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CRISTIANE REGINA TAVARES CARDOSO

DANIELE LIMA GARCIA MEURER

O JOVEM E O CRACK
A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL
NO ADOLESCENTE USUARIO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

JOINVILLE
2010
1

CRISTIANE REGINA TAVARES CARDOSO


DANIELE LIMA GARCIA MEURER

O JOVEM E O CRACK
A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL
NO ADOLESCENTE USUARIO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Artigo Científico apresentado ao Curso de Terapia


Ocupacional, da Faculdade Guilherme Guimbala,
como requisito parcial para obtenção do titulo de
Terapeuta Ocupacional, sob orientação do Prof. Dr.
Alexandre Broch.
.

JOINVILLE
2010
2

AGRADECIMENTOS

As minhas irmãs queridas, especialmente a Isabela, por me estimular a escolher


esse curso e a aceitar esse desafio.

Aos meus pais pelo amor incondicional e torcida durante toda essa jornada.

A Marlene Bonelli pelo incentivo, apoio e me fazer acreditar em mim mesma.

Ao Ermesom pelo amor, paciência e consolo nos momentos difíceis.

Minha gratidão a todos os meus amigos com quem tenho contato diário e que tanto
me agregam como pessoa, pelo apoio e compreensão.

A Alexandre Broch por sua sabedoria, pela atenção dedicada e por ter sido muito
mais do que um orientador.

Cristiane Regina Tavares Cardoso


3

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar á Deus, por ter me ajudado, e ter me dado entendimento
para superar todas as dificuldades encontradas pelo caminho, pois sem Ele eu não
chegaria até aqui!

Sou imensamente grata pela dedicação e apoio em todos os sentidos do Professor e


Terapeuta Ocupacional Alexandre Broch.

E não poderia deixar de dedicar algumas palavras ao meu amado e querido esposo
Roberval Meurer que de forma companheira e amorosa me fortaleceu nos momentos
em que mais precisei durante a conclusão deste artigo.

Á todos os que desejam trabalhar com reabilitação de usuários de psicoativos e


principalmente aos Terapeutas Ocupacionais, que dedico a publicação deste artigo.

Daniele Lima Garcia Meurer


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TÍTULO: O JOVEM E O CRACK – A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL


NO ADOLESCENTE USUARIO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

AUTORES: CRISTIANE REGINA TAVARES CARDOSO


DANIELE LIMA GARCIA MEURER

ORIENTADOR: Professor e Terapeuta Ocupacional Alexandre Broch

RESUMO

Neste artigo busca-se esclarecer a fase da adolescência e suas especificidades de


comportamento, justificando assim algumas das motivações do usuário de crack.
Considerando ainda a dinâmica familiar, que muitas vezes se encontra
desestruturada, e contribui também como facilitadora para o adolescente procurar as
substâncias psicoativas. No caso do crack, abordamos a negligencia por parte da
família, pois esta, por vezes, apresenta pais ausentes e ausentes também de
relacionamentos saudáveis como diálogos e afetividade; necessidades básicas da
formação. O adolescente enfrenta uma fase de formação de identidade na natural
transição da criança para o adulto, fechando-se com as informações adquiridas até
então (da família ou da base substituta) e colocando essas em teste com a
sociedade – se experienciando com as informações que possui, mesmo que essas
sejam insuficientes e autodestrutivas. A Terapia Ocupacional é a ciência que tem
por objetivo reabilitar pessoas que perderam ou precisam adquirir uma função, seja
esta motora, mental ou social. Para o tratamento de usuário de psicoativos, o
terapeuta utiliza recursos terapêuticos, como, atividades de argila, pintura, música,
teatro entre outros, para o processo de reabilitação do indivíduo em conjunto com o
seu grupo de origem, que pode ser a família, casa lar, família substituta ou qualquer
outro responsável pelo adolescente. Enfatizamos o uso do crack, substância que
apresenta um alarmante índice de consumo conforme as últimas pesquisas
realizadas. O crack age de uma forma rápida em todos os sentidos, tanto quando se
refere ao tempo de chegada no cérebro, quanto ao seu tempo de efeito. Constatou-
se especificidades importantes na reabilitação do adolescente usuário de crack;
essas que diferem da reabilitação da dependência química convencional
reconhecida até então, anterior a essa substância psicoativa.

Palavras-Chaves: Uso e abuso. Drogas. Adolescência. Dependência Química.


Drogadicção. Toxicomaníacos. Saúde Mental. Reabilitação. Terapia Ocupacional.
Substâncias Psicoativas.
5

A todos os terapeutas ocupacionais que lutam e acreditam na


reabilitação do indivíduo que faz uso e abuso de substâncias
psicoativas.
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O homem que se torna paciente pela perda da capacidade de lutar


pelo que acredita,
acredita, busca outro homem, o terapeuta, para ajudá-
ajudá-lo.
O terapeuta, então, lhe proporciona a oportunidade de resgatar a
capacidade de lutar em prol de si mesmo.

Rui Chamone Jorge


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1 INTRODUÇÃO

A fase da adolescência e os fatores que a compõem não são novidades para


as famílias que a presenciam, porém, o que muitos desconhecem, são as diversas
dinâmicas familiares que podem possuir um funcionamento patológico e afetar o
desenvolvimento do adolescente que enfrenta uma fase transitória e de diversas
modificações em seus mais diferentes aspectos. A família é base para todo e
qualquer indivíduo, e se esta base não tiver caráter consolidado, onde as carências
do indivíduo deveriam ser supridas, o mesmo pode procurar outros meios de
compensação.

As substâncias psicoativas tem sido o modo mais buscado para essa


espécie de substituição, pois nela o indivíduo encontra satisfação e alienação,
mesmo que temporária, para seus conflitos não resolvidos. Atualmente o
adolescente que faz uso de psicoativos já não é mais uma exceção, pois verifica-se
constância nos casos de uso e abuso de tais substâncias. O Crack é uma substância
essa que possui um enganoso baixo custo, muito atraente aos jovens, mas que,
quando comparado a outras substâncias, possui um tempo de efeito (psíquico e
orgânico) bem menor. Conjuntamente ao término do efeito, apresenta grande
necessidade fisiológica da nova dosagem.

Os adolescentes, em geral, são muito curiosos de experimentar tudo. É uma


fase em que a característica principal é a procura, dentre as muitas opções,
do caminho que se vai seguir. [...] Como a adolescência é um período curto
em relação à vida do ser humano, a densidade do uso de drogas nessa
época torna-se muito maior, ou seja, acabam-se usando muitas drogas em
poucos anos. Além disso, na adolescência mais comum o uso de drogas
quando o jovem está passando pela onipotência pubertária (oposição às
regras existentes) e pela onipotência juvenil (minimização de riscos,
maximização de prazeres), pois, achando que pode fazer tudo sem que
nada de ruim aconteça, o jovem abusa da droga, pensando que não vai se
prejudicar sem se viciar (TIBA, 1995, p. 86).
8

O presente trabalho visa abordar justamente estas questões, investigando


formas de intervenção da Terapia Ocupacional no processo de reabilitação destes
adolescentes, resgatando seus valores com o apoio da família, considerando que o
principal problema não está nas substâncias, mas sim na causa, o que motivou este
adolescente a procurá-las. Desta forma, acredita-se que o indivíduo possa se
reestruturar aliado a uma dinâmica familiar saudável. O indivíduo usuário de Crack
faz-se disfuncional perante as exigências sociais. Apresentando sentimentos de
baixo valor ou baixa auto-estima, não dispondo de recursos para desempenhar seu
papel produtivo, que é indispensável para a valorização do indivíduo. Assim justifica-
se a abordagem da Terapia ocupacional em cima das potencialidades em atividades
construtivas.
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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Substância psicoativa é toda e qualquer substância que altera o


funcionamento normal do Sistema Nervoso Central. Seu uso se sobressai entre os
jovens adolescentes, independentemente da classe social que o mesmo se
encontra. Com relação a isso, notou-se que a porta de entrada para o mundo das
substâncias psicoativas não costuma ser a maconha, pois apesar do que se
imaginava até então, as pessoas normalmente iniciam pelo álcool ou através do
fumo. É importante observar que nem todo adolescente que ingere álcool ou fuma
vai fazer uso de psicoativos no futuro ou ficar dependente, mas é uma porta de
entrada como já referido.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer


substância química ou a mistura delas capaz de modificar uma ou mais
funções do organismo vivo, resultando em mudanças de ânimo, de
entendimento ou de comportamento (OMS, 2000, p. 313).

