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Diz-
Diz-me como produzes os teus
alimentos, dir-
dir-te-
te-ei quem és…
No dia 20 de Março celebra-se o dia mundial da Agricultura. A forma como produzimos os nossos
alimentos é, e será sempre, um reflexo da saúde da nossa sociedade.
O ano de 2011 tem demonstrado, claramente, a vulnerabilidade do sistema que criámos, com um
aumento preocupante dos preços dos bens alimentares, provocados por vários motivos, entre os
quais a escalada de preços de combustíveis, o aumento da procura de cereais para
biocombustíveis, a crise financeira mundial e o próprio sistema produtivo e de distribuição de
produtos alimentares de longa distância.
As alterações climáticas, que se traduzem num aumento da frequência de eventos climáticos
extremos (seca, pluviosidade excessiva, tempestades, inundações, alterações nas áreas geladas,
sobre-elevação barométrica do nível do mar), bem como outros fenómenos naturais recentes e de
grande magnitude, já estão hoje a ter impactes severos sobre a capacidade produtiva do planeta
e a destabilizar os mercados.
O sector agrícola em Portugal corresponde a 10% das emissões de Gases de Efeito de Estufa,
segundo dados de 2007 da Agência Europeia do Ambiente, no seu relatório publicado em Outubro
de 2010, a produção de alimentos corresponde a 20 a 25% das emissões de GEE (considerado
todo o ciclo produtivo, industrial e de distribuição – do prado ao prato).
O défice agro-alimentar nacional em 2010 foi de 3,2 Mil Milhões de Euros, representando a 15%
da balança comercial nacional. Este sector é responsável por 11% do total das importações
nacionais, onde nos tipos de produtos que mais contribuem para esse défice aparecem as
Oleaginosas, os Cereais, a Carne e seus preparados, Frutos e preparados destes e o Leite e
lacticínios, por ordem decrescente de importância, que, no seu conjunto, representam 70% do
deficit alimentar português.
O nosso sistema alimentar enfrenta desafios importantes num futuro próximo que mostram os
problemas inerentes a um sistema totalmente internacionalizado, que está rapidamente a
alcançar os seus limites naturais. A alteração dos padrões alimentares em países em vias de
desenvolvimento, com um aumento do consumo de proteína animal, o aumento do preço dos
combustíveis fósseis, dos quais a agricultura convencional é extremamente dependente, e as
mudanças ambientais globais, vão provocar alterações significativas no mapa da produtividade
mundial.
O aumento da produção para satisfazer as necessidades futuras não é suficiente para combater a
fome e a subnutrição e não vai permitir um progresso significativo, se não for combinado com
uma mudança estrutural na melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais e dos
agricultores bem como das práticas agrícolas. Os ganhos de um aumento da produção no sistema
actual serão perdidos, se as práticas usadas continuarem a contribuir para a degradação dos
ecossistemas, ameaçando a capacidade futura de manter os níveis de produção.
É essencial implementar políticas efectivas que aliviem os pontos de pressão deste sistema em
ebulição. Que olhem para a agricultura e para o sistema alimentar como um todo e que
promovam a saúde de todos nós e dos ecossistemas. Políticas que dêem um lugar de destaque à
agricultura e ao agricultor no sistema económico e social. Que realmente apoiem o agricultor que
trabalha a terra e não a subsidio-dependência. Que eliminem os subsídios adversos ao sector, pela
distorção que provocam no mercado e os seus efeitos nefastos no ambiente.
A título de exemplo, o modo de produção biológico não tem crescido pois os incentivos para a
produção em modo biológico são equivalentes aos da produção em modo integrado, apesar desta
utilizar produtos químicos de síntese como adubos e fitofármacos com consequências para o solo,
as águas e a atmosfera. Também o IVA sobre os produtos poluentes e energívoros utilizados na
agricultura industrial como os adubos azotados de síntese e os fitofármacos é reduzido, devendo
ser normalizados para o valor máximo.
O apoio ao modo biológico de produção deverá ser também reforçado pelas medidas agro-
ambientais, pelos benefícios e serviços ambientais associados, não sendo um subsídio mas uma
mera compensação pela promoção da biodiversidade e pela defesa do ambiente e pelas muito
menores emissões de gases de efeito de estufa.
É urgente revitalizar e remodelar o nosso sistema agrícola, incentivando a inovação e a melhoria
tecnológica, para um sistema de produção integrada e sustentável como a agricultura biológica e
para espécies resistentes e adaptadas às condições edafoclimáticas presentes e futuras. A
segurança alimentar não diz apenas respeito à quantidade de alimentos disponíveis, mas também
à sua acessibilidade e qualidade.
Na discussão do sistema alimentar actual as necessidades devem também ser postas nas
perspectivas apropriadas. A procura actual de alimentos mostra uma alocação de cerca de 50%
da produção global de cereais e oleoginosas para a produção de rações animais e estima-se que o
consumo de carne aumente de 37,4 kg/pessoa/ano no ano 2000 para 52 kg/pessoa/ano em 2050
(UN, 2010).
Só em Portugal, em 2008, segundo o INE, a população consumia cerca de 180g/dia de proteína
animal (peixe, ovos, carne e miudezas) valor este que é 3 vezes superior ao saudavelmente
recomendado.
O Programa Ambiental das Nações Unidas estima que a perda de calorias resultante da utilização
de cereais para a alimentação animal represente o equivalente às calorias anuais necessárias
para alimentar mais de 3,5 mil milhões de pessoas (UNEP,2009), ou seja, metade da actual
população humana.
É, assim, urgente realocar parte da produção vegetal utilizada para alimentação animal para o
consumo humano, principalmente em países onde o consumo de proteína animal se torna cada
vez mais um problema de saúde pública. Em 2007 produziram-se alimentos suficientes para
alimentar 11 mil milhões de pessoas, mais do que a população prevista para 2050.
Estes objectivos só serão alcançados através de uma população informada em relação aos seus
padrões de consumo.
Um sistema agrícola saudável não pode hipotecar a capacidade de produção e alimentação das
gerações futuras. A perda de biodiversidade, o uso insustentável de água e a poluição, a
betonização e impermeabilização dos melhores solos, a erosão e a salinização dos solos
Bibliografia:
United Nations Environment Programme (UNEP), The environmental food crisis – The environment’s
role in averting future food crises, 2009, p. 27.
United Nations (UN), Report submitted by the Special Rapporteur on the right to food, Olivier De
Schutter, 2010
Documentos e páginas de Internet que podem ser consultados com mais informação:
A PAC no horizonte 2020 - “Responder aos desafios do futuro em matéria de alimentação, recursos naturais e territoriais” ,
Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social e ao Comité das Regiões ,
COM(2010) 672 final de 18.11.2010 http://www.gpp.pt/pac2013/Docs/PAC%20Horizonte%202020%20Posicionamento%20PT%201.03.2011-
1.pdf
UN Human Rights Council, Sixteenth session, Report submitted by the Special Rapporteur on the right to food, Olivier De Schutter
http://www.srfood.org/images/stories/pdf/officialreports/20110308_a-hrc-16-49_agroecology_en.pdf
Para mais informação contactar Rita Margarido (geota@geota.pt) ou consultar a página do GEOTA
(www.geota.pt)