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Arquitetura da Informação no Mundo Jurídico: Uma

Perspectiva.

Marco A. S. Reis

Faculdade de Ciência da Informação

Universidade de Brasília (UNB)

ma@marcoreis.net

Resumo. A quantidade de informação no meio jurídico torna esse domínio


uma escolha natural para a Arquitetura da Informação, uma vez que a
dificuldade de organizar e recuperar os documentos cresce rapidamente. Este
artigo explora as possibilidades de se utilizar AI no que tange a essa
realidade e de que forma os usuarios se beneficiariam desta iniciativa. A
digitalização dos processos antigos e a recente implantação do processo
virtual desenham um horizonte mais eficiente, onde a informação estará
disponível a todos, no momento em que é necessária.

Palavras-chave: arquitetura da informação, processo eletrônico, web 2.0,


digitalização.

1
1. Introdução
A sociedade moderna tem evoluído com o objetivo de estar sempre produzindo mais e
melhor. Essa evolução faz com que as relações humanas se tornem mais complexas,
exigindo mais celeridade dos legisladores na criação de leis que atendam às
necessidades atuais do Estado.
Outros fatores como o aumento da população alfabetizada (em tese, mais
esclarecida) e aumento da renda também influenciam a evolução do número de
processos. Dados do IBGE confirmam que em 2009 o índice de analfabetismo entre
maiores de 15 anos ficou em 9,7% enquanto que a renda média do trabalhador brasileiro
cresceu 20% entre 2004 e 2009. Outra pesquisa do IBGE 1 aponta que em 2010 o
desemprego ficou em 6,7%. Essas informações indicam um avanço na qualidade de
vida da população brasileira. Reflexo disso se percebe nos tribunais, com o aumento no
número dos processos. A PNAD2 de 2009 indica que o computador está presente em
35% dos lares brasileiros, enquanto o acesso à internet está em 27%.
A tabela a seguir, disponibilizada pelo CNJ 3, mostra o aumento no número de
processos de primeira instância no TJDFT4.

Ano Casos Novos Casos Pendentes Sentenças


2,004 147,782 168,505 133,507
2,005 168,289 176,567 143,902
2,006 151,370 197,969 157,601
2,007 168,735 198,334 164,135
2,008 189,768 241,172 133,177
Tabela 1: quantidade de processos da primeira instância do TJDFT. Fonte:
CNJ.

Com base nos números, verifica-se que há um aumento significativo no número


de processos, principalmente nos casos pendentes. Apesar do aumento no número dos
servidores do órgão, que contava com 5900 funcionários em 2010, não se percebe uma
queda na quantidade de casos pendentes. Com o aumento da automação, espera-se
melhorar essa produtividade.
Neste texto serão discutidos apenas os apectos que se referem aos processos
judiciais, sem entrar na área legislativa que representa um outro desafio. O objetivo é
explorar as possibilidades que existem quando aliamos ciências tão distintas, neste caso
as Ciências Jurídicas, Ciência da Informação e Ciência da Computação, cada uma com
1 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
2 PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios. Levantamento do IBGE feita com
399.387 pessoas.
3 CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Órgão do Poder Judiciário voltado à reformulação de quadros e
meios da justiça, sobretudo no que diz respeito à transparência administrativa e processual. É
responsável pelo planejamento e aperfeiçoamento do serviço público no que tange a prestação da
Justiça. Disponível em www.cnj.jus.br
4 TDFT – Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Disponível em www.tjdft.jus.br

