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O campo disciplinar da economia das organizações pode ser definido de várias formas. Para
uns, a economia das organizações distingue-se de outros tipos de análises organizacionais pela sua
crença em análises de equilíbrio, suas hipóteses de gestores maximizadores de lucro e o uso de
modelos e pressupostos abstratos. De fato, alguns economistas das organizações adotam tais
pressupostos e constróem modelos de organizações utilizando tais tipos de instrumentos. Entretanto,
nem todos os economistas das organizações utilizam todas essas ferramentas o tempo todo. Por
exemplo, tanto a teoria evolucionária do desenvolvimento econômico (Nelson e Winter, 1982)
como a escola Austríaca (Jacobson, 1992) são, em sua essência, explicitamente, partidárias do não-
equilíbrio. Modelos de análise de risco (Arrow, 1985), de processo decisório (March e Simon,
1958) e a economia dos custos de transação (Williamson, 1975) não consideram o princípio da
racionalidade perfeita. A Teoria da Agência (Jensen e Meckling, 1976), as teorias de acordos
implícitos (Tirole, 1989) e de alianças estratégicas (Kogut, 1988) não consideram que todos os
gestores adotem, de maneira recorrente, objetivos de lucro máximo em seus processos decisórios.
Por último, o grande negócio da economia das organizações não é, nem muito matemático, nem
altamente técnico – embora questões acerca de quão abstrato deva ser um modelo sejam,
geralmente, uma questão de preferência.
Na verdade, a economia das organizações parece ter apenas duas coisas em comum com
outras formas de pensar sobre a análise organizacional. A primeira é um contínuo interesse nas
organizações ou firmas (como os economistas usualmente chamam as organizações).
Diferentemente da maioria dos economistas, que está interessada na estrutura, no funcionamento e
nas conseqüências para os mercados, os economistas das organizações estão interessados na
estrutura, no funcionamento e nas conseqüências para as firmas.
A segunda, a maioria dos economistas de organização tem um interesse unflagging na relação
entre competição e organizações. Mesmo os economistas das organizações que estudam as
organizações sob condições de monopólio (onde a competição é relativamente menor) tendem a
*
Tradução: Paulo Antônio Zawislak e Egídio Furlanetto.
Revisão Técnica: Paulo Antônio Zawislak e Roberto Costa Fachin.
focar em processos competitivos que aumentam a competição monopolista ao longo do tempo (veja
a discussão acerca da “teoria de mercado contestável” a seguir). Para os economistas das
organizações, as organizações estão mergulhadas em “caldeirões borbulhantes” de competição,
onde outras firmas, pessoas, instituições e governos estão todos buscando obter uma parte do
sucesso que uma firma em particular poderá desfrutar.
É interessante notar que outras formas de análise organizacional compartilham desse interesse
por organizações e competição. Por exemplo, o modelo de ecologia populacional (Hannan e
Freeman, 1977), na teoria organizacional, tem uma noção de competição claramente desenvolvida,
embora (alguns podem argumentar) apresente uma apreciação um tanto subdesenvolvida para a
complexidade das firmas modernas. A teoria da dependência de recursos discute as respostas das
organização para ambientes mais ou menos munificient (Pfeffer e Salanick, 1978). Até mesmo a
teoria institucional (Di Maggio e Powell, 1983) discute a importância da legitimação para a
sobrevivência de uma organização. A probabilidade da sobrevivência de uma organização é,
também, de interesse da economia das organizações, tornando-a próxima dessas outras vertentes.
Apesar disso, o foco na competição da economia das organizações não encerra o debate sobre
cooperação intra e interfirmas. Como será discutida mais tarde, a cooperação intrafirmas é uma das
questões centrais na teoria da agência e a cooperação interfirmas (na forma de acordos implícitos ou
alianças estratégicas) é um tópico importante na economia das organizações. De qualquer forma, a
função da cooperação nos modelos de economia das organizações é, geralmente, viabilizar a firma
para responder mais efetivamente a ameaças competitivas (Kogut 1988)
Essa dupla visão sobre as organizações, suas origens e suas conseqüências, e sobre a
competição, tem gerado uma vasta e crescente literatura. Essa literatura pode ser convenientemente
dividida em quatro principais correntes, cada uma focando uma questão de pesquisa específica,
ainda que relacionada. Estas quatro correntes de pesquisa e suas questões de pesquisa são: (1)
economia dos custos de transação (por que as organizações existem?); (2) teoria da agência (os
sócios de uma firma concordam acerca de como esta deve ser gerenciada?); (3) administração
estratégica (por que algumas organizações superam outras?) e, (4) economia da cooperação (como
as organizações podem cooperar?). Estas quatro correntes de pesquisa e suas respectivas questões
de pesquisa são discutidas nas seções subseqüentes deste capítulo.
POR QUE AS ORGANIZAÇÕES EXISTEM?
Esta pergunta, talvez seja a mais importante para a economia das organizações em particular
e, para a análise organizacional em geral. Para muitos, a pergunta, “por que as organizações
existem?” pode parecer estranha. Afinal, é bastante óbvio que as organizações existem. Por que
exigir tão incrível esforço para explicar a existência de um fenômeno tão comum? De qualquer
forma, esta pergunta se torna importante no contexto da teoria microeconômica neoclássica.
As Teorias clássica e neoclássica, começando por Adam Smith, apontam para a incrível
habilidade dos mercados para coordenar a produção econômica e efetuar as transações a um custo
muito baixo e sem planejamento do governo. Dito de forma simples, a o pressuposto fundamental
de Smith era de que uma economia poderia ser coordenada por um sistema descentralizado de
preços (a “mão invisível”). Na verdade, muitas das economias desde a publicação de A Riqueza das
Nações estão envolvidas na formalização dessa proposição, buscando identificar as condições
necessárias para o uso efetivo da mão invisível e planejando mudanças onde necessárias (Demsetz
1990: 145). Na maioria dos livros texto de economia, esse esforço é chamado de teoria da firma,
embora essa teoria, na verdade, enfoque, exclusivamente, a estrutura e a operação de mercados e
sua incapacidade de explicar a existência das firmas. Dado que o mercado é tão eficiente para
coordenar transações econômicas, sempre fica uma dúvida de por que ele não gerencia todas as
transações, ou seja, de por que haveria transações gerenciadas pelas firmas. (Coase 1937)
Por mais impressionante que possa parecer, a resposta à pergunta “por que as organizações
existem?” foi equacionada por Ronald Coase, um estudante de vinte e um anos de idade na London
School of Economics.. O grande insight de Coase – publicado no artigo “The Nature of The Firm”
em 1937 - foi proclamar que - a razão das organizações existirem é, que às vezes, o custo de
gerenciar transações econômicas através de mercados é maior do que o custo de gerenciar as
transações econômicas dentro dos limites de uma organização. O custo de usar o sistema de preços
envolve atividades tais como a descoberta de quais são os preços, a negociação dos r contratos, a
renegociação dos contratos, a fiscalização e a resolução de conflitos. A mais duradoura contribuição
do artigo de Coase (1937) foi colocar os custos de transação no centro da análise da questão por que
as firmas existem e sugerir que mercados e organizações são alternativos para gerenciar a mesma
transação. Contudo, o próprio Coase (1972: 63) admite que “The Nature of the Firm” foi “muito
citado e pouco usado”. Esta falta de influência resulta principalmente da deficiência de Coase em
operacionalizar seu enfoque e sua falta de precisão sobre quais transações deveriam ser deixadas
para o mercado e quais deveriam ser internalizadas nas firmas. Recentemente, estudiosos abordaram
essas deficiências a partir do desenvolvimento de um modelo mais completo do custo de usar o
mercado para gerenciar transações econômicas. Esse trabalho veio a ser conhecido como a Teoria
dos Custos de Transação (TCT).
O Enfoque de Alchian-Demsetz
O enfoque de Alchian e Demsetz para explicar a existência das organizações tem várias
virtudes. Por exemplo, ele explica a existência das hierarquias gerenciais e a existência dos
acionistas como reclamantes do resíduo de uma firma. No entanto, muitos economistas das
organizações acham que o exclusivo foco de Alchian e Demsetz sobre a produção em equipe, oculta
algumas importantes questões associadas com a compreensão da natureza da firma. A alternativa
mais desenvolvida ao enfoque de Alchian e Demsetz pode ser encontrada no trabalho de Oliver
Williamson. Na verdade, pode ser dito que as respostas de Williamson a por que as organizações
existem são, agora, consideradas o núcleo da economia ou teoria dos custos de transação (TCT)
Uma afirmação básica da TCT de Williamson é que mercados e hierarquias são instrumentos
alternativos para completar um conjunto de transações (Williamson, 1975: 8). Como instrumentos
para completar um conjunto de transações, mercados e hierarquias são freqüentemente também
chamados "mecanismos de governança". Em geral, as formas de governança de mercado dependem
dos preços, da competição e dos contratos para manter todas as partes, interessadas em uma
transação, informadas de seus direitos e responsabilidades. Formas hierárquicas de governança, por
outro lado reúnem as partes para uma transação sob o controle direto de terceiros (tipicamente
chamados de "o chefe"). Essa autoridade, então, tenta manter todas as partes envolvidas numa
transação, informadas de seus direitos e responsabilidades. Além do mais, esta terceira parte tem o
direito de resolver diretamente qualquer conflito que possa surgir numa transação. Williamson
chama o exercício deste direito de "ato gerencial" (managerial fiat)
Pressupostos Comportamentais
A TCT apoia-se em dois pressupostos essenciais acerca dos atores econômicos (sejam eles
pessoas ou firmas) engajados em transações: racionalidade limitada e oportunismo. A racionalidade
limitada significa que aqueles que estão envolvidos nas transações econômicas são
"intencionalmente racionais, mas apenas de modo limitado" (Simon 1947: xxiv). Dentro da
economia, esse pressuposto é um importante ponto de partida da tradicional hiper-racionalidade
onisciente do homem econômico - homo economicus (Simon, 1947; Hesterly e Zenger, 1993). Sem
limites cognitivos, todas as transações poderiam ser conduzidas por meio do planejamento
(Williamson 1985). Pessoas poderiam escrever contratos de complexidade ilimitada que
especificaria todas contingências possíveis numa transação econômica (Williamson 1975).
