Nota de Aula de Geografia do Brasil
Prof. Francisco Linha res
Para 2os anos e Extensivo Pre-Vestibular
Mercosul ou ALCA?
Por uma América Latina forte
Desde o tempo da independência das colônias espanholas na
América Latina, seus libe rtadores tinham um idea l de um dia
unir toda a mesma em Estados extensos e fortes
economicamente, um de seus idea lizadores foi Simón Bolívar.
Mas este sonho ficou esquecido por mais de um século. No
entanto após a Segunda Guerra Mundial, a socie dade tomou
consciência da pobreza que e xistia no mundo, e uma das
primeiras iniciativas da ONU (Organização das Nações Unidas)
foi cria r a Cepal – Comissão Econômica para a América Latina,
com sua sede em um país subdesenvolvido, o Chile.
Muitos intelectuais trabalharam para o desenvolvimento de
proje tos econômicos na Cepal, alguns destes, muito bem
recebidos pelos países latinos, mas que pouco contribuíram
para a diminuição das desigualdades s ociais, tornando o
subdesenvolvimento uma condição para um futuro acordo
econômico entre estes países, unindo-os em um grande bloco
econômico.
Mas por que os países latinos deveriam se juntar em um
grande bloco econômico? E por que o Brasil é alvo de outros
países para ser um parce iro comercial?
As relações comerciais brasile iras
O Brasil participa do comércio internacional, ou seja, num
comércio que envolve todos os países do m undo. Pe rceba que
alguns países participam deste comércio como fornece dores
de matérias-primas: alimentos, fontes de energia; e os outros
participam indus trializando estes elementos e exportando-os
para os países de origem ou comercializando em seu mercado
interno. Nosso país tanto fornece matérias-primas como
industrializa-as, somos um país subdese nvolvido
industrializado.
Ao longo do século XX, o comércio exte rior do Brasil se
modificou muito, especialmente, nos últimos 50 anos. Até a
década de 1950 a g rande maioria dos produtos e xportados
pelo Brasil era matéria-prima (até a primeira metade do
século XX, o café chegou a ser 7 0% das e xportações
brasileiras) éramos um país monoprodutor e Mas, a industrialização e a modernização de nosso país não
monoexportador, ou seja, nossa maior produção resumia-se a
um produto, assim como nossas exportações também.
Quando houve, em 1929, uma grande crise do capitalism o em
que os países que nos compravam café resolveram não mais
comprá-lo, foi então que percebemos que nossa economia
ficaria muito frágil se continuássemos com aquela política
econômica.
A partir da década de 1930, passamos a investir em indústrias,
infelizmente, não tínham os dinheiro, nem máquinas e nem
tão pouco técnicos; tivemos que importar tudo, e pedir
dinheiro em prestado. A conseqüência de tudo isso, foi que
nos transformamos em um país com uma e conomia
dependente de investimentos externos e de tecnologia de
outros países causando um grande e ndiv idamento externo.
Porém, com todos os endividamentos e a dependência de
tecnologia exte rna, atualme nte mais de 60% das nossas
exportações são de produtos industrializados e semi-
industrializados, e passamos de país exportador de matérias-
primas para importador de produtos com o petróleo, metais,
carne e trigo. Essa atitude teve reflexos negativos na zona
rural, já que se estávamos importando é porque os
investimentos naquele setor dim inuíram, causando uma
grande migração das pessoas pa ra as cidades.
Mesmo com todas as exportações, os produtos importados,
pelo Brasil, em média, ainda, custam muito caro causando
prejuízos para nosso país. Ainda por cima, os produtos
brasileiros só concorrem no mercado inte rnacional porque são
baratos, a custa de péssimos salários pagos aos trabalha dores
e da perda de direitos trabalhistas.
Outro fator que mudou m uito foi a relação comercial do Brasil
com os outros países. Anteriormente, por volta da década de
1960, nosso maior parceiro comercial era os Estados Unidos,
nossos produtos tinham como primeiro destino aque le país,
depois a E uropa e em terce iro lugar o Japão. Ainda, hoje, estes
países são importantes nas exportações brasileiras, mas nas
últimas décadas a comercialização com os países
subdesenvolvidos têm crescido bas tante. Países como a
Argentina, o Urugua i, a Venezuela, o Paraguai que apesar de
serem nossos vizinhos, tinham pouco relação come rcial com o
Brasil, passaram a ocupar lugar de destaque em nossas
relações de intercâmbio comercial.
