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DIREITO CONSTITUCIONAL I

Prof. Francisco Pedro Jucá

06/08
Conteúdo: Conformação do Estado
1. Forma do Estado: Federalismo
2. Separação dos Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário

2 provas com questões discursivas

Bibliografia: Manual de Direito Constitucional; Manoel Gonçalves Ferreira Filho;


Ed. Saraiva.

A federação como conhecemos hoje surge com a fundação do Estado


norte-americano. Porém, a idéia e a mecânica surgem antes. Devemos saber os
dois conceitos básicos: Reino e Império.
No absolutismo monárquico ocorre a concentração total do poder nas
mãos do rei. Os reinos são organismos políticos de pouca extensão territorial e
baixa densidade demográfica.
Ao longo do tempo encontramos alianças entre os reinos, que se unem
e acabam reconhecendo a prevalência de um dos reinos sobre os demais. E este
acaba estabelecendo um grau de supremacia sobre os demais: o império. A figura
dos reinos não desaparece, continuam reinos, porém menores. Trata-se da figura
da vassalagem.
Os reis casavam entre si ou promoviam casamento entre seus filhos.
São os tratados ou alianças dinásticas. Exemplo disso é o surgimento da Espanha
com a união dos reinos de Leon e Castela.

A colonização no norte do continente americano difere da colonização


efetuada no sul.
A colonização por Portugal e Espanha era feita por delegados do reino.
Ela chega antes da população. Isso gera um processo de exploração.
Já a colonização do norte do continente americano foi tardia. As
colônias do norte ganham destaque com as guerras religiosas na Europa. Os
perseguidos da Europa, geralmente protestantes, fogem. É uma corrente
migratória de núcleo familiar. Essas pessoas fugiam para se fixar em outro lugar.
Além disso, a prática da religião impõe que o fiel seja alfabetizado para que possa
ler e entender a bíblia. Portanto, o nível cultural era muito superior ao que
colonizou o sul do continente. Era um grupo homogeneizado, um grupo de iguais,
sem aristocracia.

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Durante o processo de deslocamento desses grupos, estabeleceram-se
estatutos para regular suas condutas, os pactos de viagem. Ao chegar no novo
mundo eles tinham um Direito, que constituíram as raízes do Direito local.
As colônias que se formaram não tinham vínculos entre si. Com a
revolução independista elas formaram uma milícia contra os ingleses. Ao longo
desse processo elas constataram a impossibilidade desse isolamento e começou
a discussão política sobre o tema da constituição da federação. Resolvem
constituir um ente novo, a federação. Sua organização se dá pela constituição,
que faz surgir um ente novo: os Estados Unidos da América.
A federação nasce com e através da constituição e se forma através do
pacto federativo. Ele tem como cerne a divisão de competências. Vamos encontrar
nas colônias uma divisão clara entre os governos locais e entre os Direitos locais.
O pacto federativo preserva as autonomias locais e toma para si os interesses
gerais. Os estados-membros abdicam da soberania local em favor da União e
renunciam ao direito de secessão.
A federação vem pro Brasil de forma diferente. Enquanto que nos
Estados Unidos ela surgiu de baixo para cima, aqui ela foi imposta, foi de cima
para baixo.

07/08
Federação: Democracia ou Repartição Horizontal do Poder
O fundamento básico das federações é a preservação de autonomia.
Entretanto, as federações e a experiência americana são próprias para aqueles
Estados de extensão territorial significativa. Isto porque o poder central não terá
jamais a possibilidade de estar presente em todas as pontas onde seria
necessário.
Outro aspecto a ser considerado nas federações é o da especialidade e
variação locais. Num Estado de grande extensão, uma resposta única tem
resultados inadequados. Por isso o Brasil permite que os estados adotem um
salário-mínimo diferente do salário-mínimo nacional.

2 Tipos básicos de federação:


a) Clássicos: são as federações simétricas. Identificamos a
correspondência simétrica de instituições. Ex: norte-americana e
alemã. Nessas duas federações encontramos poder executivo,
legislativo e judiciário numa correspondência absoluta da esfera
federal com a esfera estadual.
b) Federalismo assimétrico. Essa não-correspondência se
manifesta através de manifestações internas do sistema. Ex:
Índia.

A federação norte-americana criou uma figura chamada território


federal. Conforme avançava a ocupação em direção ao Oeste, aqueles espaços
vazios seriam territórios federais administrados por representantes do Estado até

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que se consolidassem a se tornassem estado. Ocorre neles uma simetria
territorial, o tamanho deles é parecido um com o outro.
Já no Brasil os estados possuem tamanhos muito distintos, o que gera
desigualdade na administração.

Outro problema da federação é o da intervenção do Estado na


economia. Com o fim da segunda guerra mundial e o Plano Marshall, ficou claro
que a intervenção estatal na economia era necessária. Toda intervenção estatal
na economia está sujeita a um mínimo de planejamento, que há de ser articulado.
Na federação o planejamento federal há de conviver com o planejamento estatal.

Federação e Democracia
Uma das teses de apoio ao federalismo é que o federalismo é mais
democrático que nas unidades centralizadas, já que há divisão horizontal de
poder. Há menor concentração de poder.

13/08
SEPARAÇÃO DO PODER
O poder nasce por concentração na figura do rei, e no pequeno grupo
palaciano (condestador). Poder que não conhece limites, não se sujeita a
parâmetros, é da vontade exclusiva dos que o detêm, não há critério de licitude,
por isso é chamado de poder absoluto. Sobrevive até a revolução francesa.
Temos a figura do governante marcada pela irresponsabilidade. Afinal, as pessoas
são súditas (submetidas), por isso não têm o poder de cobrar dos governantes.
A organização social também é rígida e cheia de privilégios. Há
pluralidade de estatutos - um para cada classe.
Revolução Francesa - movimento político de inspiração iluminista,
submete o mundo à razão. Traz duas teses: igualdade entre si e liberdade.
Na pré-revolução francesa um abade francês escreve um panfleto -
crítica à organização social da época montada em três estruturas: nobreza, clero e
governo.
• Alta nobreza: cortesã (próxima do rei)
• Alto clero: hierarquia (ex: poder dos cardeais)
• Formada por exclusão: a maioria da sociedade
A burguesia era o Terceiro Estado. Eram banqueiros, comerciantes,
produtores, etc. Era detentora do poder econômico, e foi em busca do poder
político. Quando se levantaram, levaram consigo o povo.

A revolução francesa traz a biliquidação do Antigo Regime. Quebra a


pluralidade dos estatutos, fazendo com que todos sejam submetidos a uma
mesma lei e à liberdade.
A figura do súdito é substituída pela figura do cidadão.

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A garantia de liberdade está em sendo a lei a expressão da vontade
geral, o Estado sendo submetido à lei.
Governo de homens substitui governo de leis através do princípio da
legalidade.
Os pensadores passam a construir teorias de governo voltadas a
limitar e controlar poder - obstáculo ao poder absoluto (que não presta contas).

