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O LEGADO HISTÓRICO

DA MULHER NA SUA CONSTITUIÇÃO DE PROFESSORA

Conceição de Maria Moura Nascimento Ramos1

Resumo
Este artigo objetiva analisar as marcas históricas da mulher na sua constituição
de professora tendo por referência um itinerário voltado às seguintes questões:
Como historicamente a mulher foi vista na comunidade primitiva à sociedade
dividida em classes? De que forma a mulher foi educada no Brasil? Como o
trabalho fora do lar foi conquistado pela mulher? De que forma a mulher se
torna professora no sistema capitalista? As respostas registradas foram
baseadas na leitura e interpretação de fontes acerca do tema.

Palavras-chave: Educação; Mulher; Professora.

Introdução

O olhar investigativo sob o objeto a ser estudado instiga a elaboração de


questões voltadas ao seu conhecimento, as quais articuladas à intenção de
compreendê-lo de forma crítica favorecem a interpretação de sua
materialização em distintos momentos históricos, a saber: da sociedade
primitiva até a sociedade capitalista.

Analisar as marcas históricas da mulher na sua constituição de


professora remete-nos ao seguinte itinerário:

1- Como historicamente a mulher foi vista na comunidade primitiva à


sociedade dividida em classes?

2- De que forma a mulher foi educada no Brasil?

3- Como o trabalho fora do lar foi conquistado pela mulher?

4- De que forma a mulher se torna professora no sistema capitalista?


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Doutoranda em Educação pela UNESP, campus de Marília. Professora do Curso de
Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão.
1
Para tanto, iniciaremos o nosso percurso com as questões já anunciadas.

1- Como historicamente a mulher foi vista na comunidade primitiva à


sociedade dividida em classes?

Para discorrer sobre o legado histórico da mulher faz-se necessário


revisitar a pré-história da humanidade e nela encontramos os estados:
selvagem, barbárie e civilização onde a luta pela sobrevivência é a
preocupação diária de todos os que vivem nestes estados.

No estado selvagem o homem retira da natureza o seu sustento


aperfeiçoando esta apropriação com o uso do arco e da flecha, instrumentos
considerados produtos artificiais; no estado da barbárie descobre a cerâmica,
cria animais e lança-se à agricultura; e, por último, no estado da civilização a
escrita imprime novos impulsos às descobertas anteriormente reveladas nas
formas alternativas de trabalho com a natureza, refletidas na indústria e na
arte. (Engels,1974).

Em decorrência das transformações de um estado para outro, a


convivência dos homens entre si assumiu novos contornos refletindo-se no
surgimento de visões diferenciadas do mundo, bem como no olhar a sua
companheira de jornada histórica: a mulher.

No início da comunidade primitiva a educação é desenvolvida de forma


espontânea, o trabalho é realizado entre os seus membros não importando o
sexo ou idade, a mulher tem uma posição considerada, a princípio pelo
reconhecimento de sua existência de mãe em relação aos seus filhos
conferindo-lhe desde os primórdios da humanidade a valorização de sua
identidade materna (Direito materno). Ao compartilhar o trabalho com todos
tem sua importância legitimada perante a comunidade.

A divisão social do trabalho impõe um novo ritmo as relações entre as


pessoas. A sociedade passa a ser dividida em classes. De acordo com Ponce,
p. 24, 1981, “as modificações introduzidas na técnica – especialmente a
domesticação de animais e o seu emprego na agricultura, como auxiliares do
homem – aumentaram (...) o poder do trabalho humano”, gerando mudanças
quanto à forma de enxergar a propriedade que de comum torna-se privada
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dando início a uma relação de exploração do homem pelo homem resultando
em diversificadas formas de escravidão.

Da comunidade primitiva à educação antiga a mulher é valorizada


perante os homens por sua presença no lar, bem como no exército. Fato este
que lembra na República de Platão o destaque acerca de sua formação que
segundo ele deveria ser a mesma para o homem, ou seja, o aprendizado da
música e da ginástica, também caberia a mulher, em especial a mulher
guardiã.

No mundo feudal a submissão da mulher é questionada por Dias (2001)


que em sua pesquisa descreve a mulher (dama ou religiosa) como educadora e
conselheira, detentora de uma produção escrita, cuja visão de mundo volta-se
para a religião e aos costumes da época, exercendo influência no universo
masculino que buscava no aconselhamento à melhoria para seu
comportamento social.

