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SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

(SAP)

texto de:
josé trindade

adaptação e apresentação de:


a. c. pellizzer wolff
inverno de 2008
SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

INTRODUÇÃO

• A Síndrome de Alienação Parental costuma ser


desencadeada nos movimentos de separação ou
divórcio do casal, mas sua descrição ainda constitui
novidade, sendo pouco conhecida por grande parte
dos operadores do direito, embora seja um
acontecimento freqüente.
• Contudo, traços de comportamento alienante podem
ser identificados no cônjuge alienador durante os
anos tranqüilos de vida conjugal.
• A Síndrome de Alienação Parental foi definida pela
primeira vez nos Estados Unidos e está teoricamente
associada ao nome de Richard Gardner (1987). Um
pouco depois, foi difundida na Europa a partir das
contribuições de F. Podevyn (2001)
SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

CONCEITO

• A Síndrome de Alienação Parental é um


transtorno psicológico que se caracteriza por
um conjunto de sintomas pelos quais um ge-
nitor, denominado cônjuge alienador, trans-
forma a consciência de seus filhos, mediante
diferentes formas e estratégias de atuação,
com o objetivo de impedir, obstaculizar ou
destruir seus vínculos com o outro genitor,
denominado cônjuge alienado, sem que
existam motivos reais que justifiquem essa
condição.
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CONCEITO (cont.)

• Em outras palavras, consiste num


processo de programar uma criança
para que odeie um de seus genitores,
de modo que a própria criança ingresse
na trajetória de desmoralização desse
mesmo genitor.
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DESENVOLVIMENTO

• O cônjuge alienador "educa" os filhos


no ódio contra o outro genitor, seu pai
ou sua mãe, até conseguir que eles,
alienado e criança, de modo próprio,
levem a cabo essa conduta.
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DESENVOLVIMENTO (cont.)
• As estratégias da alienação parental são múltiplas e
variadas, mas a síndrome instaura-se em torno de
avaliações:

• prejudiciais e negativas,

• desqualificadoras e injuriosas em relação ao outro


genitor,

• com interferências na relação com os filhos e,

• notadamente, com a obstaculização de visitas ao


alienado.
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DESENVOLVIMENTO (cont.)

• Esse amplo quadro de desconstrução


da imagem do outro pode incluir, por
exemplo, falsas denúncias de abuso
sexual ou de maus tratos, invocados
para impedir o contato dos filhos com o
genitor odiado, programando o(a) fi-
lho(a) de forma contundente até que
passe a acreditar que o fato narrado
realmente aconteceu.
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AMBIENTE

• A Síndrome de Alienação Parental


manifesta-se principalmente no am-
biente da mãe, devido à tradição de
que a mulher é mais indicada para
exercer a guarda dos filhos, notada-
mente quando ainda pequenos.
• Entretanto, ela pode incidir em qualquer
um dos genitores, pai ou mãe.
• Num sentido mais amplo ainda, a SAP
pode se estender a outros cuidadores.
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AMBIENTE (cont.)

• A síndrome detém grande probabilidade de


acontecer em famílias multidisfuncionais.
• Quando uma família possui uma dinâmica muito
perturbada, a síndrome pode se manifestar como
uma tentativa desesperada de busca de equilíbrio.
• Ademais, como a SAP acaba mobilizando familiares,
amigos, vizinhos, profissionais e as instituições
judiciais, existe sempre a fantasia de que essas
pessoas ou órgãos, de alguma forma, irão re-
estabelecer a homeostase familiar, que já não existe
mais.
• Nesse contexto, a SAP é o palco de pactualizações
diabólicas, vinganças recônditas relacionadas a
conflitos subterrâneos inconscientes ou mesmo
conscientes, que se espalham como metástases de
uma patologia relacional e vincular.
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SEQÜELAS

• Sem tratamento adequado, a SAP pode


produzir seqüelas que são capazes de
perdurar para o resto da vida, pois implica:
• comportamentos abusivos contra a criança,
• instaura vínculos patológicos,
• promove vivências contraditórias da relação
entre pai e mãe, e,
• cria imagens distorcidas das figuras paterna
e materna,
• gerando um olhar destruidor e maligno sobre
as relações amorosas em geral.
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DESCOBERTA

• A Síndrome de Alienação Parental


constitui uma forma de maltrato e abuso
infantil.

