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ISSN 1676-4579

Revista Spei

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

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Revista Spei
ISSN 1676–4579
V. 5 n. 1 2004

© Spei, 2004

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última folha deste fascículo. Sandro Aparecido Gonçalves

Coordenador Adjunto do Curso de Ciências Contábeis

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Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento
em Gestão
PEDE-SE PERMUTA.
Hamilton Edson Lopes de Souza
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v.1, n. 1, jul./dez. 2000 – Curitiba: Faculdades Spei, 2000.

Periodicidade Semestral
ISSN 1676 - 4579
1. Pesquisa científica - Periódicos
CDD 001.405

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

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Revista Spei

v. 5 n.1 janeiro/junho 2004

SUMÁRIO

ARTIGOS
Apresentação ............................................................................................................................................................................ 5

A Nova Lei do Direito à Informação Ambiental ............................................................................................................ 7

Lucivaldo Vasconcelos Barros

A Percepção da Corrupção: Implicações Econômicas ................................................................................................. 15

Thierry Molnar Prates

Um Sistema Computacional para Verificação do Nível de Compreensão de Textos em Linguagem Natural . 23

Jaime Wojciechowski

Trabalho Assalariado e Reestruturação Produtiva: a Construção do Trabalhador Flexível do Século XXI ........ 31
Christiane Faria Caiado

Assédio Moral nas Organizações ....................................................................................................................................... 35

Michely Juglair Saldanha

Mídia Exterior: Diferencial para Fixação de Marcas ...................................................................................................... 41

Deisi Laube e Elianay da Silveira

ENSAIO
A Base de Dados como objeto de proteção de Direito Autoral ................................................................................ 47
João Ademar de Andrade Lima

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

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APRESENTAÇÃO

Este fascículo abre o ano em que a Revista Spei completa seu primeiro lustro. A chegada a este quinto ano de circulação periódica e
ininterrupta é uma conseqüência do investimento e da crença da Sociedade Paranaense de Ensino e Informática na produção e na
divulgação da ciência, sobretudo nas áreas de gestão e informática.
Mais uma vez o artigo inaugural vem de fora do Estado; Em A Nova Lei do Direito à Informação Ambiental, Lucivaldo Vasconcelos
Barros, da Universidade Federal do Pará analisa o conteúdo e as conseqüências para a sociedade da vigência de um novo arcabouço legal
para o direito à informação ambiental, matéria, aliás, já tratada em edição anterior da revista.
Thierry Molnar Prates, professor da Spei, nos oferece A Percepção da Corrupção: Implicações Econômicas, em que relaciona indicadores de
percepção da corrupção com o desenvolvimento econômico das sociedades. Outro professor da casa, Jaime Wojciechowski, em Um
Sistema Computacional para Verificação do Nível de Compreensão de Textos em Linguagem Natural, apresenta os resultados da aplicação de uma
ferramenta de informática para avaliação do nível de compreensão de textos.
Christiane Faria Caiado, também professora da Spei, trata de assunto da maior atualidade para o desenvolvimento econômico
recente e as relações entre capital e trabalho no Brasil, em seu artigo Trabalho Assalariado e Reestruturação Produtiva: A Construção do
Trabalhador Flexível do Século XXI.
Na seqüência, encontram-se trabalhos resultantes da Política de Estágio das Faculdades Spei, por meio da publicação de artigos
produzidos por nossos estudantes: Assédio Moral nas Organizações, de Michely Juglair Saldanha; e Mídia Exterior: Diferencial para Fixação
de Marcas, de Deisi Laube e Elianay da Silveira.
Este número é concluído por um ensaio que transita nas áreas jurídica e de gestão da informação: A Base de Dados como objeto de
proteção de Direito Autoral, de João Ademar de Andrade Lima, mais um profissional de fora do Estado (Universidade Federal da Paraíba)
cuja contribuição muito honra esta publicação.
Boa leitura, e que a Revista Spei possa comemorar outros lustros, oferecendo sua contribuição para o progresso do conhecimento.

Os editores

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A NOVA LEI DO DIREITO À INFORMAÇÃO AMBIENTAL

Lucivaldo Vasconcelos Barros

Analista de Documentação da Procuradoria da República no Estado do Pará, Professor do Departamento de Biblioteconomia da UFPa, Mestrando
em Desenvolvimento Sustentável pela UnB e Advogado. E-mail: lucivaldobarros@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT

O artigo faz uma abordagem sobre a nova lei brasileira do Direito
à Informação Ambiental, demonstrando seus principais aspectos
e avanços. Enfatiza o acesso a informações ambientais pela sociedade
como condição indispensável para o fortalecimento da democracia
e proteção do meio ambiente, enumerando pontos críticos dos
problemas ambientais, bem como a necessidade de se disseminar
e divulgar informações sobre impactos causadores de degradação
ambiental. Faz um balanço das normas sobre o acesso à informação
ambiental, indicando sugestões para uma maior efetividade da
legislação vigente.
This paper considers the new brazilian law regarding Environmental
Information Rights, showing its main issues and advances. It
enfasizes society´s access to environmental information as an
indispensable condition for strengthening democracy and
protecting the environment, by enumerating critical points of the
environmental problems as well as the need to disseminate and
divulge information about impacts that cause environmental
degradation. An inventory of the norms of access to environmental
information is made with suggestions on how to broaden the
efectiveness of the current legislation.

Palavras-chave Key words

Direito à Informação, Direito à Informação Ambiental, Rigth to Information, Right to Environmental Information,
Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Environmental Education, Sustainable Development,
Informação Ambiental Environmental Information

R. Spei, Curitiba,
R. Spei, v. 5, v.n.5,1,n.p.1,7-13,
Curitiba, jan./jun.
jan./jun. 20042004
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1 APRESENTAÇÃO
O presente artigo tem duas pretensões básicas: a primeira
delas consiste em apresentar a nova lei brasileira do acesso à
informação ambiental e as respectivas normas de tutela desse direito.
A segunda, objetiva fazer uma reflexão sobre a importância do
Direito à Informação Ambiental como um mecanismo de
fortalecimento do processo participativo, bem como um
instrumento imprescindível à plena conscientização da sociedade
na defesa efetiva do patrimônio ambiental em consonância com os
princípios do Desenvolvimento Sustentável.
Dois aspectos serão tratados: o acesso à informação ambiental
enquanto um direito consagrado da pessoa humana e uma garantia
constitucional positivada, com sua respectiva legislação extravagante
sobre o tema e a importância dessa garantia para a democratização
no que diz respeito à proteção ambiental.
O tema é contemporâneo e instigante e diz respeito à
democratização da informação para a proteção do patrimônio natural
da humanidade, cujo estudo procurará demonstrar que a edição da
nova lei do Direito à Informação Ambiental pelo governo brasileiro
representa um grande passo nesse processo.
2 INTRODUÇÃO
Após ser aprovada pelo Congresso Nacional, o Presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou, em 16 de abril de
2003, juntamente com os Ministros Marina Silva, do Meio Ambiente
e Álvaro Augusto Ribeiro Costa, Advogado-Geral da União, a Lei no
10.650 – Lei do Direito à Informação Ambiental –, que dispõe
sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos
órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Informações
sobre o Meio Ambiente (SISNAMA).
A Convenção de Aarhus1, considerada na visão de Furriela
(2002, p. 38) “uma das normas mais completas e atuais sobre o
tema da participação pública na gestão do meio ambiente” e a
Agenda 212, emprestaram importantes princípios à nova Lei
Brasileira do Direito à Informação Ambiental.
Por força desta Lei os órgãos integrantes do SISNAMA
obrigam-se a permitir o acesso a documentos, expedientes e
processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a
fornecer todas as informações ambientais que estejam sob sua
guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico, especialmente
as relativas à qualidade do meio ambiente; políticas, planos e
programas potencialmente causadores de impacto ambiental;
resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle
de poluição e de atividades potencialmente poluidoras, bem como
de planos e ações de recuperação de áreas degradadas; acidentes,
1 A 4° Conferência Ministerial da série Meio Ambiente para a
Europa, conhecida como Convenção de Aarhus, foi realizada em 21 de
abril de 1998, na cidade de Aarhus, Dinamarca. Nesse evento, a Comissão
Econômica Européia das Nações Unidas, juntamente com Organizações
Não-Governamentais, elaboraram uma Convenção sobre Acesso à
Informação Ambiental e Participação Pública nas Decisões Ambientais.
2 A Agenda 21 é um programa de ação baseado num documento
de 40 capítulos que representa uma tentativa de promover, em escala
planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de
proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
situações de risco ou de emergência ambientais; emissões de
efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos;
substâncias tóxicas e perigosas; diversidade biológica e OGMs
(Organismos Geneticamente Modificados).
Qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de
interesse específico, terá acesso às informações ambientais3 mediante
requerimento escrito, no qual assumirá a obrigação de não utilizar
as informações colhidas para fins comerciais, sob as penas da lei
civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim
como de citar as fontes, caso, por qualquer meio, venha a divulgar
os aludidos dados, sendo assegurado o sigilo comercial, industrial,
financeiro ou qualquer outro sigilo protegido por lei, bem como o
relativo às comunicações internas dos órgãos e entidades
governamentais.
Convém ressaltar, que a noção de impacto ambiental trazida
pela Resolução CONAMA nº 001, de 23/01/1986, tal como
preleciona Mirra (2002, p. 27) “deve ser interpretada em consonância
com os novos contornos dados à matéria pela norma do art. 225,
§ 1º, IV, da Constituição Federal, que se refere ao impacto ambiental
como uma significativa degradação ambiental”.
Pela nova Lei, as autoridades públicas poderão exigir a
prestação periódica de qualquer tipo de informação por parte das
entidades privadas, mediante sistema específico a ser implementado
por todos os órgãos do SISNAMA, sobre os impactos ambientais
potenciais e efetivos de suas atividades, independentemente da
existência ou necessidade de instauração de qualquer processo
administrativo.
Deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar disponíveis,
no respectivo órgão, em local de fácil acesso ao público, listagens e
relações contendo os dados referentes aos seguintes assuntos: a)
pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão;
b) pedidos e licenças para supressão de vegetação; c) autos de
infrações e respectivas penalidades impostas pelos órgãos
ambientais; d) lavratura de termos de compromisso de ajustamento
de conduta; e) reincidências em infrações ambientais; f) recursos
interpostos em processo administrativo ambiental e respectivas
decisões; e g) registro de apresentação de estudos de impacto
ambiental e sua aprovação ou rejeição.
As relações contendo os dados deverão estar disponíveis para
3 A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) nº 01, de 23/01/1986, instituiu a Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA) como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente, regulamentando o licenciamento sobre atividades causadoras
de impactos ambientais. Esta norma disciplina o Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e estabelece que o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
seja apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão, devendo
as informações serem traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por
mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual,
de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto,
bem como todas as conseqüências ambientais decorrentes de sua
implementação. Respeitado o devido sigilo industrial, o público em geral
poderá acessar o RIMA, estando suas cópias disponíveis nos centros de
documentação ou bibliotecas da Secretaria de Meio Ambiente e do órgão
estadual de controle ambiental correspondente, inclusive no período de
análise técnica. A Resolução CONAMA nº 6, de 24/01/1986, dispõe sobre
a publicidade de informações ambientais sobre licenciamento em quaisquer
de suas modalidades. Já a de nº 09, de 03/12/1987 dispõe sobre a audiência
pública para melhor discussão do RIMA e a Resolução nº 279, de 27/06/
2001, refere-se à publicação e divulgação de Relatório Ambiental Simplificado
para as atividades que menciona.

o público trinta dias após a publicação dos atos a que se referem,
além do que, os órgãos competentes integrantes do SISNAMA
deverão elaborar e divulgar relatórios anuais relativos à qualidade
do ar e da água e, na forma da regulamentação, outros elementos
ambientais.
As informações serão prestadas mediante o recolhimento de
valor correspondente ao ressarcimento dos recursos despendidos
para o seu fornecimento, observadas as normas e tabelas específicas,
fixadas pelo órgão competente em nível federal, estadual ou
municipal.
Como se observa, o País parece ter avançado bastante em
termos de positivação do acesso a informações públicas, em especial
na área ambiental. Entretanto, para a efetividade desse direito, um
dos fatores que se observa importante, é a integração das várias leis
existentes, como a leis de crimes ambientais, lei da Ação Civil Pública
etc, em busca de resultados mais eficazes em favor da proteção da
natureza.
3 A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO PÚBLICA
AMBIENTAL
Apesar do Brasil ser considerado o celeiro natural da
humanidade, em razão da sua extraordinária beleza geográfica e
abundante diversidade biológica, estatísticas apontam que boa parte
da população brasileira ainda não conhece esse imenso patrimônio
e nem se conscientizou da importância que esses ativos representam
para a nação, a começar pelo nível de informações ambientais a que
tem acesso4.
O acesso à informação ambiental é importante na consolidação
da democracia e na defesa do meio ambiente, pois proporciona
esclarecimento e instrução, permitindo que os indivíduos estejam
aptos a interferir no processo decisório, manifestando-se sobre os
riscos que um impacto ambiental possa causar no meio em que
vivem.
A Educação Ambiental, por exemplo, é um instrumento
essencial para adquirir conhecimentos, bem como mudar valores,
comportamentos e estilos de vida.
O alcance de um futuro sustentável está no fomento, entre a
população, da importância do meio ambiente. Segundo Carvalho
(2002, p. 147) a incorporação dessa consciência permite que os
membros de uma comunidade se identifiquem na busca de um
propósito de mudança “aprendendo com seus próprios erros e
tentativas, a desenvolver suas capacidades de organizarem-se,
integrarem-se e se auto-ajudarem para dobrar os obstáculos que se
opõem a seus processos particulares de desenvolvimento”.
Uma das formas das pessoas adquirirem essa consciência e
serem capazes de acessar e assimilar informações necessárias à
tomada de decisões e à melhoria de sua qualidade de vida é, como
foi ressaltado, por meio da Educação Ambiental.
4 Pesquisa coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, realizada
pelo IBOPE/ISER, em todo território nacional, em outubro de 2001,
concluiu que os brasileiros, de um modo geral, continuam se sentindo
pouco informados sobre os assuntos relativos ao meio ambiente e à
ecologia, indicando quase nenhum avanço neste setor, após 10 anos da
Rio-92. (Disponível em: <http://www.iser.org.br>. Acesso em: 02 ago.
2003).
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
9
Na disputa política das decisões públicas ou no jogo do
mercado ambiental, nem sempre há uma correspondência no acesso
a informações ambientais. O sistema de troca entre atores envolvidos
é quase sempre assimétrico. De um lado alguém tem carência de
informação5, e de outro, alguém quer ganhar por ter o poder da
informação. Nesse sentido Fabian (2002, p. 157) enfatiza que “o
conhecimento é, em muitas situações, o fundamento para uma
decisão livre”. Aquele que dispõe de mais informação sobre recursos
naturais tem melhores condições de fazer uma avaliação melhor
sobre determinada decisão.
O ideal seria se o Estado proporcionasse acesso prévio6 a
informações ambientais 7, através da publicidade de atos e
documentos, e se o funcionário público assegurasse o recebimento
da informação de forma adequada, dentro de uma veracidade
necessária e com a clareza suficiente.
5 Informação é um conhecimento inscrito (gravado) sob a forma
escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual. A informação comporta
um elemento de sentido. É um significado transmitido a um ser consciente
por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal:
impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc. Essa inscrição é feita graças a um
sistema de signos (a linguagem), signo este que é um elemento da linguagem
que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra,
sinal de pontuação. (LÊ COADIC, Yves-François. A ciência da informação.
Brasília: Briquet de Lemos, 1996, p. 5). Na mesma obra o autor expõe que
um conhecimento (um saber) é o resultado do ato de conhecer, ato pelo
qual o espírito apreende um objeto. Conhecer é ser capaz de formar a
idéia de alguma coisa; é ter presente no espírito. Isso pode ir da simples
identificação (conhecimento comum) à compreensão exata e completa
dos objetos (conhecimento científico). O saber designa um conjunto
articulado e organizado de conhecimentos a partir do qual uma ciência –
um sistema de relações formais e experimentais – poderá originar-se.
6 A propósito do acesso prévio a informações ambientais, vale
ressaltar a oposição do Brasil ao Princípio 20 da Declaração de Estocolmo,
que originalmente, se referia à obrigação de informação prévia (ver, a esse
respeito, a obra de CAUBET, Christian G. As grandes manobras de Itaipu:
energia, diplomacia e direito na Bacia do Prata. São Paulo: Acadêmica, 1989,
p . 99).
7 A Convenção de Aarhus define informação ambiental toda
informação disponível sob forma escrita, visual, oral ou eletrônica ou sob
qualquer forma material, a respeito de: a) o estado do meio ambiente, tais
como o ar e a atmosfera, as águas, o solo, as terras, a paisagem e os sítios
naturais, a diversidade biológica e seus componentes, compreendidos os
organismos geneticamente modificados, e a interação desses elementos; b)
fatores como: as substâncias, a energia, o ruído e as radiações e atividades ou
medidas, compreendidas as medidas administrativas, acordos relativos ao
meio ambiente, políticas, leis, planos e programas que tenham ou possam
ter, incidência sobre os elementos do meio ambiente concernente à alínea
a, precedente, e a análise custo/benefício e outras análises e hipóteses
econômicas utilizadas no processo decisório em matéria de meio ambiente;
c) o estado de saúde do homem, sua segurança e suas condições de vida,
assim como o estado dos sítios culturais e das construções na medida em
que são ou possam ser alterados pelo estado dos elementos do meio ambiente
ou, através desses fatores, atividades e medidas visadas na alínea b precedente.
(SAMPAIO, José Adércio Leite; WOLD, Chris; NARDY, Afrânio. Princípios de
direito ambiental: na dimensão internacional e comparada. Belo Horizonte:
Del Rey, 2003. p. 77-78). Já a Diretiva 90/313 do Conselho das Comunidades
Européias, em seu art. 2º, considera informação ambiental, qualquer
informação disponível sobre a forma escrita, visual, oral, ou de base de
dados relativa ao estado das águas, do ar, do solo, da fauna, dos terrenos e dos
espaços naturais, às atividades (incluindo as que provocam perturbações
como ruído) ou medidas que os afetem ou possam afetar negativamente e às
atividades ou medidas destinadas a protegê-los, incluindo medidas
administrativas e programas de gestão ambiental. Alguns exemplos de
informações que podem ser solicitadas invocando esta norma: águas residuais,
incidentes ou acidentes dos quais resulte poluição, emissões, substâncias
10
A informação adequada se traduz em disseminar a informação
no momento certo e adequado ao desenvolvimento físico,
intelectual e moral e à formação política, cultural e social dos
cidadãos. A veracidade consiste em prestar informação verdadeira,
não enganosa, não falsa, para que as pessoas possam se esclarecer a
respeito da realidade dos fatos e tirar suas próprias conclusões,
contribuindo para o enriquecimento da democracia. Já a suficiência,
resulta em afirmar que a informação além de verdadeira e adequada,
deve ser clara, completa, integral, devendo ser veiculada de forma
imparcial e que corresponda à realidade dos fatos, buscando sempre
o interesse à veracidade e à inteireza das informações públicas.
Em muitas ocasiões sabe-se que nem sempre essa engrenagem
funciona assim. Como nos alerta Machado (1997, p. 214) a
informação pública, não só a do meio ambiente, tem seus inimigos,
“aqueles que querem ser autoritários e corruptos evidentemente
tentarão de forma direta ou indireta dificultar a transmissão da
informação ambiental”.
A sociedade precisa se conscientizar de que a informação
ambiental produzida pelo Estado não pertence ao governo, mas a
todos os cidadãos e o acesso a ela contribui para diminuir ou evitar
a corrupção, dar mais transparência aos atos governamentais,
permitir melhor conhecimento sobre atividades e planos
governamentais, além de mensurar a qualidade do meio ambiente
em favor da coletividade.
Nesse fluxo dinâmico da informação cada cidadão atua como
um acionista do Estado. O reconhecimento do direito de acesso a
informações ambientais, tanto em nível nacional quanto
internacional8, representa uma grande conquista da liberdade e da
democracia, oportunizando à comunidade o direito de saber o que
está sendo realizado em seu nome e no seu ambiente vivo.
4 REGIME JURÍDICO DO DIREITO À INFORMAÇÃO
AMBIENTAL
A possibilidade da sociedade ter acesso a atos e documentos
produzidos pelo Estado tem sido um importante fator no
fortalecimento e consolidação de várias democracias do mundo.
Diferentemente do Brasil, alguns países já têm lei de acesso a
informações públicas. Na América Latina, nações vizinhas já
possuem lei de acesso à informação. É o caso da Argentina, México
e Peru, colocando os cidadãos em situação mais confortável que a
radioativas, níveis de ruído, planos de ordenamento do território, resíduos,
licenciamento de obras, qualidade das águas, loteamentos urbanos, consumo
de energia, planos rodoviários, fontes de energia utilizadas, construção de
estradas, pontes, etc, licenciamento industrial, licenciamento de comércio e
serviços, condições de laboração, transporte de mercadorias perigosas e
outras (Disponível em: <http://www.despodata.pt/geota/Particip/
guiainfo.htm>. Acesso em: 19 set. 2003).
8 Vários documentos internacionais prevêem o direito à
informação em seus textos. A Declaração do Rio, por exemplo, elaborada
durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, em 1992, explicita em seu art. 10, o dever do Estado de
tornar as informações ambientais acessíveis a todos os indivíduos. A Agenda
21, aprovada nessa Conferência, recomenda, no capítulo 40, a
implementação de programas para a redução das diferenças em matéria de
dados e para a melhoria da disponibilidade da informação, chamando a
atenção, também, para a falta generalizada de capacidade de transformação
dos dados em informação útil.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
dos brasileiros. África do Sul e Lituânia são exemplos recentes de
incorporação desse direito. O caso mais conhecido, segundo
documento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(2003, p. 4), entretanto, é o dos Estados Unidos, com o Freedom of
Information Act (FOIA), lei de 1966.
De outro lado, outros governos têm dificultado o acesso à
informação de caráter público coletivo, arvorando-se, como nos
ensina Santos (2000, p. 729), “em verdadeiros proprietários de
dados obtidos no exercício da função pública”.
Na área ambiental, por exemplo, a disponibilização de
informações tem sido um grande tabu para muitos agentes
públicos, principalmente aqueles que utilizam os recursos naturais,
como fonte única e exclusiva de promoção do crescimento
econômico, sem se preocuparem com aspectos sociais, biológicos,
éticos e culturais relacionados com o meio ambiente.
Assim, é importante estar atento e se inteirar sobre as atividades
ambientais realizadas ou delegadas pelo Poder Público, tal como
orienta Franzon (2003, p. 34):
No manejo da res publica, a Administração deve agir com a
maior transparência possível, de modo que os administrados
tenham continuamente conhecimento do que o Poder Público
está fazendo, admitindo-se, apenas excepcionalmente, ações
sigilosas. Esta é uma exigência constitucional. Razão disso é
que o direito à informação ambiental reitera e afirma de modo
inconteste o princípio da publicidade dos atos administrativos,
se afirmando, de um lado, como meio de conscientização e de
participação popular na defesa do meio ambiente, e de outro,
como instrumento de controle do poder pela coletividade.
Embora não se possa afirmar que a efetividade do acesso à
informação ambiental no Brasil seja uma realidade consolidada, o
arcabouço jurídico que tutela esse direito, tanto em nível
constitucional quanto em nível infraconstitucional, já é bastante
expressivo, tendo em vista que suas normas, de maneira direta ou
indireta, objetivam garantir a efetividade desse direito.
4.1 POSIÇÃO CONSTITUCIONAL
A Constituição Federal procurou dar ao meio ambiente a
proteção necessária, conferindo a todos a responsabilidade pela
defesa de um meio ambiente sadio, não só para a presente, mas
também, para as futuras gerações, convidando o cidadão a participar
desse processo.
Previu, também, ao longo de seu texto, de forma genérica, o
direito de acesso à informação pública9, e ao tratar de matéria
ambiental, inseriu de modo específico, o direito à informação
9 A Constituição Federal de 05/10/1988 em seu art. 5º, XIV, assegura
a todos o acesso à informação e resguarda o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional. Prevê, ainda, no art. 5º, XXXIII, que
todos têm o direito a receber dos órgãos públicos, informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade; inc. XXXIV direito de
petição e certidão e inc. LXXII institui o habeas data para o reconhecimento
ou retificação de dados pessoais; no art. 216 prevê a gestão da documentação
governamental franqueando sua consulta e no caput do art. 37 prevê o
princípio da publicidade ou da transparência da Administração Pública.