Mas, não nos esqueçamos que a história não é linear, múltiplas são as
possibilidades de desvendá-la Marx e Engels (2007) registraram esta
característica como ninguém e no Manifesto Comunista lembram-nos da
realidade entre oprimidos e opressores denunciando o olhar da classe
burguesa para a mulher, pois “para o burguês, a mulher nada mais é do que
um instrumento de produção” (Marx e Engels, p. 55, 2007).

E ainda acrescentaram: “nossos burgueses, não contentes em ter à sua


disposição as mulheres e as filhas dos proletários, sem falar da prostituição
oficial, têm singular prazer em seduzir as esposas dos outros” (Marx e Engels,
p. 56, 2007).

O percurso histórico da mulher denuncia as marcas de uma educação


que de espontânea torna-se opressora legitimada sob o viés invisível da
religiosidade, da política e da cultura que concebe a cada sociedade o
fortalecimento de seus dogmas arbitrários, o que fortalece em diversas
culturas, ainda hoje, a imagem da mulher ligada à fertilidade da natureza,
cabendo-lhe em nome da preconceituosa destituição de sua capacidade
intelectual, a procriação e o zelo pelas coisas do lar.

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Embora a historiografia oficial tenha ocultado por muitos anos outras
leituras sobre a mulher, cujas marcas de coragem, rebeldia e vigor intelectual
foram sufocadas elas emergem através dos documentos históricos, tais como:
cartas, testamentos, diários e registros realizados por viajantes.

Na questão a seguir, perceberemos a herança deste legado na


educação da mulher no Brasil.

2- De que forma a mulher foi educada no Brasil?

Os relatos dos viajantes europeus sobre o Novo Mundo constituem-se


fontes singulares para o conhecimento dos povos indígenas, neles temos
acesso a informações que nos permitem visualizar a mulher tupinambá e seus
ritos de passagem.

O nascimento do índio ou índia tupinambá acontece na presença do pai,


principalmente se o parto for difícil, ele é figura importante, pois auxilia a mulher
nas contrações. O cordão umbilical é cortado pelo pai com os dentes ou pedra
afiada que dará os primeiros cuidados a criança se esta for do sexo masculino.
A menina é cuidada inicialmente pela mãe. Os cuidados maternos são intensos
a ponto de a mãe levar o filho ou filha para o trabalho a fim de garantir-lhe a
sobrevivência por meio do leite materno. (Raminell, 2006).

A transformação de menina para mulher era definida por meio da


menarca, a menina tinha seu corpo submetido a incisões que a protegeria
diante dos perigos e dos espíritos maus.

Com o corpo sangrando, os índios esfregavam em suas costas cinzas


provenientes da queima de abóboras selvagens, substância que
possuía capacidade corrosiva semelhante à pólvora e ao salite.
Desse modo, as cicatrizes das incisões ficavam à mostra pelo resto
de suas vidas. Esse ritual tinha uma intenção de dar às futuras mães
um ventre sadio e filhos bem formados. (RAMINELLI, p. 17, 2006).

Entre os Tupinambás era considerada natural a vivência sexual da índia


com vários parceiros sem que houvesse algum constrangimento de sua parte
ou da sua família. No entanto, ao casar-se teria que ser fiel ao seu esposo. O
casamento não era perpétuo, os laços maritais poderiam ser desfeitos para que
o homem e a mulher pudessem refazer suas vidas.

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O homossexualismo estava presente tanto no índio quanto na índia
guerreira que se afastava de suas funções femininas na roça, para caçar e
participar das guerras com os índios. As índias-macho tinham direito a uma
mulher para servi-la e se consideravam casadas com estas. (Raminelli, 2006).

O preparo da comida, o cuidado com a aparência, a participação nos


rituais de seu povo eram prerrogativas fundamentais da educação da mulher
tupinambá que estariam presentes na educação de outras mulheres no Brasil.

No Brasil Colônia o controle dos corpos femininos era uma das


preocupações da Igreja que tinha no confessionário um espaço de veiculação
dos seus dogmas.

