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CURSOS ON-LINE – ECONOMIA 2 – PROF.

MOZART FOSCHETE 1

“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples,


sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 1: INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA


INFLAÇÃO

Um observação importante: Este Curso online de


Economia II é praticamente uma continuação de nosso curso
online anterior de Economia I. Seu conteúdo se constituirá
de tópicos de Macroeconomia não abordados naquele curso
e que constam do Edital do concurso da AFRF. Por isso, para
um melhor aproveitamento, é importante que o aluno
inscrito neste curso tenha feito o Curso online de Economia
I.
Esta nossa Aula n° 1 versará sobre inflação, suas
causas e modelos explicativos do processo inflacionário. Para
um melhor entendimento deste tópico, principalmente
quando estivermos tratando dos modelos analíticos da
inflação, é importante que você dê uma revisada na Aula 10
de nosso curso online de Economia I – sobre A Oferta e a
Demanda Agregadas, ok?
Então, vamos lá, já que o tempo de vocês é curto,
aliás curtíssimo!

1 . Introdução: o conceito de inflação

Ocorre inflação quando há um aumento continuado,


permanente, do nível geral de preços - o que, em conseqüência,
provoca uma perda do poder aquisitivo da moeda.
Pela definição acima, vê-se que inflação é um processo de
aumento contínuo dos preços ao longo de um certo período.
Tecnicamente, se houver um aumento súbito do nível de preços, –
que tenha sido provocado, por exemplo, por uma medida
governamental que objetivasse a correção de alguns preços “que
estavam atrasados” – mas que não tenha continuidade no tempo,

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tal fenômeno não seria considerado inflação e, sim, um fenômeno


isolado e temporário que se esgota em si mesmo.
Da mesma forma, há que se distinguir num processo
inflacionário os aumentos de preços por efeito de, digamos,
quebras de safras ou de aumento exagerado da demanda, de
aumentos de preços de um determinado produto, frutos de
melhoria tecnológica ou de qualidade do produto. É claro que, um
novo modelo de automóvel, com novas tecnologias (vidro elétrico,
ar condicionado, etc.) deve ter seu preço elevado em relação a um
modelo anterior, porém mais simples. Este aumento de preço “por
melhoria tecnológica ou por melhor qualidade” não pode ser
considerado inflação.

2 Principais Distorções Provocadas pela Inflação

Muito embora a inflação, em qualquer grau e circunstância, seja


vista, nos países mais desenvolvidos, como um mal a ser evitado
por todos os meios, muitos economistas são de opinião que, nas
economias em desenvolvimento, uma inflação moderada, suave,
digamos de 10% ao ano, pode até ser benéfica à atividade
econômica na medida em que pode servir de estímulo a aumentos
da produção e do emprego.
No entanto, é ponto pacífico que um processo inflacionário
agudo e crônico provoca distorções e desarranjos de toda ordem
no sistema econômico, podendo ser citados os seguintes principais
efeitos perversos:

i) Efeitos sobre a distribuição de renda

Este talvez seja a pior distorção provocada por um processo


inflacionário acelerado ao reduzir drasticamente o poder aquisitivo
de todos os indivíduos que vivem de rendas fixas – como ‚ é o caso
dos assalariados, pensionistas, aposentados, ou daqueles que
vivem de aluguéis. O mesmo não se pode dizer daqueles que têm
renda variável, com possibilidades de reajustes periódicos (preços)
ou de aplicação financeira com proteção contra a corrosão
inflacionária.

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ii) Efeitos sobre pagamentos de débitos e de impostos

Ganham com a inflação todos aqueles que têm dívida de longo


prazo, mesmo que haja previsão de correção monetária – o que
dificulta o fornecimento de crédito para investimentos, crédito este
geralmente de longo prazo. A concessão de empréstimos, limitada
ao curto prazo, impossibilita os investimentos produtivos que, por
natureza, são de longo prazo. Da mesma forma, com a inflação
perde o governo na arrecadação de impostos – dada a defasagem
temporal entre o momento do fato gerador do imposto e seu
recolhimento aos cofres do governo.

iii) Efeitos sobre o mercado financeiro e de capitais

A inflação provoca um desestímulo à aplicação de recursos no


mercado primário de ações, dada a perda acentuada do valor da
moeda. Também desestimula a poupança, estimulando, isto sim, a
aplicação em imóveis, fazendas, lotes, etc., de natureza não-
produtiva.
O instituto da correção monetária, ao mesmo tempo em que
procurou reduzir estes efeitos desestimulantes sobre a poupança,
acabou por criar outros problemas, como a chamada “inércia
inflacionária”, transferindo para hoje a inflação de ontem. Este foi
um mecanismo utilizado pelo Brasil desde a segunda metade dos
anos 60 até meados da década passada, mas que, agora, com o
Plano Real, parece felizmente ter se tornado coisa do passado.

iv) Efeitos sobre o balanço de pagamentos

O aumento continuado dos preços domésticos acaba por


desestimular as exportações do País – pois compensa mais ao
exportador vender seus produtos internamente do que no exterior.
Da mesma forma, o aumento dos preços internos termina por
estimular um aumento das importações.
A solução, no caso, é uma correção permanente da taxa de
câmbio, com desvalorização da moeda doméstica. Tal como no
caso da correção monetária, a desvalorização cambial, se resolve o

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problema do balanço de pagamentos, acarreta mais inflação na


medida em que todos os produtos importados (equipamentos,
petróleo, produtos farmacêuticos, etc.) se tornam mais caros.

v) Efeitos sobre as expectativas e incertezas

Um processo inflacionário crônico e agudo, como o caso


brasileiro dos anos 80 e início dos anos 90, acaba por gerar
expectativas pessimistas dos empresários quanto ao futuro da
economia e quanto a eventuais medidas drásticas que o governo
pode vir a adotar.
O aumento do grau de incertezas daí decorrente passa a
desestimular os investimentos produtivos e a economia entra num
processo de stagflação – ou seja, estagnação com inflação.

