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CRISTIANE JESUS ROCHA

GESTÃO DE ESTOQUE EM UMA CONFECÇÃO DE


HOMEWEAR COM FOCO NA REDUÇÃO DE TECIDOS
OBSOLETOS

Trabalho de Conclusão do CEAI - Curso de


Especialização em Administração Industrial da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo - Artigo

Orientador: Prof. Fabiano Stringher

São Paulo
2010
1º Quadrimestre
Resumo
Este artigo mostra a importância da gestão do estoque para evitar a obsolescência de tecidos
no setor de confecção de homewear. Neste setor trabalha-se por coleção, isso faz com que sua
matéria prima tecido seja perecível, por se tratar da tendência da moda. Na empresa onde esse
estudo foi realizado os processos de tingimento, tecelagem e acabamento são externos e cada
fornecedor tem um lote mínimo para programação. O artigo discutirá as causas, ações
preventivas e corretivas do estoque de tecidos obsoletos afim de reduzir o mesmo, sem
prejudicar os prazos de produção e vendas.
Pode-se notar no decorrer do artigo, os problemas com o planejamento e comunicação interna,
além da falta de organização e sequência de como proceder desde o início da coleção, no
desenvolvimento, até o término da mesma.

Palavras chave: Estoque, Obsoleto, Confecção, Reprocessamento, Tecidos

1. Introdução
Hoje no Brasil o setor têxtil e de confecção nacional, geram mais de 1,65 milhões de
empregos e está entre os cinco principais países produtores de confecção (ABIT – Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção-19/03/10).

Nos últimos cinco anos segundo dados da MTE/CAGED-ABIT, o Brasil teve um aumento de
aproximadamente 32% no quadro de empregos formais, gerado através da cadeia têxtil,
conforme Gráfico 1.

Gráfico 1 – Quantidade de empregos formais criados no setor têxtil brasileiro (Fevereiro/2010)


Tabela 1 – Dados (Fevereiro/2010)

A implantação da gestão de estoque em qualquer empresa significa melhorias em seus


processos produtivos, pois tem grande importância para o planejamento e controle de
produção, assim como o planejamento e compras de matérias primas.

A empresa que será analisada neste artigo, tem 15 anos no mercado nacional, conta com uma
equipe de 120 colaboradores. Atua, no segmento de confecção de homewear, inovando o
antigo pijama para a confortável roupa de ficar em casa, ganhando espaço nas vitrines dos
mais importantes Shoppings do Brasil. Com suas características marcantes e respeito aos seus
clientes, esta empresa apesar dos seus problemas internos, continua competitiva por fazer
exatamente o que seus clientes desejam.

O mais difícil neste setor tende a ser a concorrência desleal, como por exemplo, oficinas de
fundo de quintal que não pagam impostos e a pirataria.
O fator predominante e não favorável neste mercado, além da tendência da moda é o clima,
pois todos os tecidos derivam do algodão.
A empresa esta passando por um processo de transição organizacional, onde está saindo de
uma empresa de pequeno porte familiar, para uma estrutura organizacional de médio porte,
onde o foco principal é o Resultado da empresa.

Hoje a maior motivação em fazer este trabalho, é mostrar que é possível diminuir a
obsolescência no estoque sem prejudicar os prazos de produção e vendas. Como foco neste
artigo será abordado o estoque de itens obsoletos de tecidos.

O público alvo da empresa são as classes A e B, pois ainda no Brasil são poucas as pessoas
que tem o hábito de usar pijamas, mesmo porque os preços no caso desta confecção não são
acessíveis para as demais classes sociais, devido ao padrão de qualidade e o alto custo até sua
produção final.

Um das alternativas que deve ser discutida nesse artigo é a ampliação dos mercados
potênciais, com a confecção de pijamas mais simples e com matérias primas reprocessadas,
visando sempre a satisfação do cliente e a diminuição do estoque de tecidos obsoletos.

2. Revisão Bibliografica

Abaixo serão apresentadas as referências utilizadas como base para a elaboração deste artigo.

