhoramento do tratamento dispensado ao condenado, que
mesmo estando a sofrer aflição penal, deve ter respeitado os direitos humanos,
exigindo que haja também uma maior aplicação da pena e que não se busque
meios para que o condenado não ganhe a liberdade antes do tempo que é
devido, o que por certo não seria a correta aplicação da pena imposta.
Por muitas das vezes se ouve o jargão popular afirmando que os
criminosos de classes mais favorecidas, dificilmente estarão atrás das grades,
este pensamento é puro reflexo de inúmeras situações ocorridas no dia-a-dia da
sociedade brasileira, são atos de improbidade administrativa, mensalões,
operações da Polícia Federal, desvio de verbas, obras superfaturadas, eleições
tomadas por força do dinheiro, dentre outras situações que a cada dia se
apresentam como uma anormal. Acontece que, pessoas observam tais situações
e a falta de punição para tais crimes termina por refletir uma espécie de
impunidade para com todos, e mais ou menos como se alguém afirmasse que
aquilo que um pode fazer, a todos os demais se fará permitido.
Portanto, só se terá uma diminuição da criminalidade quando a justiça
deixar de se limitar a condenar os pequenos criminosos, que cometem crimes
contra o patrimônio particular, e punir recolhendo à prisão os conhecidos
poderosos, sobretudo os que estão na classe política, e desta forma se terá a
devida intimidação da criminalidade no país.
Não se pode ignorar que cabe também a justiça, observar a realidade e
a situação vivida pelos condenados, para que muitos deles não fiquem
esquecidos, fazendo com que esse sentimento de descaso se transforme em
rebeldia provocando assim rebeliões dentre outras situações ocorridas nos
sistemas penitenciários.
Daí que no Brasil, o sistema penitenciário se organiza em conjunto de
órgãos e estabelecimentos, que se aplicam ao condenado, para que cumpra com
o seu dever enquanto encarcerado.
A Casa de Detenção, como já citado pelo histórico do Sistema
Penitenciário do Estado do Maranhão, se deu inicialmente dentro do prédio da
41

Penitenciária de Pedrinhas, sendo que, havia a estrutura funcional: diretor geral,


de disciplina, de administração, cartório e identificação e outros, todavia, toda esta
estrutura estava diretamente subordinada à direção geral da Penitenciária de
Pedrinhas, inclusive os presos eram todos misturados sem distinção de regime.
Devido à superpopulação, surgiu a necessidade de se criar um “Anexo”
à penitenciária para que então começasse a se fazer uma determinada
separação.
Nesse sentir e com a perspectiva de dar uma melhorada naquela
situação, foi que se deu a criação da Casa de Detenção, passando a partir
daquele momento não ser mais considerada como um anexo da Penitenciária de
Pedrinhas.
A Casa de Detenção, a princípio foi criada para abrigar presos do
regime fechado, ou mais claramente dizendo, aqueles presos que estivessem
inseridos nos moldes estatuídos do artigo 33 e 34 do Código Penal.
Como todo o Sistema Penitenciário Maranhense, a Casa de Detenção
inicia sua vida administrativa sem as condições mínimas de funcionamento, e
essa falta de estrutura, sempre prometida de restauração, a cada dia vai se
deteriorando e vivendo uma espécie de conformismo por parte dos
administradores, do Estado e do Poder Judiciário, só quem reclama dessa inércia
é o próprio preso, que se vendo tolhido de imensa maioria dos seus direitos, não
encontra solução se não reclamar, chegando às famosas rebeliões.
Para se ter uma ideia da situação vivenciada pela denominada Casa de
Detenção, houve época em que um dos seus pavilhões teve que ser emprestado
para se tornar parte do Presídio Feminino que se encontrava dentro da
Penitenciária. Com essas informações, percebe-se que nunca houve uma
preocupação com a questão de separação homens/mulheres, regimes ou grau de
periculosidade entre os reclusos, mas sim um total despreparo do ente
penitenciário para assumir a função de punir/ressocializar.
Vale ressaltar, que a parte do prédio que compreende o setor da
administração da Casa de Detenção, faz parte do prédio de outro ente
penitenciário que é a Central de Custódia de Presos de Justiça de Pedrinhas
(C.C.P.J), da qual algumas salas foram cedidas e parte do prédio isolado por uma
escadaria lacrada com uma peça de metal.
42