Montesquieu escreveu "O Espírito das Leis", onde propõe uma forma
de organização política. Identifica as funções básicas que o governo precisa
exercer:
1. Atividade de fazer as leis
2. Dar cumprimento a estas leis
3. Resolver os conflitos conforme esta ordem jurídica
Elaborou o que ficou conhecido como a "Tripartição de Poderes", que
na verdade é a tripartição de funções. Parte do princípio que só o poder pode
limitar o poder, e com isso formulou que uma função controla e limita a outra.
Nenhuma das funções pode exercer o poder sozinha. Aquele que tem o poder de
fazer a lei não tem o de aplica-la, assim como aquele que tem o poder de aplica-la
não tem o de faze-la. A experiência que mais se aproximou da teoria de
Montesquieu foi a dos EUA, que adotou a tripartição rígida de poderes, no que
ficou conhecida como Teoria dos Freios e Contrapesos.
A contribuição de Montesquieu veio de sua experiência política da
Inglaterra após a Revolução Gloriosa, com a transferência do poder real para o
parlamento. Montesquieu era barão (baixa nobreza).

14/08
O modelo de Montesquieu é muito estático. Correspondeu ao apogeu
do liberalismo. Na época não se admitia que o Estado ultrapassasse o que estava
estabelecido: manter a ordem interna e ???????? (Estado mínimo). Era um
Estado repressor (Estado Gendarme).

Para o Estado externo: diplomacia, política e exército. No âmbito


interno: a proteção da propriedade e a defesa dos contratos. Esse "modelo
clássico" de separação funcionou bastante bem.
À medida que as sociedades se tornam mais complexas esse modelo
deixa de atender às necessidades. A revolução industrial foi um marco, mudou
bruscamente todo o modo de produção até então existente (artesanal). Ocorre
uma segmentação da produção, com uso massivo da mão-de-obra e migração do
campo para a cidade. A mudança do quadro social gerou conflitos sociais terríveis.
No fim da I Guerra Mundial o Tratado de Versalhes acrescenta um
capítulo que cria a Organização Internacional do Trabalho e busca garantias
mínimas para os trabalhadores. Foi um marco. Com isso nasce o
Constitucionalismo Social. É um acréscimo constitucional pós 18 que estabelece
garantias ??????????????? . Nasce o Direito do Trabalho e o Direito Econômico.

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Esse capitalismo cria o ????????? . Essa tendência se acentua no pós II Guerra
Mundial. O Plano Marshall busca reconstruir a Europa. As relações políticas que
derivam desse quadro obrigam a repensar o desenho de Estado. Deve-se ir mais
fundo pois a demanda da sociedade assim o exige. É preciso mecanismos de
controle do poder político para evitar o surgimento de ditadores.
Loevenstein escreve nos anos 40 "Poder Político e Processo de
Governo". Sua grande descoberta é a percepção que o governo não é apenas
uma estrutura, mas também um processo. Sugere que a revolução nazista não foi
um golpe de Estado. Redesenha as funções de poder para que tentem responder
a nossas necessidades:
1ª. Determinação: tomar as decisões estratégicas, básicas,
fundamentais, estabelecer o que a sociedade quer e para onde
dirige. Explicitar a vontade geral. Eventualmente, quando
necessário, produzir as leis. Os representantes do povo
(parlamentares) exerceriam essa função.
2ª. Executiva: por em prática, executar, fazer o que deve ser feito.
3ª. Controle: identifica dois controles necessários:
a) Controle Político: acompanhamento e fiscalização dos atos
de governo que dão cumprimento àquelas decisões
tomadas. Atribui essa função ao parlamento.
b) Controle Formal: em princípio seria o controle de
legalidade. Numa nomenclatura mais contemporânea
podemos dizer controle de jurisdicionalidade. Encontramos
nele o controle de constitucionalidade das leis e atos
normativos, que vem a ser o controle jurisdicional sobre o
parlamento. Mas também o controle de licitude, que é
exercido sobre todos nós. Assim, a constituição garante
que nenhum ??????? escapa do controle do judiciário.

21/08
Quando se determina a atuação estatal, se determina também a esfera
em que o Estado não pode atuar.
Forma de governo é o modelo, a estruturação dos poderes e como se
relacionam entre si. Ex: república, monarquia.
Regime de governo é a aplicação do sistema na prática.

Monarquia: forma de governo que agrega três características:


• vitaliciedade: o poder não é limitado temporalmente, ficaria
menos tentado a se corromper, teria uma atuação
suprapartidária;
• hereditariedade: a pessoa é treinada desde cedo para assumir
o trono, mas pode não ter afinidade;

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• irresponsabilidade política: principal característica, o monarca
"nunca erra", não presta contas a ninguém.

República:
• periodicidade: com limitação do tempo de poder, busca criar
alianças;
• eletividade: participação daqueles que irão se submeter ao
poder na escolha;
• responsabilidade política: tem de prestar contas para o povo
ou para determinado órgão estatal.

O parlamentarismo surgiu na Inglaterra, pouco depois da Carta Magna.


Na época surgiram os Conselhos de Barões, que eram apenas consultivos. Foi
com a Revolução Gloriosa que o parlamento ganhou poder. O primeiro-ministro
deve ter a mesma cor do parlamento, senão pode cair ou destituir o parlamento.
Com relação ao presidencialismo, surgiu com a independência dos
EUA. O poder pode ser tomado através do impeachment.

27/08 Modelos de Governo


Vamos entender modelos de governo como sendo a forma pela qual
constitucionalmente se organiza o governo. Essa maneira de organizar-se é
decorrência da maneira pela qual se faz a separação de poder. Isso nos permite
classificar os modelos existentes na experiência constitucional. São dois modelos
principais originários (decorrente da separação de poderes) e puros (dotados de
características próprias).
Um modelo originário que decorre da separação de poder é o
presidencialismo. Um modelo puro que decorra da separação fraca de poderes é
o parlamentarismo.
Temos também modelos que são derivados e o são porque não
decorrem diretamente da separação de poderes, mas se elaboram a partir de um
modelo pré-existente. Esses modelos derivados podem ser caracterizados como
mistos por contarem em sua organização alguns elementos importantes de outros
modelos. São o parlamentarismo semipresidencialista, que é um modelo
construído sobre um parlamentarismo pré-existente que adquire alguns elementos
presidencialistas sem, contudo, deixar de ser parlamentarismo. Por outro lado,
temos o presidencialismo semiparlamentarista, que é um regime
presidencialista que absorve elementos do parlamentarismo, todavia, sem deixar
de ser presidencialista.

