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A imagem externa do Brasil

As últimas semanas têm sido marcadas por polêmicas e ações na área externa,
que alguns afirmam que enfraquecem a imagem internacional do Brasil, enquanto
outros consideram que ela se fortalece. Para poder refletir sobre a questão, é
necessário compreender o que está em jogo. Em primeiro lugar, deve-se observar
que o primeiro ano do governo Lula foi marcado pelo aumento da intensidade da
política externa brasileira, o que fez com que o país ficasse mais visível e mais
visado. Em segundo lugar, após mais de um ano de governo, cobram-se
resultados e as contradições entre a política econômica e as relações exteriores
chegam a um ponto de definição, sendo difícil avançar simultaneamente em
direções opostas. Por fim, as duas dimensões anteriores se combinam numa
conjuntura eleitoral, que repercute na política externa e econômica.

Escândalos visivelmente exagerados como o financiamento de campanha pelo


dinheiro do jogo são questões motivadas especialmente com interesses eleitorais
internos, mas acabam repercutindo negativamente no plano internacional,
afetando todo o país, e não apenas um partido. O que poucos se perguntaram foi
quem liberou este tipo de jogo no Brasil, que serve para lavagem de dinheiro
ilegal, evasão e empobrecimento de pessoas que jogam compulsivamente. Pior
ainda, reverter uma decisão governamental para sanar o problema, desacredita
ainda mais as instituições.

Já a questão do jornalista do New York Times, revela uma pressão internacional,


pois dificilmente um veículo de tal importância publicaria uma reportagem
qualquer. Cobra-se liberdade de imprensa, mas não a correspondente
responsabilidade. E a atitude dos atores políticos é, mais uma vez, determinada
pelo cálculo eleitoral. De qualquer maneira, assim como no caso do registro de
norte-americanos que ingressam no país (em nome da reciprocidade diplomática),
o que se vê no exterior é que o país procura agir em defesa de seus interesses e,
apesar de certas críticas, os atores internacionais sentem que o Brasil cobra um
tratamento igual. Aliás, muitos países adotaram atitudes semelhantes. Na
Turquia, o visto de entrada é dez vezes maior para os norte-americanos. Como
dizia Maquiavel, "às vezes é melhor ser respeitado que amado".

A razão para a pressão externa talvez seja a tentativa governamental de afrouxar


a política financeira, como forma de gerar emprego e crescimento econômico,
seja por razões programáticas, seja por necessidades eleitorais. Aí se compreende
a posição da J. P. Morgan e outras instituições. Da mesma forma em relação à
nossa "questão nuclear" (que beira o ridículo) e aos constantes ataques a
dirigentes do corpo diplomático. O que é lamentável é que muitos brasileiros
continuam pensando que o país deve simplesmente acatar agendas externas,
sem lembrar o que ocorreu com a Argentina por agir desta forma.
Quanto à ALCA, o que se observa é um esvaziamento causado pelos EUA, que se
recusam a discutir temas de agricultura, dando razão ao governo brasileiro. Mas
ao mesmo tempo, Washington procura firmar acordos bilaterais de livre comércio
com países menores, como o Chile, para dar a impressão de que a intransigência
é do Brasil. Contudo, a Casa Branca teve sucesso em comprometer (e
constranger) o país na missão de paz no Haiti, que é uma operação ambígua
devido ao fato gerador da crise (a renúncia forçada do presidente Aristide) e às
condições internas daquela nação. Já no tocante às parcerias estratégicas
(políticas e econômicas) que o Brasil estabelece, como por exemplo na viagem à
China e na integração sul-americana, o sucesso é inquestionável. O país faz hoje
parte da grande diplomacia mundial e sua posição no Conselho de Segurança da
ONU se fortalece com tais ações, bem como sua candidatura a um assento
permanente no mesmo órgão. Enquanto alguns nos criticam, outros nos
observam com atenção e admiração e, ao contrário do que teria dito De Gaulle,
consideram que este é um país sério.

Mas, enfim, o grande e permanente aspecto negativo à imagem externa do Brasil


é a questão social. À título de exemplo, uma colega européia que voltou o Brasil
após vinte anos, simplesmente ficou chocada com a deterioração das condições
sociais. "Depois de ler que por mais de uma década o país fez reformas
modernizantes, com bons resultados, encontro um povo ainda mais pobre, sendo
este um país tão rico", disse ela com tristeza. Esta sim é uma contradição que
danifica a imagem internacional do país. E a nossa baixa auto-estima também
compromete a ação e a imagem externa do país.

http://educaterra.terra.com.br/vizentini/artigos/artigo_161.htm
acessado em 16-12-2010 às 20 horas e 51 minutos

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