Outra forma de defini-la é considerar que pode conduzir o indivíduo a uma


espécie de auto-administração, provocando danos à saúde e às suas relações
sociais. Os psicoativos atuam no cérebro afetando as atividades mentais, sendo por
essa razão denominadas psicoativas.

2.1.1 Tipos de substâncias psicoativas

As substâncias psicoativas podem ser naturais ou sintéticas. As naturais são


obtidas através de fungos, plantas, de animais ou de alguns minerais, já as sintéticas
são fabricadas em laboratório, necessitando de técnicas especificas. As substâncias
psicoativas se dividem em 3 tipos clássicos:
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2.1.1.1 Substâncias que diminuem a atividade mental

Também denominadas como depressoras, afetam o funcionamento cerebral,


fazendo com que o mesmo funcione mais lentamente. Essas substâncias diminuem
a atenção, a concentração, a tensão emocional e a capacidade intelectual. São
aquelas em que o usuário sente-se mais calmo, mais a vontade, devido ao
relaxamento prazeroso, reduzem a insônia, a ansiedade e a depressão. O uso
prolongado causa efeitos físicos e/ou psíquicos: como dificuldades na fala, no
pensamento, na memória, aumentam a irritabilidade e causa alterações no humor.
As doses altas levam a convulsões, depressão respiratória e cerebral, levando a
morte. Ex.: Ansiolíticos (tranqüilizantes), Neuropléticos, Barbitúricos, Meperidina,
Narcóticos (Morfina, Ópio, Heroína e a Codeína) (KOSOVSKI, 1998).

2.1.1.2 Substâncias que aumentam a atividade mental

Conhecidas como estimulantes, afetam a atividade cerebral, fazendo com


que funcione de forma mais acelerada. O usuário fica mais alerta, tendo a impressão
de poder, força e dinamismo, acreditando que devido ao estímulo consegue maior
produtividade no trabalho e sente-se mais corajoso. Este tipo de substância provoca
alterações no funcionamento do organismo como taquicardia, problemas
respiratórios, pressão arterial, temperatura corporal, insônia e falta de apetite. Ex.:
Antidepressivos, Anfetamina, Cocaína, Crack (KOSOVSKI, 1998).

2.1.1.3 Substâncias que alteram a percepção

São chamadas de substâncias alucinógenas, provocam distúrbios no


funcionamento do cérebro, fazendo com que ele passe a trabalhar de forma
desordenada, numa espécie de delírio. Leva o usuário a alucinações, com distorções
de cores e formas. Ex.: LSD, Mescalina, Maconha, Psilocibina e a Fenilciclidina
(KOSOVSKI, 1998).
11

2.2 DEPENDÊNCIA QUÍMICA OU USO E ABUSO DE SUBSTÂNCIAS


PSICOATIVAS NA ADOLESCÊNCIA?

A dependência química é uma síndrome médica já definida à nível


internacional. O diagnóstico é realizado mediante uma variedade de sintomas que
indicam que o indivíduo apresenta comprometimento e graves prejuízos devido ao
consumo de substâncias psicoativas. A definição como síndrome implica em
diversos sintomas que não necessitam estar todos presentes ao mesmo tempo para
o diagnostico ser realizado, resultando em uma variedade de quadros clínicos que se
apresentam aos diferentes serviços de atendimento, garantindo as diferenças
individuais entre os pacientes dependentes.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu dependência química como:

Estado psíquico e às vezes igualmente físico, resultante da interação entre


um organismo vivo e uma substância que se caracteriza por mudanças de
comportamento e outras reações, compreendendo sempre um impulso para
tornar a substância de modo contínuo ou periódico, com o objetivo de
reencontrar seus efeitos psíquicos e às vezes evitar o sofrimento de sua
falta. Este estado pode ou não ser acompanhado de tolerância. Um mesmo
indivíduo pode ser dependente de várias substâncias simultaneamente
(Organização Mundial de Saúde - OMS,1969).

A partir das definições destacadas acima, notamos que a dependência


química é um fenômeno que ocorre em indivíduos que apresentam prejuízos de
ordem física, psíquica e social, diferenciando-se assim, daqueles que fazem uso
esporádico ou mesmo abuso de substâncias.

Silveira (1995, p.2) observa essa diferenciação quando diz:

Tanto para o usuário recreativo quanto para o dependente a droga é fonte


de prazer, porém para o dependente ela passou a desempenhar papel
central em sua organização, ocupando lacunas importantes e tornando-se
indispensável ao funcionamento psíquico do sujeito.
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Tanto o uso abusivo quanto o crônico podem levar a prejuízos importantes


para o indivíduo, como afirma Ballone (2006, p.3):

Além do uso agudo de drogas modificar o funcionamento cerebral de forma


crítica, momentânea e aguda, o consumo prolongado pode causar
alterações bastante abrangentes na função cerebral, alterações estas que
persistem por muito tempo depois da pessoa parar com o uso da
substância.

Além dos danos orgânicos e psíquicos, a dependência pode abranger a vida


social do indivíduo prejudicando-o no desempenho escolar, no desempenho do
trabalho, nas áreas sociais e muitas vezes com a lei.
Entretanto na fase da adolescência não acontece a dependência
propriamente dita, mas sim uso e abuso de psicoativos, ou seja, o adolescente inicia
usando ocasionalmente por curiosidade, em festas com grupos de amigos que até o
momento são seu referencial, e caso ele viva conflitos familiares ou tenha dificuldade
para encarar seus problemas e resolvê-los, usa a substância como fuga, pois sob
efeito do psicoativo ele adia a solução do problema ou possui a falsa noção da sua
resolutividade.

Justino et al. (2007, p.3) destaca:

[...] o diagnóstico de dependência ou abuso de substâncias na adolescência


implica que estes apresentem prejuízos e disfunções causados pelo uso.
Entretanto, há poucos estudos sobre a aplicabilidade dos critérios existentes
para o diagnóstico de abuso e dependência para adolescentes.

Scivoletto (2001) argumenta que a maioria dos estudos que procuram validar
os critérios diagnósticos atuais é realizada com pacientes adultos.
No entanto, o que aparenta ser um escape conduz à autodestruição do
próprio indivíduo, que com o uso contínuo não consegue mais suportar o mundo real,
buscando continuamente nas substâncias um alívio temporário, desencadeando
assim um círculo vicioso. Mas, independente da freqüência com que a mesma é
utilizada, gera riscos e conseqüências ao usuário conforme afirmações e citações
destacadas acima.
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Conforme Moraes apud Kosovski (1998, p.29):

[...] ao drogar-se, o indivíduo buscaria realizar uma fantasia de


autovalorização patológica, segundo o qual o mundo real seria incapaz de
satisfazê-lo em seus desejos e ambições, pelo que o drogado vai para um
estrato próprio, onde ele é um autêntico ditador e onde suas fantasias são
os personagens principais do teatro do faz-de-conta propiciado pela
alienação conseqüente à intoxicação voluntária.

