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Irresistível a Deus

Steve Gallagher

Digitalizado por Luis Carlos

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SEMEADORES DA PALAVRA e-books evangélicos


G158Í
Gallagher, Steve.
Irresistível a Deus /Steve Gallagher, traduzido por Flávia Bastos -Rio de Janeiro; Graça, 2005.
200 pp. 14x2 lcm.

ISBN 85-7343-720-0.

Tradução de: Irresistible to God Inclui bibliografia.

1. Vida cristã. 2. Humildade - Aspectos religiosos - Cristianismo. I. Título.


CDD-248.4

IRRESISTÍVEL A DEUS
® Steve Gallagher,2003

ORIGINAL: "Irresistible to God"


Pure Life Ministries
P.O. Box 410 Dry Ridge, KY 41035
(888) 293-8714 / (859) 824-4444

Tradução: Flávio. Bastos

Coordenação: Eber Cocareli

Revisão: Original Claudia Lins

Prova Magdalena Bezerra Soares

Final Célia Cândido

Supervisão Elaine Nascimento

Diagramação: Ilma Martins de Souza

Capa: Graça Editorial

Design Kleber Ribeiro

Reservados todos os direitos de publicação à


GRAÇA ARTES GRÁFICAS E EDITORA LTDA.
Rua Torres de Oliveira, 271 - Piedade
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AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial para Brad Furges e Linus Minsk, por suas contribuições
valiosas para este livro.

DEDICATÓRIA
Eis para quem olharei, declara Jeová, para o pobre e abatido de espírito e que
treme diante da minha
palavra.
Esta obra é dedicada a Jeff e Rose Colon, santos irresistíveis que se têm
humilhado perante Deus e doado a própria vida para servir aos outros.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................6

PARTE UM: DEUS RESISTE AO ORGULHOSO

1. A natureza e o domínio do orgulho.........................9


2. A formação e o desenvolvimento do orgulho.......17
3. As diferentes formas do orgulho ..........................22
4. As faces do orgulho...............................................30
5. Orgulho religioso..................................................39
6. A natureza destrutiva do orgulho..........................45

PARTE DOIS: AS BÊNÇÃOS DA HUMILDADE

7. Salvo pela humildade do Espírito.........................52


8. Submisso perante Deus.........................................59
9. Andando em humildade........................................66
10. Servindo aos outros.............................................72
11. Diminuir-se em humildade..................................78
12. Santos irresistíveis...............................................84

BIBLIOGRAFIA............................................................91
INTRODUÇÃO
Na história, existem poucas ocorrências de quando o véu da escuridão que
encobre o Poderoso tenha-se tornado fino o suficiente para que os mortais
pudessem olhar de relance para a assombrosa realidade de Sua abundante
presença.
Isso aconteceu, por exemplo, quando os israelitas receberam os Dez
Mandamentos. Com extrema seriedade, Moisés advertiu o povo para que se
preparasse para encontrar-se com o Senhor. Assim, aproximadamente 3 milhões
de hebreus - homens, mulheres e crianças - ficaram de pé no anfiteatro natural de
pedras na base do monte Sinai, observando, nervosamente, seus rochedos. Ao
redor deles, no cume do morro, estavam enfileiradas miríades de carros de Deus
invisíveis (Sl 68.17).
De repente, a tranqüilidade foi interrompida pela atividade ruidosa do
grande e temível Senhor aparecendo no cimo da rocha. Luzes e trovões
iluminaram o céu escuro, e o som ensurdecedor de uma trombeta foi ouvido (Hb
12.18,19). O monte ardia em fogo até ao meio dos céus, e havia trevas, e nuvens,
e escuridão (Dt 4.11b). As pessoas gritavam e ficavam paralisadas pelo terror,
suplicando para que Moisés se colocasse entre eles e o terrível Deus do Sinai.
Desce, protesta ao povo, disse Jeová a Moisés, que não traspasse o termo para
ver o SENHOR, a fim de muitos deles não perecerem (Ex 19.21).
Outra ocasião em que o homem pôde "ver" o Altíssimo aconteceu alguns
milhares de anos depois, quando o profeta Isaías, no ano em que morreu o rei
Uzias, viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono [...], e os serafins
estavam acima dele [...] e clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo,
Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os
umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu
de fumaça (Is 6.1-4).
Mais tarde, Isaías ouviu o Senhor bradar: O céu é o meu trono, e a terra, o
escabelo dos meus pés. Que casa me edificaríeis vós? E que lugar seria o do
meu descanso? (Is 66.1). Sem dúvida, isso o deixou aterrorizado e tremulo, como
aconteceu com Moisés (Hb 12.21). Contudo, em uma santa, ainda que paradoxal,
maneira, este Ser aterrorizante parece abrandar Sua formalidade e termina Seu
discurso com um longo tom de pesar em Sua voz: Mas eis para quem olharei:
para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra (Is
66.2b).
Que declaração surpreendente! O Todo-Poderoso olhando para um ser
humano! A palavra hebraica para olhar (nabat) tem uma conotação muito mais
forte do que sua similar em português. Ela significa olhar de forma concentrada,
com respeito e adoração, para um objeto. Imagine esse Deus onipotente, cujo
retorno à terra causará o escurecimento do sol, a queda das estrelas do
firmamento e o abalo dos poderes do céu (Mt 24.29), sendo considerado pó! Essa
verdade é simplesmente incompreensível, contudo, está gravada nas Sagradas
Escrituras.
Isaías não foi o único a receber essa revelação sobre o Senhor. Muitos
séculos antes, Davi teve uma visão acerca dEle e registrou as seguintes palavras:
Ainda que o SENHOR é excelso, atenta para o humilde; mas ao soberbo,
conhece-o de longe (Sl 138.6). Este verso reitera o que se encontra em Isaías 66,
mas acrescenta uma verdade contrastante. Enquanto o Onipotente considera o
humilde, Ele naturalmente repele - volta-se contra - o orgulhoso. Assim, o
contato íntimo ou a verdadeira amizade entre o Poderoso e aquele que tem
coração altivo é impossível.
Tais declarações refletem uma lei espiritual, algo como plantar e colher, que
trazem uma verdade para os que crêem e também para os que não crêem.
Claramente, pessoas pretensiosas, que reduzem Deus à qualidade humana, estão
em terreno extremamente perigoso, porque Ele é inimigo do orgulhoso (Tg 4.4).
Infelizmente, a perspectiva de muitos crentes sobre a soberba é tão
superficial, que os faz ignorar que, na própria vida deles, esse sentimento esteja
presente. Eles podem facilmente identificá-lo em estrelas arrogantes de cinema,
ricos esnobes, personalidades egoístas dos esportes, ou ainda em colegas de
trabalho verbalmente agressivos. Mas pergunte aos cristãos se eles têm lutado
para não serem orgulhosos, e a negação de muitos virá rapidamente: "Ah, não!
Eu não!". Que pastor atualmente tem recebido em seu gabinete um membro da
igreja ansioso e lamentando estar lutando contra a altivez?
Reconhecendo ou não essa presença odiosa, o orgulho, de fato, cria raízes
dentro de todo coração humano. E um agente corrosivo que irá espalhar-se em
nossa natureza pecaminosa e corroer nossa alma, se não for detectado.
Certamente, há muita altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus (2
Co 10.5).
Este livro é um guia que mostra o árduo, mas recompensador, caminho para
fora da semente da soberba e para dentro dos verdes campos da humildade. Antes
de se aproximar das regiões abençoadas da simplicidade, o homem deve
primeiro, corajosamente, fazer um exame de sua vida. Ele precisa ter a garantia
de estar com toda a dimensão do orgulho exposta e lidar com isso para descobrir
sua posição apropriada perante um Deus santo.
Mesmo difícil e doloroso, como poderá parecer muitas vezes, esse é o único
caminho para as bênçãos do Senhor. Essa é a peregrinação que todo santo de
Deus tem feito. Apenas quando, honestamente, concentra-se na soberba da
própria vida é quando você está pronto para examinar a humildade. Sendo assim,
esta obra está dividida em duas partes: a primeira, intitulada Deus resiste ao
orgulhoso, e a segunda, As bênçãos da humildade.
Eis para quem olharei, declara o Senhor, para o pobre e abatido de espírito e
que treme diante da minha palavra. Essa é a pessoa que se torna irresistível a
Deus!

