Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica
Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica (IRC)
I - Gerenciamento do atendimento assistido hospitalar
ao portador de insuficiência renal crônica
II - Gerenciamento do atendimento assistido ambulatorial
conservador ao portador de insuficiência renal crônica
III - Gerenciamento do atendimento assistido em diálise
Dr. Roger Bonow
Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica
Introdução
Este trabalho foi escrito baseado na experiência do autor no
setor administrativo regional do extinto INSS, onde atuou como auditor responsável pelo controle e avaliação permanentes de serviços de hemodiálise conveniados ao SUS, no Rio de Janeiro. No momento é nefrologista do Instituto Nacional de Cardiologia (Ministério da Saúde) O trabalho divide-se em três partes. A primeira trata do gerenciamento hospitalar do portador de insuficiência renal. A segunda trata do gerenciamento das prevenções terciária e quaternária que visam adequar custo /benefício do portador de insuficiência renal crônica, retardando ao máximo sua evolução e entrada em diálise. A terceira aborda o paciente em diálise. Não foi abordado aqui o gerenciamento pós transplante renal pois entendemos que o paciente deixa de ser “renal crônico” fazendo parte de um subgrupo cujo gerenciamento foge a esta proposta. O estagiamento da doença renal crônica é descrito em etapas de I a V onde a fase I é a fase inicial e a fase V a fase de diálise. O propósito é a atuação preventiva desde o primeiro estágio (I) quando são detectadas alterações urinárias. As medidas de controle profilático adotadas desde o estágio I visam manter o paciente nas fases II, III e IV, onde mais ocorrem complicações fatais no tratamento conservador. São geralmente de natureza cardiovascular e que não foram devidamente abordadas, criando custos desnecessários e/ou acelerando a ida para diálise. A maior parte das vezes se descobre a doença já estabelecida após o estágio II. O paciente gerenciado desde o início, independente da fase, consegue um retardo evolutivo significativo. Prevenção terciária é descrita como “conjunto de medidas que atuam nos diversos níveis evolutivos das complicações da doença instalada”, principalmente nos controles da anemia, osteodistrofia renal, complicações cardiovasculares, obesidade, infecções e internações por diversas causas. Quando esta prevenção aborda a medicalização, condutas desnecessárias ou a não intervenção em realidades passíveis de abordagem clínica especializada (ex: tratamento da anemia, descontrole da doença cardiovascular inicial, inexperiência do profissional com este tipo de paciente, aceleração do início de diálise, etc.) é chamada de prevenção quaternária. As medidas que tratam dos pacientes em diálise, Hemodiálise e Diálise peritoneal, abordam complicações da doença renal crônica (anemia, osteodistrofia, hipertensão, infecção e internação hospitalar) acrescidas da interação destas com novos fatores, decorrentes de complicações próprias do procedimento. Em essência os roteiros são semelhantes e complementares.
Dr. Roger Bonow
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Dr. Roger Bonow
Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica
I - Gerenciamento do atendimento hospitalar
assistido ao portador de insuficiência renal crônica
Objetivos
Demonstrar a importância do gerenciamento especializado no
acompanhamento hospitalar dos portadores de alterações renais.
Implementação da prevenção terciária e quaternária (medicalização
inadequada) da insuficiência renal crônica.
Evitar procedimentos aleatórios de substituição da função renal sem o
devido crivo do especialista e sem tentativas profiláticas primárias e secundárias de ações que evitem este custo, criando barreiras técnicas e administrativas compatíveis. Criação da autorização de procedimento.
Integração nas equipes multiprofissionais
Integração nas equipes administrativas de decisão.
Busca ativa de portadores de alterações renais
Avaliação do custo/benefício de medidas terapêuticas
Auditoria permanente no controle de custos
Atuação no setor de farmácia visando a padronização de
medicamentos
Elaboração de planilhas de controle de custo
Avaliação permanente visando minimizar custos e permanência
hospitalar do paciente.
Formação de multiplicadores intrahospitalares (não médicos) de ações
do especialista mediante palestras, orientação in loco, elaboração de cartilhas e de rotinas.
