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CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI - UNIASSELVI

Curso de Arquitetura e Urbanismo


ARQ15- Planejamento Urbano I
Profª Priscila Kannenberg

TEORIAS SOBRE A URBANIZAÇÃO

1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Dada a falta de base teórica para o planejamento urbano quando do advento da Revolução Industrial,
surgiram diversas teorias para o ordenamento das cidades atuais.
Garcez (1992) comenta que o problema remonta à primeira metade do século XIX, surgindo na Inglaterra e
atingindo toda a Europa (especialmente a França) e os Estados Unidos, na segunda metade do período.
No século XX, a questão assume caráter mundial.

2 UTOPIAS DO SÉCULO XIX


Choay (1998) afirma que a cidade industrial é um fato novo surgido num tempo limitado e que seus males,
tanto quanto o protesto de seus habitantes, encontram no início do século XIX um "vazio ideológico",
surgindo a partir daí iniciativas individuais que podem ser agrupadas em duas linhas principais:
 a dos "visionários", cuja abordagem do problema da urbanística moderna é baseada em um
modelo ideológico global alternativo à cidade existente; as idéias são contidas em um "plano", o qual
determina o "ideal" para a cidade;
 a dos "pragmáticos", com a adoção de exigências técnicas individuais relacionadas ao
desenvolvimento da cidade existente, corrigindo problemas isolados.
Três movimentos são característicos nesta época (GARCEZ, 1992). O primeiro deles diz respeito à uma
"reação política" ao desacreditado industrialismo, apoiando-se em uma "utopia rural", que privilegia as
pequenas comunidades em contraponto a grandes metrópoles. Seu principal exemplo é um aldeamento
para cerca de 1.200 pessoas (New Harmony), considerado o primeiro plano urbanístico moderno,
desenvolvido por Robert Owen. Estas idéias vão influenciar Ebenezer Howard, idealizador da cidade-jardim,
uma das principais representantes do modelo culturalista.
O segundo movimento relaciona-se a uma "reforma urbana", baseando-se na mudança de alguns aspectos
da sociedade industrial na busca de um "novo ambiente social". Seus principais seguidores são:
 Benjamin Richardson, que desenvolve proposta para a cidade utópica de Higéia;
 John S. Buckingham, que propõe uma cidade repetível em série (Victoria);
 Arturo Soria y Mata, que idealizam a cidade linear.
 A "revolução urbana" caracteriza o terceiro movimento, que tenciona o estabelecimento de uma
nova ordem social pela substituição de todas as instituições, valores e mecanismos existentes na
sociedade. Os principais representantes deste movimento são:
 EtienneCabet, que propõe a construção da ordem social através da ordem urbanística (sintetizada
na cidade utópica de Icara);
 Jean-Baptiste Godin e Charles Fourier, que propõem a comunidade tipo "Falanstério";
 Victor Considerant, que cria a comunidade tipo "Familistério" (com base em Godin).
Donne (1983) conclui que os utópicos do século XIX concentram-se no desenho da cidade, sem
preocupação com o planejamento como processo contínuo.
Desta forma, constituem planejadores físicos, que visualizavam a solução dos problemas das cidades pela
construção de um novo ambiente.

3 MODELOS
Através de modelos, os urbanistas propõem cidades a partir de suas opções axiológicas e com base em
modelos, ou seja, estruturas que servem de exemplo e têm um caráter reprodutível.
Os modelos urbanísticos podem ser classificados em três grupos principais: progressista, culturalista e
biotécnico (GARCEZ, 1992).

3.1 MODELO PROGRESSISTA


O modelo progressista é aberto. Seus espaços citadinos são traçados para as funções humanas
(especialmente moradia, trabalho e lazer) e contam com muitos vazios e áreas verdes com objetivo de
promover a higiene urbana. Importante papel também é dispensado à estética.
Adota conceitos mecânicos e quantitativos, prevalecendo as partes e preocupando-se com as
necessidades materiais. A cidade assume grandes dimensões, com geometrismo bem definido. Suas
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construções seguem protótipos e padrões, com destaque para as moradias individuais.