ambiental, ao estabelecer no caput do art. 225, § 1º, IV, que em caso
de instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, seja exigido pelo Poder
Público o EIA – Estudo de Impacto Ambiental, dando publicidade
a toda sociedade por meio de divulgação das informações ambientais
contidas no RIMA.
Na verdade, a Constituição de 1988 procurou de recepcionar o
Direito à Informação Ambiental que já constava como um dos
objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente de 198110, como
forma de assegurar a todo cidadão, o conhecimento sobre atividades
potencialmente causadoras de impactos ambientais.
Em ensaio sobre o tema, Graf (2002, p. 27) expõe que o
direito constitucional de acesso a informações ambientais pode ser
“exercido tanto por pessoas físicas como jurídicas, nacionais ou
estrangeiras e é oponível aos órgãos da administração direta e
indireta e a todos os órgãos que exerçam funções delegadas do
Poder Público”.
Cabe ao Estado assegurar mecanismos que dêem ao titular
desse direito uma efetiva comunicação dos atos públicos, não apenas
como uma mera publicidade, mas sobretudo, como uma prestação
de contas das atividades ambientais que delega ou realiza.
A opinião pública funciona como fermento da democracia e
fonte de afirmação de valores. Na área ambiental o acesso a
informações desempenha importante papel no equacionamento
da política ambiental. Para Milaré (2002, p. 262) “os cidadãos com
acesso à informação têm melhores condições de atuar sobre a
sociedade, de articular mais eficazmente desejos e idéias e de tomar
parte nas decisões que lhe dizem respeito diariamente”.
4.2 LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL
Embora não exista um ato único que regulamente o direito
de acesso a informações públicas, o cidadão brasileiro possui um
número razoável de normas jurídicas que se preocupam em garantir
a defesa e proteção do meio ambiente.
Uma das mais destacadas leis na defesa da cidadania ambiental
é Lei nº 7.347, de 24/07/1985, que instituiu a Ação Civil Pública,
constituindo-se um importante instrumento na defesa dos direitos
difusos, dentre os quais se enquadra a proteção do direito ao meio
ambiente ou mesmo, o direito de acesso à informação.
O art. 8º, da Lei nº 7.661, de 16/05/1988, que instituiu o
Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, determina que os dados
e as informações resultantes do monitoramento exercido sob
responsabilidade municipal, estadual ou federal na Zona Costeira
comporiam o Subsistema Gerenciamento Costeiro, integrando-o
ao SISNAMA.
A Lei dos Agrotóxicos, editada sob o nº 7.802, de 11/07/
1989, dentre outras providências, protegeu o acesso e
disponibilização de informações sobre os produtos que menciona.
Tal diploma foi, em parte, alterado pela Lei nº 9.974, de 06/06/
10 A Lei nº 6.938, de 31/08/1981, com alteração dada pela Lei nº
7.804, de 18/07/1989 instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente,
elegendo em seu art. 9º, VII, o SISNAMA como um dos instrumentos da
Política Ambiental, garantindo a prestação de informações relativas ao
meio ambiente, obrigando o Poder Público a produzi-las, quando
inexistentes. Os Decretos nº 99.274, de 06/06/1990, nº 4.297, de 10/07/
2002 e nº 4.339, de 22/08/2002, regulamentaram o referido diploma.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
11
2000 e, em seguida, regulamentado pelo Decreto nº 4.074, de 04/
01/2002.
O Decreto nº 98.161, de 21/09/1989, tratou da administração
do Fundo Nacional do Meio Ambiente, atribuindo ao comitê
administrador do fundo, no art. 6º, competência para elaborar o
relatório anual de atividades e obrigando a promover sua
divulgação.
O Código de Defesa do Consumidor, instituído pela Lei nº
8.078, de 11/09/1990, obrigou o comerciante, fabricante e
fornecedor a informar todos os detalhes técnicos e científicos de
seus produtos para que o consumidor saiba o que está comprando
e como manusear corretamente o que está adquirindo, classificando
o direito à informação como um direito difuso, de caráter
transindividual, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
Em artigo sobre o tema, o jurista Luis Gustavo Carvalho
(1994, p. 64) nos mostra que o interesse é transindividual e indivisível
porque a informação é direcionada a “todas as pessoas que se
disponham a recebê-la, sem que se possa individualizar e dividir
qual informação será difundida para este indivíduo e qual para
aquele. Todos os titulares estão ligados pela circunstância de fato”
de serem receptores da mesma publicidade.
A Lei nº 8.159, de 08/01/1991, ao instituir a Política Nacional
de Arquivos Públicos e Privados, assegurou a todos o acesso pleno
a qualquer documento público, mas não previu como se daria tal
acesso, muito menos estabeleceu prazos para que os agentes do
Estado fornecessem informações quando solicitadas.
Na prática, esta lei abriu caminho para o surgimento de outras
normas sobre a salvaguarda de documentos públicos de caráter
sigiloso, como por exemplo: o Decreto nº 2.134, de 24/01/1997,
já revogado, mas que criava as Comissões Permanentes de Acesso;
o Decreto nº 2.910, de 29/12/1998, sobre normas para a salvaguarda
de documentos de natureza sigilosa; o de nº 2.942, de 18/01/
1999, já revogado, dispunha sobre arquivos de caráter privado; o
Decreto nº 4.073, de 03/01/2002, criando o Conselho e o Sistema
Nacional de Arquivos e, finalmente, o Decreto nº 4.553, de 27/12/
2002, que revogou o de nº 2.134/1997 e criou o conceito de sigilo
eterno, permitindo a renovação indefinida do prazo máximo de 50
anos para não-divulgação de determinados documentos.
Merece destaque também, a Política Agrícola, a partir da edição
da Lei nº 8.171, de 17/01/1991, que, ao tratar de capítulo sobre
informação agrícola, exigiu a divulgação de uma série de atividades
pelo Sistema de Informação Agrícola.
Os Transgênicos, como são conhecidos os Organismos
Geneticamente Modificados (OGMs), estão regulamentados pela
Lei nº 8.974, de 05/01/1995 ou Lei da Biossegurança, que garante
a todos os cidadãos a acessibilidade de informações sobre atividades
suscetíveis de afetar a saúde e segurança, bem como, sobre os
procedimentos em caso de acidentes.
A Convenção sobre Diversidade Biológica, aderida pelo Brasil
através do Decreto nº 2.519, de 16/03/1998, previu em seu art. 17
a obrigatoriedade dos países signatários em promover o
intercambio de informações, disponibilizando-as ao público
interessado.
Por sua vez a Convenção Internacional de Combate à
Desertificação, ratificada por nosso País por meio do Decreto nº
2.741 de 20/08/1998, em seu art. 18, determinou a divulgação das
informações obtidas nos trabalhos científicos sobre a temática.
O Decreto nº 3.871, de 18/07/2001, que disciplinava a
rotulagem de alimentos geneticamente modificados, obrigando a
publicação de informações no rótulo desses produtos, foi revogado
12
pelo Decreto nº 4.680, de 24/04/2003. Este novo ato regulamentou
o direito à informação assegurado pelo Código do Consumidor,
quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao
consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos
a partir de OGMs.
Outro mecanismo legal publicado no Brasil, importante para
garantia do acesso a informações públicas, foi a Lei nº 9.051, de 18/
05/1995, que tratou da expedição de certidões para a defesa de
direitos e esclarecimentos de situações, estipulando prazos, sem,
entretanto, especificar o teor que devesse conter tais documentos.
A Lei Anti-Fumo, editada sob o nº 9.294 de 15/07/1996,
restringiu o uso e a propaganda de produtos fumígeros, bebidas
alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas,
disciplinando as divulgações de informações nos meios de
comunicação.
A Lei nº 9.433, de 08/01/1997 ou Lei das Águas, instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos e, em seu art. 5º, VI, criou o
Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos como um dos
instrumentos dessa política, cuja gestão está sob a responsabilidade
da Agência Nacional de Águas (ANA), entidade federal instituída
pela Lei nº 9.984, de 17/07/2000 e estruturada pelo Decreto nº
3.692, de 19/12/2000.
O Habeas Data previsto na Constituição Federal, foi mais bem
explicitado pela Lei nº 9.507, de 12/11/1997, regulamentando o
direito de acesso à informação constante de registro ou banco de
dados de caráter público e o procedimento do habeas data.
Outro avanço no campo ambiental se deu com a edição da Lei
dos Crimes Ambientais ou Lei da Natureza, em vigor a partir da Lei
nº 9.605, de 12/02/1998, constituindo um excelente mecanismo
no combate aos crimes contra o meio ambiente. Dentre as várias
tipificações jurídicas está prevista a sonegação de informações ou
dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de
licenciamento ambiental pelo funcionário público. Esta lei foi
regulamentada pelos Decretos nº 3.179, de 21/09/1999 e nº 3.919,
de 14/09/2001.
A Educação Ambiental foi assunto positivado na Lei nº 9.795,
de 27/04/1999 e regulamentada pelo Decreto nº 4.281, 25/06/
2002. A Política Nacional de Educação Ambiental tem como uma
de suas ações a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações
sobre questões ambientais.
O Estatuto da Cidade através da Lei nº 10.257, de 10/07/
2001, procurou estabelecer diretrizes gerais da Política Urbana. Ao
tratar do Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EPIV)
estabeleceu que se desse publicidade aos documentos integrantes
do estudo, que ficariam disponíveis para consulta no órgão
competente do Poder Público Municipal, por qualquer interessado
para acesso a informações.
O Regulamento do Patrimônio Genético Nacional, instituído
pelo Decreto nº 3.945, de 28/09/2001, estabeleceu normas sobre o
acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao
conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o
acesso à tecnologia e transferência de tecnologia para sua conservação
e utilização, normatizando dentre outras atividades, a criação e
manutenção de base de dados para acesso de vários tipos de
informações. A Medida Provisória nº 2.191-9, de 23/08/2001,
acrescentou alguns dispositivos a este diploma.
Não se pode deixar de destacar outras leis que, de forma
direta ou indireta, asseguraram a defesa do meio ambiente ou
garantem o acesso a informações públicas, são elas: a Lei nº 5.250,
de 09/02/1967 (Imprensa), que regula a liberdade de manifestação
do pensamento e de informação; a Lei nº 4.717, de 29/06/1965
.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
(Ação Popular); Lei nº 1.533, de 31/12/1951 (Mandado de
Segurança), além de outros remédios constitucionais previstos na
Carta Magna.
Apesar do relativo arcabouço jurídico que ampara o acesso a
documentos públicos, o grande avanço em relação ao acesso a
informações ambientais sobre as atividades causadoras de impactos
ambientais se deu com a promulgação da Lei nº 10.650/2003, tal
como destacado no início deste artigo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não adianta garantir o acesso a informações ambientais através
da edição de normas, apenas para dizer que possuímos a melhor
legislação nesse aspecto. Já basta a grande quantidade de leis
existentes em nosso ordenamento jurídico sobre os mais variados
temas, em que muitas vezes representam letra morta, de difícil
efetividade.
O fortalecimento dos canais de comunicação, possibilitando
o acesso a bibliotecas que levem a fontes de informações de leitura,
como materiais bibliográficos, audiovisuais, internet, televisão, etc.,
pode representar uma excelente via para o exercício efetivo do direito
à informação.
Com a difusão dos meios tecnológicos – principalmente da
Internet -, pode-se reduzir a distância do cidadão para acesso a
informações ambientais11. O aparelhamento das escolas com
computadores poderá permitir a inclusão digital de milhares de
indivíduos que terão melhores condições de atuar na sociedade, de
articular mais eficazmente desejos e idéias e de tomar parte sobre
decisões que lhes dizem respeito diretamente.
A participação das comunidades nos processos públicos
decisórios, o envolvimento de agremiações, igrejas, partidos, clubes,
sindicatos e movimentos associativos, representa também, um
passo fundamental na defesa do meio ambiente.
Com magistral propriedade o Professor Roberto Aguiar (1998,
p. 116) arremata dizendo que “as comunidades têm muita força
legal para impedir ou modificar projetos de obras ou atividades
potencialmente poluidoras”, acessando os relatórios na fase de
comentários e na Audiência Pública ou acessando o RIMA, nos
centros de documentação ou bibliotecas do IBAMA e dos órgãos
licenciadores ou ainda nas Secretarias Estaduais e Municipais de
Meio Ambiente.
Os instrumentos administrativos permitem o acesso à
informação sobre atividades causadoras de impactos ambientais e
comprometedoras do equilíbrio ecológico, facilitando a cobrança
de tais direitos pela população, por meio dos órgãos judiciais e do
Ministério Público.
Além disso, é necessário que essas informações estejam
sistematizadas, atualizadas, disponíveis e integradas a banco de
dados federais, estaduais e municipais, bem como, investimentos
estatais na criação, manutenção e aparelhamento da estrutura física
e humana dos centros de informação ambiental em todos os níveis,
com a destinação de uma porcentagem do orçamento público a
tais setores como uma ação de Estado e não apenas como paliativo
de governo.
11 O IBAMA disponibiliza na Internet os licenciamentos ambientais
através do site www.celaf.ibama.br.

A “ética ambiental vinculada ao dever de bem informar”,
conforme aduz Custódio (1994, p. 65), constitui também fator
imprescindível para o efetivo acesso à informação. De nada adianta
investir em educação ambiental se o princípio ético estiver apartado12.
A verdade, a moral, a prudência, a transparência, a sinceridade, a
honestidade, o compromisso pessoal e coletivo, a responsabilidade
profissional, empresarial e social, são valores que precisam ser
resgatados.
Muitas vezes não se consegue promover a consciência social
por causa da publicidade deformada, em sua grande parte, pela
divulgação inverídica, inconsistente ou tardia. Precisamos estar
atentos sobre o que nos fala Dupas (2001, p. 102) de que “a
sobrevivência da humanidade como espécie, no entanto, está posta
progressivamente em risco e irá depender de um enorme esforço
conjunto de toda a raça humana” e disso resulta o compromisso
ético.
A publicidade se faz necessária através da divulgação em
linguagem clara, acessível e compreensível para a comunidade local,
elaboração de cartazes, cartilhas, programas complementares na
mídia local e em horário nobre. Moreira (1994, p. 319) também
compartilha dessa tese ao afirmar que em um país como o nosso
“a informação jurídica – e não só a jurídica – deveria ser colocada à
disposição dos carentes no próprio meio em que vivem ou exercem
suas normais atividades”. Como as pessoas podem modificar a
realidade muito mais em nível local e regional, percebe-se a
importância do incentivo ou até da obrigação da criação de espaços
na televisão para programas municipais e regionais.
Por outro lado, observa-se, segundo o disposto nos arts. 221
e 223 da Constituição Federal, que o serviço informativo veiculado
pela televisão é considerado serviço público, competindo
diretamente à União a sua exploração ou a terceiros, mediante
autorização, concessão ou permissão. Para Lopes (1997, p. 159), tal
serviço “não é prestado apenas em benefício do concessionário,
mas, principalmente, de toda a sociedade”.
O grau de esclarecimento sobre determinada informação
ambiental depende, em muito, do grau de instrução de seu receptor.
Assim, a diminuição da degradação ambiental será proporcional ao
aumento da consciência e do nível de acesso à informação pela
população. A participação do trinômio: sociedade, empresa e Estado
e, sobretudo, a educação, representa a porta de entrada para a
concretização dessa mudança.
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CARVALHO, L. G. G. C. Liberdade de informação e o direito
difuso à informação verdadeira. Rio de Janeiro: Renovar, 1994.
12 Devido ao agravamento do problema de água no Distrito Federal,
uma pesquisa encomendada pelo WWF-Brasil realizada pelo Ibope Opinião,
revelou que o desperdício de água era maior entre aqueles que têm
escolaridade mais alta – 53% deles têm curso superior. (Disponível em:
<http://www.wwf.org.br>. Acesso em: 20 jun. 2003).
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
13
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2000.
14

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

 15

A PERCEPÇÃO DA CORRUPÇÃO: IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS

Thierry Molnar Prates

Mestre em economia pela UFMG, doutorando em desenvolvimento econômico pela UFPR e professor das faculdades SPEI. e-mail:
thierry@spei.br.

RESUMO ABSTRACT

Este artigo tem como propósito discutir o fenômeno corrupção e
seus aspectos determinantes. O estudo demonstra algumas formas
como a corrupção pode ser mensurada, e a maneira pela qual a
ONG Transparência Internacional coleta e disponibiliza esses dados,
mostrando a relevância destes para a tomada de decisões de
investimento direto. A visão teórica do Banco Mundial, pioneira
no assunto, não preenche algumas lacunas referentes ao setor
privado, dando margem para o surgimento das principais críticas a
esta visão.
This paper aims to discuss the corruption and its determinant
issues. The study demonstrates some ways to measure corruption,
and the roles of International Transparency to collecting
information and showing its significance in order to guide
investment decision. The theoretical vision of World Bank, pioneer
in this issue, do not cover all the main social spaces like private
firms, thus, many criticism emerges about this theory.

Palavras-chave Key words

Corrupção, Crescimento econômico, Índice de Percepção Corruption, Economic Growth, Corruption Perception Index
de Corrupção.

