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OBRIGATORIEDADE DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA1

Luiz Cláudio Gonçalves Silva2

RESUMO

As comissões de conciliação prévia foram criadas através da Lei nº 9.958 de 12 de


janeiro de 2000 com a finalidade de diminuir o número de reclamatórias trabalhistas,
não retirando logicamente o direito ao acesso ao judiciário, mas buscando uma
forma de celeridade na resolução dos conflitos entre empregado e empregador.

Essas comissões são criadas no âmbito do sindicato, devendo ser por instrumento
coletivo, ou no âmbito da empresa, não sendo necessário tal requisito. No caso de
serem provocadas terão o prazo de 10 dias para marcar a audiência conciliatória.
Havendo acordo, este será homologado e valerá como título executivo, caso
contrário, será lavrada a declaração de tentativa conciliatória frustrada com a
descrição de seu objeto, a qual deverá ser juntada na futura reclamatória trabalhista.

Os membros das comissões de conciliação prévia serão eleitos de forma paritária


entre representantes dos empregadores e empregados, possuindo estabilidade
provisória.

A grande problematização das comissões de conciliação prévia é relativa à sua


obrigatoriedade, ou seja, a discussão acerca do tema se refere se o litígio entre
empregado e empregador deve necessariamente ser submetido a estas comissões,
sendo considerado como pressuposto processual ou meramente uma faculdade do
empregado.

Neste sentido há duas correntes, a primeira que considera a passagem dos litígios
pela comissão como sendo obrigatória,visto que está previsto em lei, mais
especificamente nos art. 625-A a 625-H da CLT, ou seja, para estes seria um
pressuposto processual.

1
Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, oferecido pela
Universidade para Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal e Curso PRIMA, sob orientação do Prof. Régis.
2
Bacharel em Direito, pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, 2007.
2

A segunda defende a tese de que seria uma faculdade do empregado submeter o


litígio às comissões de conciliação prévia, sendo apenas mais uma tentativa
conciliatória e qualquer interpretação contrária estaria ferindo o princípio de acesso
ao judiciário garantido no art. 5º da Constituição Federal do Brasil.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem o propósito de examinar o instituto das Comissões de Conciliação


Prévia inserido nos artigos 625-A a 625-H da Consolidação das Leis Trabalhistas
pela Lei nº 9.958 de 12 de janeiro de 2000, esclarecendo que, apesar da importância
destas, visto que buscam diminuir o acúmulo de processos na Justiça do Trabalho e
dar maior celeridade à resolução dos conflitos sociais entre empregados e
empregadores, há o problema que envolve a obrigatoriedade das demandas
juslaborativas terem passagem prévia nestas Comissões quando existentes na
localidade da prestação de serviço, sendo tal obrigatoriedade questionada entre os
doutrinadores e aplicadores do Direito pelos motivos de não existir nenhuma punição
no caso do seu não cumprimento, não estar no rol do art. 267 do CPC, garantia do
Princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário previsto no art. 5º, XXXV da
Constituição Federal do Brasil e devido à ineficácia conciliatória demonstrada na
maioria dos casos em que os litígios passaram por estas Comissões. dentre outros
diversos motivos que serão expostos neste presente artigo.

2. DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

2.1. CRIAÇÃO

As comissões de conciliação prévia foram criadas através da Lei nº 9.958 de 12 de


janeiro de 2000 com a finalidade principal de solidificar-se como via célere e eficaz
para a resolução dos conflitos de interesse entre empregados e empregadores, sem
que seja necessário o ingresso da reclamatória trabalhista em juízo para a formação
do título executivo, podendo o empregado executá-lo, assim como há a garantia
jurídica aos empregadores quanto à quitação das verbas requeridas, não podendo
mais ser reclamadas perante o Poder Judiciário.
3

Instituída pela Lei n. 9.958 de 12.1.2000 (DOU de 13.1.2000),


tratam-se as comissões de conciliação prévia de grupos de
pessoas, formados por representantes dos empregadores e
representantes dos empregados (em número igual), com a
atribuição de tentar conciliar os conflitos individuais de trabalho,
com finalidade de evitar o ingresso de reclamatória trabalhista
na Justiça do Trabalho.3

2.2. FUNCIONAMENTO DAS COMISSÕES

2.2.1. Local de constituição

A constituição destas comissões de conciliação poderá ser em âmbito empresarial


(uma ou mais empresas), entre sindicato patronal e sindicato dos empregados ou
grupo destes.