A CADET é hoje formada pela área da frente, onde as pessoas são


recebidas e direcionadas aos setores competentes, o que antes era feito através
da Penitenciária de Pedrinhas, compreendendo assim, a sala de revistas
masculina e feminina, o alojamento da segurança e banheiros.
Na parte inferior do prédio principal, tem-se a seção psicossocial,
assessoria jurídica, cartório, recursos humanos, almoxarifado, enfermaria,
refeitório/cozinha, uma pequena escola e sala do encarregado de segurança. Já
na parte superior, tem-se a sala da secretária do diretor, diretoria, depósito de
apreendidos e banheiro.
Na área dos blocos, devido à super população, se tenta separar uma
parte dos presos através dos seguintes critérios:
- Existe pavilhão dos religiosos;
- Como medida preventiva, os enquadrados nos crimes contra os
costumes;
- Grupos rivais em blocos distantes, (caso do bairro da Liberdade em
São Luís e presos da cidade de Imperatriz);
- Idosos e doentes, também ficam separados os presos que prestam
serviços no prédio da administração, e contam para remissão de pena;
- Tem ainda uma quadra para banho de sol e um salão para eventos
religiosos, palestras;
- Encontro íntimo, improvisado no local onde funcionava a antiga
lanchonete;
- Cela de triagem para presos novatos e celas de isolamentos para
presos que cometem falta grave. Diariamente acontecem brigas entre presos com
tentativas de homicídios e às vezes até conseguem consumar o delito.
O perfil da população carcerária é baseado somente em observação
empírica, ficando extremamente prejudicada a questão científica.
Atualmente a CADET conta em média com 875 (oitocentos e setenta e
cinco) presos. Homens reclusos das justiças estadual e federal, sentenciados e
provisórios e nos regimes fechado e semi-aberto, o que de logo se apresenta
como uma situação controvertida, pois se a CADET é um ente que possui em sua
essência a aplicabilidade do regime fechado, então como se ter reclusos do
regime semi-aberto, e pior ainda, muitos que nem mesmo estão cumprindo penas,
sendo apenas presos provisórios.
43

Deve-se ressaltar que o número de internos na citada unidade


penitenciária já chegou a 1.030(um mil e trinta) encarcerados e para essa
população existem apenas 07(sete) agentes penitenciários por plantão, os quais
tentam de maneira desesperada e sem condições garantir a mínima segurança de
todos os encarcerados e pessoas que ali têm que exercer alguma atividade, tais
como: padres, pastores, advogados, juízes, promotores, parentes, visitas etc.
Os internos daquela unidade podem ser delineados como pessoas
provenientes dos segmentos excluídos da sociedade, em grande maioria não
alfabetizados, sem qualificação profissional, filhos de mães solteiras, sem religião
ou crença, de cor negra e parda, de vários gêneros sexuais, de vários estados da
Federação e até mesmo estrangeiros.
Segundo informações da direção da Unidade, os maiores desafios da
administração é conseguir manter a disciplina com tão poucos servidores na
segurança, o que, com efeito, se traduz em mais um problema não enfrentado
pelo Executivo que há muito deixou de promover concursos, limitando-se a
transferir servidores que não foram preparados para tal fim, de outras secretarias
para o exercício ilegal da atividade penitenciária.
A CADET apresenta um quadro desolador: faltam medicamentos;
materiais de primeiros socorros, ambulâncias e viaturas para atendimentos de
urgência/emergência; deficiência de luvas para revista, fator que gera conflito no
desempenho dos agentes no momento da revista nos dias de visita e nos
pavilhões; é presente a falta de materiais de limpeza, higiene e de expediente; é
parca a presença de computadores: no cartório tem apenas um computador sem
impressora; o material bélico é de péssima categoria e está obsoleto; faltam
lanternas de emergência, geradores de energia elétrica e abastecimento de água.
Esses dois últimos são os principais motivos de tentativa de fuga e rebelião,
devido ao calor excessivo nas celas quando falta energia elétrica e
automaticamente a falta de água; dentre outras faltas que fazem com que a
CADET funcione de forma imprópria, causando um clima de intensa possibilidade
grandes rebeliões.
O fornecimento de água da Casa de Detenção está diretamente
vinculado à C.C.P.J. de Pedrinhas, onde há um efetivo de aproximadamente 300
(trezentos) presos, enquanto a Casa de Detenção conta com um efetivo de 870
(oitocentos e setenta) presos em média, e não possui um poço artesiano próprio e
44

