P RINCÍPIOS Ocorre quando um mesmo fato, aparentemente, pode estar previsto 1) Legalidade e Anterioridade: não há crime sem lei anterior que o de- em duas ou mais normas. fina, nem pena sem prévia cominação legal (CP, art. 1º, e CF, art. 5º; XXXIX). 2) Dignidade da pessoa humana: fundamento constitucional, determi- nando a observância da dignidade da pessoa humana na criação, comi- nação e aplicação de penas. 3) Insignificância: o Direito Penal não volta seus olhos para condutas que não lesem bens jurídicos relevantes. ATENÇÃO 4) Fragmentariedade: o Direito Penal somente deve ser utilizado Princípios para solução do conflito: quando há falha nos demais ramos do Direito. 5) Intervenção Mínima: somente podem ser criados crimes e penas 1) Especialidade: a lei especial deve ser aplicada em que sejam necessários e imprescindíveis. detrimento da lei geral. 6) Proporcionalidade: as penas devem ser proporcionais à gravidade das infrações. 2) Subsidiariedade: a norma que prevê a ofensa maior 7) Responsabilidade: a responsabilidade somente pode ser atribuída a do bem jurídico exclui a aplicação da norma que quem deu causa ao resultado (por dolo ou culpa); impossível responsa- prevê a ofensa menor. bilizar alguém por fato cometido por terceira pessoa. 3) Consunção: um fato mais grave absorve fatos 8) Personalidade: a pena não pode passar da pessoa do condenado menos graves, que funcionam como etapas para (CF, art. 5º, XLV). concretização daquele. 9) Non bis in idem: ninguém pode ser considerado culpado duas vezes Obs.: parte da doutrina menciona um quarto pelo mesmo fato. princípio: o da alternatividade. L EI PENAL Principal fonte do Direito, é dividida em duas partes: preceito primário (descrição da conduta) e preceito secundário (pena). TEORIA GERAL DO CRIME Lei penal em branco: são leis que necessitam de complementação por outras normas, penais ou não. • Conceito de crime Retroatividade: a lei penal mais benéfica deve retroagir para abarcar a) legal: art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal; fatos pretéritos. Pode se dar, em regra, de duas formas: a) abolitio criminis: b) material: é o fato humano que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos a lei posterior deixa de considerar crime determinada conduta; e b) nova- penalmente protegidos; tio legis in mellius: a lei posterior, por qualquer razão, favorece o agente. c) formal: crime é um fato típico e antijurídico (finalista) ou um fato Lei temporária ou excepcional: aplicam-se aos fatos ocorridos duran- típico, antijurídico e culpável (clássico). te sua vigência, independentemente de serem mais benéficas. Objeto do crime: é o interesse protegido pela norma penal (objeto Tempo do crime: teoria da atividade: momento da ação ou omissão. jurídico); e a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa (ob- Lugar do crime: teoria da ubiqüidade: pode ser tanto o local da condu- jeto material). ta como o local do resultado (CP, art. 6º). Sujeito ativo: é quem pratica o crime; pode ser pessoa física ou jurídi- Lei penal no espaço: a lei brasileira aplica-se aos fatos ocorridos no ca (esta última, apenas em crimes ambientais). território nacional (CP, art. 5º). Sujeito passivo: é quem sofre a conduta criminosa. Extraterritorialidade (CP, art. 7º): possibilidade de aplicação da lei pe- nal fora do território nacional. Divide-se em: a) incondicionada (inc. I): a • Classificação dos crimes lei penal brasileira será aplicada de qualquer maneira (importante: I — O — Material (é preciso que o resultado cause modificação no mundo agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou conde- exterior), formal (o resultado não está destacado da conduta, sendo in- nado no estrangeiro (§ 1º); II — A pena cumprida no estrangeiro atenua dissociável desta) ou de mera conduta (a simples prática da conduta já é a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversa, ou nela é considerada crime, independentemente de resultado visível). computada, quando idênticas — art. 8º); b) condicionada: a lei penal bra- — De dano (é preciso efetiva lesão ao bem jurídico) ou de perigo (se sileira pode ser aplicada no estrangeiro e, para tanto, devem ocorrer as consuma com a mera exposição a perigo do bem jurídico). condições previstas no § 2º e nas alíneas “a” e “b” do § 3º. O CP adotou — Instantâneo (a consumação se dá em determinado momento), per- vários princípios relacionados à extraterritorialidade: manente (a consumação se prolonga no tempo) ou instantâneo de efei- tos permanentes (o crime se consuma em determinado instante, mas 1) Princípio da personalidade (nacionalidade): a lei deve ser a da nacio- seus efeitos