Industria lização e subdese nvolvime nto
Atualmente, somos um dos poucos países subdesenvolvidos
industrializados do mundo, temos bastante importâ ncia no
comércio mundia l com parceiros come rciais importantes.
Somos responsáveis por quase 70% das comercializações da
América Latina. Perceba o quanto s omos importantes,
juntando as econom ias da A rgentina, Paraguai e Uruguai em
um ano de traba lho ela seria igual ao Estado de São Paulo.
Restaria a e conom ia de todos os outros estados brasileiros.
conseguiu diminuir as profundas desigualdades sociais, pelo
contrário elas aumentaram. O progresso industrial baseado
em tecnologia estrangeira e capital (dinheiro) emprestado a
juros, privilegiou às elites empresaria is, por pode rem pagar
baixos salários, aumentando o desemprego, e a concorrência
por qualque r emprego.
Frente a todos estes problemas, a Cepal passou a incentivar a
formação de blocos comuns na América Latina, como
tendê ncia que se confirmaria no es tágio atual da
Globaliza ção econômica.
Antes do Mercosul
Em 1960 o Brasil com a Argentina, o México, o Paraguai e o
Peru assinaram em Montevidéu, o tratado que dava origem a
Alalc – Associação Latino-Americana de Livre Comé rcio com o
objetivo de eliminar ce rtas barreiras comerciais entre os
países membros no prazo de 12 anos. Passado esse tempo
previsto o México, o Brasil e a Argentina não tinham
abandonado as barre iras protecionistas.
Em 1980, a organização f oi reform ulada, mas mantendo os
mesmos obje tivos com um outro nome, agora deveria
chamar-se Aladi – Associação Latino-Americana de
Desenvolvimento e Integração.
No ano de 1982, todos os países da América Latina, inclusive o
Brasil, passaram pela crise da dívida externa que elevou
profundamente a inflação nes tes países, o que comprometeu
a integração, já que havia uma profunda diferença econômica
entre os países membros.
O núcle o formador do Mercosul
Em novembro de 1985, o Brasil e a Argentina passaram a
assinar uma sé rie de acordos bilaterais, que previam a
eliminação das barreiras econômicas e ntre os dois países. Essa
atitude f oi importante porque até e ntão eram dois países
rivais, e essa rivalidade ainda era a limentada por outros países
como os Estados Unidos, principalmente, já que sem
coopera ção econômica Brasil e Argentina se riam f racos.
Depois da assinatura do acordo as relações comerciais entre
os dois países intensificou o volume do comércio e as relações
diplomáticas. Com o fim da ditadura militar nos dois países, os
dois puderam introduz ir projetos de desenvolvimentos muito
semelhantes, apoiados na reformulação da participação do
Estado na e conom ia e de uma f utura ampliação do me rcado
para outros países.
De fato, isso ocorre u em 26 de março de 1991, com a
assinatura do Tratado de Assunção entre Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai dando início ao Mercosul – Mercado
Comum do Sul baseado no modelo de integração da UE –
União Européia. Primeiramente houve uma cobrança de
tarifas de importações pa ra poste riormente reduzi-las até a
total e liminaçã o.
Depois, deveria se constituir uma união aduaneira, ou seja, os
compone ntes do tratado deveriam possuir uma Tarifa Externa
Comum (TEC) para o comércio com outros países. Na terceira
fase deveria ser cons tituído um me rcado comum de circulação
de pessoas, serviços e capitais. Seria assim: você não
precisaria de passaporte para ir para a Argentina, ou para
qualque r país do Mercosul e as moedas seriam unificadas.
