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Notas de aula de Fundações – Prof. Cláudio R. R.

Dias Prospecção do subsolo

CAPÍTULO 1

PROSPECÇÃO DO SUBSOLO

1. INTRODUÇÃO

Uma das fases importantes de um projeto de fundação compreende a sondagem do


subsolo a fim de conhecer certos parâmetros do solo que interessam na resolução dos
problemas da fundação. É relevante que se conheça a disposição, natureza e espessura ds
camadas de solo, assim como as suas características.

Tal conhecimento implica na prospecção do subsolo e na amostragem ao longo de seu


decurso. Para que estes dados possam ser considerados como fiel retrato das condições
naturais do terreno, é necessário que os serviços de prospecção sejam elaborados por pessoal
altamente capacitado, acompanhado de um técnico e de um geólogo ou engenheiro
geotécnico.

É fundamental, também, que se tenha um bom conhecimento dos principais aspectos


geológicos e hidrogeológicos da região, assim como das propriedades químicas do solo e da
água do subsolo, tendo em vista a possibilidade de ataques aos materiais da fundação (por
exemplo a corrosão do aço em concreto armado, ou a desagregação do concreto).

As principais características que deverão ser analisadas nos solos são: tipo,
granulometria, cor, grau de compacidade ou de consistência, espessura da camada, presença
d’água. Nas rochas deve-se analisar: tipo, cor, grau de decomposição, grau de fraturamento,
RQD (rock quality designation).

2. PROGRAMA PARA OS TRABALHOS DE INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

Para o caso de fundações de edifícios para residências ou comerciais, a NBR-1211


fixa diretrizes gerais a serem observadas na exploração do subsolo. Dentre as várias
especificações deve-se salientar: número de furos, disposição dos furos e profundidade
dos furos.
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2.1. Número de furos


O número de furos de sondagem e sua localização em planta dependem do tipo de
estrutura, de suas características especiais e das condições geotécnicas do subsolo. O número
de furos, todavia, deve ser de no mínimo 1 para cada 200m2 de área de projeção em planta do
edifício, até 1200m2.

Entre 1200m2 e 2400m2, deve-se fazer uma sondagem para cada 400m2 que exceder
de 1200m2. Acima de 2400m2, o número de furos deve ser fixado de acordo com plano
particular da construção. Em quaisquer circunstâncias, o número mínimo será:

a) 2 para área de projeção em planta de edifício até 200m2;

b) 3 para área entre 200m2 e 400m2.

2.2. Disposição dos furos


Os furos deverão ser distribuídos em planta, cobrindo toda área em estudo. A máxima
distância entre os furos não deverá ultrapassar 25 metros, a não ser que o subsolo seja
bastante repetido em suas características.

2.3. Profundidade das sondagens


A profundidade a ser explorada pelas sondagens de simples reconhecimento, para
efeito de projeto geotécnico, é função do tipo de edifício, das características particulares da
estrutura, de suas dimensões em planta, da forma da área carregada e das condições
geotécnicas locais.

A exploração deve ser levada a profundidades tais que incluam todas as camadas
impróprias ou que sejam questionáveis como apoio de fundação, de tal forma que não
venham a prejudicar a estabilidade e o comportamento estrutural e funcional do edifício.

As sondagens devem ser levadas até profundidade onde o solo não seja mais
significativamente solicitado pelas cargas estruturais, fixando-se como critério aquela
profundidade onde o acréscimo de pressões no solo devido às cargas estruturais aplicadas for
menor que 10% da pressão geostática efetiva (Figura1).

Quando a edificação apresenta uma planta composta de vários corpos, o critério


anterior se aplica a cada corpo da edificação.

Quando for atingida uma camada de solo de compacidade ou consistência elevada, e


as condições geológicas locais mostrarem não haver possibilidade de se atingir camadas
menos consistentes ou compactas, pode-se parar a sondagem naquela camada.
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Figura 1. Distribuição de pressões – como definir a profundidade de sondagem

Ao atingir rocha ou camada impenetrável à percussão, subjacente ao solo adequado ao


suporte da fundação, a sondagem pode ser interrompida nela. Nos casos de fundações de
importância, ou quando as camadas superiores de solo não forem adequadas ao suporte,
aconselha-se a verificação da natureza e da continuidade da camada impenetrável. Nestes
casos a profundidade mínima a investigar é de 5 metros.

Para as fundações profundas (estacas e tubulões) a contagem da profundidade deve


ser feita a partir da provável posição da ponta das estacas ou bases dos tubulões.

Em terrenos passíveis de alterações posteriores (erosão, expansão) devem ser feitas


considerações especiais na fixação da profundidade de exploração.
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3. MÉTODOS E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

Tanto a escolha do método e da técnica como a amplitude das investigações deve ser
função das dimensões e finalidade da obra, das características do terreno, dos dados
disponíveis de investigação anterior e de observações do comportamento de estruturas
próximas.

Os principais métodos e técnicas empregadas para a exploração do subsolo podem ser


classificados em:

a) com retirada de amostras (deformadas ou indeformadas):

- abertura de poços ou galerias de exploração

- execução de sondagens por percussão ou rotativa (simples reconhecimento);

- execução de sondagens especiais com retirada de amostras indeformadas.

b) Ensaios in situ

- ensaios de penetração dinâmicos ou estáticos (medem resistência);

- ensaios de palheta (medem a resistência ao cisalhamento não drenada de argilas


médias e moles);

- ensaios pressiométricos (estuda-se o comportamento tensão x deformação do


solo);

- provas de carga;

- ensaios de bombeamento;

- outras técnicas.

c) Ensaios de laboratório:

- ensaios de caracterização (granulometria, limites de liquidez e plasticidade, peso


específico dos grãos do solo...);

- ensaios de adensamento (determinam parâmetros de deformação do solo);

- ensaios de cisalhamento (direto, triaxial, cisalhamento simples...).

d) Comprovação durante e após a construção (instrumentação).