Educada para conter seus desejos a menina tornava-se mulher com a


missão de casar-se ter uma família, prestar obediência ao marido e educar os
filhos. As mulheres casadas com homens de posses eram estimuladas pelo
exemplo da virtude e da pureza a seguirem o exemplo dos ícones da religião
católica e para isto,

as prostitutas do Brasil colonial foram úteis para a construção e


valorização do seu oposto: a mulher pura, identificada com a Virgem
Maria e distante da sexualidade transgressora. Pacificadoras da
violência sexual contra as donzelas casadouras e do desejo que
pusesse em risco a fidelidade às esposas, as prostitutas aos olhos da
igreja, eram a salvaguardas do casamento moderno. (PRIORE, p. 22,
1988).

As mulheres que não dispunham de dotes tinham seu destino traçado:


trabalhar para assegurar a sua manutenção tornando-se vulneráveis à
prostituição. As negras entregues a sua própria sorte e sem direito a escolhas
aumentavam o quantitativo de mulheres que independente da cor dos seus
corpos viveram nos tempos coloniais sob marcas que ultrapassariam as
fronteiras do tempo estando presentes na existência de outras mulheres.

Sob vigilância permanente a mulher vivia observada por uma sociedade


machista havendo três ocasiões em que poderia sair da sua casa, ”para
batizar, para casar e para ser enterrada” (Araújo, p. 49, 2006).

Não faltaram mulheres que se rebelassem diante desta leitura e de


outras similares de sua presença no mundo, a História nos possibilita inúmeros

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exemplos mostrando que embora a educação feminina fosse (e ainda é para
muitos povos) repressora, transgressora foi à resposta das mulheres a este
modo de vê-las, a exemplo citamos:

Nísia Floresta (1810-1885), poetisa e educadora, autora de Opúsculo


Humanitário, registro sobre a emancipação feminina, escreveu sobre a
condição feminina em jornal pernambucano, dirigiu colégios no Rio Grande do
Sul e no Rio de Janeiro.

Anita Garibaldi (1821-1849), heroína brasileira, lutou ao lado do marido


combatendo regimes imperialistas no Brasil e na Itália.

Maria Firmina dos Reis (1825-1917), poetisa e professora de primeiras


letras, autora do primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, foi
colaboradora de jornais literários e fundadora de uma escola a qual foi fechada
por ser mista.

Maria Aragão (1910-1991), professora, médica e líder comunista, lutou


para que a população tivesse assegurado o acesso aos direitos básicos à vida:
saúde, educação, habitação e emprego.

Estas mulheres ao lado de outras anônimas referenciam perspectivas


diferentes de educação ressaltadas no seu agir no mundo comprovando que na
História da Mulher a submissão não foi e não é a sua característica mais forte.

Neste sentido, o trabalho remunerado da mulher é uma importante


conquista a sua independência. Veremos a seguir, como ele foi obtido.

3- De que forma o trabalho fora do lar foi concedido e/ou conquistado


pela mulher?

Por tudo que já foi exposto, a saída da mulher do mundo privado para o
público gerou uma série de conflitos, principalmente por parte daquelas
pessoas mais conservadoras, entretanto,

Uma das crenças ilusórias que o imaginário republicano brasileiro


entreteceu e que se estendeu ao século XX foi a fé do liberalismo no
poder da escola. Como baluarte da concretização dessa crença,
erigiu-se um outro emblema: a destinação vocacionada feminina para
educar a infância. (...) voltada principalmente para um simbolismo
atávico ancorado no potencial de redenção pela pureza e amor ao
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próximo, atributos dos quais as mulheres eram/são possuidoras, e
teve o efeito de maximizar a importância feminina na educação
escolar. (ALMEIDA, p. 61, 2004).

O magistério foi à porta de ingresso da mulher ao mundo do trabalho de


forma remunerada, mesmo assim o caráter maternal aliado a virtude e a
formação cristã foram características importadas do papel de mãe e dona de
casa para o de profissional (professora).

O trabalho na escola com crianças, não poria em xeque a reputação da


mulher que de mãe passava a ser professora. Pouco a pouco, o magistério foi
se caracterizando como um corpo feminino, uma vez que os homens eram
atraídos para outras funções.

O trabalho fora seria aceitável para as moças solteiras até o momento


do casamento, ou para as mulheres que ficassem sós – as
solteironas e viúvas. Não há dúvida que esse caráter provisório ou
transitório do trabalho também acabaria contribuindo para que os
seus salários se mantivessem baixos. Afinal o sustento da família
cabia ao homem; o trabalho externo para ele era visto não apenas
como sinal de sua capacidade provedora, mas também como um
sinal de sua masculinidade. (LOURO, p. 453, 2006).