PARTE UM

DEUS RESISTE
AO ORGULHOSO
Quase não há página nas Escrituras onde não esteja claramente escrito sobre a
resistência de Deus ao orgulhoso e a graça derramada ao humilde.1
Agostinho

Imagine, irmão, o que não é para o pecado ter Deus como seu inimigo.2
Jerônimo

Tão grande é a maldade do pecado, que não há anjo ou qualquer virtude que se
oponha a ele, mas o próprio Deus como seu Adversário.3
John Cassian

UM
A NATUREZA E O DOMÍNIO DO ORGULHO
Embora o ministério de Isaías tenha surgido durante a grande mudança que
aconteceu no reinado de Uzias, o profeta não poderia estar preparado para a
tragédia que seus jovens olhos testemunhariam. O Senhor destruiu o velho rei
com lepra, embora ele tenha lutado contra o mal da terra. O que este homem
honroso poderia ter feito para provocar tamanha execução do julgamento de
Deus?
Uzias tinha apenas 16 anos quando sucedeu seu pai como rei sobre Judá.
Nós ouvimos que o rapaz sincero deu-se a buscar a Deus nos dias de Zacarias
[...], nos dias em que buscou o SENHOR, Deus o fez prosperar (2 Cr 26.5).
Certamente, parecia que tudo ia bem para ele, que restaurou o rico comércio da
nação, construindo o porto de Elate; subjugou os filisteus, amonitas e arábios;
fortificou as cidades de Judá e formou um exército poderoso. Seu renome foi
espalhado até a entrada do Egito, porque se fortificou altamente (2 Cr 26.8).
Contudo, no auge da fama, da prosperidade e do poder conquistados, Uzias
se tornou vítima de uma paixão humana que tem destruído muitas vidas:
Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper;
e transgrediu contra o SENHOR, seu Deus, porque entrou no templo do
SENHOR para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias
entrou após ele, e, com ele, oitenta sacerdotes do SENHOR, varões valentes. E
resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso
perante o SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados
para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isso
para honra tua da parte do SENHOR Deus. Então, Uzias se indignou e tinha o
incensário na sua mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os
sacerdotes, a lepra lhe saiu a testa perante os sacerdotes, na Casa do SENHOR,
junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias olhou para ele, como
também todos os sacerdotes, e eis que já estava leproso na sua testa, e
apressuradamente o lançaram fora; e até ele mesmo se deu pressa a sair, visto
que o SENHOR o ferira. Assim ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua
morte; e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da
Casa do SENHOR; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o
povo da terra. 2 Crônicas 26.16-21
O que poderia ter afetado aquele respeitoso rei que o tenha feito
transgredir perante seu Senhor? Que tipo de paixão poderia tê-lo incitado a agir
de maneira tão presunçosa com os assuntos sagrados do Altíssimo? O que
poderia ter causado sua queda do alto da glória e do poder humanos para ser
forçado a viver o resto de seus dias como um idoso solitário e recluso em uma
casa separada? A resposta para cada uma dessas questões é orgulho.
A Bíblia não deixa dúvidas sobre a posição do Todo-Poderoso a respeito do
orgulho. Salomão disse que olhos altivos são uma abominação para o Senhor (Pv
6.17). Isaías escreveu que, quando o Senhor aparece, a arrogância do homem é
abatida, sua altivez, humilhada, e só o Onipotente é exaltado (Is 2.17). Jesus
declarou que quem a si mesmo se exaltar será humilhado (Mt 23.12a), e Tiago
afirmou que Deus resiste aos soberbos (Tg 4.6b). No livro de Salmos, o próprio
Deus falou que Ele não suportará aquele que tem olhar altivo e coração soberbo
(Sl 101.5b).
Sem dúvida, orgulho é um dos assuntos mais proeminentes da Sagrada
Escritura, a qual utiliza pelo menos 17 palavras diferentes (e incontáveis
derivações) para descrever essa doença espiritual. * Contudo, não importa que
termo é usado; há sempre uma conotação de altivez: algo superior, crescente,
exaltado, ou sendo elevado. Assim, uma pessoa orgulhosa possui uma alta
admiração de si mesma e se coloca acima das demais à sua volta. Esse conceito
de auto-exaltação forma a base para a nossa definição de orgulho: Ter um senso
exagerado de sua própria importância e uma preocupação egoísta com seus
próprios direitos. É a atitude que diz: "Eu sou mais importante que você e, se
for necessário, vou promover minha causa e proteger meus direitos às suas
custas".
Orgulho é o princípio de governo das trevas e a influência sobre o mundo
não-remido. Ele causa contenda nos lares, nos locais de trabalho, no cenário
político e, sim, até na comunidade cristã (Pv 13.10).
Orgulho estimula a competição acirrada entre pessoas de todas as esferas.
Ele motiva as garotas a aparentarem atraentes e tentadas a parecer mais
arrumadas que as outras em sua competição pela posição de "a mais charmosa de
todas". Impossibilitadas de serem consideradas medianas, elas fazem tudo dentro
do seu alcance para se destacarem sobre suas rivais. Homens pretensiosos
competem entre si pelo seu físico, por sua bravura, suas habilidades e posses.
O orgulho acende as chamas do desejo que leva um pecador lascivo
diretamente para a degradação. Um Dom Juan sente uma auto-exaltação de
*
A propósito, em uma frase, Jeremias usa muitos termos para descrever Moabe: Ouvimos falar da soberba [ga'own]
de Moabe, que de fato é extremamente soberba [ge'eh], da sua arrogância [gobahh], do seu orgulho [ga'own], da sua
sobranceria [ga'own] e da altivez [ruwn] do seu coração Gr 48.29 -ARA).
excitamento quando acrescenta uma nova fêmea às suas conquistas. Um
estuprador alimenta seu ego monstruoso subjugando outros. Um exibicionista
enche-se de orgulho ao imaginar uma mulher vendo suas partes íntimas. Uma
adúltera sente-se a maioral ao pensar em roubar a afeição amorosa de um marido
competitivo. Esse tipo de sentimento está por trás também da maior parte da
violência que atinge nosso mundo. Um ego machucado leva um homem a matar
sua esposa e seu amor. O orgulho étnico provoca um aumento do discurso
inflamado contra grupos de pessoas que leva à guerra. Membros de gangues de
rua rivais se envolvem em brigas e pegas de automóveis em retaliação a ataques
prévios de seus oponentes.
Brigas de bares surgem de pequenas disputas. Muita hostilidade acontece
simplesmente porque as pessoas estão tentando ganhar o respeito dos outros e ser
admiradas. Com certeza, o orgulho tem causado mais problemas, conflitos,
sofrimento e tristeza nesse mundo do que qualquer outra paixão humana.
Existe um denominador comum entre cada um desses cenários: as pessoas
estão tentando exaltar-se às custas de seus semelhantes ou estão fazendo o seu
melhor para se proteger de outros que se exaltam às custas delas. Cada pedacinho
disso tem o cheiro horrível e egoísta da atitude de preocupar-se em ser o
primeiro.

