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INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO

GESTÃO DE PROJETOS NA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL


Docente: Engº Civil PAULO JOSÉ MASCARENHAS RORIZ, MSc.

“Utilizar os recursos disponíveis no presente sem esgotá-


los e comprometer o meio ambiente das gerações futuras”
(Relatório Bruntland – 1987)

Conteúdo deste Módulo (24 h):

1ª Parte: Projetos x Sustentabilidade;

2ª Parte: Planejamento de projetos;

3ª Parte: Compatibilização de projetos;

4ª Parte: Projetos x Especificações x Técnicas construtivas.

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Goiânia, novembro de 2010.
1ª parte: PROJETOS x SUSTENTABILIDADE

I. BREVE HISTÓRICO DA SUSTENTABILIDADE

Foi na primeira Crise do Petróleo, em 1973, quando os países exportadores


aumentaram repentinamente os preços do barril de petróleo, que todas as nações
do ocidente, grandes importadoras e altamente dependentes desse recurso energé-
tico, viram-se obrigadas a buscar fontes alternativas para seu abastecimento interno.

Os estilos de vida dos países desenvolvidos eram, até então, totalmente


baseados numa matriz econômica em que o petróleo figurava como um insumo farto
e barato, estando presente em todas as estratégias de produção industrial.

A partir do aumento dos preços do barril do óleo crú, pesquisas de novos


modelos de gestão dos processos produtivos cuidaram de desenvolver novas
ferramentas de racionalidade e eficiência energética, em todos os setores
econômicos, e de alterar os padrões das edificações, desde sua própria arquitetura
até os sistemas construtivos, as tecnologias de aclimatação dos ambientes, e tudo,
enfim, que pudesse atenuar os impactos indesejáveis da crise de energia.

De acordo com o IDHEA(1) - Instituto para o Desenvolvimento da Habitação


Ecológica, de São Paulo, durante o lançamento do Informe “Nosso Futuro Comum”,
da ONU, em 1987, coordenado por Gro Harlem Brundtland, foi utilizada pela
primeira vez a expressão Desenvolvimento Sustentável. E, dentro das preocupações
do Desenvolvimento Sustentável, em suas diversas dimensões importantes para a
sociedade – ecológica, geográfica ou espacial, econômica, social e cultural -,
prevaleceu a questão de fundo da sustentabilidade ambiental, capitaneada pelos
problemas surgidos no espaço urbanizado.

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Apenas em 1992, após a 2a. Conferência Mundial para o Desenvolvimento e
Meio Ambiente (Rio’92), com a criação da Agenda 21, nasceu a Construção
________________
(1) – Dados obtidos no site do Instituto. Informações pelo e-mail idhea@idhea.com.br. ou pelos telefones (11)
3227-4742/ 3326-9876/ 9234-2350.

Sustentável, quando especialistas buscaram a sistematização de modelos de


desenvolvimento que incorporassem, por meio das edificações, o respeito às
características ecológicas do ambiente natural, nos processos contrutivos do espaço
construído, na exploração dos materiais que utiliza, nos impactos de seu uso e
funcionamento e, de uma forma geral, na ocupação do planeta pelo homem, sem
correr o risco de destruí-lo ou degradá-lo.

II. SUSTENTABILIDADE DAS EMPRESAS

No pensamento de Arbache2, o setor privado sempre foi uma importante ferra-


menta para a resolução de problemas sociais e ambientais, a partir de uma gestão
que passa a considerar os riscos das tomadas de decisões, de forma responsável.
Numa época em que a industrialização tem-se ampliado de forma global,
desencadeiam-se discussões em torno do impacto das ações de empresas
nacionais e transnacionais, nos âmbitos locais e nacionais. A sustentabilidade,
então, transcende o mundo dos negócios, em função do envolvimento que as
empresas têm com problemas sociais e políticos, como defendem Hart (2005) e
Prahalad (2005), In: Csillag et alli.(2206), e por sua responsabilidade na solução de
problemas mundiais, como a exclusão social, a miséria e a fome.
Ainda na ótica de Arbache (2010), com relação à qualidade da atuação das
empresas na sociedade, existem, hoje, órgãos, ferramentas e organizações mais
esclarecidas que agem e funcionam como vigilantes, em torno da defesa da
sustentabilidade de seus projetos. Pondera a autora que:
“Alguns fatores favorecem essas ações:
1. A crescente representatividade de Organizações Não Governamentais
(ONGs), que acompanham, documentam e denunciam ações indevidas de
empresas quanto ao meio ambiente, como Greenpeace, Anistia Internacional
e WWF, entre outras;

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2. A democratização e o poder das Tecnologias de Informação, que mostram,
em tempo real, a partir de um aparelho celular, desmatamentos, trabalho
escravo, derrame de poluentes em rios e mares e demais atitudes que degra-
_________________
(2) – Ana Paula Arbache. “Os equívocos mais frequentes nos projetos de sustentabilidade e como evitá-los”, escrito
especialmente para o Noticiário de Equipamentos Industriais – NEI, em agosto de 2010. Doutora em Educação e
organizadora do livro Projetos Sustentáveis: Estudos e Práticas Brasileiras, é docente dos cursos de MBA Gestão
Empresarial da FGV e sócia-diretora da Arbache Consultoria. Contatos com a autora podem ser feitos pelo e-mail:
paula@arbache.com.br, ou pela TL Publicações Eletrônicas Ltda.
dam a sustentabilidade ética, social e ambiental. Com o advento da
Internet, ampliaram-se o dinamismo e a participação de uma rede mundial de
expectadores que, em minutos, podem ver as marcas das empresas serem
denunciadas e perderem sua credibilidade em segundos;

3. A influência da concorrência global, em que empresas que já atuam com a


sustentabilidade em suas gestões apresentam aos seus consumidores um
modelo de consumo limpo e sustentável, a partir de selagens, certificações de
qualidade, manejo sustentável e processo de inovação que favorecem a
criação de produtos aliados ao meio ambiente e com custos reduzidos para o
cliente final. Com isso, demonstram que é possível gerar lucro com
sustentabilidade;

4. A lucratividade de grandes empresas que sobrepõe os PIBs de países e


Estados. Esse fator gera ao consumidor a percepção de que a empresa pode
fazer muito mais pela sociedade e por consumidores, uma vez que alguns
governos não atendem nem mesmo às necessidades básicas de algumas
populações.

Assim, a conjuntura atual impõe ao setor privado uma nova demanda de


gestão corporativa, imbuída de valores e atitudes baseados na sustenta-
bilidade. Mas uma pergunta se faz necessária: Como implantar uma gestão e
projetos para a sustentabilidade de modo assertivo? Como evitar erros?

O Brasil já possui boas práticas que podem ser disseminadas, mediante as


devidas adaptações. Antes de escolher as boas práticas a serem implantadas
em uma empresa, é preciso que o gestor faça o seguinte processo:

1º passo: diagnosticar

• A cultura organizacional de minha empresa é aderente a uma gestão e


projetos sustentáveis? (Uma proposta de ação sustentável deve ter viés
participativo, composto pela coletividade e suas diversas demandas, um
processo de comunicação horizontal, uma política de gestão ética
disseminada para seus diferentes públicos, entre outras atitudes);
• O mito organizacional: os líderes são aderentes e servirão de exemplos para
os funcionários, a partir de atitudes voltadas para a sustentabilidade? (Caso o
líder não acredite em uma ação sustentável, não será capaz de ser exemplo
para seus funcionários, seus fornecedores e colaboradores);
• Meus funcionários estão capacitados para aderir e incorporar uma gestão de
sustentabilidade, no dia a dia de seus afazeres? Há um processo de ensino-
aprendizagem voltado para essa capacitação? Há um processo de

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endomarketing para monitorar esse processo? Há rituais corporativos que
favoreçam a visibilidade dessas ações?;
• A minha empresa está devidamente estruturada, em termos físicos, para
atender às especificidades de uma gestão para a sustentabilidade (prédios,
consumo da água, consumo da energia elétrica, entre outros aspectos)?

2º passo: analisar e implantar

É necessário um projeto voltado para a sustentabilidade capaz de ser


realizado e não apenas sonhado. Há muitos exemplos de boas práticas, mas
não basta copiá-las, é preciso adequá-las à realidade de sua empresa e dos
recursos financeiros e de gestão humana para implantá-las. Veja o exemplo:
um projeto de logística reversa, no qual cabe à empresa trazer de volta ao
seu pátio os resíduos que encaminhou ao consumo - caso essa empresa não
tenha um projeto implantado para encaminhar corretamente esses resíduos, o
projeto de logística reversa fica no meio do caminho e não resolve o problema
como um todo! Outro exemplo: uma empresa que se diz sustentável, por
manejar adequadamente a matéria-prima de seus produtos, mas que, em sua
própria planta, consuma de modo excessivo energia elétrica! Nesses casos,
não há coerência nos projetos sustentáveis.