Para a lei, as comissões de caráter sindical teriam sua constituição e


normas de funcionamento definidas em negociação coletiva (art. 625-
C). Os núcleos intersindicais, por sua vez, teriam apenas sua
constituição regulada por negociação coletiva (art. 625-H), ao passo
que as comissões empresariais estariam simplesmente dispensadas
de tais requisitos (art. 625-A e B).4

2.2.2. Composição paritária dos membros das comissões

A composição das comissões instituídas nas empresas será de metade dos


membros indicada pelos empregadores e a outra metade eleita pelos empregados
em escrutínio secreto fiscalizado pelo sindicato da categoria profissional; haverá
tantos suplentes quantos forem os representantes titulares; os mandatos dos
titulares e suplentes deverão ser de um ano, permitida apenas uma recondução. Os
representantes titulares e os suplentes gozam de estabilidade provisória por até um
ano após o término do mandato.

2.2.3. Da sessão conciliatória

3
VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Manual prático das relações trabalhistas. 7. ed. São Paulo: LTR, 2005.
4
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5.ed. São Paulo: LTR, 2006.
4

As comissões de conciliação prévia depois de provocadas terão o prazo de 10 dias


para a realização da sessão de tentativa de conciliação. Havendo conciliação, será
lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos
membros da comissão, possuindo esse termo de conciliação força executiva.

A conciliação deverá cingir-se a conciliar direitos ou parcelas controversas, não


podendo ser objeto de transação o percentual devido a título de FGTS, inclusive
multa de 40% sobre todos os depósitos devidos durante a vigência do contrato de
trabalho, nos termos da Lei 8.036/90.5

No caso de se esgotar o prazo de 10 dias sem a realização da sessão ou no caso de


não haver conciliação será lavrada a declaração da tentativa conciliatória frustrada
com a descrição de seu objeto, firmada pelos membros da comissão, devendo esta
declaração ser juntada no caso de ingresso de reclamatória trabalhista.

Em caso de motivo relevante que impossibilite a observância do procedimento


previsto no caput deste artigo, será a circunstância declarada na petição inicial da
ação intentada perante a Justiça do Trabalho.

O prazo prescricional fica suspenso desde a provocação da comissão até o fim do


prazo de 10 dias, recomeçando a fluir findo tal prazo ou da lavratura da declaração
da tentativa conciliatória frustrada.

3. OBRIGATORIEDADE DAS COMISSÕES DE


CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Acerca do tema da obrigatoriedade das Comissões de Conciliações Prévia os


aplicadores do direito ainda não entraram num consenso.

Para quem defende que as comissões não seriam obrigatórias, alega que o
problema está que tal obrigatoriedade estaria ferindo o direito constitucional do livre
acesso ao judiciário esculpido no art. 5º, XXXV da Constituição Federal, também
pelo motivo de que se não houver acordo na audiência de conciliação, estaria
suprida a necessidade de se levar tal litígio à Comissão de Conciliação Prévia, visto
que novamente não haveria conciliação, ferindo inclusive um dos preceitos do
Direito Processual do Trabalho que visa maior celeridade nas demandas

5
VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Manual prático das relações trabalhistas. 7. ed. São Paulo: LTR, 2005.
5

juslaborativas e por fim, entendem caracterizar discriminação o fato de haver


obrigação para certa categoria de trabalhadores de submeter suas demandas
trabalhistas à Comissão e outra categoria não possuir tal obrigação, caso a
Comissão não tenha sido instituída, não podendo haver tratamento desigual entre
iguais.