3 Tipos ou Causas Clássicas de Inflação

Um processo inflacionário pode ter diversas origens ou causas.


Costuma-se classificar os diversos tipos de inflação de acordo com
suas causas principais. Assim, temos:

3.1 Inflação de demanda

Diz-se que a inflação é de demanda quando a demanda


agregada excede a oferta agregada de bens e serviços.
Normalmente, a inflação de demanda é interpretada como sendo o
resultado de “dinheiro demais em circulação à procura de bens e
serviços de menos!”
Tecnicamente, a probabilidade de surgimento de inflação de
demanda ocorre quando a economia estiver no ou próxima do
pleno emprego. Isto porque, caso haja desemprego em larga
escala, a demanda tende a ser relativamente pequena. Se, por um
motivo qualquer, houver um incremento ou excesso de demanda
agregada, e estando a economia com capacidade ociosa no setor
produtivo, o efeito inicial será estimular um aumento da produção,
sem que os preços se alterem. Caso esteja a economia próxima do
pleno emprego, e havendo um aumento da demanda agregada,

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não há como aumentar a oferta de bens para satisfazer esta


demanda extra. Aí, então, o ajuste ou equilíbrio se dará através de
aumentos nos preços, caracterizando um típico caso de “inflação
de demanda”.
As principais causas de inflação de demanda são:
i) gastos do governo em excesso à suas receitas tributárias,
gerando os conhecidos déficits fiscais, tal como ocorreu
sistematicamente três últimas décadas e que desaguou
na atual absurdamente elevada dívida interna pública e
que tanta dor de cabeça têm causado às autoridades
econômicas;
ii) emissões monetárias acima da taxa de crescimento do
produto interno – um fenômeno em grande parte
associado aos déficits governamentais; e,
iii) vendas a crédito – que aumentam o consumo presente,
relativamente à renda dos indivíduos.

3.2 Os choques de oferta e a inflação de custos

Quando se fala de inflação de custos, está-se falando de


inflação cuja causa principal se origina do lado da oferta. Neste
caso, o nível de demanda agregada permanece praticamente o
mesmo, enquanto os custos de produção dos bens e serviços se
elevam e são repassados aos preços.
Estes aumentos de custos, extemporâneos e abruptos,
decorrem dos chamados choques de oferta e estão geralmente
associados ao poder de mercado de grupos de empresas, ou de
sindicatos trabalhistas, de fornecedores de matérias-primas, ou
não raras vezes estão associados a algum aumento dos impostos
sobre as firmas. Como se vê, trata-se, na maioria dos casos, de
distorções de mercado, a chamada “concorrência imperfeita”.
Os choques de oferta surgem das seguintes situações:
i) Se as empresas, atuando num mercado monopolista ou
oligopolista, julgam baixas suas margens de lucro (mark-
up), elas serão capazes de aumentá-las através de uma
elevação dos preços dos bens e serviços que produzem –
o que termina por extrapolar para todos os setores
econômicos.

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ii) Da mesma forma, se os sindicatos trabalhistas mais


organizados e com maior poder de barganha são capazes
de forçar um aumento dos salários acima do aumento da
produtividade, haverá um aumento dos custos de
produção – o que, fatalmente, será repassado aos preços
dos produtos, gerando inflação.
iii) A partir da observação anterior, surge uma questão que
está sempre sendo objeto de discussão: Afinal de contas,
os reajustes de salários são ou não causa de inflação? A
resposta a esta questão é bastante simples: tecnicamente,
os reajustes de salários só serão causa de mais inflação se
eles se situarem acima da taxa de aumento da
produtividade mais a taxa de inflação corrente. Em outras
palavras, se o aumento da produtividade foi de 4% e a
taxa de inflação corrente foi de 10%, os salários deverão
ser aumentados em, no máximo 14% (numa conta
aritmética!). Se o reajuste superar esta taxa, então, pode-
se dizer que os salários estão causando um aumento da
inflação pelo lado dos custos.
iv) Uma outra fonte de inflação de custos pode ser a chamada
“inflação importada” – um aumento de preços de origem
externa e que acaba por se transmitir a toda a economia –
tal como ocorreu com o aumento dos preços do petróleo
em 1973/74 e em 1979/80, que elevou não só os preços
dos derivados deste produto, mas, também, das matérias-
primas e insumos básicos em geral.
v) Também ocorre inflação de custo quando há uma quebra
de safra agrícola. Isto porque, dado um custo do plantio, à
medida que a produção esperada se reduz (devido a
geadas, secas ou pragas), o custo unitário de produção
aumenta – o que faz elevar o preço do produto no
mercado.
Estas são, em síntese, as principais fontes ou causas de
surgimento de inflação do lado dos custos, conhecidos na literatura
econômica como choques de oferta.