2.1 Estoques

Segundo Slack et al (1999), entende-se por estoque qualquer quantia de produto, objeto ou
material armazenado, seja de produto acabado, matéria prima, material em processo, insumos,
manutenção, entre outros.
Slack et al, diz que estoques têm valores, finalidades e administração diferentes, de acordo
com sua utilização na empresa. Pode-se apontar também alguns motivos para se manter
estoques, entre eles: evitar a interrupção da produção, assim evita perdas de pedidos de
vendas por falta de produtos. Os estoques servem como segurança para os casos como perdas,
oscilações na produção, quebra de máquinas, falta de funcionários e vendas imprevistas.

Conforme Ballou (2004), se a demanda for previsivel não é necessário manter estoques, isto é,
quanto mais percisa for a previsão de demanda, mais simples de controlar os estoques. No
entanto, como praticamente não existe previsão de demanda exata, as empresas utilizam de
estoques para reduzir os efeitos causados pelas variações de oferta e procura.

Para Correa, Gianesi e Caon (2001), o conceito de estoque é um elemento gerencial essencial
na administração das empresas. Após buscar durante muito tempo baixar seus estoques a
níveis maximos, as empresas enfrentaram grandes problemas, e acabaram compreendendo
que a estratégia é chegar a um consenso de que realmente precisa-se de estoque para trabalhar
sem comprometer seus processos.

Já para Dias (1993), os estoques na empresa podem ser de matérias primas, produtos em
processo, produtos acabados e peças de manutenção, no caso específico desse artigo o tipo de
estoque é de matérias primas. O autor define estoques de matérias primas como sendo os
materiais básicos e necessários para a fabricação do produto final, tendo seu consumo
proporcional à quantidade produzida. Em outras palavras, todos os materiais agregados se
tornam produtos acabados.
Ainda para Dias (1993) para a organização de um setor de estoques é necessário:

9 O número de itens que devem permanecer em estoque;


9 Qual o período de reposição para os itens em estoque;
9 O quanto deve-se manter em estoque para um período determinado;
9 Acionar o departamento de compras para a aquisição do produto;
9 Receber, armazenar e distribuir os materiais de acordo com a necessidade;
9 Exercer o controle sobre as quantidades e valores em estoque, fornecendo essas
informações;
9 Manter a acuracidade e avialiar a situação dos estoques com inventários
periódicos e ainda identificar e retirar do estoque materais obsoletos e materiais danificados.

9 Cada tipo de estoque tem suas particularidades dentro da empresa, o modo


como devem ser tratados, seus níveis, relação entre nível de estoque e capital envolvido, entre
outros fatores.

A falta de eficiência na gestão de estoque provoca duas situações criticas nas empresas:
estoques obsoletos e ruptura de estoques. Neste artigo o foco é estoque obsoleto, por este
motivo a situação de ruptura de estoques não será citada.

Estoque obsoleto é aquele estoque que fica parado, sem movimentação, ou seja, é a perda da
utilidade da matéria prima ou produto. No caso da Confecção de Homewear, existem excessos
de estoques em diversos graus. È um grave problema no gerenciamento dos estoques de
matérias primas.

Segundo Rosenfield (1989), a situação de estoque obsoleto é ocasionada por compras de


oportunidade e pelo número cada vez maior de itens a controlar, associado a um sistema
inadequado de informações e previsões de vendas, que subestimam ou superestimam a
demanda para um determinado período. Infelizmente ainda não há um guia ou procedimentos
disponíveis que tratem adequadamente do assunto de estoques obsoletos.

Marullo (1997), surgere duas opções para reduzir os estoques obsoletos: redução de preços ou
doações dos produtos para instituições de caridade. Se optar pelas doações, a empresa pode
conseguir uma redução dos impostos para seus custos de inventário.

Conforme Chaneski (2000), mercadorias que não tiverem nenhum uso em dezoito meses e
não tiver pedidos em abertos, cinquenta por cento dos estoques desses produtos devem ser
descartados do inventário. Acrescenta que a implantação de qualquer programa de redução de
estoques obsoletos deve atender às necessidades específicas de cada tipo de empresa. Porém,
qualquer que seja o programa de redução adotado, esse será certamente melhor que não adotar
nenhum programa.

