You are on page 1of 4

Artigo Original

Análise da Variabilidade da Freqüência Cardíaca em


Pacientes Hipertensos, Antes e Depois do Tratamento
com Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina II
Antônio da Silva Menezes Júnior, Humberto Graner Moreira, Murilo Tavares Daher
Goiânia, GO

Objetivo O sistema nervoso autônomo (SNA) desempenha um papel


Comparar a variabilidade de freqüência cardíaca em indiví- fundamental no controle da pressão arterial e da freqüência cardíaca,
duos normotensos e hipertensos e observar o comportamento podendo, portanto, ser relacionado como um importante fator
do sistema nervoso autônomo após terapia com inibidores da fisiopatológico no desenvolvimento da hipertensão arterial1.
enzima conversora de angiotensina II. Atualmente, é possível conhecer o estado de ação autonômica
em que se encontra o coração, estudando a variabilidade da fre-
Método qüência cardíaca. A freqüência cardíaca varia batimento a bati-
Estudados 286 pacientes com diagnóstico de hipertensão
mento como conseqüência das adaptações constantes promovidas
arterial, pela 1a vez, e divididos em 4 grupos, conforme a pressão
pelo SNA para manter o equilíbrio do sistema cardiovascular
arterial diastólica (PAD): grupo A - PAD<90 mmHg; grupo B -
PAD 90-99 mmHg; grupo C - PAD 100-109 mmHg; grupo D - podendo estas alterações ser avaliadas através das variações nos
PAD>110 mmHg. Os pacientes do grupo A (normais) e do grupo intervalos RR, constituindo assim a variabilidade da freqüência
C (HA moderada), somando 110 e 79 pacientes, respectivamente, cardíaca 2. É a integração entre a modulação simpática e
submeteram-se ao Holter-ECG 24h com análise de variabilidade parassimpática que determina a variabilidade da freqüência car-
de freqüência cardíaca no domínio do tempo (DT) e no domínio díaca3. Como ferramenta de pesquisa, a avaliação da variabilida-
da freqüência (DF). O grupo C foi tratado com inibidores da de da freqüência cardíaca tem permitido um melhor entendimen-
ECA durante 3 meses, e após esse período novamente avaliado to da participação do SNA em diferentes situações fisiológicas e
com Holter-ECG 24h e variabilidade da freqüência cardíaca, e patológicas do sistema cardiovascular, entre outras. Seu uso tem
os valores comparados com os normotensos. estimulado grande número de observações, indicando o valor po-
tencial desta abordagem na expansão dos conhecimentos sobre
Resultados as alterações dos mecanismos de controle da pressão arterial
Os parâmetros SDNN, PNN50 (DT) e o espectro LF (DF)
envolvidos na hipertensão4-6.
foram significativamente diferentes para os dois grupos, com
A existência de uma hiperatividade simpática tem sido fre-
valores notadamente diminuídos em hipertensos (p<0,05). Pa-
qüentemente associada à hipertensão arterial7,8. Há evidências
cientes do grupo C, após tratamento com IECA, mostraram-se
ainda de que a sensibilidade do controle baroceptor, prejudicada
recuperados em todas as variáveis da variabilidade da freqüência
cardíaca, apresentando valores próximos aos dos normotensos. em indivíduos hipertensos9-11, envolve principalmente mecanismos
parassimpáticos12-14.
Conclusão Apesar de vários estudos indicarem que as alterações simpáticas
A variabilidade da freqüência cardíaca mostrou-se reduzida e parassimpáticas estão simultaneamente envolvidas na patogênese
em hipertensos quando comparados aos normotensos, apon- e desenvolvimento da hipertensão arterial, os resultados obtidos
tando para uma queda no reflexo baroceptor. Observou-se ainda utilizando-se variabilidade da freqüência cardíaca são conflitantes.
a presença de um ajuste autonômico funcional após terapia Estudos de base populacional têm mostrado uma variabilidade da
anti-hipertensiva com IECA, indicando recuperação do tônus freqüência cardíaca reduzida em pacientes com hipertensão arterial
parassimpático. de longo tempo, apesar do tratamento com anti-hipertensivos15.
Contudo, ainda não se sabe se a regulação cardiovascular autonô-
Palavras-chave mica anormal é uma característica primária e que precede a
hipertensão arterial, inibidores da ECA, sistema nervoso au-
instalação da hipertensão, ou se pode ser revertido com terapia
tônomo, variabilidade da freqüência cardíaca
anti-hipertensiva. Além disso, não é conhecido se a melhora da
regulação autonômica é relacionada à redução da pressão arterial
Universidade Federal de Goiás e Hospital São Francisco de Assis ou efeito imediato da droga16.
Endereço para Correspondência: Rua C-25A - Qd 14 - Lote 16 O presente estudo tem por objetivos analisar e comparar a varia-
Jd. América - Cep 74265-155 - Goiânia - GO
bilidade de freqüência cardíaca em normotensos e hipertensos, e
E-mail: humbertograner@uol.com.br
Recebido para Publicação em 4/4/03 observar o comportamento do SNA após administração de inibidores
Aceito em 17/11/03 da enzima conversora de angiotensina-II nestes pacientes hipertensos. 165
Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 83, Nº 2, Agosto 2004

