Professional Documents
Culture Documents
Artigo Original
RESUMO – OBJETIVO. Determinar níveis de anticorpos IgA, IgE, IgG específica foram encontrados no soro e lavado vaginal em ambos os
e subclasses (IgG1, IgG4) específicos a C. albicans no soro e lavado grupos, independente da presença do fungo. Níveis de IgG1 e IgG4
vaginal de mulheres com ou sem candidíase vulvovaginal para específicas foram significativamente maiores somente no lavado
avaliar o papel destes anticorpos na imunopatogênese desta doença. vaginal de mulheres sintomáticas e cultura positiva, com relação
MÉTODOS. Foram selecionadas 30 mulheres com sintomas clíni- IgG1/IgG4 ligeiramente maior, indicando que a resposta de
cos de candidíase vulvovaginal (15 com cultura de secreção vaginal anticorpos IgG1 possa estar predominantemente envolvida na reso-
positiva para C. albicans, 11 com cultura negativa e quatro com lução da infecção fúngica.
cultura positiva para Candida não-albicans) e 12 mulheres controles CONCLUSÕES. Nossos resultados indicam resposta acentuada de
assintomáticas (nove com cultura negativa). Amostras de soro e IgA, IgG1 e IgG4 anti-C. albicans no lavado vaginal de mulheres
lavado vaginal foram obtidas para a detecção de anticorpos anti-C. sintomáticas com cultura positiva, sugerindo importante papel
albicans por ELISA. destes anticorpos na resposta imune local estimulada pela presença
RESULTADOS. Pacientes sintomáticas com cultura positiva apre- do fungo.
sentaram níveis de IgA específicas significativamente maiores no
lavado vaginal e menores no soro do que aquelas com cultura
negativa. Níveis séricos de IgE específica foram extremamente UNITERMOS: Candidíase vulvovaginal. Candida albicans. IgA. IgE. IgG.
baixos em relação ao lavado vaginal. Altos níveis de IgG total IgG1. IgG4. Imunopatogênese.
INTRODUÇÃO Candidíase vulvovaginal é uma entidade C. albicans no lavado vaginal de mulheres com
Fungos do gênero Candida são heterogê- ginecológica freqüente, estimando-se que a vaginite recorrente. Moraes6 encontrou maior
neos em suas características morfofuncionais, maioria das mulheres (75%) apresentará ao incidência de rinite alérgica em mulheres por-
englobando aproximadamente 200 espécies. menos um episódio da infecção no decorrer tadoras de candidíase vulvovaginal de repeti-
São habitantes comensais do trato gastroin- de sua vida e 40% terão um segundo episó- ção comparado ao grupo controle.
testinal e genitourinário da espécie humana1. dio3. Algumas mulheres (3%-5%) apresenta- Diferentes classes de anticorpos anti-C.
A maioria dos indivíduos desenvolve defesas rão candidíase vulvovaginal recorrente, que se albicans (IgM, IgG, IgA) foram determinadas
imunológicas que impedem sua proliferação e caracteriza pela apresentação de pelo menos tanto no soro como em secreções cervico-
progressão para o desenvolvimento de candi- quatro episódios em um ano4. O uso de anti- vaginais de mulheres com ou sem candidíase
díase localizada ou disseminada. Em algumas concepcionais orais, antibióticos e as várias vulvovaginal, com a finalidade de investigar o
situações específicas onde ocorrem deficiên- formas de imunodeficiência podem estar seu papel na imunopatogênese da doen-
cias imunológicas, como por exemplo, o uso envolvidos no desencadeamento destes ça8,9,10,11. Entretanto, o papel das subclasses de
crônico de corticosteróides ou pacientes com episódios de infecção de repetição2. anticorpos IgG ainda não tem sido investigado
AIDS, podem proliferar causando doenças de Do ponto de vista imunológico, as em candidíase vulvovaginal como ocorre em
alta gravidade2. mucosas do trato respiratório superior e doenças alérgicas tais como asma, rinite alér-
genital inferior são muito semelhantes, suge- gica e eczema atópico12,13.
rindo a ocorrência de mecanismos similares de O objetivo deste estudo foi determinar
reação de hipersensibilidade5. Recentemente níveis de anticorpos IgA, IgE, IgG e suas
*Correspondência:
Clínica da Universidade Federal de Uberlândia
foram descritos quadros de processos alérgi- subclasses (IgG1 e IgG4) no soro e lavado vaginal
Unidade de Pesquisa em Alergia e Imunologia cos concomitantes à candidíase vulvovaginal, de mulheres com ou sem candidíase vulvo-
Avenida Pará, 1720, Campus Umuarama,
Bloco 4C, CEP 38400-902, Uberlândia, MG
principalmente a rinite alérgica6. Witkins et al.7 vaginal para avaliar o papel destes anticorpos nos
taketomi@ufu.br identificou anticorpos IgE específicos a mecanismos imunopatológicos desta doença.