Conforme citações dos autores Rosenfield (1989), Marullo (1997) e Chaneski (2000), este
artigo mostra cinco alternativas de ação corretiva para a redução do estoque obsoleto, sendo:

9 Reprocessamento das cores dos tecidos;


9 Venda dos tecidos para empresas que compram para fazer saldão;
9 Doação a instituições de caridade;
9 Confeccionar homewear para saldão, com um custo mais acessível;
9 Descarte – liberando espaço físico.
2.2 Custos de Estoque

Segundo Ballou (2006), há três classes gerais de custos importantes para a determinação da
política de estoque: os custos de aquisição, de manutenção e de falta de estoques.

Conforme Slack (2007), define-se os custos de estoque na tomada de decisão de quanto


comprar, os gerentes de produção primeiro tentam identificar os custos que serão afetados por
sua decisão, sendo alguns custos bastante relevantes, como: custos de colocação do pedido,
custos de desconto de preços, custos de falta de estoque, custos de capital de giro, custos de
armazenagem, custos de obsolescência e custos de ineficiência de produção.

Seguindo a definição de Slack (2007), “Se escolhermos uma política de pedidos que envolve
pedidos de quantidades muito grandes, que significará que os itens estocados permanecerão
longo tempo armazenados, existe o risco de que esses itens possam torna-se obsoletos ( no
caso de uma mudança de moda, por exemplo) ou deteriorar-se com a idade ( no caso da
maioria dos alimentos, por exemplo).”

No caso de uma empresa de confecção, onde a matéria prima tecido passa a ser perecível
depois que recebe beneficiamento (tingimento), o estoque tem que ser muito bem
administrado e o planejamento é fundamental para que seja evitado itens obsoletos. Há na
verdade um quebra cabeça na hora de fazer o planejamento de compras de tecidos, pois os
consumos são diferentes e cada fornecedor trabalha com um lote mínimo de tingimento ou
acabamento do tecido.

2.3 – Ferramentas de Gerenciamento de Estoques

A seguir citações referente às ferramentas utilizadas na gestão de estoques.

2.3.1 - Curva ABC

Segundo Ballou (2006), o problema logístico de qualquer empresa é a soma dos problemas de
cada um dos seus produtos. A linha de artigos de uma empresa típica é composta por produtos
variados em diferentes estágios de seus respectivos ciclos de vida, e com diferentes graus de
sucesso em matéria de vendas.

Já para Lustosa (2008), as grandes organizações costumam manter centenas ou milhares de


tipos de itens em estoque para seu funcionamento. Em épocas passadas, sem a disponibilidade
do computador, uma das grandes restrições da gestão era a escassez de tempo e mão de obra
para a tomada de decisões e controle dos diferentes itens em estoque. As revisões periódicas
de estoque e a concentração de esforços nos itens de maior importância foram ferramentas
importantes de gestão nessas épocas, permanecendo até hoje como boas práticas de controle
de estoque.

Conforme Slack (2007), em qualquer estoque que contenha mais de um item em estoque,
alguns serão mais importantes para a organização do que outros. Alguns itens por exemplo,
podem ter uma taxa de uso muito alta, de modo que, se faltassem, muitos consumidores
ficariam desapontados. Outros itens podem ter valores particularmente altos, de modo que
níveis de estoque excessivos seriam particularmente caros.
Uma das ferramentas utilizadas para a gestão de estoque, é a Curva ABC, também conhecida
como lei 80/20, a lei de Pareto que estabelece a importancia de cada item no estoque de
acordo com sua movimentação de valor.

Classificação da curva ABC, segundo Slack (2007).

Itens classe A, são os 20% de itens de alto valor que representam cerca de 80% do valor total
do estoque.

Itens classe B, são aqueles de valor médio, usualmente os seguintes 30% dos itens que
representam cerca de 10% do valor total.