3º passo: capacitar seus funcionários

Desde o recrutamento de um funcionário, é preciso informá-lo a respeito do


projeto de sustentabilidade implantado na empresa. Essa informação deve
fazer parte da comunicação diária de uma empresa. Dessa forma, quando,
por exemplo, a empresa estabelecer o dia de plantar árvores no bairro como
um ritual corporativo, este não seja visto como um evento à parte do trabalho
cotidiano. Passado o momento da integração, é necessário dar ao funcionário
o conhecimento a respeito do foco do projeto. Muitos deles não entendem o
que é sustentabilidade, fazem parte de uma geração que não conviveu com
esse conceito e têm pouco entendimento do que se trata. Assim, cabe
apresentar o conceito, suas práticas, onde cada funcionário entra para torná-
la viável no contexto da empresa e vestir a camisa da sustentabilidade, dentro
e fora dela. Quando pensamos em funcionários da gestão, pensamos em
gestores de alta performance, que devem estar preparados para elaborar,
monitorar e avaliar projetos voltados para a sustentabilidade e o lucro da
empresa.

4º passo: garantir compatibilidade

Muitas empresas já conseguem produzir produtos aderentes à demanda


planetária da sustentabilidade, colocando no mercado produtos inovadores,
mais baratos e com o apelo da sustentabilidade, tais como: produtos de
limpeza que trazem preocupação com os resíduos após sua utilização, ou
mesmo com a quantidade de água utilizada em uma lavagem com sua
aplicação; o uso de embalagens sustentáveis reduzindo o custo final do
produto, a redução do custo com energia elétrica no processo de produção e
a pegada da água alterando o valor final de alguns produtos.

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Além do ganho financeiro (tangível), o empresário ganha com a geração de
valores corporativos aderidos pelos seus funcionários (intangível), ou seja,
uma empresa que valoriza e preserva o meio ambiente está responsável por
e atenta aos valores éticos e às suas responsabilidades sociais, faz com que
o seu clima organizacional seja satisfatório e, em consequência disso, a
produção aumente, e que valores éticos possam ser consolidados, como o
compromisso, a lealdade e a confiança de seus funcionários.

Neste sentido, dois fatores são favoráveis:


a) clima organizacional satisfatório, podendo influenciar no aumento de
produção;
b) maior visibilidade da imagem da empresa, a partir de seus funcionários,
influenciando na demanda por captação e retenção de talentos (capital
humano).
A partir dessas análises, um gestor poderá implantar um projeto voltado para
a sustentabilidade de modo mais legítimo, consciente e factível. Quando
apenas copiamos ou colamos as idéias de sustentabilidade, estamos
somente colando uma etiqueta, capaz de se descolar a qualquer momento!”

No ponto de vista de Csillag et al.(2006), “a sustentabilidade das empresas


consiste, fundamentalmente, do equilíbrio entre capacidade operacional e
atendimento aos requisitos do mercado, ao longo do tempo”(p.40). Isso significa
dizer, segundo J. BARNEY In:Csillag et al.(2006), que a sustentabilidade das
vantagens competitivas das empresas não implica a sua “eternização”, mas deve ser
concebida em termos estáticos (manutenção do equilíbrio) e dinâmicos (mudança
ascendente do ponto de equilíbrio), de acordo com o aprimoramento da cadeia de
valores sustentáveis que a empresa adota, em seus processos de gestão.

Em entrevista concedida ao Jornal Carreira & Sucesso, publicação digital da


Catho Online, em sua 400ª Edição, de agosto de 2010, Marina Grossi3, presidenta
do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável – CEBDS,
res- salta que a sustentabilidade tem vários valores éticos permeando a atuação das
empresas que, hoje, têm os lados ambiental, social e econômico se interagindo.
”A preocupação com o meio ambiente, por exemplo, já é realidade no mundo
corporativo e as grandes empresas enxergam que a preocupação ambiental está
totalmente associada à própria sustentabilidade da empresa”, pondera a
entrevistada, que ressalta, ainda, a importância da atuação da sociedade privada, no
contexto da sustentabilidade, para a geração de políticas públicas adequadas.Assim:

“O Conselho [CEBDS] é uma plataforma do setor privado voltado para a


sustentabilidade. As 51 maiores empresas do país são participantes. O fato

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de serem grandes organizações faz com que trabalhemos com o conceito de
liderança. Como somos um grupo estratégico e interferimos na gestão das
companhias, elas nos procuram para um aprendizado e intercâmbio maior na
questão sustentável. Conversamos com a sociedade civil e governo, e temos
a credibilidade por sermos o braço brasileiro do World Business Council for
________________
(3) - Marina GROSSI, Consciência sustentável nas empresas. Jornal Carreira & Sucesso, publicação digital da Catho Online,
em sua 400ª Edição, agosto de 2010. Site http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=11858&print=1, acesso
ago/2010.

Sustainable Development (uma coligação de altos executivos de 145


empresas líderes mundiais, voltadas para a excelência ambiental e princípios
do desenvolvimento sustentável). A nossa visão é que os negócios nesse
meio só são possíveis com o conceito de sustentabilidade instalado no DNA
das corporações. O mundo está se tornando mais verde e, para evoluir nesse
quadro, precisamos ir além dos bons exemplos de empresas. Necessitamos
de conversas contínuas com o Governo, para que ações desenvolvidas nas
organizações virem políticas públicas e que tenham um marco regulatório
para tal .”
No mundo dos negócios, as grandes empresas têm uma capacidade de
execução muito alta e, diante da necessidade de tornar tangíveis os valores
sustentáveis, elas cuidam de trazer, apressadamente, para o centro dos projetos,
toda uma série de novidades que vão surgindo, antes de comprovada sua eficiência
ambiental. Outras empresas com práticas sustentáveis avançam, no sentido de
darem valor ao que de fato a comunidade científica já elegeu como importante para
a conservação do planeta. De forma geral, a sociedade só vai se beneficiar dos
efeitos dos valores sustentáveis, em larga escala, quando as empresas puderem
trabalhar esses elementos, efetivamente, como negócios. A água e o ar limpos e a
inexistência de poluição sonora são exemplos disso, hoje, no mercado imobiliário,
assim como a mensuração e a venda de créditos de carbono, no setor industrial.

III. SUSTENTABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES

A concepção, a construção e a utilização dos espaços urbanos contruídos


passaram, a partir da década de noventa, a fundamentar-se no respeito ao meio
ambiente e no compromisso com sua preservação. A sustentabilidade das
construções pressupõe, hoje, o atendimento das necessidades de moradia e
habitação do homem, com a redução dos impactos dos processos produtivos no
ambiente natural e a garantia de qualidade de vida para todas as gerações, a partir
de soluções socialmente justas, economicamente viáveis e ecologicamente corretas.

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Conforme o IDHEA e as pesquisas de Bussoloti(4), para se chegar a uma
Construção Sustentável, capaz de reproduzir, no ambiente construído, as caracterís-

_________________
(4) – Fernando BUSSOLOTI, How Stuff Works - Como funcionam as construções sustentáveis. Publicado em 29 de
novembro de 2007 (atualizado em 11 de julho de 2008) http://ambiente.hsw.uol.com.br/construcoes-ecologicas1.htm
(03/agosto/2010).
ticas originais do meio ambiente natural, o caminho é percorrido em nove passos
complementares entre si. São eles:

• Planejamento Sustentável da Obra, a longo prazo.


• Aproveitamento passivo dos recursos naturais e uso racional de materiais.
• Eficiência energética e conforto termo-acústico.
• Gestão e economia da água – seu uso e reaproveitamento.
• Permeabilidade do solo e espaços mais salubres.
• Gestão dos resíduos na edificação – reciclar, reutilizar e reduzir.
• Qualidade do ar e conforto do ambiente interior.
• Compatibilidade e integração do contexto do projeto com seu entorno.
• Uso de produtos e tecnologias construtivas ambientalmente amigáveis.
• Integrar o transporte de massa e meios alternativos ao contexto do projeto.

As ponderações de Bussoloti, sobre a condição relativa da sustentabilidade


de um projeto, revelam que a caracterização da sustentabilidade de uma construção
vem do processo em que esta foi projetada, executada e do somatório das técnicas
utilizadas, em relação ao seu entorno e lugar. Assim, é possível afirmar, compa-
rando-se os projetos de duas construções, se uma é mais sustentável que a outra.