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3.1. Exploração com retirada de amostras


Nestes métodos procura-se recolher amostras do solo para determinação de
propriedades em laboratório, podendo-se retirar amostras manualmente, quando o solo for
superficial, ou por meio de execução de furos de sondagem, se a amostragem for em maiores
profundidades.

3.1.1. Abertura de poços ou galerias de exploração


É sem dúvida a melhor técnica de exploração do subsolo, pois permite a observação
no local das diferentes camadas e extração de boas amostras. Seu emprego, no entanto, é
limitado, pelo alto custo, necessidade de escoramento e escoamento d’água (Figura 2).

Figura 2. Escoramentos para retirada de amostras em poços

Uma obra de vulto, como por exemplo: uma barragem, um metrô ou um canal, pode
justificar seu emprego.
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3.1.2. Execução de furos de sondagens

A) SONDAGENS DE SIMPLES RECONHECIMENTO

As sondagens de simples reconhecimento são iniciadas com a execução de um furo


por trado escavadeira, até que o material comece a desmoronar. Daí segue-se por trado
espiral, com uso de bomba de areia ou por circulação d’água, que o mais comum (Figuras 3 e
4). Nestes tipos de sondagem as amostras de solo obtidas são completamente alteradas. Os
trados manuais são indicados principalmente para estudos de pavimentação.

Figura 3. Trado de sondagem

B) ENSAIOS DINÂMICOS DE PENETRAÇÃO

Os ensaios dinâmicos de penetração podem ser do tipo SPT (Standard Penetration


Test), ou ensaios dinâmicos de cones pesados ou leves.

B.1) Ensaios SPT


Estes ensaios consistem em introduzir um tubo no terreno, mediante golpes de uma
massa com peso e altura constantes, registrando-se a penetração e o número de golpes
necessários para aquela penetração. O número de golpes, simbolizado por N ou NSPT, é
chamado de SPT. A menor quantidade de golpes necessários para uma penetração definida
indicará a maior resistência do solo na profundidade de teste.

Em algumas situações tem-se discutido a necessidade de corrigir o NSPT. Terzaghi


(1945) considerou para areias finas submersas com N<15, a adoção de um Ncor:

N cor = 15 +
(N − 15)
2
Gibbs e Holtz sugeriram corrigir N em função da profundidade:
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N (3,5)
N cor =
( pv + 0,70)
onde: pv: pressão efetiva vertical de terra (kgf/cm2). O valor de Ncor não pode ser maior que o
dobro do medido.
Várias outras sugestões de correção são encontradas em de Mello (1978).
Mais recentemente, muitas pesquisas têm avaliado a influência da energia de cravação
nos ensaios, através de ensaios dinâmicos de cravação (equação da Onda), como pode ser
visto em Odebrecht (2003); Aoki e Cintra (2002) e (2004); Odebrecht et al. (2005), Lobo
(2005).
Segundo Odebrecht (2003) pode-se estimar a variação da energia potencial durante a
execução do ensaio como expressa a equação:

η 3 [η1 (0,75 + ∆ρ )M m g + η 2 ∆ρM h g ]


Fd =
∆ρ

onde: Fd é a força dinâmica de cravação do amostrador, Mm representa a massa do martelo,


g a aceleração da gravidade, Mh a massa da haste, ∆ρ a penetração por golpe, η1 representa a
eficiência do golpe, η2 a eficiência das hastes e η3 a eficiência do sistema. Recomenda-se
utilizar os valores de η1=0,761; η2=1 ε η3 = 0,907, valores obtidos a partir de ensaios SPT
realizados por Cavalcante (2002).
De modo mais aproximado, aplicando a fórmula dos Holandeses (muito utilizada para
estacas pré-moldadas),

Fd =
(M h)
m
2

e(M h + M m )

onde: Mm é a massa do martelo; Mh é a massa das hastes e amostrador; e é a penetração por


golpe e h é a altura de queda.
A Tabela 1 faz uma avaliação aproximada dos parâmetros de resistência em função do
SPT.
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Tabela 1. SPT e Resistência

Argilas N Índice de Coesão não drenada


Consistência kPa

Muito mole <2 0 <10


Mole 2-4 0-0,25 10-25
Média 4-8 0,25-0,50 25-50
Rija 8-15 0,50-0,75 50-100
Muito rija 15-30 0,75-1,00 100-200
dura >30 >1,00 >200
Areias Grau de Ângulo de atrito
Compacidade
φ

Muito fofa <4 <0,20 <300


Fofa 4-10 0,20-0,40 30-35
Média 10-30 0,40-0,60 35-40
Compacta 30-50 0,60-0,80 40-45
Muito compacta >50 >0,80 >45