Itens classe C, são os itens de baixo valor que, apesar de compreender cerca de 50% do total
de tipos de itens estocados, provavelmente representam somente cerca de 10% do valor total
de itens estocados.

2.3.2 - Lote Econômico de Compra (LEC)

Conforme Lustosa (2008), o modelo do lote econômico foi originalmente concebido por Ford
Harris, em 1913, nos primórdios da Engenharia de Produção. Muitas variantes do modelo
básico surgiram desde então, procurando uma maior generalização de suas fórmulas, para
incluir alguns casos de demanda e suprimentos variáveis.

Bowersox e Closs (2001, p.236) definem o LEC da seguinte forma: "é a quantidade de
pedido de ressuprimento que minimiza a soma do custo de manutenção de estoque e emissão
e colocação de pedido”.

O modelo de cálculo do LEC considera alguns pressupostos:

9 A demanda é constante e contínua;


9 O lead-time é zero;
9 Não é permitido faltar itens no estoque;
9 O custo do produto comprado e o custo de manutenção de estoque não
dependem da quantidade;
9 O item do estoque pode ser suprido em qualquer quantidade.

3 - Desenvolvimento

A empresa que foi analisada nesse artigo, é uma confecção de homewear, nacional de
pequeno porte, que precisa urgentemente de uma gestão de estoque eficaz e eficiente para
evitar o aumento dos itens obsoletos.

Segundo levantamento de dados, os maiores problemas foram as compras em duplicidades,


falta de sincronização entre as programações dos fornecedores e os erros no planejamento de
demanda de vendas por coleção. A demanda prevista não é coerente com a realidade de
vendas, o que faz com que sobre ou falte matéria prima e o mesmo acontece com o estoque de
produtos acabados.
Na Tabela 2 é mostrado o estoque de itens obsoletos gerado ao longo dos quinze anos de
existência da empresa, onde os tecidos estão separados por tipo, quantidades de itens em
estoque e seus respectivos valores totais.

Já na Tabela 3 são mostradas as quantidades de itens usados em uma determinada coleção. No


caso deste estudo, a tabela mostra os itens usados na coleção Inverno 2010.

Tabela 2 – Itens obsoletos (Janeiro/2010)


Itens Obsoletos
Tipos de Tecidos Quantidades Unidade Valor Unit. Valor Total
Flanela 15615 mts R$ 11,45 R$ 178.791,75
Meia Malha 8309 kg R$ 19,76 R$ 164.185,84
M.malha listrada 2014 kg R$ 27,64 R$ 55.666,96
Rib 1404 kg R$ 19,76 R$ 27.743,04
Punho 1135 kg R$ 21,88 R$ 24.833,80
Rugby 746 kg R$ 19,76 R$ 14.740,96
Suedine 300 kg R$ 19,76 R$ 5.928,00

Valor total em R$ de itens obsoletos = R$ 471.890,35


Fonte: Elaborado pela autora

Tabela 3 - Coleção Inverno 2010 (Janeiro/2010)

Coleção Inverno 2010


Tipos de Tecidos Quantidades Unidade Valor Unit. Valor Total
Flanela 21238 mts R$ 11,45 R$ 243.175,10
Meia Malha 8633 kg R$ 19,76 R$ 170.588,08
Suedine 4137 kg R$ 19,76 R$ 81.747,12
M.malha listrada 2773 kg R$ 27,64 R$ 76.645,72
Rugby 2198 kg R$ 19,76 R$ 43.432,48
Rib 1130 kg R$ 19,76 R$ 22.328,80
Punho 209 kg R$ 21,88 R$ 4.572,92

Valor total em R$ de itens usado na coleção Inverno R$ 642.490,22


Fonte: Elaborado pela autora

Representações gráficas das Tabelas 2 e 3 são mostradas nos Gráficos 2 e 3.