• Planejamento Sustentável da Obra, a longo prazo:


A obra não pode mais ser vista como um projeto isolado, mas inserido num
contexto mundial, mais amplo e mais verde, onde as atividades produtivas,
independentemente de em que área sejam, privilegiarão, cada vez mais, as ações
sustentáveis e valorizarão um planeta mais bem conservado. Essa nova realidade
não combina com um planejamento técnico-burocrático e uma visão apática dos
projetos, mas, seja em que área eles forem, deverão ajudar na construção de um
caminho que está sendo inevitavelmente traçado, o da sustentabilidade prolongada
das obras. A adoção de soluções e uso de materiais eco eficentes, bem como a
preocupação com a recomposição e preservação das áreas ocupadas, fazem da
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gestão de operações de uma obra, a tradução da política ambiental da empresa
construtora, e o refletem, de acordo com AKTOUF In: Csillag et al.(2006), a relação
de seus engenheiros e administradores com o meio ambiente, com a força de
trabalho e com a cultura organizacional. É o que HART In: Csillag et al.(2006),
chama de “esverdeamento” atual das operações empresariais. O autor adverte,
porém, para o risco da mimetização dessas inovações, sem que a empresa repense
realmente sua postura, diante da questão ambiental, e reordene mais
substancialmente as suas estratégias operacionais.

• Aproveitamento passivo dos recursos naturais e uso racional de materiais:


Existe um maior compromisso das empresas, hoje em dia, com a causa
ambiental, uma vez que estão sendo alterados os marcos regulatórios de suas
atividades. Nos estados e grandes centros urbanos, há leis específicas que tratam
da questão ambiental, por exemplo, e que impõem às empresas uma demanda de
profissionais que consigam entender de que maneira deverão cumprir os objetivos e
metas do governo.

Algumas atividades produtivas requerem, naturalmente, maior preocupação


dos seus agentes, a exemplo da mineração. A sustentabilidade é um grande desafio
para as mineradoras e seus projetos não podem adotar a visão inconsequente que
tinham no passado, pois que se trata de um setor que possui muito contencioso, sob
pena de comprometer a colocação de sua produção no mercado.

Cunhando a expressão “vantagens competitivas” entre as empresas,


PORTER In: Csillag et al.(2006, p.39), ressalva que “os recursos naturais não
seriam mais os determinantes de vantagens competitivias, mas os recursos
passíveis de desenvolvimento pelas nações, que incluem os setores econômicos e
os mercados em que as empresas atuam”. Isto equivale a dizer que, mesmo
detendo o direito de lavra ou exploração de um recurso natural, as empresas têm
que se dispor a identificar desperdícios para corrigi-los e aplicar a eco eficiência em
suas atividades.

• Eficiência energética e conforto termo-acústico:


O Brasil ainda tem um grande potencial energético a ser explorado,
especialmente para a energia eólica e solar. As atividades que englobam os ditos

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“empregos verdes”, que cuidam de transformar e manter o mundo mais limpo,
deverão ser continuamente aprimoradas, nas próximas décadas, visando à
eficiência dos processos e soluções adotadas.
O conceito de sustentabilidade não tange apenas o mundo financeiro e nem
visa, unicamente, ao meio ambiente, mas tem natureza geopolítica e relação com o
nosso padrão de vida atual. Está nas mesas de negociação dos acordos
internacionais, a exemplo do Protocolo de Quioto5, e provoca um conjunto de
medidas profiláticas e preventivas, nas economias dos países, por meio do que o
conforto termo-acústico dos ambientes natural e construído é colocado no mundo
real dos negócios. Em consequência disso, a engenharia, de maneira geral, vem se
submetendo a critérios pregressivamente mais exigentes, quanto à eficiência das
soluções adotadas, de problemas do isolamento térmico e acústico das construções.

• Gestão e economia da água – seu uso e reaproveitamento:


São muitas as formas com que o cidadão pode colaborar para a boa gestão e
economia da água, mas a principal, na opinião do Tecnólogo ambiental Freire
(2010), é “ter um tratamento parcimonioso em relação às águas, ou seja, evitar
lançar resíduos diretamente nos rios, ter uma consciência ambiental”.
Na condição de funcionário de carreira da Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e dos Recursos Hídricos de Goiás – SEMARH, Freire lembra que, “em
Goiás, a política de recursos hídricos segue a política nacional que foi instituída pela
Lei 9.433, e existe aqui o procedimento de outorga de água”. Esse procedimento
prevê o levantamento de todos os usuários da bacia, o conhecimento da vazão exis-
tente e a distribuição ideal para que todos possam utilizar o manancial. É o modo
sustentável de abastecimento sem contrariar os princípios de preservação da
biodiversidade, da fauna e flora aquáticas.
A orientação dada pela SEMARH às empresas do setor de Agronegócios,
segundo Freire (2010), é no sentido de “proteger essa fonte escassa que são os
recursos hídricos, motivo de frequentes “conflitos existentes entre usuários diversos
de uma mesma microbacia, ou de uma bacia hidrográfica e, às vezes, de um rego
d’água”. A assessoria ambiental trabalha a noção do consumo consciente da água,
como bem finito, recomendando seu uso e reaproveitamento nas empresas e
residências, coibindo os desperdícios e usos desnecessários. Na verdade, a
experiência dos órgãos ambientais consagra a chamada educação ambiental como
solução para muitas mazelas ambientais que o país enfrenta hoje.
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• Permeabilidade do solo e espaços mais salubres:
_________________
(5) - Protocolo de Kyoto – Aberto para assinaturas em 11 de Dezembro de 1997, em Kyoto-Japão, e ratificado em 15 de
março de 1999, precisou que 55% dos países que, juntos, produzem 55% das emissões mundiais, o ratificassem, para entrar
em vigor em 16 de fevereiro de 2005, depois que a Rússia o ratificou em novembro de 2004. Estabeleceu normas mais claras
sobre a redução de emissões de gases de efeito estuda e metas a serem atingidas por países que emitiram mais gases no
passado. Se o Protocolo de Quioto for implementado com sucesso, estima-se que a temperatura global reduza entre 1,4°C e
5,8 °C até 2100.
O planejamento urbano deve ser realizado levando-se em conta as
necessidades de drenagem urbana e priorizando a ocupação racional do solo e a
destinação responsável dos espaços públicos. A degradação frequente das áreas de
preservação e a ocupação irregular do solo das cidades ocorrem pela falta de
planejamento do seu crescimento e pela ganância inescrupulosa de administradores
e empresários que loteiam áreas públicas, sem qualquer critério de análise
ambiental, e aprovam projetos da iniciativa privada, sem o necessário estudo se seu
impacto na vizinhança e no meio ambiente circundante.
A ação antrópica torna-se prejudicial às cidades a partir da impermeabilização
de seu solo, através do asfaltamento contínuo de suas ruas e vielas, da
pavimentação de suas praças e do recobrimento impermeável dos pátios e jardins
particulares, em volta das casas e edifícios. Os poucos espaços com cobertura
natural de vegetação ou com jardins construídos pela municipalidade ou pela
população não são suficientes para garantir a infiltração das águas que se
precipitam das chuvas, e que deveriam reabastecer os depósitos subterrâneos. Em
consequência disso, concentram-se grandes volumes de escoamentos superficiais
pelas vias das cidades, supitando os equipamentos públicos de infra-estrutura, das
redes de água pluvial, fazendo transbordarem-se os córregos e inundando bairros,
nos pontos mais baixos da cidade.
Além disso, a disposição incontrolada dos resíduos sólidos nos solos urbanos,
quer sob a forma de rejeitos da construção civil ou como lixo coletado das unidades
habitacionais ou de produção, tem contribuído para a contaminação dos espaços e
mananciais de água potável, superficiais ou subterrâneos, legando às cidades uma
extensão vergonhosa de áreas insalubres e fomentadoras de doenças endêmicas na
população e onerando as soluções técnicas para a recuperação de áreas, rios e
lençóis contaminados.
O Decreto nº 7.217/2010, assinado pelo Presidente da República, em 21 de
junho de 2010, regulamenta a Lei do Saneamento (Lei nº 11.445/2007), que
estabelece as diretrizes para os serviços de saneamento básico e impõe aos

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administradores públicos, segundo declaração da ABES6, a obrigação da criação de
um Plano Municipal de Saneamento, para cada cidade brasileira.

________________________
(6) ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, em seu periódico nº 52, Ano VIII, de junho e julho
de 2010.
O Decreto, além de fortalecer o setor, há de contribiuir para sua eficiência, na
gestão e universalização dos serviços, pois o texto assinado reforça os instrumentos
de planejamento e amplia o conceito de saneamento básico no país, englobando
suas quatro modalidades: abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de
águas pluviais e resíduos sólidos. Ainda de acordo com a ABES, o mencionado
Decreto regula, também, a segurança jurídica entre o titular e o prestador de
serviços públicos nessas quatro áreas de saneamento básico, assim como entre os
prestadores públicos e privados desses serviços.

