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Perspectiva.
Marco A. S. Reis
ma@marcoreis.net
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1. Introdução
A sociedade moderna tem evoluído com o objetivo de estar sempre produzindo mais e
melhor. Essa evolução faz com que as relações humanas se tornem mais complexas,
exigindo mais celeridade dos legisladores na criação de leis que atendam às
necessidades atuais do Estado.
Outros fatores como o aumento da população alfabetizada (em tese, mais
esclarecida) e aumento da renda também influenciam a evolução do número de
processos. Dados do IBGE confirmam que em 2009 o índice de analfabetismo entre
maiores de 15 anos ficou em 9,7% enquanto que a renda média do trabalhador brasileiro
cresceu 20% entre 2004 e 2009. Outra pesquisa do IBGE 1 aponta que em 2010 o
desemprego ficou em 6,7%. Essas informações indicam um avanço na qualidade de
vida da população brasileira. Reflexo disso se percebe nos tribunais, com o aumento no
número dos processos. A PNAD2 de 2009 indica que o computador está presente em
35% dos lares brasileiros, enquanto o acesso à internet está em 27%.
A tabela a seguir, disponibilizada pelo CNJ 3, mostra o aumento no número de
processos de primeira instância no TJDFT4.
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seus conhecimentos, práticas e preocupações.
A Ciência da Informação, assim como a Ciência da Computação (e tantas outras)
emergem a partir da Segunda Grande Guerra. A rápida evolução da ciência e tecnologia
no século XX provocou uma revolução e a “explosão da informação”, que se refere ao
aumento exponencial de publicações e registros técnicos e científicos, é a manifestação
visível deste fenômeno (Saracevic, 1999).
De acordo com Rosati e Resmini (2007), Arquitetura da Informação (AI) não é
apenas para web. Ela tem um grande impacto em muitas outras atividades e afeta nossa
experiência de usuário de diversas formas. Sua contribuição se torna crucial quando
unimos a falta de familiaridade, complexidade e grandes coleções de documentos,
exatamente o cenário encontrado em uma corte. Neste sentido, a tecnologia é aliada dos
usuários da informação jurídica.
O uso pervasivo da tecnologia já é bem difundido na cultura ocidental (Signorini
e Cavalcanti, 2010), não se resumindo na figura do computador pessoal (PC). Observe-
se o crescente número de dispositivos plugáveis à internet que a cada ano é lançado no
mercado. Essa diversidade de dispositivos aliada ao dinamismo próprio da indústria do
software produzem efeitos positivos para o usuário da tecnologia. Esse maior contato
com a tecnologia gera novas demandas e espectativas.
O desafio da Arquitetura da Informação será simplificar este cenário cada dia
mais complexo e especializado.
2. Fundamentação
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através do juíz de direito. Caso alguma das partes não concorde com a decisão, pode
apelar para a segunda instância, onde o processo será analisado pelos desembargadores,
que tem poder para manter (a decisão) ou mudá-la. A terceira instância julgará os casos
controversos, proferindo uma decisão final.
3.1. Informação
A informação tem papel central na sociedade moderna, principalmente nas últimas
décadas quando o uso de redes de computadores se disseminou pelo globo. Informação
ao lado de capital, emprego e matéria-prima são condições básicas para o
1 Código de Processo Civil – Lei no. 5.869, de 11 de Janeiro de 1973.
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desenvolvimento econômico. O que chama a atenção atualmente é a natureza digital
desta informação (Capurro e Hjørland, 2003).
O conceito de informação é amplo e difícil de se delimitar, com muitas
definições. Neste texto trataremos a informação, no sentido de comunicar ou receber
conhecimento ou inteligência1, o que inclui representação digital, impressa, áudio,
vídeo, imagem, gráfico, cartográfico, por exemplo.
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adquirir novos produtos, a informação deve estar disponibilizada e organizada com o
intuito de fazer o usuário se interessar por ela.
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pelo vocabulário mais amplo, mas também pela interpretação do contexto,
jurisprudência, normas e atenuantes. A linguagem técnica não é acessível a uma grande
parcela da população que não tem acesso a essa base teórica do direito.
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virtual ao processo legal formal que é o conjunto de garantias mínimas que todo cidadão
tem direito. Entre essas garantias tem-se:
• Contraditório – possibilidade de resposta e a utilização de todos os meios de
defesa.