Entretanto, devido à racionalidade limitada, contratos complexos acabam sob a face da incerteza.
Os atores econômicos simplesmente não podem prever todos os resultados possíveis numa relação
de troca ou formular respostas contratuais ou outras respostas frente àquelas (imprevisíveis)
eventualidades. Oportunismo também é o ponto de partida dos pressupostos comportamentais
usados no mainstream econômicoi. Enquanto as economias tradicionais simplesmente consideram
que os atores econômicos se comportam de forma isenta, a TCT leva em conta a possibilidade da
busca do interesse próprio com malícia (Williamson 1957: 26). Para Williamson (1985: 47),
oportunismo inclui mentir, roubar e trapacear, mas, isto, geralmente “refere-se a uma revelação
incompleta ou distorcida as informações, especificamente voltada a esforços imaginados para
enganar, alterar, disfarçar, ofuscar, ou, de outra maneira confundir” parceiros numa transação. A
TCT não considera que todos os atores econômicos são sempre oportunistas. Mais especificamente,
tudo que ela leva em conta é que alguns desses atores podem comportar-se de forma oportunística e
que existe um custo para distinguir aqueles que são propensos ao oportunismo daqueles que não o
são. A ameaça do oportunismo é importante porque num mundo sem oportunismo, toda transação
econômica poderia ser feita na base da promessa. Participantes de tal transação poderiam
simplesmente prometer, no início, para posteriormente, cumprir sua parte acordada na transação
(1985: 31). Entretanto, dado que alguns são propensos ao oportunismo, as pessoas e as firmas
precisam projetar salvaguardas para não serem vítimas dos outros.
A Escolha da Governança
∗
Estruturas ou Formas de Governança são um conjunto de regras (instituições) - tais como contratos entre particulares
ou normas internas às organizações - que governam uma determinada transação (N.T.)
oportunismo em suas transações, então, eles sempre escolheriam as estruturas hierárquicas de
governança . Nas estruturas hierárquicas, sempre há uma terceira parte responsável por gerenciar
uma transação de forma a minimizar os problemas criados pela racionalidade limitada e pelo
oportunismo. Certamente, os atores econômicos precisam estar preocupados com os problemas
criados pela racionalidade limitada e o oportunismo e sobre o custo de governar as transações
econômicas.
*
No original, aparece A onde registrou-se B e B onde colocou-se A. Como essa relação é ilógica dentro do texto,
inverteu-se a referência. (N.T.)
estabelecido no contrato de oferta original. O que a firma A pode fazer? Se a firma A se recusar a
atender à demanda da firma B, ela perde o valor econômico do seu investimento em B*. Enquanto
os pedidos de a redução de preço feitos pela firma B forem menores que os custos de abandonar por
completo os seus investimentos, a firma A irá condescender à demanda da firma B. Portanto, o
investimento específico feito pela firma A cria uma oportunidade para a firma B se comportar de
forma oportunística.
Quanto maior for o nível de investimento específico envolvido em uma transação, maior será
a ameaça do oportunismo. Quanto maior for a ameaça do oportunismo, menor a probabilidade da
governança de mercado reduzir efetivamente esta ameaça, sendo mais provável que as estruturas de
governança hierárquicas sejam escolhidas - apesar de seus custos adicionais. No simples exemplo
discutido acima, estruturas hierárquicas iriam significar que a firma A e a firma B seriam reunidas
em uma única corporação e que um gerente dessa corporação ("o chefe") iria mediar a relação entre
o que seria, então, a divisão A e a divisão B. Dada a existência desse mediador, a divisão A poderia
fazer os investimentos específicos necessários para facilitar suas relações de fornecimento com a
divisão B, confiando no mediador para ter certeza que a divisão B não teria vantagem injusta desses
investimentos específicos.
Em resumo, a resposta de Williamson a essa questão "por que existem as organizações?" é
que a hierarquia surge para resolver os problemas de governança de mercado com investimentos
específicos sob condições de incerteza. Uma vez sob propriedade comum, as duas partes envolvidas
na transação têm menos incentivo para buscar vantagem uma sobre a outra. As disputas são menos
prováveis de ocorrer porque a hierarquia é apta a estabilizar “objetivos comuns” os quais levam a
expectativas convergentes entre os participantes de uma transação. Adicionalmente, hierarquias
facilitam o desenvolvimento de códigos e linguagem que são únicos para a firma os quais permitem
uma comunicação mais exata e eficiente (Arrow, 1974; Williamson, 1975).
Enquanto a hierarquia supre uma resolução para o problema de investimento específico sob
incerteza, existem, contudo, limites para usar a hierarquia. As firmas são predispostas a importantes
incentivos e incapacidades burocráticas que limitam seu tamanho. Os incentivos mais altos do
mercado não são facilmente duplicados nas firmas, principalmente nas grandes firmas.
*
No original, aparece A onde registrou-se B. Como essa relação é ilógica dentro do texto, inverteu-se a referência.
(N.T.)
Aplicações da Teoria dos Custos de Transação
Integração Vertical
A mais pesquisada aplicação da TCT - integração vertical - é a mais clara investigação da
questão "por que existem as organizações?" (veja Joskow, 1988; Mahoney, 1992 para revisão).
Estudos da TCT enfocam a integração vertical diferentemente de muitos dos trabalhos prévios em
economia (veja Blair e Kaserman, 1983 para revisão). Ao invés de ver a integração vertical como
uma medida agregada de valor adicionado para a totalidade de uma firma, estudiosos da TCT
tipicamente utilizam a transação como seu nível de análise. Esta pesquisa, que examina o que em
termos mundanos é rotulado por decisões de “fazer ou comprar”, encontra suporte consistente na
proposição de que os investimentos específicos aumentam a probabilidade de uma transação ser
internalizada. Esta proposição é reforçada quer o investimento específico na transação seja
operacionalizado na forma de intensidade de capital (Mac Donald, 1985; Mac Millan et al, 1986;
Caves e Bradburd, 1988) na forma de especificidade dos ativos humanos ou competências
específicas das firmas (Armour e Teece, 1980; Anderson e Schmittlein, 1984; Anderson, 1985; John
and Weitz, 1998; Masten et al., 1991), na forma de especificades locacionais (Stuckey, 1983;
Joskow, 1985), quer seja uma barganha dos pequenos números (small numbers bargaining) (Levy,
1985; Mac Donald, 1985; Caves e Bradburd, 1988). A incerteza tem um efeito menos consistente na
decisão de integrar (Walker e Weber, 1984; 1987).
A Forma Multidivisional
Outra importante extensão da TCT para a organização interna foca a firma multidivisional
(forma M), a qual Williamson (1985:279) lembra como sendo a "inovação organizacional mais
significativa do século vinte". O histórico estudo de Chandler (1962) sobre a estratégia e da
estrutura das grandes empresas americanas relatou a ascensão da forma M. Sobrepondo a lógica dos
custos de transação sobre as constatações de Chandler, Williamson vê a racionalidade limitada e o
oportunismo como a raiz da grande difusão da forma M entre as empresas americanas. Ele
argumenta que, como as firmas organizadas por função (formas U) se expandem em tamanho e
diversidade, torna-se muito difícil para os gestores do alto escalão negociar com uma variedade de
problemas operacionais encarados pela companhia. Além disso, combinando grande diversidade
com a interdependência entre as unidades funcionais torna-se difícil de designar responsabilidade
para os sucessos e falhas referentes a um produto ou a uma linha de negócios. Assim, a
complexidade da empresa esmaga a capacidade de processar informação - ou, nos termos da TCT, a
racionalidade limitada - dos gestores do alto escalão. Adicionalmente, a crescente complexidade
torna mais difícil o acerto das metas das unidades funcionais com as metas da firma como um todo.
Esta incapacidade de operacionalizar metas funcionais leva os gestores a perseguirem submetas
funcionais em vendas, produção, etc, freqüentemente à custa do desempenho da empresa ou nos
termos da TCT, o problema do oportunismo.
A forma M resolve estas dificuldades organizando as firmas por produto ou divisão
geográfica onde as decisões operacionais e as responsabilidades quanto ao desempenho são
delegadas a um gerente de divisão. Uma estrutura típica de forma M é apresentada na Figura I.
Idealmente, esta estrutura separa estratégia e decisões operacionais. Decisões estratégicas são
limitadas a altos executivos que atuam no escritório central da empresa. Decisões operacionais são
delegadas a altos executivos dentro da divisão de operação. Limitando sua responsabilidade à
tomada estratégica de decisões, a forma M reduz o problema da racionalidade limitada sob a ótica
dos gestores de alto escalão no escritório da empresa. Dividindo a firma em divisões quase-
autônomas facilita as metas de desempenho mais claras a um nível mais baixo de organização. A
responsabilidade do desempenho de uma linha de negócio recai sobre um único gerente de divisão.