2.3 CRACK

O crack é uma substância derivada da cocaína misturada com bicarbonato


de sódio, amônia e água destilada que resulta nas pedras que são fumadas em
cachimbo ou lata; nesta última se amassa a mesma, se coloca cinzas de cigarro
junto com a pedra, fazendo orifícios na lata. Acende-se e a pedra vai se consumindo
e o usuário “traga” a fumaça pelo bocal. É cerca de 6 a 10 vezes mais forte que a
cocaína. Porém, pelo fato de ser fumado, é absorvido pela mucosa dos pulmões, que
é um órgão intensamente vascularizado e com grande superfície, levando a uma
absorção instantânea. Assim, a substância entra na circulação cerebral, alterando a
atividade do cérebro. Em 10 a 15 segundos, os primeiros sintomas são sentidos,
enquanto que inalando o pó de cocaína estes mesmos sintomas só aparecem depois
de 10 a 15 minutos. É uma substância acelerada em todos os aspectos (KOSOVSKI,
1998).
O custo do Crack é mais baixo comparado a Cocaína, o que é considerado
um suposto atrativo. Uma dose custa cerca de 5 reais, porém como a duração dos
efeitos é muito rápida, cerca de 10 minutos, o usuário logo volta a consumir, o que
confirma que o seu baixo custo é um ledo engano. Ocorre o desencadear de um
consumo desenfreado. Por causa dos efeitos rápidos e intensos do Crack, o usuário
costuma manifestar uma “fissura” avassaladora (vontade incontrolável de sentir os
efeitos prazerosos que a substância provoca).
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O perfil do usuário de crack passa essencialmente pela solidão, já que boa


parte dos usuários gosta de consumir a substância sozinhos, em hotéis ou motéis, a
não ser que não tenham recursos para o mesmo, consumindo em grupo. A quase
ausência do cheiro do crack (levemente cheiro de borracha queimada) facilita seu
uso em qualquer local, este sendo um dos fatores que contribuiu para disseminar
seu uso alarmante. Pesquisas apontam que o consumo do crack iniciou por
indigentes nos Estados Unidos, inicialmente conhecido como cocaína dos mendigos,
e após se disseminou por todas as classes sociais. O fato é que o uso abusivo de tal
substância leva o indivíduo à total mendicância, mantendo seu rótulo de origem.
Os efeitos psíquicos produzem sensação de poder, excitação e euforia. São
altamente estimulantes, causam taquilalia, idéias paranóicas, ansiedade, delírio
persecutórios intensos, alucinações e agressividade. E os efeitos físicos causam
insônia, inapetência, dilatação das pupilas, febre, sudorese, aumento da pressão
arterial e taquicardia. Em alguns casos evoluem para complicações cardíacas e
circulatórias, convulsões e coma. O uso prolongado pode levar à destruição de
tecido cerebral.
Como sintomas psiquiátricos observa-se que o uso repetido tende a
aumentar os seus efeitos excitatórios e euforizantes, o indivíduo pode apresentar
sintomas psicóticos, tais como: desorientação, comportamento estereotipado,
preocupação indevida com minúcias e idéias paranóicas, bem como alucinações
táteis, podendo-se referir à tentativa de “arrancar bichinhos da pele”. As alucinações
geralmente cessam com a interrupção do uso da substância, podendo persistir as
idéias delirantes e psicóticas (KOSOVSKI, 1998).

2.4 ADOLESCÊNCIA

A adolescência é por natureza uma fase transitória entre a infância e a vida


adulta, onde todos os aspectos devem ser levados em conta: biológicos,
psicológicos, sociais, culturais e ambientais.
Acontecem modificações corporais como, por exemplo: alterações na
estrutura dos ossos, nos órgãos digestivos, no sistema glandular e no circulatório.
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Mesmo em períodos não-emotivos, o corpo atravessa um estado de


desequilíbrio. Encontra-se, portanto, em condições de vulnerabilidade e totalmente
desorganizado por estímulos emocionais relativamente sutis. Para muitos
adolescentes a vida consiste em passar de um episódio emocional para outro, é um
período em que o jovem está muito sensível e frágil ao meio externo.
Os adolescentes buscam impor um tempo próprio, onde tudo deve acontecer
“já” e “agora mesmo”. Observa-se uma baixa tolerância à frustração e um deficiente
controle de impulsos.
A adolescência representa uma fase típica de dicotomia (lados opostos) e
dualismo (opiniões opostas), onde ele se sente adulto, e busca sua liberdade e auto-
afirmação. Nesta busca, sente-se frustrado com uma série de limitações pessoais e
princípios sociais. É uma fase de ajuste e desajuste, um período de transição e
mudanças que requer grande esforço de adaptação.

A vaidade pessoal e o desejo de ser auto-suficiente ficam evidentes na


adolescência: conhecida como a onipotência juvenil, devido a isso, o
adolescente prefere não pedir ajuda, pois isso pode denegrir a sua auto-
imagem. Com uso de substâncias psicoativas esse quadro piora, pois o
usuário não admite que a mesma lhe faça mal, julga que nunca será um
viciado, pode parar quando quiser. No início ele pode sentir uma sensação
de alívio em relação ao problema que está vivendo, porém isso não significa
que o problema deixou de existir, o indivíduo simplesmente adiou a solução
do mesmo, mas agora ele se encontra com um problema a mais: os
psicoativos. Entretanto, existem alguns adolescentes que se consomem
ostensivamente, chamando bastante a atenção dos outros sobre si, pode
ser uma forma, embora inadequada, de pedirem ajuda (TIBA, 1995, p.113).

2.4.1 Comportamento

As emoções motivam todo comportamento do adolescente e nenhum outro


aspecto do seu desenvolvimento tem maior importância do que sua vida emocional,
considerando que quase todas as suas dificuldades envolvem esse aspecto.

Na realidade, deve-se procurar compreender, não somente as emoções que


expressa, mas estar alerta para as emoções que tenta esconder. Os
sentimentos a respeito de si mesmo e dos outros, bem como o julgamento
que a seu ver os outros fazem dele, dominam toda a vida do adolescente
(CAMPOS, 1987. p.52).
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Existem varias situações que demonstram intensa emoção entre os


adolescentes, pois os mesmos são pressionados a encarar e solucionar problemas
nunca vivenciados até então. O adolescente é desafiado com problemas, tais como:
Preparação profissional e independência econômica; formação de atitudes maduras
para com o sexo; estabelecimento de interesses heterossexuais; busca de
significado e finalidade da vida; descoberta de seu eu e de seu lugar no mundo;
independência do lar e estabelecimento de novas relações fora do grupo familiar;
entre outros. Evidenciando assim como a emoção está envolvida na vivência de
todos esses problemas do adolescente (CAMPOS, 1987).
A satisfação de seus desejos e a concretização de suas esperanças
conduzem emoções agradáveis, mas os conflitos e frustrações desencadeiam sérias
perturbações emocionais. Qualquer pessoa que vive ou se relaciona com um
adolescente pode observar que suas experiências emocionais constituem um
acompanhamento extremamente importante de seu processo de desenvolvimento.
Até mesmo os adolescentes bem ajustados têm suas tribulações, experiências
altamente satisfatórias e excitantes, pois estas fazem parte da fase da adolescência.
As atitudes emocionais se misturam em pólos opostos entre o otimismo, a
cooperação entusiástica, o retraimento e a depressão pessimista (OSÓRIO, 1989).
Quando um adolescente está treinado a fazer o que é socialmente aceitável,
estará pronto para assumir o controle de seu comportamento. Contudo, as decisões
tomadas por ele próprio tendem a estar condicionadas por suas emoções. Quando
as emoções de um adolescente exercem uma influência muito acentuada sobre suas
atitudes e comportamentos, suas reações emocionais não-controladas podem
interferir seriamente na capacidade para usar sua liberdade de decidir e de portar-se
de acordo com o que lhe é permitido. Assim, o controle habitual das emoções é
essencial para a satisfação, ajustamento e sucesso do adolescente (PALÁCIOS et
al. 1995).
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2.4.1.1 Características comportamentais

a) Busca de si e da identidade adulta, onde está abandonando sua auto-imagem


infantil e construindo uma nova.

b) Tendência grupal: processo de afastamento dos pais, substituindo-os pelo


grupo;

c) Necessidade de intelectualizar e fantasiar;

d) Crises religiosas, extremismo do total ateísmo para o total fanatismo;

e) Deslocação temporal onde as urgências são enormes e às vezes irracionais.

f) Evolução sexual do auto-erotismo até a heterossexualidade, variação entre


masturbação e o começo do exercício genital aceitando sua genitalidade;

g) Atitude social combativa e reivindicatória: o adolescente sente a necessidade


de contestar para se auto-afirmar perante a sociedade;

h) Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta: vive os


extremos tentando encontrar o equilíbrio;

i) Separação progressiva dos pais onde o afastamento se faz necessário e


proporciona a formação da sua própria personalidade;

j) Permanentes oscilações de humor.