O modelo progressista é principalmente representado por (GARCEZ, 1992):
 Tony Garnier, que estrutura uma cidade industrial para 35.000 pessoas;
 Charles-EdouardJeanneret (Le Corbusier), que formula propostas de várias estruturações urbanas
(LE CORBUSIER, 1983; 1992; 1993): Plano Voisin (Paris), Cidade Radiosa, Saint-Dié, Chandigarh, etc.,
embasadas principalmente nos pressupostos da Carta de Atenas;
 Walter Gropius, que aplica idéias fortemente influenciadas pela Bauhaus em bairro novo em Berlim;
 Frank Lloyd Wright, que desenvolve modelo antiurbanístico em cidade utópica (Broadacre City).

3.2 MODELO CULTURALISTA


O modelo culturalista adota conceitos orgânicos e qualitativos, prevalecendo o todo e preocupando-se
com as necessidades espirituais. A cidade assume dimensões reduzidas, com espaço imprevisível e
diversificado. O destaque é dado às funções comunitárias e culturais (HOWARD, 1996). Uma das grandes
preocupações volta-se à estética urbana.
O modelo culturalista é expresso especialmente por (GARCEZ, 1992):
 Ebenezer Howard, que cria as cidades-jardim (Letchworth / Welwin);
 Raymond Unwin, que desenvolve o planejamento para a cidade-jardim (Letchworth);
 Frederick Law Olmsted, que vence o concurso para o Central Park de New York, mudando o
conceito sobre estruturação de espaços abertos urbanos;
 Camilo Sitte, com idéias voltadas à estética urbana (SITTE, 1992);
 Clarence Arthur Perry, que propõe a estrutura urbana a partir de unidades de vizinhança (aplicadas
a Radburn;
 Harold Orleans, que planeja a construção de novas cidades com conceitos de unidades de
vizinhança, a partir da Lei de Planejamento Urbano e Regional na Inglaterra (Stevenage).
Estes autores vão influenciar Abercombrie&Forshaw em suas propostas de News Towns e Buchanan, que
detalha proposta de hierarquização de vias urbanas.

3.3 MODELO BIOTÉCNICO


O modelo biotécnico busca a reintegração do problema urbano ao seu contexto global e multidisciplinar.
Baseia-se, principalmente, em três abordagens metodológicas:
 Definição do contexto de localização humana;
 Determinação das influências do meio urbano sobre o comportamento do homem;
 Análise da percepção humana da cidade sob o ponto de vista estrutural.
Seus principais representantes são:
 Patrick Geddes, cuja visão da cidade é a de um organismo vivo (vitalismo, que se desdobra para o
evolucionismo) expressa em sua obra "Cities in Evolution" (GEDDES, 1994); propõe a utilização de método
de pesquisa sociológica para o planejamento urbano;
 Lewis Munford, discípulo de Geddes que propõe o "urbanismo biotécnico" em sua obra "A Cultura
de Cidade" (MUNFORD, 1998a; 1998b);
 Gaston Bardet, que evidencia a distinção entre organicidade e organizaçãomecânica das cidades
(BARDET, 2001).

4 TEORIAS
As teorias urbanísticas desvendam leis que regem o processo de estruturação e funcionamento das
cidades, envolvendo várias linhas, dentre as quais podem ser destacadas: ecológica, psicossocial,
sociológica, econômica/locacional, política e geográfica.

4.1 TEORIA ECOLÓGICA


A teoria ecológica baseia-se nas premissas de que os habitantes da cidade competem por percepções
familiares, socioeconômicas e étnicas, o que ocasiona diferenças espaciais, podendo se organizar de
formas distintas na dependência dos seguintes fatores:
 Posição social;
 Características familiares;
 Segregação social.
Os principais autores da teoria ecológica são:
 Park e Burgess, fundadores da ecologia urbana (Escola de Chicago) e idealizadores das zonas
concêntricas por dimensão familiar (PARK et AL., 1967);
 Homer Hoyt, proponentes da distribuição por setores conforme a posição social;
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 Chauncy Harris & Edward Ullman, formuladores da estruturação por núcleos múltiplos ligados a
etnias;
Outra vertente atual da ecologia urbana é relacionada às questões ambientais (FRANCO, 2001).