Por último, a estrutura de tipo M também permite que firma funcione como um mercado de
capital em miniatura, onde o escritório da empresa monitora o desempenho da divisão, a alocação
do fluxo de caixa a níveis de uso mais eficientes, assim como exerce atividades voltadas à
diversificação, aquisição e desinvestimentos (Williamson, 1970; 1975; 1985). Sob a perspectiva da
TCT, a forma M possui vantagens importantes sobre o mercado externo de capital: (1) tem acesso a
informações mais exatas sobre as divisões; (2) pode manipular incentivos e realocar gestores de
fraco desempenho mais facilmente; e, (3) pode exercer controle sobre as estratégias adotadas pela
divisão.
Evidências empíricas tendem a reforçar a afirmação de Williamson, de que a forma M
ultrapassa em desempenho a estrutura funcional em firmas grandes e diversificadas (veja Hoskisson
et al, 1993 para revisão). Em seu estudo seminal da adoção da forma M na indústria petrolífera,
Armour e Teece (1978) concluíram que os que a adotaram mais cedo tiveram vantagens de
desempenho sobre o resto da indústria. Como esperado, no entanto, essas vantagens de desempenho
desapareceram quando as outras firmas adotaram a estrutura de tipo M. Vários outros estudos
oferecem, pelo menos, algum fundamento para a hipótese da firma-M (Harris, 1983; Grinyer et al,
1980; Hill, 1985; Hoskisson et Galbraith, 1991; Olinger, 1993; Steer e Cable, 1978; Teece, 1981;
Thompson, 1981). Alguns estudos de firmas não americanas não encontram evidência que as firmas
com uma estrutura de tipo M desfrutam de um desempenho superior (Cable e Dirrheiner, 1983;
Cable e Yasuki, 1985; Hill, 1988; Holl, 1983). A confiança acerca da origem das fontes de dados,
sugerem, entretanto, que muitos desses estudos podem não ter classificado exatamente a estrutura
da tipo M (Hill, 1988). Assim, algum debate permanece como o que pode ser apreendido desses
testes empíricos (Hoskisson et al, 1993).
Críticos da forma M tendem a focar em seu grau de efetividade como um mercado de capital
interno. A emergência de mais fortes e concentrados investidores institucionais, em anos recentes,
tem diminuído bastante a vantagem obtida pelos gestores do alto escalão sobre os investidores
externos. Provavelmente, a assimetria de informações entre gestores e investidores externos tem
sido reduzida. Relatos anedóticos também sugerem que os investidores externos são muito mais
efetivos em deslocar altos executivos e até mesmo influenciar a estratégia, mais do que no passado.
Pressupondo que essas mudanças sejam reais, a vantagem da estrutura de governança de tipo M
sobre o mercado de capital externo desapareceu. Assim, conforme esse raciocínio, a hipótese da
forma M pode ter sido verdade quando foi formulada, mas está provavelmente desatualizada (Bettis,
1991: 315-16; Bartlett e Ghoshal, 1993). Estas críticas, entretanto, necessitam ainda ser testadas
(Hoskisson et al, 1993: 275).
Outras críticas da forma M são baseadas na idéia de que não se consegue alinhar
adequadamente os interesses dos gestores do alto escalão com aqueles dos acionistas. Em resumo,
tais críticas têm pressupostos diferentes do problema do agenciamento (Hoskisson e Turk, 1990 e a
discussão abaixo). Enquanto a forma M considera pesados incentivos por parte dos gestores
divisionais para maximizar o desempenho, não há mecanismo explícito que motive o gerente do alto
escalão a fazer o mesmo pela firma. Com isto, os gestores do alto escalão adotam uma
diversificação ineficiente. A forma M, com sua estrutura decomposta por “quase-firmas”, apenas
facilita essa diversificação excessiva. Problemas de incentivo divisionais não são completamente
eliminados. Com a ênfase da forma M em avaliação financeira, gestores de divisão podem escolher
focar ser avesso ao risco, maximizando o lucro no curto prazo, enquanto sacrificam atividades como
investimentos em P&D que são críticos para o sucesso a longo prazo. A pesquisa que fundamenta
estas críticos é de alguma forma equivocada, uma vez que ela falha ao separar os efeitos da
estratégia (diversificação) dos de estrutura (a forma M).
A Empresa Multinacional
A TCT, talvez, encontrou sua primeira e mais completa aceitação entre os estudiosos da
economia e dos negócios internacionais. A escola da internalização (Buckley e Casson 1976;
Rugman 1981; Hennart 1982) aplicou a TCT para entender quando as empresas multinacionais
(EMNs) poderiam internalizar suas transações dentro da própria firma e quando elas poderiam
confiar nas transações com base no mercado. A explicação para as EMNs concentrou-se em torno
das imperfeições de mercado. Mercados de diferentes ativos, particularmente alguns tipos de
conhecimento (Buckley e Casson 1976: 39), estão sujeitos a imperfeições de mercado. A principal
conclusão deste trabalho inicial foi que os mercados tendem a ser mais eficientes quando há um
grande número de vendedores e compradores. Transações caracterizadas por grande incerteza e
complexidade, produtos heterogêneos entre um pequeno número de vendedores e comerciantes, por
outro lado, favorecem a internalização (Buckley and Casson 1976: 167-8).
Teece (1986) estendeu o raciocínio de Casson e Buckley ao papel do conhecimento
ao determinar os limites de uma firma. Ele argumentou que, quando o conhecimento é difícil de ser
negociado – seja por que ao fazê-lo se estaria desistindo do conhecimento, seja porque as infra-
estruturas de competências, de códigos de comunicação ou de cultura estão ausentes – as firmas
internalizarão aquelas transações. A evidência empírica (veja Teece 1986 para revisão) sustenta a
teoria dos custos de transação das EMNs. Embora diferentes estudos a respeito da integração
vertical e EMNs tenham sido realizados, pouco na TCT das EMNs é especificamente relativo à
internacionalização. A EMN, sob a perspectiva da TCT, não passa de um caso especial do problema
de integração vertical. Na essência, essa literatura é uma simples reelaboração da questão “por que
as organizações existem?” para transformá-la em “por que as EMNs existem?”
A teoria dos custos de transação tem atraído suas próprias críticas (veja, por exemplo, Perrow,
1986; Petterman, 1984; Robins, 1987; Demsetz, 1988). Das muitas críticas direcionadas à TCT, três
são particularmente centrais: (1) A TCT foca na minimização de custos; (2) ela atenua os custos de
organização; (3) negligencia o papel das relações sociais nas transações econômicas.
A TCT foca na minimização de custos como um imperativo organizacional. Ou, como
Williamson (1991b:76) argumenta, “economizar é mais fundamental do que traçar estratégias - ou,
colocando de outra maneira, a economia é a melhor estratégia”. A Teoria dos Recursos Internos
(discutida mais adiante) dedica atenção particular a isso. Como será visto, a Teoria dos Recursos
Internos sugere que a criação e a exploração de investimentos específicos para a transação sob
condições de incerteza é essencial se a firma pretende obter sucesso de longo prazo (Conner, 1991;
Kogut e Zander, 1992). Evitar o oportunismo e minimizar os custos de governança são uma
consideração secundária. Minimizar os custos de transação é de um benefício relativamente
pequeno se a firma não possui um ativo (incluindo aí o conhecimento) que tenha um elevado valor
reconhecido pelo mercado.
Uma segunda crítica da TCT é que essa tende a subestimar os custos de se organizar as
transações dentro da firma (Jones e Hill, 1988). O uso da autoridade é tido como sendo mais
eficiente para resolver as disputas internas do que o mercado. Isso nem sempre é assim. Longas e
custosas negociações tendem a ser mais severas dentro da firma do que entre firmas, tal como o
estudo da transferência de preços de Eccles (1985) mostra. Na verdade, a organização interna é
seguidamente suscetível a negociações caras e à influência dos comportamentos (Dow, 1985;
Milgrom e Roberts, 1988). Mesmo quando a autoridade é eficiente para resolver algumas disputas
internas, ela pode ser alvo de abuso oportunístico (Dow, 1987).
Outra crítica à TCT é que ela tende a subestimar o papel das forças socais e culturais na
atividade econômica (Granovetter, 1985). Enquanto a TCT busca adotar pressupostos realistas
quanto à natureza humana, ela decididamente adota uma visão calculista (Williamson, 1993a) das
pessoas, o que reduz o impacto das relações sociais e culturais. Granovetter apontou que as
transações, contrariamente a esta visão atomística, estão inseridas nas redes de relações sociais.
Essas transações são influências por expectativas formadas pelo próprio histórico da relação.
Dimensões abstratas das transações, tais como a especificidade dos ativos e a incerteza não
determinam, por si sós, os arranjos de governança que se observa. Amigos íntimos, por exemplos,
podem trocar ativos sem a criação de uma estrutura hierárquica, de um contrato formal ou outros
compromissos tangíveis, simplesmente porque confiam um no outro. Embora tendo considerado em
menor escala nos seus primeiros trabalhos, os estudiosos da TCT têm focado mais atenção no
entendimento de forças sociais tais como a confiança nas transações econômicas (Ring e Van de
Vem, 1992; Williamson, 1993a).
Apesar destas críticas, a resposta da TCT à questão fundamental de porque as firmas existem
é inegavelmente influente. Historicamente, a teoria economia considerou as organizações como
irrelevantes e sem valor para a Ciência Econômica (Stigllitz, 1991: 15), já a teoria das organizações
eleva as organizações acima de tudo. A TCT ofereceu uma abordagem que provocou um olhar, por
parte dos economistas, para o interior da caixa preta da firma, ao mesmo tempo em que abriu um
novo horizonte para os teóricos das organizações.