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2004

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
16
1 INTRODUÇÃO
Muitos trabalhos têm surgido na academia sobre os
efeitos perversos causados pela corrupção relativos à redução
do grau de governança, piora no grau de distribuição de renda
e diminuição do crescimento econômico. O tema “corrupção”
se tornou um dos principais assuntos dentro do Desenvolvimento
Econômico a partir da segunda metade dos anos 1990, e
é apontado pelo Banco Mundial como uma das principais
restrições ao desenvolvimento econômico em muitos
países.
O esforço de medir a incidência de corrupção e o seu
grau tem tomado as agendas de organizações intragovernamentais
e não-governamentais. O Banco Mundial é o principal
agente disseminador de trabalhos relativos à corrupção,
descrevendo e relacionando-a ao grau reduzido de
crescimento econômico, principalmente em países
menos desenvolvidos 1. O Banco Mundial é responsável
por elaborar agendas e manuais para redução da corrupção,
que são indicados de maneira generalista para todos os países.
Mas até que ponto essas metodologias do BIRD podem ser
tratadas como uma regra geral? Essas normas representam
realmente todos os aspectos locais, sociais e históricos de
cada sociedade para que sejam usadas como um grande manual de
conduta para todos os países? Apesar de questões fundamentais
como essas pesquisas feitas até agora sobre a corrupção, seus efeitos,
e a comparação entre países não podem ser simplesmente
invalidadas, mas sim, observadas com certa cautela e senso
crítico.
Este artigo tem como propósito primordial a descrição
do fenômeno corrupção e seus aspectos mais marcantes, a
visão do Banco Mundial sobre este problema, procurando
demonstrar algumas formas de mensuração. Adicionadas a esta
discussão, estão as principais críticas a este modelo e a compilação
da literatura mais evidente sobre a corrupção e desempenho
econômico.
2 O CONCEITO DE CORRUPÇÃO
Peters e Welsch, (1978) utilizando entrevistas idênticas
em três países2, em que o entrevistado deveria dizer se
havia corrupção ou não em uma determinada
situação, demonstraram que o conceito pode variar muito
de um país para outro. Um médico que consegue uma
consulta imediata em um hospital público para um parente,
ou o prefeito que utiliza o automóvel da prefeitura para levar
seus filhos para a escola, ou ainda, favorece a licitação
de uma empresa pertencente a um cunhado, podem ser
exemplos de situações nas quais as pessoas respondam
negativamente sobre a existência de corrupção. Nesse sentido, um
estudo sobre corrupção deve ter início com a caracterização do
fenômeno.
1 Esta não é uma relação direta e simples, haja vista países como a
Itália e Japão que obtiveram considerável crescimento econômico convivendo
com índices de corrupção elevados.
2 Estados Unidos, Canadá e Austrália.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
De acordo com o Código Penal brasileiro, a corrupção é
caracterizada como crimes contra a administração pública. O
setor privado, em suas relações entre si, está excluído desta
definição.
Nye (1967) traduz o conceito da seguinte forma:
“Corrupção é o desvio dos deveres formais associados a um cargo
público em função de benefícios privados”. Corroborando a
descrição clássica de Nye, Kaufmann (2000) define corrupção como
“o abuso de um cargo público para obter benefícios pessoais”.
Portanto, se o cargo ou patrimônio público for utilizado para algum
benefício financeiro, eleitoral, ou que simplesmente se desvie do
fim público em favor de algum grupo específico, podemos dizer
que há corrupção.
Em relação aos cargos públicos, Rose-Ackerman
(2002) acrescenta que “sempre que uma autoridade pública
possui poder discricionário sobre a distribuição de um
benefício ou de um custo para o setor privado, criam-se incentivos
para que haja suborno”. A corrupção, portanto, depende da
magnitude dos custos e benefícios sob o controle de autoridades
públicas.
De acordo com a literatura mais influente, liderada pelo Banco
Mundial, a corrupção só é caracterizada e analisada em órgãos
públicos, dependendo da existência de um corruptor e um corrupto,
que estará sujeito às penas da lei se for apanhado. Portanto, para
que não haja corrupção, ou para que ela seja otimamente controlada,
o incentivo a não infringir a lei tem que ser maior que o benefício
relativo. As aspirações coletivas são deixadas de lado em favor dos
objetivos individuais, realizando-se assim um lucro pessoal às
custas do bem comum.
Uma observação importante com relação à conceituação
da corrupção nesta visão é que uma parte não desprezível
foi esquecida, não somente no conceito, mas em toda a
teoria formulada pelo mainstream representado pelo Banco
Mundial, relacionada àquela corrupção que não está situada
no âmbito do setor público. A corrupção que ocorre no
setor privado não é levada em consideração, pelo fato de não
estar ligada diretamente aos recursos públicos, o que pode ser
um grande equívoco. Quando uma empresa, ao maquiar seus
balanços, induz investidores a compra de ações que em seguida
nada valerão, causa prejuízo social em benefício de um
grupo específico, o que poderíamos caracterizar como atos de
corrupção.
Este trabalho tratará apenas da corrupção do setor público,
deixando para uma agenda futura esta face privada, mas não
desprezível da corrupção.
3 CAUSAS DA CORRUPÇÃO.
A corrupção pode aparecer de diversas formas dentro da
administração pública, tendo sempre como pressuposto o
comportamento oportunista de rent-seeking. Não existe uma causa
única para seu aparecimento e é extremamente difícil estabelecer
correlações robustas na forma empírica.
O fenômeno aparece em vários formatos em países diferentes,
e por isso alguns autores atribuem à cultura, história e sociedade a
incidência maior de um tipo específico de corrupção (Polzer, 2001;
Silva, 2000). Outros autores preferem evidenciar as falhas na
constituição das instituições formais para o aparecimento de
“brechas” que podem ser usadas por corruptos, assim como a
ausência de punição severa para combater esse comportamento
(Mauro, 2002; Myrdal, 1989).

As causas da corrupção, segundo Kaufmann (2000), decorrem
de: a) elementos políticos (como o financiamento de campanhas
eleitorais); b) falta de liberdades civis; c) falta de um poder judiciário
autônomo; d) ausência de instituições fiscalizadoras; e) regulação e
finanças públicas; f) administração do setor público; e, g) do nível
de desenvolvimento do país.
De acordo com o Banco Mundial3, algumas causas principais,
e mais gerais, para o aparecimento da corrupção podem ser citadas:
§ Trade-off: entre a possibilidade de ganhos e de ser apanhado.
E ainda, há a possibilidade de não ser punido, mesmo que
apanhado. Se a legislação do país for branda em relação aos
atos de corrupção, somada à ausência de transparência e
prestação de contas dentro dos órgãos públicos, aumentam-
se as dificuldades para se descobrir atos de corrupção. E quando
existe corrupção dentro do poder judiciário, a análise de custos
e benefícios pesa mais para o lado dos benefícios.
§ Ambiente político: a corrupção pode surgir em qualquer esfera
do poder público, desde que este tenha poder discricionário.
§ Ambiente jurídico: os atores acreditam que é possível
corromper o próprio sistema judiciário. Penas brandas para
atos de corrupção estimulam esse comportamento. Uma
política de salários compatíveis com as funções do judiciário
seria importante para evitar subornos4.
§ Accountability: quando as autoridades têm poder discricionário
sem necessidade de prestação de contas à sociedade pelos
seus atos, ausência de transparência, de identificação e de
atribuição de responsabilidades aos funcionários públicos,
aumentam as chances do aparecimento da corrupção.
Para o Banco Mundial, as principais agendas de reformas estão
firmadas no aumento da transparência da administração pública,
reforma administrativa, reforma do legislativo, reforma do judiciário
e reforma política, no intuito de reduzir os incentivos ao
comportamento corrupto.
A visão do Banco Mundial está associada ao pensamento
liberal. Segundo esta corrente, o Estado burocrático e interventor
possibilita o aparecimento de corrupção. Portanto, para o combate
mais eficiente da corrupção, é necessário que o estado seja mínimo
e que ele tenha características específicas do mercado, como uma
fiscalização aduaneira terceirizada e princípios de meritocracia para
planos de carreira, por exemplo.
4 COMO MEDIR A CORRUPÇÃO?
A corrupção pode encontrar grande subjetividade quando
colocada à prova em seus conceitos fundamentais ao se realizar
pesquisas na tentativa de sua mensuração. Essa subjetividade
decorre das grandes diferenças entre as culturas e costumes das
sociedades e a forma como enxergam as situações onde há presença
de administração pública.
3 Apud. Vargas (2002).
4 Segundo Mauro (2002), um corte dos salários no funcionalismo
pode aumentar a incidência de corrupção.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
17
A dificuldade de se medir corrupção é evidente, a maior parte dos
acontecimentos não podem ser verificados e há resistência às
declarações verdadeiras quando as pesquisas são aplicadas. Ainda
assim, os esforços em traduzir dados, ainda que pouco consistentes,
e compará-los entre os países é uma tarefa que o Banco Mundial e
a ONG Transparência Internacional têm buscado realizar com afinco.
A partir de diversas metodologias, as pesquisas procuram se
aproximar de uma informação o mais confiável possível. Speck
(2000) revisa as metodologias e os dados de pesquisas sobre
corrupção. Segundo o autor, as tentativas de mensuração de
corrupção se resumem em: numerar escândalos na mídia,
condenações por corrupção, e informações obtidas com cidadãos.
Estas dependem, em primeiro lugar, do grau de liberdade de
imprensa e da experiência jornalística. Quando a imprensa é
dominada pelas elites, ou há censura no país, a corrupção é
subestimada.
Em segundo lugar, a veracidade das informações depende da
polícia, do ministério público e dos tribunais. Se apenas uma
pequena parte dos crimes é investigada, as características do crime
não são mostradas. E, por fim, depende da facilidade de registro
dos dados e do enquadramento do crime, pelo fato de que as
pessoas têm a caracterização pessoal sobre o que é ou não corrupção,
e essas caracterizações podem variar de um país para outro conforme
a cultura e os valores morais de cada sociedade frente às situações
duvidosas5.
Um fator importante nas pesquisas é que empresas de
avaliação de riscos de investimento têm usado a corrupção como
variável decisória. A avaliação é feita através de compilação de dados
de fragmentação partidária, conflitos étnicos e religiosos e a aceitação
de normas constitucionais pelos atores políticos. Para avaliar a
possibilidade de investimentos, as condições de direitos de
propriedade, repatriação de lucros e exigências burocráticas são
levadas em consideração. Isso inclui a ingerência política ou da
justiça em decisões burocráticas, existência de mercados negros,
práticas de corrupção, nepotismo, fraude nos negócios entre o estado
e a iniciativa privada e outras informações subjetivas (Speck, 2000).
A metodologia do Banco Mundial consiste na formação de
um índice que aborda a percepção da corrupção, e está centrada em
questionários de entrevista em domicílios e autoridades públicas,
sempre em parceria com os governos dos países. O BIRD possui,
agregado às pesquisas, um banco de dados relativos a governança
nos países, para efeito de comparação.
Quando se mede corrupção não se pode incorrer no erro de
pensar na exatidão dos dados. O índice mais utilizado é construído
pela Transparência internacional, (IPCorr - Índice de Percepção da
Corrupção) e mostra, assim como o índice do Banco Mundial,
como as pessoas percebem a corrupção que os cerca, tendo como
diferença básica apenas as características dos entrevistados6. Apesar
do elevado grau de subjetividade em certos casos, este índice é uma
boa aproximação da realidade.
5 Por exemplo, é claro, para a maioria das pessoas, que há corrupção
quando funcionários da prefeitura pavimentam a entrada da casa do prefeito,
mas nem tão claro quando ele se vale do cargo para conseguir uma vaga na
universidade para o filho de um amigo.
6 A metodologia utilizada é a pesquisa junto a executivos de
empresas nacionais e multinacionais e de consultores internacionais de
investimentos, perguntando sobre a percepção do nível de corrupção.
18

Quadro 1 – Índice de Percepção de Corrupção: América Latina, 1995 a 2003.

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Argentina 5.24 3.41 2.81 3.0 3.0 3.5 3.5 2.8 2.5
Bolívia NE 3.40 2.05 2.8 2.5 2.7 2.0 2.2 2.3
Brasil 2.70 2.96 3.56 4.0 4.1 3.9 4.0 4.0 3.9
Chile 7.94 6.80 6.05 6.8 6.9 7.4 7.5 7.5 7.4
Costa Rica NE NE 6.45 5.6 5.1 5.4 4.5 4.5 4.3
Colômbia 3.44 2.73 2.23 2.2 2.9 3.2 3.8 3.6 3.7
Equador NE 3.19 NE 2.3 2.4 2.6 2.3 2.2 2.2
El Salvador NE NE NE 3.6 3.9 4.1 3.6 3.4 3.7
Guatemala NE NE NE NE 3.2 NE 2.9 2.5 2.4
Honduras NE NE NE 1.7 1.8 NE 2.7 2.7 2.3
México 3.18 3.30 2.66 3.3 3.4 3.3 3.7 3.6 3.6
Nicarágua NE NE NE 3.0 3.1 NE 2.4 2.5 2.6
Panamá NE NE NE NE NE NE 3.7 3.0 3.4
Paraguai NE NE NE 1.5 2.0 NE NE 1.7 1.6
Peru NE NE NE 4.5 4.5 4.4 4.1 4.0 3.7
Rep. Dominicana NE NE NE NE NE NE 3.1 3.5 3.3
Uruguai 4.3 4.4 5.1 5.1 5.5
Venezuela 2.66 2.50 2.77 2.3 2.6 2.7 2.8 2.5 2.4
Fonte: Transparência Internacional, 2004.

O Quadro 1 mostra o IPCorr dos países da América Latina
desde 1995 até 2003. Alguns efeitos são importantes, tais como a
queda substancial da Argentina em mais de 50%, o Brasil que
cresceu até 2002 e agora dá sinais de estagnação e possível queda
(quanto menor o índice, maior a percepção da corrupção). O Chile
é nosso representante mais forte, seguido pelo Uruguai que vem
ganhando pontuação ao longo dos anos e Costa Rica que vem
perdendo. Os pior país da AL está entre os piores do mundo, o
Paraguai, com 1.6, está entre os quatro piores países no quesito
percepção de corrupção.
O Quadro 2 mostra um resumo para alguns países, das
informações contidas nos relatórios da Transparência Internacional
dos últimos quatro anos, com a posição dos países num ranking,
que coloca os primeiros colocados com baixo IPCorr, e os últimos
com alto grau.
A posição do Brasil, como já era de se esperar, não é confortável
comparada aos países que estão no topo, como Finlândia, Dinamarca
e Nova Zelândia, com notas superiores a 9. Mesmo comparado ao
Chile, que ocupa a 20ª posição no ranking com nota 7.4, a nota 3.9
para o Brasil retrata ainda um longo caminho de ajustes internos.
A perda de 14 posições no ranking de corrupção entre 2002 e
2003 não reflete grandes mudanças internas no aumento da
corrupção, mesmo porque, a nota dada ao país permaneceu entre
3.9 e 4.0 nos últimos 4 anos. Todavia a inclusão, ano a ano, de um
maior número de países tem implicações sérias sobre o montante
de investimentos que podem deixar de ser realizados no país.
Apenas pela comparação entre os países durante os anos, com
tendência declinante, o risco ao investidor no Brasil é alto.

Quadro 1: Índice de Percepção de Corrupção 2000 a 2003.

País IPCorr2000 IPCorr2001 IPCorr2002 IPCorr2003
Posição Pontuação Posição Pontuação Posição Pontuação Posição Pontuação
Finlândia 1 10.0 1 9.9 1 9.7 1 9.7
Islândia - - - - 4 9.4 2 9.6
Dinamarca 2 9.8 2 9.5 2 9.5 3 9.5
N. Zelândia 3 9.4 3 9.4 3 9.5 3 9.5
Chile 18 7.4 18 7.5 17 7.5 20 7.4
Brasil 49 3.9 46 4.0 40 4.0 54 3.9
Argentina 52 3.5 57 3.5 70 2.8 92 2.5
Paraguai - - - - 100 1.7 130 1.6
Haiti - - - - 98 2.2 131 1.5
Nigéria 90 1.2 90 1.0 101 1.6 132 1.4
Bangladesh - - 91 0.4 102 1.2 133 1.3
Fonte: Transparência Internacional, 2004.
* O número de países pesquisados: 2000: 90; 2001: 91; 2002: 102; 2003: 133.

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004


A Argentina, somente de 2001 para 2002, caiu 13 posições e
22 posições neste último ano. A enorme crise econômica e as
acusações de desvios e lavagem de dinheiro no exterior, feita por
governos anteriores contribuíram para este resultado. Do lado de
baixo da tabela estão os países percebidos como “mais corruptos”
de acordo com este índice de corrupção: Paraguai, Haiti, Nigéria e
Bangladesh, com notas inferiores a 2.0.
Para se medir os efeitos da corrupção existem dois tipos de
indicadores, segundo Abramo (2000), os que estão na raiz da
corrupção e os que são afetados pela corrupção. Os que estão na
raiz são: sistema jurídico e a eficácia governamental. Os indicadores
afetados pela corrupção são: saúde, educação, etc. No primeiro
conjunto de dados (na raiz), a correlação com a corrupção encontrada
é alta, mas na segunda (afetados), os dados da saúde têm uma
correlação menor e os de educação tem correlação baixa com a
corrupção. Segundo Abramo (2000), isto se explica pela existência
de processos de licitação com intensivo uso de capital na saúde,
enquanto a educação é intensiva em mão-de-obra.
Segundo Kaufmann (2000), os indicadores de corrupção estão
sujeitos a erros e por isso não faz sentido apresentar indicadores
que comparem através de ranking a corrupção entre países. Por
outro lado, medir a corrupção se torna importante para garantir
evidências de sua existência, saber sua origem e maior incidência. A
explicitação dos dados sobre a corrupção pode surtir um efeito
positivo sobre a educação da população, na medida em que esta
sociedade reivindique, através do voto ou denúncias, o melhor
uso do bem público por seus governantes e funcionários públicos.
5 CORRUPÇÃO E CRESCIMENTO ECONÔMICO.
A corrupção decorre de um comportamento oportunista dos
agentes econômicos difundido na literatura como rent-seeking. O
argumento original é de que o estado ocupa muito espaço na
economia, gerando excesso de burocracia. Essa burocracia resulta
em corrupção e desvios do que seria o bem comum para o privilégio
de uma classe específica.
O rent-seeking aparece porque a motivação básica dos agentes
é maximizar seu bem-estar, dentro de certas regras pessoais, tendo
como restrição a sua renda. Portanto, os agentes tentam aumentar
suas rendas dentro ou fora das regras de conduta econômica e
social, na forma de transferências dentro da sociedade via
monopólios e privilégios. O monopólio gera um excedente do
produtor através da diminuição do excedente do consumidor, além
do peso morto (dead weigth loss) das mercadorias produzidas
que não serão negociadas, nada mais significando do que uma
perda para a sociedade.
A corrupção leva pessoas mais talentosas a se dedicarem no
intuito de se beneficiar da corrupção, ao invés de estarem engajadas
em atividades produtivas, o que reduz o crescimento econômico.
Favorece os gastos públicos excessivos e improdutivos e o
crescimento da economia informal e mercados-negros (Kaufmann,
2000).
Para a corrente neoliberal, na presença de rent-seeking, os países
devem adotar políticas de redução do estado e da burocracia,
utilizando assim políticas ortodoxas de market-friendly e de boa
governança para alcançar o desenvolvimento econômico com maior
rapidez (Polzer, 2001).
A literatura teórica sobre corrupção e crescimento econômico
possui duas correntes. De um lado Krueger (1974), Myrdal (1989),
Shleifer e Vishny (1993), Tanzi (1997) e Mauro (1985, 1998)
argumentam que a corrupção é nociva ao crescimento econômico.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
19
A corrupção modifica os alvos do governo e cria uma
divergência de recursos, de propósito públicos para privado,
resultando num peso morto para a sociedade. Além disso, a
corrupção inibe o investimento privado pelo aumento do custo da
administração pública (desde que seja desejável usar de suborno
para conseguir serviços públicos), ou por gerar descontentamento
social ou inquietação política, o que por sua vez faz crescer mais
devagar a economia (Alesina, 1992).
Por outro lado, autores como Leff (1964), Huntington
(1968), Friedrich (1972) e Nye (1989) dizem que a corrupção pode
ser benéfica ao crescimento econômico. O argumento parte da idéia
de que a regulação do governo é extremamente difusa e ineficiente,
e que a corrupção pode contornar essas situações com menores
custos. Além disso, o suborno pode ajudar a apressar decisões de
partidos políticos.
Empiricamente, os estudos têm demonstrado, em contraste,
uma correlação negativa entre corrupção e crescimento, enquanto
seus benefícios são escassos. Mauro (1995) mostra com uma cross-
section de países essa correlação negativa entre crescimento econômico
e corrupção, utilizando variáveis econômicas e sociopolíticas. Outros
resultados similares podem ser encontrados em Keefer e Knack
(1997), Hall e Jones (1999) e Sachs e Warner (1997).
Kaufmann (2000) aponta alguns efeitos nocivos da corrupção
sobre o investimento interno e o investimento direto externo,
como a redução do crescimento econômico pelo desestímulo ao
investimento. Isso ocorre pela falta de transparência (Accountability)
do governo nos seus gastos e transferências.
Segundo a corrente institucionalista, a corrupção implica custos
de transação adicionais, dificultando o crescimento econômico pela
redução de investimentos, pelos altos custos em propinas a serem
pagos para sua implantação, ou mesmo, pelas dificuldades para
remessa de lucros às matrizes. Além de reduzir o investimento
direto, a corrupção reduz os investimentos internos afetando a
arrecadação do governo e tornando os investimentos sociais
precários, afetando diretamente a camada mais vulnerável da
população.
A corrupção pode proporcionar aumento da pobreza quando
os recursos não são repassados uniformemente na sociedade,
dando-se prioridade a setores ou grupos específicos.
O argumento de que a corrupção facilita as transações
comerciais, encurtando caminhos burocráticos complexos, é
equivocado. O suborno causa impacto na eficiência gerando perdas
sociais maiores do que as da burocracia. As crises, como a Asiática,
demonstram como a falta de transparência pode criar problemas
econômicos profundos.
De acordo com o Banco Mundial, as estratégias para o combate
à corrupção passam por uma série de reformas no estado e nas
instituições, com a finalidade, principalmente, de diminuir a
estrutura burocrática, criar instituições mais fortes e independentes
em suas decisões, e buscar uma maior transparência e contar com o
apoio da sociedade civil consciente e dotada de voz. Ainda como
objetivo básico do Banco Mundial, podemos acrescentar que o
combate à corrupção pela mudança institucional tem o poder de
melhorar a governabilidade.
O esquema da Figura 1 demonstra a estratégia integrada de
combate à corrupção adotada pelo Banco Mundial. Podemos
novamente notar a partir deste instrumental utilizado como manual
do combate à corrupção para qualquer país do mundo é o enorme
peso ideológico herdado do Consenso de Washington,
principalmente com a redução do estado, privatizações e
desregulação.
20
Figura 1: Estratégia integrada para o combate à corrupção
Fonte: Contribuições de Sanjay Padhan, Banco Mundial, apud. Kaufmann, (2000).
Transformar o estado em uma espécie de empresa, sem as
funções de intervenção na atividade econômica e, portanto, se
abstendo de políticas compensatórias regionais e setoriais, quando
nos referimos a países subdesenvolvidos, pode não ser o caminho
mais rápido para o desenvolvimento, mesmo que isto resulte em
uma diminuição da corrupção.
Este fato não invalida algumas propostas do Banco Mundial,
como aquelas relativas aos poderes, meritocracia e ao
monitoramento feito pela sociedade civil.
6 A QUESTÃO DO FINANCIAMENTO ELEITORAL.
Um aspecto determinante para o aparecimento da corrupção
é, sem dúvida, o financiamento das campanhas eleitorais.
Deputados, senadores e governadores gastam rios de dinheiro
para eleger-se7, no intuito de auferir ganhos maiores após eleitos,
não provenientes de seus próprios salários, mas de uma série de
outras formas:
a. Licitações públicas viciadas para empresas que interessem
pessoalmente;
b. Destinação de verbas públicas para entidades-fantasma, a título
de doação;
c. Concessão de empréstimos subsidiados;
d. Decisões de políticas públicas diversas que favorecem certos
grupos.
Direitos políticos mais sólidos e fortes como: eleições
democráticas, uma legislação e partidos de oposição, junto com as
liberdades civis (meios de comunicação livres e independentes,
liberdade de reunião e de expressão, liberdade básica para as
mulheres com participação política no congresso) reduzem a
corrupção (Kaufmann, 2000). As mulheres, quando são
7 Dinheiro próprio e de pessoas físicas e jurídicas que o apóiam
(Fleischer, 2000).
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
participantes do poder público, de acordo com pesquisas empíricas,
provocam uma redução da corrupção pelo fato de serem menos
vulneráveis a sacrificar o bem comum em favor de ganho material
pessoal (Dollar et al, 1999).
O problema eleitoral passa também pelo acesso à mídia.
No Brasil do período militar, a maior parte das concessões de
emissoras de rádio e televisão foi dada aos políticos, fato que
perpetua o poder de algumas classes pela facilidade de
autopromoção e monopólio deste meio de comunicação utilizado
para fins eleitorais.
De acordo com (Fleischer, 2000), o Brasil carece de uma ampla
reforma política que possa ampliar a moralização das campanhas
políticas, baseadas nos seguintes itens:
a. Reforma do sistema eleitoral: a modificação do sistema eleitoral
– de proporcional com lista aberta para proporcional com lista
fechada. As contribuições de campanha seriam ao partido, e
não pessoais aos deputados, para que as doações fossem
fiscalizadas com maior facilidade.
b. Legislação partidária: a instituição de uma lei que restrinja a
quantidade de partidos, assim como a “dança das cadeiras”,
utilizando os partidos de aluguel, reduziria a corrupção e a
confusão para o eleitor, alem de facilitar a fiscalização.
c. Licitações públicas: coibir licitações viciadas através da
investigação e legislação rigorosa.
d. Criação de uma Controladoria Geral da União: sem indicações
políticas feitas pelo presidente da república, ou qualquer outro
político, para investigar as falcatruas eleitorais.
e. Revitalizar a Receita Federal: evitar o “caixa dois” e a sonegação
usada para financiar campanhas eleitorais
f. Legislação específica sobre o financiamento das campanhas:
regulamentando e controlando o financiamento público e
privado de campanhas.
Sem o apoio dos próprios parlamentares, as únicas armas
para coibir os abusos seriam: a indignação dos cidadãos, as denúncias
de escândalos pela mídia e ações fortes do ministério público
para maior conscientização na hora do voto (Fleischer, 2000).

