Pinturas Corporais Da tribo

Kadiwéu
O perfil senhorial dos kadiwéu é revelado por sua arte, principalmente a pintura corporal. É
das mais elaboradas que se conhecem entre tribos indígenas americanas e se preserva até hoje,
embora devido à aculturação, fossem forçados a trocar sua intrincada pintura corporal por
farrapos que escondem a outrora nudez decorada. Berta G. Ribeiro

L onge do convívio sócio cultural urbano, a cultura

indígena permaneceu oculta e pouco pesquisada já que,
inicialmente, os índios foram menosprezados pelos seus
colonizadores portugueses que os tratavam como uma
sub-raça. Hoje, graças às expedições de Marechal
Rondon, Darcy Ribeiro e Berta Ribeiro e ao incrível
poder da tradição, conservação cultural e sobrevivência,
podemos ter acesso a esta fascinante representação sócio-
cultural que é a sociedade indígena brasileira. Foi através
dos livros, relatos, artigos e catalogação realizados pelas
expedições que tivemos acesso às pinturas de corpo da
tribo Kadiwéu, assim como a forma com que essa tribo
traduz a beleza de sua arte.
Os Kadiwéu são uma tribo nômade original do Mato
Grosso do Sul. Antigamente, eram conhecidos como
Mayabas Guaikurus. Foi a última tribo a ser conquistada
por ser a única tribo brasileira que domava cavalos e
gado. Feitos cavaleiros, guerrearam e saquearam
acampamentos agrícolas dos quais cobravam tributos em
espécie ou em crianças tornadas cativas.
Além das habilidades com cavalos, os Kadiwéus se
destacam pelo magnífico artesanato e pintura corporal,
onde formas geométricas e orgânicas realizam imagens
carregadas de significados, compondo belíssimos grafitos.
Os Kadiwéus são a única tribo americana na qual os
homens também trabalhavam com a parte artesanal.
Tiveram acesso ao metal através de grupos andinos e os
trabalhos executados nesse material em forma de
brincos, cachimbos, estatuetas e brinquedos revelam
grande destreza.
Os índios kadiwéus viviam numa sociedade hierárquica
e muitos destes títulos eram demonstrados através do traço
das pinturas corporais e, nesta tribo, também existiam
índios homossexuais que participavam do movimento
feminino da tribo.
As pinturas corporais da tribo são compostas por formas
orgânicas e geométricas.Quando geométricas, estas formas
são dispostas de maneira regular, formando mosaicos. Já
quando se apresentam na forma orgânica, ocorrem de
maneira singular e complexa.
A precisão dos traços e a qualidade das formas são
inigualáveis. Estes índios pintavam as imagens no corpo
com misturas de pigmentos naturais como jenipapo verde,
misturado com carvão e pincéis feitos com a crina do
cavalo ou uma haste de madeira mastigada na ponta.
Algumas vezes eram tatuadas permanentemente no
corpo. As formas sinuosas se encaixam às curvas da
estrutura corporal fazendo um conjunto único das formas
físicas e, as estampadas, dando uma qualidade
tridimensional às pinturas.
Grafitos Celtas - 1000ac
 A pesquisa nos deixou intrigadas devido à incrível
diversidade de grafitos e à riqueza das formas e
composições. Estas pinturas pareciam já existir na nossa
memória visual, uma vez que a sensação era de recordação
como no mundo das idéias de Platão.
William Morris - Art Nouveau 1880
Pintura Corporal Indiana
Mandala Indiana
Pintura Corporal Indiana
Pintura Corporal Indiana
Decidimos pesquisar outras ocorrências deste tipo de
grafitos em outras sociedades, e encontramos diversos
exemplos como nas pinturas corporais indianas, muito
usadas até hoje nos casamentos indianos; nas pinturas de
William Morris na Art Nouveau, iniciada na Inglaterra
em 1880, e nos grafitos Celtas de 1000 a.c.
Pinturas Corporais Kadiwéu - pintadas pela india princesa Anoã,