B.2) Ensaio de penetração de cones


São conhecidos também como ensaios de auscultação e consistem em cravar hastes
metálicas no solo e registrar a resistência dinâmica ou estática oferecida à sua penetração.
Esse era o recurso usado pelos antigos, quando cravavam perfis metálicos para localizar o
terreno resistente.
Os resultados destes ensaios podem ser correlacionados com a compacidade ou com a
consistência, compressibilidade e resistência ao cisalhamento dos solos. Indicam níveis de
rocha, estratos resistentes ou cavidades existentes no terreno. São ensaios complementares às
sondagens de simples reconhecimento, sendo em geral realizados durante a execução destas.
O equipamento de penetração tipo cone se desenvolveu devido à necessidade de se
obter informações a respeito do comportamento dos solos a grandes profundidades,
informações estas que dificilmente seriam obtidas de outra forma.
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O penetrômetro consiste de uma haste metálica esbelta, com ponteira cônica, a qual se
faz penetrar ou se crava verticalmente no solo por meio de um macaco hidráulico ou
mecânico, ou mesmo por impactos de um martelo.
Segundo Schmertmann (1975) o ensaio pode ser classificado como:
a) Estático: quando o avanço da extremidae é feito durante incrementos de carga
constante, a uma velocidade nula; esse ensaio é usado para pesquisa, sendo
considerado muito lento para o uso geral de campo.
b) Quasi-estático: quando as hastes metálicas são introduzidas no solo por meio de
macacos hidráulicos ou mecânicos, a uma velocidade de 2cm/seg, usualmente
possuindo uma ponteira cônica de 10cm2 de área projetada e ângulo de 600.
Atualmente são utilizados em quase todo o mundo.
c) Dinâmico: o avanço ocorre através de impacto do martelo de cravação, a
velocidades variáveis, apresentando uma grande variedade de dimensões, peso de
martelo, etc... São empregados em praticamente todo o mundo.
d) Quasi-estático e dinâmico. É uma combinação dos ensaios b e c, sendo que o
ensaio dinâmico é utilizado quando não se consegue mais prosseguir por meio do
ensaio quasi-estático. São usadas ponteiras especiais e são divulgados
principalmente na França e na Suíça.
e) Rotativa. O avanço se dá por meio de um cone especial, a uma velocidade
variável, sendo particularmente empregado na Suécia e na Noruega.
f) Inercial. A extremidade penetra na superfície do solo ou rocha por propulsão ou
queda livre, a velocidades variáveis durante as medidas de desaceleração. Esse
método de ensaio é empregado em áreas de solos inacessíveis, como por exemplo
em investigações “offshore”.

B.2.1.) Cone Dinâmico

A Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações


publicou em 1989 a “report TC16”, que trata dos ensaios de penetração nos solos. No
apêndice C trata dos procedimentos para execução de ensaio de penetração dinâmica
contínua (dynamic probing).
O objetivo da auscultação dinâmica é medir o esforço requerido para cravar um cone
através do solo e assim obter valores de resistência que correspondem a propriedades
mecânicas do solo.
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São citados quatro procedimentos:


a) DLP (dynamic probing light). É o ensaio de penetração dinâmica leve,
representando os ensaios de cone cravados com a menor energia. As investigações
devem atingir profundidades máximas entre 8 e 10 metros, para que os resultados
sejam confiáveis.
b) DMP (dynamic probing médium). É um ensaio executado usando uma massa
média, e para profundidades menores que 25 metros.
c) DPH (dynamic probing heavy). Usa-se uma massa de média a pesada.
d) DPSH (dynamic probing superheavy). Representa a maior energia e simula
aproximadamente as dimensões do SPT, podendo-se atingir profundidades
maiores que 25 metros.
Os ensaios de auscultação dinâmica são usados principalmente em areias, mas
geralmente servem para detectar camadas moles e localizar as camadas mais resistentes.
Após calibração, os resultados dos ensaios dinâmicos podem ser usados para dar uma
identificação de: densidade relativa, compressibilidade, resistência ao cisalhamento,
consistência do solo.
O equipamento consiste de um martelo (massa), capacete de cravação, hastes de
cravação e ponteira. Na Tabela 2 se pode ver dados técnicos do equipamento.

Tabela 2. Dados dos equipamentos de cravação dinâmica

Fator DPL DPM DPH DPSH


Massa do martelo M (kg) 10 30 50 63,5
Altura de queda H (m) 0,5 0,5 0,5 0,75
Massa do capacete (kg) 6 18 18 30
Comprimento das hastes (m) 1 1-2 1-2 1-2
Massa das hastes (kg/m) 3 6 6 8
Ângulo do cone (0) 90 90 90 90
Área do cone (cm2) 10 10 15 20
Diâmetro do cone (mm) 36 36 43,7 51
Número de golpes por cm cravado (n) 10 10 10 20
2
Trabalho específico por golpe (kJ/m ) 50 150 167 23

Na Figura 4 mostram-se detalhes do equipamento, segundo a norma DIN-4094.


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Figura 4. Equipamento do cone dinâmico (apud Din 4094 – sonda Künzel)

O penetrômetro é cravado no subsolo de forma contínua e a velocidade de 15 a 30


golpes por minuto. Todas as interrupções devem ser registradas, assim como quaisquer
desvios em relação à vertical. As hastes são giradas de uma e meia volta a cada metro
cravado, com a finalidade de reduzir o atrito.
O número de golpes será registrado a cada 10 centímetros de penetração (cone leve).
No caso de argilas moles pode-se anotar a profundidade de penetração por golpe.
As planilhas de resultados deverão conter:
a) localização da auscultação;
b) tipo de investigação;
c) data;
d) número do ensaio;
e) equipamento usado;
f) massa do martelo, altura de queda e número de golpes;
g) profundidade das medições;
h) outras observações (presença de pedra, perturbações, etc...);
Os resultados são apresentados em diagramas que mostram no eixo horizontal o valor
n10 (número de golpes) e no eixo vertical a profundidade de medida de n.
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Pode-se transformar n10 em resistência à penetração rd ou qd através das equações:

M .g.h
rd =
A.e

M 2 .g .h
qd =
( M + M ' ). A.e

onde: qd = resistência dinâmica


M = massa do martelo
M’= massa total das hastes, capacete e guia;
h= altura de queda;
e= penetração média por golpe;
g= aceleração da gravidade;
A= área da base do cone.
Pode-se obter a resistência (qd) de ponta do cone igualando a resistência oferecida
pela ponta e atrito lateral da haste com a fórmula de cravação dinâmica dos holandeses. Para
a ponteira de 35,6mm de diâmetro a resistência de ponta pode ser dada por:

(18,2 + 1,18 z ).n10


rp =
(16 + 3.z ).(0,18 + f b )

onde: fb= fator de atrito (0,02 para areias, segundo Begman)


z= profundidade
n10= número de golpes para penetrar 10 centímetros do cone.

B.2.2) Cone estático


Os equipamentos para ensaios quase-estáticos são os mais comumente empregados.
Os usados atualmente possuem extremidade cônica com um ângulo de ponta de 600, diâmetro
de 35,7mm e área projetada de 10cm/seg.
As cargas são transferidas à extremidade por meio de hastes metálicas internas que
são conectadas a manômetros hidráulicos localizados na superfície. O equipamento obtém a
reação necessária para introduzir as hastes no solo através de sua ancoragem no próprio solo,
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por meio de quatro a seis brocas helicoidais rotativas, do peso próprio fornecido pelos
caminhões a que muitas vezes são acoplados, ou pela combinação dos dois processos.
As sondas mais antigas eram constituídas, em linhas gerais, de um tubo contendo em
seu interior uma haste deslocável com ponteira cônica. O ensaio consistia em fazer penetrar
no solo, de início, somente o cone, e depois o conjunto tubo e cone. Um macaco hidráulico
munido de manômetro permitia a medida da resistência à cravação. Media-se assim a
resistência de ponta Rp (atualmente anotada como qc), geralmente de 25 em 25 centímetros, e
após, media-se a resistência total (tubo + ponta). A resistência lateral era dada por: Rl=Rt+Rp.
Os modelos de penetrômetros mais modernos dispõem de uma camisa de atrito acima
da ponteira, que permite medir a resistência lateral local.
As ponteiras de cones mecânicos mais conhecidas são as desenvolvidas na Holanda
(Delft mantle), na qual as medidas de resistência de ponta são feitas a cada 20 centímetros, e
a resistência de ponta e atrito lateral a cada 20 centímetros (Figuras 5 e 6).
Segundo De Ruiter (1982), o interesse pelo ensaio de penetração tipo cone tem
aumentado muito nestes últimos anos, o que é surpreendente, pois esta técnica de ensaio de
campo tem estado em uso desde 1930. Como resultado direto desse interesse crescente,
diversos dispositivos elétricos e eletrônicos e sistemas computadorizados de aquisição de
dados têm sido utilizados no aperfeiçoamento do ensaio durante a última década, permitindo
a incorporação de sensores adicionais que aumentam grandemente a exatidão dos resultados.
Os dispositivos de medida elétricos empregados são strain gages colados na
extremidade cônica e conectados por meio de cabos, que se encontram no interior das hastes
de penetração, à superfície, ou através de manômetros operados eletricamente.
Como exemplos podem ser citados: o penetrômetro elétrico com extremidades tipo
“Delft” e o da “Fugro”, fabricados na Holanda. Nesse caso a resistência de ponta durante a
penetração é medida por uma célula de carga, havendo contato direto entre o cone e as hastes
somente através da célula. A célula de carga contém strain gages, que são posicionados de
modo que somente as cargas axiais sejam medidas e formando uma Ponte de Wheatstone,
sendo excitada por uma fonte estabilizada, e registrando os dados de saída (que
corresponderão à força aplicada), por meio de condicionadores de sinal ou sistema de
aquisição de dados. Tem-se assim um registro contínuo da resistência com a profundidade.
Ainda mais recentemente, têm sido desenvolvidos cones com adição de elementos
capazes de medir poropressão durante a penetração do penetrômetro, bem como é possível a
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Fugura 5. – Tipos de cones (Begman)


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Figura 6. – Dimensões dos cones


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execução de ensaio de dissipação do excesso de poropressão. Este ensaio é chamado de


piezocone (Figura 7). No ensaio de dissipação pode-se obter o coeficiente de adensamento do
solo. Na figura 8 são apresentados resultados (gráficos) de ensaios de piezocone realizados
no Rio Grande do Sul.

Figura 7. Detalhamento do piezocone

Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Ampliação do Porto Novo do Rio Grande
Ensaio de CPTU no. 1
Data: 21/11/2002
qc [kPa] qt, U [kPa] fs [kPa] Bq Rf [%]
(vid
0 10000 20000 30000 2000 4000 100 200 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 2 4 6 8 10
-22

-23

-24

-25

-26

-27

-28
Profundidade [m]

-29

-30

-31

-32

-33

-34
U
-35

-36

-37

-38

Figura 8. Ensaios de piezocone realizados em Rio Grande – Porto Novo


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As medidas contínuas de resistência ao longo da profundidade , associadas à extrema


sensibilidade observada na monitoração das poropressões, possibilita a identificação precisa
das camadas de solos, podendo-se por exemplo detectar camadas drenantes delgadas de
poucos centímetros de espessura.
Como já citado acima, as informações qualitativas do CPT são complementadas pelo
piezocone, através de medidas de poropressões geradas durante o processo de cravação.
Neste caso utiliza-se um novo parâmetro de classificação dos solos,Bq:

(u u ) −
B 2 0
q =
(q σ )
t

vo

Sendo u0: a pressão hidrostática e


σvo: a tensão vertical in situ.
Com auxílio dos dados fornecidos pelos penetrômetros estáticos e através de
correlações experimentais podem-se obter informações importantes, necessárias para
dimensionar as fundações. A Tabela 3, sugerida por Meyerhof relaciona a densidade relativa
com a resistência de ponta e o ângulo de atrito das areias.