Parlamentarismo
O parlamentarismo é um modelo governativo com raízes históricas na
Inglaterra. A Inglaterra viveu a experiência da Revolução Gloriosa, que fez a

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liquidação do poder absoluto do rei. Ela institucionaliza a democracia
representativa. A concretização da democracia representativa vem pela instituição
do parlamento. Um grupo de integrantes da sociedade escolhido pela própria
sociedade exerce o poder político por um prazo determinado. Por ser um colégio
de representantes, o parlamento é a sede do poder político. A Revolução Gloriosa
retira o poder do rei e o transfere para o parlamento. Na organização desse
modelo governativo, a Inglaterra resgata a figura do gabinete e,
conseqüentemente, a figura do primeiro-ministro.
O fundamento básico do parlamentarismo é a confiança política e,
conseqüentemente, a responsabilidade política, porque o parlamento é
responsável politicamente pela sociedade e o gabinete é responsável
politicamente pelo parlamento. O parlamento tem o poder de destituir o gabinete
se, a qualquer momento, for quebrada a confiança política.
O poder executivo sai do parlamento.
Como segunda característica, o poder executivo é bipartido, pois se
distingue a chefia do Estado da chefia de governo. A chefia de Estado tem sob
seus ombros a responsabilidade das atividades de Estado, a identidade e
independência nacional, a preservação das instituições fundamentais. O governo
tem a responsabilidade concreta da administração política.
O parlamentarismo é versátil, pois se adapta ao regime monárquico e
também à república. Nas monarquias a chefia de Estado é atribuída ao rei, que
pode ter mais ou menos poder conforme a constituição. Na república o presidente
é o chefe de Estado. O grosso dos encargos está na figura do primeiro-ministro.
No parlamentarismo o povo elege o parlamento. Ao eleger o
parlamento, se forma a maioria vencedora, cujo líder é convidado pelo chefe de
Estado para formar o gabinete. Esse líder da maioria faz a indicação daqueles que
comporão o gabinete (os ministros), todos eles membros do parlamento. O
primeiro-ministro não nomeia os ministros, ele indica. O gabinete é submetido ao
parlamento, que poderá aprova-lo ou rejeita-lo.
Quando o gabinete exerce o governo, responde politicamente pelo
parlamento, coletivamente ou individualmente. Com isso, o parlamento pode
destituir o gabinete todo ou um único ministro. A destituição se dá pelo mecanismo
da desconfiança ou censura (o gabinete não cai pela ilicitude, ele cai pela quebra
de confiança política). Quando se dá a destituição do gabinete pela quebra de
confiança, o líder da maioria é novamente encarregado de formar um outro
gabinete. Em geral leva quarenta dias para se formar um outro gabinete. Quando
por qualquer motivo o líder da maioria não consegue formar outro gabinete, cabe
ao chefe de Estado declarar crise parlamentar e, ao declarar a crise parlamentar,
dissolve o parlamento (ele não fecha o parlamento), convocando eleições
parlamentares, extinguindo os mandatos dos parlamentares.
No parlamentarismo não há limite de reeleição.

28/08
Presidencialismo

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É um modelo que surge junto com a fundação do Estado nacional dos
EUA. Podemos entender como um modelo governativo originário porque deriva
originalmente da forma de separação de poderes, e ele deriva de uma forma de
separação de poderes classicamente rígida por ter um traço muito forte de não
invasão competencial. A comunicação entre os poderes é muito pequena e muito
discreta. Caracteriza-se, por exemplo, pelo fato dos integrantes de um poder não
poderem exercer função em outro. Nos EUA um congressista que aceitar exercer
um cargo no executivo deve, pela constituição, renunciar ao cargo parlamentar,
sob pena de perda do cargo.
Este modelo tem como característica a concentração do poder
executivo em uma única pessoa: o presidente. Significa dizer que o presidente
acumula e exerce simultaneamente a chefia de Estado e a chefia de governo.
Observamos que na formulação clássica do presidencialismo o executivo é o
presidente, pois só ele responde politicamente perante o parlamento sobre o
governo, e isso acontece pelo fundamento de que só ele é eleito. Todos os
ministros e assessores são periféricos ao presidente. Desta forma, não existe
política ministerial juridicamente falando. Os ministros e assessores não exercem
poder por conta própria, eles exercem o poder em nome do presidente.
Quando os EUA surgem, precisam resolver o problema da organização
governamental. Na experiência histórica de então, o parâmetro de modelo
governativo era a monarquia. Aquela sociedade tinha aversão à monarquia, era
perseguida por ela. George Washington tem a idéia fortemente republicana de
rotatividade de poder. É possível com a figura de um "rei" escolhido pela
sociedade por um prazo certo: o presidente.
O presidencialismo surge no contexto do liberalismo clássico, que é um
padrão político com atribuições reduzidas e, conseqüentemente, com estrutura
reduzida. Neste quadro, é possível o exercício pessoal do presidente da república.
Nas sociedades contemporâneas a malha estrutural é gigantesca, o
Estado fica grande. Com isso, aquela direção pessoal de todos os assuntos é
impraticável. Seria necessário a redução do poder presidencial.
Os presidencialismos no mundo inteiro têm enfrentado mutação
constitucional informal. A prática política presidencialista tem se afastado cada vez
mais do modelo clássico e ganho uma fisionomia peculiar chamada
"presidencialismo de coalizão". Isso tudo acontece sem alteração constitucional.
Aplica a constituição ajustando-a à realidade.
No presidencialismo clássico o presidente é o único núcleo ao qual se
"atribui poder político", tudo em volta é secundário. No presidencialismo de
coalizão a figura de seus assessores ganha importância muito maior, eles ganham
notoriedade política. Os ministros são lideranças políticas expressivas, e por
serem lideranças, ao lado de auxiliarem o presidente a gerir o sistema, lhe dão a
sustentação política necessária à governabilidade, constituem a base de apoio ao
presidente. Esse poder duplo de auxiliar de um lado e apoiar de outro significa
compartilhamento de poder político, partilhado entre o presidente e seus ministros.
No presidencialismo clássico cabe ao presidente a escolha pessoal e o
poder de nomear e demitir ministros. No presidencialismo de coalizão, embora
pelo texto constitucional as coisas continuem assim, na prática não o é, pois o

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campo do presidente se reduz, precisa compor o ministério com lideranças
secundárias capazes de lhe dar o suporte político.

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Modelos Mistos
Durante muito tempo os modelos originários e puros foram dogmáticos.
Esses modelos clássicos duraram assim até 1957, quando surgiram os modelos
híbridos ou mistos. Esses modelos são secundários ou derivados porque se
constroem em cima de um modelo pré-existente, incorporando a esse modelo
traços de outro modelo sem, contudo, desnatura-lo completamente.
São dois os modelos mistos:
• Parlamentarismo semipresidencialista
• Presidencialismo semiparlamentarista
Um modelo se constrói em cima das circunstâncias da sociedade. Até
57 os dois modelos clássicos eram sacramentados, mas nesse ano o regime
parlamentarista da França sofre um colapso. A França sofreu a partir de 1950
diversas guerras coloniais: Marrocos, Tunísia, Argélia e Indochina. Ela perde todas
elas e sofre com o problema dos que retornaram dessas localidades. Os gabinetes
parlamentares não foram capazes de contornar essa crise. As lideranças políticas
resolvem apelar a Charles De Gaulle para que ele voltasse a governar. Ele
colocou duas condições: voltasse pelo apelo popular e fizesse uma nova
constituição. Foi eleito com votação recorde e conseguiu a nova constituição, em
vigor até hoje. Governou a França até 68.
A experiência francesa teve duas novidades:
1. Quebra do dogma do chefe de Estado indicado pelo parlamento.
Inaugura o chefe de Estado eleito pelo povo.
2. Atribuição de alguns poderes de governo ao presidente da
república. Temos uma divisão de poderes de governo entre o
chefe de Estado e o gabinete. Dá poderes legislativos ao chefe
de Estado ao dar competência para editar regulamentos
autônomos.
Esse modelo é o parlamentarismo semipresidencialista. É um
parlamentarismo com traço muito forte do presidencialismo.
Outros países importaram esse modelo francês. Em Portugal, o
presidente tem até poder de destituir o gabinete.

