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PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


FACULDADE DE EDUCAÇÃO

RENATO OLIVEIRA MOCHIZUKI

A RELAÇÃO DIRETA DA PRÁTICA DE


MUSCULAÇÃO COM O CONSUMO DE
ESTERÓIDES ANABOLIZANTES PARA FINS
ESTÉTICOS
2

CAMPINAS
2007
RENATO OLIVEIRA MOCHIZUKI

A RELAÇÃO DIRETA DA PRÁTICA DE


MUSCULAÇÃO COM O CONSUMO DE
ESTERÓIDES ANABOLIZANTES PARA FINS
ESTÉTICOS

Monografia apresentada à disciplina de


Pesquisa em Educação Física, Treinamento e
Lazer III, como requisito parcial para obtenção
do titulo de licenciado em Educação Física
pela Pontifícia Universidade Católica de
Campinas.

Sob a Orientação da Profª Drª Regina Simões


Profª Drª Roberta Gaio
3

PUC- CAMPINAS
2007
DEDICATÓRIA

Ao meu Pai Abel Yukinori Mochizuki


que sempre trabalhou no exterior para dar uma vida
4

digna para minha família, sendo o principal


responsável pelo financiamento da minha formação
Universitária, e a todas as pessoas que me amam e
se preocupam comigo.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Jefferson Eduardo Hespanhol


Pelo seu grandioso conhecimento Teórico e Cientifico em Treinamento Esportivo e Fisiologia do
Exercício, que tanto contribuiu para minha formação Acadêmica.

Ao Prof. Dr. Leonardo Gonçalves


Pelos conhecimentos adquiridos em Treinamento Esportivo nas aulas deste conceituado Professor.

Ao Prof. Dr. João Serapião de Aguiar


Pelas suas excelentes aulas na área de Psicologia Esportiva.

Ao Prof. Ms. Roberto Silva Junior


Pelos conhecimentos adquiridos nas aulas de Musculação de Academia, pois é a área que mais me
interesso no amplo campo da Educação Física.

Ao prof. Ms. Alexandre


Pela apresentação da 1ª versão da minha monografia que realizei para esse professor no 1º
Simpósio Regional de Educação Física – FAEFI – PUC.

As Prof.s Dra.s Roberta Gaio e Regina Simões


Pelos conselhos, sugestões e orientação na elaboração de minha Monografia.
5

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram,


mas na intensidade com que acontecem. Por isso
existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis
e pessoas incomparáveis.”
6

Fernando Pessoa
(1888 - 1935)
RESUMO

Esta pesquisa bibliográfica tem como meta apresentar a relação direta da


prática de Musculação com o consumo de Esteróides Anabolizantes Androgênicos
para fins Estéticos. Discute-se primeiramente o conceito de Musculação, bem como
as suas nomenclaturas, como a % das cargas, sets, séries, repetições e intervalos,
os benefícios para a saúde, como a melhora dos níveis de força e resistência
muscular proporcionados por esta, os cuidados necessários para a sua prática,
como a segurança e as avaliações física e médica, os tipos de fibras (I e II) e as
contrações concêntricas, excêntricas e isométricas, as adaptações neurais,
contráteis endócrinas e da composição corporal ocorridas no organismo dos
praticantes em decorrência de sua prática, o teste de 1 repetição máxima, como
trabalhar as diferentes manifestações de força, sendo elas a força máxima via neural
e hipertrófica, a força explosiva e a resistência de força através da Musculação, o
culturismo mais conhecido como fisiculturismo e suas características, e as
considerações, principalmente a hormonal que devemos levar em consideração na
elaboração de programas femininos de Musculação. Em seguida, apresenta-se os
hormônios Anabólicos, como a Testosterona, o hormônio do crescimento e a
insulina, além de um breve histórico sobre a produção sintética dos Anabolizantes,
mais conhecidos no meio esportivo como doping, os efeitos esperados como o
ganho de massa e definição, as drogas mais conhecidas e os ciclos realizados pelos
usuários. E por último debate-se a junção desses dois fatores, onde os resultados da
pesquisa mostram que os praticantes de Musculação que usam Esteróides
Anabolizantes, recorrem sempre a algum tipo de motivação e objetivo extra para se
submeterem a tal processo, apresenta também a falta de orientação e conhecimento
dos usuários, junto com a comercialização ilegal dessas drogas, e os inúmeros
efeitos colaterais que ocorrem em decorrência do uso em excesso dessas
substâncias no organismo humano. Concluindo-se que esse assunto preocupa as
autoridades científicas e médicas, necessitando-se de mais estudos e pesquisas
sobre à presente temática, junto com a elaboração de mais campanhas de
conscientização da população.
7

Palavras Chave: Musculação, Esteróides Anabolizantes Androgênicos, Imagem


Corporal
LISTA DE FIGURAS:

Página

Figura 1.
Representação da Molécula de Colesterol, cuja
estrutura é a base de todos os Hormônios Esteróides.................................28

Figura 2.
Principais vias para a Biossíntese da Testosterona......................................29
8

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

GH = Growth Hormone
9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................08

2 MUSCULAÇÃO................................................................................11
2.1 Os benefícios da Musculação ....................................................................13
2.2 Cuidados com a Musculação .....................................................................14
2.3 Tipos de Fibra e de Contração Muscular....................................................16
2.4 Adaptações fisiológicas ao Trabalho de Musculação................................17
2.5 Testes de Força..........................................................................................19
2.6 Como Trabalhar a Força na Musculação.................................................20
2.7 Culturismo..................................................................................................23
2.8 Considerações sobre Programas Masc. e Fem. de Musculação.............24

3 ESTERÓIDES ANABOLIZANTES ANDROGÊNICOS.....................27


3.1 Conceitos dos Esteróides Anabolizantes....................................................28
3.2 O surgimento dos Esteróides Anabolizantes Sintéticos.............................31
3.3 Efeitos esperados, Drogas mais utilizadas e Ciclos...................................33

4 MUSCULAÇÃO E ESTERÓIDES ANABOLIZANTES ....................38


4.1 Motivações para o Uso................................................................................39
4.2 A falta de Orientação e o Comércio Ilegal...................................................41
4.3 Efeitos Colaterais.........................................................................................44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................47

6 REFERÊNCIAS...............................................................................................49
10
11

1. INTRODUÇÃO

Musculação e o uso de Esteróides Anabolizantes Androgênicos, é um


tema extremamente polêmico e muito presente na sociedade nos dias atuais. Hoje a
musculação é uma atividade globalizada, praticada por todas as classes sociais,
diversas faixas etárias e em ambos os sexos. Os benefícios que a musculação
proporciona a seus praticantes são inúmeros, desde qualidade de vida, reabilitação
de lesões ortopédicas e para a melhora da aparência física, tanto para os homens
quanto para as mulheres.
No entanto, atualmente, um dos motivos mais procurados pelas
pessoas interessadas em se submeterem à programas de musculação é a melhora
da aparência física. Logo, a musculação é meio mais eficiente para se induzir o
organismo a adaptações fisiológicas, como o aumento da força através da hipertrofia
muscular e a diminuição do percentual de gordura corporal sub-cutânea, alterando
significativamente a aparência física.
É a partir dessas reflexões que entra un dos mais graves problemas
inter-relacionado com a musculação, o uso de drogas com o objetivo de
potencializar os resultados nos treinamentos em nome da imagem corporal, estamos
falando dos Esteróides Anabolizantes Androgênicos.
Esses tipos de drogas, conceituados por hormônios sintéticos são
muito procurados por praticantes de musculação. De todas as classes sociais e em
geral mais pela população jovem adulta masculina. As mulheres recorrem com
menos freqüência a esses tipos de substâncias, segundo as pesquisas atuais
relacionadas ao assunto, que serão citadas no decorrer do texto.
O principal motivo para o desejo de consumir essas substâncias, são
os de se obter grandes resultados em um curto espaço de tempo, ou seja, se tornar
forte e definido em apenas alguns meses de treinamento. Somente a musculação,
junto com o repouso e alimentação, pode levar uma pessoa a níveis espetaculares
de adaptações fisiológicas, mas requer muito tempo, empenho, disciplina e
paciência, e muitos não possuem paciência e esses requisitos, além da falta de
informação e orientação.
12

A falta de orientação e informação é talvez a grande culpada pelo uso


dessas drogas, e as pessoas só conhecem os “benéficos” causados,
desconhecendo que são extremamente nocivas, tóxicas à saúde e que ainda
causam dependência, ou não ligando para tais malefícios.
Este estudo é importante para a área de Educação Física, pois trata-se
de um tema bastante atual, que deve ser estudado e discutido entre os profissionais
e professores da área de saúde e educação.
A investigação bibliográfica irá expor todas as características benéficas
do trabalho de musculação, e a relação direta desta com o problema do consumo de
Esteróides Anabolizantes Androgênicos pela população jovem e adulta da classe
média, para a obtenção de grandes resultados em um curto espaço de tempo.
Na literatura especializada foram encontrados livros, artigos científicos,
dissertações de mestrado, teses de doutorado, pesquisas de campo realizadas em
diferentes regiões brasileiras, que trazem a relação da Musculação com o uso de
Esteróides Anabolizantes Androgênicos, entre outros. Tratando de forma isolada
sobre um dos assuntos relacionados ao estudo, logo esses assuntos serão
interligados e combinados, formando a estrutura e o raciocínio do trabalho.
Essa pesquisa bibliográfica conceituará a musculação, as suas
nomenclaturas, bem como os seus benefícios para a saúde, os cuidados
necessários para a segurança de sua prática, os tipos de fibras como as do tipo I e
IIa e IIb, as contrações musculares excêntricas, concêntricas e isométricas
realizadas nos exercícios.
As adaptações fisiologias como as diferentes orientações de força,
sendo elas a força máxima via neural ou pelo aumento de sua secção transversal, a
força explosiva e a resistência muscular local ou resistência de força, as endócrinas
e na composição corporal. Os testes de força máxima dinâmica como o de 1
repetição máxima para a elaboração das planilhas. O Culturismo e algumas das
características dessa árdua modalidade esportiva que tem a musculação como meio
de treinamento especifico, e as considerações na elaboração de programas
masculinos e femininos de musculação.
Enfim, a pesquisa procurará conceituar os Esteróides Anabolizantes
Androgênicos, o por que do uso dessas substâncias, como ela age no organismo e
quais os seus efeitos, as mais consumidas e conhecidas, o perfil dos usuários, o que
as pessoas pensam sobre essas drogas e como conseguem obtê-las, o uso
13

