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SISTEMAS DE INDICADORES DE DESEMPENHO E

PRODUTIVIDADE PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL


Jorge Moreira da Costa
Professor Associado, SCC/DEC/FEUP, Rua Dr Roberto Frias, 4200-465 PORTO,
jmfcosta@fe.up.pt
Isabel Horta
Bolseira de Investigação, SCC/DEC/FEUP, Rua Dr Roberto Frias, 4200-465
PORTO, imhorta@fe.up.pt
Nuno Guimarães
Coordenador de Investigação, SCC/DEC/FEUP, Rua Dr Roberto Frias, 4200-465
PORTO, nunogui@fe.up.pt
João Falcão e Cunha
Professor Associado, DEMEGI/FEUP, Rua Dr Roberto Frias, 4200-465 PORTO,
jfcunha@fe.up.pt
Henriqueta Nóvoa
Professora Auxiliar, DEMEGI/FEUP, Rua Dr Roberto Frias, 4200-465 PORTO,
hnovoa@fe.up.pt
Rui Soucasaux Sousa
Professor Auxiliar, FEG/UC, Rua Diogo Botelho, 1327, 4169-005 PORTO,
rsousa@porto.ucp.pt

Resumo
Num mundo cada vez mais competitivo é necessário que as empresas adquiram
consciência dessa realidade e implementem procedimentos que as orientem no sentido
de fazerem mais e melhor, diagnosticando os seus pontos fracos e fortes para que
possam estabelecer níveis de desempenho a atingir e delinear oportunidades de
melhoria. Vários sistemas de avaliação de desempenho foram desenvolvidos para
diferentes indústrias, nomeadamente os sistemas de Benchmarking que são focados
nesta comunicação e que permitem responder a esta necessidade, sendo ferramentas
de gestão empresarial que se fundamentam em dados reais visando uma melhoria
contínua.

Palavras-chave: Gestão, Qualidade, Indicadores, Benchmarking, Desempenho

INTRODUÇÃO
O movimento, a nível mundial, visando incrementar a melhoria da qualidade de
produtos e serviços teve reflexos no sector da construção civil, levando as empresas a
uma interrogação sobre os seus processos produtivos e, consequentemente, à adopção
de estratégias para a sua racionalização, num mercado que se revela cada vez mais
competitivo.

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Tema D – Inovação tecnológica

Este movimento assume maior dinâmica a partir de meados da década de 1980,


revelando-se na indústria da construção um crescente interesse pela gestão da
qualidade. Neste contexto, surge o desenvolvimento e implementação de alguns
sistemas de medição. Esta tendência reflecte a relevância dada à qualidade nos outros
sectores da economia em todo o mundo, mas decorre igualmente das mudanças que ao
longo do tempo têm afectado este sector específico, entre as quais podem destacar-se
a globalização da economia, a diminuição de recursos para a construção, uma maior
exigência dos clientes quanto à qualidade e exigências a cumprir pelas edificações e a
necessidade de maior organização das empresas e qualificação da mão-de-obra.
A Construção Civil e Obras Públicas é um sector de características muito específicas,
independentemente do país. Os esforços que, na maioria dos países industrializados,
têm sido canalizados para o incremento da qualidade e da produtividade industrial,
muitas vezes baseados na certificação ISO9000, têm tido alguma dificuldade em
penetrar neste sector, essencialmente de produção não-repetitiva. Assim, verifica-se o
recurso a outras metodologias com o objectivo de procurar incrementar a eficiência
das empresas desta área industrial Actualmente, os sistemas de medição de
desempenho e produtividade têm um papel proeminente devido às informações
disponibilizadas à gestão empresarial e aos resultados que têm permitido alcançar nas
várias indústrias onde têm sido implementados.
Para o caso particular da indústria da construção foram desenvolvidos sistemas de
indicadores de desempenho que permitem efectuar práticas de benchmarking uma vez
que as medidas utilizadas possibilitam uma comparação dos resultados das diferentes
áreas funcionais e operacionais de uma empresa mas também com os obtidos por
outras suas concorrentes. Desta forma, podem-se estabelecer novos patamares de
desempenho, oportunidades de melhoria e equiparação ou ultrapassagem das melhores
práticas usadas na indústria, baseados em dados concretos e originários na actividade
corrente das empresas às quais pretendem dar respostas.
Nesta comunicação serão apresentadas as principais filosofias dos sistemas de análise
de desempenho e produtividade baseadas no conceito de benchmarking desenvolvidos
especificamente para a indústria da construção em diversos países - Reino Unido,
EUA, Chile, Brasil e Dinamarca - os quais serviram de fonte de inspiração para o
desenvolvimento do Projecto Indicadores de Desempenho e Produtividade – IDP, a
cargo da FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto com o apoio do
IMOPPI – Instituto do Mercado das Obras Públicas e Particulares e do Imobiliário e
da ADI – Agência de Inovação.

BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE QUALIDADE


A preocupação com a qualidade dos produtos e serviços não é uma questão dos dias
de hoje. Os clientes sempre tiveram o cuidado de inspeccionar o nível de qualidade
dos produtos que adquiriam. Essa preocupação caracterizou a chamada era da
inspecção, que tinha como alvo o produto final. Desta forma, não se obtinha

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Sistemas de indicadores de desempenho e produtividade para a construção civil

qualidade, no sentido intrínseco; a preocupação residia apenas na identificação de


produtos defeituosos, proporcionalmente ao nível de inspecção que era realizado.
Em seguida, surgiu a era do controlo estatístico, com o aparecimento da produção em
massa, traduzindo-se na introdução de técnicas de amostragem e de outros
procedimentos de base estatística. Em termos empresariais, traduz-se no aparecimento
da secção de controlo da qualidade. Os sistemas de qualidade foram idealizados,
esquematizados, melhorados e implementados a partir da década de 30 nos Estados
Unidos e nos anos 40 no Japão e em outros países.
A partir da década de 50, emergiu de forma mais sustentada a preocupação com a
gestão da qualidade, que se consolidou numa nova filosofia com base no
desenvolvimento e na aplicação de conceitos, métodos e técnicas adequadas e
adaptadas a uma nova realidade. A gestão da qualidade total marcou o deslocamento
da análise exclusiva do produto e serviço para a concepção de um Sistema da
Qualidade. A qualidade deixou de ser vista como um problema somente ao nível do
produto final e da responsabilidade de um departamento específico, e passou a ser
considerada de âmbito empresarial, abrangendo a totalidade dos procedimentos
necessários para a realização de uma operação, tanto a nível da concretização física do
mesmo como das decisões estratégicas de gestão que lhe estão a montante.

Fig. 1: Evolução do conceito de Benchmarking

GESTÃO DA QUALIDADE
Vários sistemas de indicadores de desempenho foram desenvolvidos para diferentes
indústrias com o objectivo de serem, efectivamente, utilizados pelas respectivas
empresas. Estes sistemas encontram-se num estado mais avançado de
desenvolvimento em indústrias diversas da construção, pelo que podem ser bons
auxiliares na identificação de boas práticas, eventualmente transponíveis para as
empresas do nosso sector.
A importância e necessidade de implementação de sistemas de gestão cresce
continuamente e muitas empresas investem em programas de melhoria de desempenho
e em processos de certificação dos seus sistemas de gestão da qualidade conforme as

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Tema D – Inovação tecnológica