Atuação na formação do profissional médico (residentes, pós
graduandos e mestrandos) com vistas à formação de agentes multiplicadores
Dr. Roger Bonow
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Funções e responsabilidades do gestor
• Avaliar e consolidar, medidas o Formação da equipe de profiláticas da insuficiência renal atuação por contraste quando couber, o Elaboração de rotinas de após cateterismo cardíaco atendimento o Elaboração de mapas de • Evitar longa permanência na controle unidade no sentido de evitar o Elaboração de cartilhas e sobrevinda de infecções com manuais de orientação germes multirresistentes e uso de antibióticos progressivamente mais onerosos; Funções e responsabilidades da equipe • Vigilância no uso de substâncias Busca ativa diária de pacientes nefrotóxicas ou ajuste precoce de internados em enfermarias, com doses no curso de aumento de Hipertensão arterial secundária , escórias; diabetes mellitus, passado conhecido • Participação em discussões de doença renal e insuficiência multidisciplinares e elaboração cardíaca congestiva com vistas a de rotinas visando atendimento acompanhamento em conjunto com especializado. nefrologista até a alta hospitalar • Disponibilização de apoio Busca ativa diária junto ao laboratório `decisão médica à distancia. do Hospital de pacientes portadores de Creatinina acima de 2mg% e ou Uréia Atuação junto à Farmácia intra- acima de 80 mg% com vistas a hospitalar para padronização de acompanhamento em conjunto com medicamentos. Avaliação de nefrologista até melhora do quadro e custo/benefício. alta hospitalar. Vigilância ativa dos pacientes com Busca ativa diária de pacientes indicação de cateterismo cardíaco internados em unidades fechadas (CTI, identificando o melhor momento Pós operatório imediato infantil e para o exame (salvo emergências) e adulto, SPA e Unidade intermediária) elaborando rotinas profiláticas de tal visando a: forma que o nefrologista seja consultado pré cateterismo • Acompanhamento em conjunto com cardíaco eletivo. nefrologista desde o início ate alta hospitalar. Orientação no acompanhamento ambulatorial especializado com • Identificar pacientes portadores de ênfase à doença cardio vascular e oligúria ou anúria em pós insuficiência renal. Orientação geral, operatório imediato para indicação controle da doença base e vigilância precoce de procedimento de na evolução para forma crônica de substituição de função renal na doença nos pacientes internados e finalidade de evitar sobrecarga após alta hospitalar. volemica e longa permanência na unidade; Consulta inicial (primeira consulta com nefrologista) diagnóstica, Dr. Roger Bonow Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica
exames e seguimento inicial no prazo cirúrgica (perigo de endocardite
de 30 dias composta de: bacteriana)
Entrevista inicial. Formação de multiplicadores para
Identificação e controle dos fatores de orientação a parentes e cuidadores risco cardiovascular abordando de idosos portadores de principalmente autonomia do paciente, insuficiência renal (cuidados gerais, idade, hipertensão arterial, diabetes higiene, dieta, etc.), sob a forma de mellitus e insuficiência renal. consulta ambulatorial, oficinas e grupos de pacientes. Atuação com multiplicadores. Elaboração de relatórios de controle e Diagnóstico, preparo, e avaliação. encaminhamento dos pacientes Consulta ambulatorial de renais crônicos para serviços acompanhamento pós alta hospitalar. ambulatoriais especializados. Orientação aos pacientes, Em portadores de hipertensão arterial, acompanhantes e familiares desde o consulta semanal visando atingir alvo primeiro dia através de entrevistas, de controle pressórico ambulatorial. manuais e cartilhas. Formação de multiplicadores. Criação de cartilhas de orientação a Busca ativa de pacientes renais com pacientes marcadores positivos para HCV e/ou negativos para anti HbsAg visando Em portadores de diabetes mellitus e imunização prioritária. insuficiência renal, atendimento inicial, seguimento, orientação e otimização Atuação junto a outros serviços no do uso de insulina. Consulta semanal Rio de Janeiro para encontrar com orientação através de soluções nas quais não há multiplicadores, de medidas da disponibilidade do Hospital nem do glicemia semanais ou bissemanais até plano de saúde. atingir alvo ideal de glicemia Atuação junto às Secretarias de Atuação junto ao setor de odontologia Saúde para orientação quanto ao intra-hospitalar no sentido da fornecimento de medicamentos não vigilância de doença periodontal nos padronizados para tratamento de pacientes portadores de cardiopatia/ anemia e osteodistrofia de origem hipertensão arterial/ diabetes mellitus/ renal. Elaboração de guias, laudos insuficiência renal com indicação médicos e receitas.