3.3 Inflação estrutural

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Apenas para registro histórico, uma explicação ou justificação


para o surgimento do processo inflacionário crônico por que
passou a maioria dos países da América Latina nos anos 60/70 do
século passado, foi a chamada inflação estrutural.
A verdade é que muitos dos países desta região
experimentaram, naquelas duas décadas, um processo de rápido
crescimento econômico, associado relativamente a altas taxas de
inflação no período. Daí, surgiram inúmeras explicações para o
fenômeno, que veio a ser denominado de “escola estruturalista” a
qual raciocinava do seguinte modo:
– A inflação é uma característica típica dos países que
experimentam um rápido processo de crescimento econômico
porque:
– Primeiro, os países subdesenvolvidos apresentam uma
estrutura setorial produtiva desbalanceada ou desequilibrada,
coexistindo, lado a lado, setores bastante dinâmicos e
modernos (o setor urbano e a indústria, por exemplo) com
setores ortodoxos, atrasados (como a agricultura, a indústria
têxtil, etc.). Neste contexto, ao se iniciar um processo de
rápido crescimento econômico, os setores modernos e
dinâmicos da economia tendem a pressionar os demais
setores, com um acentuado aumento de suas demandas por
mais matérias-primas, mais alimentos, etc. Estes últimos
setores, no entanto, não têm capacidade de pronta resposta,
isto é, de satisfazer prontamente este aumento da demanda
por seus produtos e, em conseqüência, sua resposta é via
aumento de preços.
– Outra explicação residia no papel de liderança desempenhado
pelo Estado neste processo de crescimento econômico. Na
maioria dos casos, o governo se tornou a verdadeira
locomotiva da economia, puxando atrás de si o processo de
crescimento econômico, seja através de grandes projetos de
eletrificação, de telefonia, de siderurgia, de abertura de
estradas, portos e hidroelétricas; seja através de concessão
de subsídios ao setor privado. Ocorre, no entanto, que, sendo
o país pobre, a arrecadação de impostos era baixa, e a única
forma de o governo financiar seus elevados gastos era
através de emissão maciça de moeda e/ou através de
endividamento – o que só fez gerar inflação.

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– Uma outra explicação do fenômeno residia na necessidade de


o país importar matérias-primas e equipamentos para atender
ao desenvolvimento econômico. Isto exigiu endividamento
externo e/ou desvalorizações cambiais que estimulassem as
exportações cujas receitas se destinam ao pagamento das
importações. Tais desvalorizações só fizeram gerar inflação
interna.

3.4 Estagflação

Trata-se de um estado da economia em que se tem recessão


econômica concomitantemente com inflação.
O fenômeno se deve ao fato de que, com a recessão econômica
e conseqüente redução da demanda, as empresas com poder de
mercado (caso típico dos oligopólios) aumentam seus preços para
compensar as quedas nas vendas, mantendo com isso suas
margens de lucro sobre seus custos.
Em síntese, na estagflação os preços sobem enquanto a
produção e o emprego estão caindo ou, pelo menos, não estão
crescendo.

4. A função oferta agregada e a determinação dos


preços

Conforme foi visto e analisado na nossa Aula 10, do Curso online


de Economia I, a função oferta agregada indica quais as
quantidades ofertadas de produto pelo conjunto das empresas do
país para cada nível de preços.
Embora intuitivamente pareça que a curva de oferta agregada
deva ser positivamente inclinada – ou seja, quando os preços
sobem, a oferta agregada também se eleva e vice-versa, na
realidade ela pode também ser vertical – isto é, não se altera com
o aumento dos preços – e pode até mesmo ser horizontal. Neste
último caso, se, por qualquer motivo, houver um aumento da
demanda agregada, o produto ofertado se expande sem que os
preços se elevem.

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A bem da verdade, o formato da curva de oferta agregada é um


dos temas mais controversos entre os macroeconomistas.
Dependendo deste formato, os efeitos da política econômica sobre
os preços e o produto de equilíbrio podem ser os mais diferentes
possíveis. Vejamos isso com um pouco mais de detalhe:
Já foi visto na nossa Aula 10 do curso online de Economia I que
a hipótese de uma curva de oferta vertical está diretamente
associada com a Escola Clássica. Os economistas desta Escola
argumentam que tanto a oferta como a demanda por mão-de-obra
é função do salário real. Assim, dado um salário nominal e um
nível de preço vigentes num certo momento – que determinam o
nível do salário real – encontra-se o nível de emprego da
economia e, daí, o nível de produto agregado de equilíbrio.
Neste contexto, qualquer tentativa do governo para aumentar
o nível de emprego e daí o nível do produto – via aumentos na
demanda agregada - terá como única conseqüência um aumento
dos preços. Este aumento dos preços provocaria, em princípio, um
aumento no emprego, mas como a mão-de-obra percebe a perda
real de sua renda, exigirá aumentos nominais de salário
proporcionais à taxa de inflação, retornando, assim, o salário real
ao seu nível anterior. Com isso, o emprego não cresce e, em
conseqüência, o produto ofertado também não cresce.
A Figura 1 ilustra este raciocínio, mostrando a curva de oferta
agregada (OA) na posição vertical e a curva de demanda agregada
inicial (DA1). Como sabemos, a curva de demanda agregada é
determinada no mercado de produtos e no mercado monetário
(Curva IS-LM). Observe que o cruzamento da DA1 com a curva de
oferta agregada determina simultaneamente o nível do produto de
equilíbrio (Y) e nível de preços vigente na economia (P1).
Supondo que o governo resolva, por exemplo, aumentar seus
gastos na tentativa de criar mais empregos na economia, a curva
de demanda agregada se desloca para cima – para DA2. Como a
curva de oferta agregada é vertical (isto é, totalmente inelástica a
preço) o produto de equilíbrio não se altera, mas os preços se
elevam para P1.
Ou seja, no caso da oferta vertical (dos clássicos) o efeito da
política fiscal expansionista do governo foi somente sobre o nível
de preços.