7 A CRÍTICA DE POLZER À VISÃO DO BANCO
MUNDIAL.
O Banco Mundial tem se preocupado com a corrupção,
elaborando trabalhos empíricos e manuais para o seu combate.
Planos de ação para “ajudar países a combater a corrupção”, fortalecer
as instituições, criar agendas anticorrupção com mecanismos de
punição e conduta em todo o mundo têm sido o assunto do
momento. O Banco Mundial é a principal fonte deste modelo de
pensamento, pois é o porta-voz do mainstream econômico no
assunto corrupção e desenvolvimento.
Polzer (2001) afirma que a visão do Banco Mundial é parcial e
possui o viés de acreditar que pode ser aplicada universalmente de
forma neutra. Dentro deste pensamento do Banco há restrições
internas criadas pelas regras do discurso, causando resistência dos
“clientes” e efeitos não desejáveis.
Para exemplificar este viés, citamos o conceito explícito de
corrupção segundo o Banco Mundial, “a corrupção é um sintoma
de deficiência orgânica institucional, prosperando onde as políticas
econômicas são mal projetadas, onde os níveis de educação são
baixos, a sociedade civil é subdesenvolvida e a responsabilidade
das instituições públicas é fraca”.
A primeira crítica de Polzer (2001) refere-se ao pensamento
teórico do Banco Mundial. Segundo o Banco, políticas de ajuste
estrutural reduzem os níveis de corrupção. Mas se isto for verdade,
qual a explicação para o fato de vários países terem apresentado
crescimento da corrupção apesar da implantação destas políticas de
ajuste?
A segunda crítica está na utilização política do combate à
corrupção apenas no âmbito das relações econômicas, enquanto o
aspecto de corrupção política é legitimado pela manutenção do
formato institucional político.
Em terceiro lugar, pela distinção feita pelo Banco da corrupção
nas esferas pública e privada, e dentro do estado entre as esferas
política e administrativa. Essa separação abre um espaço para
comportamentos distintos.
O quarto ponto mostra que o Banco Mundial exclui a questão
moral da análise dos países, utilizando apenas os modelos racionais
pautados no individualismo, isto é, deixa de fora o aparato teórico
da economia institucionalista.
Por fim, o quinto item criticado por Polzer diz respeito à
implantação dos planos de combate a corrupção. A forma adotada
pelo Banco está baseada em ações discricionárias, o que demonstra
uma contradição profunda, em função de que o aparecimento de
corrupção, segundo o Banco Mundial, se deve a este poder
discricionário.
Para Polzer, o mais importante dentro de uma análise de
corrupção é entender os contextos: sociocultural, histórico e
ideológico, assim como as influências institucionais e político-
econômicas.
8 CONCLUSÃO
A corrupção é a utilização discricionária de um recurso ou
privilégio originalmente destinado ao bem público para interesses
particulares. Este comportamento é originário do fenômeno
caracterizado por rent-seeking, onde os agentes buscam auferir ganhos
improdutivos através das “brechas” do sistema legal, ou mesmo
fora dele.
O cálculo da corrupção, assim como a comparação dos índices
entre os países é alvo de críticas em função das grandes margens de
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
21
erro e imprecisões, das capacidades diferenciadas de percepção, dos
diferentes graus de liberdade de expressão, da transparência não
uniforme entre eles e das diferenças culturais.
Os trabalhos mais importantes estão relacionados à redução
do crescimento econômico. Assim, as evidências mais claras sobre
os efeitos da corrupção estão na diminuição da governabilidade e
falhas no sistema jurídico. Os setores afetados indiretamente pela
corrupção, como a saúde e educação, têm menor correlação empírica
com o grau de corrupção.
A redução da corrupção pode interferir positivamente nas
intenções de investimento interno e externo. O aumento no grau
de transparência da economia e a redução dos custos de transação
associados a propinas alteram as expectativas dos investidores
elevando o crescimento do produto e o emprego.
Um dos principais focos de corrupção são as campanhas
eleitorais. A existência de uma “troca de favores”, quando políticos
recebem quantias elevadas para financiar suas campanhas em troca
de outro tipo de apoio posterior, na forma de uma licitação viciada
ou concessão, é um foco determinante da corrupção. Num ambiente
como este, o processo eleitoral já nasce comprometido com
interesses privados.
Somente a elaboração de uma nova legislação eleitoral, que
impeça as contribuições individuais aos candidatos, pode combater
este comportamento típico de rent-seeking. Dessa forma, a
incumbência dos recebimentos e prestação de contas ficaria para os
partidos políticos. Assim, somada a uma fiscalização rigorosa pelos
tribunais e pela Receita federal, este tipo de reforma política evitaria
grande parcela da corrupção existente.
A maior parte dos trabalhos e agendas de redução da corrupção
está associada ao Banco Mundial e à sua ideologia de redução da
burocracia do estado, sem, no entanto, levar em conta outros
aspectos fundamentais como a história e a cultura de cada país na
formulação de políticas anticorrupção.
O arcabouço teórico do Banco Mundial está centrado em uma
visão liberal com redução radical da intervenção do estado, fazendo
emergir várias críticas ao modelo.
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 23

UM SISTEMA COMPUTACIONAL PARA VERIFICAÇÃO DO NÍVEL DE

COMPREENSÃO DE TEXTOS EM LINGUAGEM NATURAL

Jaime Wojciechowski

Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada - Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

E-mail: jaimewo@terra.com.br

RESUMO ABSTRACT

Este trabalho tem como objetivo a concepção de um sistema capaz
de realizar a compreensão de textos em linguagem natural. O sistema
irá receber textos de um determinado assunto e avaliar
computacionalmente seu nível de compreensão. Este trabalho tenta
reproduzir a maneira como nós, seres humanos, realizamos a tarefa
de compreender a linguagem natural e, para atingir esses objetivos,
utiliza as teorias de Memória Dinâmica, Raciocínio Baseado em
Casos e Parser Baseado em Casos. Também foi criada uma
Metodologia de Avaliação, onde um educador é capaz de fornecer
os parâmetros da avaliação conforme seu entendimento do assunto
e o sistema atribui um nível de compreensão baseado nestes
parâmetros.
The purpose of this work is the conception and implementation
of a software which will be able to accomplish an automatic
understanding of texts in natural language. The software will receive
texts about a certain subject and will automatically evaluate the level
of comprehension thereof. This work tries to reproduce the way
that we, human beings, perform the task of understanding natural
language. To reach such a goal it uses theories of Dynamic Memory,
Reasoning Based on Cases and Parser Based on Cases. There has
also been created a Methodology of Automatic Evaluation where
an expert will be able to provide evaluation parameters, according
to his comprehension, and a consequent assignment, by the software,
of a level of comprehension based on such parameters.

Palavras-chave Key words

Sistema comutacional, Nível de compreensão de textos, Computer system, Text understanding level, Natural language
Linguagem natural

R. Spei, Curitiba,
R. Spei, v. 5,
4, v.
Curitiba, n. 5,1,
2, n.
p. 1,
23-29,
15-23, jan./jun.
jul./dez.
jan./jun. 20042003
2004
24
1 INTRODUÇÃO
A compreensão da linguagem natural é um vasto campo de
estudo na área de Inteligência Artificial. Há décadas vem se
trabalhando a fim de se formar padrões de estruturas da linguagem
para que se possa, efetivamente, entender frases e dar respostas
satisfatórias a indagações feitas com o uso dos termos da linguagem.
Dentre essas estruturas, destacam-se os trabalhos de análise
morfológica, sintática e semântica, bem como o estudo de
Dependência Conceitual (Rich, 1993), que tem como objetivo extrair
as características de uma determinada frase.
Neste trabalho, será abordada uma linha de estudo da
compreensão da linguagem baseada em CBR – Case-Based
Reasoning. Serão usados os conceitos de compreensão da
linguagem natural iniciados por Roger Schank e Christopher
Reisbeck em seus trabalhos (Schank, 1971; 1977; 1981; 1994; 1999),
(Riesbeck 1986; 1989), e principalmente uma implementação destes
conceitos proposta por Charles Martin sobre o DMAP – Direct
Memory Access Parser (Martin, 1993). Este paradigma tem como
premissa que a compreensão da linguagem natural ocorre somente
se o interlocutor tiver um conhecimento prévio do assunto que
está sendo abordado. Para isto, os conceitos contidos na frase que
está sendo dita já devem fazer parte da memória do entendedor e
a compreensão ocorre pelo reconhecimento dos conceitos nesta
memória. A tarefa se resume em encontrar, nesta memória, os
conceitos mais relevantes para o texto de entrada e esta busca e
determinação segue todos os preceitos de Raciocínio Baseado em
Casos. As etapas de recuperação dos casos, adaptação, avaliação e
uso se enquadram neste processo de compreensão. À medida que
a frase vai sendo apresentada, vamos identificando na memória os
possíveis conceitos (casos) que podem se relacionar aos termos da
frase.
Como aplicação das idéias acima citadas, este trabalho irá tratar
de textos na área educacional. Neste aspecto, serão abordadas
questões como verificação automática do nível de compreensão de
um texto de um determinado domínio. Será mostrado um exemplo
de como é possível verificar automaticamente o grau de compreensão
de um texto que foi resumido por um estudante e as métricas que
representam se esta interpretação abordou os conceitos essenciais
definidos para o texto. O especialista (neste caso, um educador) terá
condições de definir os parâmetros necessários para atingir seu
objetivo, ou seja, ele irá modelar a memória determinando
parâmetros que poderão medir a abrangência do resumo, verificando
se os estudantes abordaram todos os conceitos considerados
essenciais e também medir o encadeamento das idéias no resumo.
Ao final, será possível determinar o quanto foi alcançado do objetivo
traçado pelo educador, aferindo, automaticamente, uma “nota” ao
resumo do estudante.
2 CBR APLICADO À COMPREENSÃO DA LINGUAGEM
NATURAL
Esta proposta visa representar a maneira com que o ser humano
compreende uma frase. Temos que supor que já existe um
conhecimento prévio do assunto que está sendo tratado e que este
conhecimento está modelado através da vivência e experiências da
pessoa. À medida que a frase vai sendo apresentada, ocorre não só
uma identificação dos conceitos, mas, também uma previsão do
que pode vir na seqüência para que a frase seja compreendida
(Riesbech, 1989), (Schank, 1977, 1981). Todo este processo de
recuperação dos conceitos segue os preceitos de Raciocínio Baseado
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
em Casos, passando pelas etapas do CBR: recuperação, adaptação,
avaliação, uso e armazenamento dos casos (Freitas, 1996). A etapa
de recuperação realiza a busca na memória, adaptação e avaliação e
garante que o caso recuperado é o mais relevante para o texto de
entrada, o uso é o reconhecimento do conceito e o armazenamento
ocorre quando uma nova instância de um conceito é inserida na
memória.
Por exemplo, se alguém citar a frase:
“Fui ao ...”
A pessoa que está ouvindo a frase começa a ter expectativas
do que virá na seqüência, terá a idéia de lugar ou de um evento,
começará a abstrair e imaginar possíveis lugares, eventos ou situações
e terá a expectativa de que a próxima palavra refere-se a lugar ou
evento. Neste momento diversos casos já foram recuperados para
tentar encaixar com a frase (Fui ao Dentista, Restaurante, Desespero,
etc).
Mais algumas palavras são ditas, por exemplo:
“Fui ao Restaurante e comi...”
Neste ponto, todos os casos que não se relacionam à ida a um
Restaurante são descartados. Outras expectativas, então, surgem.
Porém, o contexto está praticamente definido: trata-se de um evento
cotidiano, podemos visualizar um Restaurante, baseado nos casos
recuperados, casos estes que armazenamos através de nossas
experiências pessoais e vivências.
Ao ser dita a última palavra da frase, por exemplo, “Fui ao
Restaurante e comi Sushi.”, a frase teria sido compreendida e
somente um caso se enquadraria.
Algumas considerações:
1) Se a última palavra que fosse dita fosse, por exemplo,
“Governo Federal”, isto causaria um desconforto ao processo de
entendimento. Não teria sentido ir a um Restaurante e comer um
órgão institucional do país onde vivemos. A primeira reação seria
indagar se Governo Federal é o nome de um prato servido em um
determinado restaurante. No caso de resposta afirmativa, mesmo
achando estranho um prato com este nome, seria incluído este
nome na relação de pratos passíveis de serem servidos em um
Restaurante (ou naquele restaurante específico). O choque se daria
se o interlocutor afirmasse categoricamente que não se trata de um
prato e sim do órgão que dirige o país. Simplesmente a frase não
seria compreendida.
2) Note que, para um índio que vive isolado no interior de
uma selva, sem nunca ter tido contato com a civilização, no início
da frase (“Fui ao...”), as expectativas seriam outras, Fui ao rio, Fui
ao campo, etc. No momento em que a palavra Restaurante fosse
apresentada, ele não “compreenderia”, pois não havia recuperado
nenhum caso com este desconhecido conceito.
Um sistema de compreensão da linguagem baseado em CBR
é chamado de Parser Baseado em Casos (Riesbech, 1989). Ele tem
sua espinha dorsal no processo de compreensão baseada numa
memória modelada de conceitos. O Direct Memory Access Parser -
DMAP se propõe a trabalhar nesta abordagem de compreensão da
linguagem natural. A seguir será apresentada a teoria básica do
DMAP e como ele atua no tratamento de frases e textos.
3 DMAP - DIRECT MEMORY ACCESS PARSER
O DMAP - Direct Memory Access Parser é um sistema para o

entendimento da linguagem natural (Martin, 1993). Procura uma
conexão entre um texto de entrada e uma estrutura de memória. A
criação do DMAP partiu da tentativa de unir as idéias de
compreensão de M. Quilian ao conceito de Memória Dinâmica de
Roger Schank. Questões como organização, indexação e busca em
memória são os pontos importantes desta metodologia
(Hembecker, 2002). Um problema constante na compreensão da
linguagem natural é a ocorrência de ambigüidades, em que uma
única palavra pode representar uma grande variedade de significados.
Uma possível solução para este problema é inserir o texto ou as
sentenças de entrada em um contexto bem definido, restringindo,
assim os significados e relacionamentos que as palavras podem
assumir. Desta forma, é fortalecido o princípio de que para se
efetivar a compreensão, é necessária a identificação do relacionamento
dos textos com um conhecimento previamente experimentado.
3.1 FUNCIONAMENTO DO DMAP
O processo de compreensão proposto pelo DMAP requer
uma memória modelada de conceitos baseada em MOPs (Memory
Figura 1. Exemplo de Memória de Conceitos
Nesta rede de conceitos, MTRANS significa “Mental Transfer”
simbolizando uma transferência mental de uma idéia por parte de
um ator. MOBEJCT é um conceito principal do qual derivam
todos os outros. Para esta memória, teremos o seguinte índice:
Mtrans-1: {(actor) says (info)}
Friedman-1: {Milton Friedman}
Monetary-Argument-1: {increase tax}
Ou seja, o critério para que o conceito FRIEDMAN seja ativado
é a entrada das palavras “Milton Friedman” (nesta seqüência), para
o conceito MONETARY ARGUMENT é “increase tax” e para o
critério MTRANS é a entrada de um actor, em seguida a palavras
“says” e finalmente “info”.
Será apresentada a seguinte frase na entrada do sistema:
“Milton Friedman says increase tax”
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
25
Organization Packages) que é um tipo de Frame (Minsky, 1985,
Ávila, 1991) usado para representar eventos da comunicação, e um
índice com a função de representar o critério de ativação dos
conceitos. Inicialmente o índice é percorrido e são marcadas as
possíveis entradas. À medida que a frase vai sendo apresentada,
dois mecanismos básicos estarão em funcionamento, o primeiro
busca no índice se existe um critério para a entrada apresentada e o
segundo verifica se alguma previsão está marcada. Nos dois casos,
a compreensão ocorre quando uma previsão de entrada satisfaz o
critério que estava sendo esperado. Ao final da frase, um critério
apresenta todos os conceitos que foram ativados, mostrando assim
que a frase foi compreendida para aquela memória de conceitos.
3.1.1 Memória de Conceitos
A seguir será mostrado o exemplo original do DMAP (Martin,
1993). Suponha uma memória de conceitos que envolvam um
economista (chamado no exemplo de Milton Friedman), uma
opinião dada por ele (Monetary Argument) e um evento de
comunicação feito pelo economista (Monetarist Communication).
A memória de conceitos será assim representada:
3.1.2 Mecanismo de busca no DMAP
A seguir serão mostrados os passos do mecanismo de busca
nos índices da memória:
1) O sistema começa colocando um marcador de previsão no
início de cada um dos índices, ou seja, para Mtrans-1 teremos um
marcador em (actor) que é um apontamento para o conceito
HUMAN, portanto um marcador de previsão é colocado neste
conceito indicando que a ativação de Mtrans-1 só será satisfeita se
iniciar com um HUMAN ou uma informação mais específica deste.
Na seqüência, para Friedman-1 a previsão é colocada em “Milton”
e em Monetary-Argument-1 em “increase”.
2) A primeira palavra da entrada (Milton) é apresentada. O
sistema percorre o índice e verifica que Friedman-1 tem previsão
para esta palavra. O primeiro item do índice é satisfeito e o marcador
26
de previsão neste índice é deslocado para o próximo item
(Friedman).
3) Na seqüência da frase de entrada, a palavra “Friedman” é
apresentada e é encontrada uma previsão para esta palavra no índice
Friedman-1. Ao tentar passar o marcador de previsão para o
próximo item do índice, verifica-se que o mesmo está completo,
ou seja, houve um reconhecimento deste índice na memória e este
índice é ativado. O sistema busca na hierarquia de Friedman-1 se
existe alguma previsão para este índice e encontra no conceito
HUMAN (colocado no passo 1). O índice Mtrans-1 tinha a previsão
inicial para um actor e esta previsão foi satisfeita passando, assim,
para o próximo item deste índice (says).
4) A palavra “says” é apresentada na entrada e existe uma
previsão para ela no índice Mtrans-1. Neste índice a previsão é
deslocada para o próximo item (info).
5) As próximas duas palavras (increase tax), de maneira similar,
irão satisfazer a previsão no índice Monetary-Argument-1 e como
existe a previsão para este índice em Mtrans-1, todos as previsões
estão satisfeitas.
Os conceitos FRIEDMAN, MONETARY ARGUMENT e
MONETARY COMUNICATION são reconhecidos na memória,
acarretando, assim, a compreensão da frase de entrada.
4 UMA METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO
COMPUTACIONAL DO NÍVEL DE COMPREENSÃO
DE TEXTOS USANDO O DMAP
A validação desta pesquisa será feita com a utilização de uma
demanda na área educacional. Estudantes, de uma maneira geral,
adquirem conhecimento através da leitura, apesar de existirem
outras mídias como exposição oral, filmes, palestras etc. Um grande
desafio na área educacional é a verificação do conhecimento
adquirido através da leitura. Muitas vezes o aluno chega a estudar
um determinado texto, mas não se tem certeza do seu grau de
compreensão nem de que os pontos essenciais do texto foram
assimilados. Os métodos tradicionais de avaliação como provas,
resumos etc, têm seu valor histórico e cultural, ou seja, acostumou-
se a se dar uma nota representando o nível de entendimento de
um determinado assunto lido no texto através destes métodos.
Com o avanço da computação na área educacional, muitos
programas estão entrando nas escolas e universidades com o
4.2 EXEMPLO DE UM TEXTO E RESUMO SUBMETIDO
AO PROCESSO DE AVALIAÇÃO
A seguir será mostrada a aplicação das descrições acima,
utilizando-se um texto da Lógica Matemática como domínio. O
texto a seguir refere-se a alguns conceitos básicos deste assunto e a
figura 2 mostra uma memória modelada de conceitos para este
domínio:
A Lógica Matemática começou na Grécia e os antigos filósofos
usavam em suas discussões a fim de defender suas idéias e
argumentos. Suas sentenças eram enunciadas na formas
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
objetivo de trabalhar esta questão. Na sua maioria, os softwares
são capazes de ensinar (através de tutoriais) e realizar a verificação
da aprendizagem através de questões nas mais diversas formas.
Também é uma tarefa extremamente simples para estes softwares
conferir a quantidade de acertos e erros destas questões, avaliando,
assim, o grau de entendimento do assunto abordado.
Dentro deste contexto, a Inteligência Artificial encontra um
grande espaço a ser ocupado. Com o avanço do Processamento da
Linguagem Natural, muitas questões como verificação de ortografia,
tradutor de línguas, confecção de sumários entre outros, estão
ocupando este espaço. A proposta da aplicação das teorias de
compreensão da linguagem natural abordadas neste trabalho
encontra lugar na área de verificação automática da aprendizagem.
4.1 METODOLOGIA UTILIZADA NO EXPERIMENTO
Este experimento consiste em submeter resumos de um texto
ao algoritmo do DMAP. De posse dos conceitos reconhecidos,
será atribuído um grau de compreensão ao resumo. Para isto,
algumas métricas serão definidas pelo educador a fim de medir a
abrangência do assunto e o encadeamento das idéias (Sánchez
Miguel, 2002). Estas métricas são definidas pelos seguintes
parâmetros:
§ Grau de importância do conceito: Valor numérico com o
objetivo determinar o quanto aquele conceito é importante
que apareça no resumo. Varia de 0(irrelevante) a 10(essencial).
§ Grupo do conceito: Usado para classificar os conceitos que
se relacionam.
§ Número de seqüência do conceito no grupo: Usado para
medir o encadeamento das idéias dentro de um grupo de
conceitos.
§ Grau de importância da seqüência dos conceitos no
grupo: Tem como objetivo determinar o quanto é importante
que os conceitos apareçam em seqüência dentro do grupo.
§ Número de seqüência do grupo: Também usado para medir
o encadeamento das idéais.
§ Grau de importância da seqüência dos grupos no resumo:
Tem como objetivo determinar o quanto é importante que
os grupos apareçam em seqüência dentro do resumo.
No final será atribuída uma nota ao resumo utilizando-se a
fórmula abaixo:
afirmativa ou negativa. A partir da Idade Média começou-se a
representar frases por meio de notações matemáticas. Nesta
época George Boole e DeMorgan (entre outros) interessaram-
se pelo debate filosófico e matemático a fim de criar regras
para serem usadas nos argumentos. Algumas situações no
mundo em que vivemos apresentam dois estados
mutuamente exclusivos com sim e não, ligado e desligado,
verdadeiro e falso. Este texto apresenta alguns conceitos de
Lógica Matemática ligados a estas situações.
Chama-se Proposição todo conjunto de palavras que
exprimem um pensamento de sentido completo. As proposições

