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A minha, a vossa, a nossa participação

Um caminho justo para o desenvolvimento do nosso país.

Aproveitemos a oportunidade da leitura da Revista Tibiriçá escrita no início da década


de 1980 para refletir sobre o tema Emprego, Salário e Política Trabalhista, os quais foram
muito bem explanados pelo Professor Celso Furtado (p.51), durante as conferências
pronunciadas no dia 16/08/1979 no Instituto de Engenharia em São Paulo.
Furtado elogia as exposições de seus antecessores e as julgou essenciais, mas deseja
refletir ainda mais sobre a questão da distribuição da renda, dizendo que há em qualquer
escola de economistas, inclusive por ele, a ausência de uma teoria bem definida sobre a
distribuição.
Somente em uma economia capitalista desenvolvida com alto grau de acumulação de
capital e avanço tecnológico é que se vê a complexidade produtiva e a homogeneização
social. Ainda assim, foram latentes as tensões em torno da apropriação da renda entre as
classes sociais, que, apenas com greves e movimentos trabalhistas, foi gradativamente
resultando em certa igualdade social, tendo a Suécia como um caso extremo na época.
É preciso analisar o sistema como um todo para se pensar numa teoria no sistema
capitalista, pois, num caso específico, a cultura e os fatores sociais determinaram a
organização da sociedade desenvolvida, e, de outro lado, a dependência e a deficiência
produtiva não deram espaço para a mesma organização na sociedade subdesenvolvida, ou
seja, uma sociedade que não se desenvolveu em torno da apropriação do excedente.
Segundo o professor, não se pode imaginar que uma sociedade em desenvolvimento
irá seguir os mesmos passos daquela já desenvolvida, pois seguimos um desenvolvimento
capitalista específico: heterogeneidade social agravada, acelerada acumulação em altos níveis
e de complexidade produtiva. “Vamos ter é que ter, ou uma sociedade muito mais injusta, ou
muito mais justa do que aquelas que estamos imitando” (Furtado, p. 52).
A política salarial é de grande importância nessa discussão, pois os salários se
mantiveram estáveis por muito tempo nos países onde o Estado era formado pela classe
dominante. Na medida em que a classe trabalhadora e outras classes sociais foram
conquistando espaço com poder na formação do Estado, combatendo a manipulação de preços
e de instrumentos do Estado com enfoque a interesses de grupos específicos, foi-se alterando
a repartição de renda, homogeneizando a sociedade.
Sabe-se que a sociedade capitalista, em todas as classes sociais, a tendência é sempre
de concentrar renda. Por isso, no Brasil, a luta da classe trabalhista tem sido a de defesa dos
salários reais e não a de repartição da renda.
A repartição está se realizando por meio de organizações e cooperativas, que
controlam a técnicas, decisões e informações, atingindo algum grau de poder. O resultado
disso é melhor do que seria com movimentos sindicais, pois uma política de investimento, por
exemplo, poderia paralisar essa movimentação.
Portanto, a luta para o desenvolvimento e a homogeneidade social, nesta nossa
sociedade de forte e tendente heterogeneidade e de injustiça social, vence-se com conquistas
de classes trabalhadoras no poder, ou seja, ocupando espaços no Estado, não por meio de
movimentos sindicais para, por exemplo, promover fortes políticas salariais (isto é
importante, mas não essencial), mas por meio da redemocratização do poder, dando ao povo,
direto ou indiretamente, o direito e o poder de decisão e de influências sobre instrumentos do
Estado, podendo todos pensar, expressar e criticar livremente.
Tais conquistas devem ser realizadas não para estar a favor ou contra isso ou aquilo,
mas para que o desenvolvimento seja realizado com baixo custo social, pelo qual todos
brasileiros devem ter acesso ao fruto do trabalho de todos.
Portanto, cabe a nós, com mais acesso a informações e com sérias interpretações,
contribuir para a conscientização dos trabalhadores em geral sobre todas as dimensões do
problema, que vai alem de leis e políticas salariais e sindicais, e mostrar que o interesse e a
participação de todos os cidadãos são fundamentais para compor uma sociedade muito mais
justa e desenvolvida.

FURTADO, Celso (1979) “Emprego, Salário e Política Trabalhista”. In Revista Tibiriçá, Ano
VII, n. 12, jan./mar. 1980, p. 51,

Por Anderson Rodrigo dos Santos


15/12/2008

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