Nos regimes presidencialistas também se verificou mudanças. Uma


redução progressiva dos poderes do chefe do executivo e um aumento da
ingerência dos órgãos do parlamento no executivo.

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Modelo Parlamentar
O poder parlamentar tem como a sua razão de ser a representação
política da sociedade. Nos dizia Montesquieu que todos os homens são
habilitados a escolher, desde os mais próximos até os mais capazes para tratar
dos interesses gerais.
A instituição parlamentar significa em sua essência a escolha pela
sociedade de uma parte dela para representar o todo. A representação política
significa a expressão da vontade geral. Significa o encargo de tomar as grandes
decisões. Significa ao mesmo tempo exercer o controle político do governo,
mantendo as ações governamentais compatíveis com o objetivo do governo.
Eventualmente e quando necessário esse instrumento tem o encargo
de produzir as leis.
Como instrumento de representação política da sociedade o poder
parlamentar se faz presente em todas as estruturas da organização política. Nos
Estados de organização estrutural simples o poder parlamentar e a representação
política serão igualmente simples. Ex: nos Estados centralizados e unitários como
Portugal e França o poder parlamentar é simples e existe apenas uma assembléia
da república.
Nos Estados com organização estrutural complexa temos um poder
parlamentar igualmente complexo. Ex: Brasil.
O Brasil é um Estado federal e a nossa federação é a única no mundo
tridimensional (União, estados e municípios) do Direito Constitucional ocidental.
Como ela tem três dimensões nossa organização de poder parlamentar é
igualmente complexa e representada através do poder legislativo.
No âmbito do município, o poder parlamentar é exercido pelas câmaras
municipais, compostas por vereadores eleitos quadrienalmente por voto
proporcional. Cabe a elas a representação da sociedade no âmbito do município e
a elaboração de leis municipais.
No âmbito dos estados-membros o poder parlamentar é exercido pelas
assembléias legislativas estaduais. São compostas por deputados estaduais
eleitos pelo povo pelo voto proporcional.
No âmbito nacional o poder parlamentar é exercido pelo congresso
nacional. Enquanto no âmbito dos estados e municípios temos um poder
parlamentar unicameral, no âmbito da União temos um poder parlamentar
bicameral. A representação popular é exercida pela câmara dos deputados, que
são eleitos pelo voto proporcional para um mandato de quatro anos, e pela casa
da representação dos estados da federação, exercida pelo senado da república
composto pelos senadores. A representação federativa é paritária, todos os
estados possuem igual número de senadores (três). São eleitos para mandato de
oito anos. O sistema eleitoral para o senado é o majoritário. O conjunto do senado
e da câmara é que forma o congresso nacional.
Quando se fala de poder parlamentar brasileiro estamos falando de
todo esse conjunto visto (municipal, estadual e União). Cada instância do poder
parlamentar tem uma competência determinada.

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A fonte principal no que diz respeito ao poder parlamentar é a
constituição. O poder parlamentar tem autonomia, ou seja, tem a capacidade de
auto-organizar-se, auto-regular seu funcionamento, organizar seus serviços e
repartir internamente as suas atribuições e atividades. Para atender a isso o
instrumento jurídico é o regimento interno.
O regimento interno é uma norma sistemática de característica
codificada e sobre ela delibera o plenário, órgão máximo do poder parlamentar.
O poder parlamentar tem basicamente três categorias de órgãos.
A primeira delas e a mais importante é o plenário, composto por todos
os parlamentares que integram a casa.
Como segunda categoria de órgão, a organização operacional se vale
de uma estrutura chamada de comissões técnicas. As comissões técnicas são
órgãos internos com a finalidade precípua de examinar e discutir assuntos
específicos. Temos basicamente dois tipos de comissão técnica, as permanentes
e as especiais.
As comissões permanentes são temáticas e, por isso mesmo, têm
atuação permanente naquele tema (ex: comissão de constituição e justiça;
comissão de educação; comissão de meio ambiente, etc.). Todas as discussões
relativas àquele referido tema passam pelas comissões.
As comissões são compostas por parlamentares. A organização e
funcionamento do parlamento estão sujeitos a dois princípios básicos:
1. Princípio da colegialidade: o parlamento sempre atua e funciona
colegiadamente;
2. Princípio da proporcionalidade: participam das comissões todos
os partidos que tenham representantes na casa e o número de
participantes é proporcional ao número de partidos com mais
participantes na casa. Nenhum partido pode ser excluído de uma
comissão.
A terceira categoria de órgão é a mesa diretora. Ela tem a finalidade de
administrar a casa e de dirigir os trabalhos. Como garantia de independência seus
integrantes têm atribuição regimental própria. Por isso a mesa obrigatoriamente
adota a colegialidade em suas decisões. São indicados pelas lideranças dos
partidos. Os integrantes da mesa são eleitos pelo plenário. É tradição parlamentar
que os cargos da mesa sejam indicados proporcionalmente (em qualidade), sendo
que o presidente da casa costuma ser do partido de maior bancada.
Existem duas outras categorias: bancadas e lideranças.
A bancada é o conjunto de parlamentares de um partido determinado
ou de uma aliança de partidos. A coordenação da bancada é executada pela
figura chamada líder, um parlamentar escolhido pela bancada para essa função.
Pode se valer de tantos vice-líderes quanto a bancada achar conveniente. Ele
representa a bancada, mas não decide nem vota por ela.

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A finalidade primeira das comissões técnicas é a de tornar possível a
discussão exaustiva dos temas, das propostas submetidas ao poder legislativo. E,
para isso, todos os parlamentares que integram a casa têm acesso e voz, isto é,
podem participar das sessões que acontecem nelas (embora apenas os
parlamentares participantes das referidas comissões possam votar nelas). De
sorte que, quando o assunto vai ao plenário, já está suficientemente discutido para
que se possa debater sobre ele.