• Sua detecção costuma ser difícil e


demorada, muitas vezes somente com-
seguida quando já se encontra em uma
etapa avançada.
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EFEITOS

• Os efeitos prejudiciais que a SAP pode


provocar nos filhos variam de acordo:
• com a idade da criança,
• com as características da personalidade da
criança,
• com o tipo de vínculo anteriormente
estabelecido, e
• com a capacidade de resiliência (da criança e
do cônjuge alienado),
• além de inúmeros outros fatores, alguns mais
explícitos, outros mais recônditos.
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EFEITOS (cont.)

• Os conflitos emocionais podem aparecer na criança


sob forma de:

• ansiedade - medo e insegurança - isolamento -


tristeza e depressão - comportamento hostil - falta de
organização - dificuldades escolares - baixa
tolerância à frustração - irritabilidade - enurese -
transtorno de identidade ou de imagem - sentimento
de desespero - culpa - dupla personalidade -
inclinação ao álcool e às drogas, e,

• em casos mais extremos, idéias ou comportamentos


suicidas.
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EFEITOS (cont.)

• Para o alienador, que não tolera se defrontar com


sua própria derrota, o corpo de amor (a-mors = não à
morte) se transforma no corpo de dor (de destruição
da vida), gerando uma senda infinita de sofrimento
aos filhos e ao cônjuge alienado, ainda que o final da
trajetória possa significar a auto-aniquilação:
• solidão - amargura existencial - sentimento de vazio -
conduta poliqueixosa - idéias de abandono e de
prejuízo - depressão - abuso e dependência de
substâncias, como o álcool e outras drogas - jogo
compulsivo
• e ideação suicida, esta geralmente acompanhada de
uma tonalidade acusatória e culpabilizadora.
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PERFIL DE UM GENITOR ALIENADOR

• Embora seja difícil estabelecer com segurança o


perfil de um genitor alienador, alguns tipos de
comportamento e traços de personalidade são
denotativos da alienação parental:
• - dependência - baixa auto-estima - condutas de não
respeitar as regras - hábito contumaz de atacar as
decisões judiciais - litigância como forma de manter
aceso o conflito familiar e de negar a perda -
sedução e manipulação - dominância e imposição -
queixumes - histórias de desamparo ou, ao contrário,
de vitórias afetivas - resistência a ser avaliado -
resistência, recusa, ou falso interesse pelo
tratamento.
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CONDUTAS FREQÜENTES DO ALIENADOR

Algumas bem conhecidas:


• apresentar o novo cônjuge como novo pai ou
nova mãe;

• interceptar cartas, e-mails, telefonemas,


recados, pacotes destinados aos filhos;

• desvalorizar o outro cônjuge perante


terceiros;
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CONDUTAS FREQÜENTES DO ALIENADOR


(cont.)

• desqualificar o outro cônjuge para os filhos;


• recusar informações em relação aos filhos
(escola, passeios, aniversários, festas etc.);
• falar de modo descortês do novo cônjuge, do
outro genitor;
• impedir a visitação;
• "esquecer" de transmitir avisos importan-
tes/compromissos (médicos, escolares etc.);
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CONDUTAS FREQÜENTES DO ALIENADOR


(cont.)

• envolver pessoas na lavagem emocional dos


filhos;
• tomar decisões importantes sobre os filhos
sem consultar o outro;
• trocar nomes (atos falhos) ou sobrenomes;
• impedir o outro cônjuge de receber informa-
ções sobre os filhos;
• sair de férias e deixar os filhos com outras
pessoas;
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CONDUTAS FREQÜENTES DO ALIENADOR


(cont.)