TJul 22.p65 165 28/07/04, 11:25


Variabilidade da freqüência cardíaca em hipertensos

Método Quadro I - Descrição dos índices de variabilidade de freqüência cardíaca


(VFC) utilizados para análise

Foram admitidos para o estudo, 286 pacientes, de ambos os Índice Definição Unidade
sexos, maiores de 18 anos, com diagnóstico primário de hiper-
Domínio do tempo
tensão arterial essencial e, portanto, sem uso de medicamentos SDNN Desvio padrão de todos os ms
anti-hipertensivos. Os pacientes selecionados foram informados intervalos R-R
do estudo e assinaram termo de consentimento. Foi levantada RMSSD Raiz quadrada da média das diferenças ms
sucessivas ao quadro, entre R-R adjacentes
toda história clínica e realizados exame clínico e exames comple- PNN50 Porcentagem das diferenças sucessivas %
mentares para avaliação da hipertensão arterial e possíveis lesões entre os intervalos R-R maiores que 50 ms
Domínio da freqüência
em órgãos-alvo.
LF Espectro de baixa freqüência ms²
Foram excluídos do estudo pacientes que já possuíam o diag- (entre 0,04 e 0,15 Hz)
nóstico prévio de hipertensão arterial, com ou sem o uso de me- HF Espectro de alta freqüência ms²
(entre 0,15 e 0,40 Hz)
dicamento anti-hipertensivo, assim como pacientes com suspeita LF/HF Relação LF/HF -
de hipertensão arterial secundária, insuficiência renal, cardíaca
ou hepática, ou sofrido qualquer evento cardiovascular recente.
Presença de neuropatias, diabetes mellitus, doença autoimune,
vamente submetidos ao Holter-ECG 24h e à análise da variabilidade
doença de Parkinson, arritmias cardíacas, e outras condições afe-
da freqüência cardíaca, e comparados novamente com o grupo
tando a função neuroautonômica também foram critérios de ex-
normotenso, independentemente do níveis pressóricos em que se
clusão, bem como uso de antidepressivos, neurolépticos, antiar-
encontravam, a fim de verificar possíveis alterações autonômicas
rítmicos e lítio.
decorrentes do tratamento.
Cada paciente teve a sua pressão arterial aferida ambulato-
Os dados foram analisados utilizando-se o software estatístico
rialmente, pelo menos em três momentos distintos, com esfig-
Epi Info 6.2. Para a comparação entre os dois grupos e validação
momanômetros aneróides devidamente calibrados, segundo ins-
estatística foi utilizada correlação de Pearson (r) e teste T de Student
truções contidas nas IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão
(p) bicaudal, com alfa de 5% e intervalo de confiança de 95%.
Arterial17 e no Joint National Committee18. Para fins de classifica-
ção dos valores da pressão arterial, foi considerada a média dos
dois últimos registros.
Resultados
Baseados na medida da pressão arterial diastólica, os pacientes
Dos pacientes avaliados 38,4% (n=110) foram classificados
foram divididos de acordo com a classificação recomendada nas IV
em grupo A; 24,1% (n=69) grupo B; 27,6% (n=79) grupo C, e
Diretrizes de Hipertensão Arterial Brasileira em quatro grupos 17:
9,7% (n=28) grupo D. Os grupos A e C foram submetidos ao
grupo A - PAD<90 mmHg; grupo B - PAD 90-99 mmHg; grupo C
seguimento para análise da variabilidade da freqüência cardíaca.
- PAD 100-109 mmHg; grupo D - PAD>110 mmHg.
As características de base dos pacientes de ambos os grupos
Os pacientes dos grupos A e C, com pressão arterial normal e