exagerado para fins estéticos, a falta de orientação, os prós e contras do consumo


abusivo e à longo prazo.
14

2. MUSCULAÇÃO
Chiesa (2002), diz que a musculação é um dos assuntos mais
abordados e discutidos pela literatura cientifica, e que nunca irá se esgotar as
possibilidades de se dirigir a tal assunto. Conceitua a musculação como sendo uma
atividade contra a resistência, com o objetivo de aprimoramento da qualidade física
de força muscular, realizado através de aparelhos, máquinas e pesos livres.
O autor destaca também que o aprimoramento da força muscular
realizada através da musculação, só é possível graças a grande capacidade de
adaptação do sistema neuromuscular. Já que a musculação é um meio de se levar
tal sistema a uma situação de “Stress” induzido, para haver posteriores adaptações
a essa situação, e que essas adaptações ocorrem de diferentes modos variando de
pessoa para pessoa, devido as individualidades genéticas de cada individuo.
Segundo Fleck; Figueira Junior (2003), a supervisão e coordenação de
um profissional competente da área é muito importante quando se fala em
musculação, logo, ele deve ter consciência quanto a estrutura corporal e dos
potenciais fisiológicos dos alunos submetidos a programas sobre o seu controle, e
também deve conhecer os meios e métodos mais eficazes para desenvolve-los.
Eis algumas das considerações sobre a importância do profissional da
área na supervisão de um programa de musculação:
A conscientização e o conhecimento dos profissionais atuantes no
campo da atividade física, são imposições dos mecanismos
biológicos de seus educandos. Atualmente não basta apenas
executar rotinas de treino, deve-se controlar, conduzir o treinamento,
o mais perto possível dos princípios estabelecidos na teoria cientifica,
e coloca-los em pratica racionalmente (CHIESA, 2002, p. 27).

Novamente com base em Chiesa (2002), vale-se destacar a


importância do conhecimento das nomenclaturas teóricas para se entender os
programas de musculação. Os porcentuais de carga correspondem à quantidade de
peso utilizado num determinado exercício; os grupos musculares e sets são a
seqüência em que será realizado os exercícios, primeiro os bi-articulares e depois os
mono-articulares, as séries são quantas vezes será realizado o exercício, as
repetições são quantos movimentos serão executados dentro da série, e os
15

intervalos são o tempo de recuperação após o esforço, que devem ser específico
dentro da características do treinamento, para que se ocorram os benefícios e
efeitos desejados.

2.1 Os Benefícios da Musculação

Os benefícios de um programa de musculação são inúmeros e


extensos, principalmente quando falamos de aptidão física.
A musculação é um método efetivo para o desenvolvimento
músculo-esquelético, sua prescrição é voltada para o
desenvolvimento da aptidão física, favorecimento da saúde e
prevenção e reabilitação de lesões ortopédicas. A importância do
treinamento de força deve-se ao fato de que este é um componente
integral na compreensão de um programa de saúde: American
College of Esports Medicine, American Heart Association, Centers of
Disease Control and Prevention e US Surgeon General s Office
(MOTA; LAMONIER; GUERRA; AMÉRICO; HENRIQUE, 2002, p. 1).

Nesse sentido, com base em Mota; Lamonier; Guerra; Américo;


Henrique (2002), cabe-se ressaltar de que a musculação não se trata de uma
modalidade esportiva, e sim um meio de preparação física, usado na preparação de
atletas profissionais e de pessoas que buscam aprimoramento das suas qualidades
físicas. Como dito acima, a musculação promove inúmeros benefícios para os seus
praticantes.
Fleck; Figueira Junior (2003), afirmam que talvez o mais importante
deles, seja o aprimoramento da força muscular, ou seja a capacidade de contração
do músculo, logo é através de movimentos que necessitam de níveis de força, que
realizamos as tarefas de nosso cotidiano no dia-a-dia, por isso a necessidade de
possuirmos bons níveis de força, e resistência para realizarmos essas tarefas da
melhor maneira possível sem nos cansarmos ao realizar apenas um movimento
simples, e chegando ao final do dia dispostos e não esgotados e com altos níveis de
“Stress” físico e mental.
Mota; Lamonier; Guerra; Américo; Henrique (2002), em seus estudos
afirmam, que além do aumento dos níveis de força, sendo ele através da capacidade
de contração ou da hipertrofia muscular, a musculação também promove o aumento
e a densidade mineral da massa óssea, por isso a importância da musculação na
prevenção de algumas doenças crônicas como a osteoporose, que ocorre mais em
16

pessoas idosas. A flexibilidade também é aprimorada com a musculação,


aumentando e melhorando a amplitude das articulações musculares, assim a
pessoa poderá realizar movimentos maiores e mais precisos em suas tarefas do dia-
a-dia sem grandes esforços.
Com isso, através desses autores, podemos destacar que um
programa de musculação bem elaborado pode aumentar significativamente a
qualidade de vida das pessoas. Outro benefício bastante procurado pelas pessoas
interessadas em treinamentos com pesos, é o estético, a melhora da aparência
física. Por que a musculação, é talvez o meio mais eficiente de se promover
alterações na composição corporal. Através do aumento da massa muscular que
ocorre com o treinamento de força, e também pela diminuição do decido adiposo,
que ocorre graças ao aumento do metabolismo basal, devido as alterações na
estrutura corporal. Com isso a pessoa passa a gastar mais calorias diariamente e o
seu organismo passa a usar o tecido adiposo sub-cutâneo como fonte de energia.
Outra colocação importante levantada por Mota; Lamonier; Guerra;
Américo; Henrique (2002), é a afirmação de que após um exercício aeróbio, o
metabolismo basal volta à situação de repouso minutos após o final do esforço,
portanto promovendo gastos calóricos apenas em seu ato. Mas ficando ativo por
horas depois dos exercícios com pesos, o que acaba promovendo grandes gastos
calóricos mesmo depois de terminada a sessão, e que dependendo do balanço
diário calórico, levará conseqüentemente a perda de gordura corporal e definição
muscular no corpo do individuo.
Os autores ainda ressaltam que por se tratar de uma prática de grande
mobilização dos recursos energéticos, neuromusculares, articulares e tendíneos do
organismo devido a sua complexidade, a musculação possui alguns cuidados
imprescindíveis, que serão vistos no próximo tópico.

2.2 Cuidados com a Musculação

Chiesa (2002), descreve a importância da segurança ao se executar


uma sessão de musculação, ao se executar exercícios, séries e repetições, é de
crucial importância a técnica de execução, a postura correta, a amplitude correta dos
movimentos, o uso de cintos de segurança na região dos quadris em exercícios mais
17

complexos como no agachamento com barra e no levantamento terra, cuidado com


as presilhas para prender as anilhas, local com espaço adequado, ajuda de
terceiros, hidratação. No caso de alunos menos experientes ou iniciantes esses
cuidados devem ser de responsabilidade do professor, que deve conhecer a
biomecânica e a fisiologia dos exercícios propostos, e orientar o aluno quanto ao
perigo de lesões causadas por exercícios realizados de forma errônea,
principalmente nos exercícios realizados com pesos livres e altas cargas.
O mesmo autor também descreve a importância do aquecimento
preliminar numa sessão de musculação, que deve ser realizado em forma de
exercícios estáticos (alongamentos) e dinâmicos (5min. esteira ou bicicleta), e
realizando repetições dos exercícios propostos com metade da carga que será
utilizada, com o objetivo de ativação neuromuscular, dos ligamentos e articular, para
preparar fisiologicamente e biomecanicamente o organismo do aluno para a sessão.
Outro fator muito importante que nunca deve ser esquecido ao se
iniciar um programa de musculação, é a avaliação física e médica.
Fleck; Figueira Junior (2003), apontam a importância desse tipo de
avaliação. A médica deve ser realizada por um profissional da área de medicina
esportiva que fará exames necessários e específicos para avaliar a saúde do aluno,
se houver algum tipo de anomalia ou patologia o programa deverá ter restrições. A
avaliação física será feita pelo professor de musculação, através de medidas das
variáveis antropométricas, perguntas sobre o seu estilo de vida e sobre históricos de
doenças na família, e alguns testes de esforço. Através dessas informações o
programa será prescrito de acordo com as individualidades do aluno, e os objetivos
desejados por ele. As avaliações devem ser refeitas após algum tempo de
treinamento, para serem verificados os progressos, e estipular ajustes no programa
de musculação, para posteriores evoluções e para evitar que o aluno entre em
Overtraining.
O Overtraining apresenta diversos sintomas, todos decorrentes do
treinamento sem controle e em excesso.
A síndrome de Overtraining tem sido associada à diminuição da
performance, fadiga persistente, distúrbios do sono, alterações do estado
de humor e da freqüência cardíaca e depleção dos estoques de glicogênio
muscular. Esses sintomas assemelham-se, em grande parte, àqueles
causados por alterações da concentração de serotonina no SNC, uma vez
que a modulação da serotonina relaciona-se diretamente com a regulação
da dor, comportamento alimentar, humor, fadiga e sono (ROGERO;
MENDES; TIRAPEGUI, 2005, p. 4).
18

Rogero; Mendes; Tirapegui (2005), destacam em seus estudos que é


bastante difícil se determinar apenas um fator desencadeante do Overtraining, pois
este trata-se de um processo multifatorial como visto acima. Por isso a importância
da orientação de um profissional competente da área na supervisão de alunos que
treinam com pesos, para se prevenir esta síndrome, que dependendo dos casos,
pode-se levar de 6 meses a 1 ano para a recuperação completa do individuo, por
causa da fadiga extremamente crônica das fibras I e II, o que torna a contração
muscular ineficiente na execução dos exercícios.