exigências da ISO 9000 [1]. Esta norma surge em 1994 orientada para a Garantia da
Qualidade; após 6 anos de experiência, uma nova versão é lançada em 2000 sendo já
uma norma de Gestão da Qualidade. Desta forma, o objectivo deixa de ser a mera
Garantia da Qualidade dos produtos e serviços para focar de forma destacada a
competitividade da empresa, e a importância do papel do Cliente em todo o processo,
evidentemente sem descurar as condições mínimas necessárias de qualidade funcional
do produto. Na nova norma, os requisitos passam a estar agrupados em quatro grandes
secções – Responsabilidade da Gestão; Gestão de Recursos; Realização do Produto;
Medição, Análise e Melhoria – que, de certa forma, se assemelham aos critérios dos
Modelos de Excelência.
Com o mesmo objectivo de promover a Qualidade e com a afirmação da Qualidade
Total como filosofia integrada de gestão, muitas empresas procuraram encontrar guias
de orientação para a implementação de modelos com este propósito. Neste contexto,
surgem os Modelos de Excelência que possibilitam uma auto-avaliação das
organizações. Diversos prémios baseados nos critérios de excelência desses modelos
surgiram para incentivar o incremento da melhoria contínua das empresas.
Nesta comunicação destaca-se o Benchmarking como ferramenta para promover e
incrementar a qualidade nas organizações. O conceito de Benchmarking serve de base
para o desenvolvimento de vários sistemas de indicadores em diversos países,
nomeadamente o projecto IDP que será abordado em detalhe em outra comunicação a
este Encontro.
O primeiro caso de sucesso surgiu no final dos anos 70, numa empresa que utilizou
esta ferramenta para perceber e ultrapassar as suas fraquezas competitivas. A partir
dessa altura várias organizações em diferentes indústrias são destacadas por terem
aplicado a metodologia com sucesso. O Benchmarking é um processo de avaliação de
produtos, serviços e processos de trabalho em empresas com vista à introdução de
melhorias. Sistemas de Indicadores de Benchmarking dirigidos especificamente para a
indústria da construção começaram a ser desenvolvidos a partir de um programa
britânico - Key Performance Indicators – KPIs - que consegue passar dos simples
conceitos para uma aplicação efectiva e reconhecida pelos vários actores da indústria.

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Sistemas de indicadores de desempenho e produtividade para a construção civil

Fig. 2: Síntese de metodologias visando o incremento da qualidade empresarial

SISTEMAS DE INDICADORES DE BECHMARKING PARA A


INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO

Key Performance Indicators (KPI) – Reino Unido


Na sequência do relatório "Rethinking Construction" [2] publicado em 1998, foram
desenvolvidos diversos indicadores, designados por KPI – Key Performance
Indicators – utilizados pelas empresas da indústria da construção e pelo próprio
governo para avaliar o nível de desempenho dessa indústria e definir metas anuais a
atingir.
O relatório enfatiza a necessidade de se realizarem práticas de benchmarking e
medição de indicadores de performance para se alcançar um crescimento contínuo,
avaliar a performance empresarial e consequentemente auxiliar as empresas na
identificação de pontos fortes e fracos da sua actividade, avaliar a capacidade
financeira e delinear um planeamento ajustado em tempo útil. A Satisfação do Cliente
foi identificada como o principal objectivo a atingir, constituindo uma das mais graves
deficiências detectadas no processo construtivo da indústria da construção britânica.
Para alcançar as metas propostas no relatório foram criados diversos organismos com
missões especificas e actuando em áreas distintas. Posteriormente (cerca de 2003),
todos os organismos se fundiram numa única entidade, a Constructing Excellence [3].

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Tema D – Inovação tecnológica

O primeiro conjunto de resultados foi apresentado em Novembro de 2000 e incluía os


seguintes indicadores, considerados fundamentais e directamente ligados ao
desempenho económico: Satisfação do Cliente – produto, Satisfação do Cliente –
serviço, Defeitos, Previsão do custo, Previsão do tempo, Custo da construção, Tempo
da construção, Produtividade, Lucro e Segurança. Estes três últimos indicadores são
colectados na própria empresa, enquanto os restantes são obtidos a partir da
informação fornecida pelos Clientes. Os três perfis principais de empresas
contemplados são os Construtores, os Consultores e as Empresas de Materiais de
Construção. Nos anos seguintes, foram desenvolvidos outros indicadores que
contemplam aspectos sobre Recursos Humanos e Consciência Ambiental, bem como a
expansão de alguns dos indicadores a segmentos de mercado específicos como a
Construção Nova (habitação e outros edifícios) e a Reabilitação e Manutenção de
Edifícios.
Os KPIs são baseados em dados tratados estatisticamente e obtidos através de
questionários dirigidos aos diversos actores do sector da construção. Os inquéritos aos
Clientes são obtidos no final de cada operação; os inquéritos dirigidos às empresas são
preenchidos com informação referente ao ano transacto.
Anualmente divulgam-se os resultados obtidos para cada indicador a partir de um
conjunto de projectos considerados para a amostragem – Demonstration Projects – de
empresas que participam no programa. Os resultados globais obtidos para a indústria
da construção e descrevendo o cenário nacional são apresentados em wallcharts sob a
forma de gráficos de curva acumulada baseada na informação recolhida, a partir dos
quais é possível determinar a medida de comparação com as outras empresas –
benchmark. O processo de determinação deste parâmetro é demonstrado na Fig. 3.