Processo Legislativo
O processo inicia com o exercício do poder de iniciativa, que consiste
em apresentar uma proposição. Apresentar um tema para proposição é
prerrogativa de qualquer parlamentar da casa, bem como de qualquer comissão
técnica, seja permanente ou especial. Excepcionalmente também pode o chefe do
poder executivo ou poder judiciário ou ministério público, naquelas matérias em
que a constituição lhes outorgue competência.
A proposição é apresentada à mesa diretora da casa, a quem compete
fazer tramitar a proposta. Consideremos que a mesa não tem poder censório.
O andamento começa com a divulgação do projeto. É feita de duas
formas: pela leitura do projeto pelo secretariado da mesa e pela publicação no
avulso da casa.
Aberto o prazo para apresentação de alterações, qualquer parlamentar
da casa tem prerrogativa para propor alterações (emendas). Findo o prazo, o
projeto e suas emendas são remetidos às comissões técnicas. Obrigatoriamente
todos os projetos passam pela Comissão de Constituição e Justiça, cuja função
precípua é exercer o controle preventivo da constitucionalidade. Este controle,
entretanto, é feito sobre o critério político, e não jurídico, por isso acaba sendo
mais flexível.
Na câmara federal esta comissão é denominada Comissão de
Constituição, Justiça e Redação de Leis, pois inclui a função de examinar a
inserção daquela norma no sistema jurídico, bem como a redação daquela norma.
Depois, o projeto passará por todas as comissões que tratem de
assunto relacionado ao projeto.
Quando o projeto é aprovado por todas as comissões, não precisa ir a
plenário, porém qualquer parlamentar tem a prerrogativa de solicitar recurso ao
plenário.
A tramitação pode ocorrer de três formas diferentes.
Na tramitação comum o projeto vai para uma comissão de cada vez,
mas a mesa terá prerrogativa de reproduzir o projeto e enviar para todas as
comissões simultaneamente.
Na tramitação em regime de urgência especial, é preciso que haja um
requerimento da liderança correspondente à maioria simples da casa com a
finalidade de que a mesa submeta o assunto para deliberação. O plenário irá
decidir se irá deliberar sobre o assunto ou não. O plenário pode colocar em regime
de urgência especial, e o plenário também pode retirar do regime de urgência

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especial. Quando ocorre regime de urgência especial, a mesa designa um relator
de cada comissão para realização oral. (concedida a urgência, o projeto será
colocado em discussão na sessão seguinte)
Na tramitação normal, as comissões, antes de emitirem seus pareceres,
têm a prerrogativa de convocar especialistas no assunto para discutir com os
parlamentares o assunto (audiência pública).
Existe uma figura não regimental chamada Colégio de Líderes. Cabe a
ele assessorar a presidência da mesa quanto à tendência política da casa. O que
o colégio de líderes veta o presidente não põe na pauta.

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No senado, desde o Império existe a tradição de a maior bancada
indicar o presidente da casa. É um costume, não está no regimento.
O colégio de líderes é formado por todos os líderes de bancadas. Os
líderes não mandam na bancada. Apenas possuem ascendência sobre ela,
explicitam a opinião do grupo ao invés de sua opinião pessoal.
Regimentalmente a mesa não está obrigada nem a consultar muito
menos a acatar o colégio de líderes. Ocorre que, colocando na pauta algo que vai
contra o colégio de líderes, aquele assunto irá trancar a pauta, não é conveniente
fazê-lo.
O papel de líder é sentir o que está acontecendo e conduzir conforme
aquilo que sentiu.
Regimentalmente a instalação de uma sessão deliberativa só pode
ocorrer com maioria simples dos integrantes da casa. Sem tal maioria não pode
haver deliberação nenhuma. Durante a sessão qualquer parlamentar pode pedir
verificação de quorum e, caso não haja mais a maioria, não se pode deliberar.
Obstrução é quando o parlamentar está presente fisicamente, mas não registra
sua presença, não entrando na contagem para o quorum.
A deliberação pode ser feita de duas formas. A forma tradicional é da
votação nominal (não se confunde com identificação de votos). Nela ocorre
contagem de votos. O segundo modo é o mais usado se chama voto simbólico.
Não se conta quorum nem voto. É feita em matérias absolutamente consensuais.

24/09
Após as discussões e as votações dos relatórios nas comissões o
processo é remetido para decisão final. A mesa, mais uma vez, faz a publicação
do projeto, alterações e pareceres e, após uma consulta informal ao colégio de
líderes, inclui em pauta.
Na ordem do dia o projeto é lido e vai a discussão final no plenário. No
plenário é dada a última oportunidade e os líderes podem pedir a alteração de

13
qualquer emenda que tenha sido rejeitada nas comissões (destaques). Feito isso,
o projeto vai a votação, primeiro o texto e depois os destaques.
A votação pode ser feita de duas formas. Uma é a votação nominal,
quando aparece a relação dos votantes no painel eletrônico, sendo que não
aparecem necessariamente os votos. Também tem a votação simbólica das
matérias consensuais.
O projeto começa e acaba no parlamento, embora passe pelo poder
executivo.
Nos sistemas bicamerais, como é o caso do Brasil, se estabelece a
regra constitucional do processo que se inicia em uma casa é revisto na outra (não
existe casa revisora por natureza). Na casa revisora, seja o senado ou a câmara,
repete-se o processo legislativo da casa de origem. A casa revisora pode alterar.
Acontece que, quando a casa revisora apresenta emenda, o projeto volta à casa
de origem, mas não volta integralmente. Retorna à casa de origem apenas a
alteração. O pronunciamento da casa vai consistir, então, na aprovação ou
rejeição da alteração, e isso tem caráter definitivo. Se aprovada, é incorporada no
texto. Se rejeitada, o projeto é devolvido à casa que enviou a alteração. Na prática
o que ocorre é um acordo político para efetuar alteração pela casa de origem para
a casa revisora aprovar.
Todo projeto de iniciativa fora do congresso começa na câmara (ex:
projeto de iniciativa do executivo).
O poder executivo participa do processo legislativo. Com a decisão da
casa revisora ou de origem o projeto vai ao poder executivo. Remetido ao poder
executivo, o chefe do poder executivo (presidente, governador ou prefeito) tem o
prazo constitucional de quinze dias úteis da data do recebimento para se
pronunciar (o executivo não decide, ele pronuncia). Ele pode aprovar o projeto,
sancionando-o (sanção expressa) ou também pode deixar fluir os quinze dias sem
se pronunciar. Neste último caso, temos a sanção tácita. Quando se dá a sanção
tácita a mesa promulga e publica-o. Só não vai ao executivo emenda
constitucional.
O poder executivo tem a prerrogativa de vetar. O veto é sempre
expresso e está submetido ao prazo dos quinze dias úteis. O veto pode ser total
ou parcial (restrito a um dispositivo). O veto parcial só é admitido quando se
alcança o dispositivo inteiro (ex: alínea b do artigo 12), não podendo se vetar
palavra. O veto não pode acontecer por capricho do executivo. Ele só tem a
prerrogativa de vetar em duas hipóteses: quando entende que o projeto é contrário
aos interesses públicos ou quando sob o ponto de vista da chefia do executivo o
projeto é inconstitucional. Nas duas hipóteses ele deve demonstrar as razões do
veto e comunica-las ao poder legislativo. O poder legislativo, por decisão de
maioria qualificada, tem o poder de derrubar o veto. Se não alcançar a maioria
qualificada, o veto é mantido.
A rejeição do veto implica em que a mesa promulgue o dispositivo
vetado.

