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ANÁLISE LITERÁRIA

Em resumo é decomposição de um texto em suas partes constitutivas, para perceber o valor e o


relacionamento que guardam entre si e para melhor compreender, interpretar e sentir a obra como um
todo completo e significativo.

"A análise literária não se reduz, pois, ao comum comentário do texto, trabalho colateral ao mesmo texto,
que não vai até à sua essência, nem à sua explicação, nem ao mero estudo da biografia do autor. Deve ir
mais além, abrindo caminho para a crítica, para a história, que investigará sobre o autor e os
antecedentes da obra; e para a teoria da literatura, que extrairá da obra os princípios suscetíveis de
formulação estética". (Herbert Palhano, Língua e Literatura).

A análise de texto, ensina Nelly Novaes Coelho (0 Ensino da Literatura), é o esforço por descobrir-lhe a
estrutura, seu movimento interior, o valor significativo de suas palavras e de seu tema, tendo em mira a
unidade Intrínseca de todos esses elementos. Pressupõe o exame da estrutura do trecho e da linguagem
literária (o vocabulário, o valor das categorias gramaticais usadas), o tipo de figuras predominantes
(símiles, imagens, metáforas... ), o valor da sintaxe predominante (frase ampla ou breve, tipos de
subordinação e coordenação, frases elípticas...), a natureza dos substantivos escolhidos; tempos ou
modos de verbo, uso expressivo do artigo, da conjunção, dos advérbios, das preposições, etc., tudo em
função do significado essencial do todo. Uma boa análise de texto, isto é, de fragmento só pode ser
realizada quando o todo, a que ele pertence, tiver sido perfeitamente interpretado.

Um esquema-roteiro para a análise crítico-interpretativa de um romance, proposto pela referida


professora é o seguinte:

a) Leitura lúdica para contato com a obra. Essa leitura é feita pelo aluno inicialmente.

b) Fixação da Impressão ou impressões mais vivas provocadas pela leitura. Essas impressões levarão à
determinação do tema.

c) Fixação do tema ( idéia central, eixo nuclear da ação).

d) Leitura reflexiva norteada pelo tema, e pelas idéias principais pressentidas na obra. É durante esta
segunda leitura da obra que se Inicia a análise propriamente dita, pois é o momento em que devem ser
fixadas as características de cada elemento estrutural.

e) Anotação meticulosa de como os elementos constitutivos do romance foram trabalhados para


Integrarem a estrutura global.

Esta anotação deverá obedecer, mais ou menos, a um roteiro disciplinador:

1) Análise dos fatos que integram a ação (Enredo).

2) Análise dos traços característicos daqueles que vão viver a ação (Personagens).

3) Análise da ação e personagens situadas no meio-ambiente em que se movem (Espaço).

4) Análise do encadeamento da ação e personagens numa determinada sequência temporal (Tempo).

5) Análise dos meios de expressão de que se vale o autor: narração, descrição, monólogos, intervenções
do autor, gênero literário escolhido, foco narrativo, linguagem, interpolações, etc.

Para o Professor Massaud Moisés, (Guia Prático de Análise Literária ) o núcleo da atenção do analista
sempre reside no texto. Em suma: o texto é ponto de partida e ponto de chegada da análise literária.
Fonte: Escola Vesper

ANÁLISE LITERÁRIA
A obra literária é a representação perfeita da relação entre o homem e o mundo em que vive. Vigora na
literatura uma correspondência bastante acentuada entre o sofrimento do sujeito enquanto ser agente,
metafísico e o local da ação, espaço material e mensurável. Essa dicotomia é que contribui para a criação
da obra de arte e é o que gera o conflito que vai desencadear um desfecho de acordo com a
intencionalidade do criador. Para atingir essas condições, Rubem Fonseca quebra os padrões
convencionais da estrutura narrativa em “Relato de ocorrência em que qualquer semelhança não é mera
coincidência”.

Nesse conto, é narrada a história de um acidente que ocorre numa BR, envolvendo um ônibus, que
atropela uma vaca, que morre logo em seguida. Os moradores das cercanias, ao verem o acidente,
correm na direção do ocorrido. A princípio, pensa-se que vão procurar meios para socorrerem as vítimas.
Mas não é que acontece. Eles correm é para aproveitar a carne da vaca morta, e deixam as vítimas à
mercê da sorte.

