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“Qual a situação da verdade nos discursos historiográficos?

” Este é o tema
central dessa obra de Keith Jenkins. O fato é que a historiografia moderna tem rejeitado
todas as antigas verdades, (tais como o cristianismo ou o próprio marxismo) na
produção historiográfica, isso levou a história a um impasse que dura desde o começo
do século XX; e, de fato, ainda hoje existe pouco de concreto na teoria da história.
Não há como negar que muita coisa mudou desde a virada da Escola dos Annales com
Marc Bloch e Lucien Febvre de lá pra cá os historiadores passaram a questionar o modo
de produção historiográfica, seguiram-se vários outros como Jacques Le Goff e Paul
Vayne. Mas, talvez, a maior transformação foi provocada fora da história, pelo filósofo
Michel Foucault. Pouco se falou, até agora, das transformações ocorridas dentro da
história nesses últimos trinta anos. Mesmo assim ainda há produções como as de
Hayden White, Geoffrey Elton e Edward Carr, e é discutindo com estes autores que o
inglês Keith Jenkins professor-adjunto na University College Chichester com seus
livros “Repensando a História”(2001), ao lado de “What is History?”: from Carr and
Elton to Rorty and White, entra como leitura obrigatória nos recentes debates de teoria e
filosofia da história.
O livro tenta organizar de maneira simples todas as discussões que envolvem o
debate histórico atual, de modo que os “estudantes que estão começando a empreender o
estudo da questão: O que é a história?” Reflitam e tirem suas próprias conclusões.
A obra se divide em três curtos capítulos. O primeiro busca responder a seguinte
pergunta : O que é a história? No qual Jenkins responde alterando o sentido da questão
para: Pra quem é a história?
No início do primeiro capítulo o autor aponta para a diferença entre passado e
história. Passado se refere a tudo o que já aconteceu até o presente, e história é tudo o
que já foi escrito ou registrado sobre o passado, logo, o passado é interpretado e
transcrito através diferentes práticas discursivas que formam a história. Ora, se o
passado já aconteceu não se pode ter acesso a ele, mas sim ao que foi dito dele, a
história não está presente no passado e sim nas bibliotecas, arquivos, museus, etc. e
necessário para tanto entender que mesmo se nos fosse dado a chance de ver os fatos em
tempo real não conseguiríamos vê-lo como foi visto no momento, pois temos o olhar de
hoje.

Segundo Jenkins nesse ponto se encontram vários problemas. Se a história é


conhecida apenas pelos recursos discursivos de determinados narradores, então a
história existente não nos remete aos eventos como realmente aconteceram, mas sim,
conforme o ponto de vista do autor. Assim, todos os que tentarem restituir o passado
com base naquela narrativa trarão uma versão diferente das existentes e assim
sucessivamente. Mas onde Keith Jenkins1 trabalha seu raciocínio é mais além, nas
diferentes leituras que se pode ter do mesmo livro. Como ele próprio diz:
“[...] precisamos entender que o passado e a
história não estão unidos um ao outro de tal modo que
se possa ter uma, e apenas uma leitura de qualquer
fenômeno; que o mesmo objeto de investigação é
passível de diferentes interpretações por diferentes
discursos; e que, até no âmbito de cada um desses
discursos, há interpretações que variam e diferem no
espaço e no tempo.”
Chega-se facilmente a conclusão de que a história é infinita, pois as
interpretações são infinitas. Observando o horizonte a partir de uma janela, diferentes
pessoas terão diferentes interpretações do que vêem. Um geógrafo tratará a paisagem
pelo clima, tipo de solo, topografia, já um histotiador buscará saber quais os fenômenos
humanos já ocorreram naquele espaço, no passado; assim também um agrônomo,
sociólogo e outros, de modo que as formas de interpretações e de discurso de uma
simples paisagem são inúmeras
É óbvio que esses problemas trazem conseqüências para a história, Jenkins
enumera quatro aspectos de fragilidade epistemológica da história. A primeira é óbvia,
estando no presente não há como o historiador recuperar a totalidade dos
acontecimentos do passado. O segundo fator é um já abordado no começo do capítulo,
não temos acesso ao passado e sim aos relatos que ele deixou. Logo, o passado está
destinado a existir a partir da produção historiográfica, este é o terceiro fator. E por fim
Jenkins2 dá uma conotação positiva desses aspectos. Diante de tamanha produção “nós,
de certa maneira sabemos mais sobre o passado do que as pessoas que viveram lá.”
A principio pode parecer bastante irônica essa afirmação, porém, para Jenkins
não existe uma verdade histórica, nessa linha, não podemos descartar certa visão e
admitir outra como verdadeira, apenas são diferentes formas de ver um mesmo evento;
essa noção será mais bem trabalhada no segundo capítulo, mas está fortemente