Já os defensores da obrigatoriedade das comissões, se amparam no próprio texto


de lei, visto que o art. 625-D é claro ao prever que havendo a instituição da
Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria será obrigatória que a
demanda seja submetida a esta.

Para Eraldo Teixeira Ribeiro quanto ao tema:

Só se admite reclamar diretamente na Justiça do Trabalho


quando não tiver sido instituída CCP (comissão de conciliação
prévia) na empresa ou sindicato de classe, devendo esta
condição se exposta na petição inicial.6

Acerca do tema, assim entende o conspícuo magistrado Maurício Godinho Delgado:

As demandas juslaborativas teriam de se submeter à


passagem prévia por tais comissões ou núcleos – desde que
existentes na localidade de prestação de serviços; esta
passagem despontaria, assim, como verdadeira condição para
futura ação trabalhista (art. 625-D). Em face desse caráter
condicionador do acesso ao Judiciário, o informe escrito sobre
a frustração da tentativa conciliatória extrajudicial ou o motivo
relevante que impossibilitou a observância do rito comissional
deverão ser anexados ou relatados na eventual ação
trabalhista (art. 625-D). 7

Para Valentin Carrion além da obrigatoriedade da passagem prévia dos litígios pelas
comissões, também a criação destas é obrigatória. Assim leciona em sua obra
Comentários à consolidação das leis do trabalho:

6
RIBEIRO, Eraldo Teixeira. Direito e Processo do Trabalho. 5.ed. São Paulo: Premier Máxima, 2006.
7
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5.ed. São Paulo: LTR, 2006.
6

Sua constituição é obrigatória, não obstante o legislador utilize


“poderá” no art. 625-A: é que o art. 625-D, caput, dispõe que
“qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à
Comissão” e seus §§2º e 3º exigem a juntada de declaração de
tentativa conciliatória frustrada com a descrição do objeto,
quando do ajuizamento da ação.8

Outro nobre doutrinador, Eduardo Gabriel Saad, em sua obra CLT Comentada, in
verbis:

Assim, é fora de dúvida, que, onde houver Comissão de


Conciliação Prévia – de empresa ou sindical – é o trabalhador
obrigado a levar a seu conhecimento – para fins de mediação –
o ou os fatos geradores de litígio com a empresa. A nosso ver,
trata-se de nova condição de ação.

Não tem o preceito a mácula da inconstitucionalidade. Tê-la-ia


se, realmente, obstasse o acesso do empregado à Justiça
(inciso XXXV do art. 5° da CF). Mas, em verdade, o que esse
preceito legal exige é que, antes de ir a Juízo apresentar sua
reclamação, deve o empregado recorrer à Comissão de
Conciliação – se ela existir. Tem ele a liberdade de aceitar, ou
não, a proposta que ponha fim ao dissídio. Frustrada a
tentativa de conciliação, abre-se-lhe o caminho de acesso ao
Judiciário.9

Entre os Tribunais do Trabalho de todo o país há grande divergência quanto ao


tema.

O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região sumulou o entendimento de que não


é obrigatória e sim uma faculdade do obreiro a passagem pela Comissão de
Conciliação Prévia.

8
CARRION, Valentin. Comentários à consolidação as leis do trabalho. 31.ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva,
2006.

9
SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C. CLT Comentada. 37. ed. São Paulo:
Editora LTr, 2004. (CLT Comentada).
7

SÚMULA Nº 2. COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA.