Para desenvolver tal enredo, o autor imbrica duas formas de relatar os fatos da história: estilo de jornal e
a narrativa pertencente ao gênero literário. “Na madrugada do dia três de maio, uma vaca marrom
caminha na ponte do Rio Coroado, no quilômetro 53, em direção ao Rio de Janeiro”. Nesse fragmento,
estão presentes os elementos que constituem o texto jornalístico: o local, a data, o fato, os envolvidos,
como forma de comprovação dos acontecimentos. O texto só passa a assumir a estrutura da narrativa
literária a partir do sexto parágrafo, quando Elias, uma das personagens do conto, dá início às ações que
vão se desenrolar na ponte, local do acidente. “O desastre foi presenciado por Elias Gentil dos Santos e
sua mulher Lucília, residente nas cercanias. Elias manda a mulher apanhar um facão em casa. Um
facão? Pergunta Lucília.” .

Esse procedimento de unir o jornalístico e a narrativa literária não só contribui para a verossimilhança da
história, como também revela um menor grau de formalidade na atitude de narrar, já que se trata de um
texto que segue os padrões modernistas. O texto foge ao estilo machadiano, por exemplo. Contudo não
deixa de externar a natureza e o comportamento do homem diante dos seus problemas. Rubem Fonseca,
nesse conto, apresenta um realismo marcado através da análise de uma situação que revela a intenção
de mostrar pessoas preocupadas apenas em matar a fome, fato que representa a realidade de uma
grande parte da população.

A onisciência do narrador é percebida através da expressão dos sentimentos das personagens e do modo
como os fatos são focalizados. O narrador parece acompanhar cada detalhe dos acontecimentos. “Surge
Marcílio da Conceição. Elias olha com ódio para ele. Aparece também Ivonildo de Moura júnior. E aquela
besta que não traz o facão! Pensa Elias. Ele está com raiva de todo mundo, suas mãos tremem. Elias
cospe no chão várias vezes, com força, até que sua boca seca.” A presença do discurso indireto livre
nesse fragmento vem reforçar a expressão da angústia que toma conta de Elias no momento em que os
vizinhos também chegam para desfrutar a carne do animal.

Como se pode perceber, as personagens do conto Relato de ocorrência em que qualquer semelhança
não é mera coincidência não são apenas um elemento da estrutura narrativa, mas habitantes da realidade
ficcional, os quais representam seres que se confundem, em nível de recepção, com o ser humano e sua
complexidade. Para criar essa realidade, o autor, sabendo que personagem representa pessoa, o faz
através dos recursos lingüísticos, uma vez que se constrói a personagem ficcional por meio das palavras
e, quanto ao modo como essa linguagem aparece no texto, nota-se claramente a marca da oralidade no
processo da construção do discurso. Nesse conto, tanto narrador, quanto personagem possuem o mesmo
nível na utilização da palavra. Isso porque se trata de uma forma de não distanciar lingüisticamente as
personagens do narrador. É através da linguagem que, ao lermos o conto de Rubem Fonseca, nos
deparamos com uma simulação do real, criada a partir da cosmovisão do autor.
Considerando que um texto é um tecido, em que todos os elementos que o compõem devem estar
entrelaçados para que exista significação, o conto de Rubem Fonseca é a representação concreta dessa
assertiva. Desde o foco narrativo até o espaço, tudo se encaixa de modo a favorecer a coerência dos
episódios narrados. A história é contada em terceira pessoa, por um narrador que presencia todos os
acontecimentos. Essa é uma forma cinematográfica de construir o enredo e, com esse procedimento
narrativo, o leitor se coloca em contato mais direto com os fatos narrados. O espaço onde se passa a
história, a ponte, exerce um papel importante uma vez que, por representar um local perigoso, aparece
como o lugar onde ocorre o acidente, deixando várias vítimas sem vida.

Toda a história se passa em um curto intervalo de tempo, de modo linear.

Tudo acontece “Na madrugada do dia três de maio...” Como se pode notar, trata-se de um tempo
cronológico, em que os fatos se dão numa ordem natural, isto é, do início para o final. Primeiro, acontece
o acidente; depois, os moradores vão em busca da carne da vaca, que morre atropelada e, para finalizar
a história, todos tiram proveito da situação. É, pois, o tempo um elemento responsável pela organização
dos fatos no enredo desse conto.

Fonte: www.paratexto.com.br

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