• Gestão dos resíduos na edificação – reciclar, reutilizar e reduzir:


Entre os impactos socio-ambientais de uma construção está a disposição dos
resíduos sólidos resultantes das operações da obra. É necessário adotar uma
política para a destinação desses resíduos, seja através do seu reprocessamento e
reutilização, seja pelo descarte em locais apropriados, normalmente definidos pela
municipalidade. Importa cuidar para que esses resíduos possam cumprir alguma
função técnica secundária, como a de aterrar áreas degradadas ou erodidas pelas
intempéries, sem provocar graves impactos socio-ambientais. É fundamental que a
obra realize um inventário dos resíduos que produz e, com base na lei e nas boas
práticas de engenharia, possa fazer um plano de redução de sua produção e o
gerenciamento eficaz desse material, depois de produzido.

• Qualidade do ar e conforto do ambiente interior:


Em estudos que tratam dos fenômenos climáticos no espaço das cidades,
alguns autores têm construído indicadores, modelos e sistemas que estabelecem as
relações casuais mais prováveis do aquecimento urbano. Nessa direção, DUARTE
Apud Romero6 propôs a substituição do termo “população” por “densidade
construída”, por esta “apresentar uma relação casual permanente e mais forte com o
aquecimento urbano”, e por ser “relativamente mais fácil de ser quantificada”.
Também construiu um indicador relacionando densidade construída, arborização e

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superfícies d’água em áreas urbanizadas, com o objetivo de orientar as medidas
necessárias para amenizar o rigor climático nas cidades, delimitando o entorno, em
função da homogeneidade do padrão de ocupação, e medindo a Temperatura Média

_______________
(6) Marta Adriana Bustos ROMERO et al. Seminário da FAU/UNB: A Questão Ambiental Urbana: Experiências e Perspec-
tivas. Universidade de Brasília, 28, 29 e 30 de julho de 2004.
do ar, nas estações de seca e de chuva.

Outros estudos como o de ADOLPHE In: Romero (2004) buscaram indicadores de


desempenho ambiental para as cidades e elaboraram sistemas que integram o clima
externo no desenho dos espaços, tendo centrado suas pesquisas em dois temas
principais, a energia e o microclima, e em três objetos: os edifícios, a vegetação e o
transporte urbano.

A qualidade do ar tem sido objeto de exaustivos estudos visando à aplicação


contínua, nos meios de produção, de uma estratégia ambiental preventiva e mais
limpa, com o objetivo de aumentar sua eco-eficiência e evitar ou reduzir os danos ao
homem e ao ambiente. Surgem propostas de adoção de premissas e princípios
inovadores, ligados à economia dos países, tais como as da Produção Mais Limpa,
que dizem respeito a processos, produtos e serviços e requerem mudanças de
atitude dos setores de produção, garantindo um gerenciamento ambiental
responsável, a criação de políticas nacionais direcionadas e a avaliação permanente
de alternativas tecnológicas. Nessa esteira, a indústria da construção civil tem
priorizado os projetos eco eficientes, que preservam os mananciais e a qualidade do
ar, enquanto contribuem, com a excelência das soluções espaciais, para o bem-
estar do homem, no conforto das moradias e das cidades.

• Compatibilidade e integração do contexto do projeto com seu entorno:


Como parte de um projeto mais amplo da vizinhança e do bairro em que se
insere, cada obra de engenharia deve estar integrada no projeto da cidade como
parte de um todo, a partir dos atributos morfológicos dos espaços desta e da
produção de uma arquitetura voltada aos princípios que garantam uma adequação
ao ambiente e ao desenho urbano, sob o paradigma da sustentabilidade.

Diante da estrutura cada vez mais complexa do contexto urbano, surge a


importância da construção de indicadores e conceitos que, baseados na formação
especializada e na crescente necessidade de integração de saberes, permitam o

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debate sobre e a análise crítica das propostas que lidam diretamente com a gestão
das cidades.

_____________________

(7) D. DUARTE. Occupation and Urban Climate. Plea 2000, James & James Publishers. Cambridge, 2000.
(8) ADOLPHE, L., MAIZIA, M., I., JEAN-LOUIS, et ali, “SAGACités: Towards a management aided system for integrating
outdoor climate into the design of urban spaces”, PLEA 2002, Toulouse.
____ ADOLPHE, L., PLEA2003: “Sustantibility indicators for Environmental Performance of cities”, Santiago, Chile.
Romero (2004) afirma que, depois da Conferência do Rio(1992) e da Habitat II
(1996), houve uma mudança de inflexão na abordagem dos urbanistas e
planejadores que consideravam as cidades, e especialmente as megacidades, “uma
desgraça a ser evitada a qualquer preço”, recomendando políticas públicas que
redundariam em “fixar a população no campo” e “fortalecer as políticas agrícolas”
para evitar o “êxodo rural” e a “inchação das cidades”.

As cidades passaram a ser vistas como uma realidade que pode ser transformada
para melhor e não como um problema a ser evitado, “já que elas parecem ser a
forma que os seres humanos escolheram para viver em sociedade e prover suas
necessidades”. Com isso, abandona-se, progressivamente, “a idéia de cidade como
um caos a ser evitado”, para adotar-se a idéia de que “é preciso administrar a cidade
e os processos sociais que a produzem e a modificam”. O futuro do Planeta
dependerá, assim, de “como vão evoluir as soluções urbanísticas e a certeza de que
qualquer idéia de sustentabilidade deverá provar a sua operacionalidade em um
mundo urbanizado”.

• Uso de produtos e tecnologias construtivas ambientalmente amigáveis:


De acordo com Sattler (2010), o relatório do PNUMA – Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, o uso mais eficiente de concreto, metais e madeira na
constução e um menor consumo de energia em aparelhos de ar condicionado e na
iluminação dos ambientes poderiam economizar milhões de dólares em um setor
responsável por 30% a 40% do consumo mundial de energia. Além disso, o setor da
construção civil poderia, segundo o mesmo autor, promover a redução da emissão
anual de 1,8 bilhão de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
O autor acredita que o tema da sustentabilidade tem atraído atenções porque,
em todas as áreas de atividades humanas, “tem havido um despertar de consciência
sobre os impactos da ação humana sobre o planeta”. Os recursos são finitos e os
sistemas que dão suporte à vida, como água, ar, solo, energia, precisam ser

14
preservados, em sua composição, qualitativa e quantitativamente, para que não se
comprometa, de maneira irreversível, a sobrevivência humana e de outras espécies.
“Tudo isso faz com que muitos empreendimentos passem a se preocupar com a sua
contribuição na desestabilização da vida no planeta e queiram minorar o impacto de
suas ações”, afirma ele, “para não assumirem o papel de vilão, de estarem
comprometendo o futuro de nossos descendentes”.

• Integrar o transporte de massa e meios alternativos ao contexto do projeto:


Para o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
Escola Politécnica da USP – Universidade de São Paulo, Dr. Vanderley Moacir John,
em entrevista concedida ao jornalista Jô Santucci, da revista Conselho - Ano 1, nº33,
a “sustentabilidade tem três pés: o ambiental (mais famoso), o social (patinho feio) e
o econômico”. Segundo ele, as soluções devem ser viáveis nos três âmbitos, mas,
em países como o Brasil, o maior desafio é democratizar as cidades, promovendo o
acesso da população mais carente à infra-estrutura e aos serviços urbanos, tais
como transporte, diversão, habitação, espaços verdes de qualidade para todos os
cidadãos. Nesse sentido, o citado coordenador acredita que

“não são os ambientalistas que vão resolver os problemas ambientais: no


final, conceitos gerais e políticas públicas precisam ser transformados em
soluções de engenharia. A atual resistência às questões ambientais precisa
ser superada pelos engenheiros e arquitetos, porque esses profissionais
estão em uma posição privilegiada para contribuir com o enfrentamento dos
desafios da sustentabilidade”.
É necessário, então, que as soluções adotadas por esses profissionais, em
áreas urbanizadas, contem com a perspectiva de integração dos transportes de
massa e de outros meios alternativos ao contexto de seus projetos, democratizando
o acesso da população às melhorias dos equipamentos urbanos e possibilitando o
cumprimento do âmbito sócio-econômico da sustentabilidade dos empreendimentos.

IV. SUSTENTABILIDADE DO PROJETO

Blumenschein (2004) reforça a importância dos projetos para garantir que um


edifício seja sustentável, já que este fato “está diretamente ligado à sua durabilidade
e à sua capacidade de sobreviver adequadamente e eficientemente ao longo do
tempo” (In:Almeida,2009).

15
Segundo Sattler (2010), a sustentabilidade e sua aplicação às construções
requerem “uma visão holística, sistêmica e interdisciplinar” dos empreendimentos,
pela sua complexidade, por considerar inúmeros aspectos intervenientes e envolver
múltiplos olhares que conversem entre si. Quanto aos projetos, acredita o autor que

“em cada novo projeto, buscamos estudar as implicações e propor soluções


associadas à gestão racional de energia, de água, de resíduos sólidos,
líquidos e gasosos. Buscamos identificar a trajetória de cada recurso, de seu
berço ao seu túmulo – da fonte de onde é extraído, até sua destinação final -,
e dos impactos que, potencialmente, poderão ser causados nesta trajetória,
buscando opções que os minimizem. Os benefícios proporcionados ao ser
humano e a melhoria de sua qualidade de vida são o fim a ser buscado em
cada projeto, de forma a poder atender às necessidades materiais ou
imateriais, físicas ou espirituais, que contemplem o intelecto, os sentidos e o
coração do indivíduo”.
Para que isso se viabilize, é preciso que os projetistas desenvolvam novas
tecnologias de projeto e construção, sem se descuidarem da responsabilidade de
zelar pela natureza. É imperioso que assimilem o conceito de sustentabilidade e
verifiquem se as práticas profissionais que adotam são verdadeiramente
sustentáveis, antes de colocá-las em uso.