2.3 Tipos de Fibra e de Contração Muscular

Conhecer os diferentes tipos de fibras musculares que possuímos é de


suma importância na elaboração de um programa de musculação. Dentro desse
raciocínio, Bucci; Vinagre; Campos; Curi; Pithon-Curi (2005), caracterizam as fibras
musculares como sendo do Tipo I, IIa e IIb.
Segundo esses autores, as fibras do Tipo I (vermelhas), são as fibras
de contração lenta, com grande número de mitocôndrias, bastante vascularizadas,
alto poder oxidativo, e grande resistência a fadiga. Esse tipo de fibra responde
melhor ao treinamento de caráter aeróbio e de longa duração. Mas também é
bastante solicitada nos trabalhos de força, como a musculação.
Powers; Howley (2000), descrevem as fibras do Tipo IIa e IIb (brancas),
como sendo de contração rápida, pequeno número de mitocôndrias, pouco
vascularizadas, baixo poder oxidativo, e média (IIa) ou pouca (IIb) resistência a
fadiga. Essas fibras são solicitadas nos treinamentos anaeróbios (láticos e aláticos),
de alta intensidade e curta duração, como nos métodos intervalados do treinamento
de força, a utilização de ATP+CP como fonte de energia é mais solicitado nesses
tipos de fibras.
Os mesmos autores conceituam as unidades motoras como sendo um
conjunto de fibras (I ou II), inervadas por uma mesmo moto-neurônio, possuindo um
determinado limiar de excitabilidade, que podem ou não ser solicitadas em uma
19

contração, dependendo da intensidade da tensão exercida pelo grupo


neuromuscular.
Embora as fibras do tipo I sejam menos suscetíveis ao treinamento de
força, como o de hipertrofia muscular. A evidências sobre as mudanças estruturais
das fibras do tipo I em decorrência do treinamento de força.
Essa afirmação é reforçada por Bucci; Vinagre; Campos; Curi; Pithon-
Curi (2005), que constataram através de suas pesquisas, que após um treinamento
de força intenso ocorre-se o aumento da secção transversal dos 3 tipos de fibras
(tipo I, IIa, e IIb). Assim chegaram à conclusão de que as fibras do tipo I também
demonstram hipertrofia significativa em razão dos estímulos impostos pelo
treinamento de força, mas não tanto quanto as do tipo II.
Esses 3 tipos de fibras são as responsáveis pelas contrações
musculares que são executadas numa sessão de musculação. Powers; Howley
(2000), dizem que essas contrações podem ser isométricas, contração sem que se
haja alongamento ou encurtamento do músculo, onde a tensão é igual à resistência.
Concêntricas, contração no qual à encurtamento do músculo, e que a tensão
exercida é maior que a resistência externa. E excêntricas, contração onde ocorre
alongamento do músculo, porque a tensão exercida é menor que a resistência
externa. Portanto esses 3 tipos de contração musculares, são as responsáveis pela
execução dos movimentos dos exercícios numa sessão de musculação, para que se
haja as adaptações fisiológicas previstas e desejadas pelos treinadores e seus
alunos.

2.4 Adaptações Fisiológicas ao Trabalho de Musculação

Como já foi dito antes, agora com referência em Pereira; Souza;


Mazzuco (2003), a Musculação é um excelente meio de indução do organismo a
adaptações fisiológicas de diferentes orientações. Apresentando excelentes
resultados tanto em pessoas normais que procuram melhorar a sua qualidade de
vida, melhorar a aparência física, e tanto para a preparação geral de atletas de alto
rendimento. Falemos um pouco agora sobre essas adaptações, ainda com
20

referência em Pereira; Souza; Mazzuco, (2003), que se resumem em adaptações


neurais, contrateis, endócrinas, e da composição corporal.
Adaptações neurais; os autores citados acima afirmam que os
primeiros ganhos de uma pessoa que está praticando treinamento de força com
pesos são os neurais, ou seja, ocorre-se melhoras na capacidade de contração do
músculo, do recrutamento e sincronização de unidades motoras, melhora da técnica
de execução como a inibição dos antagonistas em relação aos agonistas, levando
ao aumento da sua força muscular. O que leva a pessoa as primeiras adaptações
induzidas pela musculação, por volta da sexta até a oitava semana de treinamento,
variando de pessoa para pessoa.
Adaptações contrateis; Pereira; Souza; Mazzuco (2003), descrevem
que a hipertrofia muscular só é possível através de um balanço nitrogenado positivo,
ou seja, a ingestão de proteínas deve ser maior que a degradação, ocorrida no
treino. Por exemplo, o treino de hipertrofia muscular leva a um intensa degradação
de proteínas contrateis no músculo, onde constata-se uma maior degradação na
fase excêntrica da contração muscular, por isso a importância dessa fase ser mais
lenta que a concêntrica nos trabalhos de hipertrofia muscular. Com isso a
alimentação se torna importante, para garantir uma super-compensação de
proteínas contrateis na fase de repouso e recuperação, e teoricamente promovendo
a hipertrofia muscular, um tipo de adaptação fisiológica crônica.
Adaptações endócrinas; Os autores através de seus estudos com a
Musculação, destacaram também as diversas adaptações ocorridas no aparelho
endócrino do organismo. Como o aumento da secreção de hormônios anabólicos,
como a testosterona, que é o hormônio sexual masculino, portanto mais presente
nos homens, mas também presente nas mulheres, só que em quantidades muito
inferiores. E também hormônio do crescimento, que aumenta tanto em homens
quanto em mulheres, porém nota-se maiores aumentos nas mulheres.
“Estes achados apontam para o GH como o principal hormônio indutor
do anabolismo muscular em resposta ao treinamento de força em mulheres”.
(PEREIRA; SOUZA; MAZZUCO, 2003, p. 4). A secreção de insulina, outro hormônio
anabólico, responsável por levar a glicose da corrente sanguínea para o interior dos
músculos também aumenta em homens e mulheres.
Porém, os autores destacam também que o trabalho de musculação
aumenta a secreção de hormônios catabólicos, como o cortisol. Que se trata de um
21

hormônio que é secretado em situações de “stress”, já que a musculação se trata de


uma atividade no qual se induz os músculos a tal situação. Esse hormônio age tanto
no catabolismo protéico como na inibição da síntese protéica. Valendo-se lembrar
que a secreção desses hormônios varia de pessoa para pessoa de acordo com as
suas individualidades genéticas e sexo.
Adaptações na composição corporal; Para Guimarães Neto (2003),
esse tipo de adaptação é bastante expressivas em quem prática trabalho com
pesos, como o aumento da massa muscular magra, e a diminuição da gordura sub-
cutânea, levando a diminuição da porcentagem de gordura corporal (dois dos
principais objetivos dos praticantes de musculação). Graças a ação dos hormônios
anabólicos, e pelas alterações no metabolismo basal, devido ao aumento da massa
muscular.
No próximo tópico será estudado os testes de força, para se
determinar a intensidade das cargas, variável importante para que se ocorra as
adaptações citadas acima.

2.5 Testes de Força

Segundo, Simão; Cáceres; Burguer; Kovalczyk; Lemos (2006), as


rotinas de treinos de musculação realizados sistematicamente e bem estruturada,
resultam em grande aprimoramento das qualidades físicas de força. E que a
intensidade, porcentagem em relação à força máxima dinâmica, também chamada
de porcentagem de 1 repetição máxima é uma das variáveis mais importantes na
construção de programas de musculação. Esse tipo de teste é bastante utilizado no
meio cientifico, pois se trata de um teste não muito complicado de se realizar, mas
um pouco demorado, servindo como parâmetro para se identificar o nível máximo de
força de um determinado grupo muscular, e a porcentagem da carga em relação ao
100% realizados nos exercícios.
Esses autores já citados, salientam que esse tipo de teste de força só
deve ser realizado com alunos experientes e preparados. Com bons níveis de força
e adaptações fisiológicas em razão da musculação, do contrario pode causar lesões
em alunos novatos, com pouca experiência, e com baixo nível de adaptação ao
22

trabalho de força. Logo, esses testes exigem técnicas precisas e intensas de


execução. O teste consiste por um aquecimento de mais ou menos 15 repetições
sem grande esforço realizados pelo grupo muscular que será avaliado, em seguida
após um intervalo o aluno deverá executar uma repetição do exercício, com barras
livres ou em aparelhos específicos. A medida em que o aluno for vencendo a
resistência, adiciona-se mais peso, com intervalos de 3 a 5 minutos, até o aluno não
conseguir realizar o movimento. Chegando-se a obtenção do valor de 100% de 1
repetição máxima dinâmica.
Contudo, Dias; Cyrino; Salvador; Caldeira; Nakamura; Papst; Bruna;
Gurjão (2005), afirmam em seus experimentos que para o teste de 1 repetição
máxima ser preciso quanto a análise dos níveis de força, é aconselhado uma
familiarização ao teste, mesmo em alunos experientes e com mais de 6 meses de
treinamento com pesos. E que esta familiarização consiste na realização de mais ou
menos 3 sessões de testes com 48-72 horas de intervalo, principalmente para os
grandes grupos musculares, para o aluno se acostumar e se adaptar a esse tipo de
esforço. Para a avaliação ser mais adequada e precisa quanto ao nível de força
muscular avaliado.
“A familiarização previa com testes de um 1 repetição máxima, é de
extrema importância para a analise da força muscular, também, em indivíduos com
experiência prévia em exercícios com pesos” (DIAS; CYRINO; SALVADOR;
CALDEIRA; NAKAMURA; PAPST; BRUNA; GURJÃO, 2005, p. 37).
Através deste tópico, ficou evidente a importância do teste de uma
repetição máxima para se trabalhar as diferentes variáveis de força de forma correta.
Essa variáveis serão vistas e listadas abaixo.

2.6 Como Trabalhar a Força na Musculação

Antes de se começar um trabalho para o aperfeiçoamento das


capacidades de produção de força, vale-se lembrar da importância de se realizar
primeiro um trabalho de adaptação:
O principio da fase de adaptação deve estar relacionado com o
incremento progressivo da capacidade de produzir força, o que se dá
pelo aumento do coeficiente de utilização da força para executar os
23

elementos fundamentais da atividade. Durante essa fase, aos


poucos, são aprimoradas as estruturas dinâmica e cinemática dos
movimentos, e a técnica corresponde melhor ao nível de força. Essa
fase pode durar de três a quatro semanas (PLATONOV, 2004, p.
310).