EXTINÇÃO DE PROCESSO. (RA nº 08/2002 - DJE 12/11/02,
19/11/2002, 10/12/2002 e 13/12/2002) O comparecimento
perante a Comissão de Conciliação Prévia é uma faculdade
assegurada ao obreiro, objetivando a obtenção de um título
executivo extrajudicial, conforme previsto pelo artigo 625-E,
parágrafo único da CLT, mas não constitui condição da ação,
nem tampouco pressuposto processual na reclamatória
trabalhista, diante do comando emergente do artigo 5º, XXXV,
da Constituição Federal.10

COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA. PRESSUPOSTO


PROCESSUAL. O artigo 625-D da CLT dispõe sobre a
obrigatoriedade da submissão da demanda de natureza
trabalhista à Comissão de Conciliação Prévia. Inobservada a
referida obrigação, impõe-se a extinção do feito, sem resolução
do mérito, por ausência de pressuposto de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo. Inexistindo nos
autos declaração dos motivos que levaram a consignante a não
apresentar a declaração de tentativa de conciliação perante a
Comissão de Conciliação Prévia, forçoso é reconhecer a
extinção do processo sem julgamento do mérito, a teor do
disposto no inciso IV do art. 267 do CPC, com ressalva de
entendimento pessoal da Juíza Relatora. Recurso conhecido e
provido.11

COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA.


OBRIGATORIEDADE DE SUBMISSÃO. PRINCÍPIO DA
INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. O fato do obreiro não
ter apresentado sua demanda perante a Comissão de
Conciliação Prévia não impede o conhecimento da mesma pela
Justiça do Trabalho. A norma legal que introduziu esta figura

10
http://www.trt2.gov.br/
11
TRT-DF 10ª Região, 00399-2007-001-10-00-5 RO (Ac. 3ª Turma), Juiz(a) Relator: MÁRCIA MAZONI CÚRCIO RIBEIRO,
07/12/2007.
8

no ordenamento justrabalhista (Lei n.º 9.958-00) instituiu, tão-


somente, uma nova possibilidade de conciliação entre as
partes, e não uma condição de exercício da ação trabalhista.
Na aplicação das normas jurídicas, o Juiz deve atender aos fins
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art.
5º, LICC). Desse modo, percebe-se facilmente que a Lei n.º
9.958-00 foi editada com o intuito de diminuir o número de
ações levadas ao Judiciário Trabalhista, com a expectativa de
que os conflitos trabalhistas sejam resolvidos
extrajudicialmente perante as Comissões. Trata-se, portanto,
de um meio alternativo de solução extrajudicial dos conflitos
intersubjetivos de natureza trabalhista, e não de condição da
ação.12

SUBMISSÃO DO CONFLITO À COMISSÃO DE


CONCILIAÇÃO PRÉVIA. NÃO-OBRIGATORIEDADE.
FACULDADE. O art. 625-D da CLT não estabeleceu nova
condição da ação ou mesmo pressuposto processual, tratando-
se apenas de faculdade do empregado. Pelo que a
inobservância desse procedimento não acarreta a extinção do
feito sem julgamento do mérito, ficando assegurado o princípio
constitucional de livre acesso ao Judiciário.13

COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA. CARÊNCIA DA


AÇÃO. O artigo 625-A da CLT, com redação dada pela Lei
9958/00, faculta a instituição de Comissões de Conciliação
Prévia, de composição paritária com representantes dos
empregados e dos empregadores, cuja atribuição consiste em
tentar a conciliação dos conflitos individuais do trabalho. A
criação das comissões não é obrigatória, o que levou alguns
autores a consider inconstitucional essa norma, porque

12
TRT-PR, 9ª Região, 01491-2003-670-09-00-8-ACO-15149-2006, Relator: LUIZ CELSO NAPP, Publicado no DJPR em 23-
05-2006.
13
TRT-SC 12ª Região, 09006-2006-035-12-00-4, 25/01/2008, 3a TURMA DO TRIBUNAL, Juiz Relator: LIGIA M. TEIXEIRA
GOUVÊA.
9