Tendo em vista que a tradicional economia neoclássica não olha para dentro da firma, não é
surpreendente que, ao tratar o modo como uma firma deve ser gerenciada, ela não trate da
possibilidade de conflito intrafirma. A economia neoclássica definiu um objetivo monolítico para a
firma: a maximização do lucro. As firmas que se comportassem de forma contrária a esta suposição,
seriam consideradas como tendo apenas uma pequena chance de sobrevivência. E mais, desde que
alguém explicasse porque uma firma fora criada, havia pouca necessidade de se olhar para dentro da
firma. O que acontecia dentro dos limites da firma não ajudariam nos esforços de previsão científica
(Stiglitz, 1991). Ao negligenciar os conflitos internos das organizações, os economistas igualavam-
se às primeiras teorias organizacionais, as quais também negligenciaram tal tópico (Mintzberg,
1983; Perrow, 1986).
Primeiros Movimentos de Afastamento da Firma Neoclássica
A negligência desse conflito intrafirma passou a ser suplantada, de alguma forma, pela
pesquisa de um grupo multidisciplinar de estudiosos da Carnegie-Mellon University (March and
Simon 1958; Cyert and March 1963; Simon 1964). O trabalho deles foi um importante ponto de
partida, tanto para a economia, quanto para a teoria organizacional no exame mais explicito dos
conflitos sobre metas e percepções dentro das organizações. O livro de Cyert e March (1963) A
Behavioral Theory of de Firm tratou mais diretamente os problemas relacionados à teoria
neoclássica da firma. Eles rejeitaram os componentes básicos da firma neoclássica tais como,
maximização dos lucros e informação perfeita. No lugar de um ator individual focalizando
exclusivamente o lucro máximo (de certa forma, análogo ao monitor de Alchian e Demsetz), Cyert
e March perceberam que as metas emergem dentro da firma e alteram-se com o tempo a partir de
coalizões formadas e alteradas pelos membros da organização. Ironicamente, este e os trabalhos
correlatos (por exemplo, March e Simon, 1958; Simon, 1964) tiveram muito mais influência na
teoria organizacional do que na economia. Isto foi irônico, principalmente se considerado que a
maioria daqueles associados ao grupo de pesquisa Carnegie-Mellon eram economistas. Alguns
poucos economistas focalizaram-se nas metas potencialmente conflitantes dentro de uma firma e
argumentaram que os gestores poderiam procurar outros objetivos além da simples maximização do
lucro (isto é, eles poderiam buscar o crescimento (Marris 1964); eles poderiam buscar liberdade de
ação e rendas individuais extraordinárias (Williamson 1964). Não obstante, a visão tradicional da
firma permanecia a principal perspectiva.
A teoria dos custos de transação é surpreendentemente de pequena ajuda na análise de metas
conflitantes entre os sócios de uma firma. A TCT explica porque existem organizações; ela falha em
tratar como e de que maneira os sócioss concordam com as metas. A suposição implícita na TCT é
que o acordo relativo à forma que a firma deveria ser gerenciada não é problemático. No entanto,
somente porque os parceiros em transações econômicas encontram-se mutuamente interessados em
formar uma organização, isso não significa que suas diferenças de interesses, gostos e preferências
cessem. Realmente, Williamson demonstra que o problema do oportunismo e da racionalidade
limitada, que tanto prejudica as transações através dos mercados, quase desaparece magicamente
quando as transações são internalizadas dentro de uma organização (Grossman e Hart 1986). Esta
afirmativa parece irreal, ou melhor, é particularmente irônica de acordo com o trabalho anterior de
Williamson (1964) que examinou a propensão dos gestores em perseguir suas próprias metas à
custa dos lucros da corporação. Esta falta de apreciação da variedade e complexidade dentro das
organizações realça o incompleto conhecimento do TCT (Williamson 1985; 392, 402).
Teoria da Agência
Vale a pena esclarecer o caráter genérico do problema da agência. O problema de incluir um agente que se
comporte como se ele buscasse o bem-estar máximo do proprietário é muito amplo. Ele existe em qualquer
organização e em qualquer esforço cooperativo – em qualquer nível de gestão das firmas. (...) O
desenvolvimento de teorias para explicar a forma que os custos de agência assumem em cada uma dessas
situações (onde as relações contratuais são significativamente diferentes), e como e porque eles surgem levará a
uma riquíssima teoria das organizações, o que atualmente não está disponível na Economia nem nas Ciências
Sociais. (1976: 309)
Para proteger os interesses do proprietário, muitos esforços precisam ser feitos para reduzir a
possibilidade dos agentes se comportarem mal no futuro. Neste esforço, custos são incorridos. Estes
custos são chamados custos de agência. Os custos totais de agência são os de monitoramento dos
gastos, feitos pelo proprietário, os relativos aos compromissos do agente e as perdas residuais do
proprietário. Esta perda residual demonstra que em muitas situações será mais custoso para o
proprietário monitorar completamente o agente e mais custoso para o agente assegurar totalmente
que os interesses não discordem (Jensen e Meckling, 1976).
Partindo do pressuposto que os custos de agência existem, é claro que os proprietários têm um
forte incentivo para minimizar estes custos (por exemplo, minimizando a soma de monitoramento, o
vínculo e os custos residuais de agência). Contudo, os agentes também têm incentivo para
minimizar estes custos. Onde for possível estabelecer economias nos custos de agência, estes
benefícios podem ser compartilhados entre agentes e proprietários. Assim, o proprietário e o agente
têm todo o interesse em definir uma estrutura mútua de monitoramento e de incentivos que produza
efeitos os mais próximos possíveis da situação onde a troca de informação se desse sem custo (Pratt
e Zeckhauser, 1985).
Arrow (1985) observa duas fontes essenciais relativas aos problemas de agência: o risco
moral (moral hazard), que ele compara com ações escondidas, e a seleção adversa, que ele compara
com informações escondidas. O risco moral envolve situações nas quais muitas das ações dos
agentes são escondidas do proprietário ou são custosas de se observar. Na realidade, é praticamente
impossível ou muito oneroso para o proprietário monitorar todas as ações do agente. Os acionistas,
ou mesmo os diretores, por exemplo, podem achar proibitivamente caro monitorar totalmente o
comportamento de sua equipe da alta gerência. Na verdade, em toda e qualquer relação de trabalho
é muito difícil de observar esforço e habilidade.
Problemas de agência podem também envolver a seleção adversa. Na seleção adversa, o
agente possui informações que, para o proprietário, são inobserváveis ou custosas de se obter.
Consequentemente, os proprietários não podem determinar completamente se os seus interesses
estão sendo tratados da melhor maneira pelas decisões dos agentes. Por exemplo, um gerente de
nível inferior pode submeter propostas ao CEO (nesta instância, o equivalente ao proprietário) com
base na sua informação e não nas informações do CEO. Estas propostas são improváveis de gerar
valor econômico. Ao fazer assim, o gerente de nível inferior pode obter alguns benefícios
particulares (por exemplo, uma larga experiência que poderá ser útil em outras firmas).
Obviamente, o CEO encontra-se em desvantagem de informação. Esta desvantagem é somente
agravada pelo número de agentes com incentivos similares e vantagens múltiplas.
De modo genérico, proprietários e agentes resolvem os problemas de agência através de
monitoramento e vínculos. Monitorar envolve observar o comportamento e/ou o desempenho dos
agentes. A vinculação refere-se a acordos que ora penalizem os agentes ao agirem de maneira que
viole os interesses dos proprietários, ora os gratifica por alcançar as metas dos proprietários. Os
contratos entre agentes e proprietários especificam os acordos de monitoramento e vinculação.
Desta forma, os contratos passam a ser centrais na teoria da agência. Jensen e Meckling (1976:310)
argumentam que a maioria das “organizações são simplesmente ficções legais que servem de rede
para um conjunto de relações de contrato entre pessoas”. É, porém, dentro desta rede que as firmas
adotam regras de monitoramento e vinculação.
Dado esta descrição geral dos problemas de agência e suas soluções de custo, três questões
importantes vêm à mente. Primeira, por que os proprietários delegam autoridade aos agentes,
quando eles sabem que tal delegação de autoridade irá, inevitavelmente, conduzir a problemas de
agência? Segundo, quais mecanismos específicos de monitoramento os proprietários podem
implantar para minimizar estes problemas de agência? Finalmente, quais mecanismos específicos de
vinculação os agentes podem usar para tranqüilizar os proprietários? Cada uma dessas questões é
discutida em seções subseqüentes.
Delegando Autoridade
Devido aos custos de agência, os proprietários não irão delegar autoridade a agentes a menos
que eles constatem razões que os obriguem a faze-lo. Às vezes, não existem razões que os obriguem
a tanto, fazendo com que eles se engajem, do ponto de vista individual, a uma vasta gama de
atividades econômicas. Por exemplo, em pequenos negócios, parcerias simples e corporações
fechadas que operam em pequena escala é provável que uma pessoa possa se engajar numa
variedade de atividades econômicas, desde a concepção de uma oportunidade de negócio até a
obtenção de fundos para essa oportunidade, passando pela implementação de todas as decisões do
negócio para aproveitar tal oportunidade. Além do mais, devido ao pequeno tamanho e a
simplicidade relativa dessas operações de negócios, uma pessoa sozinho pode ser bem sucedida
nessas numerosas tarefas. Em tais grupos, não havendo delegações de autoridade para agentes, não
haverá custos de agência.
No entanto, as situações que enfrentam empresas maiores e mais complexas não são tão
simples. Nestes grupos, uma pessoa sozinha pode ser incapaz de comprometer-se, de forma
eficiente e com tempo hábil, em todas essas atividades de negócio. Esta inabilidade não reflete,
necessariamente, uma deficiência para executar todas essas tarefas. Muito antes pelo contrário, a
racionalidade limitada das pessoas e os obstáculos relacionados a tempo e energia podem tornar
impossível a condução dos negócios sem significativa delegação de autoridade. Tal delegação
sempre implicará em custos de agência.
