You are on page 1of 4

Nanotecnologia assemelha homens e máquinas

entrevista com Luiz Alberto Oliveira

Os grandes projetos científicos da atualidade, como o genoma e aquele que parece estar sendo gestado hoje
para a nanotecnologia, são típicos de um tempo em que as tecnologias e as aplicações da ciência ganharam
um destaque maior do que no passado. Alguns intelectuais vêm chamando essa união profunda entre ciência,
tecnologia e uma quantidade considerável de capital privado, que faz investimentos em busca de novos
produtos, de tecnociência. Este e outros assuntos, como a perspectiva que a tecnociência engedra de
hibridizaçào entre homens e máquinas são abordados por Luiz Alberto Oliveira. Ele é físico, doutor em
Cosmologia, pesquisador do Laboratório de Cosmologia e Física Experimental de Atlas Energias (Lafex) do
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MC, onde também atua como professor de História e Filosofia
da Ciência. Ele concedeu entrevista à ComCiência abordando algumas consequências da internalização das
novas tecnologias no cotidiano das pessoas.

ComCiência - Porque disciplinas como a física e a biologia têm tanto destaque hoje? O que isso significa na
história da ciência?
Luiz Alberto Oliveira - A ciência é uma forma de dialogar com a natureza. Desde sua implantação definitiva,
há pouco mais de três séculos, as ciências empíricas tiveram enorme sucesso em descrever e, por
conseguinte, em controlar e manipular, ao menos parcialmente, uma variedade de aspectos do mundo natural.
Assim, essas ciências passaram a suplementar as tradições étnicas e as grandes religiões na função
fundamental de elaborar "imagens de mundo", ou seja, constelações de idéias pelas quais as sociedades
humanas, desde sempre, deram sentido à experiência de existir. Contudo, como adverte Ernesto Sábato, os
enunciados científicos são sempre deslizantes, não podem aspirar à perenidade de dogmas ou verdades
últimas. Vivemos portanto, em nossa contemporaneidade profundamente marcada pelos avanços incessantes
das ciências e das técnicas, uma crise contínua, um espasmo interminável: somos constantemente obrigados
a rever as fundações de nosso entendimento sobre o mundo, sobre a coletividade e sobre nós mesmos. Este é
sem dúvida um momento singular na história do pensamento, uma vez que as descobertas da cosmologia, da
microfísica, da biologia molecular, da evolução darwiniana e de muitas outras disciplinas progressivamente,
e cada vez mais, diluem as fronteiras modernas entre natureza e cultura, ente e artefato, sujeito e objeto,
interioridade e exterioridade, pelas quais estávamos acostumados a definir nosso estar-no-mundo, e assim
resta posto em questão o próprio estatuto de nossa humanidade.

ComCiência - Quais as conseqüências desse destaque para debates como o determinismo biológico, as
diferenças de gênero ou a eugenia?
Oliveira - Do ponto de vista das práticas técnicas, o avanço decisivo que resultou da grande revolução
científica iniciada no começo do século XX foi a crescente capacidade de intervenção em escalas cada vez
mais diminutas, ou seja, micrométricas, moleculares e mesmo atômicas, abrindo caminho para as tecnologias
do bilionesimal que moldarão o futuro próximo - a nanotecnologia, as biotécnicas, a robótica. A potência sem
precedentes de atuar nos níveis básicos da constituição dos seres materiais poderá levar, com o uso do
mesmo instrumental, frisemos, quer à eliminação de doenças ou à gênese de novos modos de produção
econômica, quer à ressurreição do pesadelo nazista ou, no limite, à substituição da vida orgânica. Assim,
importantes questões éticas estão colocadas à nossa frente, hoje. Parece-me, contudo, que muitos aspectos do
debate atual sobre o suposto 'determinismo biológico' estão contaminados por um equívoco: acredita-se, de
modo geral, que o genoma de cada indivíduo determine suas características básicas, sendo as influências do
ambiente significativas somente para seu desenvolvimento. O ambiente é o acaso, o gene é a necessidade.
Ora, na própria transcrição dos genes em proteínas ocorre uma aleatoriedade inevitável, proveniente das
circunstâncias internas da célula, e essa indeterminação é co-responsável pela fixação dos caracteres
individuais; a complementaridade entre Acaso e Necessidade abrange os ambientes exógeno e endógeno dos
seres vivos. Trata-se, talvez, da persistência da índole reducionista típica da cosmovisão mecanicista em um
território - o dos sistemas complexos - em que sua aplicação imediata é bem pouco adequada.

