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A água corresponde em média a 60% do peso corporal no homem adulto normal com
idade entre 18 e 40 anos e varia de acordo com sexo, idade e biótipo; proporcionalmente
sua quantidade é maior na criança, sobretudo até 12 meses de idade, e menor no idoso.
A mulher adulta normal em em média 50% de água, 30% de gordura e 20% de outros
tecidos. Em princípio, a água corporal varia em relação inversa à quantidade de gordura.
A Tabela I exemplifica essa relação.
Normal 20 20 60
Magro 20 15 65
Obeso 20 25 55
2- COMPARTIMENTOS HÍDRICOS
2.1- Intracelular
O líqüido intracelular (LIC) corresponde aproximadamente a 40% do peso corporal de
um adulto jovem do sexo masculino e de constituição média. O volume de água
intracelular é estimado indiretamente, medindo se a água total com radioisótopo e deste
volume subtrai se o volume extracelular.
2.2- Extracelular
intravascular.
Existem inúmeras substâncias envolvidas na água e entre elas os eletrólitos que, além de
suas ações específicas, exercem pressão osmótica.
Existe eletro neutralidade em cada compartimento hídrico, isto é, a soma dos cátions
equivale se à soma dos ânions no mesmo espaço.
K+ 5 4 140
Ca+ 5 2 5
Mg + 2 2 25
Bicarbonato 27 30 10
Fosfato 2 2 80
Sulfato 1 2 20
Ác.orgânicos 5 6 O
Proteínas 16 1 49
As trocas de água e eletrólitos entre os compartimentos são regidas por leis físicas, pelo
que, em condições fisiológicas, não há variações importantes na composição dos
diversos compartimentos.
O sódio é importante a ponto de se poder utilizar, na prática, seu valor no plasma como
referência na estimativa da osmolaridade do espaço extracelular.
4- BALANÇO HÍDRICO
O peso corporal tornou-se uma medida bastante importante, porque as alterações agudas
refletem aumentos ou diminuições na água total do organismo. Como foi observado
anteriormente, a água total do organismo representa 50 a 60% do peso corporal. Em um
adulto de 70 quilos essa fração seria de 35 a 42 litros de água, uma ampla faixa que está
relacionada com a idade, o sexo e as diferenças na composição do organismo existentes
entre adultos normais.
Assim, uma única medida do peso corporal, geralmente,tem pouco valor no cálculo da
água total. No entanto, no contexto da unidade de tratamento intensivo, as mudanças do
peso a curto prazo devem-se, em grande parte, mais às alterações na água total do
organismo, mesmo se o valor absoluto da água total permanecer incerto; o
conhecimento da direção e da intensidade
Quando não se dispõe de camas-balanças, ou quando não se podem fazer pesagens fiéis
devido à condição do paciente, tornase necessário fazer determinações do balanço
hídrico (BH). O BH diário, incluindo uma estimativa das perdas por evaporação, pode
ser acrescentado ou subtraído, sendo que o BH cumulativo resultante, reflete as
alterações da água total do organismo. O BH teve aplicação clínica limitada devido às
dificuldades em se medir o conteúdo hídrico dos alimentos sólidos e das fezes, a água e
as perdas pela evaporação.
Na verdade, alguns desses problemas são simplificados no pós- operatório (PO), uma
vez que quase todo o aporte de água é intravenoso, sendo facilmente medido. Devido à
ausência de ingestão por via oral, as fezes não são freqüentes e o débito urinário pode
ser medido com facilidade. As perdas por evaporação são inferiores a 1000 ml/dia nos
pacientes afebris e ainda menores, quando se umidificam as vias aéreas com vapor
aquecido, e nos pacientes febris existem cálculos que possibilitam avaliar as perdas
aproximadas. No ambiente com ar condicionado, muitos pacientes febris ainda perderão
menos que dois litros por dia através da pele e da respiração. A hiperventilação dos
pacientes com febre elevada pode eliminar até três litros de água por dia, porém isso é
incomum.
As queimaduras graves são uma excrção óbvia, porém, à exceção desse grupo de
pacientes, podem ser feitas aproximações razoáveis da perda evaporativa de água que,
por sua vez, possibilita o cálculo do BH diário e cumulativo, a partir da ingesta de
líquidos e de registros de débito. Uma vez que as pesagens seriadas ou o BH geram
informações principalmente sobre as alterações na água total do organismo, outros
meios são importantes para diagnosticar um decréscimo ou um excesso no volume
absoluto.