4.2 TEORIA PERCEPTUAL


A teoria perceptual pretende examinar a cidade em seu aspecto visual, avaliando a imagem mental dos
cidadãos em seus atributos: imagibilidade, visibilidade e legibilidade. Os elementos desta imagem são os
caminhos, limites, bairros, nós e pontos de referência, com componentes identificados por sua identidade,
estrutura e significação.
Kevin Lynch realizou experiências neste sentido em três cidades americanas, apresentadas em sua obra “A
Imagem da Cidade” (LYNCH, 1997).

4.3 TEORIA PSICOSSOCIAL


A teoria psicossocial, especialmente representada por Jane Jacobs através da sua obra “A Vida e a Morte
das Grandes Cidades Americanas” (JACONS, 2000), tenta avaliar as qualidades, atrativos e deficiências
dos espaços urbanos, relacionando-os diretamente aos seus usuários. A rua e o parque são alguns dos
elementos de interpretação. À criança cabe um lugar de destaque na análise, pois a autora considera que a
cidade grande a segrega dos seus espaços básicos.

4.4 TEORIA SOCIOLÓGICA


A teoria sociológica se volta às relações sociais dentro das cidades, partindo das premissas da existência
de grande número de pessoas e, por decorrência, de alta densidade de população. É representada, dentre
outros, por (GARCEZ, 1992):
 Louis Wirth, que aborda a adaptação à sobrecarga;
 Durkein & Spencer, que adotam conceitos de divisão de trabalho (Spencer) e de solidariedade
orgânica oposta à solidariedade mecânica (Durkein);
 Parsons & Merton, que se apoiam no sistema social (economia, controle social, educação,
organização política e instituições).

4.5 TEORIA ECONÔMICA / LOCACIONAL


Esta teoria se fundamenta na análise da cidade entendida como sistema de organização econômica,
refletindo a economia espacial. Tem como principais representantes (GARCEZ, 1992):
 Von Thunen, que se baseia na distribuição da produção no espaço rural em círculos concêntricos
ao redor da cidade;
 M. Weber, que estuda a localização ótima industrial;
 Augusto Losch, que aperfeiçoa a localização industrial a partir dos princípios de Von Thunen e
Weber;
 Reilly, que introduz conceitos gravitacionais de atração das cidades;
 L. Wingo, que interpreta a demanda por transportes como resultado do emprego total em uma área
urbana e da freqüência ao trabalho;
 William Alonso, que avalia as deseconomias de aglomeração, relacionadas ao preço do solo
urbano;
 Albert Gutemberg, que analisa os elementos da estrutura urbana, suas partes funcionais e a
tendência hierárquica da mesma para avaliação da translocação ou deslocamentos de atividades;
 W. Isard, que divide o espaço econômico em economias de localização e economias de
urbanização.

4.6 TEORIA POLÍTICA


Manoel Castells é o principal idealizador desta teoria, expressa em sua obra "A Questão Urbana"
(CASTELLS, 1983), de fundamentação marxista, interpretando a metrópole como meio de produção, meio
de reprodução e instrumento político. Considera o sistema urbano como um conjunto compreendendo:
 Produção e seus meios;
 Consumo e força de trabalho;
 Intercâmbio produção-consumo;
 Gestão;
 Organização social;
 Instituições;
 Simbolismos.
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4.7 TEORIA GEOGRÁFICA


A abordagem geográfica se faz pela investigação do espaço organizado, tendo representações como:
 Milton Santos, que parte da interpretação de dois circuitos básicos urbanos: superior, relativo ao
conjunto de atividades com aporte tecnológico, e inferior, relacionado ao setor da população que realiza as
atividades e consumo; estas considerações estão expressas em sua obra "O Espaço Dividido" (SANTOS,
2004);
 Walter Christaller, que avalia a hierarquização das cidades (CHRISTALLER, 1988);
 Michel Rochefort, que determina centros de polarização (ROCHEFORT, 1998).