O REINO DE DEUS

Muito antes de Deus criar o homem, uma grande rebelião aconteceu no céu
quando o querubim Lúcifer disse a si mesmo: Eu subirei ao céu, e, acima das
estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e, no monte da congregação, me
assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e
serei semelhante ao Altíssimo (Is 14.13,14).
A mesma atitude pretensiosa que expulsou do céu o rei do orgulho é a
inclinação predominante deste mundo caído. Como nos diz a Sagrada Escritura:
Sabemos que somos de Deus e que todo o mundo está no maligno (1 Jo 5.19).
Satanás,
agora, utiliza o orgulho para provocar inveja, raiva, perversão e uma longa
relação de outros vícios comuns ao homem. Talvez, isso tenha motivado um
ministro a escrever:
O orgulho foi o pecado que transformou Satanás, um anjo abençoado, em
um demônio amaldiçoado. O diabo conhece melhor do que ninguém o
condenável poder desse sentimento. Existe alguma dúvida, então, que ele o use
frequentemente para contaminar os santos? Seu propósito se torna ainda mais
fácil porque o coração do homem mostra uma tendência natural por ele.4
Quão espantosamente diferente é o Reino de Deus, o qual é governado pelo
Cordeiro inocente que Se permitiu ser sacrificado em favor dos outros! Ele é
manso e humilde de coração (Mt 11.29). A mentalidade que guia aqueles que
fervorosamente O seguem é a despretensão. Indivíduos assim preferem as
necessidades e desejos de outros sobre os seus próprios.
Leva um certo tempo até que um novo convertido ao Senhor se acostume a
esse pensamento altruísta. Ao tentar viver pelos princípios do Reino dos céus,
logo percebe que sua velha e egoísta forma de pensar ainda está muito viva
dentro de si. De fato, ele ainda tem uma natureza carnal que é preenchida pelo
orgulho; sendo assim, encontra-se dividido entre a mentalidade de autopromoção
desse mundo e os valores de auto-sacrifício do Reino celestial.
Certa vez, um amigo meu, lamentando sobre sua falta de habilidade para
vencer essa serpente venenosa, comparou sua luta com o lançamento de um
explosivo na lateral de uma alta montanha. Seu esforço pode produzir um
barulho temporário, mas, uma vez que a fumaça seja dissipada, o grande monte
permanece no lugar tão formidável como sempre. Assim como meu
companheiro, Charles Spurgeon compartilhava a mesma desesperança sobre essa
luta quando escreveu:
Orgulho é tão natural para homens caídos, que brota no coração como erva
daninha em um jardim regado ou mato na beira de um riacho. E um pecado que
invade e cobre todas as coisas, como a poeira das estradas ou farinha no moinho.
Cada toque seu é malvado. Você pode caçar essa raposa e pensar que a destruiu!
Sua maior exultação é a soberba. Pessoa alguma tem mais orgulho do que
aqueles que imaginam que não o tem. O orgulho é um pecado com milhares de
vidas; parece impossível matá-lo.5
Se esse sentimento é tão invasivo e indomável no coração humano, muitos
podem perguntar: "Para que lutar?". Certamente, Deus entende que essa é uma
batalha que não pode ser vencida. Para que se envolver em um briga na qual já se
sabe, de antemão, que vai perder? No entanto, apesar dessa avaliação pessimista,
devemos lutar contra o orgulho! A razão desse combate tão urgente é a própria
natureza demoníaca. Em cada maneira que ela toma conta do caráter de uma
pessoa, aumenta sua semelhança com Satanás, o anjo caído, aquele que provoca
os cristãos a se promoverem, exaltarem-se, envaidecerem-se e protegerem-se às
custas dos outros. Boa parte das ações diabólicas da soberba é tida como normal -
como se isso aliviasse a responsabilidade dos cristãos em combater sua influência
maligna na vida de cada um deles.
Embora seja verdade que sempre existirá algum resquício de orgulho, a
alternativa para permitir-se permanecer em uma posição superior, com uma
atitude mental que desafie Deus, é inimaginável para qualquer cristão sincero.
Embora uma pessoa não possa erradicar totalmente todos os vestígios desse
sentimento dentro de si, com certeza, ela pode avançar, admitindo e
arrependendo-se toda vez que ele se revelar.

PROBLEMA DE TODOS

Pessoas diferentes são assoladas por pecados distintos. Um homem pode


sentir-se destruído pelo desejo sexual, enquanto outro não sente uma forte
tentação nessa área. Uma pessoa tem uma inclinação natural para a fofoca; outra,
um temperamento explosivo. Cada ser humano está propenso a certos pecados,
enquanto outros vícios não exercem atração alguma em sua vida. A variedade é,
aparentemente, sem fim. Porém, todos lutam contra o orgulho porque ele é uma
parte inegável da natureza caída.
O orgulho é tão sutil, que muitos, na realidade, pensam que têm pouco ou
nada desse sentimento dentro de si. A verdade é que ele possui a habilidade de
disfarçar sua presença no coração do homem. De fato, geralmente, é certo que,
quanto mais a pessoa o tem dentro de si, menos ela sabe disso. Como Spurgeon
disse, "ninguém tem mais orgulho do que aqueles que imaginam que não têm
nenhum".
Assim como há diversas formas e incontáveis variações de pecado, o
mesmo acontece com a altivez. Durante a leitura desta primeira parte, aparecerão
muitos tipos desse sentimento, mas, com o intuito de ter um panorama geral,
observaremos o caso de uma família fictícia.
Bill Johnson é extremamente satisfeito por ter construído, do nada, um
ótimo empreendimento sem a ajuda de pessoa alguma. Sua esposa, Nancy,
alegra-se muito pelos quatro filhos e fala sobre eles para quem quiser ouvir. A
adolescente Gwen, de 17 anos, fica o tempo todo penteando seu cabelo loiro e
comprido em frente ao espelho. Logo depois dela, com 16 anos, vem Josh, que
joga na defesa no time de futebol e é conhecido por seus lances agressivos.
Ricky, 13 anos, é o comediante da classe e adora ser o centro das atenções.
Suzy, extremamente tímida mesmo para uma garota de 12 anos, já construiu
barreiras em torno de si mesma onde pessoa alguma consegue penetrar. Essa é a
descrição de uma típica família americana.
Então, qual é o grande crime em apreciar a admiração dos outros ou ser um
pouco protetor? O orgulho, como qualquer outro pecado, nunca está satisfeito, e
apenas uma fração dele já é muito. A vaidade de Gwen pode parecer uma
inofensiva característica adolescente, no entanto, se deixada de lado, irá
transformar-se em um monstro horrível de arrogância que se manifestará na vida
dela de várias maneiras. Caso Suzy não aprenda a se tornar vulnerável aos outros,
ela irá fechar-se cada vez mais em seu pequeno mundo, onde não haverá lugar
para quem quer que seja além dela mesma.
Nessa família existe um fator comum entre o tipo de orgulho predominante
em cada membro: a promoção e a proteção do poderoso ego. Se, um dia, eles se
tornassem crentes, iriam descobrir que o ego é sua maior dificuldade para se
tornarem como Cristo e que o principal responsável é o orgulho.
As ações, as palavras e os pensamentos gerados pelo orgulho não são
crimes sem vítimas. Quando uma pessoa é orgulhosa, automaticamente, ela se
coloca acima às custas de outras.
Por exemplo, Bill não é consciente de quanto seu desdém por seus
empregados os tem machucado tantas vezes. Secretamente, ele se vangloria de
ser temido pelos outros.
Nancy só quer falar sobre seus filhos, e sua notável falta de interesse acerca
de outras crianças, geralmente, tem ofendido suas amigas e colegas de trabalho.
Gwen quer ser adorada por todos os rapazes e tem pouca preocupação sobre
outras garotas que desejam receber atenção. Na verdade, já aconteceu de algumas
moças menos bonitas ficarem sem graça quando ela se gaba da atenção que
recebe na frente delas.
A determinação de Josh para ganhar, a qualquer custo, tem-no tornado um
competidor violento, mesmo se isso significar machucar seriamente um outro
jogador. O semblante de dor extrema de seu adversário é rapidamente esquecido
enquanto ele volta para o campo.
Ricky não está preocupado com o fato de que suas diárias performances
humorísticas têm-se transformado em uma fonte de constante tristeza para sua
professora, a qual tem estado ocupada demais tentando controlar um agitado
grupo de adolescentes.
Mesmo a envergonhada Suzy, constantemente, tem machucado outras
pessoas com a sua falta de ação aos seus gestos de afeição. Sua silenciosa
determinação de se proteger de ser magoada, não importa como, tem mais
importância do que seus sentimentos.