encontram-se na tabela I. Apesar de pacientes hipertensos classifi-
hipertensão arterial moderada, respectivamente, foram escolhidos
cados no grupo C serem ligeiramente mais jovens, mais obesos e
para seguimento de análise da variabilidade da freqüência cardíaca
com maior prevalência do hábito de fumar, não houve diferença
e submetidos ao Holter-ECG 24h, com aparelhos Hill-Med™ mo-
significativa para o grupo normotenso. Apenas os níveis pressóricos
delo 3.0 e gravadores com fita magnética modelo Hill-10™, se-
apresentaram diferença significativa, já esperada, entre os dois grupos.
guindo as normas internacionais 2. Três derivações eletrocardio-
Todos os pacientes tiveram o Holter-ECG 24h gravado regular-
gráficas (V1, V5 e aVF) foram registradas durante o exame. As
mente, não ocorrendo nenhum episódio de falha de registro que
gravações foram divididas em seguimentos de 5min. Todos os
comprometesse os dados do exame. Todos apresentaram pelo menos
batimentos ectópicos foram classificados e utilizados apenas se-
21h de registro disponíveis para a análise de variabilidade da fre-
guimentos com ectopia menor que 2%. Cada intervalo R-R anormal
qüência cardíaca. SDNN (desvio padrão de todos os intervalos R-R)
foi substituído pelo intervalo R-R seguinte. A seqüência dos inter- (p=0,03), PNN50 (porcentagem das diferenças sucessivas entre
valos R-R normais foi analisada nos domínios de tempo e fre- os intervalos RR > 50 ms) (p<0,001) e LF (espectro de baixa
qüência, usando os índices descritos no quadro I. Os dados obtidos freqüência entre 0,04 e 0,15 Hz) (p<0,001) foram significativa-
da análise de variabilidade da freqüência cardíaca dos grupos A e mente menores no grupo hipertenso quando comparado ao grupo
C foram, em seguida, comparados. normotenso (fig. 1 e 2). Uma tendência não significativa de au-
Após a análise de variabilidade da freqüência cardíaca, os mento na relação LF (espectro de baixa freqüência)/HF (espectro
pacientes do grupo C foram tratados com inibidores da enzima de alta freqüência) (p=0,06) também pôde ser observada (fig. 2).
conversora de angiotensina II por um período de 3 meses, sem Não houve diferença significativa nos demais índices avaliados.
adição de uma 2ª droga. Para tanto, foram utilizados preferen- Em todos os pacientes do grupo C foram administrados inibidores
cialmente enalapril e ramipril, pela maior viabilidade e maior quan- de enzima conversora de angiotensina II por um período de 3 meses.
tidade de estudos relacionados com o seu uso na literatura médica. Nenhum deles apresentou, ao longo desse período, tosse seca per-
A dosagem administrada foi variável e dependente das caracterís- sistente ou outro efeito adverso que pudesse ser atribuído ao medi-
ticas de cada paciente. Se houvesse algum paciente com efeito camento. Após 3 meses, esses pacientes foram novamente exa-
adverso, decorrente do uso de inibidores da enzima conversora da minados. Nem todos os pacientes obtiveram controle satisfatório da
angiotensina II, o medicamento seria trocado e o paciente des- pressão arterial com a monoterapia com inibidores de enzima con-
166 continuado do estudo. Após 3 meses, esses pacientes foram no- versora de angiotensina II. A pressão arterial sistólica média, aferida

Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 83, Nº 2, Agosto 2004

TJul 22.p65 166 28/07/04, 11:25


Variabilidade da freqüência cardíaca em hipertensos

19 20 15,20,21
Tabela I - Características de base dos pacientes grupo A e grupo C SDNN , PNN50 e LF . Também encontramos aumento,
porém não significativo, na relação LF/HF de indivíduos hipertensos,
Características Grupo A Grupo C P
semelhante aos achados de Pikkujamsa e cols.9 e Sevre e cols22.
Idade 52,2 ± 10 47,5 ± 12 0,23 Estudos anteriormente publicados apresentam resultados con-
Sexo Masculino (%) 42% 49% 0,31
IMC (kg/m²) 25 ± 4 27 ± 5 0,21
flitantes na variabilidade da freqüência cardíaca em hipertensos.
Tabagismo (%) 19% 25% 0,09 De maneira geral, afirma-se que o espectro LF é modulado em
PAS (mmHg) 118 ± 13 154 ± 21 <0,001 conjunto pelo simpático e pela atividade parassimpática. Nossos
PAD (mmHg) 77 ± 9 103 ± 2 <0,001
FC (bpm) 60 ± 3 65 ± 4 0,08 achados relativos ao LF podem ser uma conseqüência da redução
observada na atividade parassimpática em hipertensos. Alguns
IMC: Índice de massa corpórea; PAS: pressão arterial sístólica; PAD: pressão
arterial diastólica; FC: freqüência cardíaca. Os valores encontram-se dispostos
relatos indicaram que quando a variabilidade da freqüência cardíaca
na forma média±desvio padrão. foi realizada sob circunstâncias estritamente controladas, o espectro
LF era principalmente influenciado pela atividade simpática. Porém,
outros dados sugeriram que quando a variabilidade da freqüência
160
Controle cardíaca era calculada pelos registros do Holter-ECG 24h sob
Valores em milisegundos

140
120 Hipertensos condições irrestritas, o espectro LF refletia principalmente a ativi-
100 Hipertensos após dade parassimpática21, mais de acordo com nossos achados.
tratamento com IECA A queda na atividade parassimpática está também implicada
80
60 nos baixos valores do PNN50 em pacientes com hipertensão mo-
40 derada, uma vez que o valor deste índice do domínio do tempo
20 reflete principalmente o tônus vagal.
0 Após três meses de tratamento com anti-hipertensivos do tipo
SDNN RMSSD PNN50
inibidores de enzima conversora de angiotensina II, observamos
Fig. 1 - Análise comparada da variabilidade da freqüência cardíaca no domínio uma recuperação notável de todas as variáveis de variabilidade da
do tempo entre o grupo A, grupo C, e grupo C após tratamento com inibidores de
freqüência cardíaca inicialmente avaliadas.
enzima conversora da angiotensina II. *p<0,05; **p<0,001.
A recuperação do tônus parassimpático, antes diminuído nos pa-
cientes do grupo C, decorrente do uso de inibidores de enzima con-
1000 6
900 Controle versora de angiotensina II foi consistente com investigações anteriores,
800 Hipertensos 5 mostrando que a angiotensina II é um potente inibidor da atividade
Valores em ms2