2
seus conhecimentos, práticas e preocupações.
A Ciência da Informação, assim como a Ciência da Computação (e tantas outras)
emergem a partir da Segunda Grande Guerra. A rápida evolução da ciência e tecnologia
no século XX provocou uma revolução e a “explosão da informação”, que se refere ao
aumento exponencial de publicações e registros técnicos e científicos, é a manifestação
visível deste fenômeno (Saracevic, 1999).
De acordo com Rosati e Resmini (2007), Arquitetura da Informação (AI) não é
apenas para web. Ela tem um grande impacto em muitas outras atividades e afeta nossa
experiência de usuário de diversas formas. Sua contribuição se torna crucial quando
unimos a falta de familiaridade, complexidade e grandes coleções de documentos,
exatamente o cenário encontrado em uma corte. Neste sentido, a tecnologia é aliada dos
usuários da informação jurídica.
O uso pervasivo da tecnologia já é bem difundido na cultura ocidental (Signorini
e Cavalcanti, 2010), não se resumindo na figura do computador pessoal (PC). Observe-
se o crescente número de dispositivos plugáveis à internet que a cada ano é lançado no
mercado. Essa diversidade de dispositivos aliada ao dinamismo próprio da indústria do
software produzem efeitos positivos para o usuário da tecnologia. Esse maior contato
com a tecnologia gera novas demandas e espectativas.
O desafio da Arquitetura da Informação será simplificar este cenário cada dia
mais complexo e especializado.

2. Fundamentação

2.1. Poder Judiciário


O Poder Judiciário do Brasil tem a função jurisdicional, que é a obrigação de julgar de
forma imparcial todos os conflitos que possam surgir no país, aplicando a legislação
atual, os costumes vigentes na sociedade e a jurisprudência 1. Dessa forma, o judiciário
garante os direitos individuais, coletivos e sociais quando determina que lado tem razão
em uma disputa jurídica, definindo uma punição caso haja infração às leis.
Esta função é exercida através de seus órgãos. Sejam eles:
• Supremo Tribunal Federal
• Superior Tribunal de Justiça
• Conselho Nacional de Justiça
• Tribunais Regionais Federais, do Trabalho, Eleitoral, Militar, Estadual, bem
como seus respectivos juízes

Segundo a Constituição Federal, a justiça comum é composta de três instâncias,


ou graus. O primeiro grau (ou primeira instância) é a que primeiro julga uma ação,

1 Jurisprudência – As reiteradas interpretações que os tribunais fazem acerca de um determinado tema


formam a chamada jurisprudência. Referem-se ao entendimento da justiça sobre um assunto
específico.

3
através do juíz de direito. Caso alguma das partes não concorde com a decisão, pode
apelar para a segunda instância, onde o processo será analisado pelos desembargadores,
que tem poder para manter (a decisão) ou mudá-la. A terceira instância julgará os casos
controversos, proferindo uma decisão final.

2.2. O Código de Processo Civil (CPC1)


O CPC é o conjunto de normas que rege o ciclo de vida de um processo judicial, desde
sua criação até seu arquivamento, no âmbito dos direitos civis.
A figura central é o Juíz de Direito, responsável pelo julgamento de toda e
qualquer ação, que é o ponto de partida para um processo. Para a ação existir, deve
haver interesse e legitimidade da parte autora, ou seja, o autor ou proponente da ação
deve ter motivo, e esse motivo será validado pelo juíz. Uma validado, o processo
judicial terá início.
Todo cidadão que se achar no exercício de seu direito, por se sentir de alguma
forma lesado, tem capacidade para estar em juízo. Se no decurso do processo houver
desacordo entre as partes, qualquer dos lados poderá solicitar que o juíz declare uma
sentença, julgando com base nas provas e declarações.
Uma questão importante a ser esclarecida é que o processo legal é uma cláusula
geral, uma norma composta de termos vagos, indeterminados, cujas consequências são
indeterminadas. É indeterminada inclusive nos fatos e nas consequências, onde udo é
decido exclusivamente pelo juíz, que neste caso é declarado com um órgão independete
do judiciário, com total independência em suas decisões.
As partes envolvidas no processo, bem como todos aqueles que de alguma forma
participam deste, tem alguns deveres que devem ser observados. São eles:
• Expor os fatos em juízo conforme a verdade.
• Proceder com lealdade e boa-fé.
• Não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas
de fundamento.
• Não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à
declaração ou defesa do direito.
• Cumprir com exatidão os provimentos mandamentaise não criar embaraços à
efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipada ou final.

3. A Arquitetura da Informação no contexto judicial

3.1. Informação
A informação tem papel central na sociedade moderna, principalmente nas últimas
décadas quando o uso de redes de computadores se disseminou pelo globo. Informação
ao lado de capital, emprego e matéria-prima são condições básicas para o
1 Código de Processo Civil – Lei no. 5.869, de 11 de Janeiro de 1973.