Fig. 3: Key Performance Indicator – Exemplo de gráfico de análise do desempenho [3]

A Fig.3 apresenta o indicador "Satisfação do Cliente – Aconselhamento na venda".


Este indicador é avaliado através de inquéritos aos clientes, imediatamente após a
concretização de uma venda, onde é solicitada a graduação deste (e outros) aspectos
numa escala de 1 (totalmente insatisfeito) a 10 (completamente satisfeito), valor que é
introduzido no eixo vertical (1).

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Sistemas de indicadores de desempenho e produtividade para a construção civil

A intersecção do resultado com a curva (2) permite obter no eixo horizontal a


avaliação do desempenho em comparação com a restante indústria (3). No presente
caso, 70% das empresas concorrentes obtiveram um resultado igual ou inferior,
enquanto que 30% obtiveram resultado mais satisfatório.
Esta avaliação pode ser efectuada tanto em cada acto individual como de forma
agregada (anual ou mais regularmente), permitindo conhecer o efeito de medidas de
gestão e de garantia da qualidade implementadas no interior da empresa. Poderão ser,
assim, definidas metas internas para cada organização de forma individual, bem como,
já ao nível governamental ou de organismos sectoriais de classe, motivar as empresas
para atingir, num dado ano, certos níveis de indicadores, reflectindo uma procura de
excelência e de maior produtividade. Os níveis obtidos podem ser utilizados em
campanhas de promoção pelas próprias empresas bem como servirem de parâmetros
de valorização em concursos públicos ou privados, constituindo parte dos
procedimentos de avaliação de propostas no sentido de “melhor valor” em vez de
“mais baixo preço”.
É importante destacar que o objectivo destes indicadores não é a qualificação das
empresas de forma isolada nem em relação a uma escala pré-definida, mas criar a
possibilidade de cada empresa avaliar a sua prestação em relação aos seus
concorrentes. Neste sentido, a informação fornecida pelas empresas e seus Clientes é
totalmente confidencial e na análise que cada empresa efectue ao seu desempenho
pode, apenas, saber a sua posição relativa: na Fig.3, a empresa exemplo sabe que 30%
dos seus concorrentes fazem melhor no aspecto analisado, mas não é possível
identificá-los.
As empresas envolvidas neste programa podem ainda participar em Clubes de
Benchmarking KPI, que funcionam como um fórum de aprendizagem sobre princípios
de gestão e de melhores práticas, através da disseminação de uma cultura de medição
de desempenho e partilha de informações, permitindo a cada empresa participante
aprender com as demais através de uma criação conjunta de conhecimento que visa a
melhoria do desempenho dos intervenientes.