Figura 1 – Níveis de anticorpos IgA e IgE anti-C. albicans, expressos em Unidades de Reatividade ELISA, A Figura 3 demonstra a relação IgG1/
em amostras de soro e lavado vaginal de 26 mulheres com sintomas clínicos de candidíase vulvovaginal e IgG4 específica a C. albicans tanto em amos-
de 12 mulheres sem sintomas clínicos (controles), de acordo com resultado da cultura de secreção vaginal tras de soro como no lavado vaginal de
a C. albicans. As barras horizontais indicam as médias aritméticas (m.a.) para cada grupo ambos os grupos. Nenhuma diferença esta-
tisticamente significativa foi observada para
Soro 4
Lavado vaginal as amostras de soro, porém em amostras de
15
*
*
Cultura +
Cultura -
lavado vaginal, observou-se uma tendência
3
(no limite de significância) para relação
IgA anti-C. albicans
(Unidades ELISA)
5
tes com sintomas clínicos e cultura positiva
1
em comparação àquelas com cultura negati-
0 0
va (2,90 versus 1,65 UE; p = 0,0558).
m.a. 5,83 7,55 8,07 7,48 1,19 0,51 0,61 0,82
DISCUSSÃO
0,4 3
Dados da literatura têm mostrado que
* 85%-90% dos fungos isolados de secreção
vaginal são identificados como Candida
IgE anti-C. albicans
0,3
(Unidades ELISA)
0,2
albicans. Entretanto, porcentagens crescentes
1
de infecções por outras espécies de Candida
0,1
têm sido relatadas. Muitas mulheres são porta-
0,0 0
doras assintomáticas de C. albicans quando em
m.a. 0,19 0,16 0,20 0,16 0,42 0,24 0,23 0,27
baixo número. Estas observações são compa-
Grupo I Grupo II Grupo I Grupo II
tíveis com o conceito de que C. albicans é
considerada como comensal ou patógeno
vaginal, indicando que as alterações no
ambiente vaginal do hospedeiro são neces-
Figura 2 – Níveis de anticorpos IgG e suas sub-classes IgG1 e IgG4 anti-C. albicans, expressos em Unidades de
Reatividade ELISA, em amostras de soro e lavado vaginal de 26 mulheres com sintomas clínicos de candidíase sárias para induzir os seus efeitos patológicos
vulvovaginal e de 12 mulheres sem sintomas clínicos (controles) de acordo com resultado da cultura de secreção ou estar associado com sintomas16.
vaginal a C. albicans. As barras horizontais indicam as médias aritméticas (m.a.) para cada grupo. Entre os fatores predisponentes à
candidíase vulvovaginal, destacam-se as
condições que induzem imunodepressão,
15
Soro sanguíneo 4
Lavado vaginal
Cultura +
14
Cultura -
tais como a gravidez, o diabetes, o uso de
IgG anti- C. albicans
3
(Unidades ELISA)
11
1
No presente estudo, tais fatores não foram
10 0
avaliados, uma vez que foram considerados
m.a. 12,63 12,02 13,84 12,47 2,38 1,85 2,79 1,58
como critérios de exclusão na formação dos
20 4
**
grupos. Desta forma, para análises compara-
tivas foram avaliadas pacientes sintomáticas
(grupo I) com cultura de secreção vaginal
IgG1 anti- C. albicans
15 3
(Unidades ELISA)
3
(Unidades ELISA)
1,5
SUMMARY CONCLUSION . Our results indicate a Candida albicans in the genital tract secretions
of women with or without vaginal candidosis.
pronounced antibody response of IgA, IgG1 and
IGA, IGE AND IGG SUBCLASSES TO IgG4 to C. albicans in vaginal washes in
Sabouraudia 1984; 22:265-71.
10. Romero-Piffiguer MD, Vucovich PR, Riera CM.
CANDIDA ALBICANS IN SERUM AND VAGINAL symptomatic patients with positive culture, Secretory IgA and secretory component in
FLUID FROM PATIENTS WITH VULVOVAGINAL women affected by recidivant vaginal candi-
suggesting a important role of these antibodies in
CANDIDIASIS diasis. Mycopathologia 1985; 91:165-70.
the local immune response triggered by the 11. Warnock DW, Milne JD, Fielding AM.