• Juíz natural – a ação deve ser julgada somente por um juíz integrante do
Poder Judiciário, garantindo a sua imparcialidade na decisão.
• Duração das ações – O artigo 5o. da Constituição Federal diz que “a todos,
no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.
• Motivação das decisões – Toda decisão judicial deve ser fundamentada,
afastando-se o arbítrio e interferências estranhas ao sistema legal em vigor
(idealogias, subjetividades do pensar dos juízes). A fundamentação indica
quais as razões que permitiram ao juíz proferir aquela decisão.
4.2. Digitalização
Existe um movimento na direção da digitalização de acervos. O Google através
do Google Books tem fechado acordos para digitalizar bibliotecas inteiras. As
bibliotecas de Harvard, Stanford, Michigan, Oxford e a biblioteca pública do The New
York Times que juntos representam um acervo de mais de 15 milhões de volumes. Em
2011 as bibliotecas italianas começam a preparar seus acervos para digitalização, com
um catálogo de mais de 285.000 volumes.
Segundo dados da Amazon.com, em 2010 foram vendidos mais livros digitais
que em papel, com o total de 8 milhões de dispositivos de leitura para e-books (Kindle).
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Outra iniciativa de disponibilização digital de documentos se chama Open
Content Alliance1 (OCA), que se iniciou de um projeto do Yahoo! e hoje ganhou
dimensões mundiais. Ela fornece conteúdo em formato texto e multimídia das seguintes
organizações (Johnson, 2007):
• European Archive
• Internet Archive
• National Archives (UK)
• O'Reilly Media
• Prelinger Archives
• University of California
• University of Toronto
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Figura 3: Petição inicial de um processo judicial. Fonte: TJSP.
5. Novas mídias
O compartilhamento de vídeo (do termo video sharing, em inglês) se popularizou nos
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anos 2000 quando, além do conteúdo em formato texto, os vídeos na internet se
consolidaram como uma alternativa viável de comunicação. Sítios como Metacafe e
YouTube disponibilizam milhões de vídeos on-line. Esses vídeos são produzidos pelos
usuários de forma amadora e também por profissionais. Segundo o YouTube, em 2010
foram excedidos os dois bilhões de visualizações por dia, enquando que a cada minuto
são enviados cerca de 24 horas de gravações para o sítio. Números bastantes
expressivos, evidenciando um aumento constante do interesse do público por esse novo
tipo de mídia.
A internet como meio de comunicação colaborativa, ou Web 2.0 (O'Reilly,
2007) faz parte da nova geração de ferramentas de redes sociais. Segundo Alexander
(2006), a idéia de utilizar a tecnologia para conectar pessoas com o objetivo de agregar
conhecimento e até mesmo como ferramento de aprendizado data dos anos 1960. A
tecnologia subsequente a essa gerou ferramentas como listservers, Usenet, software para
grupos de discussão e groupware.
Nos últimos anos ve-se a profusão de ferramentas colaborativas com a utilização
de novos recursos tecnológicos. Ferramentas como blog, wiki, podcast, videocast,
MySpace, Facebook, Orkut e Twitter surgiram são apenas alguns exemplos. Ainda
segundo O'Reilly, essas novas ferramentas fazem largo uso de interfaces ricas, para
gerar uma experiência de usuário mais agradável e intuitiva. São conhecidas como
ferramentas da Web 2.0, que é um conceito sem fronteiras definidas e pode ser
visualizado como um conjunto de características e princípios.
5.2. Videoconferência
A utilização da videoconferência no judiciário tem levantado muitas discussões e
divergências. A lei 11.900/2009 que altera o Código de Processo Penal para prever a
possibilidade de realização de interrogatório e outros atos processuais por sistema de
videoconferência que em seu artigo 1o. Diz: “Excepcionalmente, o juiz, por decisão
fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório
do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real (...)”.
Esta lei federal data de 2009, mas em decisões anteriores (Habeas Corpus 88.914
e 90.900, de 2007 e 2008 respectivamente) o STF entendeu que a videoconferência feriu
o direito de ampla defesa. A lei estadual 11.819/2005 de São Paulo, que estabelece a
1 TV Justiça Channel – Disponível em http://www.youtube.com/user/TVJustica.
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possibilidade da utilização do sistema de videoconferência foi declarada
inconstitucional.