SISTEMA DE BENCHMARKING CHILENO


O Sistema Nacional de Benchmarking [4] foi desenvolvido pela Sociedade de
Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Câmara Chilena da Construção, com o
apoio do Programa de Excelência em Gestão da Produção da Universidade Católica de
Chile (GEPUC). O projecto arrancou em 2001. Em primeiro lugar, centrou-se num
estudo detalhado do programa britânico KPI e, posteriormente, procurou adequá-lo às
necessidades específicas da construção chilena.
A selecção dos indicadores assentou em estudos e investigação anteriormente
efectuada (Alarcón e Serpell, 1996; Grillo, 1997). Inicialmente, existiam 30
indicadores de performance que foram analisados em diversas reuniões com a

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Tema D – Inovação tecnológica

presença de empresas do sector. Posteriormente, foi determinado que seria necessário


reduzir o número de indicadores, com base na opinião, experiência e necessidades
transmitidas pelas próprias empresas. O actual conjunto é composto pelos seguintes
indicadores: desvio do custo por projecto, desvio do tempo da construção, mudança de
empreiteiros, frequência de acidentes, eficiência do trabalho directo, produtividade,
sub-contratações, custo das reclamações dos clientes, ordens urgentes, planeamento e
eficácia.
Os indicadores foram idealizados de modo a que a recolha da informação necessária
fosse o mais acessível possível dentro das empresas. Para a utilização do sistema, as
empresas participantes recebem um manual explicativo e de orientação bem como um
acesso ao sistema para introdução e visualização da informação obtida. O Sistema
Nacional de Benchmarking utiliza curvas e tabelas de ranking e gráficos de radar para
a apresentação dos resultados.
O sistema pretende ser uma avaliação complementar de modelos de gestão cujo
objectivo é fornecer ferramentas para se alcançar uma melhoria contínua nas empresas
de construção através de práticas de benchmarking que se devem desenvolver ao
longo do tempo. O sistema de avaliação de gestão possibilita comparar diferentes
práticas de gestão, identificar relações entre os resultados com vista a retirar
conclusões e ainda percepcionar tendências para a indústria.
O sistema é constituído por quatro áreas de inserção de dados: dois questionários, um
para a administração e outro para entidades que contactam directamente com o local
da obra (Donos de Obra, Projectistas e Directores de Obra), que se dividem pelos dois
tipos de indicadores, anuais ou por operações finalizadas. As empresas pertencentes
ao Clube de Benchmarking fornecem a informação que carrega a base de dados.
Uma vez os dados validados, a análise dos resultados é tripartida pois pretendem-se
atingir objectivos distintos: partilhar as boas práticas de Benchmarking, estabelecer
relações entre os indicadores e identificar tendências do sector.

CONSTRUCTION INDUSTRY INSTITUTE (CII) BENCHMARKING &


METRICS PROGRAMME – EUA
O programa CII Benchmarking & Metrics [5] arrancou em 1993, com o objectivo de
fornecer padrões de performance para a indústria, quantificar e identificar o uso de
boas práticas.
O CII apresenta aproximadamente 90 membros, em que 50% são empresas
construtoras e a outra metade são representantes de empresas de consultoria e sub-
contratados. Com esta iniciativa o CII pretende melhorar a eficácia do negócio, ao
nível da segurança, qualidade, planeamento de trabalhos, custos, confiança e
operacionalidade. Os investigadores analisaram os estudos realizados em diferentes
universidades com vista a identificar as metodologias já criadas para melhorar o
planeamento e execução de projectos.

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Sistemas de indicadores de desempenho e produtividade para a construção civil