1
JENKINS, Keith. A História Repensada. São Paulo Ed. Contexto, 2007.
2
Idem 1 pg. 24.
relacionada com o conceito das diferentes interpretações, pois “o que em última análise
determina a interpretação está para além do método e das provas – está na ideologia” 3
Assim é contraditório dizer que um método chega numa verdade histórica se
existem tantas maneiras de escrever a história e todas se consideram autênticas. Mas, o
que o Jenkins não nega é que existam fenômenos comuns em todos esses métodos,
porém, esses não podem ser considerados universais do conhecimento histórico. Um
desses conceitos que o autor usa para justificar suas afirmações são as relações de
poder, sustentando que a criação desses diversos métodos de interpretação histórica são
lutas ideológicas; como é no caso, a luta pela posse do que é a história.
Destarte, a obra Um Historiador fala de Teoria e Metodologia: Ensaios, do
historiador Ciro Flamarion Cardoso, representa uma valiosa antologia, pertinente às
discussões da disciplina de tópicos Epistemológicos da História, pois contempla as mais
importantes e oportunas questões teórico-metodológicas, vivenciadas pelo historiador
atual. É, com certeza, uma contribuição meritória e bem-vinda para o ofício de “fazer
história”.
Assim, um aspecto central das discussões epistemológicas contemporâneas
remete ao caráter discursivo da ciência, incorporado por Ciro Flamarion Cardoso4, como
o fazem outros críticos do pós-modernismo, pela noção de “narratividade”. Por influxo
direto da Lingüística, mas com origens na Filologia do século XIX, os historiadores
têm, de forma cada vez mais generalizada, reconhecido a importância de se conhecer o
conjunto de conceitos de uma época, a serem retraduzidos para o contexto do
historiador de outra época, sociedade, grupo social.
Na medida em que o historiador produz, necessariamente, textos, sua narrativa
não pode escapar às regras de qualquer construção discursiva. A pesquisa histórica e a
escrita da História ligam-se pela estrutura narrativa, como se tem reconhecido em
historiografias tão variadas como a norte-americana, a francesa e a alemã, propondo-se
a substituição da noção de escritor da História por aquela de contador da História.
Assim, embora a consciência de que sempre produzimos discurso tenha surgido
em outros domínios, generalizou-se, alcançando os mais variados horizontes
historiográficos. Segundo Ciro Flamarion Cardoso, não se pode abrir mão da busca pela
objetividade científica, mesmo sabendo que a História é feita por historiadores e não
totalmente de passado.

3
Idem 1 pg. 36.
4
CARDOSO, Ciro F. Um Historiador fala de Teoria e Metodologia. Bauru. EDUSC, 2005. pg.: 13.
O pluralismo característico do abandono do modelo normativo e holítico de
cultura podem, ao contrário, abrir espaço para abordagens, surgidas na linhagem de
Marx, que critica o capitalismo e mostra como se construíram conceitos a partir dele e
buscam os liames de classe das situações sociais, exploram opressões variadas, de
gênero, étnicas, entre outras, constituindo-se em contribuições para o conhecimento,
como admitem os próprios críticos do pós-modernismo. O pluralismo e a
interdisciplinaridade, antes que tendências paradoxais e condenáveis, podem significar,
assim, novos engajamentospor parte do historiador.
No entanto, Ciro Flamarion Cardoso, ao terminar seu artigo com uma
apresentação do que considerou serem os elos entre as posições pós-modernas e o
conservadorismo e a defesa do capitalismo, talvez fosse o caso de se notar uma
ausência: o estudo da ciência como campo de poder. De fato, nos últimos anos, tem-se
estudado como a ciência, qualquer ciência, não existe no vácuo, não apenas social,
como acadêmico. Estruturas acadêmicas de poder explicam hegemonias, formação de
escolas e de cartilhas, a transformação do aceito pelos pares em senso comum
acadêmico.
Pode concluir-se com a certeza de que o texto de Ciro Flamarion Cardoso
apresenta o que mais importa em um artigo acadêmico, a busca pela reflexão. E o faz de
forma erudita, bem argumentada e criativa, com uma clareza que a todos permite uma
leitura proveitosa, mérito tanto maior quanto se trata de um artigo acadêmico.
Tópicos epistemológicos da História

Juliana Nogueira Costa. Matrícula: 2004117533-6

Trabalho correspondente ao GQ2 da disciplina


CSO520 em exigência do professor João Cerineu, em
25 de novembro de 2009.

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