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P OA P P
DA0 DA1 OA DA0 DA1
P1 P1

P0 P0 P0 OA
DA1
DA0

Y Y Y0 Y1 Y Y0 Y1 Y
Figura 1 Figura 2 Figura 3

Já na hipótese de uma curva de oferta positivamente


inclinada – esta associada com a escola keynesiana – onde se
supõe que os trabalhadores sofrem um pouco de ilusão monetária,
exigindo aumentos nominais de salário quando há aumento de
demanda por trabalho, porém sem associá-los com a taxa corrente
de inflação – uma política fiscal expansionista , ao aumentar a
demanda agregada, provoca um aumento do nível de preços
corrente. Este aumento no nível de preços não é repassado
inteiramente aos salários, gerando daí um aumento do emprego e,
por conseqüência, o produto de equilíbrio cresce de Y0 para Y1,
conforme ilustrado na Figura 2, assim como os preços que passam
de P1 para P2.
Além dessas duas versões sobre a curva de oferta agregada,
existe uma terceira versão que argumenta que, em épocas de
crise econômica com muito desemprego, a curva de oferta
agregada é horizontal até próximo do pleno emprego. Esta versão
é conhecida como keynesiano extremo. De acordo com esta
“escola”, em época de desemprego desenfreado na economia – tal
como ocorreu na grande depressão de 1929/33, - havendo um
aumento na demanda agregada por bens e serviços, os
empresários têm condições de aumentar o emprego sem
necessidade de conceder aumentos salariais, elevando, assim, o
produto ofertado sem que haja pressão sobre os preços, tal como
ilustrado na Figura 3. Feitas estas considerações, vamos analisar,
agora, a questão da inflação X desemprego.

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5. Um modelo simples de inflação de demanda

Os modelos de inflação de demanda atribuem a elevação de


preços a um excesso de demanda no mercado de produtos. Os
preços se elevam porque a demanda agregada de consumo
privado, de investimentos e de gastos governamentais excedem a
oferta agregada potencial da economia, definido essa ao nível do
pleno emprego.
Tomando-se por hipótese um modelo simples tipicamente
keynesiano – onde os salários e preços são rígidos no sentido
descendente e a oferta de mão-de-obra é função do salário
nominal vigente no mercado – a curva do produto ofertado
agregado é perfeitamente elástica ao nível de preços vigentes (P0)
até próximo ao nível de pleno emprego (Yf), quando se torna
perfeitamente inelástica às variações nos preços, como mostra a
Figura 4, onde OA representa a curva de oferta agregada e DA
representa a curva de demanda agregada.

P OA

P2

P1
DA3
P0 DA2
DA1
DA0

Y0 Yf Y

Figura 4

Sob essa hipótese, e supondo que a economia encontre-se


numa situação de desemprego, ao nível de Y0, um aumento da
demanda agregada de DA0 até DA1– seja por elevação dos gastos
do governo, seja por um aumento autônomo dos investimentos –
não deverá provocar uma elevação do nível de preços. Quando, no

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entanto, a economia atingir o nível de pleno emprego (Yf),


qualquer aumento da demanda agregada, de forma a deslocar a
curva DA para DA2, DA3, etc., provocará aumentos no nível de
preços para P2, P3, etc.
Em termos dinâmicos, a proposição é de que a taxa de
inflação (dP/P) é uma função do excesso de demanda sobre a
oferta agregada, tratando-se de uma função descontínua, não se
verificando qualquer mudança no nível de preços até que o pleno
emprego seja alcançado.
Ocorre que, na prática, é difícil se medir com exatidão o
excesso (percentual) de demanda agregada sobre a oferta
agregada. O procedimento comum, nesse caso, é tomar-se o
mercado de trabalho como “proxy” do grau de excesso de
demanda, verificando-se particularmente a taxa de desemprego
existente naquele momento.
Assim, um nível baixo de desemprego indicaria um nível alto
de demanda, e vice-versa. No entanto, a verdade é que não existe
uma simetria precisa entre o “estado” da demanda agregada por
bens e serviços e o nível de desemprego na economia. Essa
questão se torna mais problemática ainda quando se tenta aplicar
esse critério a uma economia em desenvolvimento, como a
brasileira, com elevado desemprego “estrutural” 1 que, de forma
alguma, é devido a uma deficiente ou fraca demanda agregada.
Nesses países, muito do desemprego aberto, observado nas áreas
urbanas, é explicado claramente pelos desequilíbrios estruturais
dessas economias.
De toda forma, o teste clássico para se verificar a existência
de excesso de demanda agregada seria dado pela Teoria
Quantitativa da Moeda – que mostra o elo de ligação entre
variações na quantidade de moeda existente num dado momento
na economia e o nível de preços. Se, ao nível de renda de pleno
emprego, os preços variam proporcionalmente às variações na
quantidade de moeda, obtém-se um razoável indicador da
presença de inflação de demanda2.