14
25/09
Poder Executivo
Compreensão do exercício do poder executivo através do
presidencialismo e do parlamentarismo.
Até aqui estudamos a função do Estado de efetuar as escolhas. Agora
iremos estudar a função do Estado de fazer as coisas acontecerem (a formulação
e execução das políticas públicas voltadas aos objetivos estabelecidos; pôr em
prática aquilo que se escolheu).
Alcançar estas metas demanda primeiro direção política e depois a
direção governativa ou administrativa. Evidente que a função do Estado que
elabora e executa as políticas públicas acaba tendo maior visibilidade. Essa
visibilidade produz distorção entre governo e poder executivo. Falar de governo é
falar dos três poderes.
Além dessa associação um pouco exagerada, nota-se uma prevalência
do poder executivo em relação aos demais poderes. Geralmente o executivo, pela
natureza das funções que exerce, acaba por impor um certo grau de supremacia
sobre os outros poderes. Essa supremacia ameaça o sistema de pesos e
contrapesos.
O poder legislativo nos modelos parlamentaristas está baseado em
repartição interna de competências. Há uma divisão constitucional de matérias de
Estado e matérias de governo. Há uma chefia de Estado e uma chefia de governo.
Particularmente as atividades de governo são feitas pelo gabinete, que
é colegiado. As decisões do executivo são tomadas pelo conselho de ministros.
Outra característica é a separação jurídica clara e, de certa forma,
intransponível, entre a direção política (dada pelo gabinete – conselho de
ministros) e a direção executiva. Toda a dimensão executiva operacional é
realizada por uma burocracia estável. Com isso não ocorre uma paralisia da
máquina administrativa. Ela é profissionalizada, é independente da direção
política.
Nos modelos presidencialistas temos um quadro diferente. Todo o
aparato burocrático tem natureza de auxiliar o presidente da república. Isso
porque o presidente da república é ao mesmo tempo chefe de Estado e chefe de
governo. Como consequencia os ministros e órgãos são “longa mano” do
presidente, gerando um problema grave. Gera uma burocracia não profissional e
instável. Os cargos da burocracia são de escolha do presidente. A mudança de
governo gera a descontinuidade. Muito se começa e pouco se acaba. Outro
reflexo negativo são as excessivas alterações normativas, que prejudicam a
segurança jurídica.

08/10
No período monárquico o Brasil teve executivo que se pode classificar,
especialmente no 2° Império, como Parlamentarista. Teve uma estabilidade
política mais ou menos longa. Os nossos problemas começam com a república.
Embora tenhamos em nossa história um pensamento republicano mais ou menos

15
antigo, ele se remarca de ter sido elitista, ficou restrito a núcleos. Nossa república
acabou sendo proclamada "por acaso", a monarquia estava abalada e o imperador
estava velho e sem sucessor (a princesa Isabel era casada com um francês). A
proclamação da república não contou com a participação popular e, como
conseqüência, a república nasce sem quadro suficiente, sem projeto político e
teve que valer-se dos quadros imperiais. A república foi proclamada por decreto.
A primeira constituição republicana foi escrita por Ruy Barbosa,
baseada na constituição dos Estados Unidos. Deodoro da Fonseca foi eleito
presidente.
Desde a proclamação da república até 1945 o poder executivo não foi
exercido em molduras constitucionais. Durante boa parte desse período o país foi
governado em estado de sítio. O poder executivo nos moldes constitucionais foi
exercido entre 1945 e 1962.
A revolução de 30 nasce da quebra do sistema eleitoral. Julio Prestes
vence a eleição mas é deposto, assim como todos os governadores. Getúlio
Vargas é levado ao poder. É confrontado por São Paulo em 32, que resulta na
constituição de 34. Em 37 é dado um golpe de Estado, instalando o Estado Novo,
com o qual são fechados os poderes legislativos. Vargas governa por decretos-lei
de 37 a 45.
Em 46 temos uma nova constituição. Nesta constituição o presidente
era eleito independentemente do vice. Quando Jânio Quadros vence a eleição,
seu vice era João Goulart, que não era da mesma chapa. Jânio renuncia e Jango
não tinha aceitação para assumir a presidência. Ele se encontrava fora do país e,
enquanto não retornava, ocorre uma profunda reforma política e implanta-se o
parlamentarismo no país. O primeiro gabinete tinha como primeiro-ministro
Tancredo Neves. Jango assume como presidente. Através de um plebiscito o
Brasil volta a ser presidencialista.
Em 64 o sistema cai e o Brasil passa a viver a fase dos atos
institucionais. Uma nova constituição é outorgada em 67. Os atos institucionaos
suspendiam a execução dela. A emenda constitucional 01 de 69 altera toda a
constituição.
Figueiredo faz a transição política e Tancredo Neves é eleito
presidente, morrendo antes de tomar posse e assumindo em seu lugar José
Sarney. Em 88 é promulgada uma nova constituição. O poder executivo volta a ser
exercido sob a moldura constitucional.

09/10
O presidencialismo se caracteriza por ter mandatos fixos e rígidos. Uma
vez empossado, o mandato dura até o fim, não importa a qualidade do serviço.
Quando aquele que o detém pratica ato ilícito o mandato pode ser extinto. Fora
essa hipótese, ele só é vencível pela natureza (morte ou incapacidade) ou por
renúncia.

16
No executivo não existe duas figuras básicas do parlamento: a
destituição do gabinete e a dissolução do congresso. O presidencialismo na
América Latina vive num equilíbrio instável.
O Brasil foi o único país do mundo a utilizar o instituto do impedimento
(impeachment). Só acontece nas hipóteses de crime de responsabilidade. São
atitudes do presidente que atentem contra a independência, a soberania e a
integridade nacionais, além da prática de improbidade.
Qualquer cidadão ou instituição nacional pode oferecer denúncia de
crime de responsabilidade do presidente da república. Essa denúncia é feita à
câmara dos deputados, e cabe a ela decidir se o processo deve seguir ou se deve
ser rejeitado. Essa decisão da câmara precisa de maioria qualificada de 2/3 de
seus integrantes. Aceita a denúncia, o presidente da república recebe a acusação
formal e é afastado do cargo até o final do processo, assumindo seu vice (se em
120 dias o processo não tiver acabado, ele retorna ao cargo).
Cabe ao senado julgar o presidente da república. O senado tem o dever
constitucional de, nesse processo, abrir uma fase instrutória (para produzir provas
de defesa e de acusação). O presidente tem amplo direito de defesa. Feita a
instrução, é designada a sessão especial de julgamento. A presidência dessa
sessão de julgamento é exercida pelo presidente do STF. A votação no senado é
nominal, pode ser secreta, mas os votos não são fundamentados. A decisão de
impedimento exige 2/3 dos votos do senado. O presidente da sessão proclama o
resultado, declara o presidente da república afastado e extingue seu mandato.
Também aplica a pena acessória. Os direitos políticos são suspensos por oito
anos (não pode votar nem ser votado).
Pelo princípio da simetria esse instituto se aplica também aos
governadores e prefeitos. Como os estados e municípios são unicamerais, a
mesma casa que recebe a denúncia irá julgar. No julgamento, no caso dos
governadores, a sessão é presidida pelo presidente do Superior Tribunal de
Justiça. No caso dos prefeitos, pelo presidente da Vara da Fazenda Pública.
O critério de julgamento parlamentar é um, o de julgamento judicial é
outro. Este último está com a decisão submetida à prova, enquanto que no
primeiro o critério é político.