O impacto do Mercosul na econom ia brasileira
Após a efetivação do Mercosul, houve um extraordiná rio
aumento do inte rcâmbio entre o Brasil, a A rgentina, o Uruguai
e o Paraguai. O volume de comércio entre os países membros
saltou de 4 bilhões de dóla res em 1990 para 20 bilhões em
1998, a maior parte das trocas come rciais, cerca de 75 por
cento acontece entre Brasil e Argentina. Com isso a Argentina
passou a ocupar o ca rgo de nosso principal parceiro comercial,
deixando para trás países como a Holanda, a Alemanha e o
Japão.
Tudo parecia dar certo, as expectativas para os próximos anos
eram as melhores, a estimativa era de que o Mercosul
comercia lizasse até 40 bilhões de dóla res em 2006.
Os Estados Unidos lançam a idéia da ALCA
Você observou como um acordo de livre comércio beneficiou
a comercialização do Brasil com outros países? Ficou ligado,
como as exportações melhora ram a economia no nosso país?
Pois é, os norte-americanos também. Eles perceberam que o
Mercosul beneficiava a economia dos países membros,
principalmente devido aos planos econôm icos impleme ntados
nos dois países que conseguiram conter a alta da inflação
(desvalorização da m oeda de um país).
Em 1994, os norte-americanos lançam a idéia de uma Área de
Livre Comércio das Américas – ALCA, que teria como objetivo
a eliminação de todas as barreiras come rciais entre os 34
países americanos, com exceção de Cuba, conside rada pelos
Estados Unidos como nação não- democrática.
Ora, e porque os norte-americanos tão ricos, maior potência
econômica do mundo manifestariam o inte resse de compor
um bloco com pa íses latinos tão pobres? A resposta aparece
quando percebemos que no ano de 2000 eles acumularam
uma queda em seu comércio maior do que o PIB de muitos
países pobres, cerca de 480 bilhões de dólares. Com uma área
de livre comércio e ntre os países das Américas eles poderiam
suprir todo o comércio com seus produtos e re cupe rar em
cima de nós suas perdas comerciais. Você percebeu, meu caro
leitor? Nós seriamos recolonizados, ficaríamos responsáveis
pela recuperação da economia dos Estados Unidos.
Só para você ter uma idéia, a econom ia norte-americana é tão
grande que se entrarm os na ALCA como os Estados Unidos
querem, seria muito provável que os produtos deles
entrassem em nosso país mais baratos, e quebra riam as
nossas empresas nos fazendo voltar a ser uma nação agrícola,
o que causaria uma onda de desem prego e miséria terríveis a
todos nós.
Por todas essas razões nós brasileiros nos opomos a idéia de
entrar na ALCA, já que o Mercosul com todos os problemas
que tinha estava dando certo e, ainda por cima, o Brasil
começou a procurar apoio com a UE – União Européia. Os
norte-ame ricanos não gostaram, sentiram-se ameaçados e, aí
começa a desintegração do Mercosul.
A Crise do Mercosul
Devido a nossa grande dependência fina nceira, as crises do
México em 199 5 e a dos países asiáticos em 1997
praticamente faliram nosso país, tivemos que pedir muito
dinheiro empres tado ao FMI – (Fundo Monetário
Internacional) e houve uma desvalorização muito grande do
Real em relação ao dólar, prejudicando os nossos parceiros do
Mercosul, especialme nte a Argentina.
Como a nossa moeda ficou mais baixa que o dólar, o produto
brasileiro passou a entra r na Argentina mais barato, causando
uma grande quebrade ira das empresas, e forçando o governo
argentino a erguer barreiras comerciais contra o Brasil
temendo haver uma invasão dos produtos brasileiros naquele
país.
Em 2001, o Mercosul sof re um duro golpe com o colapso da
economia na Argentina, o que provoca uma queda nas
exportações brasileiras para aque le país combinado com
instabilidades políticas no Paraguai e dificuldades financeiras
no Uruguai.
Em setembro de 2001, os norte-america nos sof rem um duro
golpe em sua economia quando o atentado de 11 de
setembro, do mesmo ano, abala a economia daquele país e,
conseqüentemente do mundo globalizado. A partir daí, os
norte-americanos passam a investir pesado contra a economia
brasileira procurando forçar a e ntrada do Brasil na ALCA.