Dr. Roger Bonow
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II - Gerenciamento do atendimento assistido ambulatorial
conservador ao portador de insuficiência renal crônica
Objetivos
Retardar a evolução para diálise
Criar medidas profiláticas de complicações cardiovasculares Criar medidas profiláticas da aceleração do processo de osteodistrofia renal Controle efetivo da anemia e suas complicações Controle intensivo da glicemia. Retardo das complicações extra renais diabéticas Controle do sobrepeso e da obesidade Controle dos fatores de risco modificáveis
Funções e responsabilidades do gestor
principalmente idade, hipertensão o Formação da equipe de arterial, diabetes mellitus, atuação obesidade, tabagismo, o Elaboração de rotinas de sedentarismo, lipidograma e atendimento insuficiência renal. o Elaboração de mapas de controle Em portadores de hipertensão o Elaboração de cartilhas e arterial, consulta semanal visando manuais de orientação atingir cifras alvo de controle o Criar referencia orientada pressórico ambulatorial. ambulatorial para portadores Afastar hipertensão de origem de IRC renovascular. o Acompanhamento intensivo Formação de multiplicadores para do idoso com IRC orientação a parentes e cuidadores o Visitas em residência na de idosos portadores de ausência do paciente às insuficiência renal (cuidados gerais, consultas periódicas. higiene, dieta, etc.), sob a forma de consulta ambulatorial, cartilhas, Funções e responsabilidades do oficinas e grupos de pacientes. médico Criação de cartilhas de orientação a pacientes Orientação no acompanhamento Vigilância intensiva dos pacientes ambulatorial especializado com ênfase com indicação de cateterismo à doença cardio vascular e cardíaco eletivo identificando o insuficiência renal. Orientação geral, melhor momento para o exame controle da doença base e vigilância (salvo emergências) e pesando o na evolução da doença custo benefício do encaminhamento cirúrgico. e elaborando rotinas de Entrevista inicial. encaminhamento. Identificação e controle dos fatores de risco cardiovascular abordando Em portadores de diabetes mellitus e insuficiência renal, atendimento Dr. Roger Bonow Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica
inicial, seguimento, orientação do uso
de insulina. Consulta semanal com Seguir cartilha de vacinação orientação através de multiplicadores, principalmente naqueles sem de medidas da glicemia semanais ou proteção para hepatite B. bissemanais até atingir alvo ideal de Criar critérios para confecção de glicemia acesso para diálise. Prevenção da doença periodontal. Referenciar para tratamento e Identificar a conduta com melhor seguimento odontológico dos casos custo/benefício necessários. III - Gerenciamento do atendimento assistido ao portador de insuficiência renal crônica em diálise
Objetivos
Vigilância intensiva visando evitar internação do paciente
Vigilância permanente de possíveis infecções
Vigilância intensiva do acesso para diálise (infecção, perda,etc.)
Identificação dos pacientes mais propensos à complicações de
qualquer origem, dividindo em subpopulações para melhor gerenciamento (p.ex idosos, HIV positivos,cardiopatas e outros)
Retardar a evolução da doença cardiovascular criando medidas
profiláticas das complicações
Criar medidas profiláticas da aceleração do processo de osteodistrofia
renal
Controle efetivo da anemia e suas complicações
Controle efetivo da glicemia.
Retardo das complicações diabéticas extra renais.
Controle do sobrepeso e obesidade
Adequação permanente do tratamento
Apoio psicológico inicial aos pacientes e às famílias.
Dr. Roger Bonow
Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica
Encaminhamento para transplante renal nas melhores condições
possíveis.
Dr. Roger Bonow
Subsídios a um projeto de gerenciamento assistido ao portador de Insuficiência Renal Crônica
Funções e responsabilidades
o Formação da equipe de atuação no Centro de Diálise
o Elaboração das rotinas de atendimento o Avaliação e acompanhamento nutricional o Acompanhamento psicológico quando necessário. o Atuação do Serviço Social como intermediário entre a assistência e a instituição hospitalar. o Elaboração de cartilhas e manuais de orientação aos pacientes e familiares o Controle multidisciplinar durante o procedimento dialítico. o Controle médico pós procedimento dialítico e ambulatorial incluindo avaliação clínica e exames complementares mensais. o Resumo evolutivo mensal por paciente e por subgrupo de pacientes. o Elaboração de mapas de controle o Elaboração de gráficos de controle evolutivo por paciente, da doença renal segundo critérios clínicos e laboratoriais o Criação de relatórios comparativos evolutivos mensais em que constem as taxas de infecção, complicações relacionadas ao acesso para diálise, internações, morbidade, mortalidade, encaminhamento para transplante renal e mudança de procedimento dialítico. o Criação de relatórios comparativos evolutivos mensais em que constem gastos e custos.