ComCiência - Como dialogam as ciências humanas, a biologia e a física na atualidade?


Oliveira - Na maioria das vezes, como viajantes noturnos no deserto, que passam bem ao lado um do outro
sem se encontrar. Nas ciências naturais, duas tendências estão em confronto: o especialismo, segundo o qual
cada saber deve possuir limites bem demarcados para a atuação de seus praticantes, e a transdisciplinaridade,
fundada no reconhecimento de que objetos complexos como o clima requerem, para uma descrição eficaz, a
colaboração de idéias, instrumentos e procedimentos oriundos de diferentes áreas, da geologia à física do
Sol. Obviamente, ambas as posturas são indispensáveis, a verticalidade para o específico, a horizontalidade
para o integrado, mas na prática costuma-se decair para um fundamentalismo míope em favor de um dos
lados. Ainda mais agudo é o distanciamento entre os saberes naturais e os humanos, em vista da generalidade
e da singularidade de seus respectivos objetos de estudo. Veja-se por exemplo o conflito entre
neuropsiquiatras e psicanalistas: os primeiros proclamam que os neurofármacos decretaram o fim de uma
pseudociência, ignorando a observação de Lewis Thomas de que as palavras agem sobre vírus, penetram em
escalas subcelulares; os segundos denunciam a leviandade da remoção de sintomas sem que se intervenha
sobre as causas, esquecendo a antevisão de Freud acerca das promessas da bioquímica. Quem sabe um dia,
dada a função comum de serem meios para que o pensamento mergulhe no desconhecido, os saberes venham
a dialogar abertamente.

ComCiência - O senhor concorda com a afirmação do biólogo Jacques Testart, responsável pelo primeiro
bebê de proveta na França, de que não existe mais vontade gratuita de obter o conhecimento e toda pesquisa
tem como finalidade a busca de inovações direcionada para o progresso e pelo mercado. É possível fazer
ciência de forma independente? A tecnociência é uma ruptura no "fazer ciência"?
Oliveira - As ciências modernas sempre foram empreendimentos essencialmente coletivos, quer dizer,
envolvem cooperação e competição de seus praticantes, e assim necessariamente refletem o espírito da época
- bem como participam de sua elaboração. Em que pesem as exceções como o desenvolvimento imotivado da
Teoria Geral da Relatividade de Einstein, a figura do sábio encarcerado em sua torre de abstrações,
ponderando em olímpico distanciamento sobre os abissais mistérios do mundo, não é senão uma abstração
ela mesma, um ícone oco. Por outro lado, de forma marcante desde a Segunda Grande Guerra, inovações
técnicas dos mais variados tipos tornaram-se o eixo dos avanços econômicos, e naturalmente essa vinculação
rebate-se sobre os próprios afazeres tecnocientíficos. Mesmo a pesquisa fundamental em áreas como a
astrofísica ou a física de partículas elementares contribui para as expectativas de desenvolvimento de
aplicações lucrativas, e essas perspectivas de futuros benefícios passaram a também servir de justificativa
para os altos custos de sua realização. Agora, o que parece profundamente questionável é a tendência de
resultados ambicionados pelo 'mercado' tornarem-se o norte das atividades de investigação, pois isso aponta
para uma inversão perigosa: as aplicações serem privilegiadas em detrimento da pesquisa básica. Basta ver
os argumentos apressadinhos acerca da 'reinvenção da roda' que certos setores, aqui mesmo no Brasil,
costumam brandir para advogar o desmantelamento da estrutura de pesquisa fundamental penosamente
construída ao longo das últimas décadas - quando não há um único caso de instalação bem-sucedida de um
parque técnico amplo e eficiente sem a prévia, ou pelo menos concomitante, consolidação de um sistema de
investigação básica encarnado em universidades e centros de pesquisa. O fato mesmo da tecnociência estar
adquirindo preeminência extraordinária na determinação de nossos modos de produzir e de viver deveria ser
suficiente para demonstrar a insensatez dessa diretriz. Não, não creio que o fazer tecnociência possa
prescindir do fazer ciência.