Em sua obra, Platonov (2004), descreve que para se aumentar os


níveis de força máxima, que é a capacidade de um determinado grupo muscular de
vencer uma resistência externa. Pode ser, sem o aumento do diâmetro muscular.
Através dos mecanismos neurais, ou seja aprimoramento da impulsão nervosa e
coordenação intra-muscular e inter-muscular, e aumento da capacidade e da
potência do metabolismo alático de produção de energia. Ocasionando um maior
recrutamento de unidades motoras das fibras musculares, tanto as rápidas do tipo II
(a e b), quanto das lentas (tipo I). E também aumentando as reservas de ATP+CP
nos músculos, e as possibilidades de decomposição e re-síntese de ATP.
Melhorando a capacidade de contração do músculo.
A magnitude da carga deve possuir as seguintes características de
intensidade, ritmo, repetições intervalos, séries e horas de repouso, segundo o autor
citado acima:
A intensidade é caracterizada como máxima, com 85% a 100% e até
130% em métodos de trabalho excêntricos. O ritmo dos movimentos deve ser
moderado, pois o movimento deve ser executado o mais rápido possível, mas
devido as altas cargas o movimento se torna lento ou moderado. Poucas repetições,
entre 1 a 5, com intervalos longos entre 2 a 6 minutos, 4 a 5 series e 48-72 horas de
repouso entre uma sessão para o mesmo grupo muscular.
Já para o aumento da força máxima através do aumento do diâmetro
muscular, ou seja o volume muscular. Platonov (2004), descreve que o treino se
baseia em uma intensa depredação de proteína contrátil dos músculos durante a
sessão, para que teoricamente em repouso, após a sessão ocorra uma super-
compensação de proteína contrátil dos filamentos de actina e miosina das fibras,
através da alimentação. O que irá ocasionar o aumento do seu diâmetro (Hipertrofia
Muscular). Daí a necessidade de movimentos lentos nesse tipo de trabalho de força.
O treino deve seguir as seguintes recomendações:
Para o autor, a intensidade deve ficar em torno de 60% a 85% de
intensidade. O ritmo dos movimentos devem ser lentos, e a fase excêntrica deve ser
2 vezes mais lenta que a concêntrica, com repetições entre 6 e 12. Os intervalos são
24

entre 1 a 2 minutos, com 4 a 5 séries e 48-72 horas de repouso entre uma sessão
para o mesmo agrupamento muscular.
Ainda com base em Platonov (2004), para que o treinamento de força
visando o aumento do diâmetro muscular (hipertrofia), tenha resultados expressivos.
A sua organização racional se torna um item bastante importante, ou seja, as
planilhas devem conter sessões de no máximo dois a três grupos musculares, o
número de exercícios por grupo muscular, depende particularmente do nível do
aluno, indo de 1 até 5 ou 6. Realizado-os através de exercícios localizados
específicos para a musculatura de todo o corpo, como os ombros (músculos
deltóides), braços (bíceps, tríceps, braquial), ante-braço (extensores e flexores do
punho), peitoral (maior e menor), dorsais (trapézio, grande dorsal, redondo maior e
menor, serráteis anteriores), coxas (quadríceps, bíceps femoral), pernas
(gastrocnêmico, sóleo, tríceps sural), glúteos, abdominais (retos e oblíquos). Está
comprovado que dois treinos semanais para cada grupo muscular é o suficiente para
gerar as adaptações esperadas, já que após um treino de hipertrofia, o grupo
muscular trabalhado necessita de 48-72 horas de repouso, para aumentar os níveis
de adaptação e super-compensação esperados.
Outras considerações importantes relatadas por Platonov (2004), é
que quanto maior é o nível de adaptação, mais difícil é a obtenção de resultados,
por isso é conveniente depois de um determinado tempo, variar a estrutura do
treino, quanto aos exercícios e a magnitude das cargas. Para que o sistema
neuromuscular esteja em constante adaptação, e não se acomode perante os
exercícios. Logo, são as adaptações as responsáveis pelas melhoras nos níveis de
força e nas transformações corporais.
Badillo; Ayestarán (2001), relatam que a manifestação de força
explosiva, que é a possibilidade de se desenvolver força numa maior velocidade
possível, também pode ser aprimorada com a musculação. No entanto este tipo de
treinamento é remendado mais para atletas profissionais, que competem em
esportes que necessitam dessa variável de força bem desenvolvida. A magnitude
da carga é a seguinte:
Os autores recomendam que a intensidade deve ficar em torno do 60%
a 90%, com a observação de que os treinamentos de força explosiva com
intensidade próxima dos 90% é realizada apenas por atletas altamente qualificados
e de nível olímpico. O ritmo dos movimentos são máximo-explosivo, com 6 a 12
25

repetições. Os intervalos são entre 3 a 10 minutos, dependendo da intensidade da


carga. 3 a 5 séries com 48-72 horas de repouso entre as sessões para o mesmo
grupo muscular.
Mais uma vez citando Badillo; Ayestarán (2001), a variável resistência
de força, ou resistência muscular local também pode ser trabalhada e aprimorada
através da musculação. Com o objetivo de melhorar a resistência em situações de
fadiga do grupo muscular trabalhado, e para definição muscular, caracterizado como
um misto “aeróbio-anaeróbio”. Esse tipo de treinamento também pode ser usado
como base para métodos de treino posteriores (de F. Máx., Hipertrofia, F.
Explosiva). A magnitude da carga é a seguinte:
Os autores prescrevem este tipo de treinamento com uma intensidade
entre 30% e 70%, com movimentos moderados e 8 a 20 repetições. Os intervalos
são de 30 segundos a 1 minuto, com 4 a 5 series. Já os intervalos de repouso entre
uma sessão para o mesmo agrupamento muscular são de 48-72 horas.
O conhecimento das diferentes variáveis de se trabalhar a força com a
musculação deve ser conhecida pelos técnicos e treinadores, principalmente os que
trabalham com atletas culturistas, mais conhecidos como fisiculturistas.

2.7 Culturismo

Quando falamos em Musculação e treinamento de força, é inevitável


não citar o culturismo ou fisiculturismo. Em sua conceituada obra sobre o
treinamento esportivo, Platonov (2004), dedica algumas páginas sobre esta
polêmica modalidade esportiva, pois muitos não consideram o culturismo como tal
modalidade. Diz ser o culturismo uma modalidade na qual o principal objetivo é o
excessivo aumento da massa muscular, que pode chegar a níveis de força e massa
muscular fora dos padrões e limites fisiológicos humanos.
O autor relata que o treinamento é feito de forma árdua e sofrível, onde
todos os grupos musculares são trabalhados proporcionalmente para que ocorra um
desenvolvimento harmonioso e sem desproporções, podendo levar décadas até que
se chegue em um nível adequado para as competições. Muitos fisiculturistas
26

chegam a tal nível depois de 15 a 20 anos de treinamento, competindo com idades


de 40 até 60 anos.
Em suas comparações, Platonov (2004), revela que o índices de
massa corporal e de força máxima dos fisiculturistas podem alcançar índices de
15%, até 100% maiores quando comparados com pessoas sedentárias.
O conceito de que a força máxima é proporcional a sua secção
transversal fica bastante clara no fisiculturismo.
A orientação da metodologia do culturismo para a “construção do
corpo” deixa o desenvolvimento da força em segundo plano. No
entanto, a existência de uma relação direta entre o volume muscular
e o nível de força máxima implica em alta produção de força por
parte desses desportistas. Basta verificar que são utilizadas cargas
altíssimas nos seus treinamentos: trata-se, por exemplo, de executar
agachamentos com barra e anilhas com cargas entre 320 e 350 kg,
supino com 200 a 240 kg; flexão plantar com 300 a 400kg, etc
(PLATONOV, 2004, p. 323).

O mesmo autor sugere que o treinamento dos fisiculturistas deve ser


organizado em macro-ciclos, de 1 até 2 ou 3 anuais de acordo com o número de
competições. E que estes macro-ciclos devem ser constituídos por 2 fases, a de
preparação e a de pré-competição. A de preparação se concentra exclusivamente
no treinamento de hipertrofia muscular, seguindo a parâmetros de magnitude das
cargas já explicadas neste estudo, e pela variação dos métodos de treino de força,
que não citarei neste estudo, pois esses métodos não possuem comprovação
cientifica sobre a sua eficácia e necessitam de mais estudos.
Guimarães Neto (2006), destaca também a super-alimentação
realizada pelos fisiculturistas nesta fase de treinamentos, para suprir a alta demanda
energética e para haver as super-compensações de proteínas e glicogênio, é normal
nesta fase o aumento também da gordura corporal, devido a alta ingestão calórica. A
fase de pré-competição se baseia no treinamento para definição muscular, a
ingestão calórica é baixíssima, as vezes até zerando a ingestão de carboidratos, o
treinamento possui as características de resistência muscular local, também citadas
neste estudo. Com o objetivo de manter a massa muscular adquirida e baixar os
índices de gordura sub-cutânea. Para se chegar nas competições com níveis de
gordura corporal em torno de 6% entre os homens, e 10% entre as mulheres, ou
menos.
27

O treinamento de uma fisiculturista mulher não difere do de um atleta


masculino, porem possui algumas considerações.

2.8 Considerações Sobre Programas Masculino e Feminino de Musculação

Após essa revisão literária sobre a musculação, abordaremos agora as


particularidades da Musculação feminina, igualmente importante e benéfica para
ambos os sexos. Em seus estudos, Sousa; Rosa; Barbosa Júnior; Vidal; Cunha;
Ramos; Balsamo (1999), afirmam que a grande maioria dos estudos referente à
musculação feminina está direcionada mais para a terceira idade do que para a
população jovem e adulta feminina. No entanto, os poucos estudos sobre a
musculação feminina, apontam que não existem diferenças quanto à elaboração de
um programa de treinamento de força direcionado tanto para os homens quanto
para as mulheres.
“Os efeitos produzidos pelo treinamento de força em mulheres e
homens são os mesmos para os ganhos de força. O treinamento de força é benéfico
para as mulheres como para os homens” (SOUSA; ROSA; BARBOSA JÚNIOR;
VIDAL; CUNHA; RAMOS; BALSAMO, 1999, p. 10).
Portanto, com base nos autores citados acima, pose-se afirmar que
tudo o que foi relacionado e conceituado nessa revisão literária, serve como
parâmetros para a prescrição de um programa de Musculação bastante eficaz para
ambos os sexos. As características fisiológicas da musculatura feminina, bem como
a porcentagem e distribuição de fibras rápidas e lentas é idêntica a do corpo
masculino, possuindo também individualidade genética que varia de uma mulher
para a outra, por isso o treinamento deve ser personalizado de acordo com as suas
características genéticas, como na masculina. Claro que a Musculação quando
elaborada para as mulheres possuem algumas particularidades, estamos dizendo
que a estrutura e o raciocínio são os mesmos.
Por exemplo, Sousa; Barbosa Júnior; Vidal; Cunha; Ramos; Balsamo
(1999), Dizem que há uma grande diferença quanto à quantidade de testosterona
secretada diariamente. O homem produz quase que 10 vezes mais do que as
mulheres, talvez por isso as mulheres cheguem a 2/3 da força total masculina,
quando comparados os níveis. Outra consideração importante é que as mulheres
28

progridem substancialmente até o 3º ou 5º mês de treinamento, e após esse período


os resultados não se alteram com a mesma intensidade vista nos homens.
Enfim, Guimarães Neto (2003), ressalta que um programa de
musculação elaborado para uma mulher, deve ter o mesmo raciocínio e estrutura
que o elaborado para os homens, claro que considerando as devidas proporções, e
respeitando as individualidades genéticas da mulher. Destaca também que a
atividade que produz resultados mais expressivos em termos de mudanças estéticas
no corpo feminino é a Musculação.
O autor citado acima diz que as mulheres possuem um pouco de receio
em praticar musculação, preferindo os treinamentos aeróbios. Quando se
matriculam em uma academia, acabam indo mais para as esteiras e bicicletas,
deixando a musculação em segundo plano, pois acham que o treinamento com
pesos é tarefa exclusivamente masculina e sob o receio de seu corpo se tornar
masculinizado. Por isso a conversa com um profissional competente se torna
importante, para que ele possa explicar que o seu corpo não irá se tornar masculino,
e sim um pouco mais forte, bonito e definido, sem perder as características
femininas, e orientar também sobre os inúmeros benefícios que a Musculação
proporcionará ao seu corpo, não somente em termos estéticos.
29