4
desenvolvimento econômico. O que chama a atenção atualmente é a natureza digital
desta informação (Capurro e Hjørland, 2003).
O conceito de informação é amplo e difícil de se delimitar, com muitas
definições. Neste texto trataremos a informação, no sentido de comunicar ou receber
conhecimento ou inteligência1, o que inclui representação digital, impressa, áudio,
vídeo, imagem, gráfico, cartográfico, por exemplo.

3.2. Arquitetura da Informação


Define-se por Arquitetura da Informação (Rosenfeld e Morville, 2002):
• O projeto estrutural de ambientes informacionais compartilhados.
• A combinação de organização, rotulagem, busca e sistemas de navegação em
web sites e intranets.
• Arte e ciência de modelagem de produtos informacionais e experiências
tendo em vista a usabilidade e “encontrabilidade”.
• Uma disciplina e comunidade emergente de práticas focadas em trazer os
princípios de projeto e arquitetura para o cenário digital.
• Metodologia de desenho aplicada a um ambiente informacional
compreendido por um contexto, conteúdos em fluxo e servindo a uma
comunidade de usuários.

Figura 1: Modelo de Arquitetura da Informação (Rosenfeld; Morville, 2002)

Segundo Wurman (1996), as estruturas de informação influenciam interações no


mundo da mesma forma que as estruturas dos edifícios estimulam ou limitam interações
sociais. Da mesma forma que a estrutura de um shopping deve incentivar os potenciais
clientes a andarem pela maior quantidade possível de lojas, fomentando o desejo de
1 Definição de “Informação” segundo o dicionário Merriam-Webster.

5
adquirir novos produtos, a informação deve estar disponibilizada e organizada com o
intuito de fazer o usuário se interessar por ela.

3.3. A Informação Jurídica


A informação jurídica está contida em todos os documentos judiciais. Salvo quando se
tratar de processo em segredo de justiça, todos esses dados são de domínio público e
devem ser compartilhados com toda a sociedade.
Este artigo trata da informação contida especificamente no processo judicial. As
páginas contidas em seu interior (conhecidas como autos) contém os documentos
necessários para o andamento da ação, todos em ordem cronológica. Por se tratar de
papel, existe o custo tanto da impressão como do armazenado com os devidos cuidados
para conservação. Deve-se considerar, inclusive, o custo de encontrar ou não encontrar
a informação desejada, o que é difícil de mensurar pois se trata de serviço público, sem
um valor objetivo. De toda forma, o usuário deve se locomover fisicamente até o local
onde os processos se encontram.
Abaixo pode-se ver um exemplo de ementa1.
PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 304, C/C ART. 299, AMBOS DO
CÓDIGO PENAL (USO DE DOCUMENTO FALSO E FALSIDADE IDEOLÓGICA). SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS.
CONJUNTO PROBATÓRIO HARMÔNICO E IDÔNEO. PEDIDOS DA ACUSAÇÃO PARA CONDENAÇÃO.
PEDIDO DE FIXAÇÃO DA PENA AQUÉM DO MÍNIMO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE DE PENA AQUÉM
DO MÍNIMO LEGAL NA SEGUNDA FASE DE APLICAÇÃO DA PENA. ENUNCIADO Nº. 231 DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REPERCUSSÃO GERAL DO STF. CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE
DA CONFISSÃO DEVIDAMENTE RECONHECIDA NA SENTENÇA. (ART. 65, INCISO III, ALÍNEA "D",
DO CÓDIGO PENAL. CONDIÇÕES JUDICIAIS FAVORÁVEIS AO ACUSADO. REGIME INICIAL DE
CUMPRIMENTO DE PENA ABERTO (ART. 33, § 3º, DO C.P.). SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. FIXAÇÃO PELO MM. JUIZ DA VARA DE EXECUÇÕES
(CP 44 § 2º).

RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. REUNIDOS ELEMENTOS HÁBEIS E PROPÍCIOS A CORROBORAR A AUTORIA E A


MATERIALIDADE, NOTADAMENTE AS DECLARAÇÕES FIRMES E COESAS DAS TESTEMUNHAS,
DEVE-SE CONDENAR O ACUSADO.