O CEBDS 9 - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sus-


tentável realiza uma série de atividades com as empresas, no sentido de
conscientizar seus colaboradores na questão da sustentabilidade. Tem oito câmaras
temáticas, onde são discutidos assuntos como mudança do clima, legislação, água,
gestão, finanças e construções sustentáveis. Segundo a presidente do Conselho,
Marina Grossi, essa última é uma área que tende a crescer muito no Brasil, pelo
déficit habitacional existente. Ter esse conceito implantado, nas novas edificações
que forem surgindo, é super importante e desafiador. A construção sustentável não
é necessariamente mais cara que uma tradicional. Pelo contrário, apesar de ainda
não existir uma escala suficiente para os preços baratearem tanto, no longo e no
médio prazo, mas o investimento é válido porque haverá menos gasto com água,
durabilidade de materiais e energia.

_______________

16
(9) CEBDS - Fundado em 1997, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável é o representante do
World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que conta com a participação de 185 grupos multinacionais,
que faturam anualmente US$ 6 trilhões e geram 11 milhões de empregos diretos, em diversos países. O CEBDS integra uma
rede global de mais de 50 conselhos nacionais que estão trabalhando para disseminar uma nova maneira de fazer negócios, ao
redor do mundo. No Brasil, é uma coalizão dos maiores e mais expressivos grupos empresariais, com faturamento anual
correspondente a 40% do PIB nacional, e suas empresas geram juntas mais de 600 mil empregos diretos e um número mais
expressivo ainda de empregos indiretos. O CEBDS não atua sozinho e, para viabilizar sua estratégia, vem estreitando a
relação com o governo federal onde, hoje, integra a Comissão de Política de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, o
Grupo Institucional de Produção Mais Limpa, o Fórum Brasileiro de Mudança Climática, o Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético, o Fórum de Competitividade e Biotecnologia e outros órgãos que operam em nível ministerial. Fonte:
http://www.cebds.org.br/cebds/cebds-quem-somos.asp – acessado em 31/10/2010 às 19h30min.

2ª parte: COORDENAÇÃO DE PROJETOS

I. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA ORGANIZAÇÃO


Na Administração clássica, o processo de controle, nas empresas mais bem
gerenciadas, pode ser caracterizado como um controle dos fatos, em vez de controle
dos homens, e o controle centralizado ganha mais significado como uma correlação
de muitos controles, ao invés de um único controle imposto pelos superiores.

Essa tendência foi inicialmente observada nas indústrias americanas, no


século passado, conforme teorizou Mary Parker Follett, no clássico da Harvard
Business School Press - Profeta do Gerenciamento1 – Uma Celebração dos Escritos
dos Anos 20 -, da Qualitymark Editora, e até hoje se mantém atual e verdadeira.

Em modelos mais aprimorados e lucrativos de administração de empresa, o


controle deixa de ser de pessoas e volta-se para eventos e fatos, ao tempo em que
sua centralização deixa de ter a pretensão de irradiar comandos e passa a interagir
a partir da reunião e correlação de muitos controles existentes, dentro e fora da
empresa, ligados direta e indiretamente a esses mesmos eventos e fatos.

Na coordenação de projetos de engenharia, o trabalho do coordenador


funda--se na comunicação compartilhada e permanente, entre os componentes das
equipes envolvidas, e no registro atualizado dos avanços obtidos e decisões
tomadas, que possam repercutir individualmente em cada projeto e, no todo, como
um trabalho conjunto. O empreendimento da construção civil é sempre um produto
resultante do entrelaçamento de decisões tomadas em equipe, pelas várias pessoas
responsáveis e envolvidas nos trabalhos, e das contribuições especializadas dos
projetistas contratados para atender às necessidades do cliente e do empreendedor.

17
Cabe ao coordenador dos projetos reunir as partes envolvidas, motivar a
discussão e a formulação conjunta de soluções que compatibilizem os interesses,
necessidades, recursos disponíveis e quaisquer outras interferências nos projetos,
____________________
(1) – Do artigo Mary Parker Follett, que reproduz o capítulo do livro Lectures in Business Organization, desta autora,
editado no Brasil pela Qualitymark Editora e cedido, em cortesia, para publicação na Revista da Associação dos Conveniados
FGV. Ano 01, 01/10/2009, nº 001.p.96. Goiânia: Grupo Empreza, 2009.

para, concomitantemente, registrá-las. Ao final, o coordenador dos projetos relê os


itens acordados e as providências a serem tomadas, deixa firmada a agenda da
próxima reunião e colhe a assinatura de todos, na ata da reunião.

Após o encontro, cuida de se reportar aos interessados no projeto sobre os


avanços obtidos nos trabalhos de cada projetista, os itens modificados e/ou
acordados, e as datas das próximas entregas parciais, conforme acertado durante a
reunião. Também, informa-lhes a agenda do próximo encontro, para que possam
acompanhar o andamento dos trabalhos, no cronograma previsto.

Na coordenação de projetos, “as falhas ocorrem, principalmente, em relação à


ausência de processos gerenciais que integrem as decisões de projeto” (Almeida,
2009) e garantam a efetivação de medidas importantes e necessárias, ao tempo
certo.

Ainda segundo Follett, quatro princípios fundamentam uma organização:

1 – a coordenação como relação recíproca entre todos os fatores, numa situação;


2 – a coordenação através do contato direto das pessoas responsáveis envolvidas;
3 – a coordenação nos estágios iniciais;
4 – a coordenação enquanto um processo contínuo.

A determinação e a visibilidade da relação recíproca que existe entre os


fatores influentes num projeto, surgem da reunião dos conhecimentos e expertises
das pessoas que passam a desenvolver os trabalhos em conjunto. A partir da
discussão coordenada sobre as situações de conflito, resultam, dos distintos pontos
de vista que vão se permeando, mutuamente, os benefícios do aprimoramento
progressivo do produto trabalhado. Assim, todos os fatores de uma situação vão
atravessando este processo de relação recíproca, que, ao final, expõe as condições
dessa total relatividade, ao invés de reduzir-se ao simples total adicional desses
fatores. A reciprocidade dessa relação garante tratar-se de um processo em que

18
ninguém da equipe sacrifica ou abandona sua individualidade, por causa do todo,
mas, antes, contribui para a criação de um projeto mais próximo do produto final
pretendido pela empresa. A interdepartamentalização dos conhecimentos, nesse
caso, aprimora as soluções adotadas nos projetos e enriquece toda a equipe.

A coordenação de projetos, pelo contato direto, privilegia as relações


horizontais na organização, entre os setores da empresa e as pessoas mais
próximas às questões ligadas aos trabalhos realizados. A participação das partes
revela-se um processo de atividade autocontrolada, em que cada um contribui para
a solução dos problemas e o sucesso do trabalho conjunto, no limite de sua
competência, mas sem deixar perder o ritmo normal das rotinas do setor, de seu
funcionamento interno ou de sua produção corrente. As participações autoajustadas
transformam-se num todo harmonioso de contribuições, que se afinam e se
completam, mutuamente.

Esse contato direto, na opinião de Follett, deve começar nos estágios iniciais
do processo de projetação, de modo a que todos os projetistas possam contribuir
para a otimização das soluções adotadas, o saneamento de conflitos e interferências
e os projetos possam desenvolver-se coordenadamente. A equipe de projetistas se
reúne à medida que estão formulando suas propostas, discutindo as questões
envolvidas e decidindo as medidas a serem adotadas pelo grupo de projetistas.

As tomadas de decisões em conjunto e a correlação dessas decisões, entre


todos os projetos, devem fazer parte de um processo contínuo de coordenação de
projetos. Nesses termos, os ajustes das decisões conjuntas deverão antecipar-se às
definições individuais de cada projeto, antes de essas haverem sido finalizadas em
separado, sob pena de provocarem retrabalhos e perdas de tempo aos participantes
da equipe, bem como prejuízos à empresa contratante.