3. ESTERÓIDES ANABOLIZANTES ANDROGÊNICOS

3.1 Conceitos dos Esteróides Anabolizantes

Ribeiro (2001), Classifica os Esteróides como Androgênicos e


Corticóides. Os Corticóides são utilizados para o tratamento de problemas clínicos,
como os anti-inflamatórios e não possuem efeitos anabólicos, sendo eles a
prednisolona, cortisona, beclometasona, budesonide, dexa-metasona, entre outros.
Sendo usados somente em tratamentos médicos, como anti-inflamatórios e para
reabilitações.
Entre os Esteróides Androgênicos, podemos citar a Testosterona,
hormônio sexual masculino, secretado pelos testículos e proveniente do colesterol.
A Testosterona, hormônio secretado pelas células de Leydig
presente nos testículos, é parte do grupo de Esteróides
denominados de Androgênicos. Nas mulheres, pequenas
quantidades de Testosterona são sintetizadas pelos ovários e pelas
supra-renais. A sua biossíntese começa com o colesterol (figura 1),
e segue a via comum para a biossíntese Esteróide (figura 2)
(ARAÚJO, 2003, p. 7).

Braga (2005), diz que na fase fetal, a Testosterona já age no


organismo das pessoas. Desenvolvendo os caracteres secundários do bebê, como a
formação do pênis, da bolsa escrotal, e da glândula prostática, em lugar do clitóris e
da vagina. O que acaba por suprimir a formação das características secundárias
femininas e gerando uma criança do sexo masculino.

Figura 1 – Representação da Molécula de Colesterol, cuja estrutura é a base de


todos os Hormônios Esteróides. (ARAÚJO, 2003, p. 15).
30

Figura 2 – Principais vias para a Biossíntese da Testosterona. (ARAÚJO, 2003, p.


15).

Araújo (2003), também cita a 5 α-diidrotestosterona (DHT), a


desidroepiandrosterona (DHEA), androstenediona, como outros exemplos de
Esteróides Androgênicos, com efeitos similares e agindo em conjunto com a
Testosterona.
31

Novamente com base em Ribeiro (2001), os Esteróides Androgênicos


são os responsáveis pelas características sexuais secundarias masculinas, sendo
elas a calvície, pêlos no rosto, voz grossa, maior massa muscular que as mulheres,
pele mais grossa, maturidade dos genitais. Já na puberdade, os Androgênicos são
os responsáveis pela produção da acne, comum nessa fase, e do desenvolvimento
em termos de comprimento e diâmetro do pênis e dos testículos.
As diferenças quanto à quantidade de Testosterona secretada
diariamente entre homens e mulheres são relevantes.
“A produção normal no homem adulto é de cerca de 4 a 9mg por dia,
que pode ser aumentada pelo estimulo do exercício pesado. As mulheres produzem
somente 0,5mg de Testosterona por dia” (RIBEIRO, 2001, p. 99).
Contudo, uma das características mais importantes relacionadas à
Testosterona, é a do volume muscular quando comparados homens e mulheres.
Uma das características masculinas mais importantes consiste no
desenvolvimento de maior musculatura após a puberdade,
resultando em aumento médio de cerca de 50% da massa muscular
em relação à mulher. Essa maior musculatura está associada ao
aumento de proteínas em outras partes do corpo (BRAGA, 2005, p.
23).

Segundo Silva; Danielski; Czepielewski (2002), além de promover o


aumento da massa muscular, a Testosterona é responsável por outros efeitos
anabólicos, tais como o aumento da concentração de hemoglobina plasmática,
aumento do hematócrito, maior retenção de nitrogênio, diminuição da gordura
corporal e maior decomposição de cálcio na massa óssea.
Toledo (2005), cita o Hormônio do crescimento (GH – Growth
Hormone), como um outro exemplo de Esteróide Anabolizante, exercendo também
diversos efeitos metabólicos no organismo humano. Os principais efeitos são o
aumento da síntese protéica em todas as células corporais, grande mobilização do
tecido adiposo como fonte de energia, o que ocasiona expressiva definição corporal
e emagrecimento, redução da utilização de glicose, o que acaba por ocasionar uma
grande utilização dos ácidos graxos e conserva dos estoques de glicogênio
muscular e hepático.
Canali; Kruel (2001), relatam que o GH também promove a estimulação
da reprodução celular (crescimento tecidual), e crescimento das cartilagens e dos
ossos. E afirmam que quanto mais intensa for a sessão de Treinamento, maior será
32

a secreção de GH, como exemplo de uma sessão intensa, podemos citar um treino
de força através da Musculação.
Ainda dentro dessas reflexões, os autores ressaltam que o GH só
poderá cumprir a sua função adequadamente, se acompanhado de uma dieta rica
em proteínas e sono adequado. E que o seu uso exagerado por aplicações pode
causar um crescimento em demasia da espessura dos ossos, e também a secreção
extra de insulina, além de diversos efeitos colaterais que serão estudados mais
adiante.
Outro hormônio bastante importante para o metabolismo e também
com grandes propriedades Anabólicas é a Insulina. O conceito desta segundo
Guimarães Neto (2006), é o seguinte:
A insulina é um hormônio produzido no pâncreas, sendo o hormônio
regulador do metabolismo energético mais importante do organismo.
Exerce múltiplas ações sobre o metabolismo e crescimento celular. A
insulina transporta proteínas (aminoácidos), e carboidratos (glicose)
para varias células do corpo (GUIMARÃES NETO, 2006, p. 57).

O autor também diz que a insulina é secretada em situações na qual


ocorre-se aumento da concentração de glicose no sangue, devido a ingestão de
alimentos ricos em açúcar. E que a quantidade secretada é diretamente proporcional
a quantidade e ao tipo de alimento ingerido, para o controle da glicemia plasmática.
Guimarães Neto (2006), afirma que a insulina também apresenta
propriedades Anabólicas por aumentar o transporte de aminoácidos para dentro dos
músculos, e Anti-Catabólicas por evitar e prevenir a quebra de proteínas intra-
musculares, além do transporte de glicogênio também para o interior dos músculos.
Por isso a insulina é considerada responsável pela criação de um bom ambiente
metabólico e importante para o crescimento e reparação tecidual, sendo um
hormônio importante para a recuperação muscular após esforços físicos, como uma
sessão de Musculação.
Contudo, até agora falamos dos Anabolizantes que são secretados de
forma natural, responsável pela manutenção das funções do organismo humano, o
próximo assunto destacará os Esteróides Anabolizantes Androgênicos sintéticos e
criados em laboratório para consumo oral ou por aplicação intra-muscular.

3.2 O Surgimento dos Esteróides Anabolizantes Sintéticos


33

Sabino (2004), diz que os Esteróides Anabolizantes sintéticos surgiram


no final do século XI, e inicio do século XX, através de pesquisas farmacêuticas. O
pesquisador retirava uma “espécie” de líquido dos testículos dos animais, onde
esses líquidos segundo o cientista aumentavam os níveis de força e energia das
pessoas envolvidas em seus experimentos, ou seja, das suas “cobaias humanas”,
mais tarde essas experiências foram consideradas a matriz da endocrinologia
moderna.
Em seus estudos, o autor classificou esses “líquidos” como hormônios.
Daí diversos outros cientistas começaram a realizar esses experimentos, retirando
substâncias dos testículos de animais, principalmente de touros, onde todos esses
pesquisadores chegaram à mesma conclusão; a de que a aplicação dessas
substâncias provocara o aumento dos níveis de força e resistência muscular em
humanos.
Ainda com base em Sabino (2004), após essas descobertas, muitas
outras experiências e pesquisas nessa área foram realizadas, com o objetivo de
aprimoramento e melhor conhecimento das propriedades “benéficas” que essas
substâncias causavam no organismo humano. Finalmente em 1935 uma forma
sintética da testosterona foi produzida por cientistas Alemães, que fora chamado de
“Uma método de preparação da testosterona a partir do colesterol”, logo essa nova
formula começou a ser fabricada e comercializada pelas industrias que financiaram
a pesquisa.
Em seus estudos, Ribeiro (2001), e Araújo (2003), relatam que foram
sintetizadas diversas drogas a partir da base da Testosterona natural, e que essas
são classificadas como os Esteróides Corticóides, já citados no inicio deste tópico, e
os Esteróides Anabolizantes Androgênicos. Que foram criadas inicialmente para uso
médico, para o tratamento de doenças como hipogonadismo, câncer de mama,
queimaduras, AIDS, insuficiência renal, entre outras. Mais tarde veio a idéia da
utilização desses hormônios em atletas, com o objetivo de aumentar a performance
destes nas praticas esportivas, e também para fins estéticos, devido aos seus
efeitos Anabólicos.
Daí o comércio dessa nova substância se tornou popular em todo o
mundo.
A partir de então, o mercado do uso de testosterona sintética e
seus derivados cresceu tanto para usos medicinais quanto estéticos;
34

ainda mais após 1940, ano em que Charles Kochakian descobriu as


características anabólicas da testosterona, ou seja, a facilidade de
crescimento muscular possibilitado pelo uso desta (SABINO, 2004,
p. 70).