DEUS RESISTE AOS ORGULHOSOS

Antes de irmos mais adiante, é hora de encarar a realidade espiritual de que


Deus Se mantém veementemente contra toda forma de orgulho, sendo um santo
ou um pecador.**
As Sagradas Escrituras mostram-nos que Pedro admoestou os cristãos da
primeira igreja cristã:
Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos
sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste
aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo
da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte, lançando
sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede
sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor,
bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti
firmes na fé. 1 Pedro 5.5-9ª

Há muitas verdades que podem ser aprendidas por meio da exortação desse
sábio e velho apóstolo. Para começar, essas palavras foram direcionadas para
seus irmãos cristãos. Sim, o Altíssimo resiste ao orgulho mesmo entre Seus
filhos! A punição que Davi recebeu quando realizou o censo do povo é um bom
exemplo disso (2 Sm 24.13). Qualquer atitude orgulhosa, motivo ou intenção nos
coloca contra o Onipotente. Em outras palavras, quanto mais a pessoa tiver esse
sentimento em seu coração, mais ela experimentará a resistência de Deus.
Vamos encarar os fatos: nosso Criador insiste em ser o Mestre de Seu povo.
Quando alguém aceita Cristo, ele O recebe não apenas como seu Salvador, mas
também como Senhor.*** Quando esse novo crente, verdadeiramente, rende sua
vida e se entrega à vontade do Todo-Poderoso, a opressão se torna luz, e ele se

**
Sua oposição ao orgulho de um cristão é muito diferente da oposição aos que não são salvos. Aqueles que não
conhecem Deus não têm nada que fique entre eles e o julgamento.
***
A expressão Senhor é usada 7.750 vezes nas Escrituras, enquanto o vocábulo Salvador é empregado apenas 37
vezes. Isso mostra o peso extremo que a Palavra de Deus coloca sobre o senhorio de Cristo.
enche de alegria e paz. Contudo, seu caminho se torna mais difícil quando o
homem insiste em controlar o próprio destino (Pv 13.15). Quando ele determina
que vai controlar a própria vida, encontra-se em discordância com todo o Reino
dos céus. Certa vez, alguém disse: "Pense em ter tudo de Deus, Seus propósitos,
Suas leis, Sua providência, sim, e Seu amor, voltados contra nós".6
O fato de sabermos que Ele resiste firmemente ao orgulhoso mostra quão
prejudicial é o pecado do orgulho.
Pedro também mencionou o cuidado de Deus pelo Seu povo. É importante
lembrar que Ele quer purificar-nos de tudo aquilo que nos machuca ou impede
Seu relacionamento conosco. Por exemplo, muitos cristãos não entendem que
suas orações continuam sem respostas, porque eles se aproximam do trono do Pai
com atitude arrogante, presunçosa e insistente. Em seu orgulho insano, tentam
dar ordens para o Poderoso como se Ele fosse seu ajudante! O Criador Se volta
contra esse tipo de atitude.
Um ministro do Evangelho explica a oposição de Deus ao Seu próprio povo
quando este é presunçoso:
Está fora do cuidado amoroso para conosco; é porque orgulho significa
rebelião, e rebelião é a essência do pecado; e pecado significa miséria, ruína e
morte.7
É interessante notar também como a linha de raciocínio de Pedro o levou do
tema do orgulho diretamente para a guerra espiritual. Houve inúmeras ocasiões
em que Satanás destruiu crentes por meio do próprio orgulho deles; muitas estão
registradas nas Escrituras para orientar-nos, como, por exemplo, a transgressão
de Davi: Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a
Israel (1 Cr 21.1). O demônio é mestre em persuadir uma pessoa a realizar a
vontade diabólica, apenas apelando para o orgulho dele.
Por isso, o apóstolo Pedro avisou o povo para ser vigilante contra os
ataques malignos. O adversário é a besta maldosa que anda sobre a terra,
procurando almas para se tornarem suas presas.
Não há dúvida de que o orgulho é uma doença horrível da alma que traz
somente miséria e destruição. Todo cristão deveria sentir-se na obrigação de se
livrar do seu veneno maligno. Vamos considerar as seguintes palavras motivantes
do The pulpit commentary (O comentário do púlpito):
O que temos nós para nos orgulharmos? Possui o pecador alguma razão
para se envaidecer? Ele está caminhando em derredor para levar à destruição.
Não é um caminho, nem um projeto, certamente, para se vangloriar! Tem o
santo alguma razão para demonstrar soberba? Claro que não. E pela graça de
Deus que ele é o que é. Não vem das obras, para que ninguém se glorie [...] Fora,
então, com esse sentimento, a vaidade das riquezas, do poder, da sabedoria e da
beleza do rosto de argila! Fora com a altivez de todo coração cristão e a soberba
da casa de Deus e de todos os departamentos de trabalho cristão! Fora com o
orgulho contra nossos irmãos! Vamos seguir os passos dAquele que foi manso e
humilde de coração.8
Senhor, eu quero essa paixão contra o orgulho em meu coração. Dá-me um
desejo ardente de me livrar das poderosas amarras da soberba. Eu quero o
olhar manso de
Jesus reinando em minha vida.
Que assim seja, querido Senhor.
Amém.
O orgulho leva a todos os outros vícios: é a completa forma contra Deus [...] a
soberba de cada indivíduo compete com a de todas as pessoas.1
CS. Lewis

Pense no poder que transformou um inocente garoto de bochechas rosadas em


um Nero ou um Himmler.2
A. W. Tozer

DOIS
A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO
ORGULHO
A cultura americana está cheia do orgulho da vida: a beleza feminina é
glorificada de costa a costa; a capacidade física nos esportes está recebendo
reconhecimentos sem precedentes; a engenhosidade humana na ciência e na
tecnologia é exaltada; a ânsia corporativa é estimulada com sólidos
investimentos; os políticos são homenageados não pela sua integridade, mas por
seu pragmatismo. Não resta dúvidas de que estamos sob a maldição darwiniana
da sobrevivência do mais forte.
Poucos dias após o ataque terrorista ao "World Trade Center, o governador
da Flórida, Jeb Bush, insuflado pelo orgulho nacional, expressou o sentimento de
muitos americanos quando disse: "Eles tentaram humilhar-nos, mas nós somos
uma nação orgulhosa e nunca iremos rebaixar-nos somos um país forte!". *
A unidade nacional foi bombardeada com declarações como: "Temos
orgulho de sermos americanos!".
Quase tudo em nossa cultura leva e incita ao orgulho do homem: o
entretenimento, a propaganda, a mídia, o meio acadêmico, os negócios e a vida
doméstica.
Agora, mais do que nunca, tudo é voltado para a imagem e as conquistas
pessoais.
Isso, por sua vez, criou uma forte pressão para derrotar o semelhante - ser
mais inteligente, forte, capaz, atraente e saudável.
*
Escrito de memória por um amigo. Isso não quer dizer que existe algo errado em expressar patriotismo sobre o
nosso país.
PRIMEIRAS LIÇÕES

Em um ambiente como esse, que exalta e glorifica a conquista, a força e a


beleza, não demora muito a que as crianças aprendam que é prazeroso ser
reconhecido e desagradável ser criticado ou não ser notado. Elas são ensinadas a
se sentirem orgulhosas de quem são e das habilidades que possuem. Essa
mentalidade é reforçada a cada estágio do desenvolvimento e durante a vida
adulta.
Vejamos na escola, por exemplo.
Como forma de motivação, a primeira coisa que os professores despertam
em uma criança é o seu orgulho, transmitindo a mensagem de que, se ela quiser
ser recompensada pelo sistema, terá de lutar para ser a melhor, precisará
derrotar os outros e mostrar um espírito competitivo. Sob a perspectiva bíblica,
cada um desses termos é uma manifestação demoníaca do orgulho.
Cedo na vida, a ambição e a vanglória se instalam nas crianças e são
consideradas motivos aceitáveis para dar o melhor de si.** Os professores tentam
despertar e estimular o orgulho que já está dentro de cada criança. Em vez de ser
instruída acerca dos princípios divinos que promoverão a importância dos outros,
ela aprende que seu valor vem de superar o dos demais. A competição se torna a
maneira de induzir os jovens a fazerem o melhor que podem. Eles são
encorajados a se colocarem na posição de receber os aplausos dos homens, não
importa a que custo.