Outra vantagem do mecanismo contínuo de coordenação de projetos, dentro


de uma empresa de engenharia, é que a sequência de aprimoramento dos projetos
não é interrompida, desde o planejamento do empreendimento até as atividades de
sua projetação e de sua execução, e dessas atividades até o planejamento do
empreendimento seguinte. Isso torna-se particularmente importante, num mundo em
que os fatos mudam, novas tecnologias surgem e, com elas, novas necessidades
dos clientes vão aparecendo no mercado. A empresa é chamada a suprir essas
demandas dos clientes, resolvendo solicitações de novas instalações, incorporando

19
novos equipamentos aos projetos e adotando as tecnologias que revolucionam,
continuamente, o modus vivende da população.

A coordenação de projetos prevê o registro das experiências vivenciadas pela


equipe, na busca de soluções compatíveis entre os projetos, na definição de
técnicas e de detalhes construtivos, nos caminhos percorridos e testados das
propostas alternativas, com todas as justificativas das limitações existentes e das
opções feitas pela equipe de projetistas envolvidos.

Esse registro compõe um documento denominado “As built” (do Inglês: “tal
como construído”), que objetiva subsidiar, de informações técnicas e práticas, os
trabalhos de coordenação dos projetos futuros, visando à economia de recursos
financeiros e de tempo.

20
3ª parte: COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS

Na opinião de Valle (2009), desde os projetos das pirâmides do antigo Egito,


até os projetos realizados hoje, em áreas complexas como as de desenvolvimento
de software e a indústria aeroespacial, o papel do gerente de projeos pouco se
alterou. Os problemas de gestão encontrados, centenas de anos atrás, continuam
presentes nos projetos atuais. Prova disso é que os atrasos no cronograma e os
estouros de orçamento continuam a liderar as estatísticas dos motivos para
cancelamentos de projetos, em todo o mundo, conforme alguns estudos clássicos
sobre o assunto1.

De acordo com Almeida (2009), a “gestão da fase de projetos influencia todo


o resultado econômico, arquitetônico, construtivo e tecnológico de um empreen-
dimento”. Talvez por isso, a grande maioria das empresas prefere que o
gerenciamento ou a coordenação de projetos sejam feitos por um profissional do seu
próprio quadro de funcionários, em vez de permitir que o arquiteto autor do projeto o
faça.

De acordo com Ribeiro (2010), entre as características de um Gerente de


Projetos, as principais são:

- ser pró-ativo - tentar novas idéias - orientar-se por objetivos


- ser bom ouvinte - ser perseverante - saber planejar bem ações
- ser decisivo - ter auto-confiança - ser comunicativo
- ser motivador - ser um “team builder” - ter poder de persuasão
- ser organizado - ser um entusiasta - ser sensível a pessoas
- saber priorizar - ser energético - ser sensível a situações
- ser criativo - ser um facilitador - ser um treinador (“coaching”)
- ser inovador - saber delegar - etc.

21
De qualquer maneira, o perfil de um coordenador de projetos não tem de ser,
necessariamente, o de um pluri-especialista, mas é preciso e importante que ele
tenha conhecimentos de informática, das áreas específicas dos projetos e dos
processos construtivos; tenha, também, boa relação interpessoal, facilidades de co-

_____________________
(1) – Ver, por exemplo, o estudo realizado pelo Standish Group, em 1995, sobre as razões do insucesso de projetos
empresariais.

municação e expressão, capacidade de negociação e senso depurado de


organização. Sua experiência profissional há de tê-lo capacitado, ainda, para
economizar nos custos de construção, além de saber fazer uso de critérios de
racionalização construtiva, nos projetos.

A despeito disso e apesar de algumas construtoras e incorporadoras


pesquisadas por Almeida (2009) possuirem sistemas de gestão da qualidade,
diversas delas “apresentam procedimentos formais deficientes ou praticamente
ausentes, relacionados ao processo de projeto, particularmente no que se refere ao
seu início, na concepção e na definição do produto” (p. VIII).

O fato torna-se particularmente grave, quando verificada uma tendência, entre


as empresas, de expandirem a qualidade dos serviços de seus projetos, com vistas
a englobar, num único processo de gestão, outras atividades voltadas ao
atendimento das necessidades da obra e dos usuários potenciais, dificultando a
coordenação de projetos com uma gama de procedimentos ainda mais complexos e
desafiadores. São os casos das múltiplas opções de plantas básicas, num mesmo
empreendimento, dos residenciais com serviços especializados no condomínio, dos
empreendimentos temáticos ou de natureza mista, com parte na rede hoteira, ou de
Flats, e outra parte sendo um residencial simples. Para tudo isso, a coordenação de
projetos haveria de poder contar com procedimentos formais ainda mais eficientes,
para considerar as exigências de tantos novos agentes envolvidos no processo.
Durante a fase de concepção dos projetos, a equipe envolvida reúne-se com
o coordenador dos projetos e o incorporador para definir as características do
produto, os métodos construtivos e, principalmente, para avaliar os custos das
propostas resumidas no “Briefing”2 do empreendimento.

Ao longo da fase seguinte, de elaboração dos estudos preliminares, as


soluções são analisadas por todos os envolvidos e as decisões são tomadas em

22
conjunto, realizando intervenções, adaptando as idéias e fazendo os ajustes
necessários nos projetos, de forma a otimizá-los, em relação a todos os aspectos
focados. É importante que o coordenador dos projetos tenha a iniciativa de ouvir ou-

_____________________
(2) – “Briefing”, do Inglês, significa “resumo”. Trata-se de um documento onde consta uma série de itens e detalhes
especificados, pela vontade do Incorporador ou Construtor, para fazerem parte do empreendimento, constando das soluções
de projetos, das definições de acabamentos e dos equipamentos a serem adotados nas instalações construídas.
tros profissionais convidados para a reunião, além dos projetistas que sejam os
responsáveis diretos pelos projetos. Seriam pessoas ligadas a áreas afins e
dependentes da de projetos, tais como o pessoal de Vendas, Orçamento,
Construtora, fornecedores e parceiros da empresa, clientes formadores de opinião,
usuários potenciais do empreendimento e tantos mais. O que importa seria conhecer
suas impressões e críticas sobre o empreendimento que estará sendo preparado
para ser lançado no mercado, e aproveitar as observações feitas por eles para se
evitarem muitos erros de concepção e definição do escopo inicial do produto.

Sob a ótica ambiental e sustentável, Hendriks (2007. In: Almeida, 2009)


defende a importância dessas fases iniciais “pela influência que o arquiteto exerce
para limitar a quantidade de resíduos de construção e demolição, em função dos
tipos de materiais, do sistema construtivo e de modulações no projeto” (p.7).

Deve-se haver todo o empenho da coordenação dos projetos para evitar a


organização sequencial, fragmentada e inflexível do processo de desenvolvimento
dos projetos, para que, ao final do processo, conforme prevê Fabrício (2002, In:
Almeida, 2009), não resulte dele um somatório de trabalhos desarticulados e, muitas
vezes, incompatíveis entre si.

Malzoni (2006, In: Almeida, 2009) faz um alerta para a triste realidade da
maior parte dessas empresas que constróem e incorporam, no país, quando limitam
suas práticas de gestão e planejamento de projetos a meros controles de contratos
com os projetistas e suas respectivas entregas de desenhos e plantas.

Questões concernentes ao cumprimento dos prazos dos projetos, assim como


aquelas ligadas ao fluxo contínuo e tempestivo de informações entre as partes,
podem ser resolvidas pelo coordenador de projetos com o auxílio de programas de
computação. Esses softwares encarregam-se de fazer, automaticamente, a
programação da comunicação aos interessados, a respeito das novas decisões
tomadas, e a atualização das datas do cronograma de projetos, toda vez que uma

23
medida concorra para a modificação das definições anteriores e/ou a alteração dos
prazos originais das entregas.

Quando as soluções encontradas nos projetos forem qualificadas como


definitivas pela equipe envolvida, a coordenação de projetos elevará a um patamar
mais rígido, os controles do desenvolvimento dos projetos, evitando-se retrocessos
nos questionamentos, divagações sobre aspectos já discutidos dos projetos e
eventuais descompassos nas entregas, motivadas por inadimplência de um ou outro
projetista.

Tudo, agora, poderá andar celeremente, conforme o cronograma de entregas,


acertado no contrato de prestação de serviços assinado com cada projetista. Não
havendo mais dúvidas de conceito e definição dos projetos, fica seu desenvol-
vimento dependendo da disponibilidade dos profissionais contratados.

O mehor caminho para conseguir o cumprimento dos prazos acordados é o


do diálogo franco e amistoso com os responsáveis pelos projetos, que deverão ser
tratados como parceiros que são.

Entretanto, nos casos extremos, de atrasos exagerados na entrega dos trabalhos,


restará ao coordenador dos projetos a opção de fazerem-se cumprir as cláusulas
contratuais de multa e cancelamento do contrato, motivados pela inadimplência dos
profissionais contratados. Vale lembrar que, no caso de a empresa contratante ficar
inadimplente com os projetistas, por não lhes oferecer as condições esperadas para
o prosseguimento normal dos trabalhos, ou por não efetuar-lhes, ao tempo certo, o
pagamento das parcelas vencidas, estes profissionais poderão cuidar para que as
mesma cláusulas contratuais de multa e resolução do contrato sejam aplicadas em
desfavor da empresa inadimplente.