nem gerador de energia elétrica para distribuir água uniforme para todas as
dependências da Unidade. Analisa-se que a situação de vinte homens presos em
uma cela sem água para pôr no banheiro, quem tende a ser punido são esses
presos, os quais ficam proibidos, por seus pares, de usarem o sanitário quando
da falta de água, e essa falta de água é ocasionada pela falta de investimento e
falta sensibilidade da administração.
Como na maioria dos presídios do Maranhão, a CADET possui
reclusos que não podem - sob pena de serem mortos - estar juntos com os
demais detentos, por isso são aglutinados em locais denominados de celas de
segurança.
Na Casa de Detenção tem-se uma média de 60 (sessenta) pessoas
que estão separados dos demais reclusos, todavia, diante de uma rebelião estas
pessoas estarão em total falta de segurança, como já ocorrido quando mais de
três presos foram trucidados. Todavia, ainda se faz impraticável, nos atuais
moldes, a separação de presos.

7.1 Do trabalho penitenciário na CADET

Quando fala-se em trabalho no Sistema Penitenciário Maranhense,


tem-se que dizer de logo que a oferta é demasiadamente irrisória perante ao
número da comunidade encarcerada.
Segundo informações adquiridas junto ao Setor de Laborterapia da
CADET, apesar das constantes solicitações por parte da direção do
estabelecimento CADET, o que sempre se ouve dos gestores da SEJUC, é que
no momento não há verba destinada para tal direcionamento.
Como se pode defluir da simples leitura, os entes estatais que
deveriam ser os mais interessados no correto aplicar da pena e dos direitos
subjetivos dos aprisionados, são os primeiros a dificultarem a correta execução
penal, acresce a isso, o fato de que, alguns juízes executórios, assim como certos
diretores de presídio dificultam um dos direitos mais sagrados do condenado que
é o de trabalhar nas dependências internas ou externas do presídio para fins de
remição.
Em não ocorrendo a possibilidade do labor no ente penitenciário ou
fora dele, de início aparece a brutalização do reeducando, de forma a criar uma
45

situação que se associada à privação de relações heterossexuais para constituir o


germe de onde floresce a violência e a promiscuidade, e essa negação é uma
afronta à Lei de Execução Penal. Situação esta que há muito tem sido enfrentada
por inúmeros teóricos, dentre eles merece relevo o posicionar de Mirabete (2008,
p. 362), quando diz:
o Trabalho do preso, além de remunerado, serve à remição: o
condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto
pode remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena, à
razão de um dia de pena por três de trabalho (art. 126 da LEP). Assim,
se faz um direito do preso que o Estado deve necessariamente
cumprir, em nome da legalidade.

A jurisprudência quanto ao trabalho do apenado, ainda que em crime


considerado hediondo, se manifesta na seguinte senda:
Trabalho externo para autor de crime hediondo – TJMG: Embora a
imputação de crime hediondo conduza, a princípio, a presunção de
incompatibilidade com a permissão de trabalho externo para o réu,
inexiste norma expressa que impeça a concessão de tal benefício, pois
apesar da Lei 8.072/90 ser de caráter severo, não significa que o
condenado tenha sido despojado de todo e qualquer benefício prisional
(RT 746/649).

E comum, em casas penais, que presos estejam trabalhando em várias


funções sem nenhum tipo de remuneração, apenas objetivando a remição da
pena (manutenção: limpeza, faxina, capina, elétrico e hidráulico; artesanais:
palhinha e vime, cerâmica, talha e carpintaria; administrativo: serviços gerais;
como serventes em obras públicas de construção civil etc.), diferente não se faz
quando se trata da CADET, onde vários internos laboram apenas na iminência da
remição penal, de certo que tal situação, a qual a apriori, poderia demonstrar uma
espécie de benesse ao preso, ao final se traduz em déficit para o aprisionado já
que ao final da pena sairá sem qualificação necessária para o trabalho externo e
de mesma forma sem condições financeiras.
Muitos internos, objetivando algum tipo de renda e na busca da
remição pelo trabalho, diante da falta de disponibilidade de trabalho no ente
penitenciário, terminam laborando em atividades artesanais, as quais são
realizadas tanto pelas mulheres, quanto pelos homens.
Na Casa de Detenção tem-se trabalhando apenas 141 (cento e
quarenta e um) presos para efeito de remissão de pena; 21 (vinte e um)
trabalham e são remunerados pelo exercício do seu labor.
46