transmitem pensamento, isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos
que formamos a respeito de determinados entes. Para a Álgebra de
Boole, estas proposições só podem assumir dois valores,
Verdadeiro e Falso. Para que isto aconteça, ela adota como regras
fundamentais dois princípios: Princípio da não contradição que
diz que uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo
tempo e o Princípio do Terceiro Excluído que diz que toda
proposição é verdadeira ou falsa e nunca um terceiro valor. Devido
a estes princípios a Lógica Matemática é chamada de Dicotômica ou
Figura 2. Memória modelada para o exemplo
Para cada conceito, foram cadastrados os parâmetros
necessários para a avaliação dos resumos, com a atribuição de grau
de importância, grupo, seqüência etc.
Resumo de um Estudante
Vamos supor que um estudante tenha estudado o texto e
produzido o seguinte resumo:
Iniciada na Grécia e utilizada pelos antigos filósofos em
discussões para defender suas idéias, através de sentenças
afirmativas e negativas. Na Idade Média, George Boole e outros
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
27
Bivalente.
Chama-se valor lógico de uma proposição a Verdade se a
proposição for verdadeira e a Falsidade se a proposição é falsa.
Para se formar proposições que exprimam diversos
pensamentos, formam-se proposições compostas por várias
proposições atômicas. Chama-se conectivo as palavras usadas
para unir duas ou mais proposições. Os conectivos básicos
são: negação, conjunção, disjunção, condicional e bicondicional.
estudiosos criaram regras para serem usadas nas
argumentações.
As proposições que transmitem pensamentos, afirmando
fatos são chamadas de Proposição Declarativa. Na álgebra de
Boole, as proposições são simbolizadas matematicamente e
usam os conectivos lógicos da álgebra comum, como:
comutativa, associativa, distributiva, assumindo só dois
valores, verdadeiro e falso.
A lógica Matemática parte de dois princípios:
Princípio da não contradição: uma proposição não pode ser
falsa e verdadeira ao mesmo tempo e o Princípio do Terceiro
28
Excluído: uma proposição só pode ser verdadeira ou falsa e
nunca um terceiro valor.
Se o valor lógico de uma proposição for a verdade, chamamos
de verdadeiro e se for falsidade chamamos de falso. Chamamos
de conectivos as palavras usadas para unir duas ou mais
proposições.
E, para este resumo, os seguintes conceitos são reconhecidos:
Lógica, Proposição, Palavra, George_Boole, Principio_1,
Principio_2, Propriedade Comutativa
De posse destes conceitos reconhecidos, a seguinte avaliação
seria feita do resumo:
Percentual de Compreensão: 55,8 %
4.3. CONCLUSÃO DO EXPERIMENTO
Esta proposta de metodologia de avaliação de resumos de
textos permite que muitos problemas sejam resolvidos na tarefa
de se medir o quanto foi entendido do texto quando um estudante
realiza um resumo. Além da enorme rapidez de avaliar um resumo
através de um artefato computacional em que o tempo de execução
do algoritmo é praticamente desprezível para um resumo de uma
página como o apresentado neste trabalho, muitas questões
pertinentes à avaliação e comparação de resultados são resolvidas
com esta metodologia.
A primeira delas se refere à padronização das avaliações. Existe
um grande problema na correção de grandes quantidades de textos
produzidos, por exemplo, em redações de vestibular onde se
formam grupos de professores para realizar a tarefa. Uma redação
não é avaliada por todos os professores do grupo e todos os
participantes do grupo não avaliam todas as redações. Aí existe o
problema de falta de padronização, apesar dos critérios serem
explícitos, sempre há uma divergência na visão de cada avaliador,
baseado na sua visão de mundo e, mais especificamente, do tema
em questão. Esta metodologia faria com que todos as redações
passassem por um processo único de avaliação. É claro que muitas
questões não seriam contempladas pelo método, pois a interpretação
do ser humano sempre trará mais requintes do que um artefato
computacional, por mais aberto à parametrização que ele seja. Porém
este artefato poderia servir como um filtro inicial para descartar
redações sem um mínimo de quesitos necessários a participar do
ranqueamento final.
Outro ponto importante proporcionado pelo método é a
exploração de um ramo do ensino que está em franca ascendência,
o Ensino à Distância. Com a possibilidade de o próprio sistema
fazer a avaliação do estudo realizado na forma de leitura de textos
e produção de resumos, repassando de forma rápida e quantitativa
os resultados aos alunos. Devido à organização dos parâmetros da
avaliação, ficaria claro ao aluno verificar os pontos que não foram
atingidos quanto a encadeamento de idéias e abrangência do
assunto.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
5 CONCLUSÃO
Este trabalho mostrou um outro paradigma para o tratamento
de textos em linguagem natural. O DMAP é uma poderosa
ferramenta para a compreensão de textos que se enquadrem na sua
condição de se ter uma memória modelada de conceitos, e que usa
as definições de compreensão que tentam reproduzir a maneira
como nós, seres humanos, realizamos tal tarefa. Pelas características
deste método, é possível a manipulação desta memória de conceitos
para diversas atividades, dentre elas o objetivo deste trabalho que é
a atribuição automática de um grau de compreensão.
Sabe-se que a pesquisa da compreensão da linguagem natural
já vem de longos anos e muitos trabalhos já foram escritos
tentando reproduzir a maneira com que nós compreendemos a
linguagem. O uso do DMAP como manipulador da memória
modelada se aproxima da maneira como nós realizamos esta tarefa.
Espera-se, então, com este trabalho, trazer uma contribuição para
área educacional na análise de textos produzidos por estudantes,
trazendo uma melhora na avaliação automática do conhecimento
adquirido.
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R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

30

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

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TRABALHO ASSALARIADO E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: A

CONSTRUÇÃO DO TRABALHADOR FLEXÍVEL DO SÉCULO XXI

Cristiane Faria Caiado

Professora da Sociedade Paranaense de Ensino e Informática (Faculdades SPEI) e das Faculdades Integradas Curitiba/Curitiba-PR, graduada em Ciências
Econômicas, especialista em Marketing Empresarial e mestre em Sociologia pela UFPR.
Endereço eletrônico: e-mail: ccaiado@terra.com.br.

RESUMO ABSTRACT

O presente trabalho trata da reestruturação produtiva dos anos
1990 e a emergência de formas flexíveis de produção de base
capitalista, nas quais o discurso empresarial evoca a necessidade de
um trabalhador “flexível”, do qual se espera o constante
compromisso de desenvolver um maior número de
“competências” individuais, além de colaborar de forma ativa na
construção de um ambiente de trabalho cujo clima evoque a idéia
de participação, aprendizado, melhoramento contínuo e agilidade
na troca de informações. A presente abordagem deriva de uma
pesquisa realizada com trabalhadores de quatro empresas do setor
automotivo, instaladas em na Região Metropolitana de Curitiba,
no estado do Paraná.
This work deals with the productive reorganization of 1990 decade
and the emergency of flexible forms of production of capitalist
basis, in which the bussiness speech evokes the demand of “a
flexible” worker, with the constant interesting to develop a bigger
number of “individual abilities”, besides collaborating of active
form in the construction of a work environment whose climate
evokes the participation idea, learning, continuous improvement
and agility in information processes. The present boarding drift of
one searches carried through with workers of four companies of
the automobile industry, installed in in Metropolitan Area of
Curitiba, state of Paraná/Brazil.

Palavras-chave Key words

Reestruturação produtiva, Controle social, Conflito capital e Productive reorganization, Social control, Capital adn work
trabalho, Indústria automobilística, Trabalho em grupo conflict, Automobile industry, Teamwork

R. Spei, Curitiba,
R. Spei, v. 5,
4, v.
Curitiba, n. 5,1,
2, n.
p. 1,
31-34,
15-23, jan./jun.
jul./dez.
jan./jun. 20042003
2004
32
1 INTRODUÇÃO
O movimento de reestruturação produtiva dos anos 1990 e a
emergência de formas flexíveis de produção evidenciam uma
singularidade do sistema capitalista que certamente responde pela
sua posição hegemônica na atualidade: a capacidade de gerar novas
soluções de modo a amenizar suas próprias contradições internas,
dotando-o sistematicamente de novas e mais refinadas ferramentas
de gestão que asseguram a intensificação do processo de exploração
do trabalho humano. As ferramentas de gestão da produção enxuta,
em suas mais variadas manifestações técnicas, tentam dar conta de
questões não resolvidas pelo sistema de produção que o antecede,
o sistema fordista de produção em massa.
Operam-se mudanças nas formas organizacionais da
produção e o que se observa é uma crescente adequação estratégica
das instituições empresariais, que passam a operar de forma
integrada com seus fornecedores de forma a acelerar os ciclos de
reprodução do capital. No aspecto da organização do trabalho,
surgem as inovações organizacionais, na forma de um “princípio
de materialização dos postos e das funções, das seqüências e arranjos
de distribuição de tarefas, assim como das modalidades de economia
de tempos e de controle aplicados à produção de mercadorias”
(Coriat, 1998, p. 15). Opera-se uma crescente intensificação do ritmo
de trabalho, num movimento contínuo de ampliação de
responsabilidades e, por extensão, das competências que compõem
o perfil desse “novo” trabalhador.
Competência e polivalência ¾ a capacidade de acumular e
executar várias atividades diferentes num mesmo período de tempo
¾ são palavras de ordem e situam-se como pré-condições para o
desenvolvimento profissional dos trabalhadores do que é comum
denominar-se regime de acumulação flexível (Harvey, 1993, p. 140).
Ser competente, portanto, transcende a esfera da qualificação, pois a
noção de competência vincula-se diretamente ao trabalhador e a
sua predisposição em acumular maiores níveis de responsabilidade
individual. O trabalhador flexível mantém com a empresa o
compromisso de desenvolver suas competências, aglutinando
responsabilidades ou funções de forma sobreposta e concomitante,
ampliando os riscos por ele assumidos no decorrer do processo
produtivo. Às atividades de produção somam-se as de manutenção
e as de gestão da qualidade do trabalho, que, no sistema flexível,
estão presente nas fases que compõem o processo de produção.
Busca-se construir no ambiente de trabalho um clima que evoque
a idéia de participação, aprendizado, melhoramento contínuo e
agilidade na troca de informações.
Para cumprir os ideais da produção flexível, o trabalhador
deve ser competitivo (enxergando seu companheiro de trabalho
como um concorrente a ser superado em uma eventual disputa
por uma promoção) e, ao mesmo tempo, agir de forma solidária
com seus companheiros, dado que a coesão do grupo é o que
assegura o cumprimento das metas de produção. Saber até que
ponto concorrer e até que ponto partilhar é o que determina a
competência desse trabalhador, a despeito da angústia gerada pela
alternância de condutas da qual passa a depender sua
per manência no quadro funcional. Preponderam os
comportamentos contraditórios, inerentes ao modelos em que
prevalece a racionalidade instrumental, expressa na atual fase da
reestruturação produtiva, “através dos programas de qualificação,
introdução de novas tecnologias e novas formas de gestão do
processo de trabalho. Essa força ideológica do discurso neoliberal
demonstra o quanto o capital precisa para, ainda, manter a separação
entre os produtores e os proprietários do meio de produção”
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
(Araújo et al., 1998, p. 67). O que vale dizer que, para estarem em
compasso com as mudanças organizacionais implementadas pela
produção enxuta, os operários observam e controlam as atividades
produtivas, fiscalizando com maior rigor a si mesmo e a seus
pares, principalmente nas fases em que a instabilidade dos mercados
flexíveis aumenta o volume das metas de produção.
Para fins de melhor ilustração das modificações inerentes à
reestruturação produtiva, a presente abordagem contará com
depoimentos de trabalhadores em empresas multinacionais do
setor automobilístico na região metropolitana da cidade de Curitiba
– PR. Instaladas nos anos de 1990, essas grandes corporações
contaram com uma intensa política de incentivos por parte dos
governos locais, um interesse vinculado, na época, à expectativa de
um aumento significativo das oportunidades de trabalho que seriam
geradas a partir do processo de implantação e manutenção das
atividades na região1.
Vale ressaltar, ainda, que a reestruturação produtiva afetou os
níveis de desenvolvimento não somente do Brasil, mas praticamente
de toda a América Latina. Na atualidade, as empresas multinacionais
contam com oportunidades de expansão não estendidas às
indústrias nacionais latino-americanas, além de aplicarem grande
parte dos lucros auferidos no aprimoramento técnico de seu próprio
capital fixo, o que acaba por ampliar as taxas de desemprego no país
e na região. Em âmbito local, o panorama da situação de Curitiba e
Região Metropolitana pode ser facilmente visualizado na tabela a
seguir.
Nas condições de progressiva ampliação do exército industrial
de reserva, as formas de controle social do trabalho, influenciadas
pela reestruturação produtiva, tomam formas diferenciadas no
ambiente produtivo, intensificando o processo de exploração do
trabalho assalariado de forma a promover a melhora dos níveis de
produtividade demandados pela produção flexível.
3 O CONTROLE SOCIAL DO TRABALHO: NOVAS
FÓRMULAS PARA VELHOS CONFLITOS
A reestruturação produtiva dos anos 1990 promove
modificações significativas nas relações de trabalho, desenvolvendo
ferramentas que potencializam o controle sobre a subjetividade do
trabalhador. Afinal, é no exercício diário do trabalho que o operário
lança mão de ações e de recursos necessários à harmonia do fluxo
produtivo. O que vale dizer que a intensidade do esforço
despendido vincula-se preponderantemente sobre seu potencial
de envolvimento com os ideais da produção.
1 Entretanto, cabe aqui ressaltar que se tratam de resultados de
natureza bastante questionável, levando-se em conta que a comparação dos
dados sobre emprego com outros fatores e com os resultados em termos
de produtividade confirma que a produção industrial, em especial a da
indústria automobilística, tem-se desenvolvido no sentido de um modelo
poupador de mão-de-obra. (Araújo, Firkowski, Motim, 2002, p. 393). O que
se observa é que em tais empresas já estão incorporados os traços
característicos do padrão flexível de acumulação, tais como equipamentos
de alta carga tecnológica e organização dos trabalhadores em times, fatores
que tendem a reverter em inibição do crescimento dos quadros funcionais.
A construção de fábricas em regiões como o Paraná explica-se pela existência
de uma força de trabalho sem herança industrial ou sindical significativa,
formada por trabalhadores ávidos por incorporar-se à massa assalariada, o
que vem a garantir níveis maiores de adesão aos novos modelos
organizacionais.

TABELA 1 — População Economicamente Ativa (PEA), Ocupados, Desocupados e Taxa de Desemprego
Paraná e RMC - 1990, 1995 e 2001
Surge o desafio de aprimorar o instrumental de controle sobre
o trabalho individual sem, contudo, promover o aprofundamento
do antagonismo entre capital e trabalho, ou seja, sem deixar que
a intensificação do controle sobre o trabalho venha a inibir o
desempenho individual do operador. Tendo como preocupação
exclusiva a criação de ferramentas que sejam capazes de controlar de
forma mais eficiente a forma através da qual o trabalho é
desempenhado, o capital depara-se com a necessidade de encontrar
métodos de aprimoramento da capacidade produtiva individual.
Nesse contexto, valorizam-se as condutas que denotem a
preocupação desse trabalhador direto com os interesses da empresa,
colocando-se seu engajamento e motivação como tema central do
projeto de trabalho.
É esse o comprometimento de ordem fundamental para a
reprodução do capital, na medida em que nele o trabalhador
transfere para si parte do controle sobre seu próprio trabalho.
Vale dizer, portanto, que é fortalecida a ênfase no controle, mas,
especificamente, sobre o controle individual, em vez do controle
gerencial, na forma de uma conduta que privilegia “a produtividade,
obediência a normas e valores da empresa, dedicação ao trabalho
(entendida como disponibilidade para realização de qualquer tipo
de tarefa) e cumprimento de jornadas de trabalho mais longas do
que as previstas em lei” (Segnini, 1989, p. 101). Nesse contexto, a
ansiedade gerada pelo controle e pela pressão por resultados
configura-se agente potencializador da eficácia do trabalho, necessária
nos períodos de intensificação das metas de produção. Nessas
situações, a pressão pelo cumprimento dos objetivos atinge a todos
os membros das equipes de trabalho2, que unem forças para atingir
um objetivo em comum.
Vale aqui ressaltar que, nas formas de controle social do
trabalho, o clima de interdependência e coesão grupal tende a
preponderar sobre os interesses individuais, em uma situação que
“a vida de grupo aparece, pois, assim, em todos os seus níveis
como um esforço solidário para estabelecer uma defesa coletiva
2 Como o controle social é uma forma de influência que deriva
das relações interpessoais — pois leva em conta as expectativas mútuas dos
envolvidos — é possível observar que existe uma eficiência maior do
gerenciamento do controle produtivo quando os trabalhadores operam
em conjunto, através do trabalho em equipe (team-work), onde cada integrante
toma para si a tarefa de supervisionar seu próprio trabalho e dos seus
companheiros, de forma a garantir o fluxo harmonioso do processo
produtivo.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
33
contra a angústia” (Pagès, 1976, p. 303). Quando todos os membros
de um grupo de trabalho estão sob a influência opressiva da
vigilância, a ansiedade em reverter situações-problema é ampliada,
o que pode garantir — mesmo que transitoriamente — a aparência
de estabilidade e domínio dos chefes e trabalhadores diretos sobre
os imprevistos gerados no decorrer da produção.
Nas empresas, a vigilância recai sobre a capacidade dos
trabalhadores em tomar iniciativas e estarem dispostos a assumir
riscos de diferentes graduações a fim de comprovarem seu
comprometimento com a lucratividade e com os objetivos da
instituição empresarial .
4 O PERMANENTE ESTADO DE CONFLITO NA
PRODUÇÃO
Quando os prazos de produção tornam-se mais curtos, a
ansiedade gerada pela conclusão da tarefa incentiva a ocorrência de
erros, que serão mais facilmente perceptíveis e alardeados quanto
mais intenso for o clima de concorrência instalado no ambiente
fabril. Afinal, na exposição de falhas alheias pode estar a chave para
uma possível promoção, ou no mínimo, a oportunidade para
alguns trabalhadores demonstrarem sua preocupação e
comprometimento com a qualidade do processo produtivo. Esse
cenário de conflito não somente desgasta, sobremaneira, os
trabalhadores que desejam a admissão definitiva (nos casos de
contratos temporários ou em regime de experiência), bem como
padroniza o comportamento “delator”.
O distanciamento do corpo técnico com as práticas cotidianas
de produção também se evidencia, na medida em que os
trabalhadores tendem a queixar-se dos métodos utilizados pela
administração científica, que, conforme verificado em vários
depoimentos, não contemplam a realidade do chão-de-fábrica. A
alegação constante é de que os engenheiros não possuem a
experiência de quem trabalha diariamente na produção, um conflito
que tende a perpetuar-se em condições em que se opera a
substituição da ação pela fabricação ¾ uma divisão entre saber e
fazer onde “o que sabe não precisa executar, e o que executa não
precisa pensar ou conhecer” (Arendt, 2001, p. 235) ¾ e a imposição
de um sistema de vigilância e controle de base estritamente técnica
e racional.
Cabe aos cargos de chefia promover o aumento dos níveis de
produtividade dos subordinados, sem a garantia de uma
contrapartida em termos de melhorias salariais, haja vista que isso
redundaria diretamente no aumento dos custos de produção, uma
condição desencorajada e nem sequer desejada pelo sistema de
produção “enxuta”. O depoimento a seguir dá mostras do
34
fenômeno das sanções que freqüentemente balizam o controle
social:
Ó, o que eu animei o pessoal foi o seguinte... quer dizer,
animei não, dei uma prensada neles mesmo, né?... eu falei pra
eles que se eles fossem bem, mais tarde eles iam ter chance na
firma (...)Quer dizer que, pra mandar embora um de nós é a
coisa mais fácil... (Caiado, 2002, entrevista nº 4).
Intensifica-se, dessa forma, a exploração do medo para fins
de manutenção ou aumento da produtividade, pois, a falta de
expectativas e até mesmo a impossibilidade de gerar melhores
condições de trabalho para seus subordinados leva os ocupantes
dos cargos de supervisão a usarem da ameaça sempre presente do
desemprego, para conseguirem aglutinar os interesses em torno
dos objetivos da produção.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A organização do trabalho na reestruturação produtiva
demanda novas formas de institucionalização das ações, da
comunicação e do controle do tempo do trabalhador. A inovação
organizacional de natureza participativa, como o trabalho em grupo,
resulta em um ônus expressivo para o trabalhador, o qual envolve
a ampliação dos níveis de desgaste emocional, resultante da
ampliação da órbita de responsabilidades.
Evidencia-se a necessidade de invisibilizar as formar de
conflito capital e trabalho, utilizando-se da manipulação do mundo
afetivo do trabalhador para as finalidades de reprodução de ordem
capitalista, num cenário em que a exploração de suas angústias ¾
medo do desemprego ¾ e de suas expectativas ¾ eventualidade
de promoção profissional ¾ é potencializada de forma consciente
e planejada pelos detentores de cargos de supervisão. O acúmulo
de tarefas passa a ser uma situação cotidiana no ambiente do chão-
de-fábrica, dado que a manutenção do controle do processo de
trabalho repousa, em grande parte, no desenvolvimento de técnicas
voltadas à maximização de resultados e de competências individuais
. RUY de Q. (Org.).Automação, competitividade e trabalho: a
Prolifera-se o uso de palestras de motivação e treinamentos
de natureza comportamental, principalmente no sentido de formar
novos líderes, denominados “facilitadores” da produção, que
também são os responsáveis pela aplicação de avaliações individuais
aos trabalhadores. São eles que sinalizam as normas de conduta
vinculadas a eventuais aumentos salariais, a promoções na carreira
ou, no limite, à permanência no emprego, mesmo que por tempo
indeterminado.
É priorizada a predisposição em acumular e fazer uso de
competências no decorrer do processo de trabalho, vinculando-se
o grau de comprometimento e o envolvimento emocional do
trabalhador com os ideais de lucratividade da empresa. Nesse
contexto, emerge a emoção como fonte de intensificação do controle
social, instrumentalizada pela racionalidade do trabalho organizado.
Uma emoção que é administrada de forma a garantir a manutenção
ou aumento dos níveis de produtividade e competitividade
empresariais. Um controle amenizado, na medida em se opera na
consciência e individualidade de cada trabalhador, que tende a vigiar
constantemente seu próprio trabalho, a fim de evitar a incidência
de erros. Uma estratégia que pretende invisibilizar a existência do
conflito e das relações de dominações inerentes ao sistema de
reprodução material, como é possível constatar na presente
argumentação: “se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
outra coisa a não ser dizer não, você acredita que seria obedecido? O
que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é
simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não,
mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma
saber, produz discurso” (Foucault, 2002, p. 8).
As limitações que ora permeiam o presente trabalho são
peculiares aos temas de intensa complexidade filosófico-sociológica
e as que ora se apresentam são fruto do cuidado metodológico em
evitar distanciamentos do objeto central da abordagem. Os limites,
nesse contexto, podem ser entendidos como provocações para
novos esforços de pesquisa, a serem empreendidos a partir da
grande diversidade de temáticas nesse trabalho abordadas e,
indiscutivelmente, merecedoras de aprofundamento e de
investigação científica mais detalhada.
REFERÊNCIAS
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a racionalidade técnica e a a lógica social. História. Questões &
Debates. Curitiba, ago-dez. 1998, n. 29, p. 59-82.
ARAÚJO, S. M. P.; FIRKOWSKI, O. L. C.; MOTIM, B. M. L.
Indústria automobilística no Paraná: implicações sobre o emprego
e as relações de trabalho.CARVALHO, A. M.; NABUCO, M. R.;
NEVES, M. A. (Org.). Indústria automotiva: a nova geografia do
setor produtivo. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 365-396.
ARENDT, H. A condição humana. 10. ed., Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2001.
CAIADO, C. F. O jogo da transgressão nos times de trabalho e os
dilemas da competência individual no grupo: o caso da indústria
automobilística no Paraná. Versão provisória dissertação de
mestrado em Sociologia – UFPR. Entrevistas. Curitiba, set. 2003.
CORIAT, B. Automação programável: novas formas e conceitos
de organização da produção. In: SCHMITZ, H.; CARVALHO,
experiência internacional. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 13-62.
DIEESE. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Sócio-Econômicos. Disponível em <http://www.dieese.org.br>
Acesso em mai. 2003.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal,
2002.
HARVEY, D. (1993). Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola,
1993.
MARX, K. Processo de trabalho e processo de produzir mais-
valia. V. 1, p. 201-259. Juro e lucro do empresário. v. 5, p. 427-449.
In: O Capital. 7. ed. São Paulo: Difel, 1982.
PAGÈS, M. A vida afetiva dos grupos: esboço de uma teoria da
relação humana. Petrópolis, Vozes: Sào Paulo, Edusp, 1976.
SEGNINI, L. R. P. Sobre a identidade do poder nas relações de
trabalho. In. FLEURY, M. T.; FISCHER, R. M., (Coord.). Cultura
e poder nas organizações. São Paulo: Atlas, 1999. p. 89-112.
 35