2. FIXADA A REPRIMENDA NO MÍNIMO LEGAL, UMA VEZ QUE RECONHECIDA A CIRCUNSTÂNCIA


ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA (ART. 65, INCISO III, ALÍNEA 'D', DO CÓDIGO PENAL,
NÃO HÁ COMO REDUZI-LA AQUÉM DO MÍNIMO LEGAL.

3. O COLENDO STJ, CORTE CRIADA PARA UNIFORMIZAR A INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO


INFRACONSTITUCIONAL, PELO VERBETE 231, DA SUA SÚMULA, PONTIFICOU DA
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DE SE FIXAR A PENA AQUÉM DO MÍNIMO LEGAL EM VIRTUDE DA
EXISTÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIA ATENUANTE. NO MESMO SENTIDO, O EXCELSO STF AO
APRECIAR, COM O CARÁTER DE REPERCUSSÃO GERAL, RE 597270 RG-QO/RS.

RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO PARA MANTER A SENTENÇA QUE CONDENOU O


APELANTE NAS SANÇÕES DOS ARTIGOS 304 E 299, AMBOS DO CÓDIGO PENAL, À PENA NO
MÍNIMO LEGAL DE 2 (DOIS) ANOS DE RECLUSÃO, NO REGIME ABERTO, E 10 (DEZ) DIAS-MULTA,
FIXADO O VALOR DO DIA-MULTA NO MÍNIMO LEGAL. SUBSTITUÍDA A PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE FOI SUBSTITUÍDA POR OUTRAS RESTRITIVAS DE DIREITOS, A SEREM DESIGNADAS
PELO JUÍZO DA VEPEMA.

Percebe-se através deste trecho que a informação jurídica é complexa e


subjetiva, além de fazer referência a diversas outras fontes de informação. Não apenas

1 Ementa – De acordo com o CPC, é o resumo da sentença ou do acórdão.

6
pelo vocabulário mais amplo, mas também pela interpretação do contexto,
jurisprudência, normas e atenuantes. A linguagem técnica não é acessível a uma grande
parcela da população que não tem acesso a essa base teórica do direito.

4. Evolução do processo judicial

4.1. Processo eletrônico


Segundo o CNJ, o problema crônico do Judiciário é a burocracia. Com o processo
judicial tradicional em papel, cerca de 70% do tempo da tramitação de cada ação nos
tribunais brasileiros é gasto com manipulação dos documentos, carimbos, certidões e
movimentações físicas dos autos. São tarefas burocráticas que demandam tempo, mão-
de-obra especializada e dinheiro.
Um processo virtual (ou eletrônico) tramita cinco vezes mais rapidamente que o
processo em papel, ainda segundo dados do CNJ. Desde a promulgação da Lei de
Informatização de Processo Judicial1 vê-se a possibilidade de otimizar o judiciário.
O art. 1o. da referida lei diz: “O uso de meio eletrônico na tramitação de
processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais será
admitido nos termos desta Lei”, onde meio eletrônico é “qualquer forma de
armazenamento ou tráfego de documentos e arquivos digitais”. Percebe-se as seguintes
vantagens com este novo instrumento:
• Sem barreiras ou fronteiras no acesso à informação jurídica.
• Maior interação do Poder Judiciário com a sociedade. Exemplo: existem
quiosques de atendimento em repartições públicas e até mesmo em
penitenciárias.
• Acesso em tempo real aos dados dos processos.
• Os advogados poderão praticar atos processuais, com sua consequente
redução de custos. A petição eletrônica já é uma realidade, não havendo
mais necessidade da presença do advogado no Tribunal.
• Os juízes poderão resolver questões urgentes sem a necessidade de
comparecer à sede da justiça.
• Integração entre órgãos do administração pública agilizando procedimentos
burocráticos.

