ESTUDO E IMPLEMENTAÇÃO DE PORTAS LÓGICAS QUÂNTICAS

PARA O DESENVOLVIMENTO DE REDES NEURAIS QUÂNTICAS.

Paulo Ernani de Araujo1 Ítalo Rodrigo Santos de Araujo2, e Tiago Alessandro Espínola Ferreira3

Introdução escrito como uma combinação linear de q-bits, como |ψ> =

A Computação Quântica (CQ), assim como a Teoria
da informação quântica tiveram sua origem ligada a
trabalhos na área da mecânica quântica, onde um dos
principais colaborados que contribuíram com os
pilares deste novo ramo de pesquisa foi cientista
Richard Feynman, que no seu trabalho pioneiro de
1982, intitulado Simulating physics with computers
[1], conseguiu deslumbrar a possibilidade da execução
de computação com a utilização dos conceitos da física
quântica. Esse novo conceito de máquina
computacional possibilitou a solução de alguns tipos
de problemas que um computador clássico não tem
condições de realizar. Um desses problemas se refere
ao custo computacional que um modelo clássico tem
de efetuar certas atividades, como os problemas NP e
NP-Completos [2]. Como exemplo do poder da CQ
cita-se a fatoração de números inteiros que,
dependendo do tamanho do numero a ser fatorado,
pode se torna uma tarefa extremamente custosa até
mesmo para um super computador. Na tabela 1 é
apresentada a comparação deste processo de fatoração
visto de forma clássica e quântica.
Apesar de varias similaridades a computação
quântica difere-se da computação clássica pela forma
de manipular a sua informação. Na computação
clássica a unidade de informação é o bit (sigla para
dígito binário, do inglês binary digit) que corresponde
a valores constantes de 1 ou 0. Fisicamente, o estado 1
e o estado 0 em um circuito elétrico/eletrônico quer
dizer a existência ou não de corrente elétrica,
respectivamente. Valores esses que passam através de
uma trama de portas lógicas clássicas (lógica
booleana), ou circuito lógico, através do qual é
computada alguma funções lógica e/ou matemática.
A computação Quântica tem como unidade de
informação o q-bit (quantum binary digit). O q-bit
representa os possíveis estados de um sistema
computacional quântico, sendo graficamente
representados pela esfera de Block, como mostra a
Figura 1. Em analogia ao bit clássico, o q-bit pode ter
dois estados puros, representados em notação de Dirac
por |0> ou |1>. Um estado genérico quântico pode ser
α|0> +β|1>, ou ainda como um vetor, que pode ser
visualizado na esfera de Bloch, Figura 1. Nesta notação, o
estado |ψ> corresponderá ao estado |0> com a
probabilidade de |α|2, e ao estado para |1> como a
probabilidade de |β|2. Vários sistemas físicos podem
representar q-bits, da mesma forma que muitos sistemas
clássicos podem fazer o papel de bits, um sistema físico
tem sido particularmente útil para demonstrar os
princípios da computação quântica: os momentos
magnéticos de núcleos atômicos. A manipulação da
informação quântica nesses q-bits é feita, por exemplo,
através da técnica conhecida como Ressonância Magnética
Nuclear (RMN) .
.
O manuseio destes estados quânticos, ou
equivalentemente a computação destes estados quânticos
são realizadas através de operadores quânticos que são
representados, seguindo a notação clássica, por portas
lógicas quânticas. Existe uma grande variedade de portas
lógicas quânticas, porém é possível mostrar que existe um
conjunto completo de portas lógicas quânticas que geram
uma base para representação de qualquer processamento
quântico. Desta forma, com tal conjunto em mão é
possível implementar qualquer função lógica com os q-
bits. As portas CNOT, Hadamard e a Fase geram um
conjunto completo para a base de representação de estados
quânticos. Desta forma, através delas pode-se formar
qualquer outro tipo de porta lógica quântica.
São várias as possibilidades e as vantagens que o uso da
computação quântica pode trazer. Um dos principais
objetivos desta pesquisa é o Desenvolvimento e
Implementação de Redes Neurais Quânticas Artificiais.
Redes Neurais
As redes neurais artificiais inicialmente foram inspiradas a
partir do funcionamento de cérebros humanos. E com isso,
o seu funcionamento semelhante a um conjunto de
neurônios biológicos, onde o seu aprendizado é descrito a