Nosso país é uma nação de vencedores. Perdedores são renegados como


cidadãos de segunda classe.*** Consequentemente, o valor de uma pessoa é
determinado pelas suas conquistas, em vez de ser por seu caráter moral.
Se um jovem demonstra interesse por uma profissão, ele é estimulado a se
inspirar em pessoas bem-sucedidas nesse campo: estudar sua vida, imitar suas
práticas e seguir seus passos. As recompensas do sucesso - prazer, posses e poder
estão sempre em primeiro lugar na sua mente. Não deveria ser surpresa que o
mundo tenha promovido esses objetos como presentes vitais. João disse: Porque
tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos
e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo (1 Jo 2.16). Este pensamento
mundial o força e o compele a trabalhar mais. Sobre tudo isso, essa determinação
em ser o melhor em sua área deve vir acompanhada de uma atitude mental
positiva.
Que coisa maravilhosa esperar por aqueles que se recusam a aceitar o
segundo lugar!

**
É dito a eles que não se satisfaçam com menos do que a mais alta distinção.
***
Não preciso dizer que os pais ou os professores devem fazer o máximo para inspirar as crianças a darem o melhor
de si. Crianças precisam ser encorajadas a valorizar a qualidade do seu trabalho. É esperado que eles estimulem os
jovens a se envolverem em um campo de interesse. Contudo, a prática atual de usar o orgulho como uma ferramenta
motivacional não é apenas desnecessária, como também perigosa.Alguns do campo acadêmico tentam corrigir tal
pensamento por meio de métodos humanitários, como, por exemplo, recusando-se a reprovar uma criança que não
tenha atingido os requerimentos mínimos necessários.
Inacreditavelmente, essa mesma mentalidade é vista também entre aqueles
que estão estudando para serem ministros. As características divinas, tais como
amor, humildade e bondade, tendem a ser impacientemente deixadas de lado em
favor dos sinais aparentes de sucesso. É comum os mais talentosos pregadores
serem colocados em pedestais. Consequentemente, nossos jovens almejam imitar
aqueles que lideram igrejas maiores, com os programas de rádio mais populares,
os que vendem mais livros e aqueles que têm maior posição de prestígio. Os
alunos da escola bíblica, rapidamente, aprendem que o sistema evangélico
americano é recompensador. Esse pensamento geral permeia muitas igrejas nos
Estados Unidos.
Após anos desta doutrina, a maioria dos jovens é governada pela ambição,
inveja e glória pessoal. William Law, escritor do século 16, levanta algumas
questões problemáticas:
Você ensina uma criança a não permitir ser passada para trás e a almejar
distinção e aplausos; mas existe alguma idéia de que ela continuará a agir da
mesma maneira a vida toda? Agora, se um jovem deseja, até o momento, ser
um cristão que governa seu coração pelas doutrinas da humildade, sinto-me
inclinado a saber em que tempo ele o fará: ou se ele, de fato, será assim
porque nós o treinamos para o contrário? Quão seca e pobre deve soar a
doutrina da humildade para um rapaz estimulado por toda essa indústria da
ambição, inveja e imitação e pelo desejo de glória e distinção! E se não é
para ele agir por esses princípios quando for um homem, porque nós o
ensinamos a ter essa atitude assim na sua juventude? [...]
Deixemos aqueles que pensam que as crianças devem ser exploradas, se elas
não foram assim ensinadas, considerar o seguinte: eles podem pensar que, se
algumas foram educadas pelo Altíssimo ou por Seus santos apóstolos, a
mente delas foi relegada à mesmice e à inutilidade? Ou eles podem acreditar
que elas não foram instruídas nos princípios profundos da estrita e
verdadeira humildade? Talvez digam que nosso abençoado Senhor, que foi
o mais manso e humilde homem que esteve sobre a terra, foi impedido por
Sua humildade de ser o maior Exemplo de valor e ações gloriosas jamais
feitas pelo homem? Podem dizer que Seus apóstolos, os quais viveram no
mesmo espírito humilde de seu Mestre, deixaram de ser úteis e instrumentos
de bênção por todo o mundo? Apenas algumas reflexões como essas são
suficientes para expor todos os pobres argumentos de uma educação de
orgulho e ambição.3

O HOMEM DO POVO

Em nossa sociedade, se você quiser ser respeitado e admirado, terá de ser o


melhor. O problema é que nem todos podem ter esse adjetivo. Para cada pessoa
que é reconhecida por alguma conquista, há geralmente centenas de outras cujos
esforços passam despercebidos.
Assim como pais que premiam a boa ação e punem o mau comportamento
de seus filhos, o orgulho também é motivado por fatores positivos e negativos.
Existe um trato velado que acompanha a promessa de recompensa para o
conquistador: se ele não for bem-sucedido, não será retribuído; ele não receberá
os prêmios, não colherá os benefícios do sucesso, não será admirado pelos
outros, nem será elevado como um exemplo brilhante a ser seguido.
Muitas crianças aprendem a aceitar o fato de que elas não estão destinadas a
receber os aplausos das pessoas. Elas podem secretamente invejar aquelas que se
destacam, mas, por outro lado, ficam contentes em conseguir qualquer coisa que
for possível.
Isso não seria tão ruim se fosse a única coisa que o homem do povo tivesse
de lidar, mas, infelizmente, o problema é muito maior do que isso. Os seres
humanos nascem com uma profunda necessidade de serem amados e respeitados.
Esse desejo é tão profundo, que a falta de reconhecimento pelos outros
- principalmente por membros da família -pode, na verdade, ser
emocionalmente prejudicial para uma criança pequena, a qual, por depender da
aprovação dos outros ou devido à sua necessidade de afirmação, geralmente cria
um sentimento de insegurança penoso de superar. Ao invés de ser autoconfiante,
ela tende a ser difícil de lidar e é dominada pelo sentimento do medo.
Não só a falta de afirmação positiva afeta uma criança, como também
insultos ou a ridicularização por parte de outros podem intensificar sentimentos
de insegurança. Ela aprende cedo na vida a temer a dor emocional e evitá-la a
qualquer custo.
O meio natural de lidar com o medo de ser alvo do ridículo é tornar-se
alguém para quem todos olham. Essa proeminência lhe garante um certo grau de
liberdade contra os abusos que os outros sofrem. Além disso, sua "alta" posição
na hierarquia de seu grupo de semelhantes lhe dá mais liberdade para abusar dos
outros.
O jovem o qual sabe que não pode competir naquele nível deve trabalhar
com isso de forma diferente. Quando uma criança percebe que não receberá todo
o amor e a aceitação de que precisa, ela começa a desenvolver um determinado
tipo de sentimento chamado complexo de inferioridade, o qual é reforçado cada
vez que ela experimenta a rejeição ou é emocionalmente magoada. Quanto mais
ela se sentir desvalorizada por não ser aceita pelas pessoas, mais tentará
compensar essa falta de segurança, exaltando a si mesma e protegendo-se dos
rebaixamentos alheios.**** A criança geralmente procura alguma coisa - seja ela
qual for - que possa distingui-la dos demais.
Consequentemente ao desenvolvimento de uma criança, muitas coisas
começam a acontecer. Algumas formas de orgulho começam a se sobressair
assim como sua individualidade: suas forças, habilidades, aparências etc. Se ela é
sensível por natureza, irá mostrar um orgulho autoprotetor para prevenir qualquer
dor ou rejeição ocasionada pelos outros. Se é naturalmente confiante, por outro
lado, tenderá a ser arrogante e orgulhosa. O nível de sua insegurança, seu desejo
negligenciado de ser tido em alta posição, geralmente, determina a força de seu
orgulho. Como pecado de qualquer natureza, esse sentimento cria um espiral
descendente de degradação da alma. Quanto mais se der liberdade para ele, de
mais espaço ele vai precisar. Em outras palavras, ele fortifica a si mesmo.