Os sinais teciduais são tradicionalmente usados para avaliar a hidratação, porém podem
aparecer lentamente. O turgor cutâneo diminuído, os olhos encovados e a língua seca
são sinais tardios de déficit de líquido, assim como o edema subcutâneo é um sinal
tardio de sobrecarga. Finalmente, deve-se salientar que o conhecimento da composição
das várias secreções orgânicas pode ser de grande valia para um raciocínio mais dirigido
diante de alterações do EHE. Essas composições podem ser obtidas em tabelas próprias,
ou pela análise bioquímica de alíquotas dessas secreções.
4.1- Entradas
A proporção da água, como componente dos alimentos sólidos, varia entre 50 e 90%.
O cloro e o sódio são ingeridos sob a forma de sal, como condimento e, como
componentes, em proporções diversas, de diferentes alimentos.
As entradas são normalmente reguladas pelas sensações, que estimulam a tomar maior
quantidade de um ou outro alimento. A sede é um estímulo à íngestão de água ou de
alimentos que a contenham em grandes proporções, como as frutas; em certos
momentos prefere se alimentos salgados ou insosos, etc.
4.2- Perdas
4.2.1- Renal
Rim normal submetido à ação hormonal. Das alterações hormonais significantes, a mais
freqüentemente encontrada na prática é a resultante da reação orgânica e metabólica ao
trauma e leva a alterações importantes na composição da urina, independentemente das
entradas e da situação bioquímica do meio interno. da maior liberação do hormônio anti
diurético decorre redução na diurese que pode alcançar valores
menores que 800 ml nas primeiras 24 horas que se seguem à agressão que provocou a
situação de estresse; esta diminuição não dura geralmente mais que um dia. A maior
produção de aldosterona resulta em diminuição brusca da concentração de Na+ e CI- na
urina, baixando as taxas para 20 a 30 mEq/l; o retorno à normalidade pode demorar
mais que 5 dias, após ter cessado a situação de estresse. O aumento da aldosterona leva
ainda à maior eliminação de K+ na urina, alcançando cifras de 80 a 100 mEq/l voltando
ao normal também após terminado o estresse.
Rim normal submetido à ação de diurético. A ação do diurético determina a quantidade
de sais e água eliminada pelos rins, independentemente da situação do meio interno.
Sob a ação das clorotiazidas, por exemplo, a eliminação urinária de Na+ e K+ continua
aumentada mesmo na vigência da depleção desses íons no organismo. Na terapêutica
com diuréticos os rins podem eliminar Na+, CI e K+ em concentrações normais, porém
em volume maior de urina, aumentando a perda total desses íons.
Admite se que cada grau de temperatura acima de 37ºC mantido durante 4 horas
corresponde a um aumento de até 500 ml de perda hídrica neste período de tempo. A
sudorese, ao contrário, representa perda não somente de água, mas também de
eletrólitos e, quando manifesta, deve ser considerada como perda extraordinária; quando
intensa e mantida pode corresponder à perda de até mais de 1000 ml nas 24 horas; o
conteúdo de Na+ e de CI- varia, para cada íon, entre 10 e 70 mEq/l. A perda de água
pelos pulmões aumenta na taquipnéia e diminui na bradpnéia, podendo ser
acompanhada por alterações do equilíbrio ácido base, respectivamente alcalose
respiratória e acidose respiratória. A traqueostomia e a assistência respiratória tornam a
perda de água pelos pulmões mais expressiva.
4.4- Digestiva
As secreções digestivas somam de 6000 a 8.200 ml por dia (Tabela IV). Em condições
fisiológicas normais, a água e os eletrólitos ingeridos, somados à água e eletrólitos das
secreções digestivas, são quase totalmente absorvidos no intestino, de tal maneira que
apenas 100 a 200 ml de água são habitualmente eliminados nas fezes no período de 24
horas. Perdas digestivas extraordinárias podem ocorrer em diversas situações como
diarréia profusa, fístulas
O íleo adinâmico pós operatório bloqueia a absorção intestinal, levando à estase das
secreções digestivas na luz gástrica e intestinal, o que corresponde, transitoriamente, à
perda interna significante de líqüido isotônico; essas secreções permanecem na luz
intestinal e às vezes são parcialmente eliminadas mediante vômitos ou drenagem com
sondas apropriadas.
Tabela IV: Composição eletrolítica (mEq/l e volume diário (mI) das secreções do tubo
digestivo
Salivar 35 26 35 15 1500
Cecal 80 20 45 -
5.1.1- Desidratação
A definição da gravidade da desidratação pode ser feita com base na perda de peso
corporal e sobretudo na avaliação conjunta da intensidade de sintomas e sinais clínicos e
das alterações laboratoriais.