Os diversos representantes da indústria conjuntamente com os membros do CII


desenvolveram o esquema de funcionamento do programa e definiram, em 2000, o
actual conjunto de indicadores de performance. Os indicadores são divididos segundo
pequenos projectos (menos de $5.000.000 USD) e grandes projectos (mais do que
$5.000.000 USD). O grupo de trabalho do Benchmarking & Metrics reúne-se
regularmente para continuar a desenvolver, actualizar e melhorar o programa.
No respeitante a projectos pequenos são avaliados os seguintes indicadores:
Performance do Custo, Performance do plano de trabalhos, Performance da segurança,
Mudanças de ordem, Produtividade da construção, Produtividade da engenharia,
Planeamento antecipado, Projecto, Aquisição, Construção, Inicio do planeamento e
instruções, Organização, Processos, Controlo, Segurança, saúde e ambiente,
Integração de tecnologias.
Em grandes projectos, os indicadores considerados além dos primeiros 6 referidos
atrás são: Performance dos trabalhos a mais, Planeamento do anteprojecto,
Construção, Mudanças de gestão, Grupo de trabalho, Acidentes técnicos, Gestão de
materiais, Integração de tecnologia, Qualidade da gestão, Alinhamento durante o
planeamento do anteprojecto.
O programa CII Benchmarking & Metrics desenvolveu uma plataforma de recolha e
tratamento de informação através de uma base de dados na Internet, denominada
Projecto Central. Este programa opera através do preenchimento de questionários on-
line sobre os projectos e posterior validação do questionário completo. A plataforma
permite aos participantes terem acesso em tempo real à avaliação dos seus projectos,
pelo que podem ser imediatamente comparados com os demais existentes na base de
dados. Assim, são disponibilizados os gráficos que permitem realizar as comparações
entre as empresas ou projectos em cada um dos indicadores, sendo também fornecidos
relatórios identificando os resultados obtidos.

SISTEMA DE INDICADORES DE BENCHMARKING – BRASIL


A partir de Setembro de 2003, o NORIE/UFRGS iniciou um projecto, denominado
SISIND-NET, que teve o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientifico e Tecnológico (CNPq). O objectivo do SISIND-NET é desenvolver e
implementar um Sistema de Indicadores para Benchmarking na Indústria da
Construção, com o recurso às Tecnologias da Informação, principalmente vinculadas
ao uso da Internet.
O Sistema de Indicadores para Benchmarking [6] está inserido num site que permite a
introdução de dados directamente pelas empresas participantes, a apresentação dos
indicadores e tendências. Além disto, possibilita a criação de um ambiente de
aprendizagem, através dos Clubes de Benchmarking, em que as empresas envolvidas
partilham informações, tanto do ponto de vista quantitativo (indicadores), quanto

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Tema D – Inovação tecnológica

qualitativo (boas práticas de gestão). Por fim, o grupo de trabalho realiza palestras e
cursos de formação para a divulgação do projecto e dos seus resultados.
Em 2004, surgiu o primeiro clube de benchmarking constituído por 18 empresas de
construção que pretendiam desenvolver e implementar o sistema de indicadores e
iniciar a partilha de boas práticas. Em diversas reuniões com essas empresas foram
definidos os indicadores mais relevantes a incluir no sistema bem como os
procedimentos de recolha dos dados e os métodos de análise. A implementação teve
como objectivo testar os indicadores definidos nas reuniões e, consequentemente,
identificar a sua adequação à realidade empresarial. Desde o início algumas alterações
foram realizadas no respeitante ao processo de obtenção de dados por sugestão das
empresas envolvidas.
Às empresas participantes é fornecido um Manual de Utilização, que ajuda a
compreender o procedimento de recolha de informação na rotina organizacional, bem
como o processo de encaminhamento dos dados colectados para o sistema on-line.
O actual conjunto de indicadores engloba: Produção e Segurança: desvio do custo da
obra, desvio do prazo da obra, percentual de planos concluídos, índice de boas
práticas de estaleiros de obras, taxa de frequência de acidentes; Clientes: índice de
satisfação do cliente final, índice de satisfação do cliente (Dono de Obra); Vendas:
velocidade de vendas, índice de contratação; Fornecedores: avaliação de fornecedores
de serviço, avaliação de fornecedores de materiais, avaliação de fornecedores de
projectos; Qualidade: número de não conformidades em auditorias, índice de não
conformidade na entrega do imóvel; Pessoas: índice de satisfação do funcionário da
sede, índice de satisfação do funcionário de obra, índice de formação, percentagem de
funcionários formados.