****
Promotores do movimento da auto-estima, certamente, vêem a verdade disso, mas sua solução para
autopromoção apenas piora o problema.
Para lidar com o fato de ser magoada, a criança, que está fazendo apenas
aquilo que lhe parece natural, gradualmente, desenvolve mecanismos de defesa,
os quais, infelizmente, são os embriões do orgulho que se originam na infância,
desenvolvem-se na adolescência e aperfeiçoam-se na vida adulta.
Nesse meio tempo, o jovem não tem noção alguma de que é o alvo principal
de espíritos demoníacos.

Esses demônios são muito familiarizados com as árvores genealógicas,


com todos os tipos de personalidades, pecados secretos, áreas de egoísmos e
assim por diante. Na verdade, esses agentes da escuridão vêm alimentando o
pecado e o orgulho nos membros da família antes mesmo de a criança nascer.
Quando ela cresce e sofre as inevitáveis dores da infância, sem dúvida, os
demônios estão presentes para mostrar como responder a esses sofrimentos. O
orgulho é a resposta demoníaca para a dor emocional. Em um mundo caído,
escravo do pecado, onde. a soberba do homem é exaltada, essas atitudes
contrariamente divinas são cuidadosamente cultivadas enquanto o jovem segue
em direção à maturidade.

UM PADRÃO VITALÍCIO

A vida é uma longa jornada, feita de milhões de decisões diárias. O rumo de


uma pessoa pode ser alterado a qualquer momento, no entanto, quanto mais
longe ela for a uma direção específica, mais inclinada irá sentir-se em continuar
nesse caminho. Assim como nos vícios ou em atividades sexuais, a paixão pelo
orgulho pode dominar alguém de tal maneira, que pode indicar o curso de sua
vida. Isso, na verdade, coloca-o em uma rotina que se torna crescentemente mais
difícil de ser quebrada.
Esses considerados insanos pela sociedade, tipicamente, têm uma longa
história de decisões tomadas que foram fortemente influenciadas pelo orgulho.
Se a vida de cada um deles pudesse, de alguma maneira, ser examinada desde o
princípio, alguém provavelmente encontraria pontos cruciais ao longo do
caminho onde eles fizeram escolhas que, posteriormente, solidificaram sua
insanidade.
O filme O coral de Natal habilidosamente mostrou, por meio do
patrocinador do Natal passado, como o jovem Ebenezer Scrooge tomou sua
decisão fundamentada na ânsia pelo dinheiro, até que se tornasse um amargo e
miserável avarento.
Toda pessoa hoje - seja jovem ou idosa - está seguindo algum curso de vida
e é o produto de um viver de decisões diárias. As pessoas estão em constante
estado de transição; sempre alterando em pequenos graus seu trajeto para alguma
direção. Consequentemente, seu orgulho está sempre crescendo ou diminuindo.
A. W. Tozer declara o seguinte:
Homens e mulheres são moldados por suas afinidades, modelados por suas
afeições e poderosamente transformados pela arte de seu amor. No mundo não-
regenerado de Adão, isso produz tragédias diárias de proporções cósmicas. Pense
no poder que transformou um inocente garoto de bochechas rosadas em um Nero
ou um Himmler. E Jezabel sempre foi a mulher amaldiçoada, cuja cabeça e
cujas mãos os cães, mesmo que ela tenha merecido, recusaram-se a comer? Não,
algum dia, ela teve seus sonhos puros de menina e corou ao pensar no amor
feminino; mas logo ela se interessou por coisas más, admirou-as e, finalmente,
começou a amá-las. Então, a lei da afinidade moral se tornou poderosa, e Jezabel,
como barro nas mãos do oleiro, transformou-se na coisa deformada e horrorosa
que os eunucos atiraram pela janela.4

Senhor, agora eu entendo mais claramente porque o orgulho se desenvolveu


dentro de mim. Ajuda-me a escapar do
sistema mundano de recompensar esse sentimento soberbo.
Eu não aceito a horrível solução demoníaca para a dor
emocional. Eu quero sofrer como um valoroso soldado de
Cristo; caso necessário, parecer-me com Tua imagem e ser
transformado da imagem do mal. Que assim seja, Senhor.
Amém.
Existe um vício do qual homem algum está livre; o que todo o mundo odeia
quando vê em outra pessoa; e do que poucos, exceto os cristãos, imaginam ser
culpados [...] O vício do qual estou falando é o orgulho ou o autoconceito.'
CS. Lewis

O orgulho é um vício que invade tão rapidamente o coração do homem, que, se


tivéssemos de nos despir de todas as nossas culpas, uma a uma, teríamos
dificuldade, sem dúvida, para lidar com ele.2
Bispo Hooker

TRÊS
AS DIFERENTES FORMAS DO ORGULHO
Quando Adão se rebelou no jardim do Éden, seu coração se corrompeu
instantaneamente. Como uma forma agressiva de câncer, uma rede elaborada de
orgulho se formou dentro de seu coração e espalhou-se dentro de si. Agora,
milhares de anos depois, após incontáveis gerações, tal sentimento possui um
sistema de radar altamente desenvolvido que mantém constante observação
sobre qualquer coisa que atravesse seu caminho. Consequentemente, esse
mecanismo aproveita toda oportunidade de se mostrar, promover e proteger seu
hospedeiro. Assim, a vaidade mantém sua posição dentro do coração humano
com muito sucesso.
Na essência, o orgulho é como um fiel cão de guarda, sempre protegendo
seu dono: o poderoso ego Quanto mais cheio de si mesmo alguém estiver, mais
presunçoso será. O cristão que não tiver permitido que o Senhor lide severamente
com sua personalidade cairá nas garras da soberba. Todos os aspectos do viver -
trabalho, diversão, relacionamentos, e vida espiritual - serão fortemente tentados
por esse sentimento, o qual contamina os pensamentos, as palavras e as atitudes.
Assim, tudo deve adquirir uma posição de subserviência ao seu desejo tirânico.
Cristãos não-envolvidos podem dizer que Jesus Cristo é o Senhor da vida deles,
mas a verdade é que apenas o orgulho ocupa essa posição. Esse sentimento rege
o coração desses cristãos, consegue qualquer coisa que desejar e permite apenas
as coisas que servem ao seu interesse. A submissão a Deus é deixada do lado de
fora das barreiras erguidas pelo amor-próprio. O crente só irá submeter-se e
render-se ao Onipotente tanto quanto a imodéstia permitir.
É verdade. O orgulho é uma característica comum do coração humano, e
todo ser humano, inclusive o crente, possui uma única e vibrante personalidade.
Assim, pessoas se exaltam e se guardam em muitas maneiras diferentes. Por
exemplo, cada um dos seis membros da família Johnson é elevado de uma
maneira distinta como indivíduo. Para fazer um diagnóstico melhor do egoísmo
que está dentro de cada um de nós, farei uma parada nas categorias básicas
(geralmente parecidas).*