Tabela 3. – Correlações entre resistência de ponta e densidade relativa

Rp ou qc (kPa AREIA Densidade relativa Ângulo de atrito

<2000 Muito fofa <0,20 <300


2000-4000 Fofa 0,20-0,40 30-35
4000-12000 Méd. compacta 0,40-0,60 35=50
12000-20000 Compacta 0,60-0,80 40-45
>20000 Muito compacta >0,80 >45

B.2.3.) Interpretação dos gráficos de resistência de ponta e por atrito lateral pela
profundidade e avaliação do tipo de solo com base nos resultados do ensaio CPT
Diversos autores no Brasil têm apresentado ótimas revisões bibliográficas sobre o
assunto após os anos 1980, podendo-se citar: Danziger (1990), Prezzi(1990), Schnaid (2000).
Entende-se importante transcrever parte destas citações, para tornar mais fácil a interpretação
de resultados destes ensaios.
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Os resultados de ensaios de penetração tipo cone são apresentados de forma gráfica,


representando-se a resistência de ponta e o atrito lateral no eixo das abcissas e aprofundidade
de penetração no eixo das ordenadas (Preezzi,1990).
Uma interpretação sugerida por Sanglerat (1972) sugeriu uma interpretação dos
diagramas válida para penetrômetros do tipo que medem ambos, o atrito lateral unitário (fs) e
a resistência de ponta (qc).
Segundo este autor, quando a resistência de ponta repentinamente aumenta para uma
pequena profundidade de penetração, três condições podem ter causado este aumento
repentino: a) fs aumenta: talvez o penetrômetro tenha atingido uma camada de pedregulhos ou
uma camada de areia muito compacta, cuja resistência última ainda não tenah sido atingida
ou uma camada de densidade média, cuja resistência aumenta com a profundidade; quando o
fs/qc é grande (da ordem de 4 a 6%)o solo poderá consistir-se de argilas muito rijas, que
podem conter alguns pedregulhos dispersos; e quando fs/qc for baixo (na ordem de 0,5 a 2%),
os solo poderá consistir-se de pedregulhos densos, com teores de areia variáveis. b) fs
diminui: esta condição é característica do caso em que a ponta do penetrômetro encontrou
obstruções tais como pedregulhos, cujos diâmetros são maiores que o do cone; a obstrução é
empurrada adiante pelo cone, sendo que o vazio que se cria atrás da obstrução origina uma
queda no valor medido de atrito lateral; se a penetração é continuada sob tais condições, uma
diminuição no valor de qc é esperada, a menos que as camadas mais profundas tornem-se
mais e mais compactas. C) fs permanece constante: o penetrômetro se encontra em rochas
brandas ou em camadas de argila muito rija, que não consegue penetrar.
Deve ser salientado que em nenhum dos casos apresentados o valor alto de resistência
de ponta qc deve ser interpretado como representando uma camada de suporte satisfatória
(essas condições devem ser analisadas e confirmadas através de sondagens mais profundas).
Se um ensaio não for concluído devido à presença de matacões, deve-se deslocar o
equipamento aproximadamente 1,5m e repetir o ensaio.
Quando qc diminui, há duas possibilidades: a) fs aumenta: um pequeno pedregulho
empurrado pelo cone força as paredes da luva que mede o atrito lateral; b) fs diminui: pode
haver ocorrência de uma transição entre duas camadas de solo de diferentes propriedades,
sendo a inferior a de menor resistência.
Se qq permanece constante, duas condições podem ocorrer: a) fs diminui: um
pedregulho cujo diâmetro é maior que a ponta é empurrado pelo cone para uma camada de
solo mole ou fofo; b) fs permanece constante: o solo é considerado homogêneo, este caso é
válido para camadas cuja espessura varia entre 5 e 10 metros no máximo, visto que em
camadas mais espessas qc e fs teriam de aumentar devido ao maior confinamento.
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Uma classificação preliminar pode ser obtida com base no seguinte critério (Tabela
4):

Tabela 4. Classificação preliminar de solos pelos ensaios CPT


qc fs/qc classificação
(kPa) (%)
<3000 <0,1 Aterros recentes de pedregulhos fofos
>3000 <0,6 Rochas brandas, areias calcáreas
>3000 0,6<R<2 Areias e pedregulhos
>3000 2<R<4 Misturas de areia e silte, areias argilosas e argilas siltosas
>3000 4<R<6 Argilas
<600 >6 Argilas orgânicas e turfas

Begeman (1965) propôs gráficos com faixas de intervalos definidos, que possibilitem
a estimativa de diferentes tipos de solo, baseando-se na resistência de ponta e no atrito lateral
(Figura 9). A utilização desses gráficos é somente recomendada para locais que possuam
geologia semelhante ao da Holanda.