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2.4.2 Principais teorias referentes a fatores predisponentes da dependência


química na adolescência

Percebeu-se, durante o desenvolvimento deste artigo, que o maior problema


não é a substância em si, mas o que leva estes adolescentes a procurá-las.
Para uma pessoa fazer uso ou abuso de psicoativos é necessário ter
ultrapassado o limite de sua autopreservação, isto é, submeter-se a todos os riscos
desse envolvimento, complicações e conseqüências.

Todos têm conhecimento de que a drogadição apresenta causas múltiplas e


que se relaciona com quase todas as áreas do conhecimento e práticas do
homem contemporâneo; entretanto, os drogaditos têm uma conduta
estereotipada, facilmente percebida no olhar, no andar, no pensar, no
desejar somente a droga, no agir somente pela e para a droga (JORGE,
1991. p.41).

Existem vários motivos que impulsionam e determinam que o indivíduo faça


o uso de psicoativos e dentre eles encontramos os fatores biológicos, psicológicos e
sociais que se correlacionam entre si. Pais que fizeram uso ou abuso de substâncias
psicoativas aumentam a probabilidade de o filho também fazer uso, pois seu uso
afeta geneticamente tanto o usuário como o feto, podendo causar severas
complicações no desenvolvimento da criança.
A desestruturação familiar tão comum em nossos dias, ou mesmo diante de
maus exemplos dos pais que, mesmo exigindo determinado comportamento de seus
filhos, não são bons paradigmas. Muitos adolescentes usuários também relatam que
buscam os psicoativos como forma de auto-afirmação.

Como está em plena auto-afirmação, principalmente pelo enfrentamento e


pela oposição este onipotente têm muitos pontos vulneráveis para a
iniciação com drogas. Dependendo de como for atingido, provocado ou
adorado, ele pode não experimentar drogas (TIBA, 1995, p.16).
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Justamente por ser uma fase de evoluções é natural essa necessidade de


opor-se às normas procurando auto-afirmação, porém, quando o mesmo é mal
compreendido pelos adultos e reprimido violentamente, esta tendência pode agravar-
se estereotipando os comportamentos anti-sociais, facilitando de tal modo que pode
propiciar o uso de psicoativos.

Referente a este assunto, Silva (1972, p.11) declara:

A juventude até mesmo por imperativo biopsicológico é eminente


contestadora. Rejeita os valores vigentes, chegando a paroxismos
extremistas. Adere, não raro, a teorias libertárias, ideológicas exóticas,
correntes pseudofilosóficas, modismos dos bem-pensantes.

Como a adolescência também é uma fase de novas descobertas e de


caráter exploratório, aumentam-se as propensões para a procura de psicoativos.
A tendência grupal é uma das principais características da adolescência,
ponto crucial para a crescente disseminação de psicoativos, pois o indivíduo, para
não ser excluído do grupo, ou para provar que não é mais criança, experimenta as
substâncias psicoativas como ato de superioridade.
O uso ou abuso de tais substâncias pode ser ilustrado como o uso de
“muletas”, uma espécie de fonte ilusória em busca de alívio para as frustrações,
distúrbios emocionais, pobreza e carências múltiplas. Da mesma forma,
adolescentes que apresentam inibições nas relações interpessoais, principalmente
em relação ao sexo oposto, podem procurar os psicoativos em festas ou bailes para
atenuar a timidez.
Crianças carentes e vítimas de maus tratos compõem o grupo de maior
risco, considerando ainda as características de cada uma, o momento e o meio. A
criança e o adolescente refletem drasticamente a problemática dos pais, e devido a
isto, é muito comum encontramos o pai alcoólatra, a mãe que usa calmantes e o filho
que fuma maconha. Nota-se aí a mesma tentativa de “fuga da realidade”.
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2.5 DINÂMICAS FAMILIARES E ADOLESCENTES DA DEMANDA DE


DROGADICÇÃO

A família é o núcleo responsável pela formação da consciência cidadã do


adolescente e também é o apoio irrestrito no processo de adaptação das crianças
para a vida em sociedade. A mesma também é responsável por uma boa educação
que, conseqüentemente, gera uma base sólida e segura no contato com as
adversidades apresentadas pela vida.

Para Tiba (1995, p.68):

Dizer palavras afetuosas, dar boa comida, boa roupa, fazer carinho não
basta. Educar é também ensinar o que são responsabilidade, honestidade,
justiça, gratidão, autopreservação, solidariedade. Não basta apenas amar; é
preciso transmitir uma filosofia de vida saudável.

E ainda complementa:

Muitos pais amam seus filhos, mas não os educam. Temem cobrar deles
responsabilidade, pensando em não sobrecarrega-los. Mas, ao contrário do
que se pensa, são justamente esses filhos superprotegidos, sem limites
reais, os afetivamente mais carentes. Tendo de tudo, sentem-se frustrados
como se lhes faltasse algo que não pode ser materialmente preenchido. E
querendo preencher esse vazio interno, suprir essa angústia, podem chegar
à droga e facilmente ficar viciados, pois, além do prazer, a droga “desliga-
os” da angústia interior, da carência afetiva (TIBA, 1995. p.68).

Em muitos casos, onde se encontram famílias desestruturadas ou


repressoras, costuma-se achar que a única solução para acabar com o “vício” do
filho é prender o traficante. Não vêem que antes de procurar os culpados ou
inocentes, deveriam questionar a estrutura familiar.
Referindo um exemplo, a família pode se colocar na posição de vítima,
acusar as más companhias, sendo o filho a ovelha negra, o centro do problema.
Psicólogos mostram que é justamente esse filho que sustenta a estrutura familiar de
uma forma deficitária e sofredora, e, se ele mudar de atitude e criar
responsabilidade, vai revelar para a família a desestrutura que essa possui.
21