Representação Gráfica - Estoque de itens Obsoletos
1%

3%

5%
6%
Flanela

38% Meia Malha


12% M.malha listrada
Rib
Punho
Rugby
Suedine

35%

Gráfico 2 - Itens obsoletos


Fonte: Elaborado pela autora

Representação Gráfica - Coleção Inverno 2010


1%
3%
7%

12% Flanela
37% Meia Malha
Suedine
M.malha listrada
Rugby
13%
Rib
Punho

27%

Gráfico 3- Coleção Inverno 2010


Fonte: Elaborardo pela autora

Comparando os estoques de itens obsoletos e itens usado na coleção de inverno, pode-se notar
no Gráfico 4, que é imprescindível a gestão de estoque urgentemente nesta empresa.
Estoque Obsoleto x Estoque Coleção

25000

20000

15000
Qtde Obsoleto
Qtde. Coleção
10000

5000

0
Flanela Meia M.malha Rib Punho Rugby Suedine
Malha listrada

Gráfico 4 - Comparação entre os estoques obsoletos e coleção (Janeiro/2010)


Fonte: Elaborado pela autora

Já na Tabela 4, nota-se o quanto representa a obsolescência do estoque versus quantidade


usada na coleção inverno 2010.

Tabela 4 - Representação do estoque obsoleto em uma coleção - (Janeiro/2010)


Qtde de Coleções que é possível atender com o estoque
obsoleto
Tipos de Tecidos Qtde Obsoleto Qtde. Coleção Qtde de Coleções
Punho 1135 209 5,43
Rib 1404 1130 1,24
Meia Malha 8309 8633 0,96
Flanela 15615 21238 0,74
M.malha listrada 2014 2773 0,73
Rugby 746 2198 0,34
Suedine 300 4137 0,07
Fonte: Elaborado pela autora

Representação gráfica da Tabela 4 é mostrada no Gráfico 5.


Quantidade de Coleções que é possível atender com estoque obsoleto

6,00
5,43

5,00

4,00

3,00

2,00
1,24
0,96
1,00 0,74 0,73
0,34
0,07
0,00
Punho Rib Meia Malha Flanela M.malha Rugby Suedine
listrada

Gráfico 5 - Comparativo entre itens obsoletos x coleção


Fonte: Elaborado pela autora

Para um melhor entendimento e desenvolvimento do trabalho, será feito a análise nos itens
flanela, meia malha e meia malha listrada, também conhecida como meia malha fio tinto.

A flanela que representa 35% no valor total do estoque, é fácil seu planejamento de compras,
pois este item já é comprado beneficiado e passa apenas por um fornecedor. Porém segundo
levantamento de dados na empresa o motivo dessa obsolescencia é o planejamento atrasado,
pois o lead time de fornecimento é de 60 dias, e vendas trabalha com este item somente até
maio. Passando deste mês dificilmente o mercado aceita esse tipo de tecido, e muitas vezes a
empresa recebeu este material já no final do inverno, o que contribuiu para esse estoque.

Pode-se notar que o custo da meia malha não é o mais alto para o estoque, por tratar-se de
uma matéria prima que sofre apenas um beneficiamento, e passa apenas por dois
fornecedores, o que fornece a meia malha crua e o que tingi nas cores determinadas pela
empresa, mesmo assim esse tecido representa 33% do estoque de itens obsoletos. O motivo
deste estoque, é que a meia malha faz parte da confecção de homewears que utilizam flanelas
e meia malhas listrada.

Referente a meia malha listrada, que representa 11% no valor total do estoque, seu
planejamento de compras é o mais complicado de todos os demais tecidos, devido seu
processo de tecelagem passar por quatro fornecedores. O primeiro fornecedor do fio cru
(pronto para tingir), o segundo a tinturarira que tingi o fio, o terceiro a tecelagem que tece a
malha e o quarto e último fornecedor faz a parte de acabamento da malha (lavar e ramar). Esta
é a programação mais problemática numa confecção, pois conforme já citado cada fornecedor
trabalha com um lote minimo, por este motivo muitas vezes a meia malha listrada não chega
de acordo com a necessidade da empresa e há sobras e outras vezes faltas.