Em governos pretéritos, a Secretaria de Justiça e Cidadania


desenvolveu alguns projetos de trabalho remunerado onde muitas vagas foram
criadas, sendo que na atualidade, pelo descaso do Executivo, apenas um projeto
denominado de “Liberdade pelo Trabalho”, permanece atuando no âmbito de
trabalho externo vigiado, todavia, não se tem registros de presos da Casa de
Detenção atuando no referido projeto, o que por certo diz da defasagem ocorrida
no Sistema Penitenciário quando o assunto é o ressocializar pelo exercício do
trabalho.
Uma população carcerária tão elevada como a da Casa de Detenção
com o baixo índice de presos que trabalham é consequência do descaso do poder
público em não desenvolver ações que criem frentes de trabalho dentro e fora das
Unidades Prisionais com objetivo de profissionalizar esses cidadãos para
retornarem à sociedade em condições de trabalhar para melhorar sua auto-estima
e assim não reincidirem no mundo do crime.

7.1.1 O trabalho externo

A Lei de Execução Penal limita o trabalho externo ao preso do regime


fechado, que de acordo com o art. 36 da citada lei, o qual só poderá trabalhar
externamente em obras públicas realizadas por órgãos da administração direta ou
indireta, ou em entidades privadas desde que tomadas cautelas contra fuga, ou
seja, com vigilância direta, o que inviabiliza o labor externo já que não existe
pessoal suficiente para vigilância exigida pela LEP.
A limitação do número de presos ao serviço externo é no quantum de
10% (dez por cento) do total de empregados da obra.
Está normalizado no artigo 37 da LEP, caput, que a prestação de
trabalho externo deverá ser autorizada, pela direção do estabelecimento
observando a aptidão, disciplina, responsabilidade e o cumprimento de um sexto
da pena. Na atualidade, segundo a direção da Casa de Detenção, não se tem
registro de algum preso do regime fechado trabalhando externamente, o que
perfaz inúmeras situações, como por exemplo, a aglutinação de maior contingente
de presos o dia todo no Sistema Penitenciário.
47

O trabalho prisional é a medida mais eficaz na luta pela diminuição dos


efeitos negativos da prisão. Além de ser um fator de redução da pena pelo
beneficio.

7.2 Da assistência

O preso não só deve receber um tratamento adequado, como também


deve ter uma assistência efetiva, pois se assim não for não terá condições de
readaptar-se socialmente.
Dispondo o artigo 10 da Lei de Execução Penal que diz da
necessidade de assistência ao preso e ao internado em vários âmbitos, como
material, saúde, jurídico, educacional, social, religioso (art. 11 da LEP), de forma
que o ente estatal não pode deixar o ergastulado desprovido de assistência que
se faça capaz de facilitar o seu retorno social.
Com efeito, além da LEP, a qual preceitua as questões alhures, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, já de muito preconizou a necessária
assistência ao homem recluso, não só impossibilitando as práticas de torturas
como de igual forma, dizendo aos Estados da necessidade de criar mecanismos
capazes de viabilizarem a reinserção social do apenado.
No que se refere à CADET, a assistência aos internos,
verdadeiramente, não se apresenta como apresentável, posto que ela não é
fornecida na sua inteira como estipulada pela Lei de Execução Penal.

