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Na parábola, contada por Jesus, o fariseu exclui o limite. Não pode ver nem
reconhecer sua imperfeição, mesmo estando dentro dos muros de um lugar
sagrado. A auto-glorificação impede sua humanização. Penetra no lugar sagrado
sem que o sagrado penetre nele.
O fariseu fora ao templo para orar, mas na realidade não ora; informa a Deus da sua perfeição.
Ostenta suas virtudes e coerentemente permanece de pé, para mostrar-se a Deus. Quem procura a
perfeição está mais junto daquilo que ela representa como ideal pessoal do que da própria pessoa de Deus.
Não só é perfeito a seus olhos, mas quer sê-lo aos olhos de Deus. Na realidade não é Deus o centro da
sua existência, mas seu eu. A tendência à perfeição favorece um egocentrismo refinado.
O que é absolutamente novo vem no fim da parábola: Jesus torna “perfeito” aos
olhos de Deus o imperfeito e “imperfeito” aquele que o auditório considerava
perfeito.
O Evangelho não se preocupa com a perfeição. Neste sentido, o Evangelho
reconcilia a espiritualidade e a imperfeição. O ouvinte sente imediatamente
que também ele faz parte desta multidão de imperfeitos que se sente acolhida
pelo Deus que Jesus anuncia.
Jesus sabia que a pessoa consciente das suas imperfeições é mais disponível ao anúncio do Reino. Sabe-
mos que as escolhas de Jesus não caíram sobre os perfeitos. As pessoas com quem Ele entrou em contato
não eram conhecidas por suas boas maneiras nem pelas boas ações, antes, eram pecadoras públicas.
Depois de Jesus parece impossível exercitar a “espiritualidade da perfeição”
e conservar-se, ao mesmo tempo, humano. A verdadeira dimensão espiritual é
acatamento dos limites, da fragilidade, da imperfeição
Desconhecer os próprios limites conduz a uma espiritualidade desencarnada, a
um estilo de vida desumano, desolador, vazio...
A “espiritualidade da perfeição” traçada pela meticulosa “observância” das
leis e normas é algo insano e maléfico e transforma as pessoas em seres duros,
amargurados, insensíveis e inexpressivos.
Jesus revela um Deus desprovido de dogmatismos, um Deus desprovido também
de controle e de poder. O Deus de Jesus não é um juiz com um catálogo de leis
que tem necessidade de mandar, controlar, verificar... Basta-lhe a misericórdia,
a compaixão...
A misericórdia torna o Deus de Jesus acessível a tudo que é imperfeito, limitado, humano...
A misericórdia constitui a resposta à indigência do ser humano.
A misericórdia oferece a possibilidade de pôr de lado o julgamento e a condenação. O passado de erros e
fracassos é substituído pelo presente de aceitação e perdão. Onde não há misericórdia, não há sequer
esperança para o homem.
A misericórdia é a resposta de Deus ao delírio do homem de querer ser perfeito; é a única forca capaz de
deter o ser humano naquele processo de auto-divinização, própria do fariseu.
Jesus propõe um modo de ser humano inseparável da misericórdia do Pai:
“Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc. 6,36)
Ser misericordioso “como” Deus constitui o mais elevado
convite e a mensagem mais profunda que o ser humano
recebe sobre como tratar a si mesmo e aos outros.
Na oração: * Como você reage diante das imperfeições da vida?
* Sua vida cotidiana gira em torno da perfeição ou da misericórdia?