ASSÉDIO MORAL NAS ORGANIZAÇÕES

Michely Juglair Saldanha

Graduanda do Curso de Bacharel em Administração Habilitação Geral com ênfase em Informática. E-mail: michely_juglair@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT

Este artigo tem por objetivo tornar mais conhecido o tema assédio
moral, pois tal assunto vem tomando cada vez mais espaço nas
organizações. Poucos ainda sabem sobre o assunto, mesmo que
tal atitude afete a maioria das pessoas e há muito tempo. Assédio
moral no trabalho não é um fenômeno novo. Poder-se-ia se dizer
que ele é tão antigo quanto o trabalho. A novidade reside na
intensificação, gravidade, amplitude e banalização do fenômeno e
na abordagem que tenta estabelecer o nexo causal com o trabalho e
tratá-lo como não inerente a este.
This article has for objective to become more known the subject
moral siege, therefore such subject comes taking each time more
space in the organizations, few still knows on the subject, exactly
that such attitude happens with the majority of the people and
has much time. Moral siege in the work is not a new phenomenon.
It could say that it is so old how much the work. The newness
inhabits in the intensification, gravity, amplitude and indifference
of the phenomenon and in the boarding that tries to establish the
nexus-causal one with the work and to treat it as not inherent to
the work.

Palavras-chave Key words

Assédio Moral, Produtividade, Humilhação Moral Siege, Productivity, indifference

R. Spei,
R.R.Spei,
Spei, Curitiba,
Curitiba,
Curitiba, 4,v.n.n.5,2,1,
v.v.4,5, 2,n.p.p.1,15-23,
jan./jun.
35-40,
15-23, 20042003
jul./dez.
jan./jun.
jul./dez. 2003
2004
36
1 INTRODUÇÃO
A maioria das pessoas passa a maior parte do tempo em seu
local de trabalho, portanto nada mais importante do que um local
apropriado e com boas condições. Todo empregado necessita de
um ambiente no qual se sinta bem, satisfeito e aceito.
Quer-se, com esta pesquisa, aprofundar um tema atual que
cada vez mais toma conta dos ambientes de trabalho, e que prejudica
muito o desempenho do trabalhador, apesar de ser ainda pouco
conhecido – o assédio moral. Tal comportamento é a exposição
dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e
constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de
trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em
relações hierárquicas autoritárias, nas quais predominam condutas
negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou
mais chefes dirigidas a um subordinado, desestabilizando a relação
da vítima com o ambiente de trabalho e a organização.
Muitos sofrem deste mal e não conseguem mudar a situação
ou fazer com que ela se finde, pois ou possuem medo de perder o
emprego, ou de ser mal interpretados. No final os agressores
continuam agindo desta forma, trazendo todo este mal para mais
e mais empregados.
Este tema ganhou força com a repercussão da publicação na
França do livro de Marie France Hirigoyen “Harcelement Moral: la
violence perverse au quotidien” e sua posterior tradução e publicação
em 2000 no Brasil pela Editora Bertrand sob o título: Assédio
moral: a violência perversa no cotidiano.
Também recentemente, o HSBC Banco Múltiplo S/A
mencionou este assunto em um de seus magazines internos,
mostrando a importância da divulgação e conscientização por parte
das pessoas em relação a este tema.
Espera-se trazer consciência e conhecimento com esta
pesquisa. Consciência para aqueles que sofrem o assédio, pois não
precisam passar por este tipo de situação e podem recorrer ou fazer
queixas. E conhecimento para aqueles que pouco sabem sobre o
assunto e que podem estar sendo vítimas deste tipo de agressão
sem perceber.
O Assédio Moral traz tanto malefícios para o empregado
quanto para a empresa, que perde em satisfação e produtividade. A
organização que oferece as condições necessárias a seu empregado
tenderá a um crescimento permanente, por isso cabe a ela implantar
a QVT e colaborar para que tais fatos não ocorram.
2 BASE TEÓRICA
2.1 CONCEITO
Segundo Freitas (2001) assédio moral é toda conduta abusiva
que se manifesta notadamente por comportamentos, palavras, atos,
gestos, que podem causar danos à personalidade, à dignidade ou à
integridade física ou psíquica de uma pessoa, colocando em risco o
emprego desta ou degradando o clima de trabalho.
2.2 SOBRE O ASSÉDIO MORAL
Conforme Hirigoyen (2002), não costumamos em nosso
cotidiano falar sobre perversidade, no entanto agressões auxiliam
um processo inconsciente de destruição psicológica, constituído
de procedimentos hostis, evidentes ou escondidos, de um ou
vários indivíduos sobre o outro, na forma de palavras insignificantes,
que podem desestabilizar uma pessoa ou mesmo destruí-la
psicologicamente.
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
Mesmo sendo um tipo de comportamento existente já há
vários anos, somente na década de 90 foi que ele foi detectado
como algo altamente prejudicial e destrutível no ambiente de
trabalho. O assédio normalmente surge de forma insignificante e
propaga-se pelo fato das pessoas envolvidas se recusarem a
formalizar a denúncia e deixarem a situação passar, sendo que em
seguida a essa atitude os ataques aumentam e a vítima é
regularmente acuada, colocada em estado de inferioridade,
submetida a manobras hostis e degradantes por longo período.
Apesar disso, o referido fenômeno vinha sendo tratado e
confundido com outros problemas do mundo do trabalho como
stress ou conflito natural entre colegas e agressões pontuais, o que
sempre prejudicou a caracterização e prevenção, quadro este que
começou a ser alterado, com os avançados dos estudos de Heinz
Leymann, Psicólogo do Trabalho sueco (apud Salvador, 2003).
Segundo o site Desafio 21 (http://notitia.truenet.com.br/
desafio21/ apud Veja) uma pesquisa conduzida pela escola de
negócios Kenan-Flager procurou comprovar os danos causados
pela violência verbal. Dos funcionários submetidos a situações do
gênero, 37% disseram que a dedicação ao trabalho diminuiu após
o episódio e 46% pensaram seriamente em trocar de emprego,
plano colocado em prática por 12%. Agora, já existe até manual de
comportamento: o Cuss Control, o controle do hábito de praguejar,
do consultor James O’Connor.
No Brasil, o tema é pouco discutido, mas os números também
assustam. Estudo feito com 97 empresas de São Paulo (setores
químico, plástico e cosmético) mostra que, dos 2.072 entrevistados,
870 deles (42%) apresentam histórias de humilhação no trabalho.
Segundo o estudo, realizado pela médica Margarida Barreto,
pesquisadora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo), as mulheres são as maiores vítimas -65% das entrevistadas
têm histórias de humilhação, contra 29% dos homens, conforme
descreve Buratto (2003).
Moreira (2003) também informa que apenas alguns países
como Suécia, Alemanha, Itália, Austrália e Estados Unidos têm
legislação para proteger as vítimas do assédio moral.
2.3 A VIOLÊNCIA
Segundo Hirigoyen (2002), pequenos atos perversos são tão
corriqueiros que parecem normais para nós que pouco conhecemos
do assunto. Começam com uma simples falta de respeito, uma
mentira ou uma forma de manipulação.
Essa destruição moral sempre existiu, seja nas famílias, nessas
um tanto oculta, seja nas empresas, onde as pessoas não a levam
em conta na época de muita oferta de emprego. Porém hoje, elas se
agarram desesperadamente ao seu trabalho, pela escassez deste,
pela saúde, tanto física quanto psíquica.
Se o grupo em que se vive não se manifesta, tais condutas
passam a ser muito mais freqüentes e preocupantes, refletindo
principalmente na saúde psicológica das vítimas.
Cada detalhe, se considerado isoladamente, parece
insignificante, mas é o seu conjunto que cria um processo destrutivo.
O assédio nasce como algo inofensivo e propaga-se rápida e
crescentemente. Em um primeiro momento as pessoas envolvidas
não querem mostrar-se ofendidas e levam na brincadeira as
desavenças e os maus tratos. Em seguida esses ataques vão
aumentando e a vítima é seguidamente agredida, submetida a
situações de inferioridade, entre outras.
Não se pode confundir o assédio com um comentário
ofensivo em um momento de irritação ou mau humor, quando

precedido de um pedido de desculpas. É a repetição de vexames,
de humilhações, sem qualquer intenção de abrandar a situação que
torna o fenômeno destruidor.
Condutas mais comuns que caracterizam o assédio moral,
segundo cartilha elaborada por Magalhães (2003):
§ Dar instruções confusas e imprecisas ao trabalhador;
§ Bloquear o andamento do trabalho alheio;
§ Atribuir erros imaginários ao trabalhador;
§ Pedir-lhe sem necessidade, trabalhos urgentes ou sobrecarregá-
lo com tarefas;
§ Ignorar a presença do trabalhador na frente dos outros e/ou
não cumprimentá-lo ou não lhe dirigir a palavra;
§ Fazer críticas ao trabalhador em público, ou ainda, brincadeiras
de mau gosto;
§ Impor-lhe horários injustificados;
§ Fazer circular boatos maldosos e calúnias sobre o trabalhador
e/ou insinuar que ele tem problemas mentais ou familiares;
§ Forçar a demissão do trabalhador e/ou transferi-lo do setor
para isolá-lo;
§ Pedir-lhe a execução de tarefas sem interesse e/ou não lhe
atribuir tarefas;
§ Retirar seus instrumentos de trabalho (telefone, fax,
computador, mesa, etc.);
§ Agredir o assediado somente quando o assediador e vítima
estão a sós; e
§ Proibir colegas de falar e almoçar com o trabalhador.
2.4 O AGRESSOR
Os Perfis mais conhecidos segundo o site Assédio Moral
(www.assediomoral.org apud Barreto, 2000) são:
Profeta: Sua missão é “enxugar” o mais rápido possível a
“máquina”, demitindo indiscriminadamente os trabalhadores/as.
Refere-se às demissões como a “grande realização da sua vida”.
Humilha com cautela, reservadamente. As testemunhas, quando
existem, são seus superiores, mostrando sua habilidade em
“esmagar” elegantemente.
Pitt-bull: é o chefe agressivo, violento e perverso em palavras
e atos. Demite friamente e humilha por prazer.
Troglodita: É o chefe brusco, grotesco. Implanta as normas
sem pensar e todos devem obedecer sem reclamar. Sempre está
com a razão. Seu tipo é: “eu mando e você obedece”.
Tigrão: Esconde sua incapacidade com atitudes grosseiras e
necessita de público que assista seu ato para sentir-se respeitado e
temido por todos.
Mala-babão: É aquele chefe que bajula o patrão e não larga
os subordinados. Persegue e controla cada um com “mão de ferro”.
É uma espécie de capataz moderno.
Grande irmão: Aproxima-se dos trabalhadores/as e mostra-
se sensível aos problemas particulares de cada um, independente
se intra ou extra-muros. Na primeira “oportunidade”, utiliza estes
mesmos problemas contra o trabalhador, para rebaixá-lo, afastá-lo
do grupo, demiti-lo ou exigir produtividade.
Garganta: É o chefe que não conhece bem o seu trabalho,
mas vive contando vantagens e não admite que seu subordinado
saiba mais do que ele. Submete-o a situações vexatórias, como por
exemplo: colocá-lo para realizar tarefas acima do seu conhecimento
ou inferior à sua função.
Tasea:”Ta se achando”: Confuso e inseguro. Esconde seu
desconhecimento com ordens contraditórias: começa projetos
novos, para no dia seguinte modificá-los. Exige relatórios diários
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
37
que não serão utilizados. Não sabe o que fazer com as demandas
dos seus superiores. Se algum projeto é elogiado pelos superiores,
colhe os louros. Em caso contrário, responsabiliza a
“incompetência” dos seus subordinados.
2.5 A VÍTIMA
Conforme Hirigoyen (2002) descreve em seu livro, a
humilhação constitui um risco invisível, porém concreto nas relações
de trabalho e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, revelando
uma das formas mais poderosa de violência sutil nas relações
organizacionais, sendo mais freqüente com as mulheres e adoecidos.
Sua reposição se realiza invisivelmente nas práticas perversas e
arrogantes das relações autoritárias na empresa e sociedade. A
humilhação repetitiva e prolongada tornou-se prática costumeira
no interior das empresas, onde predomina o menosprezo e
indiferença pelo sofrimento dos trabalhadores/as, que mesmo
adoecidos/as, continuam trabalhando.
Freqüentemente os trabalhadores/as adoecidos são
responsabilizados/as pela queda da produção, acidentes e doenças,
desqualificação profissional, demissão e conseqüente desemprego.
São atitudes como essas que reforçam o medo individual ao mesmo
tempo em que aumenta a submissão coletiva construída e alicerçada
no medo. Por medo, passam a produzir acima de suas forças,
ocultando suas queixas e evitando, simultaneamente, serem
humilhados/as e demitidos/as.
Os laços afetivos que permitem a resistência, a troca de
informações e comunicações entre colegas, se tornam ‘alvo
preferencial’ de controle das chefias se alguém do grupo, transgride
a norma instituída. A violência se concretiza em intimidações,
difamações, ironias e constrangimento da vítima diante de todos,
como forma de impor controle e manter a ordem.
Em muitas sociedades, ridicularizar ou ironizar crianças
constitui uma forma eficaz de controle, pois ser alvo de ironias
entre os amigos é devastador e simultaneamente depressivo. Neste
sentido, as ironias mostram-se mais eficazes que o próprio castigo.
O/A trabalhador/a humilhado/a ou constrangido/a passa a
vivenciar depressão, angustia, distúrbios do sono, conflitos internos
e sentimentos confusos que reafirmam o sentimento de fracasso e
inutilidade.
Conforme descreve o site www.assediomoral.org (seção - o
que a vítima deve fazer ?), a vítima deve saber de alguns critérios
para se defender ou não sofrer assédio moral, e tais critérios são:
§ Resistir: anotar com detalhes todas as humilhações sofridas
(dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas
que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais achar
necessário);
§ Dar Visibilidade: procurando a ajuda dos colegas
principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que já
sofreram humilhações do agressor;
§ Organizar: o apoio é fundamental dentro e fora da empresa;
§ Evitar conversar com o agressor: sem testemunhas, ir sempre
com colega de trabalho ou representante sindical;
§ Exigir por escrito: explicações do ato do agressor e permanecer
com cópia da carta enviada ao DP ou RH e da eventual
resposta do agressor;
§ Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e
outras instancias como: médicos ou advogados do sindicato
assim como: Ministério Público, Justiça do Trabalho,
Comissão de Direitos Humanos e Conselho Regional de
Medicina;
38
§ Recorrer ao Centro de Referência em Saúde dos Trabalhadores
e contar a humilhação sofrida ao médico, assistente social ou
psicólogo; e
§ Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto
e a solidariedade são fundamentais para recuperação da auto-
estima, dignidade, identidade e cidadania.
2.6 CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL
Para a Vítima
Hirigoyen (2002) também descreve em seu livro que as
emoções são constitutivas de nosso ser, independente do sexo.
Entretanto a manifestação dos sentimentos e emoções nas situações
de humilhação e constrangimento é diferenciada segundo o sexo:
enquanto as mulheres são mais humilhadas e expressam sua
indignação com choro, tristeza, ressentimentos e mágoas,
estranhando o ambiente que identificava como seu, os homens
sentem-se revoltados, indignados, desonrados, com raiva, traídos
e têm vontade de vingar-se. Sentem-se envergonhados diante da
mulher e dos filhos, sobressaindo o sentimento de inutilidade,
fracasso e baixa auto-estima. Isolam-se da família, evitam contar o
acontecido aos amigos, passando a vivenciar sentimentos de
irritabilidade, vazio, revolta e fracasso.
Passam a conviver com depressão, palpitações, tremores,
distúrbios do sono, hipertensão, distúrbios digestivos, dores
generalizadas, alteração da libido e pensamentos ou tentativas de
suicídios que configuram um cotidiano sofrido. É este sofrimento
imposto nas relações de trabalho que revela o adoecer, pois o que
adoece as pessoas é viver uma vida que não desejam, não escolheram
e não suportam.
Para a Empresa
Segundo a Cartilha elaborada por Magalhães (2003), as
conseqüências do assédio moral refletem em muitos aspectos
negativos para a empresa, os principais são:
§ Queda da produtividade e menor eficiência;
§ imagem negativa da empresa perante os consumidores e
mercado de trabalho;
§ Alteração na qualidade do serviço/produto e baixo índice de
criatividade;
§ Doenças profissionais, acidentes de trabalho e danos aos
equipamentos;
§ Trocas constantes de empregados, ocasionando despesas com
rescisões, seleção e treinamento de pessoal; e
§ Aumento de ações trabalhistas, inclusive com pedidos de
reparação por danos morais.
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
3.1 MÉTODO UTILIZADO
Foram escolhidos dois métodos para a pesquisa em questão:
3.1.1 Pesquisa Bibliográfica
Conforme Gil (2002) explica, a pesquisa bibliográfica é
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. Boa parte dos estudos
exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. Gil
também informa a classificação das fontes bibliográficas, estas
podem ser: livros (de leitura corrente e de referência), publicações
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
periódicas (jornais e revistas) e impressos diversos.
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato
de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos
muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.
Em contrapartida muitas vezes as fontes secundárias apresentam
dados coletados ou processados de forma equivocada.
3.1.2 Levantamento
Segundo Gil (2002), as pesquisas de levantamento
caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à
solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas
acerca de um problema estudado, para em seguida, mediante análise
quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados
coletados.
3.2 AMOSTRA
Vinte e quatro pessoas responderam ao questionário. Todos
são profissionais ativos, da cidade de Curitiba, com média de idade
entre 18 e 45 anos de ambos os sexos, dos mais variados segmentos
(ex: bancos, comércio de veículos, geradores, varejo de armarinhos,
entidade ligada a esportes, fabricação de equipamentos industriais,
entre outros).
3.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
3.3.1 Limitações no uso do levantamento
Principais desvantagens no uso deste método, conforme Gil
(2002) descreve:
Ênfase nos aspectos perceptivos: no levantamento os dados
coletados são referentes à percepção que as pessoas têm acerca de si
mesmas, porém a percepção às vezes pode ser subjetiva, o que
pode trazer dados distorcidos.
Pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos
sociais: no uso de levantamentos, é possível a obtenção de um
grande número de informações a respeito dos indivíduos. Porém
os fenômenos sociais são determinados principalmente por fatores
interpessoais e institucionais. Os levantamentos então tornam-se
pouco adequados para a investigação profunda desses fenômenos.
Limitada apreensão do processo de mudança: o método em
questão – levantamento – proporciona uma visão estática do
fenômeno estudado, porém não indica suas tendências à variação e
muito menos a possíveis mudanças estruturais.
4 ANÁLISE DE DADOS
Gráfico 1 – Idade dos Entrevistados
Fonte: pesquisa de campo
 39

Neste tópico apresentam-se de forma tabulada os dados da 45,83% dos entrevistados não acham que o assédio sexual
pesquisa realizada, visando o desenvolvimento dos raciocínios possa ser uma conseqüência do assédio moral, más conforme gráfico
apresentados em base teórica. O gráfico 1 mostra que os 4 a grande maioria ou 60% não tem conhecimento sobre as
entrevistados são de diversas faixas etárias dando uma boa conseqüências do assédio moral.
explanação do que cada faixa tem conhecimento na pesquisa
apresentada. Gráfico 5 - Identificação de Assédio Moral.
Verifica-se que 50% dos entrevistados são da faixa de 18 a 25
anos e 33% entre 26 a 33 anos.
Quando questionados a respeito do conhecimento sobre
assédio moral, percebeu-se que 60% dos entrevistados não possuía
conhecimento sobre o tema, os resultados podem ser vistos
(Gráfico 2).