3.2. Ensaio de Palheta (Vane Test, Scissometre)


O ensaio de palheta é comumente utilizado para se obter, em argilas, a resistência não
drenada ao cisalhamento. O ensaio consiste basicamente em se cravar no maciço argiloso
uma palheta formada por 4 lâminas, aplicando sobre a mesma um movimento de rotação e
medindo-se a força à torção (torque) necessária para cisalhar a superfície cilíndrica envolvida
pelas palhetas. Ao momento atuante opõem-se os momentos devidos às resistências que se
desenvolvem ao longo da superfície lateral e das bases do cilindro de ruptura do solo que
envolve as duas placas retangulares. Na rotação os bordos da placa geram uma superfície de
revolução. Na Figura 10 mostra-se foto e um esquema do equipamento.
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Figura 9. Proposta de Begeman (1965) para estimativa do tipo de solo


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Figura 10. O equipamento ensaio de palhetas


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3.2.1 Metodologia do ensaio


Abre-se o furo de sondagem a trado ou utiliza-se o próprio furo de sondagem do
ensaio SPT, até atingir uma profundidade de pelo menos 50cm menor que o ponto a ensaiar,
cravando-se a seguir a palheta, procurando-se minimizar ao máximo o amolgamento do solo.
Atingida a cota a ensaiar, opera-se o equipamento de tal forma que a palheta gire a
uma velocidade constante de 60/min. As leituras serão analisadas a cada 30 e desenhado o
diagrama de M x rotação da palheta. Toma-se o valor máximo para efeito de análise. A
metodologia do ensaio pode ser vista na NBR-3122.
O grau de sensibilidade da argila (S) pode ser obtido medindo-se o torque (ou
momento M) da argila amolgada após girar rapidamente 10 vezes a palheta.

3.2.2. Interpretação dos resultados – função do equipamento


Definindo-se como momento M1 o momento resistente sobre a superfície cilíndrica
vertical, e M2 o momento sobre cada uma das bases horizontais do cilindro, então
M=M1+ 2. M2.
Considerando o raio das palhetas como igual a ¼ da altura,
M1 = (2πrh)r.su= 8πr3su
Dividindo-se cada base em uma série de anéis concêntricos,
DM2= (2π.x.dx).x.su = 2π x2 dx su
r
M 2 = s u ∫ 2πx 2 dx = (2/3)π r3 su
0

então:
2r 3πsu 28 3
M = 8πr 3 su + 2. = πr su
3 3
ou:
3M
su =
28πr 3

3.2.3 Apresentação dos resultados


Em Ortigão e Collet (1986) pode-se ver como são apresentados gráficos de resultados
de ensaios realizados pelos autores numa argila orgânica da Baixada Fluminense (Sarapui) no
estado do Rio de Janeiro. Nos gráficos são apresentados resultados de uma campanha de
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ensaios feitos em 1978 e uma campanha posterior, em 1986, quando foi utilizado
equipamento mais sofisticado, dotado de redutores de atrito ao longo da tubulação.

Figura 11 – Resistência ao cisalhamento não drenada a partir dos ensaios de palheta

3.3. Dilatômetro de Marchetti


Uma alternativa ao ensaio de SPT em projetos onde módulos de deformação
confiáveis são necessários é a utilização de procedimentos que permitam a determinação in
situ do comportamento tensão-deformação. Nesta categoria encontram-se os ensaios
pressiométricos e de placa, ou dilatômetros.
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A técnica do dilatômetro foi desenvolvida em 1980, pelo engenheiro Silvano Marchetti,


originalmente apresentada nos Estados Unidos e rapidamente introduzida também nos países
da Europa. Hoje em dia, esse equipamento está em uso em todo o primeiro mundo e vem,
lentamente, sendo incorporado aos costumes brasileiros. O processo compreende a
introdução no terreno, de uma lâmina muito delgada de aço inoxidável de altíssima
resistência, munida de uma membrana lateral expansível, também de aço, porém
extremamente delgada, para maior flexibilidade (Figura 12 a 14).

Figura 12 . - Introdução do "DMT" no furo de sondagem.

Essa membrana é expandida contra o terreno, por meio da aplicação de pressão de gás
nitrogênio extra-seco, disponível em cilindros pressurizados, capaz de aplicar pressão de até
800 tf/m². A expansão da membrana contra o terreno, imposta pela aplicação de uma pressão,
é monitorada na superfície, por um par de manômetros de precisão, que registra os valores
das pressões, necessárias para atingir a deformação pré-estabelecida.
As pressões po e p1 correspondem a deslocamentos da membrana de 0 mm e 1 mm, e
p2 é a pressão de fechamento da membrana. Essas leituras são realizadas em incrementos de
profundidade de 20 cm (Figura 15).
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Figura 13 - Lâmina do dilatômetro, com destaque para a membrana metálica.

Figura 14 - Equipamento de leitura de pressões aplicadas à lâmina do "DMT".

Fornecendo assim, um par de medidas de "tensão aplicada" e "deformação resultante",


o que corresponde a avaliar as características de resistência e compressibilidade dos solos
ensaiados.
São utilizados os seguintes índices para estimativa dos parâmetros dos solos:

- módulo dilatométrico E D = 34.7( p1 − po )


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- índice de tensão horizontal po − u o


KD =
σ 'vo
p − po
- índice do material ID = 1
po − uo

- Resistência não-drenada Su = S .σ 'vo .(0.5K D )1.25

Figura 15. Valores Medidos no Ensaio Dilatométrico

(Vieira 1994)
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Coef. do Empuxo no repouso Ko

(Vieira 1994)

Figura 16. Valores de Su Estimados pelo DMT

(Vieira 1994)
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Esses parâmetros, obtidos de forma direta, a partir das medidas do comportamento


"tensão X deformação" dos solos, fornecem confiáveis informações para o dimensionamento
de fundações e outras obras de geotecnia. Recomenda-se que o dilatômetro não seja avançado
dinamicamente como no ensaio SPT, podendo-se utilizar por exemplo o equipamento para
cravação do cone ou piezocone (CPT). O DMT tem custo mais baixo, e requer menos tempo
do que muitos ensaios tradicionais de campo.