Agora com base em Silva; Danielski; Czepielewski (2002), após os


anos 50, os Esteróides Anabolizantes sintéticos passaram a ser utilizados por
Fisiculturistas amadores e profissionais com o objetivo especifico de potencializar os
ganhos de força máxima e hipertrofia muscular. Nos anos 60, essas substâncias
passaram a ser consumidas por atletas de outros esportes, inclusive atletas
olímpicos do leste da Europa e China, o que conseqüentemente levou esses atletas
à conquistarem muitas medalhas nos jogos.
O autor afirma que somente nos anos 70, o comitê olímpico começou a
implementar técnicas e exames para se detectar a presença dessas substâncias no
organismo dos atletas, chamando-as de doping. O objetivo desse tipo de exame era
banir tais usuários dos jogos olímpico, sob a alegação de comportamento anti-
desportivo.
O conceito de doping segundo o Comitê Olímpico Internacional é o
seguinte:
Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), doping é definido
como o uso de qualquer substância endógena ou exógena em
quantidades ou vias anormais com a intenção de aumentar o
desempenho do atleta em uma competição. Juntamente com os 2-β-
agonistas, os Esteróides Anabolizantes Androgênicos pertencem à
classe dos agentes anabólicos, que somados a estimulantes,
narcóticos, diuréticos e hormônios peptídicos, glicoprotéicos e
análogos, compõem as substâncias proibidas no esporte, segundo o
COI (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002, p. 2).

Através dos estudos de Silva; Danielski; Czepielewski (2002),


podemos dizer que o doping nos esportes, se tornou um complicado problema para
as autoridades esportivas, pois cada vez mais os laboratórios estão criando e
produzindo substâncias dopantes cada vez mais sofisticadas e indetectáveis nos
exames, criando “super atletas” artificiais com performances monstruosas, que não
respeitam o espírito de competição do esporte e dos jogos olímpicos. Talvez este
tipo de comportamento ocorra devido à excessiva “pressão” imposta pelos
patrocinadores desses atletas que exigem ver a sua marca estampada nos pódios
dos jogos mundiais e nas olimpíadas.
35

Agora voltando a falar em estética, o aumento da massa muscular e a


definição muscular são os efeitos mais desejados pelos praticantes de Musculação e
usuários de Esteróides Anabolizantes Androgênicos.

3.3 Efeitos Esperados, Drogas mais Utilizadas e Ciclos

Silva; Danielski; Czepielewski (2002), afirmam em suas pesquisas, que


os principais mecanismos de ação do Esteróides Anabolizantes Androgênicos
quando administrados oralmente o por via intra-muscular, são o aumento da massa
muscular devido a maior síntese protéica, e da retenção de nitrogênio como já
classificado neste estudo. Também agem aumentando a agressividade, a motivação
e promovendo o efeito placebo no usuário.
Wilmore; Costill (2001), definem o efeito placebo, “O fenômeno pelo
qual as suas expectativas de uma substância determinam a resposta do seu
organismo a ela é conhecido como efeito placebo” (WILMORE; COSTILL, 2001, p.
413).
Os autores também procuram explicar como ocorre tal fenômeno em
nosso organismo.
Embora o efeito placebo tenha uma origem psicológica, a resposta
física do organismo a um placebo não e meramente imaginaria: ela é
bem real. Isso ilustra claramente quão eficaz o nosso estado mental
pode ser na alteração do nosso estado físico (WILMORE; COSTILL,
2001, p. 414).

Outra colocação que vale destaque levantada por Silva; Danielski;


Czepielewski (2002), é que a eficácia e o mecanismo dessas drogas como agente
anabólico e de produção de energia permanecem sem comprovação, ou seja, são
ainda de uma natureza incerta para a ciência médica.
Em um estudo realizado por Guerra; Bion; Almeida (2005), entre
praticantes de musculação e fisiculturismo, foram levantadas as drogas mais
utilizadas e conhecidas por esses usuários.
Os autores, através da sua pesquisa, entraram em contato com o
nome e o principio ativo dos Esteróides Anabolizantes Androgênicos e β-2-Agonista
mais utilizados por praticantes de Musculação Atlética (Fisiculturismo). Onde as
mais conhecidas e utilizadas são a Deca-Durabolin, a Durateston, o Winstrol, e o
36

Hemogenin. Destacando ainda que são utilizadas de acordo com a fase do


treinamento, sendo ela a de ganho de massa muscular ou definição, valendo-se
dizer que essas drogas são muitas vezes ministradas de 1 até 3 o 4 para
potencializar os resultados, e também pelo uso de substâncias veterinárias
excessivamente tóxicas ao organismo humano.
Guerra; Bion; Almeida (2005), classificam a Deca-Durabolin
(Decanoato de Nandrolona), utilizada para ganho de massa muscular, o winstrol
(Estanozolol), utilizado para definição muscular e pequeno ganho de massa
muscular, a Durateston (Fenil Propionato de Testosterona), para ganho de massa e
definição muscular, a Depo-Testosterona ou Deposteron (Cipionato de
Testosterona), para médios índices de ganho de massa e definição muscular, a
Androlan (Propionato de Testosterona), para pequenos ganhos de hipertrofia
muscular, Anabolin (Dianabol), também para pequenos índices de hipertrofia e
definição, e o β-2-Agonista (Clembuterol), que se trata de um bronco dilatador
utilizado por pessoas asmáticas, e que no mundo das drogas Anabólicas, é usado
para a obtenção exclusivamente de definição muscular.
Os autores desconhecem de que maneira essas pessoas leigas
chegaram à conclusão de que o medicamento Clembuterol promove a perda de
gordura corporal, talvez através de excessivas experiências de auto-medicação, que
muitas vezes podem levar as “cobaias” a morte.
Uma droga que merece destaque dentre as muitas utilizadas no meio
não saudável da Musculação é o Hemogenin.
Hemogenin: (Oximetolona). Tida como a mais perigosa de todas as
drogas conhecidas pelos fisiculturistas. Mesmo assim é muito usada,
pois ocasiona um rápido ganho de força e volume muscular, porém
apresenta a tendência de produzir rápida toxidade hepática,
hipertensão e câncer (SABINO, 2004, p. 101).

Araújo (2003), classifica o Anabolicum Vister (Quimbolona), o Anavar


(Oxamdrolona), Androxon (Undecanoato de Testosterona), Gabormon (GABA e
Mitiltestosterona), Gerosenil (Metiltestosterona), Proviron (Mesterolona),
Testiormina, como nome e principio ativo respectivamente de outras drogas
encontradas no mercado utilizadas por praticantes de Musculação. A informação
sobre em qual fase do treinamento essas substâncias são utilizadas, sendo ela de
hipertrofia ou definição muscular não foi apresentada por este autor, ao contrario do
autor citado no parágrafo anterior.
37

Os autores citados acima também comentam sobre o nome e o


principio ativo das drogas veterinárias utilizadas por essas pessoas, sendo elas o
Equifort (para uso em Eqüinos: Undecilenato de Boldenona), Tanoxolon (**), Estigor
(engorda de gado: **), Swimil (**), Equipoise (Undecilenato de Boldenone), a
natureza quanto aos efeitos dessas drogas no organismo humano é desconhecida
pela medicina, e muito menos pelos usuários, pois essas substâncias foram
desenvolvidas para o organismo dos animais, como gado, porcos, cavalos, entre
outros.
Guimarães Neto (2006), estudando sobre Musculação e a sua relação
direta com o auxilio de drogas Anabólicas, classificou um tipo de droga de uso
veterinário, oleosa e para a aplicação local, chamada de Estigor e ADE, que esta
sendo usada no Brasil como Anabolizante. Eis as colocações do autor:

Na verdade, são medicações veterinárias com compostos


vitamínicos diluídos em óleos de alta viscosidade que muita gente
esta utilizando para inflar os músculos e temporariamente produzir
inchaço por inflamação e consecutivo aumento das medidas. Vale
lembrar que nessas substâncias existem vitaminas, e que o excesso
destas pode provocar sintomas de hipervitaminose (GUIMARÃES
NETO, 2006, p. 15).

Ainda sobre medicações e produtos veterinários, Sabino (2004),


destaca que vários produtos destinados para animais de grande porte, sobretudo
cavalos, estão sendo consumidos pelos freqüentadores assíduos de Academias de
Musculação, como xampus, pomadas, e vitaminas, e Anabolizantes como citados
acima. Talvez apenas pela grande representação de força que esses produtos
destinados à grandes animais representam para essas pessoas leigas e
“ignorantes”.
Araújo (2003), diz que de uma maneira geral as drogas encontradas
no mercado são apresentadas em forma de ampolas, numa quantidade média de
1ml até 2ml para a aplicação intra-muscular com agulha e seringa, ou em cápsulas,
variando de 2,5mg até 50mg para a ingestão oral.
As nomenclaturas e os princípios ativos citados acima são apenas um
pequeno exemplo da grande variedade de drogas Anabólicas existentes no
mercado, pois, Toledo (2005), cita que nos EUA existem mais de 100 tipos de
Esteróides Anabolizantes Androgênicos no mercado, que são encontrados
38

geralmente em forma de cápsulas, injetáveis (substâncias oleosas), e até em forma


de gel para a aplicação sobre a pele.
Toledo (2005), aponta através de seus estudos como são os “ciclos” de
ingestão dessas drogas realizados pelos usuários, e alerta que estes não possuem
nenhuma comprovação científica sobre a sua eficácia, e que são prescritos por
pessoas leigas e sem conhecimento profissional, muitas vezes o próprio traficante
que comercializou a droga.
O autor comenta que esses “ciclos”, são as combinações das drogas
que serão usadas, pois geralmente são administras varias substâncias diferentes, a
freqüência do uso (quantas vezes na semana), e a sua dosagem que sempre será
extremamente alta quando comparada com a clínica. Os mais conhecidos são os
crescentes, que começa com pequenas dosagens e vai aumentando
gradativamente, a decrescente que é contraria a crescente, e a piramidal que
começa com pequenas dosagens até chegar a um determinado “pico” e depois volta
a diminuir até voltar à dosagem inicial.
Contudo, quando se estuda os Anabolizantes de uma forma mais
profunda, não devemos nos esquecer dos receptores celulares.
Guimarães Neto (2006), afirma que os receptores celulares, no caso os
receptores de testosterona quando de fala em Esteróides Anabolizantes, estão
presentes em praticamente todas as células do nosso organismo, portanto a
Testosterona aplicada ou ingerida deve encontrar o seu receptor específico, para ser
metabolizada.
O autor alerta que devido ao exagero do consumo de drogas
Anabólicas, esses receptores chegam ao seu limite de absorção rapidamente,
portanto grande parte dessas substâncias ficam circulando dentro da corrente
sanguínea, pois todos os receptores já estão saturados. E que essa droga não
absorvida entrará em processo de aromatização, e é essa reação química a grande
responsável por causar os inúmeros efeitos colaterais que estas “super dosagens”
provocam no organismo humano.
Esses efeitos serão caracterizados na próxima parte do presente
estudo, junto com as motivações para o seu uso, a falta de orientação e o comercio
ilegal dessas drogas.
39