1
Tecnicamente, desemprego estrutural ocorre quando as pessoas desempregadas não dispõem da
qualificação necessária para ocupar as vagas oferecidas (há, por exemplo, vagas de professor universitário,
mas o desempregado é pedreiro ou enfermeiro). Nos países em desenvolvimento, o desemprego estrutural
também surge do simples fato de que a economia é incapaz de absorver toda a mão-de-obra existente.
2
Veja no anexo a esta Aula 1 uma versão detalhada da Teoria Quantitativa da Moeda.

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Antes, porém, de passarmos adiante, vale a pena observar o


seguinte: até aqui, consideramos um modelo simples keynesiano
em que a função oferta agregada da economia se apresentava em
forma de L invertido, com uma porção horizontal até atingir o
pleno emprego. Sob tal hipótese, qualquer aumento da demanda
agregada causaria um aumento no produto real (pelo
deslocamento da curva de demanda agregada ao longo da porção
horizontal da curva de oferta agregada), sem afetar o nível de
preços. Os preços só começariam a subir a partir do nível de pleno
emprego.
Essa função foi derivada da chamada versão keynesiana
extrema que argumenta que, em época de grave crise
econômica, com amplo desemprego, os trabalhadores estão
preocupados com seus salários nominais e resistem firmemente a
qualquer redução desses salários (um posição, diga-se, totalmente
contrária à opinião dos clássicos até então predominante). Desse
modo, uma redução na demanda por trabalho não deve resultar
numa queda dos salários nominais dada a sua inflexibilidade no
sentido descendente. Havendo desemprego em larga escala e
sendo a oferta de trabalho horizontal ao nível do salário nominal
vigente, mais e mais trabalhadores poderão ser contratados sem
que aquele salário se altere.
Essa interpretação, no entanto, foi posteriormente retificada,
levando a uma versão um pouco mais complexa da função oferta
agregada keynesiana3. Isso ocorreu por uma razão bastante
simples: dizer-se que a taxa salarial será constante (até o pleno
emprego), em face de variações na demanda por trabalho, não
implica necessariamente que o nível geral de preços será estável
diante de variações na demanda agregada.
Em outras palavras, é preciso deixar claro que o fato de a
curva de oferta de trabalho apresentar uma seção horizontal não
significa que a função oferta agregada da economia também
apresentará esta porção horizontal. Isso se explica pelo simples
fato de que, quanto mais se empregar mão-de-obra, menor é o
produto marginal de trabalho – o que, associado a um salário
nominal constante, W, exigirá um aumento dos preços para que a
receita marginal (=PxPMgL) se iguale ao custo marginal (W). Em

3
Confira: Wonnacott, P., Macroeconomics, R.D. Irwin Inc., Illinois, 1988, cap. 13.

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conseqüência, a curva de oferta agregada mostrará, no gráfico Y-


P, uma inclinação positiva antes de se atingir o pleno emprego.
Feitas essas considerações, vejamos, agora, um modelo de
inflação de demanda mais completo e analítico utilizando o
instrumental desenvolvido na Aula 10 de nosso curso online de
Economia I, relativo à derivação das curvas de oferta e de
demanda agregadas.

6. Inflação de demanda: um modelo mais analítico

Para desenvolver um modelo de inflação de demanda de


forma mais exaustiva, vamos recuperar as equações do sistema
IS-LM, isto é, que definem o equilíbrio no mercado de produtos e
no mercado monetário, conforme visto na Aula 10 do curso de
Economia I, ou seja:

i) Mercado de produtos (Curva IS): Y = C + I + ir + G (1)


ii) Mercado monetário (Curva LM): Ms/P = kY + hr (2)

Como já foi visto, a combinação desses dois mercados


determina os valores de equilíbrio do nível de produto demandado
(Y) e da taxa de juros (r), a um dado nível de preços. Se fizermos
variar os preços, obtemos a curva de demanda agregada (DA) da
economia, no gráfico Y-P.
De outra parte, vimos também que a oferta agregada da
economia, no curto prazo, era função do nível de emprego da
mão-de-obra, tendo, para tanto, derivado uma função de produção
da forma:

Y = f(K, L) (3)
onde, K = estoque de capital, considerado constante; e,
L = quantidade de mão-de-obra (variável).

O nível de emprego era determinado no mercado de


trabalho, através da interação da oferta de trabalho (SL) e da
demanda por trabalho. Na ocasião, ficou claro que a demanda por

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trabalho, da parte das firmas, era sempre função do salário real (w


= W/P), enquanto a oferta de mão-de-obra podia ser função ou do
salário real (hipótese dos clássicos) ou do salário nominal (W) –
que é a hipótese associada à escola keynesiana.
Para desenvolver nosso modelo de inflação de demanda,
vamos adotar a hipótese keynesiana4, ou seja, a quantidade de
trabalho que os trabalhadores estão dispostos a oferecer é função
do nível do salário nominal (W). Em outras palavras, caso haja um
aumento na demanda por trabalho, os trabalhadores só oferecerão
mais horas de trabalho caso o salário nominal (W) aumente.
A diferença entre esta hipótese e a dos clássicos está em
que, na hipótese clássica, variações de preços provocam, num
gráfico de salário nominal, deslocamentos da curva de oferta de
trabalho para a esquerda em idêntica proporção. Ou seja, havendo
uma elevação de preços, exige-se uma idêntica elevação do salário
nominal para que a quantidade ofertada de trabalho permaneça no
mesmo nível anterior. Com essa correção salarial, o salário real
retorna ao seu valor original e, com isso, não se altera a
quantidade de trabalho demandado pelas firmas.
Já na hipótese que adotamos, os trabalhadores têm uma
certa ilusão monetária, não exigindo, a curto prazo, aumentos de
salários devido a aumentos de preços. Dessa forma, pode-se
definir a função oferta agregada de trabalho como:
SL = f(W) (4)

Enquanto a função demanda agregada de trabalho é


expressa por:

DL = f (W/P) (5)

Pela forma como aparecem, as equações (4) e (5) dizem


coisas bem diferentes. A equação (4) quer significar que P não
influi na oferta de trabalho, enquanto na equação (5) a influência
de P sobre a demanda por trabalho é tão importante quanto o
nível do salário nominal.