UM ESPÍRITO SOBERBO

Quando se pensa na palavra soberba, a imagem de um endinheirado esnobe


rapidamente vem à mente. Contudo, a Bíblia usa o termo para descrever qualquer
atitude de ser melhor que os outros. Pessoa alguma precisa ser rica para ser
soberba. Considerar-se mais esperto, bonito, forte ou capaz que os outros é um
aspecto desse tipo de arrogância. Aquele que se exalta experimenta uma sensação
de excitação.
Bill Johnson é o exemplo perfeito de altivez. Ele se considera superior a
praticamente todos à sua volta -certamente, muito longe dos zés-ninguém que
vivem contando o dinheiro do mês. Maior ainda é o seu desrespeito pelos pobres
"que deviam procurar algum trabalho decente e ser alguém na vida!". Não
interessa o quanto ele tente disfarçar, seu desdém pelos outros fica estampado em
seu rosto. O salmista chamou isso de a soberba do perverso (Sl 10.4) ou de
coração soberbo (Sl 101.5). Salomão simplesmente o classifica como olhar altivo
(Pv 6.17).
O arrogante encontra algo em si mesmo que ele considera digno de louvor e
usa essa qualidade para se comparar favoravelmente com os outros. Por acreditar
no melhor sobre si próprio, Bill não percebe suas características mais
desprezíveis. Por exemplo, ele e um chefe muito exigente e utiliza o sarcasmo
para manipular os outros para que façam aquilo que ele quer. A verdade é que
não há quem goste de trabalhar para ele. No maior desejo de pensar em seu
melhor, essa crítica negativa é convenientemente ignorada. Em vez disso, ele se
parabeniza por sua grande ética profissional. Sim, é verdade; ele é mais
ambicioso que o Jim, o zelador que mora no final da rua. Entretanto, todos os que
conhecem Jim adoram estar perto dele, o que Bill nem percebe. Aqueles que são
arrogantes se exaltam, comparando suas forças com as fraquezas dos outros.
Bill é tão presunçoso em sua auto-avaliação, que fica indiferente à opinião
que os outros têm dele. Sua arrogância insana não deixa espaço para dúvidas. Ele
é extremamente condescendente e dá menos importância àquilo que os
indivíduos possam pensar dele. Bill despreza sua aprovação assim como sua
desaprovação. Por causa de seu excessivo amor-próprio, ele não precisa do apoio
de quem quer que seja.

VAIDADE

Em contraste com a autoconfiança exagerada de Bill, está aquele que,


verdadeiramente, vive pela admiração dos outros. Cheio de vaidade, esse
indivíduo precisa da aprovação dos outros, deseja ser reconhecido e procura os
aplausos.
A vaidade reside na raiz das petições lacrimosas tão comuns hoje em dia. A
Sagrada Escritura denuncia a oração de pessoas vaidosas que se recusam a
condenar o pecado, a astúcia e a carnalidade. Por intermédio de Jeremias, por
exemplo, o Senhor disse que elas curam a ferida da filha do meu povo
levianamente, dizendo: Paz, Paz; quando não há paz (Jr 6.14). Judas, no
versículo 16 de sua epístola, falou acerca daqueles que são aduladores de
pessoas, e Paulo fez a seguinte declaração: Porque virá tempo em que não
sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si
doutores conforme as suas próprias concupiscências (2 Tm 4.3). Esses falsos
mestres querem ser adorados mais do que se preocupam com o bem-estar
daqueles que os ouvem.
Porém, a vaidade não está limitada ao ministério. Qualquer pessoa que
deseja receber a admiração dos outros está sujeita a ela. De fato, ela é um dos
grandes problemas que assolam as mulheres hoje em dia, cuja beleza determina o
valor de cada uma delas em nossa cultura. A pressão para ser adulada pode ser
muito forte, especialmente para aquelas que precisam de atenção. Não é
coincidência que a mesa onde as mulheres passam sua maquiagem é chamada de
vaidade.**
Atualmente, isso é especialmente trágico no Corpo de Cristo, quando
algumas garotas, querendo atrair os outros, vestem-se sem modéstia mesmo
quando estão dentro da igreja. Contudo, esse desejo de despertar a atenção dos
rapazes, muitas vezes, leva-as ao caminho da promiscuidade. Visto que a igreja
esta abraçando os padrões do mundo, poucos parecem preocupados com isso
hoje em dia.
A vaidade faz os indivíduos viverem aprisionados pelo desejo de
aprovação. Manter a excitação da aceitação exige que a pessoa esteja
constantemente falando, parecendo e agindo da forma que os outros querem que
ela faça.
A satisfação pessoal depende simplesmente do seu grau de aprovação:
elogios trazem felicidade e realização completa, enquanto que um comentário
desaprovador é extremamente devastador. Talvez, esse tipo de atitude tenha
levado Deus (por intermédio de Isaías) a fazer-nos a seguinte admoestação: E a
altivez do homem será humilhada, e a altivez dos varões se abaterá, e só o
SENHOR será exaltado naquele dia. [...] Afastai-vos, pois, do homem cujo
fôlego está no seu nariz; porque em que se deve ele estimar? (Is 2.17-22).

AUTOPROTEÇÃO

Um indivíduo com o orgulho de proteger a si mesmo tem grandes


problemas sendo vulnerável aos outros. Ele é extremamente defensivo e fácil de
se ofender. Essa pessoa se fortificou com um elaborado sistema de barreiras e
mecanismos de proteção na tentativa de se manter longe de qualquer risco. Para
quem apresenta esse tipo de orgulho, por ser geralmente sensível por natureza,
quase sempre a menor ofensa irá levá-lo a se proteger de futuras mágoas. Assim,
os muros de sua fortaleza pessoal ficam mais resistentes e se tornam
impenetráveis para qualquer outro intruso. Enquanto algumas categorias da
soberba são por si só ofensivas - assim como a vaidade e autopromoção -, essa
forma de orgulho é defensiva por natureza. Pessoas com esse tipo de sentimento
vêem os outros como uma ameaça que irá humilhá-las, rebaixá-las ou
envergonhá-las. Dessa maneira, elas se guardam dos ataques a qualquer custo.
Tornando-se distantes, algumas se protegem da dor que outros possam causar.
Elas são cuidadosas para não deixarem transparecer seus sentimentos mais
profundos e sentem-se um pouco inseguras e medrosas quando as pessoas se
aproximam delas. Outras se utilizam do sarcasmo para manter seus semelhantes à
distância.
A pequena Suzy, que tem apenas 12 anos de idade, já está permitindo que
esse tipo de presunção se solidifique dentro dela. Não é errado ser cuidadosa,
sensível e introvertida. Essas características simplesmente fazem parte de sua
máscara como pessoa. O problema aparece quando ela, diferentemente de Jesus,
dá mais importância para os seus sentimentos do que para as outras pessoas em
sua vida. E fácil de simpatizar com alguém como essa menina, até que se esteja
do outro lado do sentimento horrível que emana dela quando se sente ameaçada.
O que é mais assustador para uma pessoa com o orgulho da autoproteção (e
para alguém vaidoso também) é sofrer alguma humilhação publicamente. O
pensamento de ser rebaixado na presença de outros é algo com o qual ela mal
pode lidar. Contudo, o bom Mestre, quando falava acerca da questão de se
preocupar sobre o que as outras pessoas pensam, disse: E digo-vos, amigos meus:
não temais os que matam o corpo e depois não têm mais o que fazer. Mas eu vos
mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder
para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei (Lc 12.4,5).

ORGULHO INTOCÁVEL

Uma pessoa intocável é alguém que não suporta ser corrigida. Ela se torna
notavelmente tensa todas as vezes que é admoestada sobre áreas de sua vida que
precisam de mudanças. O orgulhoso e tolo não aceitará reprovação. Salomão
sabiamente disse: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que
censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que
te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á (Pv 9.7,8).
É uma pena que algumas pessoas sejam tão orgulhosas ao serem
reprovadas, porque Deus costuma ser muito confrontador quando está lidando
com aqueles que Ele ama. O escritor de Hebreus revelou como o Altíssimo trata
Seu povo: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies
quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita
a qualquer que recebe por filho (Hb 12.5b,6). A confrontação do pecado por
quem é de Deus é um dos métodos mais efetivos que o Senhor usa para fazer a
mudança necessária na vida de um cristão. Infelizmente, as pessoas não levam a
sério o arrependimento do pecado, do egoísmo, das práticas mundanas ou das
atitudes não-cristãs, até que o Onipotente mande um "Natã" para olhá-las nos
olhos e dizer-lhes a verdade sobre si mesmas. O cristão que é muito altivo para
receber reprovação coloca-se em uma posição inviável para receber aquilo que o
Pai tem de melhor para a sua vida; assim, ele amadurece pouquíssimo. E como
Salomão disse: Mais profundamente entra a repreensão no prudente do que cem
açoites no tolo (Pv 17.10).
ORGULHO SABE-TUDO

Quem se torna altivo pelas coisas que sabe geralmente é alguém talentoso,
inteligente e dotado de dons. Ele costuma achar que pode fazer qualquer coisa e,
de muitas formas, pode! Ele não acredita no potencial dos outros por causa de
sua alta consideração sobre si mesmo (seu ego incorrigível), e pessoa alguma é
tão capaz ou inteligente como ele. Essa é uma das razões pelas quais ele não
gosta de se submeter à liderança dos outros; ele julga que poderia fazer um
trabalho melhor se estivesse à frente. Tal atitude arrogante o torna rebelde
perante seus superiores.
O espírito altivo dessa pessoa faz com que ela considere as próprias
opiniões muito mais importantes do que as dos demais. A verdade é que ela
adora sentir-se superior e tende a pensar que os outros têm pouco a lhe ensinar,
desprezando as idéias alheias. Tal atitude é censurada nas Escrituras, conforme
podemos observar na seguinte declaração de Salomão; Tens visto um homem que
é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há no tolo do que nele (Pv
26.12), Isaías também advertiu: Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e
prudentes diante de si mesmos! (Is 5.21). Mais tarde, Paulo acrescentou:
Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste
mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura
diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia (1
Co 3.18,19).