Fama e Jensen (1983) observam que o processo de tomar a maioria das decisões pode ser
dividido em duas grandes categorias: (1) a gestão da decisão (por exemplo, como a possibilidade de
uma decisão é iniciada e como esta decisão será implementada) e (2) o controle da decisão (por
exemplo, como uma decisão é aprovada e como o desempenho dessa decisão será monitorado).
Como sugerido acima, pode não ser necessário designar a gestão da decisão e as responsabilidades
de controle para diferentes agentes em grupos de negócios relativamente menos complexos. Porém,
em grupos mais complexos, Fama e Jensen (1983a) argumentaram que, delegando gerência de
decisão a um grupo e controle de decisão a um segundo grupo, se pode, na média, conduzir a
decisões de alta qualidade. As tarefas dos grupos gerenciais são simplificadas e eles são capazes de
focar em questões relativas à iniciação e à implementação de decisões. Colocando de outra forma,
em grupos onde a situação de tomada de decisão supere a capacidade cognitiva de uma pessoa,
determinar, a diferentes grupos, diferentes partes do processo de tomada de decisão, provavelmente
melhorará a qualidade das decisões. Com certeza, esta delegação também implica a existência dos
custos de agência.
Monitorando
Devido a existência dos custos de agência, os proprietários terão interesse em tentar monitorar
os agentes (Eisenhardt, 1985). Uma forma dos proprietários tentarem monitorar os agentes é
reunindo informações relativamente completas sobre a decisão e a ação de um agente – o
comportamento de um agente. Desta informação comportamental, os proprietários podem, então,
construir julgamentos sobre as metas essenciais e os objetivos dos agentes. Em particular, os
proprietários podem tentar julgar quão similar são as metas e os objetivos dos seus agentes vis-à-vis
as suas próprias metas e objetivos.
Com certeza, monitorar o comportamento de um agente raramente irá gerar informação
perfeita sobre suas decisões e ações, sem mencionar sobre as metas e os objetivos desse agente. Isto
é muito improvável uma vez que os agentes estão comprometidos em tarefas relativamente
complexas e altamente estruturadas. Por exemplo, supondo que fosse possível para um proprietário
observar diretamente o comportamento de um grupo de cientistas de pesquisa contratado para
conduzir pesquisas de novos produtos. Poderia acontecer de esse proprietário observar que seus
cientistas gastam boa parte de seus dias sentados em cadeiras confortáveis, olhando fixamente para
fora da janela. O que o proprietário pode concluir deste comportamento – que os cientistas estão
ociosos? Talvez. Por outro lado, os cientistas também podem estar pensando a respeito de algum
problema fundamental de pesquisa, solução a qual pode gerar uma seqüência de produtos muito
valiosos. Dado este comportamento, por si só, não é possível deduzir as metas e os objetivos dos
cientistas.
Esta restrição no monitoramento comportamental não é somente limitada aos cientistas. Os
comportamentos nos mais altos níveis gerenciais de uma organização, por exemplo, são
notoriamente difíceis de monitorar e ainda mais difíceis de interpretar. Isto não significa que o
monitoramento comportamental não tem, ou não deveria ter, espaço nos altos níveis de uma
organização. Investidores institucionais monitoram decisões estratégicas críticas tomadas pelos
gestores seniores; os corpos diretivos monitoram a maioria das mudanças de políticas
implementadas pelas equipes seniores de gestores; e as equipes de gestão corporativa monitoram os
planos e decisões estratégicos dos gestores gerais de divisão. De qualquer forma, esses esforços de
monitorar o comportamento dos agentes podem, apenas e de forma imperfeita, reduzir os custos de
agência.
Como uma alternativa (ou suplemento) ao monitoramento do comportamento do agente, os
proprietários podem, também, monitorar as conseqüências (apenas parcialmente observadas) do
comportamento desse agente. Assim, ao invés de monitorar ações e decisões, os proprietários
podem decidir monitorar o desempenho relativo àquelas ações e decisões. Em geral, monitorar o
desempenho (ou o resultado) é mais eficaz quando as tarefas não são altamente programáveis
(Eisenhardt, 1985; Mahoney, 1992). Medidas com base nos resultados, porém, não estão isentas de
problemas. Isto se torna mais problemático nos casos onde a equipe de produção é envolvida
(Alchian e Demsetz, 1972). Nessa situação, a interdependência entre os agentes cria ambigüidade
sobre quanto cada agente contribuiu para o resultado final. Assim, medir o resultado de diferentes
agentes é, na melhor das hipóteses, impreciso.
Um grande segmento da literatura da teoria da agência examina as habilidades dos
proprietários majoritários em monitorar os acionistas (Hill e Snell, 1989). Desde que os acionistas
majoritários têm um grande incentivo e mais recursos para monitorar o comportamento e o
desempenho gerencial, a assimetria de informação entre investidores e os gestores de firmas fica
reduzida. Assim, com a crescente presença de acionistas institucionais e grandes acionistas, tem-se
menor ocorrência de certos tipos de problemas de agência. As firmas com propriedade mais
concentrada (poucos proprietários) apresentam menor probabilidade de se comprometer com
atividades de destruição de riqueza, tais como diversificação ineficiente (Hill e Snell, 1989), mas
são mais prováveis de empreenderem ações de aumento da riqueza, tais como reestruturação
(Bethel e Liebeskind, 1993).
Outro mecanismo que a teoria da agência prescreve para monitorar o comportamento e o
desempenho gerencial é o uso de diretores independentes nos conselhos corporativos. Os membros
dos conselhos independentes providenciam objetividade ao modo como o conselho ratifica e
monitora as decisões gerenciais.
Uma série de estudos tem examinado a ocorrência de políticas de firmas que são planejadas
para terem conseqüências negativas para os acionistas destas firmas, incluindo as precauções contra
take-overs, tais como correio verde (greenmail) e pílulas de veneno (poison pills). Estes estudos têm
produzido um importante suporte à teoria da agência (Kosnik, 1987; Weisbach, 1988; Mallette e
Fowler, 1992). No entanto, estudos recentes sugerem que a adoção destas políticas pode, de fato,
nem sempre designar problemas de agência numa firma (Mahoney e Mhoney, 1993; Brickley et al,
1994). Ao invés disso, sugerem que estas políticas, enquanto elas podem fortalecer os gestores em
detrimento aos acionistas, podem, também, aumentar o poder de barganha da firma alvo em termos
de controle acionário. A existência de diretores externos tem sido mostrada como o principal
determinante de como estas políticas são usadas para ajudar ou prejudicar os acionistas de uma
firma.
Vínculos e Incentivos
A existência de custos de agência sugere que o proprietário tem um incentivo para monitorar
os agentes. Da mesma forma, os agentes também têm incentivos para assegurar ao proprietário que
eles estão se comportando de forma consistente com os interesses dos principais. Em muitas
situações, ambos acabam absorvendo custos de agência associados à delegação de autoridade. Em
geral, os proprietários podem usar mecanismos de vínculos (comprometimento) para tranqüilizá-los.
Esses mecanismos de vínculo acabam tomando a forma de incentivos que os agentes criam para si –
incentivos que fazem em seu próprio interesse para agir de forma consistente com o interesse do
proprietário.
Talvez a forma mais comum de incentivar a vinculação esteja relacionada ao pacote de
compensações dos agentes. Se, em sua maior parte, a compensação de um agente depende da
consistência de seu comportamento e de seu desempenho com relação aos interesses do
proprietário, então – considerando que os agentes valorizam recompensas financeiras – eles irão se
comportar de forma consistente com aqueles interesses. Em outras palavras, a boa vontade de um
agente para aceitar esta forma de compensação pode ser entendida como um vínculo; um vínculo
que garante ao chefe que seus interesses serão considerados quando as decisões forem tomadas.
Uma grande parte da literatura da teoria da agência examina os incentivos que as firmas usam
para induzir os agentes a trabalharem segundo os interesses dos proprietários. Do ponto de vista
ideal, os proprietários iriam preferir um plano de incentivo que penalizasse por completo os agentes
por ociosidade de trabalho e pelo oportunismo. Isto, no entanto, é extremamente difícil de obter sem
que se exponham os agentes a riscos que eles irão achar inaceitavelmente altos. Freqüentemente,
estes riscos estão atrelados a condições que vão além do controle dos agentes. Por outro lado,
políticas que permitem que os agentes sejam compensados de forma independente dos interesses do
proprietário garantem que a remuneração de um agente não irá flutuar como conseqüência de
condições que estão fora de seu controle, mas ao mesmo tempo é ineficiente contra o oportunismo.
Assim, ainda que os proprietários prefiram planos que enfatizem incentivos, eles precisam projetar
sistemas de compensação que equilibrem incentivos puros e planos fixos de compensação (Winship
e Rosen, 1988).
Pesquisas da teoria da agência têm examinado uma variedade de planos de compensação,
incluindo bônus e fundos de ações para executivos (Murphy, 1986), salários por comissões
(Eisenhardt, 1985; 1988), o efeito do incentivo pago na manutenção de emprego (Zenger, 1992), o
impacto do tamanho da firma na intensidade do incentivo (Zenger, 1994), escolhas entre
remuneração por peças e remuneração por tempo (Lazear, 1986) e as disputas por promoções (Mc
Laughlin, 1988). Outros estudos examinam a propriedade dos gerentes na própria firma. Esta
pesquisa (veja Eisenhardt, 1989, para revisão) indica que os gestores com interesse na propriedade
da firma são menos propensos a se comprometerem com a diversificação dos negócios (Amihud e
Lev, 1981; Argawal e Mandelker, 1987), com tentativas de obtenção do controle acionário
(Walking e Long, 1984) e a usarem proteções em benefício dos acionistas (Singh e Harianto, 1989).