4
Para os nossos propósitos aqui, é indiferente adotarmos a hipótese clássica ou keynesiana.

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A visualização gráfica dessas duas funções exige uma certa


“concessão” do estudioso. A rigor, tecnicamente, seria difícil
justificar a inclusão dessas duas funções num gráfico de duas
variáveis, de vez que elas estão medindo coisas diferentes. Mas,
para fins de análise, a verificação do efeito combinado de uma
alteração no nível de preços sobre a curva de demanda e de oferta
de trabalho torna-se mais evidente quando colocadas as duas
funções num mesmo gráfico.
A Figura 5 retrata as duas funções, de demanda e de oferta
de mão-de-obra, de acordo com as hipóteses descritas acima,
estando o mercado de trabalho em equilíbrio ao nível do salário
nominal W0, havendo L0 homens empregados. Se, por qualquer
razão, houver um aumento de preços para P1, as firmas verão
suas receitas aumentarem e aumentarão sua demanda por mão-
de-obra para qualquer nível de salário nominal – o que implica um
deslocamento da curva de demanda para a direita.

SL

W2
W1
W0
DL(P2)
DL(P1)
DL(P0)
L0 L1 L2 L
Figura 5

Para atender a este aumento na demanda por trabalho, os


trabalhadores, conforme nossa hipótese, exigirão um aumento de
salário de W0 para W1 e o emprego cresce para L1. Note-se que, se
os trabalhadores não exigissem aumentos de seus salários
nominais o novo nível de emprego, ao nível do salário W0,
chegaria a L2.

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Caso o nível de preços se eleve a P2, o mesmo processo se


repete, e o salário nominal sobe para W2, e o nível de emprego
aumenta até L2.
Observe-se que embora tenha havido um aumento do
salário nominal em W1 e W2, estes dois salários representam um
salário real menor que o inicial, já que houve um aumento no nível
de emprego. Esse aumento do nível de emprego provocará um
aumento no nível do produto ofertado da economia.
Temos, agora, todo o instrumental à mão necessário para
analisarmos o processo inflacionário com origem do lado da
demanda. Assim, vamos considerar que a economia se encontra
em equilíbrio – no sentido de que a oferta agregada é igual à
demanda agregada – aos níveis de P0, W0, L0, r0, Y0, conforme
aparece na Figura 6.
Suponha, agora, que o produto corrente de equilíbrio (Y0)
situa-se abaixo do nível do produto de pleno emprego e que o
governo decida adotar uma política fiscal expansionista –
aumentando seus gastos, digamos, em ∆G – no intuito de reduzir
a taxa de desemprego da economia. Como resultado, a curva IS se
desloca para a direita até, digamos, IS1. Conseqüentemente, a
curva de demanda agregada se desloca para DA1 e, agora, ao nível
de P0, há um excesso de demanda agregada sobre o produto
ofertado igual a Y1 – Y0 – o que faz com que os preços comecem a
subir. Já vimos, na Aula 10 do curso online de Economia I, os
desdobramentos desse processo: o aumento de preços reduz a
oferta real de moeda, deslocando a curva LM para LM1, elevando a
taxa de juros e daí reduzindo o nível dos investimentos e,
conseqüentemente, o novo nível da demanda agregada até Y2
(Figura 6a). No mercado de trabalho, o aumento dos preços reduz
o salário real, provocando um aumento da demanda por trabalho
(deslocamento da DL para a direita). Esse deslocamento da curva
DL provoca uma aumento do salário nominal, e o emprego
aumenta até L1 a um salário nominal (mas não o real) mais alto
Figura 6b). Esse aumento do emprego elevará, por sua vez, o nível
do produto ofertado, implicando um deslocamento ao longo da
curva de oferta agregada, OA, no gráfico Y-P, conforme se pode
ver na Figura 6c.
r IS1
LM1

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IS0
LM0
r2
r1
r0

(a) Y0 Y1 Y2 Y

SL

W2
W0
DL2 (P2)

DL1 (P0)

(b) L0 L2 L

P
OA

P2
P0

DA1
DA0

(c) Y0 Y2 Y1 Y

Figura 6
Vale observar que o nível de preços continua se elevando
enquanto houver excesso de demanda, ou seja, até que os preços

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atinjam P1. Ao final desse processo de ajustamento, o aumento


exógeno inicial da demanda agregada terá provocado um aumento
no nível de preços, o nível de emprego se elevou (como queria o
governo, aliás), o salário nominal (mas não o real) estará mais
alto, a taxa de juros estará, também, mais alta e o produto de
equilíbrio ter-se-á elevado para Y2.
Esses, em síntese, os efeitos de um processo inflacionário
originário do lado da demanda agregada. Vejamos, agora, uma
inflação originária do lado da oferta, também, chamada inflação de
custos.