3.4. Pressiômetro de Menard


Uma alternativa ao ensaio de SPT em projetos onde módulos de deformação confiáveis
são necessários é a utilização de procedimentos que permitam a determinação in situ do
comportamento tensão-deformação. Nesta categoria encontram-se os ensaios pressiométricos
e de placa.
A simplicidade de operação e o baixo custo de ensaio são diferenciais consideráveis na
escolha do pressiômetro como ferramenta de investigação, mas, apesar de reconhecido
internacionalmente , entretanto, a experiência brasileira com o pressiômetro é ainda tímida,
sendo restrita a um número limitado de experiências no eixo Rio-São Paulo.
O ensaio consiste em dilatar radialmente uma sonda cilíndrica no interior do solo, e
determinar a relação entre a pressão aplicada, segundo um programa de carregamento, e o
deslocamento da parede da sonda.

Figura 17 . – Equipamento no campo


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Figura 18 . – Equipamento no campo

Figura 19 . – A célula pressiométrica

3.4.1. Execução do ensaio

• Posicionamento da sonda no furo


A sonda é colocada no furo com o auxílio de hastes de trado manual e mantida na cota
desejada através de dispositivo de fixação. Feito o enchimento da sonda ao nível do solo,
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deve-se descê-la dentro do furo fechando (nº2 – Figura) na posição “capteur”, de forma a
evitar um aumento no raio da célula, sob o peso da coluna d’água contida na tubulação
central. Um ligeiro estreitamento do tubo metálico que forma o corpo da sonda, ao nível da
célula central, permite diminuir este fenômeno, inevitável além dos 10m de profundidade. As
sondas, sendo ocas, são facilmente deslocadas dentro de um furo cheio de água, evitando-se o
efeito de pistão.

• Estimativa da pressão limite

Antes do início do ensaio, estima-se o valor da pressão limite do solo na profundidade


desejada. Essa pressão é, por definição, a que deve ser aplicada ao solo para que o
volume inicial da cavidade dobre. Ou seja, a pressão limite (pl) é aquela para a qual o
volume da célula de medição alcança o valor 2(Vs + Vc), ou ainda aquela para qual o
volume de líquido injetado na cédula central é igual a (Vs + 2 Vc), sendo:
Vs o volume da cédula central de medição da sonda
Vc o volume de água injetado para que a célula central encoste nas paredes do
furo.
As tabelas e , a seguir reproduzidas, fornecem estimativas de pl em função da
descrição do solo, da sua identificação táctil, da resistência não-drenada (Su) no caso das
argilas e do NSPT no caso das areias.

Tabela 5 - Estimativa da pressão limite, pl, apud CLARKE (1990) - ARGILAS

Su (kPa) Descrição Identificação táctil Pl (kPa)

20 Muito mole Penetrada pelo punho, desmancha 0 a 75


facilmente entre os dedos

20 a 40 Mole Mole Penetrada rapidamente pelo 75 a 100


dedo, facilmente moldada

40 a 75 Firme Penetrada com dificuldade, moldada 150 a 350


por forte pressão de dedos

75 a 150 Rija Marcada por forte pressão de dedos 350 a 800

150 Muito rija Levemente marcada por forte 800 a 1600


pressão de dedos

>150 Dura Não pode ser marcada por pressão


de dedos; penetrada por unhas,ponta >1600
de lápis
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Tabela 6 – Estimativa da pressão limite, pl, apud CLARKE (1990) – AREIAS

NSPT Descrição Pl (kPa)

0a4 Muito fofa 0 a 200

4 a 10 Fofa 200 a 500

10 a 30 Medianamente compacta 500 a 1500

30 a 50 Compacta 1500 a 2500

50 Muito compacta >2500

Sugere-se que na indisponibilidade de uma estimativa confiável de pl, um ensaio-piloto


seja realizado. Esse procedimento parece adequado para solos residuais, cujo enquadramento
nas tabelas acima pode ser inadequado.

Tipos de curvas obtidas


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4. OBTENÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS A PARTIR DE ENSAIOS IN SITU

Muitos ensaios in situ têm sido utilizados para obtenção de parâmetros geotécnicos de
projeto, com base em correlações desenvolvidas, principalmente em pesquisas, a partir de
ensaios de laboratório e provas de carga de fundações.

4.1. Parâmetros obtidos a partir de ensaio de cone CPT.


A) MÓDULO DE DEFORMAÇÃO CONFINADO
Uma das primeiras correlações conhecidas deve-se a Buiman (1940). A partir dela
pode-se obter o módulo oedométrico a partir da resistência de ponta do cone.