discriminatória. Sustentam que os empregados cuja categoria


ou empresa instituíram Comissões de Conciliação Prévia só
poderão ingressar na Justiça do Trabalho comprovando a
tentativa de conciliação, enquanto os que trabalham onde
inexista este órgão, estão desobrigados desta prova, podendo
acionar o judiciário de imediato. Outros, alegam que a Lei
9958/2000 não previu a obrigatoriedade desta tentativa de
conciliação como condição da ação trabalhista, sustentando
que o artigo do projeto que a previa, inclusive com sanção, não
foi aprovado. Há, ainda, os que afirmam que essas comissões
violam o art. 5o., XXXV da Constituição da República segundo
o qual "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito". Teoricamente, essas comissões de
conciliação prévia possuem a vantagem de estarem a par das
peculiaridades da respectiva atividade laboral e, por não
estarem congestionadas, podem dedicar um esforço maior à
conciliação. Ora, a instituição facultativa das comissões
representa uma solução espontânea do conflito de interesses,
ajudando a descongestionar os órgãos judiciais. Portanto,
quando existirem as comissões, qualquer demanda de
natureza trabalhista será submetida a elas, salvo motivo
relevante, devidamente comprovado. É o que se infere do art.
625-D, parágrafo 3o., da CLT. Em conseqüência, e
considerando que essa conciliação prévia não retira da Justiça
do Trabalho a apreciação de qualquer lesão ou ameaça de
lesão a direito, mas apenas difere no tempo a acionabilidade,
entendo que a omissão de qualquer pleito obsta a discussão
em juízo. Essa previsão não importa afronta ao art. 5o., inciso
XXXV da Carta de 88. É que essas técnicas de conciliação
prévia, à semelhança do que já ocorre nos processos de
dissídio coletivo, constituem pré-requisito da ação e se
inspiram em exigências de economia processual. Logo,
qualquer demanda de natureza trabalhista, inclusive sobre
obrigação de fazer, será submetida à Comissão de Conciliação
10

Prévia se, na localidade da prestação de serviços, ela houver


sido instituída no âmbito da empresa ou do sindicato (art. 625-
D), sob pena de extinção do feito.14

O site do Tribunal Superior do Trabalho publicou a primeira decisão da Seção


Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1). Esta foi no sentido da
obrigatoriedade da submissão das demandas trabalhistas à Comissão de
Conciliação Prévia, mantendo a extinção do processo sem julgamento de mérito.

SDI-1 mantém extinção de processo que não passou por


comissão. A Seção Especializada em Dissídios Individuais
(SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho – que julga recursos
contra decisões das Turmas do Tribunal e uniformiza a
jurisprudência do TST – julgou pela primeira vez um processo
que discutia a obrigatoriedade de submissão de demandas
trabalhistas à Comissão de Conciliação Prévia. Por maioria de
votos, a SDI-1 não conheceu (rejeitou) recurso de um
trabalhador contra decisão da Quarta Turma do TST que
extinguiu o processo sem julgamento do mérito.

O relator dos embargos em recurso de revista, ministro Carlos


Alberto Reis de Paula, afirmou que o artigo 625-D da CLT
prevê expressamente que “qualquer demanda trabalhista será
submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade
da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no
âmbito da empresa ou do sindicato da categoria”. Para o
ministro, não resta dúvida de que, “onde houver Comissão de
Conciliação Prévia – da empresa ou sindical – deve o
trabalhador submeter a seu conhecimento, para fins de
conciliação, o fato ou os fatos geradores de litígio com a
empresa”.

14
RO NUM: 12121, 3ª Região, DJMG, 17-10-2001, Segunda Turma, RELATORA Juíza Alice Monteiro de Barros.
11

A reclamação trabalhista foi ajuizada por um ex-empregado da


Memoconta Engenharia de Automação Ltda. Contratado como
consultor comercial, ele recebia por meio de RPA (recibo de
pagamento da autônomo), sem carteira assinada. Ao se
desligar da empresa, pediu na Justiça do Trabalho o
reconhecimento do vínculo de emprego e seus reflexos, e
alegou não haver ainda Comissão de Conciliação Prévia no
âmbito tanto da empresa quanto do sindicato da categoria.

Em sua defesa, a empresa afirmou que, no sindicato ao qual


seus trabalhadores estavam vinculados – o Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo –, havia o Núcleo Intersindical de
Conciliação Prévia, e apresentou, como prova, várias cartas de
convocação para tentativas de conciliação em demandas
apresentadas por outros empregados.