ComCiência - Se é verdade que, na atualidade, a ciência está mais associada ao mercado, quais as
consequências disso para o saber científico e para os saberes que não podem produzir para o mercado, como
a filosofia?
Oliveira - Consideremos o mito moderno por excelência, o "Progresso": a humanidade, o grande universal
humanista parido pelo Iluminismo, teria como destinação o rumo a uma nova Canaã de abundância material.
Mas a sensação em nossa pós-modernidade, o gosto em nossa boca, é de mal-estar. Recordemos os
primórdios da Revolução Industrial: bens naturais fartos, bens artificiais raros. Hoje, vemos o inverso: bens
artificiais abundantes, bens naturais escasseando. Sem dúvida, todo ser vivo necessariamente desconstrói e
reconstrói seu habitat, mas o peso de nossa presença começa a se tornar excessivo; Edward Wilson nos
aponta um rosário de extinções em massa em ecossistemas e de ecossistemas decorrentes da crescente
ocupação devastadora humana. Os atuais seguidores do mercado o entronizaram como provedor de todos os
benefícios prometidos e adiados, e o mercado tornou-se diretor e causa final da atividade produtiva. Tudo
deve ser conversível em commodity, tudo deve ser o nodo de um fluxo de percentagens, tudo deve ser
apreçado: sentimentos íntimos, doutrinas religiosas, órgãos humanos. Para quê a filosofia? Que sejamos
todos unidimensionais, quer dizer, consumidores, quer dizer, consumíveis; caso contrário, estamos fora. Esta
destrutividade, essa exclusão exponencial, não são apenas um mal-estar, são um mal-ser. Ora, do ponto de
vista da teoria dos sistemas complexos, a vida é uma matéria organizada que, aprendendo a modificar sua
própria estrutura para responder a alterações do meio, passou a conectar os tempos bilionesimais das
moléculas ao tempo profundo das transformações ambientais, geológicas, e astrofísicas. A aceleração técnica
vigente na contemporaneidade superpôs um novo modo temporal a esta conexão entre os ritmos materiais e
biológicos: a rapidez das produções culturais. O físico Freeman Dyson compara os andamentos típicos da
natureza à marcha estugada da cultura: a África e a América do Sul levaram 150 milhões de anos para atingir
a separação atual; uma especiação requer em média um milhão de anos; o clima global varia ao longo de
centenas de milhares de anos; já o desenvolvimento de artefatos culturais como a metalurgia ou a cidade
precisou de dezenas de milhares de anos; entidades como as línguas e as religiões têm milhares de anos de
longevidade; instituições como as nações duram séculos; os indivíduos têm expectativa de vida da ordem de
várias décadas; mas no sistema acadêmico hiperacelerado de hoje as idéias surgem e fenecem em anos, e as
inovações técnicas são lançadas e obsoletam em meses. O aspecto crítico aqui é que a compactação dos
ritmos naturais pelos ritmos tecnológicos instaura uma imprevisibilidade radical: doravante o passado não
nos servirá como guia, pois a história - quer da natureza, quer da cultura - não pode mais ser rebatida sobre o
futuro. O futuro não será mais como antigamente. Transformações civilizacionais deste calibre não
costumam ser experiências pacíficas e serenas. Como reza a tradicional maldição chinesa, viveremos tempos
interessantes. Talvez como em nenhuma outra época, será necessário que invoquemos e exerçamos as
potências do pensamento - a arte, a filosofia, a ciência - para que possamos, como queria o filósofo Friedrich
Nietzsche, ser uma ponte entre o primata e o além-do-homem.