E oed = α .q c

onde : Eoed = módulo oedométrico (ou de deformação confinado, = 1/mv)


qc = resistência de ponta do cone
Os valores de α, segundo Buisman, foram considerados como:
α solo
1,5 areias quando qc>30 kgf/cm2
2a5 argilas siltosas, 15<qc<30 kgf/cm2
5 a 10 argilas siltosas qc<10 kgf/cm2

Vesic (1970) propôs, para areias, uma correlação em função da densidade relativa:

(
E oed = 2. 1 + DR .q c
2
)

Barata (1988) apresentou valores de α para solos residuais brasileiros como podem
ser vistos na Tabela 7. Sanglerat também apresentou correlações para solos franceses, como
pode-se ver na Tabela 8 .
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Tabela 7 - coeficientes de correlação de Barata

TIPO DE SOLO α

Silte arenoso pouco argiloso (solo residual de gnaiss - ref, Duque de Caxias-RJ) 1,15
Areia siltosa (solo residual de gnaiss) 1,20
Silte argiloso (solo residual de gnaiss) 2,40
Argila pouco arenosa (solo residual de gnaiss) 2,25
Silte pouco argiloso (terreno compactado) 3,00
Solo residual argiloso (terreno compactado) 3,40
Argila pouco arenosa (solo residual de gnaiss) 3,60
Solo residual argiloso (aterro compactado) 4,40
Argila areno siltosa (solo residual de gnaiss) 5,20
Argila areno siltosa porosa (solo residual de basalto – ref. Planalto, Campinas-SP) 5,2-9,2

Tabela 8 - coeficiente de correlação de Sanglerat

TIPO DE SOLO qc (kgf/cm2) α

Argila de baixa plasticidade qc<7 3< α<8


7<qc<20
qc>20

Silte de baixa plasticidade qc<20 3< α<6


qc>20 1< α<3

Argila siltosa de alta plastic. qc<20 2<α<6

Silte orgânico qc<12 2<α<8

Argila marinha ou turfa qc<7 α=1,5

B) DENSIDADE RELATIVA E N (SPT)


2, 5 2
Seed: N = 20.Dr + 10.Dr . p ' v

onde: p’v = pressão vertical efetiva de terra (kips/sqft)


N = 20.Dr (1 + 2. p ' v ) para p’v< 1,5 Kips/ft2
2
Bazaraa:
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N = Dr (3,25 + 0,5 p ' v )


2
para p’v>1,5

Schultz e Melzer: Dr = 0,317. log N − 0,226 p ' v +0,392 ± 0,067 para p’v<1,2kgf/cm2
Dr = 0,351. log q c − 0,421 p' v +0,07 para p’v<1,2kgf/cm2

C) DENSIDADE RELATIVA E φ
Meyerhof: φ = 30 0 + 15.Dr (areias puras)
φ = 25 0 + 15.Dr (areias com mais de 5% de finos)
Zeevaert: φ = 26 0 + 20.Dr (areias bem graduadas)
De Mello: (1,49 + Dr ) tan φ = 0,712

4.2. Correlações entre resistência de ponta do cone (qc) e resistência do SPT (N)

Numerosas correlações estatísticas têm sido propostas entre os ensaios de penetração


estática e dinâmica. Meyerhof (1956), para areias muito finas e areias siltosas, propôs que em
média, K=qc/N igual a 4 e para solos argilosos, k entre 2,5 e 3 (sendo qc dado em kgf/cm2).
Schmertmann (1978) apresentou correlações para diferentes tipos de solos, conforme
a Tabela

Tabela 9 -- Valores aproximados de K para os diferentes tipos de Solos

(Schmertmann,1978)

TIPO DE SOLO K=qc/N

Areias e misturas de pedregulhos 6


Areias 4
Siltes arenosos 3
Misturas de areia, silte e argila 2
Argilas sensíveis 1,5
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Aoki e Velloso (1975) apresentaram valores de coeficientes de correlação (K), como


apresentado na Tabela 10, onde podem-se ver também valores sugeridos por Laprovitera
(1988).

Tabela 10 - Valores de K e de α (=fs/qc)


K (kgf/cm2) K (kgf/cm2) α (%) α(%)
TIPO DE SOLO Aoki e Velloso Laprovitera Aoki e Laprovitera
Velloso
Areia 10,0 6,0 1,4 1,4
Areia siltosa 8,0 5,3 2,0 1,9
Areia sito argilosa 7,0 5,3 2,4 2,4
Areia argilosa 6,0 5,3 3,0 3,0
Areia argilo siltosa 5,0 5,3 2,8 2,8
Silte 4,0 4,8 3,0 3,0
Silte arenoso 5,5 4,8 2,2 3,0
Silte areno argiloso 4,5 3,8 2,8 3,0
Silte argiloso 2,3 3,0 3,4 3,4
Silte argilo arenoso 2,4 3,8 3,0 3,0
Argila 2,0 2,5 6,0 6,0
Argila arenosa 3,5 4,8 2,4 4,0
Argila areno siltosa 3,0 3,0 2,8 3,0
Argila siltosa 2,2 2,5 4,0 5,5
Argila silto arenosa 3,3 3,0 3,0 5,0

Verbrugge (1976) estabeleceu uma correlação entre qc do cone holandês e N do SPT,


dependente do tipo de solo e da profundidade. O autor obteve uma expressão a partir do
cálculo da força de penetração do amostrador, necessária para vencer o atrito do solo, e
utilizou a fórmula dos holandeses:

qc 9350 + 225,7.z
n= =
N (10,7 + 825 f b )(70,5 + 6,3.z )

onde: z = profundidade de medida de N


fb= fator de atrito proposto por Begemann (1965), função do tipo de solo (Tabela 11).

Tabela 11 - Fatores de Begemann (1965)


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TIPO DE SOLO fb
Argila – turfa >0,04
Silte 0,025 – 0,040
Areia siltosa fina 0,017 – 0,025
Areia fina 0,012 – 0,017
Areia grossa 0,007 – 0,012
pedregulho <0,007

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