ALCA – “Área de Legitimação da Colonizaçã o da A mérica”?
A ALCA é reduzida a um assunto meramente comercial pela
maioria da imprensa nacional. Deveríamos nos pe rguntar se
existe alguma comissão pertencente a ALCA responsável por
estudos que diminuam a pobreza, as desigualdades sociais, de
como se rá feita a dis tribuição das riquezas ou da diminuição
da concentração de renda tão gritante na América Latina.
Podemos antecipa r a resposta: NÃO. A Área de Livre Comércio
das América é meramente comercial não e xistirá estudo de
diminuição das desigualdades nem tão pouco da livre
circulação de pessoas. Para os norte-america nos os brasileiros
não são pessoas, são apenas números, consumidores.
A participação brasileira é tão importante, já que deixamos
claro pa ra eles que não queríamos entrar na ALCA, se as
regras só privilegiarem os norte-americanos, que eles (os
norte-americanos) insistem em nossa participação. E por quê?
Por que somos o país mais importante da América Latina, e
atualmente todos os países subdesenvolvidos enxe rgam no
Brasil, o seu maior representante. Resta a nós brasileiros
cruzar os braços e dize r não a ALCA e reafirmar a nossa
independência.
ALCA NÃO
Desde 1997 a ALCA vinha sendo negociada de mane ira se creta
pelos governos. Para que o assunto se tornasse público, foi
necessário que uma ONG americana, o Institute for
Agriculturue and T rade Po licy, obtivesse de fonte não revelada
a cópia de uma parte dos documentos refe rentes à
negociação – a que trata de proteção de investimentos – e a
divulgasse pela Internet no dia 18 de abril de 20 01.
(...)
Um dos capítulos mais importantes é o que trata de
investimentos (...) Ele define que o governo não pode
diferenciar empresas estrangeiras de nacionais. Mais que isso.
Permite que as empresas exijam indenizações caso alguma
ação governamental leve à perda de lucros. A empresa não
precisa te r obtido lucro é ter perdido pa ra pode r pedir
compensações. Ela pode processar o governo pe la perda de
“lucros estimados”, ou seja, dos lucros que iria ter. Uma
medida governamental que trate, por exemplo, de meio
ambiente, re duzindo a á rea permitida de corte de madeira, ou
demarcando uma terra indígena, pode provocar processo de
indenização a uma empresa madeire ira que comprou terras
no país e se sente atingida nos seus “lucros estimados”. Assim,
o governo pode se r obrigado a dar à empresa o lucro que ela
teria com a exploração da área. O processo não corre ria pela
Justiça dos países, mas em comissões indicadas pela empresa
processante e pelo governo processado. Correriam de forma
secreta, sem obedecer a prece itos jurídicos, pode ndo criar
“fábricas” de process os viciados, arrancando indenizações em
série de governos.
(Extraído e adaptado de CHRISPINIANO, José. Revista Caros
Amigos Especial, março de 2002.)
ALCA é s uicídio
“Na Roma antiga, só votam os romanos. No capitalismo global
moderno, só votam os americanos, os brasileiros não votam”,
diz o especulador George Soros (Folha de S. Paulo, 8/6/2002).
A declaração tem o indiscutível mérito de explicar o sentido
estratégico dos Estados Unidos para a América Latina e para o
Brasil, em particular. Trata-se da “recolonização” do
hemisfério, segundo um process o que tem três grandes
vertentes: econômica (com a implantação da Área de Livre
Comércio das América – ALCA); milita r (com a ocupação da
Amazônia); e cultural (com a destruição dos ce ntros de
pesquisa e de ensino superior público). Esse processo, já
bastante avançado, foi ainda mais ace lerado a pós o atentado
de 11 de se tembro. (...)
O PIB (Produto Inte rno Bruto) dos Estados Unidos soma cerca
de 11 trilhões de dólares, equivalente a 22 PIBs do Brasil... e
quase quatro vezes os PIBs somados dos outros países das
Américas, incluindo o Canadá. A ALCA signif icaria a anexação
dos mercados das Américas aos Estados Unidos... seria como
promover uma disputa de boxe entre um peso-pesado e um
peso-leve, sem dar qualque r vantagem ao “peque no”. O
[resultado] seria um [verdadeiro] massacre.