Quanto à perda de peso corporal, a desidratação é leve com perda menor que 5% do
peso corpóreo, moderada com perda entre 5% e 8% e grave com perda maior que 8%. A
definição da gravidade da desidratação fornece estimativa aproximada da quantidade de
água perdida e, assim, do volume a ser reposto.
Desidratação isotônica
LEC LIC
Desidratação hipotônica
LEC LIC
da água.
Desidratação hipertônica
LEC LIC
Além dos sintomas e sinais da desidratação em geral, com sede intensa e oligúria
acentuada, os pacientes podem apresentar febre, agitação psicomotora, confusão mental
e coma.
O tratamento baseia se na supressão da entrada de sais e infusão de solução hipotônica
(glicosada 5%) até que a tonicidade seja corrigida, seguindo se, se necessário, de
solução isotônica. Para a correção dos diferentes tipos de desidratação a quantidade de
água a ser ministrada é a necessária para o retorno da normalidade do estado hídrico,
estimada pelo desaparecimento dos sintomas e sinais e desidratação, e pelo
restabelecimento do volume urinário horário normal, entre 30 a 60 mEq/l no adulto.
Recomenda se a oferta de K+ somente após diurese mínima de 800 ml, com densidade
urinária maior ou igual a 1018.
5.1.2- Superhidratação
Superhidratação isotônica
As causas mais comuns são: cardíaca, renal e hepática. Existe aumento do líquido
extracelular Que, por ser isotônico, se mantém restrito a esse compartimento ().
LEC LIC
Superhidratação hipotônica
A causa é a excessiva oferta de água na presença de baixa diurese. A fonte de água pode
ser a ingestão oral, mas, mais freqüentemente, é a excessiva administração parenteral de
água com glicose. Os pacientes com doenças crônicas debilitantes, com câncer,
insuficiência cardíaca congestiva ou insuficiência hepática ou renal, são propensos a ter
expansão do espaço extracelular com hipotonicidade antes de se submeterem à cirurgia;
no período pósoperatório tendem a expandir e diluir mais o espaço extracelular.
LEC LIC
ser seguidas por alterações como sialorréia, diarréia,convulsões e coma; essas alterações
neurológicas são decorrentes de edema cerebral. Há sempre aumento do peso corporal,
podendo observar se edemas periférico e pulmonar. Os achados laboratoriais incluem
rápida queda na concentração do Na+ sérico e na osmolaridade plasmática.
Nenhuma tentativa deve ser feita para reposição calculada da deficiência de sódio com
base no volume do espaço extracelular e na deficiência de Na+, porque resultará em
grave sobrecarga. A perda insensível de água pela perspiração cutâneo pulmonar e o
fluxo urinário podem, gradualmente e por si só, restabelecer a normalidade.
0 Na+ é o principal cátion do LEC onde apresenta taxa de concentração entre 138 e 145
mEq/l, com média de 142 mEq/l.
Hiponatremia
Hipernatremia
O quadro clínico é caracterizado por sede, oligúria, mucosas secas, febre, taquipnéia e
alterações neurológicas que podem ser variadas, incluindo tremor, hiperreflexia
profunda, confusão mental, alucinações e coma agitado. Trata se a doença base, suprime
se temporariamente a entrada de Na+ e faz se a reposição hídrica mediante infusão de
solução glicosada 5%, administrando se metade do volume nas primeiras 8-12 horas. A
reposição muito rápida pode complicar se com edema cerebral.
Hipocloremia
Tem as mesmas causas que a hipernatremia, por perda exagerada de água ou por entrada
excessiva de sais em pacientes renais ou com rim submetido à ação hormonal por
estresse (pós operatório imediato). O quadro clínico caracteriza se pela presença de
sede, oligúria, contrações musculares, tremores, confusão mental, estupor, febre em
geral moderada. A hipercloremia é grave quando atinge valores acima de 125 mEq/l no
plasma.
Além da doença base o tratamento envolve supressão de entrada do CI- e a sua diluição
no compartimento extracelular mediante infusão de solução glicosada 5% que, como
para a hipernatremia, não
Hipocalemia
Hipercalemia
Ação antagônica do cálcio: o cálcio pode ser administrado lentamente por via venosa na
forma de cloreto ou gluconato de cálcio 10%, na dose de 10 ml, para neutralizar a ação
do K+ sobre o músculo cardíaco.
Bicarbonato de sódio: pode ser administrado nos pacientes com acidose metabólica para
favorecer a entrada do K+ para o espaço intracelular e reduzir a ação do K+ no músculo
cardíaco.