perduram no tempo). nalidade do agente (CP, art. 7º, I, “d”, 1ª parte, e II, “b”) ou da vítima (CP, — Comissivo (crime cometido através de um agir, de uma atitude po- art. 7º, § 3º). sitiva), omissivo (ocorre através de um não agir) ou comissivo por omis- 2) Princípio do domicílio: a lei deve ser a do domicílio do agente, inde- são (o tipo descreve um agir, mas o resultado é atingido através de uma pendentemente da nacionalidade (CP, art. 7º, I, “d”, parte final). omissão). — Comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), próprio (somen- 3) Princípio da defesa (proteção): a lei deve ser a brasileira, em qualquer te pode ser praticado por determinada categoria de pessoas) ou de mão lugar, para qualquer agente (CP, art. 7º, I, “a”, “b” e “c”, e § 3º). própria (somente pode ser cometido por determinada pessoa). — Unissubjetivo (crime, em regra, cometido por uma única pessoa, 4) Princípio da justiça universal: a lei deve ser a do país onde o agente mas admite o concurso) e plurissubjetivo (apenas podem ser cometidos for encontrado (CP, art. 7º, II, “a”). em concurso). 5) Princípio da bandeira (pavilhão): aplica-se a lei brasileira aos crimes — Unissubsistente (ocorre através de uma só conduta) e plurissubsis- cometidos em aeronaves e embarcações privadas brasileiras, quando em tente (ocorre mediante várias condutas). território sob jurisdição de outro país (CP, art. 7º, II, “c”). — Habitual (somente ocorre após a prática reiterada de condutas que, isoladas, não são criminosas). 13
• Fato típico • Desistência voluntária e arrependimento
eficaz Possui quatro elementos: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. Na desistência voluntária, o agente, voluntariamen- Conduta te, interrompe a execução do crime. Teorias: a) clássica (causal ou naturalista): ação ou No arrependimento eficaz, o agente, voluntariamen- omissão humana voluntária que produz modificação Elementos do crime culposo: te, após realizar os atos necessários à consumação, im- no mundo exterior; b) finalista: ação ou omissão huma- pede a ocorrência do resultado; deve ser apta a impedir conduta descuidada (praticada na, consciente e voluntária, dirigida a um fim; e c) social: a consumação do crime. com imprudência, negligência ou ação ou omissão humana socialmente relevante. Em qualquer das duas hipóteses, o agente responde imperícia), resultado, nexo causal, tipici- Importante: a conduta somente pode ser humana pelos atos praticados. dade (nem todos os crimes e voluntária; os atos reflexos não são considerados possuem modalidade culposa) e • Arrependimento posterior condutas. imprevisibilidade. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ame- Resultado aça à pessoa, reparando o dano ou restituída a coisa, É a conseqüência da conduta até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas Nexo causal voluntário do agente, a pena será reduzida de um a acredita sinceramente que nada ocorrerá (diferente do É a conexão entre a conduta e o resultado. dois terços. dolo eventual, em que o agente prevê o resultado e não Regra: teoria da equivalência dos antecedentes se importa com sua ocorrência). • Crime impossível (conditio sine qua non): causa é todo fato sem o qual o Ocorre quando, por ineficácia absoluta do meio ou resultado não teria sido produzido. Para apurar se de- • Crime preterdoloso por absoluta impropriedade do objeto, jamais ocorrerá terminado acontecimento ingressa ou não no conceito Dolo no antecedente, culpa no conseqüente (geral- a consumação. de causa, utiliza-se o processo hipotético de eliminação. mente, um resultado mais grave do que o pretendido pelo agente). • Ilicitude Crimes omissivos: de acordo com o art. 13, § 2º, do • Erro de tipo Representa a contrariedade entre a conduta do CP, a omissão somente tem relevância causal quando agente e o que fora prescrito pelo ordenamento jurídi- presente o dever jurídico de agir, cujas hipóteses são: Ocorre quando o agente erra sobre elementos do co; todo fato típico, a princípio, é ilícito. a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigi- tipo. lância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; e c) com seu comportamento Caso seja escusável (qualquer um teria errado), não se pune nem a culpa; caso seja inescusável (poderia ser DICA SALVADORA anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. evitado), pode haver punição pelo crime culposo. Teoria da imputação objetiva: adota o risco como Erro determinado por terceiro: responde pelo crime elemento central para aferição do nexo de causalidade; o terceiro que determinou o erro (CP, art. 20, § 2º). As causas de exclusão da dessa forma, quando o