Outras recompensas, além de compensação financeira, também servem para alcançar o bem-
estar dos proprietários e dos agentes. Os gestores podem receber promoções ou outras formas de
reconhecimento as quais aumentam suas reputações e a possibilidade de um futuro aumento de
salário. Mesmo se as firmas não unam explicitamente o desempenho com a recompensa, as forças
de mercado podem trabalhar para reduzir os problemas de agência (Fama, 1980). O mercado de
trabalho dos gestores associa o sucesso e a falha dos gerentes com informação a respeito do talento
dos mesmos (Fama, 1980:292). Os gestores em firmas de maior sucesso podem não receber
qualquer ganho imediato em salário, mas o sucesso de sua firma pode aumentar seu valor no
mercado de trabalho. Em contraste, os gestores de firmas que falharam podem não ter a redução em
salários, mas irão ser punidos pelo mercado de trabalho, agregando menos valor aos seus serviços.
*
“Quinze” no original (N.T.).
essencialmente fizeram em sua vasta revisão da pesquisa em controle corporativo. Eles
argumentaram que a maioria dos ganhos dos acionistas, a partir das atividades de fusão e aquisição,
resulta da redistribuição da riqueza de outros acionistas, desde os empregados até os proprietários.
Juntas, a economia dos custos de transação e a teoria da agência constituem uma poderosa
teoria da firma. A economia dos custos de transação explica as condições sobre as quais as
transações econômicas podem ser mais eficientemente gerenciadas usando formas hierárquicas de
governança. Se uma firma é, em sua essência, um pacote de transações interrelacionadas,
gerenciadas através de formas hierárquicas de governança, então a economia dos custos de
transação é uma teoria da firma. A teoria da agência estende esta teoria da firma permitindo ao
pesquisador examinar, em mais detalhes, as ligações entre estas diferentes transações. Isto é feito,
focando a atenção nos efeitos de compensação, controle corporativo, estrutura de capital e outros
atributos da governança da firma nos problemas da agência na firma e, entre uma firma e seus
acionistas externos.
Enquanto a economia dos custos de transação e a teoria da agência podem ser usadas para
explicar por que existem firmas, elas não podem ser usadas para explicar por que algumas firmas
superam outras. Ambos os modelos partem do pressuposto que as firmas são essencialmente
homogêneas em suas habilidades para coordenar as transações e a agência. Colocando de outro
modo, esses modelos consideram que duas ou mais firmas, enfrentando tipos parecidos de
transações econômicas, irão desenvolver soluções similares de governança. Quando todo um grupo
de firmas competindo escolhe enfoques similares para solucionar problemas relativos aos custos de
transação e à teoria da agência, esses enfoques comuns não podem ser fonte de vantagem
competitiva, ou desempenho superior, para nenhuma outra firma. Para explicar por que algumas
firmas superam outras, níveis maiores de heterogeneidade precisam ser introduzidos na análise.
É claro, a economia dos custos de transação e a teoria da agência não estão sós nesta
incapacidade em explicar por que algumas firmas são capazes de superarem outras firmas. Por
exemplo, uma das maiores conseqüências da teoria microeconômica neoclássica é que, a partir de
barreiras artificiais para a competição (por exemplo, regulamentação governamental que limite a
competição), o desempenho das firmas em um setor industrial irá convergir para um mesmo nível.
Este nível de desempenho da firma é chamado “desempenho econômico normal” (Tirole, 1989). O
desempenho econômico normal é um nível de desempenho suficiente para permitir que uma firma
possa remunerar todos os seus fornecedores, incluindo fornecedores de capital, pessoal e tecnologia
e, conforme suas expectativas. As firmas que conseguem um desempenho econômico normal são
capazes de sobreviver, embora não prosperem. Na teoria neoclássica, as firmas que ganham abaixo
do desempenho econômico normal precisam ser protegidas por barreiras artificiais para a
competição. Qualquer desempenho superior da firma, que não a atribuída à tais barreiras, é difícil
de se explicar usando a teoria neoclássica.
Nenhuma destas questões seria problemática se o desempenho das firmas não fosse, em
verdade, heterogêneo. No entanto, tanto as observações casuais como a pesquisa empírica sugerem
que: algumas firmas, de fato, superam outras (Jacobson, 1988). Por exemplo, enquanto a maioria
das firmas da indústria aeronáutica nos Estados Unidos tem lutado contra a falência, a Southwest
Airlines teve lucros substanciais (Hallowell e Heskett, 1993). Algumas firmas na indústria de varejo
têm sido incapazes de sobreviver. Outras, apenas têm sido capazes de sobreviver, ganhando lucros
normais. De qualquer forma, a WalMart tem sido extremamente bem sucedida, gerando mais de $3
bilhões de riqueza para o seu fundador, Sam Walton (Ghemawat, 1986). Além disso, enquanto as
siderúrgicas integradas no mundo inteiro experimentaram perdas nos últimos trinta anos, a Nucor
Steel viu o seu valor econômico aumentar de modo contínuo (Ghemawat e Stander, 1993). A
economia dos custos de transação, a teoria da agência, e a microeconomia neoclássica não podem
explicar este nível de desempenho heterogêneo.
Entender por que algumas firmas superam outras é o principal objeto de pesquisa da gestão
estratégica (Rumelt et al, 1991). Para explicar como esse campo de pesquisa se desenvolveu, duas
explanações básicas da heterogeneidade de desempenhos das firmas têm sido propostas. A primeira,
construída no que veio a ser conhecido como o paradigma da economia industrial estrutura-conduta-
desempenho, foca na estrutura dos setores industriais com os quais uma firma opera para explicar a
heterogeneidade no desempenho das firmas. A segunda, construída a partir de uma variedade de
pesquisas tradicionais da teoria econômica e organizacional, incluindo a economia Penrosiana
(Penrose, 1959), a Escola Austríaca (Jacobson, 1992) e a teoria evolucionária da firma (Nelson e
Winter, 1982), foca nos atributos das firmas para explicar a heterogeneidade no desempenho. Este
segundo enfoque veio a ser conhecido como a perspectiva da dependência de recursos da firma
(Wernerfelt, 1984; Barney, 1991). Estes dois enfoques para explicar por que algumas firmas
superam outras, são revistos abaixo.
O Paradigma SCP* e o Desempenho da Firma
O trabalho original do paradigma SCP pode ser delegado a Mason (1959) e Bain (1956). A
proposta original deste esquema de análise era a de assistir a reguladores governamentais na
identificação de setores industriais que eram menos competitivos e onde as firmas estavam obtendo
desempenhos acima dos normais. Tradicionalmente, era considerado que quando as firmas de um
setor industrial estivessem abaixo do desempenho normal, os clientes estariam pagando preços
muito altos para os bens e serviços, o nível de inovação estaria abaixo do que deveria ser e a
qualidade dos bens ou serviços seria menor do que deveria ser – em resumo, o bem estar social não
estaria sendo maximizado.
*
Do inglês “structure-conduct-performance”. A sigla SCP não será traduzida para ECD. (N.T.).
firmas serão capazes de tirar vantagem dessas economias. Estas poucas firmas irão, com todas as
coisas mantendo-se iguais, ter custos econômicos mais baixos do que as firmas menores, levando
assim a uma heterogeneidade de desempenhos (Scherer, 1980).
A diferenciação dos produtos também pode permitir que algumas firmas obtenham
desempenhos superiores em uma indústria. Como discutido inicialmente por Chamberlain (1933) e
Robinson (1933), as firmas que implementam estratégias de diferenciação de produtos são capazes
de aumentar o valor percebido dos produtos ou dos serviços que elas vendem. Como conseqüência,
estas firmas se tornam monopolistas para aqueles consumidores que são atraídos por um desses
produtos diferenciados. De fato, Chamberlain inicialmente descreveu a competição em firmas com
diferenciação de produtos como “competição monopolística”. Como todos os monopolistas (Tirole,
1989), estas firmas são capazes de cobrar um preço maior, do que o preço competitivo, por seus
produtos ou serviços. Admitindo, que o custo de diferenciar seus produtos seja menor do que o
aumento extra, criado por cobrar um preço maior do que o competitivo, a diferenciação de produto
também pode ser uma fonte de lucros econômicos superior aos normais.
Por si próprias, a concentração de indústria e a diferenciação de produtos deveriam ser apenas
fontes de lucros acima dos lucros econômicos normais. O paradigma SCP sugere que quaisquer
lucros auferidos pelas firmas de um setor industrial serão imediatamente seguidos por novas
entradas, seja de novas firmas seja por firmas que já estão instaladas, cujas estratégias serão
modificadas no sentido de copiar as estratégias das firmas lucrativas (Bain, 1956). Novas entradas
continuarão até que todos os lucros de um setor industrial estejam competed away. Se o custo de
entrada em um determinado setor industrial, ou em novos segmentos de uma indústria, for baixo,
então não deverá haver desempenhos heterogêneos neste setor industrial.
Uma forma particularmente importante do argumento de entrada foi desenvolvida por Baumol
et al (1982), na chamada “teoria dos mercados contestáveis”. Estes autores argumentam que uma
entrada de fato não é requisito para garantir que as firmas não conseguirão lucros superiores aos
normais. Na verdade, o mínimo requerido para assegurar que as firmas, em um setor industrial, não
conseguirão lucros superiores aos normais é a ameaça de entradas a baixo custo.