7.2.1 Da assistência material ocorrida na CADET

Preceitua o Art. 12 da Lei de Execução Penal, que a assistência ao


preso e ao internado, consiste no fornecimento de alimentação, vestuário e
instalações higiênicas.
O Art. 13 da referida Lei, prevê que o estabelecimento penal disporá de
instalações e serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais,
além de locais destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não
fornecidos pela administração dos estabelecimentos penais.
Na Casa de Detenção os presos recebem três refeições diárias: o café
da manhã, composto de um pão com manteiga e café sem leite, porém os presos
48

em dieta médica, recebem com leite; o almoço é servido por volta das 11:30 horas
e o jantar por volta das 17:00 horas. A refeição é acondicionada em marmitas de
alumínio, produzidas no restaurante que fica na entrada do Presídio São Luis em
Pedrinhas, o cardápio é variado.
Embora haja uma verba específica destinada para a alimentação dos
presos, há um grande descontentamento deles quanto à qualidade dessa
alimentação, pois são inúmeras as reclamações de que a refeição servida é de
péssima qualidade.
Quanto à distribuição de creme dental, papel higiênico, escova de
dente e sabão em barra, que deveria ser feita dentro da rotina normal, dificilmente
acontece. Geralmente são os familiares ou religiosos que levam, compadecidos
pelos seus e por aqueles que não possuem famílias ou que estão distantes delas,
uma vez que o Estado não tem compromisso com este direito do preso. Até
mesmo o material de limpeza das unidades penais falta com freqüência,
causando mais uma vez situações de instabilidades dentro dos presídios.

7.2.2 Da assistência à saúde na CADET

Segundo o Art. 14. da Lei de Execução Penal que preconiza que a


assistência de preso e do internado é de caráter preventivo e curativo,
compreendendo atendimento médico, farmacêutico e odontológico. Esse mesmo
artigo em seu § 2º, diz que quando o estabelecimento penal não estiver
aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em
outro local, mediante a autorização da direção do estabelecimento.
Na questão de saúde do preso, um dos fatores mais causadores de
conflito dentro das unidades penais e visto com muita freqüência, é a falta de
medicamentos, acrescente-se a esta situação a falta de luvas para procedimentos
ambulâncias ou viatura para atendimento de urgência e/ou emergência, por fim, o
que se observa é um profundo caos assistencial reinante no sistema penitenciário
maranhense.
Uma das situações mais complexas é aquela que diz que o preso
deveria ser observado, primeiramente, na sua chegada no ambiente penitenciário,
todavia, o que se vê é o descaso total com esse aspecto, e mais, a questão da
49

porta de entrada no concerne ao detectar de doenças primárias e transmissíveis,


como a tuberculose e HIV.
Na CADET, como nas demais unidades penais maranhenses, não há
nenhum tipo de trabalho nesse sentido, o que por certo tende a possibilitar o
disseminar de doenças infecto-transmissíveis no interior das casas penais.
Na Casa de Detenção, devido a sua população carcerária se encontrar
acima dos limites do suportável, diariamente tem-se presos feridos em conflitos
no banho de sol, nas celas e até mesmo nos corredores, devido às facções rivais,
ainda assim, a questão médica se apresenta com intensa deficiência, por vezes
sendo necessário o socorro de agentes e inspetores, pessoas não qualificadas
para tais procedimentos.
Diante dessa situação a remessa de medicamentos feita pela
Secretaria de Segurança Pública, e ínfima, dura apenas alguns dias, a conjuntura
muitas vezes é contornada por servidores que tem amigos, parentes ou que
trabalham em hospitais e que conseguem doação de medicamentos para ajudar
na medicação, atenuando assim a insatisfação do preso acometido por alguma
enfermidade.

7.2.3 Da assistência jurídica exercida na Casa de Detenção

Art. 15 da Lei de Execução Penal dispõe sobre a assistência Jurídica


aos presos e aos internados, sem recursos financeiros para constituírem
advogados.
Art. 16 da referida Lei, diz que as unidades da Federação deverão ter
serviços de assistência jurídica nos Estabelecimentos Penais exercidos pela
Defensoria Pública. A Assistência Jurídica não deve ser prestada não só aos
presos e internados, mas principalmente aos acusados, na fase probatória ou
instrutória de processos – crimes, quando, talvez, mais necessitem de defesa.
Pois, se o réu não tiver uma defesa criminal bem feita estará fadado a ser
condenado, o que acarretará em mais um, nesse universo superlotado.
Na Casa de Detenção, conta-se com dois (02) agentes penitenciários
que são bacharéis em direito, os quais vêm realizando assistência jurídica aos
internos e que muito tem ajudado na problemática da falta de Defensores
Públicos para realizarem esse trabalho.
50