4. MUSCULAÇÃO E ESTERÓIDES ANABOLIZANTES

4.1 Motivações para o Uso

A principal motivação para se começar a usar Anabolizantes são os


estéticos, ou a ânsia pela mudança das formas corporais o mais rápido possível.
Essa afirmação e dita por Ribeiro (2001), que comenta que os jovens ao começar
praticar Musculação quase sempre sem nenhum tipo de orientação, quanto à
estrutura e característica do Treinamento, descanso, alimentação e ingestão de
substâncias, caem rapidamente na tentação de usar substâncias Anabólicas ilegais
sob o desejo de ganhar músculos rapidamente, e ainda sem tomar conhecimento
dos “terríveis” efeitos colaterais já citados neste estudo que essas drogas podem
causar no organismo.
Uma colocação um tanto interessante levantada por Sabino (2004), é
que essas pessoas, denominadas por praticantes de Musculação ou fisiculturistas
amadores, em geral não costumam reconhecer a autoridade e o conhecimento dos
profissionais de Educação Física. Dizem que o nosso conhecimento se resume
somente na teoria, e que a teoria não serve para nada segundo eles, e ainda
acreditam que conhecem muito mais do que nós e por isso se “acham” auto-
suficientes para praticar Musculação e ingerir Anabolizantes por conta própria.
Ribeiro (2001), descreve que para os jovens, “bombar” é sinônimo de
ficar mais atraente para as mulheres e mais forte e poderoso diante dos amigos, e
respeitado pelos “inimigos”. E é comum se ouvir hoje em dia comentários dos
usuários como “bolo sem fermento não cresce”, onde o fermento citado por eles,
seriam os Esteróides Anabolizantes Androgênicos.
Ou seja, praticar Musculação e consumir substâncias nocivas e
perigosas é sinônimo de moda e “status” hoje em dia.
A Musculação tornou-se, a partir da segunda metade do século XX,
uma prática em expansão conferindo a massa muscular hipertrofiada
o status de novo item da moda associado à crescente industria de
suplementos, esteróides, publicações especializadas e tecnologia de
maquinas para exercícios. Vasta parafernália do suor tem se
desenvolvido ao redor do globo construindo os ditames da fibra
muscular como um modo de vida (SABINO, 2004, p. 23).
40

Para Ribeiro (2001), talvez hoje em dia a grande culpada pela


disseminação do uso dessas drogas seja a nossa sociedade, que tanto valoriza a
“Imagem Corporal” e o culto ao corpo. Eis as palavras do autor sobre este problema:
Algumas causas apontadas para uso de Esteróides Anabolizantes
incluem insatisfação coma a aparência física e baixa auto-estima. A
pressão social, o culto pelo corpo que a nossa sociedade tanto
valoriza, a falsa aparência saudável e a perspectiva de se tornar
símbolo sexual constituem motivos para o uso/abuso destas drogas.
Uma boa aparência física leva à aceitação pelo grupo, à admiração
de todos e a novas oportunidades. Uma perseguição a estes itens
faz com que o jovem caia em situações de riso como anorexia,
bulimia, e o uso indevido de Esteróides Anabolizantes/energéticos
(RIBEIRO, 2001, p. 98).

Sobre a “Imagem Corporal”, agora com base nos estudos de Iriart;


Andrade (2002), que constaram que a grande maioria dos jovens que se submetem
à pratica da Musculação e mais tarde ao auxilio das drogas Anabólicas para
potencializar os seus resultados, muitas vezes caem nesse “mundo” de admiração
do próprio corpo ao verem as imagens de atletas de alto nível, muitas vezes
Fisiculturistas profissionais em suas apresentações no Mister Olímpia.
Esses autores descrevem inúmeros relatos de jovens entrevistados que
começaram a se interessar pela Musculação e o uso de Anabolizantes ao verem
fotos do ex-atleta, ator e hoje Governador do estado americano da Califórnia Arnold
Schwarzenegger em uma revista especializada em Fisiculturismo. Daí o desejo de
alcançar os objetivos de “crescer”, “ficar grande”, “ficar forte” em suas gírias e
expressões.
Segundo Sabino (2004), as características dessas pessoas são as
seguintes; depilam regularmente todo o seu corpo, cuidam da sua pele, caminha de
forma à ressaltar a sua musculatura, ficam horas na frente de um espelho se
admirando e fazendo poses, fazem dietas severas, vai ao esteticista, sente
verdadeiro pavor ao engordar ou perder massa muscular.
Iriart; Andrade (2002), também possuem um outro ponto de vista sobre
esse problema, o da baixa auto-estima em decorrência dos inúmeros problemas
sociais vividos pelos jovens brasileiros, como a violência, o trafico de drogas, o
desemprego, entre outros. Onde através do “culto ao corpo” esses jovens encontram
uma maneira “positiva” de construção de sua identidade, destaque na sociedade, e
conseqüentemente elevação da sua auto-estima através da “Imagem Corporal” tão
valorizada pelos meios de comunicação nos dias atuais.
41

Dentro dessas reflexões agora com base em Estevão; Bagrichevski


(2004), que destacam o Fisiculturismo como uma modalidade esportiva voltada
diretamente para a “Imagem Corporal”. Porém fazem algumas críticas a essa
modalidade, devido ao altíssimo desenvolvimento muscular dessas pessoas que são
fora dos padrões fisiológicos humanos, e que a “estética” corporal desses atletas só
e admirada dentro do seu meio e alcançada graças a uma árdua e sofrível rotina de
treinamentos, alimentação super balanceada e consumo de drogas Anabólicas.
Esses atletas “super desenvolvidos” em termos musculares causam espantos e não
admiração na maioria da população.
Esses autores também fazem algumas criticas sobre a “febre” da
estética e das academias de Musculação na atualidade. Pois essas pessoas são na
grande maioria saudáveis em termos fisiológicos e nutricionais, e mesmo assim se
submetem a árduas rotinas de treino, alimentação e drogas. Tudo com o objetivo de
ficar “malhado”, “sarado”, segundo as gírias populares, portando hoje em dia para a
pessoa se sentir saudável ela têm que se enquadrar em todos esses termos e
“regras” da sociedade atual.
Ao termino de seus experimentos e estudos, Estevão; Bagrichevski
(2004), chegaram à conclusão de que a população atual é capaz de se submeter a
qualquer tipo de processo para a mudança das formas do seu corpo, sendo eles
através da Musculação e o consumo de drogas que são os objetivos específicos de
análise dessa pesquisa, e ainda através do consumo de suplementos alimentares e
cirurgias plásticas como lipoaspiração e implantes de prótese de silicone, tudo em
nome da “Imagem Corporal” tão valorizada atualmente.
Os autores ainda fazem o alerta sobre a falta de orientação que essas
pessoas possuem sobre o uso contínuo e exagerado dessas substâncias, e a falta
de fiscalização da legislação sobre o comércio ilegal das mesmas.

4.2 A Falta de Orientação e o Comércio Ilegal

Novamente explorando Araújo (2003), que diz que a falta de orientação


dos praticantes de Musculação e usuários de drogas Anabólicas, sobre o que elas
são, como elas agem no organismo humano, e ainda os muitos efeitos colaterais
42

que elas causam na pessoa é outro fator extremamente preocupante que não pode
ser deixado de lado quando se explora esse tema.
O autor afirma que na grande maioria dos casos de aquisição de
Esteróides Anabolizantes Androgênicos, o futuro usuário busca informações com o
comerciante da droga, ou com os seus amigos que muitas vezes também estão
usando ou já fizeram uso destas. E pior ainda, muitas vezes o próprio “professor” de
Musculação é que recomenda ou faz o comércio dessas substâncias dentro da
Academia.
Araújo (2003), aponta que um profissional da área de Educação Física
não possui conhecimentos necessários para a prescrição desses medicamentos,
pois não se trata da sua área de atuação, que se resume em cuidar da avaliação,
prescrição, orientação e controle dos treinamentos, e não sobre ingestão de
substâncias ergogênicas e Anabólicas. Talvez a grande culpada por esses
acontecimentos seja a má formação profissional dessas pessoas ou a falta de ética
e respeito com a Educação Física, que é absolutamente contra essas drogas que
causam dependência, patologias a saúde e podem até levar uma pessoa ao óbito.
Novamente com base em Iriart; Andrade (2002), que comentam sobre
a falta de orientação e informação dos usuários, com base nos relatos das pessoas
entrevistadas em seus estudos sobre a relação da Musculação e o consumo de
Anabolizantes na cidade de Salvador-Ba.
De maneira geral, os fisiculturistas entrevistados não demonstram
bom nível de informação sobre os danos causados à saúde pelos
Anabolizantes que utilizam. Os conhecimentos que possuem sobre
esses produtos, muitas vezes, não guardam relação com suas
propriedades farmacológicas. As informações sobre os efeitos
colaterais são sobretudo oriundas da experiência pessoal, da
observação de colegas na academia e dos relatos de casos
vivenciados por amigos ou conhecidos, nos quais o uso dessas
substâncias acarretou sintomas graves (IRIART; ANDRADE, 2002,
p. 1384).