700 Hipertensos após 4 barorreflexa arterial16,23. Além disso, Wollert e Drexler24 demonstraram
600 tratamento com IECA
500 3 que a menor sensibilidade do reflexo baroceptor promovido pela
400 angiotensina II contribui de forma significativa para a fisiopatologia
2
300
de hipertensão arterial e, também, da insuficiência cardíaca.
200 1
100 Vários outros estudos demostraram que a infusão de angioten-
0 0 sina II resultou num aumento da atividade simpática central25-31.
LF HF LF/HF
Assim, era de se esperar, conforme nossos resultados, que uma
Fig. 2 - Análise comparada da variabilidade da freqüência cardíaca no domínio redução da concentração de angiotensina II, decorrente de uma
da freqüência entre o grupo A, grupo C, e grupo C após tratamento com
inibidores de enzima conversora da angiotensina II. **p<0,001. inibição promovida por um inibidor da enzima conversora da an-
giotensina II, seria acompanhada de um aumento no tônus paras-
simpático e um aumento na atividade do reflexo baroceptor arterial
após esse período, foi de 135±12mmHg, e pressão arterial dias- sistêmico.
tólica média de 88±4mmHg. Novo Holter-ECG 24h foi aplicado a A ação dos baroceptores arteriais envolve principalmente
esses pacientes e os resultados comparados ao grupo normotenso. redução reflexa da atividade simpática e aumento da atividade
Observou-se correção em todos os parâmetros de variabilidade vagal32. Nosso estudo não incluiu uma pesquisa específica da sen-
da freqüência cardíaca no grupo hipertenso após administração sibilidade do reflexo baroceptor, mas uma atividade vagal prejudi-
de inibidores de enzima conversora de angiotensina II, não tendo cada em pacientes hipertensos, que se recuperam mediante uso
sido encontrada nenhuma diferença significativa entre ambos os de inibidores da enzima conversora de angiotensina II, permitindo-
grupos (fig. 1 e 2). nos inferir sobre a influência desses medicamentos sobre os baro-
ceptores. Algumas questões ainda não estão bem elucidadas, se
Discussão a alteração da sensibilidade do baroceptor precede ou participa
do desenvolvimento da hipertensão, ou se o prejuízo no controle
Nosso estudo evidenciou distorções significativas na variabili-
barorreflexo da freqüência cardíaca depende de alteração da ativi-
dade da freqüência cardíaca em pacientes com hipertensão mo-
derada, quando comparados aos normotensos (grupo controle), dade vagal. Uma vez que o componente vagal predomina nas
demonstrando alterações substanciais na função autonômica, em respostas reflexas de freqüência cardíaca32, fica mais evidente,
pacientes hipertensos, refletindo-se, principalmente, na redução diante dos nossos resultados, que este certamente se encontra
acentuada do SDNN, PNN50 e LF. afetado nos indivíduos hipertensos; e ainda, que os inibidores da
As diferenças na variabilidade da freqüência cardíaca entre enzima conversora de angiotensina II recuperam substancialmente
hipertensos e normotensos demonstrados no presente estudo estão a atividade desse reflexo.
de acordo com relatos prévios, no que diz respeito a alterações da Além disso, deve se considerar outros efeitos fisiológicos decor- 167
Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 83, Nº 2, Agosto 2004

TJul 22.p65 167 28/07/04, 11:25


Variabilidade da freqüência cardíaca em hipertensos

rentes do uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina encontra-se difusamente diminuída em pacientes com hipertensão
II, uma vez que a inibição dessa enzima é capaz de alterar a con- arterial moderada, quando comparados a indivíduos normotensos.
centração de outras substâncias, como a bradicinina que, por si Esta diminuição retrata o grau de atividade autonômica cardíaca
própria, também influencia o equilíbrio autonômico. A bradicinina determinado pelos reflexos de baroceptores, que se encontram
possui uma função autonômica complexa, uma vez que é capaz de prejudicados na hipertensão arterial. Nossos dados permitem
sensibilizar tanto estímulos vagais quanto fibras aferentes simpá- afirmar, ainda, que a terapia anti-hipertensiva com inibidores da
ticas mediando mecanoceptores e arcos reflexos quimiossensitivos33- enzima conversora de angiotensina II permite uma recuperação
37
. Tais mecanismos também podem contribuir para o curso das significativa das variáveis da variabilidade da freqüência cardíaca
mudanças autonômicas, observadas neste estudo, a partir da ad- para valores próximos ao de indivíduos normais, o que implica,
ministração dos inibidores da enzima conversora de angiotensina II. seguramente, em melhoria da atividade de modulação autonômica
Assim, nossos achados vêm ratificar outros estudos na literatura e um prognóstico cardiovascular mais satisfatório no manejo da
médica ao afirmar que a variabilidade da freqüência cardíaca, hipertensão arterial, quando tratada com inibidores de enzima
quer seja no domínio do tempo, quer seja no domínio da freqüência, conversora de angiotensina II.