Gráfico 2 – Conhecimento sobre o Tema

Fonte: pesquisa de campo

Gráfico 6 - Humilhações / Agressões

Fonte: pesquisa de campo

37,5% dos respondentes relataram que sofreram assédio no

ambiente de trabalho, porém ao perguntar aos mesmos, o que era
assédio moral verificou-se que a maioria dos entrevistados pouco
conhecia sobre este assunto. Muitos confundem assédio com
desavenças, mau humor, cobranças do dia-a-dia. Conforme Gráfico
3, dos 37,5% assediados moralmente apenas 13% denunciaram o
fato e 33,33% calaram sobre o ocorrido. Fonte: pesquisa de campo
Gráfico 3 – Defesa/Atitudes do Assediado
Gráfico 7 - Agressão Física

Fonte: pesquisa de campo

Fonte: pesquisa de campo

5 CONCLUSÃO

Gráfico 4 -Conhecimento das conseqüências A análise dos resultados do questionário comprova a

veracidade dos conceitos de que o assédio moral ocorre diariamente
na maioria das empresas seja ela de pequeno, médio ou grande
porte e, mesmo diante desta verdade, poucas pessoas sabem
identificar este tipo de agressão.
A falta de conhecimento sobre este tipo de atitude é a maior
dificuldade constatada nesta pesquisa, pois na maioria dos casos as
pessoas confundem assédio moral com outros tipos de agressão
ou até mesmo aceitam o agressor por não conhecerem seus direitos.
O assédio moral ultrapassa o mundo dos casais, famílias e
empresas. Estas agressões estão presentes em todos os grupos em
Fonte: pesquisa de campo que indivíduos possam entrar em rivalidade, inclusive nas escolas

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

40

e universidades. SALVADOR, L. Disponível em: http://www.sindjers.org.br/

Sempre existiram seres inescrupulosos, per versos, artigo_assedio_moral.htm. Acessado em 03/11/2003.
manipuladores, para os quais os fins justificam os meios. A
multiplicação atual dos atos de perversidade nas famílias e nas SIMÕES, A. G. Disponível em: http://www.botucatu.sp.gov.br/
empresas é um indicador do individualismo que predomina em artigos/artigos/assedio_moral.pdf. Acessado em 01/10/2003.
nossa sociedade. Em um sistema que funciona com base na lei do
mais forte, os perversos são reis. Quando o sucesso é o valor TANYA, A. JAMES K. Pressão no trabalho – Stress, um guia
principal, a honestidade parece fraqueza e a perversidade assume de sobrevivência. 2. ed. São Paulo: Mc Graw Hill,1988.
um ar de superioridade.
Vários dirigentes ou políticos, apesar de estarem na posição
de modelos para os mais jovens, não se intimidam quando querem
liquidar um rival ou manter-se no poder. Alguns usam de pressões
psicológicas, ou de direito de sigilo para proteger sua vida privada.
Outros enriquecem graças ao uso de bens sociais, fraudes ou
sonegação fiscal. Se esta perversão não é denunciada, ela se espalha
de forma rápida se não pela intimidação, pelo medo ou pela
manipulação.
Se não quisermos mais profissionais com esses sintomas
destruidores devemos dar mais atenção às crianças e aos jovens,
que crescem cada vez mais em um mundo corrupto, onde conseguir
as coisas pelo modo errado é mais fácil, porém as pessoas envolvidas
nesse caminho, têm suas vidas massacradas e destruídas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, A. N. Disponível em: www.uerj.br/eventos/

seminario/angela.doc. Acessado em 03/11/2003.

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medir para melhorar. Casa da Qualidade. Salvador, 1996.

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poder perverso nas organizações. RAE – Revista de
Administração de Empresas. São Paulo, volume 41, número 2, p.
8-19, abr./jun. 2001.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São

Paulo: Atlas, 2002.

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Cotidiano. 3º Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 219p.

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63, fevereiro de 2002.

MOREIRA, B. L. Disponível em: http://

www.lmcpartners.com.br/lmc/artigos. Acessado em 10/09/2003.

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

 41

MÍDIA EXTERIOR: DIFERENCIAL PARA FIXAÇÃO DE MARCAS

Deisi Laube

Graduando o Curso de Administração com ênfase em Informática nas Faculdades SPEI.. E-mail: dbz_buma@pop.com.br

Elianay da Silveira

Graduando o Curso de Administração com ênfase em Informática nas Faculdades SPEI. E-mail: elianay_silveira@hotmail.com

RESUMO ABSTRACT

Este artigo aborda assuntos relacionados à mídia externa. Tem por
objetivo mostrar a influência causada na decisão de compra do
consumidor, assim como seu principal atributo: a fixação de marcas.
Abrange ainda conceitos de mídia exterior, os principais tipos e
identifica o meio que mais impacta seu público alvo e analisa a
eficácia dos veículos de mídia externa.
This article approaches issues related of external media. The objective
is to expose the influence of that, over the purchase decision of
custommers and your principal quality: to fix the trade mark. Cover
yet, external media concepts, its most important kinds and identify
what kind have more impact on target and analyze the effectiveness
of each kind of external media.

Palavras-chave Key words

Mídia Externa; Tipos de Mídia; Fixação de Marca; Influência na External Media; Type of Media; Fix The Trade Mark; Influence
decisão de compra. in decision of purchase.

R. Spei, Curitiba,
R. Spei, v. 5,
4, v.
Curitiba, n. 5,1,
2, n.
p. 1,
41-46,
15-23, jan./jun.
jul./dez.
jan./jun. 20042003
2004
42
1 INTRODUÇÃO
A imagem da mídia exterior nunca foi propriamente
positiva. Em parte, pela escassez de informações técnicas,
problema ainda enfrentado pelas mídias, mas também pela pouca
criatividade que possibilita e ainda porque, em geral, é apenas
considerada parte complementar da campanha.
Por outro lado, uma característica marcante deste tipo de
mídia é a grande visibilidade e o impacto da mensagem,
permitindo que a marca seja rapidamente conhecida. Outra
vantagem é a diversidade de mercados e segmentos que se
pode atingir através da possibilidade de exposição continuada
no dia-a-dia das pessoas, na rua, onde elas passam a maior
parte de suas horas, e por isso estão mais próximas do público,
caminhando junto com ele.
Este artigo tem por objetivo mostrar as vantagens da mídia
externa e como ela se torna uma estratégia de fixação das marcas.
O artigo está organizado da seguinte forma: na próxima
seção apresenta-se a fundamentação teórica referente à
necessidade que uma empresa tem de divulgação e outros
aspectos relacionados Na seção seguinte, é descrita a
metodologia de pesquisa. Na quarta seção analisam-se os dados
para na seção final, concluir-se o artigo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A NECESSIDADE DE DIVULGAÇÃO
Segundo Kotler (2001) “O ponto de partida para o estudo
do marketing reside nas necessidades e desejos humanos”.
Quando deu-se início a industrialização e esta, por sua vez foi
crescendo e se desenvolvendo, surgiu a competitividade entre
empresas que produziam o mesmo tipo de produto ou serviço.
Para atingir a liderança no mercado, a empresa precisaria vender
mais do que suas concorrentes. Para tanto, a empresa precisaria
divulgar seus produtos para o maior número possível de pessoas,
deveria passar para estas pessoas, agora chamadas clientes, a
necessidade da aquisição de seu produto.
Para que ocorra a divulgação do produto ou serviço, existe a
propaganda. Ela pode ser um diferencial de peso para as empresas
atingirem a liderança no mercado competitivo, podendo-se
também, usar a propaganda para construir marcas e empresas de
sucesso.
Sampaio (1997) relata que se olharmos a nossa volta, vamos
ver muitos produtos que, apesar de bastante conhecidos, precisam
estar sempre sendo mostrados aos consumidores. Principalmente
quando dizem respeito a mercados em que a concorrência é acirrada
e a diferença entre os diversos competidores é pequena.
Por isso, a propaganda é vital para os principais produtos de
consumo, que são mais vendidos quando mais anunciados ou
divulgados.
2.2 O CLIENTE E A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA
Hoje em dia, o que se verifica no mercado é um crescente
aumento da concorrência, exigindo cada vez mais das empresas
uma posição firme e orientada para o cliente. Neste sentido, os
profissionais de marketing, em especial, devem valer-se de todas
as ferramentas possíveis para desenvolver uma vantagem
competitiva em relação aos concorrentes, buscando sempre
oferecer produtos e serviços que satisfaçam os desejos e
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
necessidades dos seus clientes. Eles são peças-chave em
qualquer negócio. Por isso a propaganda deve manter o foco
principal no seu cliente direto e fazer disso a sua estratégia de
marketing.
2.3 O COMPOSTO DE MARKETING: OS QUATRO PS
Toda empresa deve determinar sua estratégia para apresentar
sua oferta ao mercado e, dentre as conhecidas, a mais largamente
adotada é a do composto de marketing. O composto de marketing
pode ser definido como o conjunto de variáveis controláveis que a
empresa pode utilizar para influenciar as respostas dos
consumidores.
De acordo com McCarthy (1997), essas variáveis podem ser
classificadas em quatro fatores: Produto, Preço, Ponto de Venda,
Propaganda & Promoção.
§ Primeiro “P”: A Qualidade do Produto.
É imprescindível estudar, conhecer, para poder divulgar, os
pontos qualitativos de cada item de venda dos produtos,
objetivando destacá-los positivamente em face da concorrência,
muito acirrada hoje em dia, em qualquer segmento de mercado.
§ Segundo “P”: o Preço
Definir se um preço é alto ou baixo está diretamente
relacionado à menor ou maior “propensão de consumo”, vista em
cada uma das faixas do nosso alvo mercadológico, em função do
grau de capacidade do produto para satisfazer a necessidade do
consumidor.
§ Terceiro “P”: o Ponto de Venda
O ponto de venda ou distribuição pode ser entendido como
a combinação de agentes através dos quais o produto flui, desde o
vendedor inicial (geralmente o fabricante) até o consumidor final.
§ Quarto “P”: Propaganda & Promoção
A propaganda e a promoção de vendas operam no sentido
de atingir o subconsciente do consumidor com a penetração do
apelo, influenciando sua decisão de compra. É através da repetição
de um conceito que ele se infunde e difunde, fazendo variar a
opinião do mercado, mas é preciso existir persistência para que ela
se mantenha. Fator preponderante é o desenvolvimento de
campanhas promocionais de impacto e a seleção adequada dos
veículos e meios de divulgação.
2.4 AS MÍDIAS
Segundo Sampaio (1997) a mídia tem como função essencial
cuidar da veiculação mais adequada das mensagens publicitárias
dos clientes da agência. Seu trabalho geralmente começa ainda na
fase de planejamento, quando ajuda nas principais decisões relativas
aos meios de comunicação a serem empregados e aos formatos de
mensagem a serem utilizados.
Escolher o melhor veículo (ou conjunto deles) é tarefa que
pode ser muito simples ou extremamente complexa, dependendo
do objetivo publicitário que se estiver buscando, da quantidade e
especificidade do público-alvo visado, dos recursos disponíveis
para essa tarefa e das características de cada veículo.
Em princípio, todo e qualquer veículo é útil à determinada
função publicitária, sendo menos ou mais eficiente à medida que
for pior ou melhor, utilizado pelo anunciante e sua agência.
2.5 A MÍDIA EXTERNA
Um meio de propaganda que está em constante crescimento

na área publicitária e a “mídia externa”. Mídia exterior é a
denominação genérica dos meios de comunicação que expõem
propaganda ao ar livre.
Esta forma de comunicação engloba todas as possibilidades
de canais de comunicação ao ar livre e ambiente externo. Ela é
excelente para a fixação da marca, pois a aproxima do consumidor
no seu dia-a-dia.
Assim como a mídia impressa exclui meios como revista e
jornal, a mídia eletrônica, rádio, televisão e Internet, a mídia exterior
engloba diversas formas de veicular mensagens publicitárias, como
por exemplo, fachadas, totem, triedro, painel digital, outdoor, entre
outros.
O planejamento estratégico, o investimento em novos
formatos e a comercialização em mídia exterior visam obter o melhor
custo x benefício do setor, sem perder de vista a qualidade e o
principal objetivo: o reconhecimento de sua marca.
As campanhas de mídia extensiva, necessariamente, tendem
a ter uma freqüência contínua, uma série de anúncios espalhados
em lugares diversificados para assim obter-se um eficiente resultado
de fixação da marca. Esta regra serve para anúncios em relógio/
termômetro, busdoor, letreiro, outdoor e taxidoor. Com relação
aos anúncios em empena, front-light e topo, por exemplo, podem
ser feitos em um único lugar, desde que com destaque suficiente
para atrair a atenção do cliente.
A mídia exterior é mais eficiente quando associada a outros
meios, dentro de conceito geral de campanha. Ela é eficiente
combinada com as mídias tradicionais. A eficácia da mídia exterior
está na segmentação, na busca de freqüência e numa maior
visibilidade da marca.
A mídia externa, em determinado momento, já foi chamada
de mídia complementar, há pouco tempo de mídia alternativa e
hoje ainda é chamada de mídia extensiva. Raramente há uma
campanha exclusiva para o meio. Por isso fica cada vez mais necessária
à busca por novidades, seja de técnicas gráficas seja de produção,
que contribuam para melhorar a qualidade do produto final.
O mercado considera que esse meio produz efeitos
surpreendentes para os resultados esperados em relação à fixação
da marca. Por outro lado, a maior viabilização de idéias estimula a
criação para essa mídia. A evolução do meio também faz com que
tenha maior aceitação pelo cliente.
A busca pelo diferencial é cada vez maior. O trabalho com
mídia exterior faz parte do contexto urbano, de forma que o meio
pode trazer benefícios e embelezamento para a cidade.
Em contrapartida, um cuidado que se deve ter com a mídia
exterior é com relação à poluição visual da cidade, e especialmente
da própria mídia. O abuso da utilização de espaços da cidade para
colocação de anúncios pode vir a prejudicar o anunciante no que
diz respeito ao retorno do cliente, pois este pode voltar-se contra a
marca anunciada em virtude da poluição visual causada pelo anúncio.
A importância da mídia exterior está no fato de oferecem
várias opções, desde uma placa de rua a megapainéis com diversas
possibilidades de efeitos de comunicação. Como é difícil comprovar
a sua eficiência individualmente, o segmento publicitário trabalha
pelo feeling, e muitas vezes, pelo retorno do anunciante.
Flávio Rezende, diretor de negócios da DPZ, em uma matéria
da revista M&M de 2000, entende que a mídia exterior é eficiente
quando uma única ação causa impacto ao consumidor e à
comunidade, fazendo com que a mensagem torne-se um referencial
para a cidade, bairro, rua, durante sua permanência. “A mídia exterior
não é só um pensamento tático, mas estratégico, aproximando
marca e produto na porta de entrada do trabalho, da casa do
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
43
consumidor e, principalmente, do seu momento de compra”.
Pelo motivo de estar sempre presente ou sempre visível aos
olhos do consumidor, a marca ou produto o impacta diariamente
nas ruas.
2.6 ALGUMAS MÍDIAS EXTERIORES
De acordo com o Informativo da Central de Outdoor,
relacionamos algumas mídias exteriores indicando sua definição:
§ Fachada: É a apresentação externa das instalações da empresa,
composta por um ou mais painéis.
§ Totem: É a mídia que traz o logotipo da empresa. Fica sobre
uma estrutura elevada e quase sempre é iluminado interna ou
externamente.
§ Front-light: É um painel de dimensão variável que conta
com lâmpadas que iluminam a mensagem frontalmente.
§ Back-light: Painel transluscido com as mesmas características
do front-light, mas com a iluminação interna.
§ Painel digital: É praticamente uma televisão gigante em
cruzamentos de grandes avenidas. O painel digital transmite
uma seqüência de animações e comerciais controlada por
computador.
§ Triedro: É um equipamento que dispõe de diversos triedros
em linhas que rodam ao mesmo tempo, permitindo a
visualização de três mensagens em seqüência.
§ Empena: Painel gigante que se adapta às dimensões da lateral
de prédios de grande visibilidade.
§ Topo: É um letreiro ou painel colocado no alto de edifícios.
§ Relógio termômetro: Esta mídia disponibiliza espaço para
propaganda acima de um placar digital que indica horário e
temperatura do ambiente. Geralmente são encontrados em
canteiros de avenidas ou calçadões.
§ Letreiro luminoso: Feito de néon, normalmente traz o nome
da empresa ou seu logotipo. Pode fazer parte da fachada ou
estar em paredes e topos de prédios.
§ Taxidoor: São mensagens expostas no vidro traseiro de táxis.
§ Busdoor: São propagandas expostas nas traseiras de ônibus,
assim como espaços nas laterais, abaixo das janelas.
§ Outdoor: São cartazes afixados dispondo folhas de papel
coladas na ordem certa em estrutura metálicas para formar
uma mensagem.
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
O projeto de pesquisa em questão foi baseado no tipo
exploratório, definido por Gil (1999) como uma pesquisa que visa
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, a fim de
formular problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para
estudos posteriores.
3.1 PARTICIPANTES
A pesquisa foi direcionada para 30 (trinta) pessoas, com idade
entre 18 a 55 anos, sendo 53 % (cinqüenta e três inteiros por cento)
do sexo feminino e 47% (quarenta e sete inteiros por cento) do
sexo masculino. A amostragem realizada foi não probabilística por
conveniência.
3.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o
44

questionário, com perguntas fechadas de múltipla escolha e em Gráfico 2: Meios mais impactante
alguns casos utiliza uma combinação de respostas de múltipla
escolha com respostas abertas.
Marconi e Lakatos (1999) apresentam algumas vantagens com
relação à utilização do questionário:
a. atinge maior número de pessoas simultaneamente;
b. abrange uma área geográfica mais ampla;
c. obtém respostas mais precisas;
d. há maior liberdade nas respostas, em razão do anonimato;
e. há mais segurança, pelo fato de as respostas não serem
identificadas;
f. Segundo Marconi e Lakatos (1999), o questionário apresenta
também uma série de desvantagens:
g. não pode ser aplicado a pessoas analfabetas;
h. na leitura de todas as perguntas, antes de respondê-las, pode
uma questão influenciar a outra;
i. desconhecimento das circunstâncias em que foram preenchidos
torna difícil o controle e a verificação;
j. grande número de perguntas sem respostas;
k. impossibilidade de ajudar o informante em questões mal
compreendidas.

Não foi informado aos respondentes do questionário o

objetivo da pesquisa, para que não houvesse qualquer influência na Fonte: Pesquisa de Campo
opinião dos entrevistados.

3.3 ANÁLISE DE DADOS

Neste tópico apresentam-se de forma tabulada os dados da
pesquisa realizada, mostrando os resultados graficamente para uma
melhor visualização.
Gráfico 1: Idade dos Entrevistados
Verifica-se um equilíbrio entre as notas que os meios de mídias
receberam, destacando-se apenas, com 15% e em primeiro lugar no
quesito impacto, o Outdoor.
Quando questionamos qual o meio de mídia exterior que
mais faz o consumidor lembrar de algum produto ou marca
anunciado, 49% dos participantes citaram o Outdoor como mídia
mais eficiente. Os resultados podem ser vistos no gráfico 3.