A 4ª Vara do Trabalho de São Paulo reconheceu o vínculo de


emprego. Quanto à conciliação prévia, entendeu que a CLT
“prevê uma faculdade, e não uma obrigatoriedade” quanto ao
comparecimento à comissão. “Há de ser respeitada a vontade
do empregado de não querer se conciliar com a empresa, ou
de recorrer diretamente ao Poder Judiciário”, afirmou a
sentença. O entendimento foi mantido pelo Tribunal Regional
do Trabalho da 2ª Região (São Paulo) no julgamento do
recurso ordinário.

A Memoconta recorreu então ao TST, por meio de recurso de


revista. A Quarta Turma do Tribunal extinguiu o processo sem
julgamento do mérito, entendendo que, de acordo a nova
redação do artigo 625-D, parágrafos 2º e 3º da CLT,
introduzidos pela Lei nº 9.958/2000 (que instituiu as
Comissões de Conciliação Prévia), a submissão da demanda à
comissão é obrigatória, e não facultativa.

Inconformado, o ex-consultor comercial entrou com embargos


em recurso de revista para a SDI-1. Sua alegação principal foi
12

a de que a exigência da passagem pela comissão viola o


artigo 5º , inciso XXXV da Constituição Federal, que garante o
livre acesso ao Judiciário.

O ministro Carlos Alberto, porém, confirmou o entendimento da


Quarta Turma ao afirmar que a submissão do litígio à
comissão “é pressuposto de constituição e de desenvolvimento
válido e regular do processo, sem o qual deve-se extinguir o
processo, sem julgamento do mérito.” Afastou a alegação de
obstáculo ao acesso à Justiça, explicando que o que se exige
é que, antes de ir a juízo apresentar sua reclamação, o
empregado deve recorrer à comissão, se ela existir. “O
empregado tem a liberdade de aceitar ou não a proposta que
ponha fim ao conflito. Frustrada a tentativa de conciliação,
abre-se-lhe o caminho de acesso ao Judiciário”, concluiu.

Na sessão que julgou os embargos, vários ministros se


manifestaram a respeito do tema – que, embora venha sendo
julgado pelas Turmas do TST, ainda não havia chegado à SDI-
1. O ministro Horácio de Senna Pires abriu divergência
adotando entendimento semelhante ao da Vara do Trabalho e
do TRT de São Paulo, e foi seguido pela ministra Rosa Maria
Weber.

O ministro Rider Nogueira de Brito, vice-presidente do TST no


exercício da Presidência, participou da comissão que elaborou
o primeiro projeto apresentado ao Congresso Nacional sobre o
tema, quando era presidente do Tribunal Regional do Trabalho
da 8ª Região (Pará e Amapá). Presidindo a SDI-1 durante o
julgamento dos embargos, ele lembrou que o que motivou o
projeto, e posteriormente a lei, foi o elevadíssimo número de
processos trabalhistas. “A cultura de levar sempre o conflito a
um juiz precisa ser mudada, para que não haja a falência do
próprio sistema jurisdicional”, alertou.
13

“A posição que esta corte adota, nesta sessão, é


absolutamente fundamental, como indicativo de como as
partes devem se comportar. Espero que se sedimente esta
orientação, e que trabalhadores e sindicatos saibam que não
podem vir diretamente à Justiça do Trabalho, que têm que
fazer a parte deles e tentar uma solução perante uma
comissão”, ressaltou o ministro Rider, concluindo com um
apelo à necessidade de se modificar “a cultura de que todas as
controvérsias, todos os conflitos têm de ser levados a um juiz.”

O ministro João Oreste Dalazen destacou a tendência, no


Direito comparado, de adoção de mecanismos alternativos à
solução judicial dos litígios, sobretudo os trabalhistas, citando
os exemplos da Argentina e da Espanha. “Se isso se fez
necessário em outros países, em que a demanda trabalhista
não é tão intensa, o que dizer do nosso País, em que
recebemos quase dois milhões de novos processos
trabalhistas a cada ano?”, questionou. “É evidente a
necessidade das Comissões de Conciliação Prévia como
mecanismo para uma certa filtragem dos litígios. A adoção de
tese contrária leva à declaração da inutilidade das comissões”,
ressaltou.