6. Aplicação prática
Um estudo de caso onde se pode discutir as possibilidades de aplicação da Arquitetura
da Informação no contexto jurídico é a linha temporal do processo, com seus eventos,
datas e pessoas envolvidas.
Na tabela abaixo, vê-se a forma atual de visualização dos andamentos
processuais. São mostrados, em ordem cronológica, os fatos relevantes de interesse das
partes. Entre cada andamento, novos autos são apensados ao processo, mas seu texto
não é visualizado nesta pesquisa.
Cada processo conta com dezenas (não raramente chegando a centenas) de
páginas e sua visualização é de suma importância para os usuários.
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11/02/2008 - 479 - Documento expedido Mandado(MANDADO DE CITAÇÃO E
13:15:00 INTIMAÇÃO)
Documento não disponível para
consulta.
08/02/2008 - 145 - Citacao com aviso de
15:31:11 recebimento
07/02/2008 - 442 - Despacho proferido sem
16:13:00 complemento Despacho
29/01/2008 - 096 - Conclusos para despacho
18:35:05
25/01/2008 - 145 - Citacao com aviso de
15:33:21 recebimento
24/01/2008 - 048 - Remessa a(o) ANALISE DA PETIÇÃO INICIAL
16:08:57
11/01/2008 248 - Audiencia de conciliação 03/12/08 02:30 PM
designada
11/01/2008 - 007 - Autos distribuidos ao cartorio
12:36:18
6.1. Visualização
Em se tratando de processo judicial, visualização é essencial para o usuário.
Uma alternativa para visualização de grandes coleções de documentos é o Many
Eyes (Viegas, 2005), projeto que tem como base a extração de informação, visualizando
os dados em forma de gráficos para melhor compreensão do seu conteúdo.
Fonte: http://many-eyes.com
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Figura 6: Visualização em forma de nuvem de palavras.
Fonte: http://many-eyes.com.
7. Conclusão
O processo eletrônico é uma realidade recente que carece de maturação mas já começa a
consolidar sua importância. Dado o crescente número de processos nos tribunais, sua
utilização se mostra inevitável e já traz benefícios no que tange a celeridade da justiça.
Segundo as estatísticas, a tendência é de que o futuro será menos moroso com as
vantagens da era digital.
A organização, disponibilização e visualização da informação jurídica representa
um desafio para a Arquitetura da Informação pela diversidade dos perfis de usuário.
A informação enquanto um ativo da organização, tem valor e representa poder.
Durante a pesquisa não foi encontrado nenhum indício de a informatização
aproxime a justiça da parcela mais carente da população.
A tecnologia é um instrumento a serviço do processo, e sua utilização deve ser
feita resguardando-se os princípios e os objetivos a serviço dos quais está o processo.
Em função disso muitas discussões estão sendo travadas.
Nesse contexto das informações jurídicas, o bibliotecário ou profissional da
informação terá um novo papel.
O ponto é: será que o usuário sabe o que está procurando? Mesmo com uma
resposta positiva, o usuário não sabe que tipo de informação está disponível.
A simples busca por palavra-chave, mesmo que auxiliado por um tesaurus
recuperará informações relevantes, mas a informação implícita, que sequer o usuário
sabe que existe?
Um advogado e um cidadão sem conhecimentos jurídicos tem demandas
informacionais diferentes.
Qual a informação que se busca em um tribunal?
O conceito de qualidade da informação aplicado ao contexto jurídico.
Biblioteca digital. Camargo e Vidotti, 2005.
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Referências
Alexander, B. Web 2.0: A New Wave of Information for Teaching and Learning? In
EDUCAUSE Review, Volume 41. 2006.
Johnson, R. K. In Google's Broad Wake: Taking Responsability for Shaping the Global
Digital Library. Special Issue, ARL, 2007.
O'Reilley, T. What Is Web 2.0. Design Patterns and Business Models for the Next
Generation of Software. In Communications and Strategies, Número 65. 2007.
Rosenfeld, L.; Morville, P. Information Architecture for the World Wide Web. USA:
O'Reilly, 1998.
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Saracevic, Tefko. Information Science, 1999.
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