16/10
Exercício: relação de controle e o equilíbrio dessa relação entre os
poderes legislativo e executivo. Identificar esses mecanismos o mais concreto
possível. Dica: um dos mecanismos de controle político de governo são as
comissões parlamentares (tanto as permanentes quanto as especiais). Outro
mecanismo é o veto do executivo. Ficar com uma cópia do exercício pois valerá 5
pontos na prova.

17
2210
Tanto Hobbes quanto Rousseau, ao identificarem as funções do
Estado, ??????????. Função governativa nasce com o poder executivo. Por isso
vamos notar que essa função nasce integrando o poder executivo. Não aceita,
portanto, propriamente um poder autônomo, não nascendo como um terceiro
poder do Estado.
Nas monarquias era tida e chamada como a justiça do rei, porque os
juízes eram juízes do rei.
????????????????????????
Os reis logo descobrem que o monopólio da solução de conflitos acaba
por ser fundamental para o fortalecimento do poder político. Portanto os juízes do
rei resolvendo os conflitos.
Para que se tenha uma idéia desse processo, ainda hoje na França o
judiciário é repartição do ministério da justiça, embora gozando de sólida
autonomia.
É apenas com o constitucionalismo norte-americano que se atribui perfil
constitucional mais sólido e mais definido a esse poder como poder do Estado.
Isso porque é a constituição norte-americana que cria a figura da suprema corte.
Criada a suprema corte, recebe a atribuição de guarda da constituição. Ou seja,
garantir a aplicação e a vigência da constituição.
Para exercer a guarda da consticuição, a suprema corte acaba por
assumir a função de árbitro entre os dois outros poderes, porque a guarda da
constituição resultou no controle jurisdicional da constitucionalidade, que acaba
por ser mecanismo de orientação e controle do poder legislativo. E o controle da
legalidade acaba por ser mecanismo de contenção e controle do poder executivo.
E assim se estrutura o sistema de freios e contrapesos.
Nós identificamos poder jurisdicional como terceiro poder do Estado
com perfil parecido com o que nós temos hoje a partir do constitucionalismo norte-
americano. Este poder tem o encargo constitucional de dizer o Direito. E dizer o
Direito significa efetiva-lo, concretizá-lo.

A norma jurídica estruturalmente é um composto binário alternativo


excludente articulado pelo disjuntivo da liberdade. No primeiro segmento deste
composto binário temos o modelo de conduta obrigatória: endonorma. O segundo
segmento deste composto binário contém a previsão da conseqüência pela não
adoção da conduta obrigatória: norma secundária.
Articulando os dois segmentos temos o disjuntivo de liberdade.
Consiste na liberdade de escolha entre a conduta obrigatória e a conseqüência.
A conseqüência nos leva a identificar uma característica fundamental
da norma jurídica: coercitividade: a possibilidade de execução compulsória da
conduta obrigatória. Quando aceitamos a execução obrigatória constatamos o
exercício da força, que vem a ser o exercício da violência.
No contexto de Estado de Direito (aquele Estado que se organiza e
funciona através do Direito, inclusive estando ele próprio submetido ao Direito) o

18
exercício da violência, ainda que legitimado pelo Direito, está sujeito a
condicionamento e limitação. Podemos concluir que essa violência se exerce
conforme o Direito, ou seja, fixação de critérios para esse exercício. Cabe a
fixação de critério àquele que diz o Direito, ao poder jurisdicional.
Violência legítima é aquilo que força alguém a fazer alguma coisa
contra a sua vontade.
Esse poder jurisdicional que desempenha esse papel por atribuição
constitucional encontra sua legitimação política no pacto de organização do
Estado de Direito. Sua legitimação política é de ordem constitucional.
Dentre as características desse poder identificamos que para o
exercício dessas funções é indispensável que esse poder de Estado e as pessoas
que o exercem disponham de mecanismos de garantia que assegurem a
autonomia e, conseqüentemente, a imparcialidade. Com isso, identificamos que as
pessoas que exercem essa função não são servidores nem funcionários públicos,
mas são órgãos desse poder, e por isso é que tem um estatuto (estatuto const.da
magistratura).
O estatuto const. da magistratura busca a autonomia e independência
do poder conferindo a seus integrantes básicas:
• vitaliciedade: só perde o cargo com sentença transitada em
julgado
• inamovibilidade: não podem ser transferidos contra sua vontade.
Têm a prerrogativa, inclusive, de recusar promoção
• irredutibilidade de vencimentos
A estrutura constitucional que exerce esse poder é que vem a ser
denominada poder judiciário.

23/10
Estrutura constitucional daqueles órgãos que exercem o poder
jurisdicional.
Poder judiciário é a estrutura através da qual o poder jurisdicional é
exercido. Todos os Estados de Direito têm poder jurisdicional. Alguns organizam
de maneira nacional e unificado, porque inserem toda a estrutura jurisdicional em
um sistema único de órgão. Esse modelo é mais compatível com os Estados
unitários (ex: França, Espanha, Portugal). Tem a organização jurisdicional própria
de Estado unitário porque inserem no seu sistema constitucional organização
única.
Outros Estados, especialmente federações, estabelecem sistema de
aparelho judiciário dual (organizam sua estrutura judicial em duas justiças). As
justiças que competem aos estados-membros da federação e a justiça federal.
Esse sistema dual tem origem no sistema norte-americano. As colônias
norte-americanas possuíam um direito legal bastante abrangente. Além disso,
dispunham de um aparato estatal bastante organizado (tinham a sua justiça). Com
a independência e a fundação do Estado nacional na forma federativa, a essência