Para o ministro João Batista Brito Pereira, “esse órgão de


conciliação anterior é uma garantia para o empregador e para
o trabalhador, uma vez que mais de 80% das reclamações
trabalhistas são conciliadas. Em vez de se conciliar em juízo,
concilia-se administrativamente, o que sem dúvida nenhuma é
menos oneroso, menos traumático”.15

3. CONCLUSÃO

Após as exposições feitas sobre tema do presente artigo, ficou demonstrado que a
jurisprudência e a doutrina não chegaram a uma unanimidade para harmonizar a

15
http://ext02.tst.gov.br/pls/no01/no_noticias.Exibe_Noticia?p_cod_area_noticia=ASCS&p_cod_noticia=7156.
14

discussão acerca da obrigatoriedade ou não da submissão das demandas


trabalhistas às Comissões de Conciliação Prévia.

Com a decisão da SDI-1 pela obrigatoriedade das demandas às Comissões,


possuindo esta o objetivo de uniformizar a jurisprudência, pode ser que haja maior
harmonização das decisões de juízes monocráticos e desembargadores.

Apesar da intenção do legislador de criar mecanismos que visam a pacificação entre


as classes obreira e patronal, assim como dar maior celeridade nos litígios entre
estes, sou defensor da tese da não obrigatoriedade dos trabalhadores de terem que
submeter as demandas às Comissões, por causa da lacuna deixada pela lei, não
havendo penalidade no caso de não comparecimento do empregador, mostrando-se
na realidade ineficaz para solução de litígios e também por entender que há
tratamento discriminatório entre iguais, infringindo direito constitucional da igualdade
e do livre acesso ao judiciário esculpido no art. 5º, caput e seu inciso XXXV.

Concluo então, de que tal estipulação não pode vir a ser obstáculo ao ingresso de
reclamatória, prestigiando-se assim, mesmo que silente, os valores contidos na
Carta da República, em especial, o direito cidadão ao acesso à Justiça.

BIBLIOGRAFIA
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 5.ed. São Paulo: LTR,
2006.
CARRION, Valentin. Comentários à consolidação as leis do trabalho. 31.ed. atual.
por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2006.

SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.
CLT Comentada. 37. ed. São Paulo: Editora LTr, 2004. (CLT Comentada).

RIBEIRO, Eraldo Teixeira. Direito e Processo do Trabalho. 5.ed. São Paulo: Premier
Máxima, 2006.

VIANNA, Cláudia Salles Vilela. Manual prático das relações trabalhistas. 7. ed. São
Paulo: LTR, 2005.

http://ext02.tst.gov.br/pls/no01/no_noticias.Exibe_Noticia?p_cod_area_noticia=ASCS
&p_cod_noticia=7156.

http://www.trt2.gov.br/
15

TRT-DF 10ª Região, 00399-2007-001-10-00-5 RO (Ac. 3ª Turma), Juiz(a) Relator:


MÁRCIA MAZONI CÚRCIO RIBEIRO, 07/12/2007.
TRT-PR, 9ª Região, 01491-2003-670-09-00-8-ACO-15149-2006, Relator: LUIZ
CELSO NAPP, Publicado no DJPR em 23-05-2006.

TRT-SC 12ª Região, 09006-2006-035-12-00-4, 25/01/2008, 3a TURMA DO


TRIBUNAL, Juiz Relator: LIGIA M. TEIXEIRA GOUVÊA.

RO NUM: 12121, 3ª Região, DJMG, 17-10-2001, Segunda Turma, RELATORA Juíza


Alice Monteiro de Barros.

http://ext02.tst.gov.br/pls/no01/no_noticias.Exibe_Noticia?p_cod_area_noticia=ASCS
&p_cod_noticia=7156.

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