Com esta nova ferramenta, o conteúdo digital cresce exponencialmente e a


organização e disponibilização desse acervo faz-se míster. Um desafio, uma vez que os
tornar a informação jurídica disponível e, principalmente, utilizável para um público
vasto, com culturas totalmente diferentes.
A questão levantada pelos juristas é sobre a qualidade do processo eletrônico, se
esta velocidade não traz danos às partes. Deve ser dada atenção especial no processo
1 Lei 11.419, de 2006. Dispõe sobre a informatização do processo judicial, alterando o Código do
Processo Civil.

7
virtual ao processo legal formal que é o conjunto de garantias mínimas que todo cidadão
tem direito. Entre essas garantias tem-se:
• Contraditório – possibilidade de resposta e a utilização de todos os meios de
defesa.
• Juíz natural – a ação deve ser julgada somente por um juíz integrante do
Poder Judiciário, garantindo a sua imparcialidade na decisão.
• Duração das ações – O artigo 5o. da Constituição Federal diz que “a todos,
no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.
• Motivação das decisões – Toda decisão judicial deve ser fundamentada,
afastando-se o arbítrio e interferências estranhas ao sistema legal em vigor
(idealogias, subjetividades do pensar dos juízes). A fundamentação indica
quais as razões que permitiram ao juíz proferir aquela decisão.

4.2. Digitalização
Existe um movimento na direção da digitalização de acervos. O Google através
do Google Books tem fechado acordos para digitalizar bibliotecas inteiras. As
bibliotecas de Harvard, Stanford, Michigan, Oxford e a biblioteca pública do The New
York Times que juntos representam um acervo de mais de 15 milhões de volumes. Em
2011 as bibliotecas italianas começam a preparar seus acervos para digitalização, com
um catálogo de mais de 285.000 volumes.
Segundo dados da Amazon.com, em 2010 foram vendidos mais livros digitais
que em papel, com o total de 8 milhões de dispositivos de leitura para e-books (Kindle).

Figura 2: O Kindle, leitor de e-books da Amazon. Fonte: http://amazon.com

8
Outra iniciativa de disponibilização digital de documentos se chama Open
Content Alliance1 (OCA), que se iniciou de um projeto do Yahoo! e hoje ganhou
dimensões mundiais. Ela fornece conteúdo em formato texto e multimídia das seguintes
organizações (Johnson, 2007):
• European Archive
• Internet Archive
• National Archives (UK)
• O'Reilly Media
• Prelinger Archives
• University of California
• University of Toronto

4.3. Digitalização no âmbito do Judiciário brasileiro


A digitalização no Poder Judiciário atende a dois propósitos: reduzir a circulação de
papel e dar maior celeridade aos andamentos das ações. Os tribunais estão em processo
de digitalização ou tem planos próximos para tal.
No STF, o volume de páginas produzidas chegou a 20 milhões em 2009. Um
processo de 20 folhas tem custo estimado em R$ 20,00, segundo estatísticas do STF.
Ainda no STJ, dezenas de scanners digitalizaram cerca de 390.000 processos.
Todos os recursos já estão digitalizados, disponíveis na internet em tempo integral,
facilitando sobremaneira o acesso à informação.
Como consequência da digitalização há uma redução de custos com
correspondência. A remessa de processos de uma cidade a outra, que demora cerca de
cinco meses, de acordo com o STJ, por se tratar de um trâmite burocrático, com a
remessa eletrônica, autorizada pela lei 11.419/2006, a transmissão se dá em questão de
minutos.
Segunda essa lei, todos os órgãos do judiciário devem manter equipamentos de
digitalização e acesso à internet disponíveis aos interessados na distribuição de peças
processuais. Dispõe também que todo documento digitalizado e legalmente juntado aos
autos tem a mesma força probante dos originais.

1 Open Content Alliance: http://www.opencontentalliance.org.

9
Figura 3: Petição inicial de um processo judicial. Fonte: TJSP.

Figura 4: Termo de audiência. Fonte: TJSP.

