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10 – ORGANIZAÇÃO E GESTÃO
Os factores de produção são heterogéneos na sua essência, pelo que a sua conjugação num
processo único pressupõe uma orientação. Compete à organização, como ramo de
conhecimento económico, em primeiro lugar, estudar a conjugação do processo produtivo do
trabalho, dos objectos sobre que recai e dos meios utilizados.

Para produzir bens materiais ou prestar serviços, os homens não actuam isolados, agem em
comum, por grupos, comunidades, instituições, associações ou empresas. A actividade do
homem realiza-se sempre no quadro dum determinado sistema de relações com a ajuda e
participação de outras pessoas, ou seja, adquire o carácter de actividade conjunta. Por sua
vez, o mero contacto pessoal gera uma emulação que eleva a capacidade individual de
prestação de cada um, de tal modo que um grupo de pessoas juntas fornece um produto
superior ao dos trabalhadores isolados. O grupo dos que trabalham em conjunto permite
repartir as diversas operações e encurtar o tempo de trabalho preciso para a execução do
produto final. Uma colectividade de trabalho é inconcebível sem organização, sem ordem, sem
uma divisão funcional do trabalho a executar, sem que se determine o lugar e as funções de
cada indivíduo. A actividade laboral, sobretudo a que se realiza em larga escala, seria
impossível sem uma gestão adequada e sem o estabelecimento e manutenção duma
apropriada organização.

A cooperação no trabalho é uma forma de organização que assegura a coordenação da


actividade conjunta dos trabalhadores no mesmo processo de produção ou em vários
processos relacionados entre si. Cria uma força colectiva que permite disponibilizar melhor o
tempo de trabalho e os meios de produção, obtendo uma redução sensível de gastos de
trabalho e de recursos por unidade de produção. A cooperação permite estender a esfera
espacial do trabalho exigida por certos trabalhos como a irrigação, a drenagem de terras, a
construção de canais ou estradas.

Na cooperação simples todas as pessoas executam um conjunto de operações sem uma


divisão de trabalho. Baseia-se no princípio elementar de que a cooperação dos esforços
individuais cria uma força produtiva superior à simples soma das unidades que a integram. O
efeito da cooperação simples revela-se de forma notória na produção intensiva e uniforme, nas
plantações dum único produto agrícola, nas minas ou na construção de obras gigantescas. A
cooperação simples continua a ser a forma predominante nas actividades em que o capital
opera em grande escala sem que a divisão do trabalho desempenhe um papel significativo. Em
grandes empreendimentos é frequente um mesmo tipo de trabalho ser executado por um
número considerável de escravos, servos ou trabalhadores assalariados.

A cooperação ampliada, ou complexa, assenta na divisão do trabalho e na especialização dos


próprios trabalhadores e dos meios de trabalho em determinadas operações de produção.
Toma forma quando processos diferentes culminam em produtos distintos necessários para
realizar um produto final.

Um grupo não é apenas o somatório dos membros que o compõem, mas sim um conjunto que
apresenta características essencialmente dinâmicas na medida em que é constituído por uma
rede em permanente actividade interactiva entre os seus membros. O grupo económico é uma
unidade colectiva concreta que se manifesta pelos objectivos das suas actividades, pelos seus
processos definidos no tempo, pela sua localização em determinados espaços, pelos seus
padrões de conduta, pela utilização de formas concretas de comunicação, etc. A compreensão
da dinâmica dos grupos exige que se tome em consideração um certo número de factores,
entre os quais se pode salientar: a coesão, o estímulo, a formação, a estrutura, a comunicação,
as modalidades de comando.

O termo coesão significa que os respectivos membros do grupo se sentem reciprocamente


atraídos e efectivamente integrados no conjunto, o que implica uma aceitação dum certo
número de normas comuns e a aceitação duma correspondência entre a personalidade e as
necessidades dos seus membros e as possibilidades de satisfação que o grupo lhes oferece.
O aproveitamento de todas as possibilidades das forças produtivas requer estímulos que
incitem os trabalhadores a desenvolver e a aperfeiçoar os instrumentos de trabalho e a
incrementar a produção no seu conjunto. Nas sociedades divididas em classes antagónicas, os
escravos, os servos ou os trabalhadores assalariados não manifestam qualquer estímulo na
sua actividade. Os camponeses e os artesãos integrados em estruturas familiares estão
interessados em aumentar a sua produtividade. As profissões ligadas técnica ou
administrativamente às instituições pertencentes às classes dominantes revelam algum
interesse nas suas funções na medida em que beneficiam de alguns privilégios.

A formação tem de acompanhar as inovações tecnológicas e a especialização profissional. O


aparecimento da máquina exigiu uma aprendizagem específica dos trabalhadores assalariados
e a formação do pessoal que se ocupa da gestão e do controlo da maquinaria e da sua
constante manutenção e reparação.