O detalhe é que todas a estratégia da ALCA, do ponto de vista
da Casa Branca, está pa rticularme nte e ndere çada a “capturar”
o Brasil. Basta soma r dois mais dois.(...)
Brasil, mesmo após oito anos de [Fernando Henrique
Cardoso], ainda tem muito a “ofere cer” à atividade predatória
das corporações transnacionais. [Por exemplo]: ainda, não
foram privatizadas as gigantes como Furnas e Petrobrás. Ainda
existe instalado no país um setor industrial nacional
dinâmico... bancos brasileiros fortes... imensas reservas
biológicas e minerais, incluindo água potável. (...) Se o Brasil
aderir a ALCA, comete ria um “verdade iro suicídio”... Basta
olhar para a Argentina [ que des de 1990, cum pria
rigorosamente as orientações do FMI]...atualmente tem mais
da metade [de sua] população abaixo da linha de pobreza
(ganha menos de 1 dólar por dia). Só que estamos falando de
um país que já foi o quarto mais rico do mundo (nos anos 40),
e de uma população relativamente culta (em 1993, só em
Buenos Aires havia mais livraria do que em todo o Brasil).
Os Estados Unidos já estão, ostensivamente, ocupando a
Amazônia. [Atualmente, os norte-americanos estão
construindo] o maior ae roporto da Amé rica do Sul, em Manta,
no Equador, no coração da floresta. (...) Enquanto aprimora a
construção da base da Manta, Tio Sam tenta ins talar a base de
Alcântara, no Maranhã o (entrada da Amazônia), [na época]
com total coope ração de FHC. [No acordo] as autoridades
brasileiras nem sequer terã o o dire ito de verificar, por
exemplo, o conteúdo das caixas ali desembarcadas pelo
americanos [e, não te rão direito de circular na área]... Isso
significa que o Brasil está cedendo a sua sobera nia. Além
disso, a ins talação da base ameaça a sobrevivência das
comunidades de remanescentes de quilombos que há mais de
duzentos anos vivem na região [ e que atualmente estão
sendo expulsos].
[As verbas que faltam] para contratar novos professores na
Universidade de São Paulo (USP) [ e de todas as universidades
federais no Brasil], não é “acidente”, nem resultado
“imprevisto” ou “indesejável”. Ao contrário: faz parte de uma
política deliberada de entrega da riqueza da nação às
corporações impe riais. Não por acaso, o Ba nco Mundial
“recomendou”, em documento público, a privatização da USP
e de todo o ensino supe rior brasileiro....
(...) É óbvio que não inte ressa ao imperialismo [norte-
americano] o desenvolvimento de pesquisa nacional, nem a
formação de intelectua is capazes de elaborar um saber
histórico, cultural e científico que consiga resistir à dominação
cultural... promovida pe los ce ntros do impé rio.
[Será que darem os razão a George Soros?]
(Extraído e adaptadode A RBEX JR, Jo sé. Revista Caros Amigos, julh o de 2 002.)
A Integração Sul- Americana é viável?
Na Reunião de Cúpula Sul-Americana de Cuzco, Peru, foi
assinado um ambicioso acordo de integração da América do
Sul, impulsionado basicamente pela diplomacia brasileira.
Embora saudado por alguns como um grande avanço, o
acordo é conside rado uma utopia política pelos críticos,
enquanto a Argentina demonstra um comportamento
retice nte e problemá tico. Além disso, o Chile manifesta uma
postura de que, se não é contra, aponta para dificuldades
conside radas insuperáveis, como as baixas tarifas que já
pratica, que estão abaixo do rebaixamento proposto. Daí
muitos se perguntarem: a integração s ul-americana é viável?
A proposta apresentada não é apenas de cooperação
comercia l e complementação econômica, mas também de
integração da rede de transportes, como a conexão rodoviária
transoceânica Atlântico-Pacífico na região amazônica e
ferroviária na região platina, com os portos chilenos, bem
como hidroviária entre as bacias amazônica, platina e
caribenha (Rio Orinoco). Além disso, haveria a integração
energética ( oleodutos, gasodutos e eletricidade, além de
empresas mistas) e a coope ração político-diplomática (que
envolve também uma dimensão com um de defesa).