________________
1. Graduando em Licenciatura Plena em Física, Departamento de Física, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua. Dom Manuel de Medeiros
s/n, 9500, Departamento de Estatística e Informática, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: italoaraujolfdf@gmail.com
2. Graduando em Licenciatura Plena em Física, Departamento de Física, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua. Dom Manuel de Medeiros
s/n, 9500, Departamento de Estatística e Informática, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: paulimms@hotmail.com
3. Professor Adjunto do Departamento de Estatística e Informática, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua. Manuel de Medeiros s/n, 9500,
CEP 52171-90, E-mail: taef.first@gmail.com
partir das performances de algoritmos computacionais.
As aplicabilidades das redes neurais artificiais podem
ser verificadas com a automação, a seleção e a
identificação de padrões industriais ou também na
análise de dados. Com essa aplicabilidade, dinamiza
ainda mais os resultados esperados. Existem vários
tipos de redes neurais artificiais, mas nesse trabalho só
será comentar um único tipo que é a rede perceptron,
um modelo de neurônio artificial que foi formulado
por Rosenblatt [5] com a habilidade de tratar
problemas do tipo linearmente separáveis. Todo o seu
aprendizado é armazenado em um conjunto de pesos
{w}, com uma cardinalidade pré-definida antes da sua
execução [5].
Material e métodos
A. Objetivos
Este trabalho tem por objetivo a formação das portas
lógicas quânticas a partir da computação clássica na
linguagem de programação C. Neste trabalho serão
implantadas as portas quânticas CNOT, Hadamard e a
Fase. Estas Portas lógicas servirão de base para o
Desenvolvimento e Implementação de Redes Neurais
Quânticas Artificiais.
B. Portas lógicas
O ponto de partida deste estudo vem com a analise
dos principais conceitos e mecanismos que compõem
um circuito de portas lógicas em um sistema
computacional clássico. A partir do qual se
compreende a finalidade das portas lógicas como
mecanismos capazes de manipular a informação. Após
a análise destes circuitos clássicos, espera-se adquirir o
suporte necessário para construção de um circuito
análogo para os sistemas quântico.
C. Portas lógicas quânticas
Tendo similaridades com o sistema clássico, as
portas lógicas quânticas realizam a função de um
operador lógico atuando na informação, ou nos q-bits,
e desta forma alterando ou manipulando o seu estado.
As portas lógicas quânticas são representadas em
forma de matrizes. Onde a operação sobre n q-bits são
n n
representados por uma matriz 2 ×2 . A
composição de operações em um sistema quântico é
similar a composição (multiplicação) de matrizes,
onde se multiplica a matriz pelo vetor estado do
sistema (os q-bits) para a obtenção do vetor de saída
dos q-bits após a operação.
D. Conjunto universal de portas lógicas
quânticas
Um conjunto universal de portas lógicas quânticas
pode ser definido como uma coleção de matrizes
unitárias capazes de aproximar, com uma precisão
arbitraria, qualquer outra matriz unitária [3,4]. Pode-se
observar este conceito de universalidade existente na
computação clássica, onde um conjunto universal de
portas lógicas seria capaz de computar uma função
arbitraria. Por exemplo, as portas AND, XOR e NOT que
podem ser combinadas para desempenhar esse papel
universal ou ainda a porta NAND, que pode ser utilizada
para substituir as três portas citadas anteriormente.
Na computação quântica também é possível citar um
conjunto universal de portas lógicas: C-NOT, representada
na base
| 00 ,| 01 ,| 10 ,| 11
a porta NOT, HADAMARD e T , na base
| 0 ,| 1
Vistas na sua representação matricial na Figura 2. Este
conjunto é capaz de gerar qualquer implementação de
função sendo possível a construção de esquemas de