ComCiência - Em algumas palestras o senhor abordou os seres vivos como biontes, bióides e borgues. O que
são esses conceitos? Eles se relacionam com períodos, tecnologias e saberes específicos?
Oliveira - A observação decisiva é que progressivamente, e cada vez mais, diluem-se as distinções clássicas
entre matéria, vida e pensamento. Anteriormente se poderia dizer que a tecnologia era uma ferramenta para o
espírito, residente na dimensão interna da subjetividade, agir sobre a natureza que lhe é exterior. Hoje,
devido à capacidade recentemente adquirida de intervir nas escalas infinitesimais de comprimentos e
durações que são próprias ao domínio da microfísica, ocorre uma internalização da ação técnica, como se a
tecnologia se rebatesse sobre seu agente, como se o espírito se dobrasse sobre si mesmo e se auto-afetasse.
Considere-se o que o filósofo Daniel Dennett denominou 'a perigosa idéia de Darwin': em períodos de
duração suficientemente longa, minúsculas diferenças entre indivíduos de mesma espécie, selecionadas pelas
pressões aleatórias do meio, podem conduzir à especiação, a ramificação em novas espécies. Este lento
processo de acumulação foi o procedimento pelo qual a evolução escreveu e reescreveu, ao longo das eras, as
séries de instruções que presidem a constituição dos biontes, os seres vivos desenhados pela seleção natural.
Mas nos anos 50, o biofísico Francis Henry Crick e o bioquímico James Watson determinaram o suporte
bioquímico do "manual de operações" - o genoma - que todo ser vivo portaria no interior de suas células e
que contém os organogramas e fluxogramas que gerenciam o desenvolvimento dos organismos de cada
espécie. A biologia teria assim, como substrato, a ciência do material genético dos organismos ou genômica.
Entretanto, como é característico da tecnociência atual, esses avanços no conhecimento sobre as fundações
da genômica foram de imediato acompanhados pela geração de aplicações práticas - as biotécnicas. Assim,
rapidamente, a tessitura fundamental da própria vida tornou-se suscetível a intervenções técnicas: já nos anos
60, surgiram as primeiras associações entre genes particulares e características morfológicas (ou
comportamentais); nos 70, deu-se o começo da capacidade de intervenção programada em processos
genéticos; nos 80, tornaram-se corriqueiros a inclusão, exclusão e substituição de genes precisos, bem como
a mescla interespécies; nos 90, é produzido o primeiro bióide (ser vivo com desenho artificial) mamífero:
Dolly. A perspectiva que se abre é a da hibridação radical: em cinqüenta anos, estima Freeman Dyson,
teremos a plena fusão interespécies, ou a gênese de espécies inteiramente novas. Ora, de um ponto de vista
estritamente microfísico, não há diferença entre moléculas biológicas e inorgânicas, naturais ou artificiais. À
medida que aumenta o poder de manipular objetos em escala molecular, a tendência seria ocorrer uma
integração crescente entre componentes orgânicos, gerados biologicamente, e componentes eletrônicos,
fabricados artificialmente. Sínteses de carbono e de silício: essa fusão se daria por uma real mescla de
formas, pela interpenetração entre componentes orgânicos e semi-condutores; a perspectiva então é a de que
nosso devir seja nos tornarmos borgues, híbridos de células e chips. Recordemos um feito espantoso: o
cérebro do peixe lampreia foi conectado a sensores sensíveis à luz e também aos controles de movimento de
um pequeno robô. Com o cérebro da lampreia funcionando como central de processamento, o robô passou a
agir como a lampreia agiria, evitando as zonas iluminadas e buscando as escuras. Esta conexão é ainda muito
rudimentar, pois se trata de neurônios inteiros postos em contato com condutores metálicos, mas brevemente
será possível penetrar em um nível subneuronal, associando subestruturas dos neurônios a componentes
eletrônicos. Nesse momento, que não estaria longe, veremos o nascimento de autênticos híbridos biotrônicos,