5. Novas mídias
O compartilhamento de vídeo (do termo video sharing, em inglês) se popularizou nos

10
anos 2000 quando, além do conteúdo em formato texto, os vídeos na internet se
consolidaram como uma alternativa viável de comunicação. Sítios como Metacafe e
YouTube disponibilizam milhões de vídeos on-line. Esses vídeos são produzidos pelos
usuários de forma amadora e também por profissionais. Segundo o YouTube, em 2010
foram excedidos os dois bilhões de visualizações por dia, enquando que a cada minuto
são enviados cerca de 24 horas de gravações para o sítio. Números bastantes
expressivos, evidenciando um aumento constante do interesse do público por esse novo
tipo de mídia.
A internet como meio de comunicação colaborativa, ou Web 2.0 (O'Reilly,
2007) faz parte da nova geração de ferramentas de redes sociais. Segundo Alexander
(2006), a idéia de utilizar a tecnologia para conectar pessoas com o objetivo de agregar
conhecimento e até mesmo como ferramento de aprendizado data dos anos 1960. A
tecnologia subsequente a essa gerou ferramentas como listservers, Usenet, software para
grupos de discussão e groupware.
Nos últimos anos ve-se a profusão de ferramentas colaborativas com a utilização
de novos recursos tecnológicos. Ferramentas como blog, wiki, podcast, videocast,
MySpace, Facebook, Orkut e Twitter surgiram são apenas alguns exemplos. Ainda
segundo O'Reilly, essas novas ferramentas fazem largo uso de interfaces ricas, para
gerar uma experiência de usuário mais agradável e intuitiva. São conhecidas como
ferramentas da Web 2.0, que é um conceito sem fronteiras definidas e pode ser
visualizado como um conjunto de características e princípios.

5.1. TV e Rádio Justiça


A TV Justiça, canal de televisão público de caráter institucional, tem como propósito a
divulgação dos atos do Poder Judiciário e dos serviços essenciais à justiça e possui um
canal da TV Justiça no YouTube1.
A Rádio Justiça é transmitida em FM, satélite e internet e atende ao público que
não tem acesso a TV por assinatura. Tanto a Rádio quanto a TV tratam assuntos
jurídicos em profundidade, evitando que assuntos importantes para a sociedade sejam
abordados de form superficial.

5.2. Videoconferência
A utilização da videoconferência no judiciário tem levantado muitas discussões e
divergências. A lei 11.900/2009 que altera o Código de Processo Penal para prever a
possibilidade de realização de interrogatório e outros atos processuais por sistema de
videoconferência que em seu artigo 1o. Diz: “Excepcionalmente, o juiz, por decisão
fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório
do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real (...)”.
Esta lei federal data de 2009, mas em decisões anteriores (Habeas Corpus 88.914
e 90.900, de 2007 e 2008 respectivamente) o STF entendeu que a videoconferência feriu
o direito de ampla defesa. A lei estadual 11.819/2005 de São Paulo, que estabelece a
1 TV Justiça Channel – Disponível em http://www.youtube.com/user/TVJustica.

11
possibilidade da utilização do sistema de videoconferência foi declarada
inconstitucional.

6. Aplicação prática
Um estudo de caso onde se pode discutir as possibilidades de aplicação da Arquitetura
da Informação no contexto jurídico é a linha temporal do processo, com seus eventos,
datas e pessoas envolvidas.
Na tabela abaixo, vê-se a forma atual de visualização dos andamentos
processuais. São mostrados, em ordem cronológica, os fatos relevantes de interesse das
partes. Entre cada andamento, novos autos são apensados ao processo, mas seu texto
não é visualizado nesta pesquisa.
Cada processo conta com dezenas (não raramente chegando a centenas) de
páginas e sua visualização é de suma importância para os usuários.