circuitos quânticos para a computação de qualquer função,
sendo este o objetivo central deste trabalho.
E. Implementação das portas lógicas em
linguagem de programação C.
Para a implementação computacional das portas lógicas
quânticas foi utilizada a linguagem de programação C,
onde seu uso deve-se a diversas vantagens que esta
linguagem oferece:
●Permite a manipulação de bits, bytes e endereços (baixo
nível)
●Suporta o conceito de tipos de dados (alto nível)
●Tem portabilidade (padrão ANSI)
●Não tem verificação em tempo de execução
●É estruturada (de forma não rigorosa)
●Poucas restrições
●Estruturas de blocos
●Funções isoladas
No processo de programação foi adotada como ponto de
partida a aplicação das portas lógicas através de uma
multiplicação de matrizes. Este processo foi aplicado a
duas matrizes de elementos inteiros que representam o
estado de um ou dois q-bits. A Figura. 3 mostra, de forma
simplificada, o que se espera da atuação de uma porta
lógica implementada na linguagem C sobre um q-bit de
teste em seu estado original.
O esquema anterior é a base para todas as outras portas
lógicas implementadas neste trabalho obtendo-se um
algoritmo geral para construção dos programas de
simulação dos efeitos quânticos para o caso de um ou dois
q-bits, como mostram a Figura 4.
Resultados
Desta forma, os resultados aqui expostos são a
implementação realizada e a capacidade, através destas
implementações, de simular a passagem da informação,
descrita por meio dos q-bit, através das portas lógicas
quânticas. Sendo os estados puros representados por,
1 0 Agradecimentos
|| 0 =   e | 1 =   ,
 0 1 Os autores deste artigo agradecem ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
E sendo A e B dois q-bit é possível, foram (CNPq), Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
implementados: Científica da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(PIBIC-UFRPE) pelo incentivo e financiamento deste
, , trabalho.
Desta forma, foram observadas as seguintes tabelas
verdades. Observe que a porta X foi implementada Referências
para apenas um q-bit.
[1] FEYNMAN, R.P., 1982. Simulating physics with computers. v.25,
n.6-7, p. 467-488.
Discussão
As idéias aqui apresentadas são os primeiros passos [2] CORMEN, T. H.; LEISERSON, C. E.; RIVEST, R. L. 1986.
Introduction to Algorithms. McGraw Hill.
do projeto de pesquisa (iniciação científica) que propõe
o estudo e a implementação das funções primárias da [3] MICHAEL, A.N & CHUANG, I.L.;2005. Computação Quântica
computação quântica. e Informação Quântica, v1,p 5-68,Bookman
Com a implementação realizada é possível gerar [4] MENDONÇA,P.M.F.; 2004. Estudo de Portas Lógicas de dois q-bits
uma base sólida para futuras implementações definidas em um subespaço livre de decorrências para um sistema de
computacionais mais complexas, gerando uma quatro q-bits aplicado ao resto do universo por um agente,
Dissertação, São Paulo.
ferramenta primária para a consolidação do estudo
teórico através de simulações computacionais de um [5] HAKYKIN, S. Redes Neurais - Princípos e Prática. Bookman, Porto
ramo da ciência que ainda se encontra nos seus Alegre- Brasil, 2a edition, 2002.
primeiros passos.

Tabela 2. Tabelas verdade as respectivas portas lógicas

Tabela 1. Comparação entre tempos para a fatoração de um implementadas.
número na abordagem clássica e quântica. Porta CNOT: Porta HADAMARD:
Entrada Saídas
Entradas Saídas
s
|00 > |00 >
|00 > .(|00> +|10>)
|01 > |01 >
|10 > |11 > |01 >

|11 > |10 > |10 >

|11 >
Porta T: Porta X:
Entradas Saídas Entradas Saídas
|00 > |00 > |0 > |1 >
|01 > |01 > |1 > |0 >
|10 >

|11 >

Figura1: Esfera de Bloch

Figura 3: Modelo simplificado da aplicação das portas lógicas

implementadas na linguagem C.

Figira2: Representação matricial das portas lógicas quânticas

universais [3].
Figura4: Algoritmo geral do programa implementado para sistemas de
dois q-bits.