You are on page 1of 2

DA CONSCIÊNCIA DA FRAGILIDADE À EXIGÊNCIA DO CUIDADO

“Ao ver uma planta, uma pequena flor, uma fruta, um pequeno verme
ou qualquer outro animal, S. Inácio contemplava e levantava os olhos
aos céus, penetrando no mais interior e no mais remoto dos sentidos” (P.
Ribadaneira)

Com o advento da pós-modernidade entrou em crise uma visão antropológica


que apontava para um ser humano forte e autônomo. A crise econômica, a catástrofe
ecológica, as ameaças biotecnológicas, as mudanças no mundo do trabalho, o desamparo
psicológico, o vazio existencial, a identidade fragmentada do próprio homem... colocam em
cheque a visão dominadora do homem vencedor.
A modernidade deixou atrás de si um rasto de destruição e morte porque perdeu
a sensibilidade, a admiração e o encantamento diante da vida, esqueceu
que ela é frágil e limitada, transformando os seres vivos em objetos de análise e
de intervenção para o bem-estar exclusivo dos humanos, sem se importar com o
equilíbrio e a reprodução da vida.
Hoje constatamos as chagas ecológicas estampadas por toda parte e os próprios
seres humanos deformados pela miséria e exclusão. Não se levou em
consideração a vulnerabilidade dos equilíbrios vitais dos ecossistemas.
Nesse sentido crescem as situações em que os seres vivos e o próprio ser
humano encontram-se fragilizados e ameaçados em sua sobrevivência e
desenvolvimento.
A degradação do ambiente natural e social fragiliza e ameaça o próprio ser
humano.
Os desafios e problemas que o planeta Terra atualmente enfrenta em todos os seus sistemas ecológicos e
na sociedade humana em particular exigem uma solução na linha do cuidado.
Pois a única atitude condizente diante de seres vivos vulneráveis e inter-dependentes, sejam eles humanos
ou não, é o cuidado.
O cuidado serve de crítica à nossa civilização agonizante e também de princípio inspirador de um novo
paradigma de convivialidade. Diante das realidades vulneráveis faz-se necessário despertar as
consciências para a prática do cuidado.
Isso exigirá uma conversão ética das atitudes e uma conversão espiritual do coração na linha do cuidar.

A perspectiva do cuidado poderia ser denominada de “paradigma ecológico”,


isto é, um sistema que parte da vulnerabilidade, fragilidade do ser humano e
da sua situação inter-relacional, interdependente.
Tal paradigma assume o próprio ambiente natural como frágil e formado de um
ecossistema de relações; considera as realidades interligadas: o mundo e
especialmente o planeta Terra não terão solução sem uma mudança no modo
dos humanos se relacionarem com os seus semelhantes e com a natureza.
A vida, que pulsa em todos os seres vivos, é essencialmente uma realidade vulnerável e dependente de
vários elementos interligados. O equilíbrio vital dos ecossistemas e os próprios seres vi-
vos que as compõem são interligados e frágeis. Por isso, o modo de intervir nos
sistemas vitais e de tratar os seres vivos deve ser regido pelo cuidado e não
pela força e manipulação. Portanto, vulnerabilidade e inter-dependência
constituem os pressupostos antropológicos do paradigma ético do cuidado.

A solução é voltar a maravilhar-se diante do milagre da vida e solidarizar-se


com
os humanos fragilizados e excluídos do sistema, desenvolvendo a prática do
cuidado.
Cada vida é um cenário de manifestação de Deus. Tudo pode causar
“admiração e
encantamento”. E ao contemplar o esplendor da Beleza de Deus revelada na
Cria-
ção, a pessoa se sente seduzida, fascinada... Essa experiência evoca um
sentimento
profundo de veneração, de assombro, de respeito, de cuidado...
Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do
universo,
o assombro é a única atitude condigna.
Para S. Inácio, as criaturas existem e são sustentadas pela força onipotente de
Deus.
Ele continua trabalhando, re-criando, fazendo tudo novo, com um cuidado
provi-
dente. Há uma bondade intrínseca em todas as manifestações de vida.
Textos bíblicos: Lc. 12,22-32 Eclo. 18,1-14 Prov. 8,22-36

Na oração: considere que toda a Criação saiu das mãos do Criador como presente
especial e gratuito, como uma mensagem de Amor a cada um de nós;
ter presente na memória que fomos criados para viver em relação de amor com tudo e com todos.

You might also like