Ao se tornar professora e começar a trabalhar fora do lar, a mulher teria


dado um passo importante para seu processo de emancipação, no entanto,
Groppi apud Brabo, p. 129, 2005, faz a seguinte observação: “a sociedade
concedeu o trabalho para a mulher como para conceder a meia cidadania ou
cidadania incompleta?” A resposta vem de Brabo, em relação a situação do
trabalho nos Estados Unidos, na década de 70, em relação as mulheres,

A elas se recorria também como mão-de-obra barata em potencial,


tanto nas indústrias como no comércio. (...). É interessante observar
esta questão, sobretudo num país em que, desde sua colonização, a
mulher encontra-se culturalmente em uma posição mais valorizada,
tanto na família quanto na sociedade, para mostrar o quanto é difícil
para a mulher firmar-se, enquanto cidadã, por meio do trabalho. As
imposições sociais são muito grandes e nada facilitadoras, e seja em
sociedades socialistas ou capitalistas a elas são destinados os cargos
de menor prestígio e remuneração. (BRABO, p. 130, 2005).

Em pleno século XXI a mulher tem buscado ocupar seu espaço de forma
mais intensa em todos os setores sociais. A luta para este acesso é diária, pois
as dificuldades com o tempo tornaram-se sofisticadas e veladas exigindo
formas inteligentes de superação.

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Para a mulher-professora a inserção consciente no sistema capitalista
demanda algumas reflexões, explicitadas no próximo item.

4- Como a mulher se torna professora no sistema capitalista?

A idéia de o magistério ser vocação, missão ou sacerdócio, ancorada


numa visão acrítica da educação e do ser humano, embalou por muito tempo a
professora no ritmo de uma prática pedagógica marcada pela obviedade.

Refém de um currículo calcado em paradigmas conservadores, a


professora foi historicamente “formada” para distanciar-se dos conflitos e evitar
a sua exposição diante de situações pertencentes ao universo masculino.
Trabalhada para olhar internamente a sua sala de aula, não percebia as
contradições de um sistema educacional que ao separar meninos de meninas,
estaria fortalecendo a discriminação na sociedade.

Não entendia a professora que o papel de mãe se contrapunha ao de


profissional e que romper com este amálgama seria inevitável para a re-escrita
de sua participação em outro espaço e tempo na História.

A professora “entra” no sistema capitalista com uma visão romântica do


seu trabalho, porém o acesso a literatura, as organizações feministas, aos
sindicatos, ao ensino superior, as artes dentre outras experiências a
transformaria de alguma forma.

Olhar-se em um espelho e ver-se como ser humano, foi uma das


primeiras descobertas da mulher-professora, inserida em uma sociedade de
desigualdades, que antes não conseguia enxergar.

No entanto, nem todas as mulheres-professoras miraram-se neste


espelho, o que leva Brabo a alertar:

Não tendo tempo para ler, fazer cursos e refletir sobre seu papel de
mulher e educadora, não consegue romper com o papel de
reprodutoras de modelos discriminadores, tanto nas relações
professora/aluno, direção/professora, quanto na parte pedagógica.
(BRABO, p. 135, 2005).

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Ao concentrar sua atividade na esfera cotidiana, a professora aproxima
seu trabalho da alienação, levando consigo os indivíduos que estão em seu
entorno.

Esta alienação refletida na concepção ingênua acerca das condições


objetivas que atua, no salário que recebe, nas lacunas teórico-metodológicas
de sua formação e em sua visão de mundo, a impede de desenvolver um
trabalho, cuja centralidade do “ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre
seres humanos, para seres humanos”. (Tardif & Lessard, p. 31, 2005).

A mulher-professora chega ao sistema capitalista carregada de sonhos


que a realidade imperativamente a desafia a concretizá-los. Muitos se perdem,
outros se transformam e alguns são constituídos em sua trajetória profissional.
As contradições vividas no lugar que ocupa na sociedade dialeticamente
contribuem para o seu refazer-se de modo singular.

E quanto a este aspecto sua

Identidade vai se forjando assim, com múltiplos fios – relações


familiares, de classes, condições de gênero, características à idade,
etnia, religiosidade, cidadania e outros -, cada um deles matizados de
anseios, limites, rupturas e possibilidades. Cada um desses fios tem
uma dimensão formadora. Cada um deles apresenta linguagem,
gramaticalidade, temporalidade e territorialidade específicas. Cada
um deles colabora para tecer, numa trama complexa, as vidas de (...)
professoras. (VASCONCELOS, p. 12, 2003).