Certamente, se a entrada em uma indústria não é gratuita, então a entrada para reduzir os
lucros pode não ocorrer. Em geral, se o custo de entrar for maior ou igual ao valor que uma firma
obterá ao entrar, a entrada não ocorrerá. O valor que uma firma irá obter da entrada depende da
estrutura interna da empresa, ou seja, quanto mais alto for o nível de concentração e quanto maior
for a diferenciação do produto, maior será o valor econômico potencial de entrada. Por outro lado, o
custo de entrada depende da existência de barreiras a entrada; quanto mais significativas forem as
barreiras para entrar, mais caro (e, por isso, o menos provável) será a entrada que irá realmente
acontecer (Bain, 1956).
Várias barreiras à entrada têm sido identificadas por pesquisadores do paradigma SCP,
incluindo: (1) economias de escala, (2) diferenciação de produto, (3) vantagens de custo
independentemente de escala, (4) retaliações (contrived deterrence) e, (5) restrições à entrada
impostas pelo governo (Porter, 1980). O modo que cada uma dessas barreiras age para deter a
entrada é discutido, em detalhes, em outra parte (Bain, 1956; Barney, 1995).
Como sugerido anteriormente, os lucros das firmas podem motivar novas entrada a partir de,
pelo menos, duas maneiras: firmas de fora do setor industrial ou firmas que já estão neste setor
industrial, porém, entrando em um novo segmento. Essa segunda forma de entrada levou Porter, em
cooperação com Richard Caves, a desenvolver o conceito de “grupos estratégicos” (Caves e Porter,
1977). Um grupo estratégico é um conjunto de firmas de um setor industrial adotando estratégias
similares. Grupos estratégicos podem, ou não, estar protegidos da entrada de firmas que já estão no
setor pelo que Caves e Porter chamam “barreiras de mobilidade”. Barreiras de mobilidade são como
barreiras à entrada, exceto que elas são aplicadas por grupos estratégicos de firmas de um setor
industrial, não para um setor industrial como um todo. Assim, a entrada em um setor industrial é
impedida pelas barreiras à entrada; a entrada em um grupo estratégico é impedida pelas barreiras de
mobilidade.
Esta abordagem (baseada no paradigma SCP) para entender a heterogeneidade de
desempenho das firmas tem inúmeras e importantes conseqüências gerenciais. Grande parte da
pesquisa tem sido conduzida testando os fundamentos, em termos de SCP, deste modelo de
desempenho da firma (veja Scherer, 1980 para uma revisão detalhada). Pesquisas adicionais
também têm sido realizadas para investigar as conseqüências empíricas da gestão estratégica a partir
do esquema analítico do SCP. Alguns desses trabalhos apoiam as teorias e esquemas analíticos
desenvolvidos por Porter e seu colegas. Por exemplo, o modelo das cinco forças tem se mostrado
como sendo um razoável previsor da competitividade de uma empresa. Por outro lado, algumas das
outras partes da estrutura de Porter não foram, empiricamente, tão longe quanto poderiam. Por
exemplo, enquanto extensas pesquisas têm sido realizadas abordando as conseqüências da
existência e do desempenho dos grupos estratégicos das indústrias, alguns têm argumentado que a
maior parte destes trabalhos tem sido inválida e que os elementos essenciais desse conceito
permanecem não testados (Barney e Hoskisson, 1989). O interesse em pesquisas de grupos
estratégicos tem diminuído significativamente, embora algumas pesquisas criativas de grupos
estratégicos continuem (por exemplo, Reger e Huff, 1993).
Conseqüências Gerenciais
As conseqüências gerenciais da perspectiva da dependência de recursos da firma contrastam
de modo marcante com os modelos de gestão estratégica baseados no tradicional paradigma SCP.
Mais especificamente, enquanto os modelos baseados no SCP sugerem que os gestores deveriam
escolher entre entrar e conduzir negócios em setores industriais atrativos, a lógica da dependência
de recursos reforça a idéia de que as firmas deveriam olhar para dentro, descobrir seu próprio valor,
suas raridades, tornando mais onerosa a imitação de seus recursos e capacidades, para, só então,
descobrir os mercados onde aqueles recursos podem ser explorados. Enquanto um determinado
setor industrial pode ser nada atrativo, baseado nos critérios do SCP, ele pode ser muito atrativo
para uma firma que utiliza o certo grupo de valores, raridades, tornando, com isto, mais difícil e
mais custosa a imitação dos seus recursos e capacidades (Barney, 1991).
As conseqüências para o bem-estar social das estratégias baseadas na dependência de recursos
são muito diferentes dessas conseqüências segundo as estratégias do paradigma SCP. Essas são
desenvolvidas no sentido de reduzir a competição abaixo do nível competitivo e, assim, reduzir o
nível de bem-estar social geral em favor de algumas firmas que irão obter lucros acima dos normais.
Estratégias baseadas em recursos sugerem que as firmas deveriam descobrir aquelas atividades de
negócios nas quais elas são exclusivamente adaptadas. Explorando esses recursos e capacidades
especiais, a firma pode, desta forma, aumentar o bem-estar social. Colocando de outra forma, os
desempenhos superiores de firmas na estrutura do SCP sugerem que tais firmas descobriram aquelas
atividades de negócios que elas podem conduzir mais eficientemente do que qualquer outra firma
competidora ou potencialmente competidora.
Trabalhos anteriores sugerem que o cartel, como forma de cooperação, é possível. Entretanto,
dadas as dificuldades associadas à interpretação de sinais de intenção de formar cartel, a maioria
dos economistas das organizações espera que esta forma de acordo seja relativamente rara. Alianças
estratégicas, como forma de cooperação, são, por outro lado, muito mais comuns do que a formação
de cartéis. Uma prova disso é o enorme crescimento do número de alianças estratégicas
internacionais efetuadas pelas firmas norte-americanas nos últimos anos (Harrigan, 1986; Kogut,
1988). Firmas como IBM, AT&T e Corning têm, literalmente, centenas de alianças estratégicas
(Kogut, 1988). Uma das alianças da Corning com Dow Chemical (Dow Corning) é, por si só, uma
companhia que está na lista das 500 empresas da Fortune. Assim, alianças estratégicas são formas
de cooperação muito mais comuns, e economicamente importantes, do que os cartéis (Barney,
1995). Além disso, as alianças estratégicas geralmente não apresentam qualquer redução no bem-
estar social, efeitos presentes nos cartéis (Kogut, 1988).
Tipos de Alianças
Em geral, há duas grandes classes de alianças estratégicas: contratuais e joint ventures
(Hennart, 1988). Uma aliança contratual é qualquer forma de relacionamento cooperativo entre duas
ou mais firmas, com o objetivo de desenvolver, projetar, produzir, comercializar ou distribuir
produtos ou serviços, e onde não é criada uma nova firma para gerenciar a relação. No entanto, esta
relação é gerenciada através de alguns tipos de contratos. Note que, ao contrário dos cartéis, o efeito
das alianças estratégicas contratuais é de aumentar as atividades econômicas e não reduzir as
atividades econômicas abaixo do nível competitivo. Exemplos comuns de alianças estratégicas
incluem: relações de longa duração com fornecedores; acordos de licenciamento; acordos de
distribuição e assim por diante.
Joint ventures também são relações cooperativas entre duas ou mais firmas com o propósito
de desenvolver, projetar, produzir, comercializar ou distribuir produtos ou serviços. Mas, ao
contrário das alianças contratuais, as joint ventures sempre envolvem a criação de uma nova firma
(a joint venture) para gerenciar esta relação. Parceiros nesta joint venture fornecem capital e outros
recursos para que esta firma, independente, seja gerenciada pela sua própria equipe de gestores
subordinados a um quadro de diretores formado por representantes dos parceiros da joint venture.
Os parceiros nesta joint venture são compensados pelos seus investimentos com os lucros que são
gerados por esta firma. Os interesses financeiros podem ser tanto igualmente distribuídos pelos
parceiros da joint venture como alguns parceiros podem ter uma maior participação em uma joint
venture do que outros parceiros. Por exemplo, a Dow e a Corning possuem, cada uma, 50 por cento
da joint venture Dow Corning; já a Corning possui mais de 60 por cento de sua joint venture de
tubos de imagem de televisão com a Asahi (Nanda e Barltlett, 1990).
Outra motivação econômica importante para entrar em uma aliança estratégica é reduzir os
custos de entrada em novos mercados (Kogut, 1988). Em uma economia global, muitas firmas estão
começando a reconhecer a importância de vender seus produtos e serviços em mercados de todo o
mundo. Porém, entrar nestes mercados pode ser caro e difícil. A entrada em novos mercados força,
freqüentemente, a construção de sistemas e redes de distribuição altamente custosos. Além disso, os
entrantes em novos mercados geralmente não têm o conhecimento local que precisam para
responder às necessidades dos clientes nesses novos mercados. Neste caso, cooperar com uma firma
local pode ser um modo bastante efetivo de entrar naquele mercado. Ao invés de construir uma
nova rede de distribuição, os que entram em mercados podem explorar a rede já existente de
distribuição de seus parceiros. É muito provável que este parceiro tenha, igualmente, o
conhecimento local que será necessário para ter sucesso neste novo mercado. Por outro lado, o
parceiro local pode ganhar acesso a novos produtos e tecnologias valiosas que ele pode utilizar em
seu mercado tradicional. Por estas razões, a entrada a baixo custo em novos mercados é, talvez, uma
das motivações mais comuns das alianças estratégicas (Harrigan, 1986).