Às vezes, inconscientemente, chegam a desejar que o filho continue como


está para, assim, justificar seus fracassos. Nestes termos é fundamental estender o
tratamento à família.
Outra questão que gera problemas na dinâmica familiar é o fato de que a
mulher saiu para ingressar no mercado de trabalho, dividindo com o homem o papel
de provedora e educadora dos filhos, e aponta a transformação da relação familiar
para uma forma igualitária. Contudo, esta nova forma de relação criou competição de
autoridade, dificultando o estabelecimento de limites e confundiu a definição de
papéis.
Algo comum em muitos casos, sem que a família note, é que o adolescente
pode conseguir atrair a atenção dos demais familiares. O indivíduo pode aprender a
manipular e apreender todos numa espécie de “rede de auto-proteção”. Assim, ele
poderá conseguir que os pais patrocinem (com atitudes e dinheiro) sua posição, e
dos irmãos tentará ganhar o “direito” de proteção e sigilo de muitas situações, que se
chegassem aos ouvidos dos pais, ficaria em “situação de risco”. Neste caso, o
indivíduo pode tornar os familiares compadecidos com “aquele ser escravizado por
alguma substância psicoativa”.
Neste exemplo também, os outros filhos podem se sentir abandonados, visto
que já perceberam a manipulação do dependente químico. Pressionarão os pais
para que enxerguem o que está acontecendo. Os pais podem ficar ainda mais
perdidos, porque agora já não sabem mais para onde olhar, o que provavelmente
desencadeará uma ativação dos sistemas de defesas e potencializarão as
acusações mútuas.
A negligência familiar é o aspecto mais importante na formação de
adolescentes usuários de Crack. Geralmente ocorrem em famílias onde os pais não
desempenham vínculos afetivos com seus filhos, desprovendo-os de auto-estima,
causando assim, um forte processo autodestrutivo. Vivem num ambiente de
violência, vulnerabilidade social e de falência das relações familiares. Essas
questões, aliadas a negligência, favorecem a permanência de crianças e jovens nas
ruas, possibilitando comportamentos de risco como o consumo de Crack. Esses
adolescentes têm dificuldade de aceitação de regras de convivência, usam também
o Crack como forma de expressão de agressividade e revolta.
22

Algo muito importante de se destacar, é que estes casos referidos acima de


dinâmica familiar patológica são comuns, porém não se pode generalizar. Estes
foram apenas alguns exemplos de situações que acontecem muitas vezes na
sociedade.

2.6 DEFINIÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL

Terapia Ocupacional é uma ciência dotada de recursos para tratar e reabilitar


indivíduos que tiveram suas funções prejudicadas, estas que podem ser congênitas
ou adquiridas, permanente ou temporária. O terapeuta ocupacional visa promover a
independência do indivíduo, adequando o meio às suas necessidades.

Segundo Finger (1986, p.1)

Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de orientar a participação de


indivíduos em atividades selecionadas para restaurar, fortalecer e
desenvolver a capacidade, facilitar a aprendizagem daquelas habilidades e
funções essenciais para a adaptação e produtividade, e promover e manter
a saúde.

Resgatar a autonomia do indivíduo é um dos principais objetivos da Terapia


Ocupacional, preparando o indivíduo para desempenhar seu papel ocupacional.
Como refere Rui Chamone Jorge (1984, p.13) “O terapeuta ocupacional procura
prover o indivíduo de condições laborativas que o levem a mudanças de
comportamento e sentimentos”.
As atividades com fins terapêuticos e ocupacionais proporcionam ao
indivíduo uma possibilidade para o fazer, resgatando sua capacidade ou tornando-o
capaz. Afinal, o homem é dotado do fazer, do ocupar, sendo estes os componentes
que apresentam sua existência.
Barja e Ribeiro (2008, p.1) referem que “[...] a terapia ocupacional (TO)
desempenha um papel fundamental, pois utiliza diversas atividades como
instrumento de trabalho”.
23

A Terapia Ocupacional se utiliza da atividade humana como recurso


terapêutico, promovendo em sua totalidade o resgate da funcionalidade.
Restaurando as habilidades essenciais do indivíduo.
A Terapia Ocupacional tem por objetivo a busca da autonomia, da
independência e da qualidade de vida, tendo como instrumento de ação as
atividades da vida cotidiana, que somente podem ser ditas terapêuticas quando são
realizadas “[...] em um contexto em que exista um terapeuta ocupacional e alguém
que a busque para fazer terapia ocupacional [...]” (TEDESCO, 1996, p. 94).
A Terapia Ocupacional é uma área vasta de conhecimento e capacidade
para auxiliar o indivíduo a exercer suas funções humanas, sejam elas relacionadas a
ações motoras, cognitivas ou na esfera biopsicossocial.

2.6.1 Papel da Terapia Ocupacional no tratamento do uso e abuso de


substâncias psicoativas

O papel da Terapia Ocupacional se baseia em resgatar valores e funções do


indivíduo, cujos foram prejudicados pelo uso e abuso de psicoativos, almejando
tornar o indivíduo o mais independente possível.
Para Finger (1986, p.8), “o objetivo da Terapia Ocupacional é o de
proporcionar uma situação terapêutica na qual os pacientes tenham a oportunidade
de expressão e sublimação das necessidades emocionais”.
Sendo assim, o terapeuta busca refinar ou aderir às habilidades práticas do
controle da vida, e isto inclui o contexto social, controle financeiro, trabalho,
resolução de problemas, dentre outros aspectos que fazem parte da vida do
indivíduo.

O Terapeuta Ocupacional tem o papel de intervir para ajudar o indivíduo a


equilibrar fatores emocionais e recuperar competência. O Terapeuta pode
adaptar as demandas do desempenho de tarefas, tornar o ambiente mais
agradável, ensinar, capacitar e realizar um novo repertório de habilidades ou
ajudar o indivíduo a readquirir habilidades perdidas; onde o mesmo deverá
participar ativamente (HARGERDORN, 1999 p.18).
24

O terapeuta desenvolve um modelo de tratamento de acordo com as


necessidades que cada indivíduo apresenta. Busca os motivos que levaram este
indivíduo a procurar tal substância, pois é através da investigação da causa que
pode-se iniciar um tratamento eficaz.

O tratamento da Terapia Ocupacional para os dependentes químicos enfoca


os problemas relacionados com suas capacidades de comunicação,
destreza recreativas, saídas emocionais e o conhecimento do que os motiva
a ação. As metas especificas para cada dependente químico são traçadas
de acordo com as necessidades especificas de cada um (SPACKMAN,
1998, p.581).

Nota-se então o amplo papel desempenhado pelo Terapeuta Ocupacional no


contexto do tratamento. O terapeuta possui tal capacidade que, por meio das
atividades, proporciona novas possibilidades e finalidades no processo de
intervenção, garantindo assim uma variedade de ação, expressão e um novo olhar
para sua existência.
A Terapia Ocupacional visa, por meio de atividades, trabalhar a motivação e
afetividade do indivíduo, proporcionado, assim, uma forma de recuperar sua
identidade.
“Com a realização das atividades abre-se um campo de aquisições,
habilidades e prevenção, que pode operar como fator de fortalecimento nos
processos de potencialização da inclusão sócio – cultural” (CASTRO et al. 2001, p.
55).
Desta forma a Terapia Ocupacional busca estimular o indivíduo, por meio de
experiências laborativas, que conduzam às mudanças de comportamento e
sentimentos. A intervenção serve para auxiliar o indivíduo a equilibrar fatores
emocionais e resgatar suas habilidades para o mundo real.
25

2.6.2 Papel da Terapia Ocupacional com a família

A família exerce relevante importância no tratamento, é primordial sua


participação. Tendo conhecimento disto, o terapeuta ocupacional propõe a inclusão
da família no decorrer do tratamento.
Destacamos aqui, que esta pode ser família substituta, casa lar ou qualquer
outro órgão ou pessoa responsável pelo adolescente.

O usuário de drogas é vítima de si próprio. Antes de mais nada, ele próprio


sofre as conseqüências da sua ação e pode-se dizer que o ambiente familiar
é também vitimizado e identificam-se assim, inicialmente, as vítimas do uso
abusivo de substâncias que provocam dependência física ou psíquica
(KOSOVSKI, 1998, p.17).

Para iniciar o tratamento propriamente dito, se faz necessário uma


investigação da causa do problema, e na maioria dos casos de adolescentes
usuários de substâncias psicoativas, a motivação se encontra na família. O que
justifica a importância da participação da mesma.
Após a investigação, o terapeuta considera todos os aspectos que
necessitam ser tratados, e desenvolve um plano de tratamento com metas a serem
conquistadas.