Data Andamento Complemento

27/06/2008 - 413 - Autos remetidos a turma 20080110027704ACJ


14:02:51 recursal do juiz. especial
23/06/2008 - 047 - Carga ao advogado do autor CAROLINA CARVALHAIS VIEIRA DE MELO
17:00:37
23/06/2008 - 245 - Aguarda publicacao no dje
16:14:02 Pauta - DJ
19/06/2008 - 308 - Enviar a publicacao
16:16:17
18/06/2008 - 442 - Despacho proferido sem
17:02:00 complemento Despacho
13/06/2008 - 096 - Conclusos para despacho
16:53:17
03/06/2008 - 249 - Aguarda decurso de prazo
18:47:32
03/06/2008 - 135 - Sentenca proferida Dr(a). EDI MARIA COUTINHO BIZZI
18:06:00 03/06/2008 com Merito
Sentença
03/06/2008 - 248 - Audiencia realizada Dr(a). EDI MARIA COUTINHO BIZZI
18:06:00 Termo da Audiência
02/06/2008 - 096 - Conclusos
12:24:49
13/03/2008 - 248 - Audiencia de instrução 03/06/2008 16:20
18:57:39 designada
13/03/2008 - 248 - Audiencia de instrução e 03/06/2008 16:20
18:52:39 julgamento designada
12/03/2008 - 048 - Remessa a(o) SALA DE CONCILIACAO
13:34:30
19/02/2008 - 322 - Determinada a expedicao
15:16:16 oficio
14/02/2008 - 048 - Remessa a(o) INSPECAO
15:10:57

12
11/02/2008 - 479 - Documento expedido Mandado(MANDADO DE CITAÇÃO E
13:15:00 INTIMAÇÃO)
Documento não disponível para
consulta.
08/02/2008 - 145 - Citacao com aviso de
15:31:11 recebimento
07/02/2008 - 442 - Despacho proferido sem
16:13:00 complemento Despacho
29/01/2008 - 096 - Conclusos para despacho
18:35:05
25/01/2008 - 145 - Citacao com aviso de
15:33:21 recebimento
24/01/2008 - 048 - Remessa a(o) ANALISE DA PETIÇÃO INICIAL
16:08:57
11/01/2008 248 - Audiencia de conciliação 03/12/08 02:30 PM
designada
11/01/2008 - 007 - Autos distribuidos ao cartorio
12:36:18

Tabela 2: visualização dos andamentos de um processo. Fonte: TJDFT.

6.1. Visualização
Em se tratando de processo judicial, visualização é essencial para o usuário.
Uma alternativa para visualização de grandes coleções de documentos é o Many
Eyes (Viegas, 2005), projeto que tem como base a extração de informação, visualizando
os dados em forma de gráficos para melhor compreensão do seu conteúdo.

Figura 5: Visualização de textos através do Many Eyes.

Fonte: http://many-eyes.com

13
Figura 6: Visualização em forma de nuvem de palavras.

Fonte: http://many-eyes.com.

7. Conclusão
O processo eletrônico é uma realidade recente que carece de maturação mas já começa a
consolidar sua importância. Dado o crescente número de processos nos tribunais, sua
utilização se mostra inevitável e já traz benefícios no que tange a celeridade da justiça.
Segundo as estatísticas, a tendência é de que o futuro será menos moroso com as
vantagens da era digital.
A organização, disponibilização e visualização da informação jurídica representa
um desafio para a Arquitetura da Informação pela diversidade dos perfis de usuário.
A informação enquanto um ativo da organização, tem valor e representa poder.
Durante a pesquisa não foi encontrado nenhum indício de a informatização
aproxime a justiça da parcela mais carente da população.
A tecnologia é um instrumento a serviço do processo, e sua utilização deve ser
feita resguardando-se os princípios e os objetivos a serviço dos quais está o processo.
Em função disso muitas discussões estão sendo travadas.
Nesse contexto das informações jurídicas, o bibliotecário ou profissional da
informação terá um novo papel.
O ponto é: será que o usuário sabe o que está procurando? Mesmo com uma
resposta positiva, o usuário não sabe que tipo de informação está disponível.
A simples busca por palavra-chave, mesmo que auxiliado por um tesaurus
recuperará informações relevantes, mas a informação implícita, que sequer o usuário
sabe que existe?
Um advogado e um cidadão sem conhecimentos jurídicos tem demandas
informacionais diferentes.
Qual a informação que se busca em um tribunal?
O conceito de qualidade da informação aplicado ao contexto jurídico.
Biblioteca digital. Camargo e Vidotti, 2005.

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Referências

Alexander, B. Web 2.0: A New Wave of Information for Teaching and Learning? In
EDUCAUSE Review, Volume 41. 2006.

Camargo, L. S. A.; Vidotti, S. A. B. G. Arquitetura da Informação Para Biblioteca


Digital Personalizável. Dissertação de Mestrado. Unesp, Marília, 2005.

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