Essa iniciativa decorre da projeçã o da e conom ia brasileira e da
diplomacia do país, encontrando base no fenômeno de
regionalização que caracte riza a globalização. De fato, o
intercâmbio cresceu nos últimos anos especialmente entre
vizinhos, e que possuem um semelhante nível de
desenvolvimento. Este fenômeno cresceu ainda mais com a
instabilidade financeira e o crescimento do protecionism o,
que rece ntemente tem ca racterizado a economia
internaciona l, e está presente nas demais regiões do mundo.
A atitude Argentina decorre, por um lado, de uma forma de
ressentimento pela liderança brasileira, busca de uma
barganha (mais vantagens come rciais em troca de apoio) e
medo de pe rda de importância relativa, na medida em que a
coopera ção com o Brasil se diluirá por um maior número de
países. O problema com o Chile resulta da situaçã o obje tiva
deste país e de sua forma de inserção internacional, mas caso
a Comunidade Sul-Americana de Nações se consolide, ele terá
de buscar uma acomodação com os vizinhos. O problema
colombiano decorre mais de fatores políticos, como a relação
com os EUA via Plano Colômbia, mas não é irreversível. Os
demais estão de acordo.
A integração sul-americana tem a vantagem de criar um forte
mercado regional, que alavancará as economias da área, como
também reforça rá o interesse de outros parceiros, como a
União Européia e a Ásia oriental. Especialmente porque cria
um contrapeso à ALCA, cujas negociações se encontram
estagnadas. Da mesma forma, o novo bloco terá mais poder
nas negociações da OMC e criará um elemento positivo pa ra o
desenvolvimento, pois a região poss ui um enorme potencial
de crescimento, ao contrá rio de pólos que já atingiram ce rto
nível de saturação. Particula rmente chama atenção o volume
de recursos naturais exis tentes.
Certamente o voluntarismo político é a ma rca do processo,
que muitos apontam como ponto fraco. Mas pode-se
conside rar que um problema da diplomacia da década
anterior f oi não haver pensado grande e te r de ixado de agir no
momento certo. Assim, é melhor corre r o risco de ver um
projeto não se concretizar do que deixar de formular projetos.
Até porque não há, atualmente, maiores e melhores
propostas viáveis na mesa de negociações. Por outro lado,
parcerias estratégicas como a que está sendo articulada com
países do porte da China, terão maior ef icácia se promovidas
pela região como um todo, para que não seja
demasiadamente assimétrica. Desta forma, embora tenha
enormes dif iculdades pela frente, a iniciativa lançada em
Cuzco também representa um potencial trunfo que não pode
deixar de ser explorado.
Mercosul completará 20 anos
Passados 20 anos da concepção de um
mercado comum como definir, atualmente, o
bloco econômico?
Quando se fala em Bras il, Argentina, Paraguai
e Uruguai, o assunto q ue logo vem à mente é
o futebol. Mas além da paixão nacional pelo
esporte, esses países têm muito mais em
comum do que se imagina: um mercado - o Mercado Comum
do Sul, mais conhecido como Mercosul. Há quase 20 anos, a
sua semente era plantada, com assinatura do Tratado de
Assunção, em 26 de março de 1991. Mas o processo de
integração, de fato, só começou a se concretizar a partir de 1º
de janeiro de 1995.
Prestes a completar duas décadas, entre avanços e recuos, a
história do bloco econômico revela benefícios para todos os
parceiros, mas, ao mesmo tempo, traz à tona a restas ainda a
serem aparadas. Dificuldades internas e externas, que
continuam a por em xeque a consolidação mais rápida desse
mercado com potencial de expansão.