Ocorre que se trata de norma protetiva estatuída no artigo 16 (Lei


12.313/2010) que diz da necessária presença de defensores públicos com fim de
fornecerem o acompanhamento técnico aos processos daqueles que estão
ergastulados, sendo esta assistência jurídica, integral e gratuita.
Diante desse fato a Secretaria de Justiça e Cidadania no governo
passado, criou o Plano de Atendimento Jurídico do Sistema Prisional (PLAJUSP),
utilizando mão de obra gratuita de universitários do curso de direito, para dentro
das unidades prisionais realizarem os denominados mutirões. Foi criado também
um escritório de advocacia voluntária mantido pelo Poder Judiciário o qual
funciona dentro do complexo de pedrinhas com vários estagiários e profissionais
da área, tudo mantido pelo Poder Judiciário.

7.2.4 Da assistência educacional na CADET

A assistência educacional está contida nos arts. 17, 18, 19, 20, 21 da
Lei de Execução Penal que compreende a instrução escolar e a formação
profissional do preso e do internado, o ensino fundamental será obrigatório
integrando-se no Sistema Escolar da Unidade Federativa, enquanto que o ensino
profissional será ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.
As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com
entidades públicas ou particulares, que instalem em escolas ou ofereçam cursos
especializados. Em atendimento as condições locais, dotar-se-á cada
estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos,
provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos.
No que concerne à Casa de Detenção, existe uma escola mantida
através de convênio com a Prefeitura Municipal de São Luís, valendo dizer que o
funcionar é de forma improvisada num espaço que deveria funcionar o refeitório
dos presos. Atualmente apenas a alfabetização vem sendo ministrada naquela
entidade prisional.
O artigo 83, § 4º, da Lei de Execução Penal (redação dada pela Lei
12.245/2010) determina que em todas as unidades penais “serão instaladas salas
de aulas destinadas a cursos do ensino básico e profissionalizante”. Ocorre, como
já firmado, que na Casa de Detenção não há local, preparado, para qualquer tipo
de sala de aula, ocorrendo, mais uma vez, uma violação da LEP.
51

Por isso, diz-se que a educação franqueada aos reclusos naquela


unidade penal é de péssima qualidade; não possui objetivo definido; e tende a ser
mais uma forma de passar o tempo do que realmente levar a uma reflexão sócio-
educacional possibilitadora de outras atitudes por parte daqueles que já militam
no mundo do crime.
Não se faz necessário um prolixo debelar para entender que sem uma
estrutura, realmente formado para o devido binômio, ensino-aprendizagem, não
haverá condições de nenhum tipo de educação ter o cunho de ser vista como
ferramenta facilitadora da reinserção social do apenado.

7.2.5 Da assistência social na CADET

De acordo com o Art. 22 da Lei de Execução Penal, a assistência


social tem por finalidade amparar o preso e o internado para o retorno a liberdade.
Diante da atual nomenclatura funcional da Casa de Detenção, não
existem funções/gratificações para o corpo técnico que ali deveria existir,
dificultando as ações de assistência social.
Dessa forma, coube à direção da unidade conseguir, a título de
colaboração, duas assistentes sociais para ajudarem nas atividades de cunho
social a que tem direito todo preso.
As mais freqüentes atividades exercidas na Unidade são: o
acompanhamento de ações laborais; cálculos de remissões de pena para
encaminhar a justiça; buscar e acompanhar trabalho externo para presos que
adquirem progressão de regime; promover a denominada Semana do
Encarcerado, a qual se reveste em um momento dedicado aos presos, familiares,
sociedade civil e órgãos públicos que ali vão para desenvolver ações sociais e
discutir problemas de grande relevância para os presos.
Como se observa, a assistência social fornecida na CADET em nada
se assemelha ao estatuído na Lei de Execução Penal, a citada assistência
resume-se a organizações de pequenos eventos que objetivam a interação de
presos e familiares, quando na leitura da lei está assistência deve servir como
meio de falicitação da reinserção social do apenado, posto que para tanto e por
isso, correto exercício da função, o assistente social deve conhecer resultados e
diagnósticos dos reclusos, efetivar relatórios sobre os assistidos, acompanhar o
52

resultado das saídas temporárias ou progressão de regime do assistido, promover


a orientação do apenado quando da proximidade de sua soltura, além do que
estender tais assistências à família do recluso.

