You are on page 1of 2

UMA VOZ INTERIOR (vocação e profissão)

Temos dois termos que se misturam e se confundem num mesmo quadro de


significação: vocação e profissão.
Recorrendo à origem dos termos, já encontramos diferenças. Na raiz de
vocação está o verbo “vocare”, isto é, “chamar”. Algo interior. Seguir
uma vocação é acolher uma “voz interior”, um chamado do coração. A
vocação, portanto, consiste na escuta interior de um apelo que dá
sentido e valor à vida inteira. Pela vocação, respondemos a nós mesmos,
a nossa palavra interior.
A vocação representa o encontro do ser humano com seu autêntico
caminho, fazendo-o centrar-se e realizar-se na dimensão mais profunda
de sua existência.
Por sua vez, profissão remete a outra origem. Vem de “profiteor”, declarar
abertamente, “falar diante”, “proclamar”. Pela profissão, mostramos diante
da sociedade o que fazemos; implica a dedicação a uma tarefa especializada
segundo as necessidades da sociedade em desenvolvimento.
As capacidades, as tendências, gostos e interesses que uma pessoa tem, indicam
uma profissão a seguir.
Duas faces de uma realidade. Uma remonta à sua fonte: vocação. Outra traduz
sua visibilidade: profissão
A vocação tem a beleza da interioridade, do mistério, da decisão
silenciosa.
A profissão busca a eficiência, a realização visível e social.
A primeira situa-nos diante da difícil tarefa de discernir o tumulto das nossas
vozes interiores.
A segunda exige de nós competência e credibilidade social.
Com o olhar da fé, percebemos nessas duas experiências, vocacional e
profissional, um modo diferente de Deus agir. A vocação refere-se mais ao ser
e dele brota o agir.
A profissão, por sua vez, atém-se mais ao agir.
Sabemos, porém, que o agir constrói na história nosso ser. Daí não se pode
fazer um corte entre ser e agir, entre vocação e profissão, mas se deve
estabelecer uma articulação profunda.
Descobrir e cultivar a própria vocação implica uma atitude de atenção aos nossos sentimentos
interiores, aos nossos desejos. Deus fala-nos nos nossos desejos. Torna-se verdadeiro desafio nos
conduzir sabiamente por entre essa floresta de moções, de aspirações internas, ora provocadas pelo
nosso lado luminoso e numinoso, ora pelas forças escuras dos porões de nosso interior.

A vocação se relaciona com as “missões essenciais” da vida, como ser


homem ou mulher, formar uma família, consagrar-se ao serviço de Deus, dedicar-
se às grandes causas...
A simples prática de uma profissão pode deixar o ser humano indiferente e até
frustrado. Se uma pessoa não se sente à vontade na sua profissão, seu
relacionamento com o mundo e com os outros estará marcado por conotações
negativas, destruidoras e agressivas. É revoltante perceber como muitas pessoas
fazem da sua profissão uma ocasião para manipular, deteriorar, destruir tanto a
natureza como as pessoas.
Por isso, a autêntica vocação é capaz de “integrar” todas as atividades
profissionais e dar sentido até mesmo às ocupações mais humildes e
insignificantes. A vocação é a alma das atividades profissionais do ser humano.
Sem ela, o trabalho e a própria vida se tornam monótonos e perdem o seu
supremo valor.
O cristão, em qualquer profissão, se sente “em vocação”, pois se sente chamado por Deus a trabalhar, a
construir o mundo com suas mãos.
O cristão sabe qual é o sentido último das coisas. Ele sabe que, pelo seu trabalho, está contribuindo
com a obra criadora de Deus, está completando o mundo ainda incompleto.
A vocação é vivida a cada instante da existência, qualquer que seja a situação de vida. Toda profissão é
serviço, e o cristão é chamado a servir mais e melhor aos outros. A fé o impulsiona a viver a própria
profissão com muita honestidade, seriedade e, não poucas vezes, até gratuitamente.
Cristão é aquele que coloca toda a sua vida, e portanto também a profissão, a serviço dos outros.
Na medida em que eu presto um serviço com amor, eu penetro no “mistério” das
coisas, das pessoas, dos acontecimentos...
Pela profissão eu declaro diante de todos, constantemente, o “que sou e o que
faço”.

Pistas para a reflexão pessoal:

a) Quê tipo de critérios você está seguindo ao escolher sua profissão? Os do mundo ou os de Cristo? Por que?
b) Em quê estado de vida pensa que Deus o/a chama para exercer sua profissão? Por que?
c) Sua profissão: para quê?... para quem?...

You might also like