Gráfico 3: Lembrança da marca

Fonte: Pesquisa de Campo

Fonte: Pesquisa de Campo

Os resultados apresentados no gráfico 3 validam os mostrados

O gráfico 1 mostra a faixa etária dos entrevistados. Verifica-se
que 33% estão na faixa etária de 24 a 30 anos. Todos os entrevistados
possuem idade que proporciona conhecimento e embasamento
para responder ao questionário.
O Gráfico número 2 mostra a opinião dos respondentes
quanto ao meio de comunicação que mais causa impacto visual ao
consumidor. Os participantes deram notas de 1 a 10 aos meios de
comunicações citados no questionário, onde as somas destas notas
foram transformadas em percentual.
no gráfico 2, pois o Outdoor é citado novamente como meio que
mais faz o consumidor lembrar do produto ou da marca ao ver o
anúncio nesta mídia.
Nos gráficos 4, 5 e 6 podemos ver se as mídias estão dando o
retorno esperado para os anunciantes, que é a aquisição de produtos
após ver o anúncio. 63% dos respondentes sentem-se estimulados
a adquirir produtos ao ver os anúncios expostos em mídias
exteriores. Porém, 63% responderam que este tipo de mídia não
influencia na compra de produtos de marcas anunciadas na mídia

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004


exterior, se os consumidores já têm por habito comprar produtos
de determinadas marcas.
Gráfico 4: Estimulo de Aquisição
Fonte: Pesquisa de Campo
Gráfico 5: Influência na decisão de compra
Fonte: Pesquisa de Campo
O gráfico 6 demonstra que 57% dos entrevistados já adquiriram
um produto após ver um anúncio em uma mídia exterior.
Gráfico 6: Compra efetuada em função do anúncio em mídia
exterior
Fonte: Pesquisa de Campo
Finalizando o questionário, os respondentes deram sua
opinião quanto a eficiência da mídia exterior. Podemos então
confirmar o que já foi demonstrado nos gráficos 2 e 3, pois 23%
dos entrevistados assinalaram o Outdoor como mídia mais eficiente,
conforme demonstrado no gráfico 7.
Gráfico 7: Mídia mais eficiente
Fonte: Pesquisa de Campo
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
45
Conforme os dados obtidos, o anuncio em Outdoor, Painel
Digital e Letreiro Luminoso, tiveram mais de 50% de aprovação
dos participantes, sendo que as mídias como Taxidoor, Topo e
Totem não foram mencionados nas respostas. Estes dados são
muito importantes para escolha de uma mídia adequada no
momento de investimento.
Um ponto que chamou a atenção na pesquisa realizada foram
as respostas “outros”. A maioria dos entrevistados citou a TV
como meio mais eficiente, impactante e aquele que mais faz lembra-
los da marca. Podemos finalizar afirmando que para atingir a eficácia
da fixação da marca através do anúncio, é necessário fazer uma
propaganda na TV, e ter mídias como Outdoor, Painel Digital e
Letreiro Luminoso apoiando a TV na forma de mídia extensiva.
4 CONCLUSÃO
A análise dos resultados do questionário comprova os
conceitos dos autores citados na base teórica. Um meio de
propaganda que está em constante crescimento na área publicitária
são as mídias externas. Os consumidores estão percebendo a
existência desta mídia e estão sendo estimulados por esta para
adquirir os produtos anunciados.
O meio mais impactante considerado pelos consumidores é
o Outdoor. Este meio é o mais comum e mais conhecido pelos
consumidores. Os demais meios também causam impactos,
porém, eles possuem nomes menos comuns, o que nos fez verificar
com a pesquisa que muitos consumidores não conheciam as mídias
por seu nome, como Totem, Empena, Triedro entre outros e,
após verem uma figura ilustrativa da mídia, confessaram que já
conheciam.
Após análise dos resultados, pode-se afirmar que os
consumidores não estão trocando as marcas costumeiras (que estão
acostumados a comprar) por uma marca anunciada em uma mídia
exterior. Especula-se que o principal motivo desta resistência é que
os anúncios não estão sendo feitos de forma constante como
deveriam, conforme Sampaio (1997), para quem a mídia tem como
função essencial cuidar da veiculação mais adequada da mensagem
publicitária, a mídia mais eficiente para anuncio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALAVIP. Quer Saber? Disponível em: <http://
www.alavip.com.br> Acesso em: 06 nov. 2003.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São
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RIBEIRO, Á. H. P. et al. Marketing de Relacionamento como fator-

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SAMPAIO, R. Propaganda de A a Z: como usar a propaganda

para construir marcas e empresas de sucesso. Rio de Janeiro:
Campus, 1997.

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

 47

A BASE DE DADOS COMO OBJETO DE PROTEÇÃO DE

DIREITO AUTORAL

João Ademar de Andrade Lima

Bacharel em Direito (UEPB) e Desenho Industrial (UFCG), Especialista e Mestrando em Engenharia de Produção (UFPB), Bolsista CNPq, E-mail:
joademar@terra.com.br

RESUMO ABSTRACT

A idéia guia deste texto é a apreciação crítica quanto à caracterização
da base de dados como sendo uma Propriedade Intelectual,
protegida por lei. Essa discussão vem a termo devido à suma
importância que uma base de dados tem em relação não apenas
quanto ao seu uso, tanto nos sistemas de informação, como a
quem de direito pertence este produto. Com este documento, deseja-
se mostrar que ao se utilizar uma base de dados, ou criá-la, deve-se
procurar não apenas se ater aos aspectos técnicos, mas aos aspectos
legais que a envolvem, conscientizando-se da fundamental
importância não apenas de se conhecer a lei como também procurar
se ater às nuances que existem em se criar ou apenas utilizar uma
base de dados, entendendo-se que o sucesso de uma organização
não está apenas nas ferramentas que se utiliza, mas na procedência
delas e na valorização de suas fontes geradoras de vantagens
competitivas, que irão garantir sua permanência no mercado.
The idea that guides this text is a critical appreciation regarding the
characterization of the database as being an Intellectual Property,
protected by Law. This discussion comes to term due to the
importance that a database has in relation not only regarding its
use, as much as in the information systems, as to whom this right
belongs. With this document, we wish to show that, by using a
database, or creating it, we should investigate the technical
aspects, but also the legal ones that involve it, being aware of the
fundamental importance of knowing the law as well as trying
to know the nuances that there are while creating or just
using a database, understanding the success of an organization
not only in the tools that are used, but also in their provenance and
in the valorization of its generators fonts of competitive
advantages, which are going to guarantee its permanence in the
market.

Palavras-Chaves Key words

Propriedade Intelectual, Base de Dados, Sistemas de Informação Intellectual Property, Databases, Information Systems.

R. Spei, Curitiba,
R. Spei, v. 5, v.n. 5,1, n.p. 1,47-51,
Curitiba, jan./jun.
jan./jun. 2004 2004
48
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O objetivo principal desse ensaio é apreciação crítica, através
da propositura de uma discussão bibliográfica, quanto à
caracterização da base de dados como objeto de proteção de Direito
Autoral. Para isso procurou-se abordar alguns conceitos de o que é
Propriedade Intelectual, Direito Autoral e a diferença entre base de
dados bruta e elaborada, buscando seguir um roteiro que procura
esclarecer algumas dúvidas quanto à propriedade e o uso da base
de dados.
Com este documento, deseja-se mostrar que, ao se utilizar
uma base de dados ou criá-la, deve-se procurar não apenas se ater
aos aspectos técnicos, mas aos aspectos legais que a envolvem,
como na criação de qualquer bem material, não buscando, contudo,
esgotar o tema aqui abordado.
Sua estruturação se deu através de tópicos relacionados às
conceituações teóricas de Direito de Propriedade e Propriedade
Intelectual, natureza jurídica e classificação do Direito Autoral,
conceito de base de dados e sua caracterização como objeto de
proteção autoral.
2 CONCEITO DE DIREITO DE PROPRIEDADE
Para a ciência jurídica, o Direito de Propriedade é aquele que
garante a seu titular, em toda sua plenitude, a faculdade de dispor
dos seus bens livremente e a seu bel-prazer. Possui como elementos
essenciais, os chamados jus utendi, jus fruendi e jus abutendi.
O jus utendi é o direito de usar, ou seja, é o direito de retirar
da propriedade tudo o que ela pode oferecer, sem alterar-lhe; O jus
fruendi aparece como o direito gozar da propriedade, explorando-
a economicamente; e o jus abutendi, o mais importante dos três,
significa o direito de dispor da propriedade como bem entender,
dando a ela o destino que achar melhor.
Essas três características aparecem de forma concorrente, ou
seja, na falta de alguma delas não há como se falar em Direito de
Propriedade, mas, no máximo, num suposto “Direito de Posse”,
tal qual o inquilino em relação à casa alugada, que possui o direito
de uso e, em algumas ocasiões (como nos imóveis comerciais) o
direito de gozo, mas nunca o direito de dispor.
Também não se deve confundir direito de propriedade com
direito de “exercício de propriedade”. Aquele é absoluto e subjetivo,
enquanto este é a norma objetiva que regula o primeiro.
3 CONCEITO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL
O termo Propriedade Intelectual é usado para designar a área
do Direito que cuida da proteção às criações do homem nas áreas
técnico-científica, literária e artística e também àquelas relacionadas
à indústria, nas invenções, inovações, processos e design de um
modo geral, abrangendo desde a arquitetura ao desenho industrial.
Possui os três elementos essenciais do Direito de Propriedade
– usar, gozar e dispor – daí não ser nomeado simplesmente Direito
Intelectual, mas Propriedade Intelectual.
Em nosso país, a Propriedade Intelectual é disciplinada
principalmente pelas Leis 9.279/96 (Marcas e Patentes), 9.456/97
(Cultivares), 9.609/98 (Software) e 9.610/98 (Direitos Autorais).
Além disto, assim como a maioria dos países, o Brasil faz parte,
inclusive como signatário, de tratados internacionais, como as
Convenções de Berna, sobre Direitos Autorais, e de Paris, sobre
Propriedade Industrial, e outros acordos como o TRIPs (Tratados
sobre aspectos do Direito de Propriedade Intelectual relacionados
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
ao Comércio Internacional). É também preceito Constitucional,
estando arrolado entre os “Direitos e Garantias Fundamentais”,
com previsão nos incisos XXVII, XXVIII e XXIX do artigo 5º da
Constituição Federal.
A Propriedade Intelectual pode ser subdividida em duas
grandes áreas, quais sejam: o Direito Autoral e o Direito Industrial.
Estas, apesar de possuírem similaridades bastante notórias,
apresentam naturezas jurídicas distintas e, conseqüentemente,
tratamentos diferenciados, tanto a nível de proteção temporal como
a nível de direitos pessoais e patrimoniais.
4 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO
AUTORAL
O Direito Autoral, também chamada de Propriedade Literária,
Científica e Artística, é o direito que uma pessoa física chamada
autor, ou seja, aquele que materializa sua idéia num corpo físico
determinado, tem de gozar dos benefícios (morais e patrimoniais)
resultantes de suas criações; é o direito que tem o autor de obra
literária, científica e artística, de ligar o seu nome às suas produções
e de reproduzi-las ou transmiti-las da forma que melhor lhe
aprouver.
É parte do Direito gerador de não poucas controvérsias, sendo
desde direito individual, para alguns juristas, até apenas um mero
privilégio, para outros. Há quem diga inclusive que não pode ser
sequer objeto de direito, afirmando-se que o pensamento
manifestado pertence a todos, não sendo propriedade dos autores.
Diante disto, a sua natureza jurídica tende a corroborar com
deveras discussões. As hipóteses mais contundentes dizem que o
direito autoral é direito pessoal, vinculado diretamente a
personalidade do autor, do qual a obra não é senão uma projeção;
ou ainda, é direito real, sendo um aspecto particular da propriedade;
há também quem o cite com um direito misto de pessoal e real.
A solução mais coerente foi elaborada por Edmond Picard,
que defendeu que o direito autoral deve ser enquadrado numa
nova categoria chamada de Direitos Intelectuais, destacando-se do
direito das coisas e constituindo um ramo especial do Direito.
Sobre isto, dispõe Füher (1996) que a Propriedade Industrial
(ramo do Direito Comercial) e o Direito Autoral (ramo do Direito
Civil), embora tendo princípios diversos, caminham para a formação,
em conjunto, de um novo ramo do direito privado.
Em linhas gerais, há no Direito Autoral tanto um direito
pessoal como também uma parte patrimonial, relacionada à
reprodução da obra. Dessa dicotomia classificaram-se os dois grupos
básicos, quais sejam: o Direito Moral e o Direito Patrimonial.
5 DIREITO AUTORAL MORAL E DIREITO AUTORAL
PATRIMONIAL
O Direito Autoral Moral é aquele gerado pela relação criação/
criador, estando diretamente vinculado à pessoa do autor, uma
vez que a obra é uma projeção de sua personalidade. É um direito
personalizado, irrenunciável, impenhorável e absoluto do autor.
Quanto ao seu conteúdo, compreende os direitos ao inédito, à
paternidade, à integridade, de modificação e arrependimento. Está
elencado taxativamente dos artigos 24 a 27 da Lei 9.610/98.
O Direito Autoral Patrimonial é o resultante da publicação da
obra, ou seja, resulta da comunicação da obra ao público, tanto
pelo próprio autor como por aqueles por ele autorizados.
A publicação tanto pode ser feita através de edição (livros,
discos, fotografia, filmes etc) como através de representação (peças

teatrais, óperas, concertos etc.), quer ao vivo, quer por qualquer
outro meio como a radiodifusão e até outros como os sistemas
óticos, fios telefônicos, cabos ou quaisquer meios de comunicação
similar que venham a ser adotados.
É direito facultativo exclusivo do autor, que pode autorizar
ou não a reprodução ou a execução da obra. Está disciplinado na
Lei 9.610/98, dos artigos 28 a 45.
6 CONCEITO DE BASE DE DADOS
A Base de Dados (ou Banco de Dados) é uma coleção de
informações que se relacionam entre si; informações essas que
podem ser armazenadas, atualizadas, manipuladas, classificadas e
recuperadas; “é um arquivo. Nada mais do que isto: um arquivo
que, pela sua natureza tecnológica, comporta uma variedade de
dados e informações, numa quantidade imensa, onde elementos
gráficos e sonoros podem ser criados e inseridos” (Cabral, 1998,
p.192).
Pode ser composta de duas formas: por dados brutos ou por
dados enriquecidos.
Os dados brutos são aqueles que têm uma formação ditada
pela codificação imposta pela linguagem, tais como datas, localizações
geográficas e cálculos. Por estarem em estado bruto, essas
informações não comportam quaisquer contribuições intelectuais
(ou criativas) por parte de quem as transmite.
Os dados enriquecidos, por sua vez, são as informações as
quais foram agregadas, em sua formação, qualidades resultantes de
apreciações e/ou interpretações, estando presente personalidade
de quem os transmite, entendido como autor.
Há também as chamadas Bases de Dados Multimídias, que
incorporam diversos elementos, como textos, imagens, sons,
provenientes dos mais diversos suportes, sincronizados e
integrados através de um software, englobando, conforme a situação,
dados técnicos, gráficos, planos, esquemas, croquis, modelos
geométricos etc., ou compreendendo caracteres alfanuméricos, como
textos e números habitualmente tratados nas aplicações
informáticas, dados de áudio e vídeo como imagens animadas ou
fixas e sons; Em outras palavras, é uma coletânea de dados e outros
elementos independentes, armazenados eletronicamente em
formato digital, dispostos de maneira sistemática e individualmente
acessíveis por meios eletrônicos.
7 A BASE DE DADOS COMO OBJETO DE DIREITO
AUTORAL
A proteção das bases de dados está prevista na Lei nº 9.610/
98 (artigo 7º, inciso XIII e § 2º e artigo 87), proporcionando às
bases de dados, assim como às compilações de obras diversas, a
qualidade de criações intelectuais pela seleção e a disposição das
matérias, protegendo, portanto, a classificação e os elementos
preexistentes.
Art. 7º. São obras intelectuais protegidas as criações do espírito,
expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer superte,
tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro,
tais como:
XIII — as coletâneas ou compilações, antologias,
enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que,
por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo,
constituam uma criação intelectual.
§ 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
49
ou materiais em si mesmos e se entende sem prejuízo de
quaisquer direitos autorais que subsistam a respeito dos
dados ou materiais contidos na obra.
Art. 87. O titular do direito patrimonial sobre uma base
de dados terá o direito exclusivo, a respeito da forma da
expressão da estrutura da referida base, de autorizar ou
proibir:
I — sua reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou
processo;
II — sua tradução, adaptação, reordenação ou qualquer outra
modificação;
III — a distribuição do original ou cópias da base de dados
ou sua comunicação ao público;
IV — a reprodução, distribuição ou comunicação ao público
dos resultados das operações mencionadas no inciso II desse
artigo.
A proteção autoral de uma obra possui como critério de
exigibilidade a originalidade. Com relação à base de dado, ela agirá
na estruturação empregada aos dados para os informatizar e ao
arranjo efetuado de forma a criar um diferencial do ponto de vista
documental. Em uma base de dados, como em uma compilação,
é dada uma forma particular às informações, como um propósito
funcional, visando permitir seu tratamento.
O critério de originalidade das bases de dados é particularmente
difícil de resgatar sob o ponto de vista tradicional, em razão
de que, tratando-se de matéria de propriedade intelectual, o
critério de originalidade é apreciado sobre dois aspectos, ou
seja, a forma de expressão e a composição da obra. (Zibetti,
2002, p50).
Uma base de dados é considerada uma obra original quando
ela constitui uma criação intelectual própria do seu autor, quer seja
pela seleção, quer pela disposição de seu conteúdo. Não se protege
a informação em si, nem mesmo a forma como está expressa, mas
a seleção dos dados.
Dados e base de dados não são a mesma coisa. O que diferencia
efetivamente os primeiros da segunda é que esta ultima resulta de
elementos de criação intelectual que dão aos primeiros uma forma
organizada e distintiva; elementos esses entendidos como
originalidade.
No reconhecimento da proteção autoral a uma base de dados,
portanto, há que se verificar a simultaneidade de duas
ocorrências: a) trata-se de uma obra completa, orgânica, e não
de dados seqüencialmente apresentados aos usuários como
mera informação; b) apresentar suficientes aspectos distintivos
que possam dar-lhe identidade própria, destacando-a de seus
pares. (Abrão, 2003, p.32).
8 O VALOR MATERIAL DA BASE DE DADOS E A
PROPOSTA DE UM DIREITO AUTORAL SUI
GENERIS
É bastante claro o valor monetário de uma informação; “A
maioria dos gerentes e executivos considera um banco de dados
como uma das mais importantes e valiosas partes de um sistema
de informação computadorizado” (STAIR & REYNOLDS, 2001,
p.15).
50
Há relatos de ladrões que chegam a ganhar até 10 mil dólares
para roubar um computador portátil de um executivo de
uma corporação. O motivo, nesses casos, obviamente não é
computador em si, já que a maioria dos portáteis não vale
nem a metade daquela quantia. Os dados armazenados no
disco rígido do computador é que são valiosos. Afinal de
contas, o conhecimento da estratégia adotada por uma
empresa para obter vantagem sobre seus concorrentes pode
valer milhões. (Norton, 1996, p.19).
Diante do alto valor que há hoje em dia acerca da informação
e também dos pesados investimentos na consecução de algumas
bases de dados, discute-se, inclusive em âmbito internacional,
diretivas para proteção das bases de dados que são insuscetíveis de
serem protegidas pelo direito de autor na mesma medida em que
elas não são originais, nem pela seleção, nem pela disposição das
matérias.
A constituição de uma base de dados exige investimentos dos
pontos de vista humanos, técnicos e financeiros e ainda necessita de
proteção dos direitos, não mais e simplesmente dos “criadores
intelectuais” das bases de dados, mas do que se pode denominar de
“fabricantes de bases de dados”, conferindo-lhes o status de criador.
Assim, claramente, observa-se que as novidades em
tecnologias permitem extrair uma quantidade substancial de
dados para constituir uma nova base de dados que terá um
conteúdo idêntico, mas que, sendo diferente pela seleção ou
pela composição, não constituirá uma contrafação no sentido
do direito de autor, quanto às bases de dados originais. É,
portanto, necessário proteger por vez os investimentos dos
fabricantes das bases de dados não originais e de impedir a
extração dos dados das bases originais. O que resulta em um
direito sui generis aplicável a todas as bases de dados, quer
sejam elas originais ou não. (Zibetti, 2002, p57).
The extent of database protection comprises both copyright and the
new sui generis right. The new right was developed against a backdrop
of existing copyright regimes and examination of the nature and
extent of copyright protection can inform the debate over the proper
ambit of any new rights. It may also provide appropriate analogies for
reform. (Colston, 2001, p.4).
Diante disso, e como quase tudo relacionado ao Direito
Privado, surge a indagação do quantum de investimento seria
necessário para aquisição desse “direito”. Mas uma vez, recorrer-se-
ia ao arbítrio dos legisladores e, em esferas recursais, dos juristas
para tal definição (mas isso é objeto de outras discussões, não
pertinentes nesse ensaio!).
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Rematando, e como já enfatizado, mesmo não buscando o
esgotamento do tema, ainda bastante pouco explorado na seara
jurídica, em textos acadêmicos ou técnicos, em congressos ou
periódicos, queremos deixar minimamente alguns pontos
conclusivos:
1. A estruturação de uma base de dados é fruto de uma
contribuição intelectual e, como tal, é entendida legal e
doutrinariamente como objeto de proteção autoral;
2. Como Propriedade Intelectual protegida, assim como
qualquer outra, o direito sobre uma base de dados agrega os
R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004
elementos essenciais de usar, gozar e dispor, em toda a sua
plenitude, à figura do autor ou detentor dessa base; e
3. O chamado Direito Sui Generis é absolutamente
questionável, especialmente por trazer para si um elemento de
subjetividade sujeito a interpretações jurisprudenciais nem sempre
coerentes.
Assim, é de fundamental importância não apenas conhecer a
lei, mas igualmente procurar se ater às peculiaridades existentes na
criação ou apenas na utilização uma base de dados, porque o sucesso
de uma organização não está apenas nas ferramentas que se utiliza,
mas na procedência delas e na valorização de suas fontes geradoras
de vantagens competitivas, que irão garantir sua permanência no
mercado.
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ZIBETTI, F. W. A tutela jurídica das bases de dados multimídia

pelo direito autoral brasileiro na atualidade. Passo Fundo:
UPS/Faculdade de Direito, 2002. (Monografia)

R. Spei, Curitiba, v. 5, n. 1, jan./jun. 2004

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55
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FISCHER, R. M. Cultura e poder nas organizações. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 1996.
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