Ainda sobre os efeitos colaterais, Iriart; Andrade (2002), chegaram à


conclusão de que essas pessoas possuem a consciência de que irão “sofrer” algum
tipo de efeito ao começarem consumi-las, mas encaram como normais e até parte
do “ritual”. Pois os usuários mais “experientes” relatam aos novatos o que sentiram e
ainda sentem ao administrar doses elevadas dessas drogas, fazendo o papel de
uma espécie de “orientador” e “encorajador” dos novatos.
43

Agora sobre o comércio dos Esteróides Anabolizantes Androgênicos,


Toledo (2005), destaca que qualquer uma dessas substâncias sendo de uso
veterinário ou humano só pode ser adquirida mediante receita médica e para o
tratamento de alguma enfermidade clínica, que já foram citadas nesse trabalho. E
que a legislação brasileira possui alguns códigos e leis que impedem o comércio
dessas drogas para uso próprio e não clínico.
Ainda sobre o comércio dessas drogas, o autor através de sua
pesquisa, concluiu que os locais de maior dificuldade de aquisição são as farmácias,
pois a grande maioria só as comercializam mediante uma receita médica, salvo sob
algumas exceções. Já nas lojas de produtos veterinários, constatou-se que há
menos dificuldades e controle do comércio de Esteróides Anabólicos, portanto mais
fácil de se adquiri-las para uso próprio.
No entanto, Sabino (2004), diz que até 1998, as drogas Anabólicas
podiam ser adquiridas livremente sem a apresentação de receita médica, mas
devido aos inúmeros efeitos colaterais e os casos de morte ocorridos, a legislação
brasileira implantou alguns códigos, como as receitas médicas e o combate ao
mercado negro, porém todos nós sabemos que atualmente é muito fácil burlar a
falha legislação brasileira.
Toledo (2005), ainda faz o alerta de que na Internet, que se trata do
maior veículo de informação e aquisição de mercadorias na atualidade, onde
qualquer pessoa pode pesquisar e comprar essas drogas com extrema facilidade,
pois existem sites e pessoas que comercializam Anabolizantes on-line. E esses
comerciantes ainda orientam sem nenhum conhecimento científico e clinico, o modo
de administrá-las, escondendo os seus efeitos negativos e destacando os positivos,
enviando o produto que o cliente desejar para qualquer parte do Brasil via sedex.
Com isso, o autor chegou à conclusão de que qualquer pessoa com
dinheiro não mão tem acesso a essas drogas, pois a legislação brasileira possui
muitas falhas de fiscalização, com isso o mercado negro opera livremente e está
cada vez mais fortalecido no Brasil e no mundo, comercializando drogas falsificadas
ou originais para pessoas leigas, inconseqüentes de seus atos, e nem ai para a sua
própria saúde, e para os efeitos colaterais que essas drogas causam em seu
organismo.
44

4.3 Efeitos Colaterais

A prática da Musculação, junto com o abuso do consumo de


Anabolizantes sem orientação pode ocasionar inúmeros efeitos tóxicos no
organismo humano.
Efeitos tóxicos são retenção hidrossalina com formação de edema,
hipertensão arterial, aumento do LDL (mal colesterol), diminuição do
HDL (bom colesterol), disfunção tireoidiana, alterações do humor e
do sono. Com Esteróides modificados na posição 17α, podem
ocorrer alteração da função hepática, icterícia e adenocarcinoma
hepático. Todos os Esteróides Androgênicos aumentam a
agressividade. Não existe qualquer condição na qual Esteróides
Anabólicos Androgênicos devam ser administrados à indivíduos
sadios (CARVALHO, 2003, p. 11).

Os efeitos colaterais ocasionados pelo uso contínuo dessas drogas são


inúmeros, é o que constata Iriart; Andrade (2002), que realizaram um estudo entre a
relação da Musculação, com o consumo de Anabolizantes e a percepção do risco de
seu uso entre “fisiculturistas” amadores na cidade de Salvador-BA.
Dentro desse estudo, os autores levantaram alguns dos efeitos
colaterais dessas substâncias, sendo elas; infecções de transmissões sanguíneas
pelo compartilhamento de seringas não esterilizadas, como o HIV e a hepatite B e C,
traumas locais e fibrose pela aplicação errônea de substâncias oleosas, alguns
casos de infarto agudo do miocárdio, atrofia testicular, hipertrofia prostática,
aumento dos pêlos corpóreos, ginecomastia que se caracteriza como o surgimento e
o aumento de tecido mamário em homens causado pelo excesso de drogas
Androgênicas, e hipertensão arterial.
Contudo, Iriart; Andrade (2002), confirmam que alguns dos sintomas
citados acima, são em decorrência do uso crônico dessas substâncias, e que
também são constatados muitos sintomas agudos como cefaléia, náuseas, tonturas,
irritabilidade, acne, febre, hematomas e fibroses em aplicações locais.
Guimarães Neto (2006), também faz o alerta sobre alguns efeitos
colaterais em praticantes de Musculação que fazem uso de Anabolizantes, sendo
eles; dor de cabeça por causa da elevação da pressão arterial, insônia pela
estimulação do sistema nervoso central, como alguns exemplos de sintomas
agudos. E sintomas à longo prazo, como impotência e esterilidade devido a “ciclos”
muito longos, problemas de tendões e ligamentos, pois as adaptações destes não
45

acompanham o fortalecimento e desenvolvimento muscular muitas vezes exagerado


e fora dos padrões fisiológicos humanos.
O câncer também é citado por Guimarães Neto (2006), como uma
grave conseqüência do uso sem controle dos Esteróides Anabolizantes
Androgênicos, e afirma que a única maneira de não se expor a essa doença é não
fazer uso dessas drogas, ou evitar as orais que são mais tóxicas ao organismo, e
também fazer exames periódicos com profissionais da Medicina.
Voltando em Iriart; Andrade (2002), que ressaltam que essas
patologias passam a ser encaradas pelos usuários como “normais” e até uma regra
em conseqüência do processo químico que estão se auto-induzindo, para serem
aceitados em um determinado grupo, no caso o de “Marombeiros” de uma academia
de Musculação.
Segundo Wilmore; Costill (2001), os sintomas encontrados nas
mulheres em decorrência do uso crônico de drogas Anabólicas são quase sempre
distúrbios hormonais, esses distúrbios podem levar a “masculinizarão” do corpo
feminino, como a atrofia das mamas, hipertrofia do clitóris, engrossamento do timbre
da voz, crescimento de pêlos faciais, irregularidade do ciclo menstrual.
Sabino (2004), através de seus estudos, aponta que além dos sintomas
citados acima encontrados nas mulheres usuárias de Esteróides Anabolizantes, está
também a atrofia do útero, considerando este um sintoma extremamente grave, pois
leva a mulher à infertilidade pelo resto de sua vida. Por isso as mulheres devem ficar
longe desses tipos de drogas, pois estas podem levar as usuárias a danos
irreversíveis no funcionamento de seu organismo.
Outro quadro importante que não pode ser deixado para trás quando
se conceitua os diversos efeitos colaterais associados ao uso em demasia dos
Esteróides Anabolizantes Androgênicos, são os quadros de alterações psiquiátricas.
Peluso; Assunção; Araujo; Andrade (1997), realizaram um estudo
sobre as alterações psiquiátricas ocorridas em usuários de Anabolizantes, e
encontraram vários sintomas ocorridos. Como alguns casos de episodio agudo de
mania, e até atos violentos como crimes e homicídios cometidos por praticantes de
Musculação que antes de se tornar usuário de Anabolizantes não havia indícios de
mudanças tão expressivas de comportamento, porém, para a realização desse
estudo foram entrevistados condenados em um presídio, por isso essas colocações
46

possuem limitações quanto a sua validade e necessitam de mais estudos e


evidências da área de Psiquiatria.
Os autores afirmam que existem vários quadros de alterações
psiquiátricas relacionado ao uso de drogas Anabólicas, pois já foram constatados
vários casos de hostilidade, irritabilidade, agressividade, euforia, depressão, em
decorrência do uso dessas substâncias em outros estudos dentro da área
Psiquiátrica.
Ainda com base em Peluso; Assunção, Araujo; Andrade (1997),
analisaram uma pesquisa envolvendo praticantes de Musculação e fisiculturistas
usuários de Anabolizantes. E foi constatado que essas pessoas apresentam quadros
anti-sociais e distúrbios de personalidade, como extrema preocupação com a sua
Imagem Corporal, Narcisismo, e Dismofia Muscular, através da “admiração” da sua
própria imagem no espelho.
Em seu estudo realizado sobre a Dismofia Muscular, Assunção (2002),
conceitua essa doença como sendo um transtorno obsessivo compulsivo, e
diretamente relacionado com praticantes de Musculação do sexo masculino, no qual
a pessoa ao ser ver está “fraca” e “franzina”, quando que na verdade ela está
incrivelmente forte e volumosa em termos de hipertrofia muscular e força máxima.
O autor ainda comenta que praticamente todas as pessoas com quadro
de Dismofia Muscular, são usuários de drogas Anabólicas, portanto pode-se chegar
à conclusão de que esse tipo de transtorno psiquiátrico é mais um dos inúmeros
efeitos colaterais prejudiciais à saúde ocasionados pelo uso em abuso e sem
orientação dos Esteróides Anabolizantes Androgênicos.
Por fim, todos os autores citados neste tópico afirmam que este
assunto vem sendo amplamente discutido na literatura especializada, pois existe
uma grande preocupação por parte das autoridades científicas e médicas, por causa
da disseminação do uso em abuso e sem orientação dos Esteróides Anabolizantes
Androgênicos, pelos praticantes de Musculação amadores e profissionais da
sociedade brasileira.
47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dessa pesquisa foi possível concluir que a Musculação é uma
atividade extremamente saudável que produz inúmeros benefícios aos seus
praticantes, porém pessoas inconseqüentes estão aliando o Treinamento de Força
com pesos ao consumo de drogas Anabólicas que causam diversos males à saúde.
Valendo-se o alerta de que no Brasil, há a necessidade de mais
estudos científicos sobre esse assunto, e mais conhecimento, bom senso, e
orientação por partes dos professores que trabalham com Musculação, que devem
repelir o uso dessas substâncias. Infelizmente hoje o mercado de trabalho na área
está tomado por pessoas sem conhecimento científico e clínico sobre os
Anabolizantes, e que ainda prescrevem essas drogas para os seus alunos. E
também para a imposição de leis mais rígidas sobre a aquisição dessas substâncias,
tanto no mercado negro como no legal, para que se possa amenizar ou até mesmo
eliminar essa problemática.
Sobre à presente temática, não foram encontradas dificuldades na
elaboração desse trabalho, devido a grande variedade de material bibliográfico
presente em livros, revistas cientificas, dissertações de Mestrado e Teses de
Doutorado, disponível para estudo e interpretação.
Em relação a minha formação acadêmica, posso afirmar que através
desse trabalho pude acumular muito conhecimento teórico e cientifico, que poderá
me auxiliar na minha carreira profissional. Acredito também que serei capaz de
auxiliar, informar e orientar as pessoas no meu convívio social e profissional sobre
os benefícios da Musculação e sobre os diversos efeitos e perigos do consumo
abusivo de Drogas Anabólicas dentro deste mundo.
Na minha opinião o que faltou em minha monografia foi uma pesquisa
de campo, que com certeza iria me ajudar a reforçar os resultados obtidos e
conhecer melhor o lado obscuro da prática de Musculação. Tenho um grande desejo
de continuar esse trabalho num mestrado, explorando mais a fundo o tema,
acrescentando tópicos sobre nutrição e suplementação na prática de Musculação, e
também uma pesquisa de campo.
48

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