veremos o nascimento de centauros cognitivos, e esses centauros seremos nós.
ComCiência - Quais as consequências para o ser humano da passagem de biontes para bióides e,
futuramente, para borgues? No panorama das atuais intervenções tecnológicas e biológicas possíveis no
corpo humano, o que significa ser humano?
Oliveira - A imensa abertura de mundo propiciada pela aceleração técnica aponta para uma variedade de
caminhos. Hoje, destruímos algumas centenas de espécies por dia, somos os realizadores de uma extinção
em massa; ao mesmo tempo, também nos tornamos capazes de fazer aparecer novos tipos de vida, novas
espécies. Esse poder de gerar formas artificiais é aplicável a toda matéria-prima biológica - inclusive a nós
mesmos. Tornamo-nos mármore bruto para nosso próprio engenho e arte, nossos corpos e espíritos são
doravante insumos que podem ser manipulados para o engendramento de novas corporalidades e novos
seres. Uma breve excursão especulativa será suficiente para ilustrar esse ponto. A biotecnologia já exibe uma
capacidade em rápida ampliação de intervenção nos dispositivos básicos de funcionamento dos biontes,
antecipando a possibilidade - simultaneamente fascinante e aterradora - de se viabilizar a produção antrópica,
administrada, de células, tecidos, órgãos e mesmo indivíduos vivos completos. O mapeamento do genoma,
por exemplo, poderá esclarecer os mecanismos de regulação dos relógios celulares, que regem o ritmo do
metabolismo - e a taxa de obsolescência - de nossas células. Com o controle, igualmente esperado, de
diversas moléstias de cunho genético, e também o concurso de outros avanços médicos, a longevidade de
(alguns) indivíduos poderá simplesmente desconhecer limites. Não a atual expectativa de vida (nos países
ditos desenvolvidos) de oitenta anos, nem mesmo a previsão de longevidades mais que centenárias para as
crianças nascidas (nestes mesmos países) na presente década, mas durações de vida de, quem sabe, mil
anos... Delineia-se um horizonte de valores fundado na longevidade tecnicamente prolongada e administrada,
calcada em estimativas de riscos genéticos e ambientais, voltada para um 'mercado' restrito de candidatos à
perenidade, e cuja medida será a mais preciosa das substâncias: o tempo. De acordo com o grau de acesso
aos recursos médicos (e à nutrição básica!), uma situação sem precedentes se apresentaria: as populações
seriam divididas numa legião de 'efêmeros', uma minoria de 'duráveis', e uma elite de 'perpétuos'. Jamais
qualquer sociedade humana experimentou uma tal separação em castas de durabilidade. Numa tal Era das
Mesclas, de hibridações de natureza e artifício, de carne e mente, de intimidade e globalidade, em que os
limites que definiam os indivíduos tornam-se cada vez mais ambíguos e imprecisos, mais estendidos em um
sentido, mais contraídos em outro, talvez a pergunta-chave seja: estaremos em vias de realizar a instalação de
um novo patamar de complexidade no sistema de sistemas que chamamos Terra? Estará em ação uma nova
síntese integradora da Vida, uma nova etapa de individuação do Homem? Se as tecnologias de movimento,
de percepção e de cognição que nos fizeram a espécie dominante do planeta migrarem para o interior dos
nossos corpos, se elas se fundirem com as nossas células, o significado de ser humano inexoravelmente
mudará. De animais técnicos que usam ferramentas, passamos para o operário mecanizado de Chaplin, para
o trabalhador automatizado de Metropolis, mas a perspectiva que se abre agora é de termos um homem
fundido às máquinas, um homem-máquina no sentido literal. Se, com Spinoza, entendemos por Ética a
determinação de estratégias de ação, nossa época de hipertecnificação defronta-se com dilemas éticos
ingentes. Selecionar valores que favoreçam a vida, redefinir o sentido do que é ser humano - eis o desafio
que nos cabe enfrentar.

Atualizado em 10/11/02

http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2002
SBPC/Labjor
Brasil

You might also like