5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS


São diversos os movimentos contemporâneos, cabendo destaque ao City Beautiful, que se fundamenta,
dentre outras diretrizes, na integração do sistema de áreas verdes à funcionalidade da cidade; ao New
Urbanism, cuja estruturação de espaços na forma de condomínios privilegia, na maioria das vezes, a
dependência do automóvel, com largo senso de comunidade; e aos Grandes Projetos Urbanos (GPUs),
que se baseia na implantação de obras de largas proporções para mudança contextual de extensas áreas
do meio urbano.
As idéias, modelos e teorias urbanísticas não são excludentes entre si e não constituem opções únicas a
serem adotadas. Formam, por outro lado, ampla base teórica para a prática da gestão urbana (WEISKEL,
1991).
O crescimento urbano acelerado, tão relevante no país, gera uma gama crescente de problemas,
resultantes da incapacidade cada vez maior dos municípios em abrigar este contingente populacional com
a devida organização de seus territórios, entre outras razões por deficiências na profissionalização do
planejamento e gestão das cidades.
A essas constatações pode ser adicionada a afirmativa de que "na virada do século, quase metade da
humanidade viverá em cidades; o mundo do século XXI será predominantemente urbano" (CMMAD, 1988).
No ano 2040, as nove maiores cidades do mundo estarão em países do Terceiro Mundo, justamente
aqueles com mais reduzidas condições para enfrentar problemas desta envergadura.

REFERÊNCIAS
BARDET, G. O urbanismo. São Paulo: Papirus, 2001.
CASTELLS, M. A questão urbana. São Paulo: Paz e Terra, 1983.
CHOAY, F. O urbanismo: utopias e realidades – uma antologia. Tradução de Nascimento Rodrigues. São
Paulo: Perspectiva, 1998. (Coleção Estudos, 67)
CHRISTALLER, W. Os lugares centrais do sul da Alemanha: Introdução. In. GÓMEZ, J. et al. El pensamiento
geográfico. 2. Ed. Tradução de Angela Maria Endlich. Madrid: Aliança editorial, 1988. p.395-401.
CMMAD – COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum.
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.
DONNE, M. D. Teorias sobre a cidade. Tradução de José Manuel de Vasconcelos. São Paulo: Martins
Fontes, 1983.
FERRARI, C. Curso de planejamento municipal integrado. 2. Ed. São Paulo: Guazzelli/Mackenzie, 1979.
(Coleção Mackenzie/Urbanismo)
FRANCO, M. A. R. Planejamento ambiental para a cidade sustentável. 2. Ed. São Paulo: Annablume, 2001.
GARCEZ, L. A. L. Planejamento urbano: síntese das doutrinas e teorias urbanísticas. Curitiba: UFPR, 1992.
GEDDES, P. Cidades em evolução. Campinas: Papirus, 1994.
HOWARD, E. Cidades jardins de amanhã. Tradução de Marco Aurélio Lagonegro. São Paulo: Hucitec,
1996. (Série Estudos Urbanos, 7 / Série Arte e Vida Urbana, 5)
JACOBS, J. Vida e morte das grandes cidades americanas. São Paulo: Martnis Fontes, 2000.
LE CORBUSIER (pseudônimo de JEANNERET-GRIS, C. E.). Planejamento urbano. São Paulo: Perspectiva,
1983. (Coleção Debates: Urbanismo, 37)
LE CORBUSIER (pseudônimo de JEANNERET-GRIS, C. E.). Urbanismo. Tradução de Maria Ermantina
Galvão Gomes Pereira. São Paulo : Martins Fontes, 1992.
LE CORBUSIER (pseudônimo de JEANNERET-GRIS, C. E.). A carta de Atenas. Congresso Internacional de
Arquitetura Moderna. São Paulo: Hucitec, 1993.
LYNCH, K. A imagem da cidade. Tradução de Maria Cristina Tavares Afonso. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
MUNFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. Tradução de Neil R. da
Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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Profª Priscila Kannenberg

MUNFORD, L. A cultura das cidades. Tradução de Neil R. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
PARK, R.; BURGUESS, E. W.; Mac KEN ZIE, R. The city. Chicago: The University Press, 1967
ROCHEFORT, M. Redes e sistemas: ensinando sobre o urbano e a região: São Paulo: Hucitec, 1998.
SANTOS, M. O espaço dividido. 2. Ed. São Paulo: Edusp, 2004.
SITTE, C. A construção da cidade segundo seus princípios artísticos. São Paulo: Ática, 1992.
WEISKEL, T. Urbanization: a doomed experiment?. Ecodecision, Montré al : 3:16-21, dez.1991.

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