7. Inflação de custos

Diz-se que uma economia enfrenta uma inflação de custos


quando os preços se elevam independentemente de pressões da
demanda por bens e serviços. Esse fenômeno decorre,
geralmente, como já foi visto, dos chamados choques de oferta,
traduzidos na “inflação importada”, ou em quebras de safras
agrícolas, sendo também um fenômeno bastante comum numa
economia onde existem grupos monopolísticos ou oligopolísticos
com razoável poder barganha, como é o caso da indústria
automobilística, do cimento, etc e de sindicatos trabalhistas
fortemente organizados.
Nessas situações, a inflação é debitada às atividades desses
grupos que são capazes de obter, conforme o caso, aumentos de
salários ou de lucros, sem que se verifiquem pressões de demanda
no mercado de trabalho e no mercado de produtos. No caso dos
salários, os aumentos obtidos são transmitidos aos preços através
de um mark-up de preços sobre os custos salariais por unidade de
produto; no caso dos lucros, a inflação é provocada pelo aumento
do próprio valor do mark-up5.

A hipótese mais simples do mark-up pode ser algebricamente


definida por:

5
Mark-up corresponde, na prática, a um percentual de lucros calculado sobre os custos diretos de produção
(basicamente mão-de-obra e matérias-primas).

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P = W/m (1 + π) (6)
onde, P é o preço por unidade de produto
W é o nível do salário
m é a produtividade média do trabalho (= Q/L)
w é o custo salarial por unidade de produto (= W/m)
π é o percentual de mark-up sobre os custos salariais.

Da equação acima, tem-se que6:

dP/P = dW/W – dm/m + dπ/1+ π) (7)

A expressão (7) diz simplesmente que a taxa de variação dos


preços é igual à taxa de variação dos salários menos a taxa de
variação da produtividade do trabalho mais a taxa de variação de
(1 + π). Se o percentual do mark-up é fixo, então a taxa de
inflação será simplesmente a diferença entre a taxa de variação
salarial e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho.
Para se descrever o processo de uma inflação de custos,
imagine-se que os trabalhadores, por uma razão qualquer, exijam
um reajuste salarial – o que se traduz num deslocamento da curva
de oferta de trabalho para a esquerda, até, digamos, SL1 (Figura
7b). Ao nível de preços P0, o nível de emprego ser reduz de L0 para
L1 – provocando, em conseqüência, uma queda no produto
ofertado para Y1, traduzido no deslocamento da curva de oferta
agregada para SL1, conforme ilustrado na Figura 7c.
Agora, ao nível de preços P0, verifica-se um excesso de
demanda agregada sobre o produto ofertado igual a Y0 – Y1, o que
causa uma elevação dos preços. Esse aumento dos preços, por sua
vez, reduz a oferta real de moeda (Ms/P), deslocando a curva LM
para LM1 e elevando a taxa de juros para r1 (Figura 7a). Daí, a
demanda por investimento se reduz, diminuindo a demanda
agregada ao longo da curva D0 (Figura 7c).

r LM1

6
Sabendo que a maioria de nossos alunos não têm boa formação matemática, temos evitado ao máximo o uso
de cálculos em nossas Aulas. Mas, vez por outra, isso se torna inevitável...

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LM0
ro
r2
r1

IS

(a) Y 1 Y0 Y

W SL1
SL0
W1
W0

DL1
DL(P0)

(b) L1 L2 L0 L

P
OA1
OA0

P1

P0

DA0

(c) Y1 Y2 Y0 Y

Figura 7
Do lado da oferta, a elevação dos preços provoca um
aumento na demanda das firmas por mão-de-obra, deslocando a
curva DL para a direita. Haverá, assim, um acréscimo no nível de

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emprego, de L1 para L2, implicando um aumento na oferta


agregada de bens e serviços de Y1 para Y2.
Desse modo, a elevação de preços reduz o excesso de
demanda ao longo da curva DA, ao mesmo tempo em que
aumenta a oferta agregada ao longo da curva OA1. Ao nível de
preços P1, o excesso de demanda foi eliminado, os produtos
ofertado e demandado estão novamente em equilíbrio ao nível Y2,
enquanto o nível de emprego situa-se, agora, em L2.

8. Algumas observações finais

Este aumento de preços provocado por um deslocamento


para a esquerda da curva de oferta agregada da economia é
comumente associado à inflação de custos. Como se pode
verificar, ao contrário da inflação de demanda, a inflação de custos
reduz o nível de emprego e o nível de produto de equilíbrio.
Um ponto importante a observar é que, tanto do lado da
demanda como do lado dos custos, a inflação possui uma natureza
auto-eliminadora, se deixada por conta das forças de mercado. Em
ambos os processos, a elevação de preços ocorreu, a rigor, devido
ao excesso de demanda sobre a oferta. Ora, a análise aqui descrita
mostrou que a própria elevação de preços desencadeia uma série
de mudanças nas variáveis que afetam tanto os componentes da
demanda agregada (r, Ms/P), como a oferta agregada (W, P, etc.)
de tal modo que um novo equilíbrio é alcançado com a eliminação
do excesso de demanda.
Se isso é fato, resta a pergunta: por que, em geral, uma vez
desencadeado o processo inflacionário, a inflação tende a se
perpetuar, às vezes até se agravando?
A resposta residiria no que se tem denominado política de
validação, adotada quase sempre pelos governos. Essa política se
materializa em adoção pelo governo de políticas fiscal e monetária
expansionista, na tentativa de elevar o nível de emprego da
economia. Tais políticas, como já sabemos, deslocam as curvas IS
e LM para a direita, provocando aumentos contínuos dos preços.
Esses aumentos de preços deslocam a curva de oferta de trabalho
para a esquerda, causando desemprego, o que exigirá novas