19
do pacto federativo é a manutenção das estruturas jurídico-políticas das colônias.
Elas abriram mão apenas de dois direitos de Estados independentes: a soberania
nacional e o direito de secessão. A segunda cláusula do pacto federativo foi
estabelecer a competência legislativa da união apenas para os assuntos que
dizessem interesse à união. Com isso resultou na coexistência de dois direitos: um
federal (união) e um conjunto de direitos estaduais (cada um dos estados).
Com essa divisão se tem uma justiça federal encarregada de aplicar o
direito da união e uma justiça estadual em cada estado encarregada de aplicar o
direito estadual respectivo.
O Brasil apresenta algumas peculiaridades. O Brasil, com a
proclamação da república, resolveu adotar o presidencialismo e a federação como
modo de organização do Estado brasileiro. Ocorre que a formação de nossa
federação aconteceu por fragmentação, foi um Estado unitário que dividiu-se. A
constituição declarou que as províncias do império passariam a ser estados-
membros da federação. Mas, como a divisão em províncias eram meramente
administrativas, as assembléias provinciais não tinham competência legislativa e,
portanto, não se concebia direito estadual. O presidente da província era um
delegado do imperador, bem diferente do governador. Não tínhamos justiças
estaduais.
A constituição republicana copia a norte-americana e estabelece o
modelo de dualidade de justiças. Temos uma justiça federal e uma justiça estadual
em cada estado. Ocorre a repartição de competência material entre as justiças. A
justiça estadual, no âmbito de seu território, é competente para conhecer e julgar
todas as matérias, exceto aquelas que a constituição expressamente atribua à
justiça federal.
As justiças estaduais são compostas por juízes e tribunais. Os juízes,
no primeiro grau de jurisdição, organizados conforme a repartição territorial. Os
tribunais de justiça são órgãos colegiados compostos por magistrados que
recebem o título de desembargador.
A justiça federal é composta pelos juízes federais e pelos tribunais
regionais federais, em número de cinco, sediados em Brasília, São Paulo, Rio de
Janeiro, Porto Alegre e Recife. Os tribunais regionais federais são compostos por
desembargadores.
A Alemanha possui apenas uma justiça federal. Nós temos 4 justiças
federais:
• Comum: cuja competência está nos arts. 108 e 109 CF.
• Justiça do Trabalho: formada por tribunais regionais do trabalho
e juízes do trabalho. São 24 tribunais regionais do trabalho, um
em cada estado da federação, à exceção do AC, TO, RO e AP.
São Paulo tem dois tribunais regionais do trabalho.
• Justiça Eleitoral: composta pelos tribunais regionais eleitorais,
um em cada estado da federação, e pelos juízes eleitorais. A
justiça eleitoral não tem magistratura própria. São juízes
estaduais investidos na condição de juízes eleitorais e os
tribunais regionais eleitorais são compostos por
desembargadores estaduais e federais no sistema de mandato.

20
• Justiça Federal Militar: composta por auditorias e pelo Superior
Tribunal Militar. As auditorias têm um auditor (juiz togado), mas o
juízo é colegiado (o auditor é acompanhado de um grupo das
forças). Sua competência é restrita a matéria de crime militar
praticado por militares no exercício de função militar. Existem
justiças militares estaduais. São Paulo é o único estado da
federação que tem um tribunal de justiça militar.

29/10
Tribunais Superiores: STJ, TSE, TST
Temos basicamente dois tipos de cortes na estrutura constitucional: as
justiças de partes e as justiças de direito. As cortes de partes são aquelas que têm
a natureza de cortes de apelação, funcionando como órgãos recursais do primeiro
grau ordinário. E por isso tem a competência devolutiva plena. Isto é, examina
matéria de fato e matéria de direito.
As cortes de direito têm competência para examinar e decidir sobre
interpretação e aplicação das normas. Elas não examinam matéria de fato.
Examinam e decidem apenas matérias de direito.
Olhando nosso sistema constitucional nós vamos verificar três figuras
estruturais, que são os tribunais superiores. Estes tribunais superiores devem ser
entendidos como tribunais da federação, porque são cortes de direito, não
examinam matéria de fato.
A finalidade precípua como corte de direito é manter a unidade e a
integridade da ordem jurídica.
Estes tribunais se caracterizam pelo fato que os recursos que recebem
têm natureza extraordinária (incomum). Consistem essencialmente na
interpretação e na aplicação das normas.
Quando um tribunal superior decide matéria de sua competência,
diretamente ele está preservando a manutenção da ordem jurídica, indiretamente
ele alcança direito subjetivo.

30/10
Funções Essenciais à Justiça
São instituições cuja atividade torna mais eficiente a atuação do poder
jurisdicional.
Diz-se que o poder jurisdicional é um poder estático. Ele não funciona
sem provocação. Isso se justifica por não ser razoável que aquele que julga inicie
a discussão.
Historicamente vamos identificar qualquer do povo que esteja sofrendo
ameaça ou lesão de direito. Nessas hipóteses o indivíduo tem o direito de ação. A
ação é um direito subjetivo público exercido pelo Estado. É o poder de exigir a

21
ação do Estado diante de uma lesão ou uma ameaça. Portanto é necessário que
no Estado de Direito existam estruturas com o encargo de provocar a atividade do
poder jurisdicional.
No nosso sistema jurisdicional temos duas estruturas: a que
corresponde ao ministério público e a advocacia pública e privada.
O MP, para exercer suas funções, dispõe de poderes investigatórios.
Tem a prerrogativa constitucional de requisitar informações e documentos a
qualquer instituição, autoridade ou pessoa. Tem a prerrogativa de exercer o
controle externo da atividade policial. A autonomia financeira e administrativa é
relativa, temperada.
A advocacia privada é exercida por profissionais habilitados, motivada
pelos interesses subjetivos pessoais ameaçados ou privados.
No âmbito da advocacia pública há a necessidade de defesa dos
interesses do Estado e do governo. Esta advocacia é exercida no âmbito federal
pela Advocacia Geral da União. Os procuradores e os advogados da união devem
ser parciais, devem defender os interesses do Estado.

05/11
Comentar Conselho Nacional de Justiça e falar sobre Ministério Público
e Advocacia Pública

06/11
Defensoria Pública encontra assento constitucional no artigo 134.
A advocacia vem para preservar direitos constitucionais do art. 5° CF:
acesso à justiça, devido processo legal e ampla defesa. A defesa tem que ser
técnica, adequada.
A função da Defensoria Pública é garantir assessoria jurídica gratuita
aos necessitados. Existe como instituição no âmbito federal, atua junto à justiça
federal. Existem também as defensorias públicas nos estados da federação. Até
início de 2006, quem exercia a função de defensoria pública no estado de São
Paulo era a Procuradoria-Geral do estado, através da Procuradoria de Assistência
Judiciária. A lei complementar 988 criou a Defensoria Pública de São Paulo.

Supremo Tribunal Federal


Surgiu com um decreto em 1890. O decreto 848/1890 reestruturou a
justiça federal. A constituição de 1934 passou a chamar os seus membros de
ministros, especificou os requisitos (notável saber jurídico e reputação ilibada) e
reduziu de 15 para 11 membros. Chamou o STF de Corte Suprema.

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Com o Ato Institucional 2 o número de ministros aumentou para 15 para
o governo garantir maioria. No final de 68 o AI-5 retirou da apreciação do judiciário
os atos institucionais e em 69 o número foi reduzido para 11.
Em 88 a constituição criou o STJ, reduzindo a competência do STF.
Requisito para ser membro do STF: brasileiro nato; mais de 35 e menos
de 65 anos; ter notável saber jurídico e gozar de reputação ilibada; estar em pleno
gozo dos direitos políticos.
Em crimes de responsabilidade os membros do STF são julgados pelo
senado federal e em crimes comuns pelo próprio STF.
As competências do STF estão no art. 102 CF. Dentro outras, é
competência originária do STF julgar ADIN e ADECON.

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