Referências

1. Julius S. Autonomic nervous system dysregulation in human hypertension. Am J 19. Barbosa Fº J, Barbosa PRB, Cordovil I. Modulação autonômica do coração na hi-
Cardiol 1991; 67: 3B-7B. pertensão arterial sistêmica. Arq Bras Cardiol 2002; 78: 181-8.
2. Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of 20. Chakko S, Mulingtapang RF, Huikuri HV, Kessler KM, Materson BJ, Myerburg RJ.
Pacing and Electrophysiology. Heart rate variability: standards of measurement, Alterations in heart rate variability and its circadian rhythm in hypertensive patients
physiological interpretation, and clinical use. Eur Heart J 1996; 17: 354-81. with left ventricular hypertrophy free of coronary artery disease. Am Heart J 1993;
3. Malik M, Camm AJ. Components of heart rate variability - What they really mean 126: 1364-72.
and what we really measure. Am J Cardiol 1993; 72: 821-2. 21. Singh JP, Larson MG, Tsuji H, Evans JC, O’Donnell CJ, Levy D. Reduced heart rate
4. Furlan R, Guzetti S, Crivellaro W et al. Continuous 24-hour assessment of the variability and new-onset hypertension: insights into pathogenesis of hyperten-
neural regulation of systemic arterial pressure and RR variabilities in ambulant sion: the Framingham heart study. Hypertension 1998; 32: 293-7.
subjects. Circulation 1990; 81: 537-47. 22. Sevre K, Lefrandt JD, Nordby G et al. Autonomic Function in hypertensive and nor-
5. Guzzetti S, Dassi S, Pecis M et al. Altered pattern of circardian neural control of motensive subjects. The importance of gender. Hypertension 2001; 37: 1351-6.
heart period in mild hypertension. J Hypertens 1991; 9: 831-8. 23. Bigger JT Jr, Fleiss JL, Steinmann RC, Rolnitzky LM, Kleiger RE, Rottman JN. Fre-
6. Langewitz W, Ruddel H, Schachinger H. Reduced parasympathetic cardiac control quency domain measures of heart period variability and mortality after myocardial
in patients with hypertension at rest and under mental stress. Am Heart J 1994; infarction. Circulation 1992; 85: 164-71.
127: 122-8. 24. Woolert KC, Drexler H. The rennin-angiotensin system and experimental heart fai-
7. Guzzetti S, Piccaluga E, Casati R et al. Sympathetic predominance in essential hy- lure. Cardiovasc Res 1995, 43: 838-49.
pertension: a study employing spectral analysis of heart rate variability. J Hyper- 25. Lumbers ER, McCloskey DI, Potter EK. Inhibition by angiotensin II of barorecep-
tens 1988; 6: 711-7. tor-evoked activity in cardiac vagal efferent nerves in the dog. J Physiol 1979; 294:
8. Piccirilo G, Munizzi MR, Fimognari FL et al. Heart rate variability in hypertensive 69-80.
subjects. Int J Cardiol 1996; 53: 291-8. 26. Phillips MI. New evidence for brain angiotensin and for its role in hypertension. Fe-
9. Pikkujamsa SM, Huikuri HV, Airaksinen KE et al. Heart rate variability and barore- deration Proceedings 1983; 42: 2667-72.
flex sensitivity in hypertensive subjects with and without metabolic features of in- 27. Bickerton RK, Buckley JP. Evidence for a central mechanism of angiotensin indu-
sulin resistance syndrome. Am J Hypertens 1998; 11: 523-31. ced hypertension. Proc Soc Exp Biol Med 1961; 106: 834-6.
10. Watkins LL, Grossman P, Sherwood A. Noninvasive assessment of baroreflex 28. Hoechst AG. Effects of angiotensin II and ACE inhibitors on electrically stimulated