A condição de chegada da professora no mundo da educação, no


mundo do trabalho, decorrente dos processos formativos de matriz neoliberal,
desafia a discussão de uma outra lógica de sua atuação nesses mundos que
ao se mesclarem suscitam novas possibilidades de atuação na docência, as
quais rompem com a delimitação de quatro paredes para a sala de aula e as
grades dos currículos que aprisionam o conhecimento historicamente
elaborado e transmitidos aos seres humanos, cujo educar

não é a mera transferência de conhecimentos, mas sim


conscientização e testemunho de vida. É construir, libertar o ser
humano das cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que
a história é um campo aberto de possibilidades. Esse é o sentido de
se falar de uma educação para além do capital: educar para além do
capital implica pensar uma sociedade para além do capital.
(MÉSZÁROS, p. 13, 2005).

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Considerações Gerais

As discussões recentes acerca das condições objetivas de trabalho,


qualificação de professores, rendimentos salariais, feminização do magistério
dentre outros aspectos, sinalizam a necessidade da leitura do passado para a
compreensão do presente.

A história da mulher tem sido ao longo dos séculos registrada de acordo


com os valores sociais vigentes de cada época. Não nos coube aqui julgá-la,
pois se o fizéssemos, estaríamos desconsiderando a importância do passado
na tentativa de compreender o presente, no entanto, conhecê-la é condição
fundamental para a interpretação da história dos povos e das vicissitudes do
mundo em que vivemos, bem como do papel da mulher e da sua constituição
de professora na sociedade capitalista.

Dada a complexidade das respostas encontradas às questões


introdutórias do texto não tivemos a pretensão de esgotá-las, daí a importância
da leitura de outras fontes para a ampliação do tema em questão, uma vez que
este registro faz parte de um momento histórico, sendo, portanto passível de
complementações.

Na primeira questão, destacam-se: as marcas históricas da


ancestralidade da mulher que se fazem presentes na tríade dialética liberdade-
submissão-transgressão.

Na segunda questão, observam-se: as marcas dos valores sociais,


políticos, religiosos e culturais que se refletiram na educação da mulher.

Na terceira questão, sinalizam-se: as marcas do magistério como porta


de acesso da mulher do espaço privado ao público, dos questionamentos
acerca de sua cidadania e a importância da luta contínua para a sua
credibilidade social.

Na quarta e última questão, apontam-se: as marcas da formação da


mulher em mulher-professora sua chegada no sistema capitalista na condição
de trabalhadora e dos desafios a serem superados para a sua inserção em um
processo educacional, cujos valores humanos sobreponham os do capital.

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Concluímos com uma citação que a nosso ver é oportuna para este
momento, extraída do prólogo da obra “A Condição Humana” é reveladora da
importância de se refletir acerca das concepções, valores, ideologias e,
fundamentalmente sobre as práticas desenvolvidas pelos e para os seres
humanos, aqui realçamos esta reflexão para a constituição do ser professora,
onde Arendt (2008) nos diz:

O que proponho nas páginas que se seguem é uma reconsideração


da condição humana à luz de nossas mais novas experiências e
nossos temores mais recentes. É óbvio que isto requer reflexão; e a
irreflexão – a imprudência temerária ou a irremediável confusão ou a
repetição complacente de <<verdade>> que se tornaram triviais e
vazias – parece ser uma das principais características de nosso
tempo. O que proponho, portanto, é muito simples: trata-se apenas de
refletir sobre o que estamos fazendo. (ARENDT, p. 13, 2008).

E ao refletirmos sobre a constituição do ser professora, bem como


as suas marcas na atualidade nos depararemos com questões antecedentes,
tais como as de Mészáros (2205):

Qual o papel da educação na construção de um outro mundo


possível? Como construir uma educação cuja principal referência seja
o ser humano? Como se constitui uma educação que realize as
transformações políticas, econômicas,culturais e sociais necessárias?
(MÉSZÁROS, p. 10, 2005).

O desafio está lançado! Imprimir outras marcas ao legado


histórico da mulher na sua constituição de professora tendo por base as
necessidades do nosso tempo, ou seja, a valorização e elaboração de práticas
que privilegiem a condição humana!

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