• alegar que o outro cônjuge não tem disponibilidade


para os filhos;
• falar das roupas que o outro cônjuge comprou para
os filhos ou proibi-los de usá-las;
• ameaçar punir os filhos caso eles tentem se
aproximar do outro cônjuge;
• culpar o outro cônjuge pelo comportamento dos
filhos;
• ocupar os filhos no horário destinado a ficarem com
o outro.
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CONDUTAS FREQÜENTES DO ALIENADOR


(cont.)

• buscar obstrução a todo contato


• relatar falsas denúncias de abuso físico,
emocional ou sexual
• promover deterioração da relação após
a separação
• causar reação de medo da parte dos
filhos
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FALSA MEMÓRIA

• A implantação de falsas memórias e a


criação de memórias distorcidas, até pela
maneira como um cônjuge pronuncia o nome
do outro, encontram maior oportunidade de
ocorrer quando a criança já é vítima da SAP.

• Nesses casos recomenda-se maior cuidado,


pois a SAP pode estar favorecendo a
denúncia do outro de abuso, que poderá ser
verdadeiro, ou falso, por parte de qualquer
um dos cônjuges.
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FALSA DENÚNCIA

• Segundo Aguilar Cuenca em algumas


ocasiões podem surgir falsas denúncias de
abuso sexual ou de maus tratos, que buscam
interromper por via judicial os contatos do
progenitor-alienado com a criança.

• Durante esse tempo, o progenitor-alienador


leva a cabo sua campanha de injúrias e
desacreditação para que, seja como for a
conclusão do processo penal, os menores já
expressem seu repúdio contra o progenitor
alienado.
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SENTIMENTOS DO GENITOR ALIENADOR

• Em um entendimento psicodinâmico, organizam-se


pela prevalência de ódio sobre os sentimentos de
amor e gratidão. Metaforicamente, podemos dizer
com Galimberti: "Eu o odeio porque te amo.
Desprezo-te para poder continuar vivendo contigo".
• Em síntese, é possível identificar alguns sentimentos
próprios do genitor alienador:
• - destruição, ódio e raiva; - inveja e ciúmes -
incapacidade de gratidão - superproteção dos filhos -
desejos (e comportamentos) de mudanças súbitas
ou radicais (hábitos, cidade, país) - medo e
incapacidade perante a vida - poder excessivo
(onipotência).
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TRATAMENTO

• O primeiro passo é identificar a SAP através


da informação, pois que demanda tratamento
especial e intervenção imediata.
• Exige uma abordagem terapêutica específica
para cada uma das pessoas envolvidas:
criança - alienador - alienado.
• Requer, ainda, urgência quanto às inter-
venções psicológica e jurídica para evitar o
agravamento dos prejuízos causados e para
possibilitar um prognóstico de tratamento
adequado para todos.
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QUALIDADES QUE AJUDAM A SUPERAÇÃO

• São as mesmas que auxiliam a superar


qualquer outro tipo de perda ou conflito
emocional.
• Dentre elas: - equilíbrio emocional - amor
incondicionado aos filhos - suporte financeiro
- assistência jurídica e psicológica -
diagnóstico precoce da SAP - assertividade
para a tomada de decisões - cooperação
para com autoridades - capacidade para
respeitar acordos e decisões - empatia -
estratégias de coping - resiliência - visão de
futuro - criatividade - esperança.
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EPÍLOGO

• O alienador, como todo abusador,


é um ladrão da infância, e que se
utiliza da inocência da criança para
atacar o outro.
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EPÍLOGO

• A inocência e a infância, uma vez


roubadas, não podem mais ser
devolvidas.
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BIBLIOGRAFIA

• DIAS, Maria Berenice (coord.), Incesto e Alienação


Parental - realidades que a justiça insiste em não
ver. (2007) São Paulo, Revista dos Tribunais
• PODEVYN, F. Síndrome de Alienação Parental.
Associação de Pais para Sempre. Disponível em:
<http://www.paisparasemprebrasil.org>. Acesso em:
24 de junho de 2008.
• TRINDADE, Jorge, Síndrome de Alienação Parental
(SAP) (2007), in DIAS, Maria Berenice (coord.),
Incesto e Alienação Parental - realidades que a
justiça insiste em não ver. São Paulo, Revista dos
Tribunais

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