7.2.6 Da assistência religiosa na CADET

A assistência Religiosa está contida no Art. 24 da Lei de Execução


Penal, que trata da liberdade de culto devendo ser prestada aos presos e
internados, permitindo-lhes a participação nos serviços organizados no
estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.
O § 1º. do referido artigo diz que deverá haver local para os cultos
religiosos nos estabelecimentos penais, já o § 2º. normaliza que nenhum preso ou
internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa. Vale ressaltar
que na Casa de Detenção foi construída uma igreja, em um local que seria o
refeitório dos agentes penitenciários, e que lá são realizados os eventos
religiosos.
53

8 CONCLUSÃO

Como é possível constatar pela pesquisa apresentado, a questão da


prisão não se resume naquilo denominado de cadeia, pois vai muito além do que
a priori, se pode observar.
Sabe-se que a criminalidade é um mal que hoje assola toda
humanidade, destrói lares, joga no lixo conceitos de moralidade, paz, amor,
fraternidade, humildade, enfim é o mal do século, é pior que determinadas
doenças que matam lentamente.
A mesma sociedade que pune o criminoso é aquela que deixa de
buscar atitudes políticas para viabilizar um retorno saudável do apenado. O
delinqüente atribui a essa sociedade a culpa de ser desprovido de boas atitudes,
mas, indicar um foco único da problemática seria no mínimo apontar uma causa
perigosa sobre a questão.
Mesmo que se saiba que o Estado não é o único e irrestrito culpado
pela situação da criminalidade, ainda assim, tem-se a plenitude de certeza de que
ao ente estatal fora atribuído a função precípua de gerenciar as questões que
demandam equilíbrio social, e neste sentir aduze-se que o Estado de muito
deixou para um segundo plano a questão referenciada com a ressocialização e
recondução do apenado à sociedade.
Se o Estado cumprisse o seu papel diante da Lei de Execução Penal,
seria suportável e ao mesmo tempo inibiria a ação de novos crimes dentro dos
estabelecimentos penais, o que acarretaria menos tempo de prisão e
consequentemente a população carcerária seria muito menor, porém observa-se
que com clareza
Diante da problemática da super-população carcerária que se encontra
a Casa de Detenção (CADET), percebe-se que, dentre outras hipóteses, a falta
de uma melhor assistência do Estado tende a tornar praticamente inviável a
aplicação da Lei de Execução Penal na recuperação do criminoso, e por isso,
estimulando a reincidência que a cada dia, fator que onera os cofres públicos,
tornando-se numa faca de dois gumes, posto que ao se economizar na
ressocialização, o preso volta cada vez mais periculoso e mais penas se somam.
54

Trabalhar numa unidade penal como na CADET se apresenta cada vez


mais complicado. A falta de estrutura em todos os aspectos faz do ambiente um
local de intenso perigo, onde os danos serão irreversíveis a todos. Necessário se
faz que o Estado e órgãos representantes da sociedade civil organizada se
manifestem de forma clara quanto à questão sob pensa de vê-se todos os dias
verdadeiras sessões fúnebres como as ocorridas no Presídio de São Luís e na
Delegacia de Pinheiro, os quais totalizaram danos irreversíveis a todos.
Sugere-se que mais organismos, conheçam a realidade da Casa de
Detenção, busquem parcerias, cobrem ações mais eficazes do poder público e
ainda uma reforma in totum na CADET ou de preferência que ela seja demolida e
construída no novo modelo de Ente Penitenciário-Ressocializador. Junto a esta
proposta, urge dizer da necessidade de concursos público específico para o
atendimento penitenciário, melhor condições e planejamento dos serviços, dentre
outras medidas possibilitadoras da cadeia não se transformar a cada dia em uma
espécie de fábrica de horrores.
Ressalta-se que de longe se teve a intenção de exaurir um tema de
tamanha complexidade, mas sim, espera-se que com o trabalho monográfico
apresentado, outros entendimentos sobre a questão possam ser postulados e
apresentados na busca da resolução da problemática de cadeias que só
prendem, mas não reintegram.
55

REFERÊNCIAS

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56

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de legitimidade do sistema penal. Rio de Janeiro: Revan, 2005.

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