control in borderline hypertension: comparison with the phenylephrine method. noradrenaline release from superfused rat brain slices. Clin Exp Theory Practice
Hypertension 1996; 28: 238-43. 1984; A6: 1847-51.
11. Grassi G, Cattaneo BM, Seravalle G, Lanfranchi A, Mancia G. Baroreflex control 29. Kohlmann Jr O, Bresnahan M, Gavras H. Central and peripheral indices of sym-
of sympathetic nerve activity in essential and secondary hypertension. Hyperten- pathetic activity after blood pressure lowering with enalapril (MK-421) or hydra-
sion 1998; 31: 68-72. lazine in normotensive rats. Hypertension 1984; 6(2 Pt 2): I1-I6.
12. Mancia G, Ludbrook J, Ferrari A et al. Baroreceptor reflex in human hipertension. 30. Cody RJ, Franklin KW, Kluger J et al. Mechanisms governing the postural response
Circ Res 1978; 43: 170-7. and baroreceptor abnormalities in chronic congestive heart failure: effects of acute
13. Mancia G, Ferraria A, Gregorini L et al. Control of blood pressure by carotid sinus and long-term converting-enzyme inhibition. Circulation 1982; 66: 135-42.
baroreceptor in human beings. Am J Cardiol 1979; 44: 895-902. 31. Dibner-Dunlap ME, Smith ML, Kinugawa T et al. Enalapril at augments arterial
14. Grassi G, Mancia G. Arterial baroreflexes and other cardiovascular reflexes in hy- and cardiopulmonary baroreflex control of sympathetic nerve activity in patients
pertension: In Guyton AC, Hall JE, Cardiovascular Physiology IV. Baltimore, Uni- with heart failure. J Am Coll Cardiol 1996; 27: 358-64.
versity Park Press, 119, 1992. 32. Guyton AC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 9th ed. WB Saunders, 1996.
15. Huikuri HV, Yitalo A, Pikkujämsä SM. Heart rate variability in systemic hyperten- 33. Regoli D, Barabe J. Pharmacology of bradykinin and related kinins. Pharmacol
sion. Am J Cardiol 1996; 77: 1073-77. Rev 1980; 32: 1-46.
16. Yitalo A, Airaksinem KEJ, Sellin L et al. Effects of combination antihypertensive 34. Schaefer S, Valente RA, Laslett LJ et al. Cardiac reflex effects of intracoronary bra-
therapy on baroreflex sensitivity and heart rate variability in systemic hypertension. dykinin in humans. J Invest Med 1996; 44: 160-7.
Am J Cardiol 1999, 83: 885-9. 35. Uchilda Y, Murao S. Bradykinin-induced excitation of afferent cardiac sympathetic
17. Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial, Sociedade Brasileira de Cardiologia, nerve fibers. Jpn Heart J 1974; 15: 84-91.
Sociedade Brasileira de Nefrologia. IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arte- 36. Staszewska-Barczak J, Ferreira SH, Vane JR. An excitatory nociceptive cardiac
rial. Campos do Jordão, fev 2002. reflex elicited by bradykinin and potentiated by prostaglandins and myocardial is-
18. Joint National Committee on Detection, Evaluation and Treatment of High Blood chaemia. Cardiovasc Res 1976; 10: 314-27.
Pressure (JNC). The Seventh Report of the Joint National Committee on Preven- 37. Baker DG, Coleridge HM, Coleridge JCG et al. Search for a cardiac nociceptor: sti-
tion, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure: the JNC 7 mulation by bradykinin of sympathetic afferent nerve endings in the heart of the
report. JAMA 2003; 289: 2560-72. cat. J Physiol (Lond) 1980; 306: 519-36.

168
Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 83, Nº 2, Agosto 2004

TJul 22.p65 168 28/07/04, 11:25

You might also like