com pedaço de madeira com a ponta mastigada.
Estes foram os três grafitos selecionados para estudo através
dos conceitos da Gestal
Estas ocorrências visuais despertaram ainda mais nosso
interesse por observarmos que os grafitos Kadiwéu
possuem traços semelhantes às pinturas de povos e culturas
muito diferentes e, devido a isso, buscamos entender o que
há nas imagens Kadiwéu que desertam nossos sensores e se
assemelham às pinturas de sociedades tão diversas.
Resolvemos analisar três grafitos Kadiwéu utilizando como
referência a Escola Gestalt.
A Gestalt é uma escola de psicologia experimental. O
movimento gestaltista atuou principalmente no campo da
teoria da forma, com contribuição relevante aos estudos da
percepção, linguagem, inteligência, aprendizagem,
memória, motivação, conduta exploratória e dinâmica
de grupos sociais. Através de numerosos estudos e
pesquisas experimentais, os gestaltistas formularam as
suas teorias acerca dos campos mencionados. A teoria da
Gestalt, extraída de uma rigorosa experimentação,
sugere uma resposta ao porquê de umas formas
agradarem mais e outras não.
De acordo com a Gestalt, a arte se funda no
princípio da pregnância da forma ou seja, na formação
de imagens, nos fatores de equilíbrio, clareza e harmonia
visual que constituem para o ser humano uma
necessidade e, por isso, considerados indispensáveis seja
numa obra de arte ou em qualquer tipo de manifestação
visual.
Nas pinturas corporais Kadiwéu submetidas à
pesquisa, notamos várias aplicações de conceitos
estudados e experimentados pela Gestalt que expomos
nesta retórica.
Há nas pinturas uma simulação de pontos por toda a
sua área, atraindo o olhar à unidade da forma por criar
centros diferentes de interesse num determinado espaço
de manifestação visual.
Nos desenhos, apesar de não haver uma linha reta
direcional, as linhas têm muito movimento, criando um
plano de profundidade assimétrica e provocando uma
instigação psicológica por parecer simétrico e na verdade
não ser. Tais fatos as tornam atraentes.
A técnica instável de composição provoca inquietude
pela aparente falta de planejamento visual e
ambigüidade das formas que induzem a interpretações
diferentes daquilo que é visto, por obedecer a um
esquema rítmico e não seqüencial, produzindo surpresas
visuais, criando um ambiente de sonho e ilusão que
chama a atenção do observador. Além disso, as pinturas
são monocromáticas, o que aumenta o contraste e
simplifica a comunicação, facilitando a decodificação das
imagens.
Na sua maioria, as pinturas corporais são orgânicas e
transmitem suavidade, ou seja, o olhar dialoga de
maneira tranqüila e harmônica com as figuras, o que
resulta em uma perfeita articulação visual.
Todos estes argumentos que encontramos na Gestalt
para a pesquisa relacionada às pinturas corporais dos
índios Kadiwéus só nos trazem a certeza de que se tratam
de imagens universais. Se a humanidade tivesse a
oportunidade de contemplar estas pinturas, poderia
constatar que são obviamente obras de arte e deveriam
estar permanentemente expostas ao invés de escondidas
em livros de pouca publicação e tiragem restrita. Afinal,
não se tratam apenas de imagens aleatórias e sim, da
riqueza artística antropológica humana esquecida, oculta,
porém viva.
Bibliografia:
FILHO, J.G. Gestalt do Objeto - Sistema de Leitura
Visual da Forma, RJ, Escrituras.
Kadiwéus - Coleção Darcy Ribeiro - 1950
HOMO FABER, HOMO LUDENS - O Índio
Brasileiro - Artigo - Berta G. Ribeiro
Site:
www.editorialbitacora.com
www.rupalpinto.com
www.jungatlanta.com
Pontifícia Universidade Católica.
Desenho Industrial -Estágio
Professora - Cristine Nogueira
Artigo sobre as Pinturas Corporais Kadiwéu
Camila Fonseca de Oliveira
Mariana Guilhon