24
4ª parte: PROJETOS x ESPECIFICAÇÕES x TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

De acordo com MELHADO; CAMBIAGHI (2006. In:Almeida, 2009), as normas


de sistemas de gestão da qualidade empresarial, ainda hoje, não são específicas
para o setor da construção civil e não têm a dinâmica do processo de projeto.
Entretanto, além de serem usadas como estratégia de marketing e para o aumento
da competitividade no mercado, as adaptações dessas normas pelas empresas
construtoras e incorporadoras “buscam alcançar a padronização e o controle dos
seus processos, reduzir as perdas na produção, os custos de retrabalho e as
correções pós-entrega” (p.67). A empresa traduz para a prática, por meio da
coordenação eficiente de seus projetos, os objetivos das normas de qualidade.

A estrutura organizacional de coordenação de projetos, necessária para o


bom desempenho de suas atividades e a correção das falhas, durante o processo de
elaboração dos projetos, está relacionada à complexidade dos trabalhos produzidos.
O escopo desses trabalhos da equipe de coordenação de projetos deve estar
sempre em conformidade com o planejamento estratégico da empresa e pode ser
sugerido nos moldes do quadro abaixo, com base nos trabalhos de Almeida(2009).

ESCOPO DOS TRABALHOS DA COORDENAÇÃO DE PROJETOS

FASE A: CONCEPÇÃO DO PRODUTO

SERVIÇOS ESSENCIAIS
01. Definição do escopo de coordenação (alta direção, incorporador, proprietário)

25
02. Formulação do Programa de Necessidades a atender (Briefing)
03. Ciência e análise das restrições legais de uso e ocupação do terreno
04. Identificação das especialidades, qualificações e escopos dos projetos a contratar
05. Estimativa dos recursos necessários ao desenvolvimento dos projetos
06. Organização e planejamento das atividades da coordenação de projetos
07. Organização, realização e registro de reuniões
08. Controle do processo quanto à comunicação com os projetistas, ao uso racional do tempo
e dos demais recursos disponíveis.

SERVIÇOS ESPECÍFICOS
09. Definição da tecnologia construtiva provável a ser adotada

SERVIÇOS OPCIONAIS
10. Análise das regulamentações nos órgãos públicos competentes
11. Parametrização, análise de custos e viabiliadade financeira
12. Pesquisa de mercado para a colocação do produto pretendido
13. Assessoria para aquisição de terrenos

FASE B: DEFINIÇÃO DO PRODUTO

SERVIÇOS ESSENCIAIS
01. Identificação e planejamento das etapas de desenvolvimento dos projetos
02. Coordenação do fluxo de informações entre os agentes
03. Identificação e análise crítica das interfaces técnicas dos projetos
04. Validação do produto e liberação para início das etapas subseqüentes
05. Análise crítica e validação de memoriais, imagens publicitárias, estande de vendas,
maquetes e unidade modelo.

SERVIÇOS ESPECÍFICOS
06. Análise das propostas e assessoria para contratação dos projetistas
07. Definição de subsistemas e métodos construtivos

SERVIÇOS OPCIONAIS
08. Análise de custos de alternativas tecnológicas
09. Serviços de despachante para obtenção de aprovações, cadastramentos e licenças
10. Participação na elaboração de memoriais descritivos do produto (especificações dos
acabamentos), conforme o planejamento do empreendimento

FASE C: ELABORAÇÃO DAS PLANTAS DE INTERFERÊNCIAS

SERVIÇOS ESSENCIAIS
01. Identificação das interferências dos demais projetos no projeto de Arquitetura
02. Elaboração de um dossiê de eventuais conflitos reminiscentes entre os projetos, para
solução imediata com os respectivos projetistas e comunicação aos demais.

SERVIÇOS ESPECÍFICOS
03. Elaboração da Planta de Interferências para cada pavimento, com a locação, em relação
a um sistema de eixos perpendiculares entre si, dos pontos onde deverão ser fixadas
as passagens e deixados os elementos pré-moldados necessários, nas fôrmas da estrutu-
ra das lajes, vigas e pilares de concreto, antes de sua concretagem, na obra.

SERVIÇOS OPCIONAIS

26
04. Referenciamento de todas as paredes, esquadrias e outros detalhes construtivos nos
pavimentos, em relação ao mesmo sistema de eixos perpendiculares, adotados para as
interferências, e fixados em posição constante em todos os andares.

FASE D: ELABORAÇÃO DO PROJETO PARA EXECUÇÃO DA OBRA

SERVIÇOS ESSENCIAIS
01. Redesenho das plantas dos pavimentos do projeto de Arquitetura, acrescentando as infor-
mações que não foram necessárias no projeto legal, de modo a facilitar sua implantação,
e não deixar dúvidas na obra quanto aos detalhes construtivos (cotas, distâncias, alturas,
espaçamentos, amarração de alvenarias, assentamento de componentes pré-moldados,
acabamentos esperados nas fachadas e outros);
02. Informação gráfica sobre as estratégias de construção a serem adotadas (numeração dos
Blocos de acordo com a ordem de elevação, ordem de precedência na execução de
partes da obra, forma de amarração estrutural entre periferia e núcleo central do edifício,
meios de contenção de terrenos e de construções vizinhas, cotas de cortes e aterros do
terreno etc.);
03. Elaboração de vistas e plantas baixas da paginação dos piso, paredes e tetos das áreas
molhadas e de quaisquer outras que tenham definição mais complexa dos revestimentos,
contendo informações detalhadas dos acabamentos adotados e formas de assentamento

SERVIÇOS ESPECÍFICOS
04. Informação das tecnologias a serem utilizadas na construção de detalhes especiais do
projeto, ou diante de situação extraordinária de qualquer natureza, de forma a se evita-
rem os desperdícios de materiais e os custos excessivos de mão-de-obra;
05. Plano de aquisição de equipamentos que serão utilizados pela obra, durante diferentes
etapas dos serviços, sugerindo a melhor forma e local de utilização, no canteiro de obras;

SERVIÇOS OPCIONAIS
06. Relação de materiais e equipamentos alternativos, a servirem como optativos para a obra.

Autores como Oliveira; Melhado (2005a. In: Almeida, 2009) concluem que, de
todas as fases de um empreendimento, a fase de projeto é aquela que possui os
menores custos de produção e é vista como a que apresenta mais oportunidades de
intervenção e agregação de valor ao empreendimento Por esse motivo, os
processos de concepção simultânea e definição dos projetos são estratégicos para a
qualidade do produto (edifícios, casas, galpões etc.) ao longo do seu ciclo de vida,
“principalmente em relação ao surgimento de patologias, à durabilidade, à economia
de recursos (água, energia, tratamento de esgotos), à sustentabilidade e ao
desempenho térmico e acústico”, conforme afirma Bertezini (2006. In: Almeida,
2009). “A ação de projetar passa a ser uma atividade multidisciplinar, com
intervenientes das mais diversas áreas trabalhando em equipes”, as quais devem
procurar as melhores soluções para atingir os resultados do projeto, segundo a visão
de Almeida (2009), que diz tratar-se “de um ato coletivo e circunstanciado”.

27
Nas etapas seguintes, de elaboração das Plantas de Interferência e do
Projeto Executivo da obra, a equipe de coordenação dos projetos precisa estar
com as soluções dos projetos complementares definidas e suas especificações
compatibilizadas com o briefing do empreendimento e já incluídas no primeiro
orçamento detalhado da obra. Serão insumos (entradas) de um processo perpas-
sado por etapas progressivas e geradoras de registros em projeto, segundo a
concepção de Melhado et al. (2005), a resultar em produtos (saídas) cada vez mais
detalhados, a serem desenhados, de forma clara e padronizada, nas Plantas de
Interferência e no Projeto de Execução da obra. Nenhuma omissão de detalhes
construtivos será admissível, nesses trabalhos, sob pena de a obra ter, depois, que
fazer definições ou tomar decisões, para as quais, normalmente, não tem a
competência necessária.

As Plantas de Execução partirão das definições construtivas do Projeto de


Arquitetura e começarão por definir a planta paixa da paginação das duas primeiras
camadas de alvenaria, a se repetirem, sucessivamente, até vencer o pé-direito dos
ambientes fechados. Caso a alvenaria seja estrutural, a resistência prevista de cada
tipo de Bloco de Concreto utilizado nas alvenarias, deverá ser marcada na Vista da
paginação completa das paredes.