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medidas fiscais e monetárias expansionistas por parte do governo,


entrando-se no círculo vicioso de preços e salários em permanente
elevação.
Ao adotar tal política, o governo estará sancionando a
elevação dos preços e criando obstáculos cada vez maiores ao
controle da inflação.
* * *
Com essas considerações, encerramos esta nossa Aula 1, sobre inflação. Os
pontos mais importantes analisados aqui foram: as principais causas de inflação de
demanda, os choques de oferta e a inflação de custos, um modelo simples de
inflação de demanda e dois modelos mais analíticos de inflação de demanda e de
custos.
Na próxima Aula, a de n° 2, o tema será, de certa forma, uma continuação
deste, quando abordaremos o tópico “Inflação e desemprego: a Curva de Phillips”
– que mostra um modelo de inflação híbrida que incorpora elementos causais tanto
do lado da demanda como do lado dos custos.
A seguir, no Anexo 1, e como complemento, apresentamos uma abordagem
da inflação de demanda vista analisada através da Teoria Quantitativa da Moeda.
_________________________

A N E X O 1:
A Teoria Quantitativa da Moeda e a Inflação de Demanda

O teste clássico para se verificar a existência de excesso de demanda agregada seria


dado pela Teoria Quantitativa da Moeda – que mostra o elo de ligação entre variações na
quantidade de moeda existente num dado momento na economia e o nível de preços. Se, ao
nível de renda de pleno emprego, os preços variam proporcionalmente às variações na
quantidade de moeda, obtém-se um razoável indicador da presença de inflação de demanda.
Essa relação entre quantidade de moeda ou de meios de pagamento e o nível de
preços é derivada da conhecida “equação das trocas” clássica, que pode ser assim expressa:
MV = PY (1)
onde, M = quantidade de moeda ou de meios de pagamento existente na economia;
V = velocidade-renda de circulação da moeda;
P = nível médio dos preços; e
Y = renda real ou produto físico.

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Como está expressa, a equação (1) nos diz meramente que o valor das compras é
igual ao valor das vendas. Nesses termos, dir-se-ia que a equação das trocas é uma
tautologia, isto é, está afirmando o óbvio. Para transformar essa equação numa teoria de
determinação dos preços em geral, os clássicos foram adiante e supuseram que V e Y são
constantes no curto prazo, sob o argumento de que a velocidade da moeda reflete os hábitos
de compra da população e a tecnologia de compensação bancária – fatores estes que não
não mudam no curto prazo, digamos, em seis meses – enquanto Y reflete a capacidade
instalada da economia – o que também não muda no curto prazo – estando a economia, na
suposição, no pleno emprego.
Assim, com essas duas restrições a respeito dos valores de V e de Y, a teoria
quantitativa clássica torna-se a melhor representação de um modelo puro de inflação de
demanda, predizendo que o nível de preços subirá proporcionalmente a um aumento da
oferta monetária. A expansão monetária torna-se, então, o fator causal do processo
inflacionário.
Observe-se que a hipótese de V constante implica supor que a demanda por moeda é
uma função constante ou pelo menos estável do nível de renda, isto é,
Md = kPY (2)
onde,
k = 1/V
No entanto, uma corrente de economistas, geralmente associados à teoria
keynesiana, costuma fazer restrições à essa associação direta entre expansão monetária e
aumentos automáticos dos preços, argumentando que a hipótese de uma demanda por
moeda estável tinha uma certa lógica numa época em que a única função da moeda era a de
servir como meio de pagamento. No entanto, com o desenvolvimento do mercado de títulos
e o posterior reconhecimento de que parte da demanda por moeda é explicada por motivos
especulativos (à feição keynesiana), dificilmente se poderia sustentar a tese de uma função
demanda por moeda estável e conseqüentemente de V estável. Isso porque, sendo a
demanda por moeda para especulação uma função da taxa de juros, a demanda agregada
por moeda oscilaria toda vez que a taxa de juros se alterasse. Assim, para se manter a
igualdade expressa na equação (1), a velocidade , V, da moeda teria que se alterar.
Esse ponto pode ser facilmente verificando que o equilíbrio do setor monetário
ocorre quando

Ms = Md = M (3)
onde,
Ms é a oferta monetária e,
Md é a demanda total por moeda.
Substituindo Md (dado pela equação (3)) na equação (1), temos:

MdV = PY

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ou,
V =PY/Md (4)

Assim, sendo Md variável em função das alterações na taxa de juros, V torna-se


altamente adaptável. Nesse sentido, concluem aqueles críticos, a relação direta entre
aumentos na oferta monetária e conseqüentes aumentos no nível geral de preços deixa de
ser tão automática como previsto pela teoria clássica.
De toda forma, essa é apenas uma questão preliminar neste modelo introdutório de
inflação de demanda. Na realidade, um processo inflacionário, seja qual for sua origem,
exige um tratamento mais abrangente e mais analítico, enfocando não só suas causas mas,
também, seus principais efeitos nos vários setores da economia. Os modelos analíticos de
inflação de demanda e de custos apresentados anteriormente mostraram justamente isso.
_________________________

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