O tratamento da Terapia Ocupacional para os dependentes químicos enfoca


os problemas relacionados com suas capacidades de comunicação,
destreza recreativas, saídas emocionais e o conhecimento do que os motiva
a ação. As metas especificas para cada dependente químico são traçadas
de acordo com as necessidades especificas de cada um (SPACKMAN, 2002
p.581).
26

O terapeuta ocupacional, por ter uma visão ampla da dimensão do problema,


engloba a família para receber tratamento, de tal forma que busque a reestruturação
da dinâmica familiar, ou orientação para que a mesma tenha consciência e colabore
ativa e positivamente, para alcançar um tratamento eficaz.

[...] a família é encarada como um conjunto de pessoas entre as quais


existem de um modo repetitivo interações circulares, ou seja, o
comportamento de um dos seus membros afecta todos os outros elementos
e estes funcionam em reciprocidade. Assim, a terapia está orientada para
uma mudança na estrutura familiar pois, quando a estrutura familiar é
transformada, as posições dos membros nesse grupo ficam alteradas e, por
consequência, as experiências de cada indivíduo mudam (PARDAL, 2000,
p.24).

Para tanto, o terapeuta ocupacional pode fazer uso de alguns princípios.


Segundo Gomes (1992) para orientar de modo consciente esta família:

• O usuário não tem noção da gravidade de seu estado e acha sempre que as
coisas são mais fáceis do que imaginam;

• O usuário sente necessidade de se testar, expor-se a situações de risco para


ver se seu esforço está valendo a pena;
• Terá dificuldades para organizar novas rotinas e vivenciar a abstinência;

• É essencial a família retomar ou adotar um diálogo franco e aberto (relação


entre a verdade e a mentira);

• A família é o único segmento social capaz de transformar uma situação


insuportável (uso de psicoativos), em uma situação de acomodação
sustentável (equilíbrio).
27

2.7 ABORDAGENS DA TERAPIA OCUPACIONAL

O terapeuta ocupacional, assim como qualquer outro profissional, utiliza


abordagens teóricas para fundamentar o aspecto da prática no decorrer da sua
atuação terapêutica. É a partir destas que se elaboram atividades para intervenção,
de caráter reabilitativo durante o tratamento do indivíduo. De tal forma se procede a
escolha da abordagem para cada tipo de tratamento. Para o tratamento do usuário
que faz uso e abuso de substâncias psicoativas, usa-se principalmente 3
abordagens que se adaptam as necessidades que o indivíduo requer.

2.7.1 A Terapia Ocupacional Psicodinâmica

É uma abordagem que compreende o psiquismo em seus processos


dinâmicos, fundamentada nos princípios da psicanálise, a qual visa elaborar e
resolver conflitos intrapsíquicos, objetivando reestruturar, reorganizar e desenvolver
a personalidade.
Esta abordagem enfoca primordialmente o indivíduo, em seus conteúdos
internos, auxiliando-o a compreender os significados dos sintomas manifestos,
encontrando assim alternativas mais adequadas para enfrentar o sofrimento
psíquico.
Para tanto, se utiliza de um leque de atividades e, cada uma delas, com um
objetivo especifico, cujas serão detalhadas mais a diante, entretanto, para
exemplificar temos as atividades construtivas, plásticas e as dinamizadoras de afeto
e embotamento afetivo.

2.7.2 Abordagem Cognitivo Comportamental

É uma abordagem que considera de que forma o paciente vê a si mesmo e


às pessoas que fazem parte do seu convívio social, auxiliando o indivíduo a
encontrar novas formas de enfrentar as dificuldades que se apresentam a ele.
28

Sejam elas no que se refere a sentimentos, a sociedade, ou a necessidade


de utilizar substâncias para se sentir melhor. É uma forma de mostrar ao indivíduo
que é possível atuar de modo diferenciado.

2.7.3 Abordagem Sistêmica Familiar

É uma abordagem que integra no tratamento, o grupo de origem do


indivíduo, este podendo ser a família, casa lar ou família substituta.
Estuda, assim, tanto o indivíduo, quanto seu papel diante deste grupo de
origem, o qual pode ter sido fator predominante para a procura de substâncias
psicoativas. A família apresenta, em muitos casos, um comportamento patológico.
Desejam, inconscientemente, que o filho seja o único “culpado”, ocultando assim a
verdadeira desordem familiar. É uma forma de estabilidade para esta família. O que
evidencia a inclusão desta no tratamento do indivíduo, pois se conscientizada, pode
contribuir grandiosamente para a reabilitação do indivíduo. Estas desordens se dão
por problemas de relacionamentos entre pais, violência, alcoolismo, uso e abuso de
psicoativos, entre outros.
Carbone (2007, p.23) refere que “O aspecto fundamental é a de que o ser
“doente” ou a pessoa que apresenta problemas é apenas um representante
circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar”.
É um modelo diferenciado porque enfatiza o transtorno individual como
expressão de comportamentos inadequados de interações familiares, enquanto que
os outros modelos tradicionais de práticas psicoterapêuticas consideram o
tratamento do transtorno mental apenas na intervenção de conteúdos internalizados
causadores de conflitos, focalizando unicamente o indivíduo no processo
terapêutico, mesmo que seus transtornos sejam decorrentes do seu meio.
29

2.8 INTERVENÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL COM O USUÁRIO DE CRACK

As atividades são os recursos terapêuticos utilizados pela Terapia


Ocupacional no ato de reabilitar, pois através do fazer é resgatada a autonomia do
indivíduo.
Mata (2004 p. 31) refere que “as mãos que geram consciência à medida em
que através delas você consegue plasmar, no mundo externo, aquilo que lhe é
interior”.
Para tanto, o terapeuta ocupacional usa atividades especificas para
proporcionar ao indivíduo uma forma de expor seus conflitos internos, que estão
reprimidos, e que muitas vezes o mesmo não consegue verbalizar.

2.8.1 Atividades Construtivas

São utilizadas como forma de atenuar sentimentos de incapacidade e


desvalorização, favorecendo a elevação da auto-estima. Geralmente indivíduos que
foram totalmente negligenciados por seu grupo de origem e consequentemente pela
sociedade, apresentam tais características.
As atividades construtivas visam o desenvolvimento de habilidades
propositando ao indivíduo a resolução de problemas de desempenho, o qual faz do
produto uma meta a ser alcançada e, o meio de como fazer torna-se simplesmente
um caminho para atingir a meta.
“As atividades construtivas têm o propósito de desenvolver habilidades,
tarefas básicas, funções preliminares, hábitos da interação com objetos não
humanos adequados e atividades selecionadas para desenvolver estas habilidades”
(SCHWARTZ et al, 1987, p.210).
30

Tais experiências oportunizam ao indivíduo o desenvolvimento de


capacidade, habilidades e destrezas fundamentais para uma vida mais produtiva e
satisfatória em virtude da autonomia que todo ser humano necessita.
“São atividades altamente estruturadas e minimizam as necessidades de
tomadas de decisões. Elas proporcionam oportunidades de testar a realidade
estruturada, com suficiente auxílio ao aumento da sua integração” (SCHWARTZ et
al, 1987, p. 16).
A Terapêutica Ocupacional não faz mero uso das atividades como meio de
ocupação, mas é caracterizada como uma forma dinâmica de reabilitar.
Rui Chamone Jorge cita que “[...] as ocupações antes de serem entendidas
como um trabalho qualquer, precisam ser compreendidas como um modo ativo de o
paciente intervir no mundo a assim, ativamente, estar consigo mesmo e com os
outros” (1990, p.13).
Para Jorge (1990), a Terapia Ocupacional foi entendida como um método
que usa as mãos para tratar, e essas, instrumentos suficientes para fazer a síntese
entre o utilitário e a subjetividade humana, sem o auxilio de qualquer outro
instrumento, são capazes de estabelecer o equilíbrio e materializar o imaterial.

2.8.2 Relações moralizantes de Philipe Pinel

O tratamento moral, segundo o conceito de Pinel, visa a valorização do


paciente. Através do desenvolvimento de seus conceitos surgiu uma forma
diferenciada de tratamento.