Novo impulso
A questão ganha novo impulso, a partir da visita da presidente
brasileira Di lma Rousseff à Argentina, na semana passada, o
que deu início ao ciclo de viagens internac ionais de seu
mandato. Esta é a segunda maior economia e principal
parceiro comercial do País dentro do Mercosul. A iniciat iva é
apontada pelos especialistas como estratégica para o Brasil,
que sozinho representa 7 5% do Produto In terno Bruto (PIB)
dos quatro Países-Membros e concentra quase 80% da
população de todo o Cone Sul. Ademais, o País detém ainda a
maior influência na política internacional entre seus
integrantes.
Na sua primeira viagem ao exterior, Dilma fechou 15 acordos
com a presidente da Argent ina, Cristina Ki rchner. Nas
conversas entre as duas, houve destaque para as relações
econômicas, comerciais e de aliança estratégica, dado que os
dois países ainda concentram as t rocas de produto s e serviços
no âmbito da região. A mandatária brasilei ra desembarcou em
terras portenhas em meio a um clima de preocupação entre os
empresários argentinos pela continuidade de valorização do
real, o que aumentaria ainda mais a vantagem comercial do
Brasil em relação à Argentina.
Objetivos em xeque
Fatos que, embora representem vantagens para u ns, su rgem,
ao mesmo tempo, como perdas para out ros, revelando as
fortes assimetrias nos campos econômico, político e social
entre os parti cipantes do bloco, o que torna árdua a tarefa de
executar os objetivos propostos quando da criação do
Mercosul: livre circulação de bens, serviços e fatores
produtivos, estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum
(TEC), adoção de uma política comercial comum, coordenação
de políticas macroeconômicas e setoriais, e ha rmonização de
legislações nas áreas pertinentes.
Passados 20 anos da concepção do projeto de um mercado
comum, como definir, atualmente, o bloco econômico? Os
objetivos propostos foram alcançados? O que ainda falta para
fazer esse mercado decolar?
No balanço geral, segundo os especialistas consultados pelo
Jornal, além das evidentes desigualdades entre os Estados
Partes, diversos fatores econômicos e políticos também
atrapalharam o calendário de integração e expansão do
Mercosul. Embora o caminho ainda seja longo, o Mercado
Comum do Sul continua a revelar-se promissor para o Brasil e
suas empresas. Pode representar também peça chave para
maior integração de todos os países da América Latina. Hoje,
além dos Estados Partes do bloco, e ainda da Venezuela, em
processo de adesão, Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador
já participam como estados assoc iados; e o México, embora
este não seja um status oficial, entra como estado observador.
Fique por Dentro
O que rege o bloco
O Mercosul é um amplo projeto de integração regional,
envolvendo dimensões econômicas, políticas e sociais, o que
se pode inferir da diversidade de órgãos que ora o compõem,
os quais cu idam de temas tão variados quanto agric ultura
familiar ou cinema, por exemplo. No aspecto econômico, o
Mercosul assume, hoje, o caráter de União Aduaneira, mas seu
fim último é constituir-se em verdadeiro Mercado Comum,
seguindo os objetivos estabelecidos no Tratado de Assunção,
por meio do qual o bloco foi fundado, em 1991.
Ainda nos dias atuais, ele é um bloco econômico com o
processo de integração em curso, resultado de pelo menos
sete tratados: Além do de Assunção, do Protocolo de Brasília
(1991), do Protocolo de Ou ro Preto (1994), do Protocolo de
Ushuaia (1998), do Protocolo de Olivos (2002), do Protocolo
de Adesão da República Bolivariana da Venezuela (2006), e do
Protocolo Modificativo do Protocolo de Olivos (2007).
Obstáculos e oportunidades surgi ram e o projeto foi e é
modificado.
Os Estados Partes do Mercos ul são Argenti na, Brasil, Paraguai
e Uruguai. Atualmente, o Paraguai é quem preside
temporariamente o bloco. A Venezuela é Estado Parte em
processo de adesão e se tornará membro pleno uma vez que
esteja em vigor o Protocolo de Adesão da República
Bolivariana da Venezuela ao Mercosul. Já os Estados
Associados são Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. Sua
existência justifica-se em função do compromisso do Mercosul
com o aprofundamento do processo de integração regional e
pela importância de desenvolver e intensificar as relações com
os países membros da Assoc iação Latino-Americana de
Integração (Aladi).
Francisco Linhares
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