As alianças também podem facilitar a entrada a baixo custo em novos setores industriais ou
novos segmentos industriais (Kogut, 1988). Por exemplo, a Dow Chemical acreditou que teria
recursos e capacidades que poderiam ser valiosas na indústria de eletrônicos. No entanto, como uma
firma química, eles tinham relativamente pouca experiência nesta indústria. Antes de tentar entrar
por conta própria, a Dow formou uma aliança estratégica com Philips Eectronics. Essa aliança usa o
conhecimento de química da Dow e o de eletrônica da Philips para produzir e vender compact disks
na América do Norte. Foi muito menos oneroso para a Dow entrar neste segmento da indústria
eletrônica com a Philips como parceira do que teria sido para a Dow entrar por si só (Barney, 1995).
As alianças também podem ser usadas para aprender com os competidores (Kogut, 1988).
Desde o início dos anos 80, a General Motors tem perdido, de modo constante, parte de sua
participação no mercado da indústria automotiva norte americana. Boa parte dessa perda pode ser
atribuída à fraca qualidade de produção, especialmente entre as linhas de carros pequenos da GM. A
GM tem tentado apreender como produzir automóveis de alta qualidade, notadamente, pequenos
carros de alta qualidade, e ainda ter lucro. Em 1983, a GM formou uma aliança estratégica com a
Toyota. Chamada de NUMMI, esta linha de operação em Fremont, Califórnia, deu à GM uma
oportunidade de observar diretamente como a Toyota monta pequenos carros de alta qualidade e
com lucro. A GM consegui transferir muito do conhecimento adquirido da NUMMI e de outras de
suas alianças estratégicas, para a sua divisão Saturno – uma divisão que tem tido muito sucesso na
produção de carros de alta qualidade (embora ainda sem lucro).
As alianças também podem ser usadas pelas firmas para gerenciar incertezas estratégicas
(Kogut, 1991). Às vezes, uma firma pode ter várias opções estratégicas, mas ser incapaz de escolher
qual dessas opções promete o maior sucesso econômico. Por exemplo, após o governo federal norte
americano separar a AT&T, a AT&T não tinha certeza de como deveria ser a sua estratégia de
longo prazo. Para ter certeza, ela tinha numerosas opções e fontes financeiras, além de outros
recursos à sua disposição, mas o melhor caminho não era óbvio. Neste contexto, a AT&T investiu
em um grande número de alianças estratégicas (quase 400 de uma só vez) (Kogut, 1991). Cada uma
dessas alianças deu à AT&T algum indicativo acerca do potencial competitivo e econômico de
atividades de negócios diferentes. Em termos financeiros, estas numerosas alianças podem ser
pensadas como opções reais (Kogut, 1991). Uma vez que o potencial econômico atual de diferentes
estratégias se torna claro (por exemplo, uma vez que a incerteza é reduzida), uma firma também
pode privar-se de uma opção (retirando-se da aliança) ou exercitar uma opção (por dizer,
comprando seu parceiro da aliança e, assim, entrando em um setor industrial). Neste contexto
incerto, múltiplas alianças podem ser pensadas como uma forma da firma manter suas “opções
abertas”. Certa vez, a AT&T decidiu que a indústria de telecomunicações e a indústria da
computação poderiam juntar-se em uma forma economicamente valiosa, então, a AT&T exerceu
algumas de suas opções de alianças estratégicas anteriores comprando várias firmas de
computadores, inclusive a NCR.
As alianças também podem ser usadas pelas firmas para reduzir seus custos e gerenciar os
riscos (Barney, 1995). Alguns investimentos, com valor potencial importante, são tão grandes, ou
tão arriscados, que agindo individualmente as firmas iriam literalmente “apostar a companhia” se
eles fizessem esses investimentos sozinhas. Neste caso, uma aliança pode, de certo modo, ajudar a
firma a reduzir os custos que ela tem em um investimento, por meio da redução dos riscos nos
investimento. Esta é uma razão do por que a maioria das plataformas de petróleo em águas
profundas (tipicamente, investimentos muito arriscados) pertence a uma aliança de companhias de
petróleo e de gás e não a somente uma única firma (Scherer, 1980; Kogut, 1988).
Uma razão final para que as firmas possam entrar em alianças estratégicas é para facilitar o
desenvolvimento de acordos implícitos – cartéis – ou explícitos (Kogut, 1988). De fato, por muitos
anos, o desenvolvimento de acordos implícitos foi visto como uma das principais motivações das
alianças estratégicas. Afinal de contas, as firmas que são capazes de relacionarem-se diretamente
por meio de uma aliança estratégica, deverão ser capazes de transferir este tipo de relação para
outros de seu negócios, onde um conluio poderá estar disponível. É por esta razão que a aliança
entre a GM e a Toyota foi submetida a intensas inspeções reguladoras para assegurar que, tanto a
GM como a Toyota não usariam tal aliança para desenvolver cartéis na indústria automotiva.
Embora as alianças podem, em princípio, facilitar o desenvolvimento de cartéis, a maioria dos
atuais economistas das organizações acredita que, dado o enorme potencial econômico das alianças
a partir de outras fontes, o desenvolvimento de cartéis é uma motivação pouco interessante na
criação da maioria das alianças (Kogut, 1988).
Dentre todos os motivos acima citados para se entrar em alianças estratégicas, a
complementaridade de recursos é, sem dúvida, a principal das motivações. Porém, o contexto
institucional também afeta a possibilidade da formação de alianças (Williamson, 1993b). Ele pode
facilitar ou inibir a formação de alianças. Na Itália, por exemplo, o argumento que reforça a
confiança nas extensas redes de pequenas firmas, em alguns setores industriais, é que as leis do
trabalho são um incentivo para as firmas continuarem pequenas e confiarem em cooperações
extensas. Outro exemplo do impacto das condições institucionais é o subcontrato japonês
(Williamson, 1985; Fruin, 1992). Múltiplos fatores – tais como as propriedades cruzadas, o sistema
legal e a cultura – contribuem para uma disposição maior de estabelecer alianças do que foi
historicamente o caso em alguns países. A existência de propriedades cruzadas contribui para
facilitar a realização de alianças. As firmas, geralmente, sustentam interesses mútuos iguais, os
quais levam a uma percepção que elas têm de “destino comum”. (Williamson, 1985: 121). A cultura
também pode contribuir para padrões de alianças. No Japão, a importância quanto à manutenção da
harmonia é muito maior do que em outras culturas. Tal foco na harmonia, provavelmente, produz
menos riscos ao estabelecer alianças com outros que compartilham o mesmo objetivo. Embora o
contexto institucional possa tornar mais ou menos difícil o estabelecimento com sucesso de
alianças, economistas das organizações, todavia, o vêm como um recurso secundário, complementar
na explicação das alianças estratégicas. Em todos os exemplos acima, as firmas também têm claras
razões de complementaridade para estabelecer alianças e, de fato, são tais potenciais
complementaridades que discriminam as firmas que serão potenciais parceiras das que não serão.
CONCLUSÃO
A economia das organizações tem sido e continuará a ser um importante grupo de ferramentas
teóricas para a análise de organizações e fenômenos organizacionais. Elas revelam algumas das
questões mais fundamentais em todo o corpo de pesquisa organizacional, incluindo as quatro
questões a respeito das quais este capítulo está organizado. O avanço nas respostas a estas questões,
ambas teóricas e empíricas, tem sido impressionante, embora, claramente, muito do trabalho ainda
precisa ser feito.
É claro que a economia das organizações não está só no tratamento das questões fundamentais
da análise organizacional. Ambos, comportamento organizacional e teoria organizacional, também
estão preocupados em compreender por que existem organizações, quais as conseqüências de
conflitos de interesse entre os sócios de uma organização, porque algumas organizações superam
outras e como as organizações podem cooperar umas com as outras. Dado esse grupo de
sobreposições de interesses, pode-se esperar que essas três literaturas devam se sustentar uma à
outra, devam informar o trabalho desenvolvido nestes diferentes ramos de pesquisa - em resumo,
que uma integração teórica da economia das organizações, do comportamento organizacional e da
teoria organizacional deveria surgir.
A maioria dos observadores concordaria, contudo, que apesar do potencial para integração e
fertilização cruzada, pouco desse trabalho de integração ocorreu. Na melhor das hipóteses, trabalhos
inter-disciplinares deste tipo tomam a forma de debate público sobre as questões da economia, a
qualidade da pesquisa comportamental e assim por diante (por exemplo, Hirsch et al 1990 versus
Hesterly e Zenger, 1993; Donaldson, 1990 versus Barney, 1990; Williamson e Ouchi, 1981a e
1981b versus Perrow, 1981). Na pior das hipóteses, esses grupos de disciplinas ignoram umas às
outras.
Há pouca dúvida que os economistas das organizações, por um lado, e os estudiosos do
comportamento e da teoria organizacional, por outro lado, têm responsabilidade para a integração
limitada desenvolvida entre estes campos até aqui. Estudiosos mais comportamentalistas têm
adotado freqüentemente uma visão demais simplista da economia das organizações, admitindo que
todos os economistas das organizações considerem a racionalidade como sendo perfeita (a qual eles
não consideram), a informação igualmente perfeita (a qual eles também não consideram).
Estudiosos orientados economicamente criticam as suposições "confusas" e "mal-definidas" da
pesquisa comportamental, embora apliquem muitas daquelas mesmas suposições (por exemplo,
informação imperfeita, racionalidade limitada) em suas próprias pesquisas.
Pode-se apenas esperar que a discussão entre esses estudiosos das organizações continue e
que oportunidades concretas para levar a pesquisa comportamental à economia das organizações, da
mesma forma que conseguir uma orientação econômica no comportamento organizacional e na
teoria organizacional, sejam completamente atingidas.
i
O pressuposto do oportunismo pode até ser novo para a economia, mas como assinala Douglas (1990) é bem familiar
para os teóricos das organizações. Na verdade, as noções de oportunismo são fundamentais para a teoria da dependência
dos recursos, em particular, e para as teorias de poder em geral.