3.1 - Tratamento
Ações Corretivas

Uma das estratégias para reduzir este custo de R$ 471.890,35 é tornar o estoque de obsoletos
em itens usáveis, porém somente é possível fazer esta transformação nos tecidos de cores
únicas, por se tratar de um único processo de beneficiamento. Segundo levantamento as cores
de maior giro nesta confecção são: Azul Marinho, Marfim e Branco, que são cores usadas em
todas as coleções e por todos os clientes.

Além do trabalho de reprocessamento junto a tinturaria, é possível aumentar o mercado de


consumidores, já que hoje a empresa trabalha somente com consumidores de maior poder
aquisitivo. Outra estratégia pode ser a venda dessas matérias primas para empresas que
trabalham com retalhos e saldão. A venda dos retalhos rende R$ 3,00 o quilo, os retalhos são
as sobras do corte. Já a venda dos tecidos que ainda não foram usados ou sobraram e estão no
estoque como obsoletos, renderiam R$ 5,00 o quilo.

Com a venda dos tecidos obsoletos, a empresa ganha espaço fisico para montar mais celulas
de trabalho, amortiza a divida junto aos investidores que hoje cobram juros de 2,5% ao mês,
referente aos emprestimos de capital de giro da empresa.

Com o reprocessamento, a empresa terá um retorno de 55% sobre o custo de seus produtos,
sendo composto do custo de reprocessamento e da margem de lucro que a empresa aplica.

No caso dos tecidos que impossíveis de reprocessar, como no caso do meia malha fio tinto e
flanela, pode-se vender, fazer homewear para saldão ou até mesmo doar esses tecidos para
alguma instituição.

Em último caso, descarta-se todo esse estoque de itens obsoletos, reconhecendo o


planejamento indevido e ganha-se espaço físico para novas células de trabalho.

Ações Preventivas

A sincronização entre os departamentos de desenvolvimento, vendas e PCP, poderá minimizar


a obsolescencia nas futuras coleções. Outro ponto importantíssimo é o planejamento
antecipado de materias primas, junto aos fornecedores, devido aos lotes mínimos e lead time
diferentes.

O planejamento de compras de matérias primas é o foco de todas as ações preventivas que


devem ser tomadas. Esse planejamento é feito através da previsão de vendas, onde a realidade
não condiz com o que é planejado, devido a falta de indicadores e estudos mais profundos em
cada coleção.

O departamento de vendas, determina um número por modelo a ser produzido. Ultimamente


estão sendo desenvolvidos 15 modelos de homewear masculinos, 20 femininos e 7 infantis.
Esses números foram acordados com os diretores da empresa afim de conseguir reduzir ao
maximo os custos de produção e estoque. Assim que o departamento de PCP recebe a
demanda, é necessário fazer a ficha técnica de cada produto, que contém os consumos e
custos de cada item que serão utilizados para a confecção do homewear. Geralmente os
produtos são meia malha com meia malha listrada ou flanela, como mostra a Figura 1.
Figura 1 - Imagem do produto final (Março/2010)
Fonte: Catálogo masculino coleção Inverno 2010, da empresa analisada

Cada fornecedor, trabalha com um lote minimo de produção, quanto maior o lote, menor o
lead time de entrega. Esse é outro fator que contribuiu com o aumento do estoque de tecido
obsoleto. São necessários dois ou mais tipos de tecidos para a confecção do produto.

No planejamento de materiais, é feito o consumo x demanda = compra. Quando a quantidade


programada para compra é diferente do lote mínimo dos fornecedores, o PCP informará a área
de Vendas que é necessário diminuir ou aumentar sua demanda, afim de evitar compras
desnecessárias ou falta de produto acabado.

Na Tabela 5 é mostrado o cronograma de uma coleção. Desde o desenvolvimento até o início


da próxima coleção, porém com esse ciclo de vida da coleção a empresa não consegue atender
os prazos de entregas contratados com os clientes. Uma estratégia para diminuir os atrasos das
entregas é iniciar o planejamento do PCP, junto com o desenvolvimento e previsão de vendas,
com isso a empresa ao invés de iniciar a produção um mês antes das entregas, iniciará dois
meses antes. Com isso o processo será mais robusto e fortalecerá o atendimento ao cliente
final.