Segundo Pinel:

A terapia ocupacional foi então introduzida como parte integrante da sua


reforma; Pinel afirma que: o trabalho constante modifica a cadeia de
pensamentos mórbidos, fixa as faculdades do entendimento, dando-lhes
exercício e, por si só mantém a ordem num agrupamento qualquer de
alienados (PINEL apud PRADO DE CARLO, BARTALOTTI, 2001. p.22).
31

Pinel enfatizou a relação entre o paciente e as pessoas que lhe oferecem


cuidado como um potente recurso terapêutico.
Dentre suas propostas de adequação para um tratamento eficaz, Pinel
destacava a importância da promoção de atividades laborativas de caráter
terapêutico, específicas para cada paciente.
“O homem que se torna paciente pela perda da capacidade de lutar pelo
que acredita, busca outro homem, o terapeuta, para ajudá-lo. O terapeuta, então, lhe
proporciona a oportunidade de resgatar a capacidade de lutar em prol de si mesmo”
(JORGE apud MATA, 2004, p. 29).

Acerca do tratamento moral Benetton apud Prado de Carlo e Bartalotti (2001,


p. 22) comenta:

O trabalho produtivo passa a ser enfatizado e através dele, espera-se


alcançar a reinserção social. O trabalho é visto como um instrumento da
Terapia Ocupacional Médica, prescrito e orientado pelos médicos, sendo
núcleo central do “Tratamento Moral”, determinando a relação estreita até
hoje conservada entre psiquiatras e terapeutas ocupacionais.

2.8.3 Atividades Expressivas

As atividades expressivas possibilitam a exteriorização do “inconsciente”,


quando o indivíduo já não consegue verbalizar tais sentimentos que o oprimem.
“Atividades expressivas são entendidas como expressões da realidade
psíquica interna, inconsciente”. (AZIMA; WITTKOWER apud TEDESCO, 2007, p.32);
A tenacidade e a plasticidade das atividades expressivas possibilitam uma
comunicação ausente de verbalização, onde o indivíduo projeta seus conteúdos
psíquicos, expondo assim seus conflitos internos.
“As atividades expressivas são possuidoras de função diagnóstica; função de
percepção de mudanças e função terapêutica” (AZIMA; WITTKOWER apud
TEDESCO, 2007, p.34);
32

Estas atividades são propostas a indivíduos que foram vitimas de situações


traumáticas, conforme afirma Liberman:

Neste sentido, os sujeitos e as famílias que vivem acontecimentos da


ordem do inevitável, particularmente nos casos traumáticos, buscam os
mais diversos recursos na tentativa de elaborar e lidar com as novas
realidades que se apresentam. [...] as artes podem ter um lugar
fundamental, pois constituem veículos facilitadores para o contato com as
realidades. Ao mesmo tempo, possibilitam a emergência de atos criativos,
expressivos, mediadores da comunicação entre as pessoas, da
(re)descoberta de habilidades e de novos jeitos de viver; ou seja, de outras
subjetividades (LIBERMAN, 1997 . p.12).

As atividades expressivas são instrumentos que permitem ao mesmo tempo


organizar a desordem interna e reconstruir a realidade externa, pois, na medida em
que as “imagens do inconsciente” vão sendo expostas, torna-se possível de ser
tratada, pois identificou-se no objeto (desenho, pintura) os conflitos até então
internalizados.

O importante é que as atividades se destinam a despertar e expressar


sentimentos, paixões, tendências, e tem o poder de induzir o paciente a
evocar e experimentar todos os sentimentos possíveis. Assim como o
pensamento pode explicar a menor coisa e justificar as menores ações,
também as ocupações livres e criativas podem suscitar todo o tipo de
sentimento, não importando qual seja o assunto (JORGE, 1990, p.15).

A atividade serve de método para o indivíduo se expressar, pois o mesmo,


inconscientemente, revela a mais pura e real verdade que se encontra oculta até
então, onde o indivíduo não consegue fingir ou continuar escondendo. É algo que
não está mais no seu controle, ou seja, ele é levado a se expressar.

[...] Não é possível mentir quando se fabrica. Os erros, os acertos, os


objetos são sempre obra intencional, ainda que não conscientes, pois,
embora seja a mente que busca, com mais freqüência é a mão que
encontra, e o ato de fazer traz em seu bojo, necessariamente, o pensar
(JORGE, 1990, p.14).
33

Pois conforme Jorge (1995, p.37) “Toda fabricação tem seu destino último na
busca do instrumento adequando ao discurso e do prazer, nunca se fabrica algo por
fabricar.”
Para tanto utiliza-se:

2.8.3.1 A Pintura

Através da pintura é possível fortalecer as relações afetivas. Nota-se nas


cores e formas da pintura uma expressão de sentimentos.
Cada cor sugere um sentimento. A simples aplicação da mesma sobre o
papel traz uma mensagem inteira da situação, interesse e conhecimento da vida e
das coisas que o paciente tem naquele instante.

2.8.3.3 A Argila

É um material de caráter construtivo, possui um potencial expressivo e


emocional.

No trato com argila, o homem descobre, sem consciência de esforço, que


sua liberdade cresce à medida que ele aumenta sua capacidade de dar a
esse material pesado a leveza de seu pensamento. E isso é facilitado [...]
pela extrema plasticidade e naturalidade do material, que sempre sugere
novas formas [...] (JORGE, 1980, p.43).

A argila é um recurso que objetiva a expressão de conteúdos ocultos,


oportuniza o indivíduo a trabalhar diversos aspectos emocionais; pois o mesmo é
envolvido inconscientemente ao manipular o material com suas próprias mãos.

[...] a escultura adequadamente compreendida e praticada é uma aventura


total e empenha o corpo inteiro, direta e indiretamente, numa luta muscular,
numa coordenação de tensões que, em relação ao material, pedra ou argila,
são agressivas em relação ao resultado almejado são pacificas e
conciliadoras [...] (JORGE, 1990, p. 43).
34

A utilização da argila considera o critério da prematuridade, onde o terapeuta


deve ter certeza do momento exato para a aplicação da mesma. Tal antecipação
pode resultar em mais resistência por parte do indivíduo. A argila, dentro do
processo terapêutico é de natureza ansiogênica, ou seja, causa ansiedades em seu
processo de manipulação, como refere Jorge:

A atividade de argila está voltada para a expressão profunda do ego.a


resistência que esse material pode produzir é dada exatamente pelas suas
grandes vantagens: plasticidade e tridimensionalidade. Em modelagem, a
única forma de se conseguir alguma defesa é não pegar a argila, pois, nesta
técnica, ela fica reduzida a zero, e o sentimento de desnudamento eleva-se
a dez. frente a essa realidade, o ego avalia o perigo e experimenta certa
ansiedade (JORGE, 1980, p.45).

A argila proporciona ao indivíduo uma intensa relação identificadora entre


aquele que manuseia e o seu material manuseado. E esta profunda relação é a
constatação de que, quando se modela, modela-se a si mesmo, e por isso é
extremamente ansiogênico para aquele que é reprimido. Essa identificação traz a
resistência.

2.8.3.2 A Música

A música é um instrumento capaz de libertar conteúdos reprimidos. Quando


utilizada em grupo, confronta a pessoa à seus conflitos e força o indivíduo a superá-
los contando com a mútua ajuda energética de todo um grupo que está vivenciando
o mesmo processo e momento.
De acordo com as considerações de Jorge, a atividade de música se faz
funcional para o inicio das relações entre terapeuta e paciente. Por ser de tendência
positiva, possibilita desmanchar tensões e sentimentos de resistência presentes no
indivíduo trazidos por ele na sessão terapêutica “e isto porque fazer ritmo
proporciona energia” (JORGE, 1980, p. 42).
35

Muitas emoções e sentimentos são reprimidos pela sociedade e pelo


indivíduo devido a circunstâncias que o conduziram a isto. O canto é uma ferramenta
extremamente funcional, pois a música remete ao indivíduo à emoções e expressões
de conteúdos de sua natureza. O objetivo do canto é exatamente este, a expressão
emocional. Tal método é indicado à indivíduos que apresentam intenso
comportamento de projeção; projetam seus conteúdos internos no meio externo. E
também é recomendado para indivíduos com falta de capacidade para se
desprender do sentimento de auto defesa.