Nas alvenarias, serão marcados, também, os detalhes especiais dos projetos,


a exemplo dos pontos de Blocos Hidráulicos de concreto, a permitir o embutimento
das tubulações de instalações sem provocar quebras e gerar entulhos; a passagem
de tubulações de gás embutidas no contrapiso, tubulações de água, ventilação e
esgoto nos cantos falsos o bonecas de parede, ou dutos do ar condicionado air-split,
por dentro das molduras dos forros de gesso etc. Cada detalhe construtivo que
merecer destaque, pela solução escolhida pelos projetistas e compatibilizada pela
coordenação de projetos, deverá constar no Projeto Executivo da obra, com todas
as circunstâncias de favorecimento ou limitação definidas para sua execução. Cada
detalhe será composto de cortes, vistas, plantas baixas, cotas, especificações e
ligações com outras partes dos projetos.

No caso de alvenarias em painéis de gesso acartonado, ou em placas


cimentícias, existe a necessidade de locação, em planta, dos montantes metálicos

28
usados para a fixação dos painéis, bem como a vista de detalhes dos reforços de
madeira e aço, nos locais onde serão assentadas bancadas de pias e lavatórios,
prateleiras e armários, ganchos para vasos, redes, luminárias etc. Define-se,
também, os pontos de colocação de lã mineral, no interior do sistema de placas,
para incrementar o isolamento acústico das paredes de gesso acartonado. Além
disso, é preciso que as especificações considerem os usos dos ambientes, ao definir
os tipos de placa a usar (verde para áreas molhadas, rosa para caixas de escada de
incêndio ou branca para forros e paredes em abientes secos e não necessariamente
resistentes a fogo), garantindo a eficiência do sistema em todo o projeto.

Em situações onde ressaltos e reentrâncias são previstos na estrutura ou nas


alvenarias, para o encaixe de mantas de impermeabilização do piso (de terraços
descobertos, quando adentram a parte coberta do pavimento, por exemplo), para o
recolhimento de caixilhos (portas de correr feitas de vidro temperado ou de outro
material que se embutem na parede, por exemplo), para a instalação de placas,
letreiros ou avisos luminosos que envolvam pequenos motores, reatores, fiação etc.,
deverão ser pensados e detalhados separadamente, em projetos específicos (de
impermeabilização, de caixilharia especial ou de armários, e de instalação desses
equipamentos, nos casos dos exemplos citados). Poderá ser mencionado, no
Projeto de Execução, o dever de se buscar, nesses projetos específicos, os detalhes
projetados de cada parte em foco, antes de executá-la.

As Plantas de Interferências resultam, apenas, da sobreposição sucessiva


dos projetos complementares sobre a Planta de Formas do Projeto Estrutural de
cada pavimento, de onde a coordenação dos projetos extrairá a posição exata dos
pontos de passagens de paredes no meio das lajes, de tubulações, encanamentos,
conduites, mangueiras, quadros, ralos e caixas, por dentro das paredes de alvenaria
e de vigas, lajes e pilares de concreto, bem como dos pontos de utilização de apa-

A A

B B

B B

A C C

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A
relhos e peças instalados, referenciando-os todos num sistema biaxial adotado (AA,
BB), ou de mais de dois eixos ortogonais entre si (AA, BB, CC), em pavimentos em
forma de “H”, por exemplo, mas constantes em todos os pavimentos do edifício.

A posição desses pontos e suas locações referenciadas nos eixos do sistema


constituem a demarcação das interferências no pavimento, que deverão ser comple-
mentadas pelas informações qualitativas das especificações. Assim, cada ponto de
passagem ou de utilização que for marcado, nas Plantas de Interferências, deverá
fazer-se acompanhado da respectiva especificação. Quando possível e necessário,
deverão ser informados:

- a finalidade do seu uso:


Exemplos:
AF=água fria AQ=água quente AP=água pluvial,
ES=esgoto sanitário GAS=gás de cozinha INC=combate a incêndio
VENT=tubo de ventilação WEB=rede de computador AC=ar condicionado
INF=cabo de informática Ox=oxigênio medicinal EX=exaustão de ar
TEL=telefone ANT=antena de TV aberta NET=TV a cabo
VS=vaso sanitário CH=chuveiro elétrico LAV=lavatório
DH= ducha higiênica PIA=pia de cozinha TQ=tanque de serviço
MLL=máquina lavar louça MLR=máquina lavar roupa FIL=filtro água potável
RSf=ralo sifonado CG=caixa de gordura CI= caixa de inspeção
RSc= ralo seco QDL=quadro de distrib. de luz ASP=aspirador central.

- o diâmetro da tubulação ou passagem:


Exemplos:
φ =25mm; D=32mm; ou 40, 50, 75, 100, 150 mm, 1”, 11/2”, 3/4",3/8”, 5/16”, 5/8” etc.

- Inclinação da tubulação ou do ponto instalado, em relação à estrutura:


Exemplos:
incl=1%, i=1,5%, I=2,0%; α =45º, âng=15º etc.

- Posição do eixo do ponto, se necessário, em relação à estrutura:


Exemplos:
Prof=12,5cm fundo da viga; Dist=15cm quina do pilar; Pos=8cm fundo da laje; etc.

Os trabalhos da coordenação, nessa fase de projeto executivo e planta de


interferências, traduzem e resumem as conclusões a que chegou toda a equipe de
projetistas e interessados no empreendimento, consagrando o que Fontenelle (2002,
In: Almeida.2009) define como as “interfaces do projeto” com o produto que o
empreendedor que lançar no mercado e com a obra que a equipe de produção quer

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realizar. Se a interação da coordenação de projetos com o empreendedor precisará
refletir as necessidades e restrições do público-alvo do empreendimento, com a
construtora ela deverá contemplar as solução dos aspectos técnico-construtivos do
projeto, tais como a seleção tecnológica e a resolução de interferências entre os
subsistemas adotados pela obra (fôrmas, escoramento, revestimento de fachadas,
embutimento das instalações, realização dos contrapisos, assentamento de
revestimentos internos, fixação dos caixilhos, levantamento das alvenarias etc.).

As especificações de um empreendimento são feitas em três versões, todas


fiéis às definições contidas no memorial do empreendimento, mas cada uma com
um nível diferente de aprofundamento dos detalhes. Assim, as Especificações de
Venda do produto contêm os acabamentos básicos de pisos, paredes, louças e
bancadas de pias e lavatórios das unidades construídas, de interesse do cliente
leigo e comprador na planta que querem apenas a garantia de um bom acabamento.

O coordenador de projetos não deverá detalhar essa Especificação de Venda além


da espécie de material a ser usado (paredes de azulejo e piso de pedra nobre
polida, por exemplo), sob pena de atrapalhar as vendas e comprometer a obra.

O empreendimento precisa levar a registro, em Cartório, as Especificações de


Incorporação, que seguem as definições das normas da ABNT (NBR 1272/1992) e
apresentam-se em forma de planilhas (Decreto nº 55.815/65 e art. 53, IV, da Lei nº
4.591/64). Os cálculos das áreas especiais, previstas pelas normas, e os tipos de
projeto-padrão (separados por tipo de empreendimento, nº de pavimentos, nº de
dormitórios e nível de acabamento) refletem-se nos diferentes Custos Unitários
Básicos de cada Estado, e publicados todo mês pelos SINDUSCON’s estaduais.
Esses cálculos deverão estar em coerência com as especificações incluídas no
processo de incorporação, apesar de a norma não se prender ao detalhamento de
tipos e marcas dos materiais adotados. Esse fato facilita o entendimento posterior do
empreendedor com o cliente e a construtora, na hora das definições para a obra.

As Especificações de Obra reúnem todas e quaisquer informações sobre os


materiais, revestimentos e acabamentos que deverão ser empregados na obra, de
modo a não deixar dúvidas para os setores de orçamentos, de compras, e de
execução de obra da empresa. Deverão estar completas, não faltando nenhuma

31
característica importante ou necessária para a perfeita identificação do produto a ser
utilizado, podendo, para isso, lançar mão da explicações complementares de
desenhos e detalhamentos anexos. O cliente não deverá ter acesso a essas
especificações, sob pena de darem muito trabalho para a empresa, no tocante a
pedidos de reforma e modificações do padrão adotado, com vista a personalizar os
seus acabamentos.

Na hipótese de as fábricas retirarem de fabricação algum produto


especificado, ou na necessidade de a empresa substituir algum fornecedor de
materiais, à época das compras dos acabamentos, o cliente, não tendo
conhecimento dessa especificação detalhada, não precisará tomar conhecimento
das mudanças havidas. Da mesma forma, se essa Especificação de Execução cair
nas mãos da concorrência, será como se a empresa tivesse sido devassada ou
espionada em um trabalho que é fruto de projetos elaborados por seus projetistas e
coordenados pela empresa, e que custaram bastante caro para ela.

É válido lembrar que os diferentes tipos de Especificações de um mesmo


empreendimento devem guardar coerência entre si, nas definições que fizerem dos
acabamentos, apesar de cada um explorar um nível de profundidade, no detalha-
mento e caracterização dos materiais utilizados.

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