Tabela 5 - Ciclo de vida de uma coleção (Março/2010)


Planejamento Atual -Tarefas executadas mensalmente
Período Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Tarefas Inicio Desenv. e Início do Aguardando Confecção do Início da Início das Entregas Entregas, Inicio de
de Previsão planej. entregas de mostruário produção entregas e e produção desenv.
Desenv. de Vendas PCP MPs para vendas produção produção e término nova
da coleção coleção
Fonte: Elaborado pela autora

4 - Análise de Resultados.

A empresa estudada, optou no primeiro momento em fazer homewear para pronta entrega
(saldão), mesmo com a capacidade produtiva sobrecarregada e os funcionários precisando
fazer horas extras para atender em tempo hábil a entrega dos pedidos já aceitos por vendas.

A confecção de homewear para saldão, foi bem sucedida, pois a empresa consegui reduzir em
apenas 3 meses, aproximadamente 57% do estoque de itens obsoletos, o que representa o
valor de R$ 202.259,87.
Na Tabela 6 é mostrada a situação do estoque de itens obsoletos, após a utilização do mesmo
para a confecção de homewear para saldão.

Tabela 6 – Estoque obsoleto reduzido (Abril/2010)


Itens Obsoletos - Abril/2010
Tipos de Tecidos Quantidades Unidade Valor Unit. Valor Total
Flanela 4774 mts R$ 11,45 R$ 54.662,30
Meia Malha 5001 kg R$ 19,76 R$ 98.819,76
M.malha listrada 1747 kg R$ 27,64 R$ 48.287,08
Rib 1404 kg R$ 19,76 R$ 27.743,04
Punho 985 kg R$ 21,88 R$ 21.551,80
Rugby 640 kg R$ 19,76 R$ 12.638,50
Suedine 300 kg R$ 19,76 R$ 5.928,00

Valor total em R$ de itens obsoletos = R$ 269.630,48


Fonte: Elaborado pela autora

Outra proposta aceita e já em andamento é reprocessamento das cores extravagantes, nas


cores de maior giro no estoque. Para isso são necessários testes em laboratório, para saber o
quanto será afetada a qualidade da malha reprocessada.

5 - Conclusão

Com esse artigo conclui-se que é há diversas maneiras de gerenciar os estoques de uma
empresa, indepedente do tipo de produto e ramo de atuação. O gestor tem o dificil papel de
planejar o correto e surgerir melhorias se o processo não está adquado.

Foi possível observar que na empresa analisada, os maiores problemas que geraram o estoque
de itens obsoletos foram, o planejamento e a falta de sincronização entre os departamentos.

Devido a empresa estar em fase de mudanças organizacionais, acredita-se que será mais fácil
a implementação de ferramentas e indicadores para um melhor gerenciamento nos estoques.

Neste artigo foi mencionado apenas a matéria prima tecido, por ser a matéria prima principal
para a confecção do homewear e a de maior custo no estoque.

O trabalho para a redução do estoque de itens obsoletos levará em torno de 12 meses, porém
de nada adianta as ações corretivas para reduzir a obsolescência, se não tiver as ações
preventivas para evitar um planejamento inadequado.

A empresa conseguiu reduzir 57% do estoque de itens obsoletos, usando apenas uma das
estratégias citadas nas ações corretivas. No decorrer dos proximos 9 meses a empresa
continuará trabalhando para conseguir atingir 100% de redução do estoque de obsoletos,
sendo em último caso descartar o que não conseguir utilizar, vender ou doar.

Conforme Dias (1993), deve se manter a acuracidade e avaliar a situação dos estoques com
inventários rotativos, identificando materiais obsoletos e danificados. Isso evita que a empresa
acumule estoques desnecessários e já tome alguma ação corretiva imediatamente, afim de
evitar maiores prejuízos no futuro.

Bibliografias

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