2.9 INTERVENÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL COM A FAMÍLIA DO USUÁRIO


DE CRACK

A Terapia Ocupacional intervém com atividades propostas de acordo com as


necessidades que cada família apresenta, cada atividade desenvolvida tem um
objetivo especifico. Entende-se que através de atividades grupais, pode-se apoiar e
ajudar a família, já que a mesma deve ser inclusa no tratamento.

2.9.1 Grupos de apoio ou auto-ajuda

O grupo apresenta um potencial terapêutico e tem por objetivo possibilitar a


expressão e a gratificação de ansiedades, facilitando o aprendizado e as mudanças
de comportamento.

2.9.2 A Abordagem aplicada ao trabalho grupal

A abordagem aplicada ao trabalho grupal se baseia nas teorias sobre


dinâmica das interações, seus processos grupais, seus efeitos sobre o
comportamento e as reações dos membros destes grupos. Nesta abordagem o
importante é o grupo, sendo que todas as experiências individuais são exploradas
através dele.
36

É possível ter grupos de base analítica e também usar outras abordagens,


como a cognitiva ou humanista. Em Terapia Ocupacional, o grupo pode enfocar uma
determinada atividade para facilitar o processo grupal (HAGEDORN, 1999).

2.9.3 Dinâmicas de grupo e Vivências grupais

Utilizadas como aliadas ferramentas, que proporcionam interação e


influência mútua, já que a problematica é o elemento em comum encontrado no
grupo. Trabalha-se diversos processos dinâmicos que os separam de um conjunto
aleatório de indivíduos. Estes processos incluem normas, papéis sociais, relações,
desenvolvimento, necessidade de pertencer, influência social e efeitos sobre o
comportamento. O campo da dinâmica de grupo preocupa-se fundamentalmente
com o comportamento de pequenos grupos.

A interpretação e análise da dinâmica das interações ou da participação nas


atividades pode existir até certo grau. No entanto, o principal objetivo do
grupo é permitir que o paciente participe de modo a explorar suas relações e
seus problemas pessoais por meio de interações e, compartilhando o
processo grupal, aprimore suas habilidades de comunicar as próprias
necessidades e ser sensível às necessidades dos outros (HAGERDORN,
1999, p.121).

O papel desenvolvido pelo terapeuta no processo de dinâmica grupal, em


relação ao tratamento da família do usuário de substâncias psicoativas, é o de
facilitador desse processo, onde o modelo de liderança utilizado é fundamental. É um
processo que ocorre lentamente até o grupo estar devidamente consolidado e
integrado.
37

2.9.4 Teatro

A Terapia Ocupacional se utiliza do recurso teatral como uma espécie de


“canal” o qual permite a expressão sentimental de uma forma lúdica. Através da
dramatização do cotidiano é possível ilustrar de modo evidente as questões
necessárias a serem trabalhadas. Citando Moreno (2003 p. 381), “o Psicodrama
quando bem conduzido usa entre outros elementos, a projeção de processos,
situações, papeis e conflitos reais em um meio experimental”.
Por meio do teatro, o terapeuta ocupacional encontra uma forma de
proporcionar a auto descoberta e também a interação social, podendo assim
fortalecer a relação com o outro por meio da afetividade que é desenvolvida neste
contexto.

É esta a perspectiva de muitos terapeutas que buscam reorganizar suas


práticas de atuação. Para tanto, além dos referenciais provenientes da área,
são mobilizados também – e principalmente – outros campos do
conhecimento como: a antropologia, psicologia, filosofia, educação, as artes,
entre outras. Vale dizer que, neste contexto, as artes são compreendidas
como meios, ferramentas que possibilitam o estabelecimento de vínculos e,
ao mesmo tempo, permitem a “materialização” dos conteúdos emocionais,
sentimentos e desejos e a efetivação de processos de expressão,
conhecimento de si, do outro e do mundo (LIBERMAN, 1997, p.12).

A Terapia Ocupacional se utiliza dessa e de outras muitas técnicas para o


reabilitar, buscando bem estar, socialização, expressão de sentimentos, troca de
experiências, vivencias e outras tantas possibilidades que o indivíduo necessita
experimentar. No teatro e em seus componentes o grupo expressa e aprende de
uma forma espontânea e natural coisas do seu cotidiano.
38

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo representa um panorama com aspectos diferenciais acerca de


literaturas na terapêutica ocupacional voltada para o tratamento de usuários de
crack. Por meio desta revisão foi abordado um conjunto de temas no que se refere à
problemática do uso e abuso de substâncias psicoativas.
Apontamos a fase da adolescência como uma fase de vulnerabilidade, onde
o indivíduo apresenta conflitos ao passar da infância a fase adulta. Neste momento
crítico que o adolescente vive, ele necessita da ajuda do seu grupo de origem para
apoiá-lo e suprir toda e qualquer necessidade que o mesmo venha a ter.
Quando a família se encontra desestruturada, ela deixa de passar os valores
e a base que este adolescente tanto necessita para enfrentar seus conflitos.
Aumentam, assim, a probabilidade do indivíduo procurar as substâncias psicoativas
para suprir este vazio. E o crack tem sido o mais procurado por tais adolescentes,
tanto por seu custo ser relativamente baixo, quanto pelo seu fácil acesso.
Com base nisso, a Terapia Ocupacional intervém com métodos e
abordagens para as especificidades que o usuário apresenta. O terapeuta
ocupacional é um profissional dotado de capacidade para atuar neste aspecto.
Por meio deste artigo afirmou-se por renomados autores o alto potencial das
atividades terapêuticas utilizadas. Tais atividades conseguem externalizar conteúdos
reprimidos por estes indivíduos, que encontraram no crack uma forma de “fugir” da
sua realidade.
Tais recursos, como a argila, a pintura, a música, o teatro e entre outros
citados no artigo, revelam uma forma de tratar, pois quando o terapeuta identifica o
real conflito do indivíduo, o qual é a causa do problema, torna-se possível a
reabilitação deste usuário.
Evidenciou-se, assim, fundamental a contribuição da Terapia Ocupacional no
tratamento de usuários que fazem uso e abuso de substâncias psicoativas como o
crack.
39

Mas devido à falta de literaturas que envolvam tais métodos e recursos da


Terapia Ocupacional, vale-se dizer que é de extrema importância o surgimento de
mais estudos neste sentido, para assim ampliar a atuação da Terapia Ocupacional
no tratamento do crack.
40

4 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE TERAPIA OCUPACIONAL. Terapia Ocupacional,


definição e funções, S.I., S.e.,1972, p.204.

AZIMA, H.; WITTKOWER E.D. Tratamento de la esquizofrenia baseando em lãs


relaciones objetales. Argentina: Acta Neuro-Psiquiátrica, 1958.

BARJA, A. M; RIBEIRO, C. A. C. O teatro na terapia ocupacional como recurso


terapêutico para promoção da saúde mental. Trabalhos. Saúde, 2008. Disponível
em: http://www.inicepg.univap.br. Acesso em: 06 out. 2010.

BENETTON, M.J. Alguns aspectos do uso de atividades artísticas em terapia


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CAMPOS, D. M. S. Psicologia da Adolescência – Normalidade e psicopatologia.


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14.

GOMES, H.S.R. Trabalhando com famílias. Cadernos de Ação 1. Instituto de


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