PURPOSE. To determine the levels of IgA, IgE, presence of the fungus. [Rev Assoc Med Bras Immunoglobulin classes of human serum
IgG and subclasses (IgG1, IgG4) antibodies 2003; 49(4): 434-8] antibodies in vaginal candidiasis. Mycopa-
specific to C. albicans in serum and vaginal thologia 1978; 63:173-5.
12. Mori JC, Pires MC, Galvão CE, Ferreira de
washes from women with or without KEY WORDS: Vulvovaginal Candidiasis. Candida Mello J, Golcher FM, Montealegre F.
vulvovaginal candidiasis in order to evaluate the albicans. IgA. IgE. IgG. IgG1. IgG4. Determination of Blomia tropicalis-specific IgE
role of these antibodies in the immuno- Immunopathogenesis. and IgG subclasses in atopic dermatitis
pathogenesis of the disease. patients. Allergy 2001; 56:180-4.
13. Smith AM, Yamaguchi H, Platts-Mills TA, Fu SM.
M ETHODS . Thirty women with clinical REFERÊNCIAS Prevalence of IgG anti-Der p 2 antibodies in
symptoms of vulvovaginal candidiasis 1. Luna MA. Candidiasis. In: Connor DH, children from high and low antigen exposure
(15 positive vaginal culture to C. albicans, Chandler FW, editors. Pathology of infectious
groups: Relationship of IgG and subclass antibody
responses exposure and allergic symptoms. Clin
11 negative culture and 4 positive culture to diseases. Stamford, Connecticut: Appleton &
Immunol Immunopathol 1998; 86:102-9.
Lange; 1997. v.2, p.953-64.
non-C. albicans) and 12 asymptomatic control 2. Kirkpatrick C. Host factors in defense against
14. Silva DAO, Gervasio AM, Sopelete MC,
women were selected. Serum and vaginal fungal infection. Am J Med 1984; 77:1-12.
Arruda-Chaves E, Arruda LK, Chapman MD,
et al. A sensitive reverse ELISA for the measu-
wash samples were obtained for the detection 3. Hurley R. Recurrent Candida infection. Clin
rement of specific IgE to Der p 2, a major
of anti-C. albicans antibodies by ELISA. Obstet Gynecol 1981; 8:209-14.
Dermatophagoides pteronyssinus allergen. Ann
4. Clancy R, Corrigan E, Dunkley M, Eyers F,
R ESULTS . Symptomatic patients with Beagley K. Recurrent vulvovaginal candidiasis –
Allergy Asthma Immunol 2001; 86:545-50.
15. Yi FC, Cheong N, Shek PCL, Wang DY, Chua
positive culture showed significantly higher allergy or immune deficiency? Int Arch Allergy
KY, Lee BW. Idendification of shared and
levels of specific IgA in vaginal washes and Immunol 1999; 118:349-50.
unique immunoglobulin E epitopes of the
5. Brandtzaeg P, Farstad IN, Haraldsen G. Regional
lower in serum than those with negative specialization in the mucosal immune system:
highly conserved tropomyosins in Blomia
tropicalis and Dermatophagoides pteronyssinus.
culture. Specific serum IgE levels were very primed cell do not always home along the same
Clin Exp Allergy 2002; 32:1203-10.
low compared to vaginal IgE. High levels of track. Immunol Today 1999; 20:267-76.
16. Sobel JD. Candidal Vulvovaginitis. Clin Obstet
6. Moraes PSA. Estudo da associação entre
total specific IgG were found in serum and candidíase vaginal de repetição e a rinite alérgica.
Gynecol 1993; 36:153-65.
vaginal washes in both groups, regardless the 17. Bohler K, Klade H, Poitschek C, Reinthaller A.
Rev Bras Alergia Imunopatol 1995; 18:86-90.
Immunohistochemical study of in vivo and in
fungal presence or absence. Specific IgG1 e 7. Witkin SS, Jeremias J, Ledger WJ. A localized
vitro IgA coating of Candida species in
vaginal allergic response in women with recurrent
IgG4 levels were significantly higher only in vaginitis. J Allergy Clin Immunol 1988; 81:412-6.
vulvovaginal candidiasis. Genitourin Med
vaginal washes from symptomatic patients 1994; 70:182-6.
8. Burges G, Holley HP Jr, Virella G. Immu-
with positive culture, with a slightly higher noglobulin class of anti-Candida antibodies in
IgG1/IgG4 ratio, indicating that the IgG1 patients with vaginal candidiasis. Diagn
Immunol 1986; 4:43-6. Artigo recebido: 03/01/2003
antibody response may be predominantly 9. Gough PM, Warnock DW, Richardson MD, Aceito para publicação: 24/04/2003
involved in the fungal clearance. Mansell NJ, King JM. IgA and IgG antibodies to