agente, com sua conduta, não Descriminante putativa: o agente imagina a exis- ilicitude (CP, art. 23): estado de criou a situação de risco; quando o risco produzido pela tência de uma causa excludente da ilicitude que, se necessidade, legítima defesa, conduta do agente não produziu resultado jurídico ou presente, tornaria sua ação legítima; é causa de exclu- estrito cumprimento do dever legal quando inexiste pertinência entre a conduta, o risco são da culpabilidade. e exercício regular do direito. criado e o resultado produzido; e finalmente quando o Erro quanto à pessoa: o agente erra em relação à ví- risco, malgrado originado da conduta, era permitido ou tima do crime; a punição está prevista no art. 20, § 3º. Causas supralegais de exclusão da ilicitude: a lei não irrelevante, não há nexo causal. Erro na execução (aberratio ictus): por erro na exe- esgota todas as hipóteses de exclusão da ilicitude; a Tipicidade cução, o agente atinge alguém que não aquele que doutrina defende a existência de causas não expressa- Ocorre quando um fato se enquadra perfeitamente pretendia. mente previstas, como o consentimento do ofendido, em uma descrição legal; todo fato típico é, a princípio, também ilícito. DICA por exemplo. • Estado de necessidade • Tipo Penal Conceito (CP, art. 24: “Considera-se em estado de Compreende a descrição legal da conduta criminosa necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo ou da conduta permitida. Iter criminis atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de Possui elementos objetivos (palavras certas, consta- outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifí- táveis de plano), subjetivos (representam uma especial É o caminho do crime. cio, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”); finalidade do agente) e normativos (palavras que ne- São as etapas que o agente percorre Requisitos: a) ameaça a direito próprio ou alheio; b) cessitam de interpretação jurídica ou cultural). para chegar à prática criminosa: perigo atual e inevitável; c) inexigibilidade de sacrifício Dolo 1) Cogitação: é o pensamento do agente; do bem ameaçado; d) situação não provocada volun- Elemento psicológico da conduta, consistente na não é punível; tariamente (dolo); e) inexistência de dever legal de en- vontade e consciência de realizar os elementos cons- frentar o perigo; f) elemento subjetivo. tantes do tipo legal. 2) Atos preparatórios: praticados antes Causa de redução de pena (CP, art. 24, § 2º): verifica- Teorias: representação (basta a previsão do resul- da execução, não representam agressão se quando o agente, para preservar bem jurídico pró- tado), vontade (desejo de produzir o resultado) e con- ao bem jurídico; em regra, não são prio ou alheio, sacrifica outro de maior valor. Subsiste a sentimento (assumir o risco de produzir o resultado). puníveis, salvo quando crimes em si ilicitude, reduzindo-se a pena, de um a dois terços. O CP, no art. 18, I, acolheu as teorias da vontade e do mesmos; consentimento. • Legítima defesa 3) Atos executórios: o agente inicia a Espécies: a) direto: o agente quer produzir um resul- Conceito (CP, art. 25: “Entende-se em legítima defesa prática da conduta descrita no tipo tado certo; b) eventual: o agente não quer o resultado quem, usando moderadamente dos meios necessários, penal; são puníveis; diretamente, mas assume o risco de produzi-lo. repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu Culpa 4) Consumação: quando no crime se ou de outrem”); Elemento normativo da conduta, consistente na reúnem todos os elementos de sua Requisitos: a) reação a agressão injusta, atual ou imi- falta de cuidado do agente ao realizar determinada definição legal. nente; b) defesa a direito próprio ou alheio; c) uso mode- conduta. rado dos meios necessários; d) elemento subjetivo. O crime culposo ocorre quando o agente, deixando de Desafio, duelo, convite para briga: não age em legí- observar o dever de cuidado objetivo, por imprudência, • Tentativa tima defesa aquele que aceita desafio para luta. negligência ou imperícia, realiza conduta que produz Ocorre quando o crime não se consuma por circuns- Legítima defesa putativa: quando o agente supõe resultado naturalístico, não previsto nem desejado, mas tâncias alheias à vontade do agente. erroneamente existir a agressão injusta, atual ou imi- previsível, e excepcionalmente previsto e desejado, que O Código Penal pune a tentativa com a mesma pena nente. Subsiste a ilicitude. Se o erro for escusável (art. poderia, com a atenção necessária, ter evitado. do crime consumado, reduzida de um a dois terços. 20, § 1º, 1ª parte), exclui-se a culpabilidade. Se inescu-