A estrutura organizacional identifica-se com o sistema de funções assumidas individualmente e


em conjunto pelo grupo e fornece a base em que se apoia a circulação da comunicação. Esta
define-se em termos de meios técnicos que permitem trocas de informação e diálogo e está
condicionada pela existência ou inexistência duma linguagem e dum sistema de referência
comum.

Na sua forma de organização é comum a participação de parte dos seus componentes e a


existência dum líder a que os demais membros do grupo reconhecem o direito de tomar as
mais importantes e urgentes decisões que afectam os seus interesses, determinam a
orientação e o carácter da actividade conjunta. Ao líder compete também a obrigação de
defender a comunidade. No que se refere ao comando, o chefe do grupo, ou líder, assume a
responsabilidade de gerir os destinos do grupo, atribuir funções e velar pelo seu cumprimento.
A conjugação dos elementos do processo produtivo pressupõe uma direcção.

A gestão é uma propriedade inerente da sociedade em qualquer grau do seu desenvolvimento.


Tal propriedade dimana do trabalho colectivo dos homens, da necessidade de se relacionarem
no processo de trabalho e da permuta dos frutos da sua actividade. A sua função consiste em
usar técnicas de pensamento e de acção, entendidas como elementos analíticos e modos de
pensar práticos, destinados a solucionar problemas económicos concretos. A gestão deve
estabelecer relações sociais que têm por fim conseguir a coordenação e a maior eficácia no
desempenho da actividade produtiva, mediante a adequada execução dum conjunto de regras
e procedimentos.

A característica social e colectiva do trabalho e a conjugação entre os objectos de trabalho e os


meios de trabalho, heterogéneos na sua essência, pressupõem a existência, em maior ou
menor dimensão, duma direcção que estabeleça um enlace harmónico entre as diversas
actividades individuais e colectivas. Os “anciãos” dos concelhos da aldeia, face à tarefa
complexa de governar, criaram um conjunto de costumes e leis destinadas a manter a ordem e
a proteger as aldeias contra um agressor exterior.

Eventualmente, a primeira forma de organização económica na agricultura foi a pequena


exploração dos agricultores do Estado egípcio. A expansão do Vale do Nilo exigiu uma
organização social muito esforçada e centralizada, um Estado fortemente organizado e
comunicações fáceis. O encargo de organizar a produção agrícola ou de a melhorar recai, na
maioria das vezes, naqueles que possuem ou mantêm o usufruto da terra. Na organização do
trabalho nos campos é, por vezes, difícil distinguir o costume do plano previamente deliberado.

A organização de povoados agrícolas reflectia as instâncias locais que dirigiam a distribuição


das colheitas. As comunidades agrícolas ou eram quase inteiramente auto-suficientes ou
dispunham de meios de transportes para enviar os seus produtos para os mercados. O
progresso da produtividade do trabalho agrário significou um crescimento da população e,
portanto, um estímulo para novas vagas migratórias. Significou também a criação de
excedentes, a criação de celeiros e silos, e o crescimento da importância do povoamento. A
estas colectividades mais vastas será indispensável uma direcção.
Nas grandes unidades económicas, sobretudo as pertencentes aos templos, os grupos, que
chegavam a atingir centenas de homens, trabalhavam todo o ano ou, temporariamente, no
período das colheitas. Neste caso, estes grupos incluíam, por vezes, homens livres
proprietários de pouca terra.

A organização da produção agrícola, artesanal ou manufactureira, varia consoante a escala de


actividades, a complexidade das operações, os constrangimentos do ambiente e a estrutura
política e social local. Na organização do trabalho noutros sectores, os maiores e mais
complexos projectos eram os trabalhos de construção pública. Quase todas as partes do
mundo testemunharam a capacidade de organizar e executar grandes projectos de construção.
A angariação e manutenção das forças armadas, a tributação e a administração da justiça,
pertenciam todas à organização do Estado ou a instituições dependentes.

A direcção na empresa capitalista resulta necessariamente da condução dum processo de


trabalho para a fabricação mercadorias e duma função de exploração cujo objectivo é a
valorização do capital através da obtenção máxima dum lucro. O facto dos meios de produção
não pertencerem aos trabalhadores obriga à necessidade de controlo permanente sobre o seu
emprego. O princípio da organização eficiente não é mais do que o princípio da maximização
do lucro. No processo de trabalho são introduzidas mudanças essenciais na organização da
produção e distribuição. Todo o trabalho colectivo, especialmente quando realizado em larga
escala, requer uma acção directiva independente da forma social em que se insere. Porém, no
sistema capitalista, ao processo produtivo junta-se um processo de multiplicação de valores e
de capital. A organização e a direcção acabam por ter um duplo objectivo.

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