SISTEMA DE BENCHMARKING DINAMARQUÊS


O Centro Dinamarquês para o Sector da Construção Civil (Byggeriets Evaluerings
Center) [7] [8] foi criado em Fevereiro de 2002 por diversas entidades ligadas ao
sector com vista a promover a qualidade e a eficiência no sector. Actualmente, está
estabelecido como uma instituição de cariz público.
Para a realização do Sistema de Benchmarking, desenvolvido pelo Centro, foram
analisadas diversas operações com o objectivo de avaliar a performance empresarial.
Os indicadores dividem-se nos seguintes temas: tempo, custo, satisfação do cliente,
acidentes, defeitos, rentabilidade, produtividade, segurança.
Os dados são acumulados para fornecerem informação relativa a empresas (para todos
os seus projectos) e ao nível do Cliente. Identificam-se igualmente as tendências da
indústria. Os dados são colectados através de questionários, mas parte da informação é
revelada para ser analisada por participantes do projecto. As empresas aderentes têm
de efectuar um pagamento ao centro para terem acesso aos resultados obtidos a partir
da base de dados.

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Sistemas de indicadores de desempenho e produtividade para a construção civil

Actualmente, o governo para conhecer as tendências da indústria utiliza processos de


benchmarking que solicita às empresas. É esperado a curto prazo que os clientes
particulares participem também neste sistema. O Centro está a desenvolver e
aperfeiçoar sistemas de benchmarking para projectos de engenharia e de arquitectura.

CONCLUSÃO
Para compilar a informação recolhida sobre os sistemas de indicadores de
performance dos diferentes programas analisados elaborou-se um gráfico de barras,
apresentado na Fig.4, que permite obter uma panorâmica geral da importância
fornecida a cada tema de indicador nos estudos e programas analisados. É de destacar
a importância conferida aos indicadores da área da produtividade, segurança e saúde e
satisfação do cliente.

Fig. 4: Temas abordados a nível mundial e sua frequência

Os resultados destes sistemas de medição devem ser integrados em estratégias de


melhoria contínua da qualidade, de aumento da satisfação dos clientes e das entidades
envolvidas no processo construtivo, tais como projectistas, fornecedores, donos de
obra e, de um modo mais abrangente, a sociedade em geral.
De referir, finalmente, que todos os programas analisados (com uma relativa excepção
do programa britânico KPI) parecem defrontar-se com alguma dificuldade na
motivação dos seus potenciais utilizadores. Ou são sistemas que retratando a situação
apenas de um grupo particular de empresas (CII) ou, quando o sistema procura atingir
o mercado geral, a receptividade deste mantém-se limitada, com um número

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Tema D – Inovação tecnológica

relativamente reduzido de participantes num universo de dimensão apreciável. O


modo como é gerida a partilha de informação considerada privilegiada poderá ser um
dos óbices a uma maior aceitação. Conseguir um modelo em que as empresas se
revejam e que possam utilizar como ferramenta no apoio à gestão diária parece ser a
maior dificuldade a ultrapassar e a que requer maior esforço imaginativo.
Um sistema de benchmarking só funciona se as empresas fornecerem dados para ele,
em quantidade e qualidade; e só o farão, voluntariamente, se reconhecerem que
ganham algo com isso, seja em notoriedade, em competitividade ou se esse esforço se
puder reflectir numa valorização, reconhecida pelos seus clientes, públicos ou
privados e, em último lugar mas não menos importante, pelos seus pares.

BIBLIOGRAFIA
[1] ISO9000:2000 – International Organization for Standardization. 2ªedição. Ge-
neva, 2000
[2] Construction Task Force - Rethinking Construction. Department of Trade and
Industry. Londres, 1998
[3] Constructing Excellence. Último acesso: Julho 2006.
www.constructingexcellence.org.uk
[4] Corporation of Technological Development. Último acesso: Julho 2006.
http://bench.cdt.cl
[5] Construction Industry Institute - Benchmarking and Metrics: Último acesso:
Julho 2006. www.cii-benchmarking.org/
[6] Sistema de Indicadores para Benchmarking na Construção Civil. Último acesso:
Julho 2006. www.cpgec.ufrgs.br/norie/benchmarking/
[7] Byggeriets Evaluerings Center. Último acesso: Julho 2006.
www.byggeevaluering.dk/
[8] BAKENS, WIM et al – PSIBouw - International Review of Benchmarking in
Construction, Final Report. Holanda, 2005

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