REBELIÃO

Estudo algum sobre orgulho estaria completo se não tratássemos da questão


da rebelião. Isso é especialmente importante nos Estados Unidos, porque os
americanos tendem a ser muito independentes e extremamente rebeldes! De
alguma forma, eles adquiriram uma propensão demoníaca de questionar
autoridade - a própria autoridade de Deus. As pessoas tendem a se submeter aos
líderes somente o mínimo necessário. Alguns, simplesmente, odeiam que alguém
diga o que eles têm de fazer.
Contudo, a submissão é uma parte importante da vida cristã. Os cristãos são
admoestados a se submeterem às leis dos homens (1 Pe 2.13,14; Rm 13.1-5), as
esposas são orientadas a se sujeitarem aos seu maridos (1 Pe 3.1-5), os
empregados são encorajados serem subservientes aos seus patrões (1 Pe 2.18).
Acima de tudo, os crentes são encorajados a se subordinarem às suas autoridades
espirituais: Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por
vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas (Hb 13.17a). Pedro disse:
Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos
uns aos outros e revesti-vos de humildade (1 Pe 5.5a).
Não é necessário dizer que a falta de submissão ao Todo-Poderoso é outra
faceta dessa forma de altivez. Como esse é um assunto importante, a rebelião
espiritual será abordada mais adiante.

ORGULHO ESPIRITUAL
Por último, a falsa moralidade se opõe àquilo que Jesus descreveu como
pobre de espírito. Alguém que tenha esse tipo de orgulho se imagina como um
gigante espiritual. Deus detesta a auto-aprovação e o orgulho espiritual. Jesus
censurou os fariseus por causa de sua falsa piedade, sua enganosa aparência de
santidade. Eles não eram menos pecadores que os que estavam à sua volta, mas
agiam como se fossem os mais sublimes exemplos de pureza. Contudo, o Mestre
pôde dizer o seguinte a respeito deles: Ai de vos, escribas e fariseus, hipócritas!
Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente
parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas
interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade (Mt 23.27,28).
Hoje em dia, muitos dos que estão na igreja não agem diferente. Sentam-se
orgulhosamente nos bancos das congregações, julgando todos à sua volta para
ver se eles se encaixam em seus padrões. Alguns são do tipo muito espirituais,
que estão sempre ouvindo uma palavra de Deus, embora sua caminhada cristã
seja caracterizada pela instabilidade, falta de compromisso ou mesmo
desobediência. Assim, eles são espiritualmente arrogantes, pois consideram ter
um nível de maturidade que, na verdade, não atingiram.
Uma outra forma muito comum do comportamento das pessoas com relação
ao Onipotente é quando elas imaginam que podem continuar sem se arrepender
dos pecados e não sofrer conseqüência alguma. Acerca dessas pessoas, as quais
se fundamentam na graça divina, Judas falou: Porque se introduziram alguns,
que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que
convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e
Senhor nosso, Jesus Cristo (Jd 1.4). Essa é mais uma forma de orgulho espiritual,
a qual é bastante perigosa.
Esse rápido exame sobre a soberba dá uma idéia de como ela se manifesta
dentro da natureza humana caída. Você pode ver como cada um desses tipos de
altivez limita o Senhor de alcançar o homem? Por exemplo, e possível para o
altivo, que se exalta acima dos que estão à sua volta, ter uma comunhão íntima
com o Todo-Poderoso? O Onipotente ouvirá as orações desse rebelde mimado?
Ele abraçará a causa daquele que se protege, mesmo que isso signifique ser rude
com os outros, em vez de se entregar nas mãos do Pai? (1 Pe 2.23). Não! Deus
resiste aos soberbos, e quanto maior o grau de presunção de uma pessoa, mais
ela estará oposta ao Pai.
A notícia maravilhosa sobre o Reino de Deus é que um pecador sempre
pode arrepender-se! Como é possível perceber o orgulho trabalhando em sua
vida, você pode também se forçar a não seguir tudo o que ele manda em seu
relacionamento com o Senhor e com os outros. Deus irá ajudá-lo a superar essa
área do orgulho, pelo menos em grande parte. Esse sentimento não desaparecerá
automaticamente, simplesmente, porque você descobriu que ele está lá, mas, pelo
menos, vê-lo como realmente é auxiliará você a lutar contra ele e arrepender-se
cada vez que ele mostrar sua horrorosa face.
Senhor, por favor, torna clara para mim toda forma de orgulho
que está dentro do meu coração. Expõe cada uma delas pelo que elas são!
Ajuda-me a ser mais consciente de como esse sentimento afeta meu
relacionamento contigo e com os outros. Liberta-me! Amém.
O orgulho aumenta todos os nossos outros pecados, porque não nos podemos
arrepender de nenhum deles sem, antes, deixarmos de ser orgulhosos.1
Bíblia da Vida Prática

Não existe mínimo para o orgulho, não há limite para a soberba, medida que
possa alcançar a vaidade, temperança para a desobediência nem vara ou rédea
que seja confiável para guiar na incerteza e no temperamento irritante de falta de
respeito e desdém.2
W. Dinwiddle

QUATRO

AS FACES DO ORGULHO

Inegavelmente, o orgulho tem sido uma das maiores causas da queda do


homem em todos os tempos. Enquanto há muitos versículos diretos sobre esse
assunto nas Sagradas Escrituras, há muito a aprender com personagens bíblicos
que se viram nas armadilhas desse sentimento e caíram por causa dele. A
transparência do Senhor sobre o colapso espiritual do Seu povo escolhido é um
testemunho brilhante de Sua humildade e submissão. Para o nosso bem, Ele
claramente nos mostra como Seu Espírito se opõe à soberba do homem. Em
seguida, estudaremos a vida de três personagens bíblicos e suas argumentações
com Aquele que é o mais Submisso de todos.

MIRIÃ: FAMILIARIDADE LEVA À DESOBEDIÊNCIA

A irmã mais velha de Moisés, Miriã, certamente foi uma das mulheres mais
proeminentes da história de Israel. Sua coragem e seu raciocínio rápido ainda
estavam atuando quando, ainda garotinha, ofereceu-se para procurar uma ama
para a filha do Faraó que tinha acabado de encontrar o bebê, Moisés, no carriçal,
à beira do rio. Logo, ela iria tornar-se uma leal ajudante de seu irmão mais novo
enquanto ele encarava muitos desafios com os israelitas durante o êxodo.
Corajosamente, Miriã permaneceu ao lado dele e nunca imaginou que poderia ser
usada pelo maligno para se opor ao homem enviado por Deus para guiar os
hebreus à Terra Prometida.
O capítulo 11 do livro de Números relata que Moisés, obedecendo às
instruções do Senhor, escolheu 70 anciãos para assistir o povo e julgá-lo. Essa foi
a delegação de autoridade que Jetro, seu sogro, anteriormente tinha-lhe orientado.
Moisés, cansado de suportar toda a carga do povo, sentiu-se aliviado por outros
com quem dividia a responsabilidade. Porém, Miriã, que claramente se enfureceu
ao pensar em perder o poder que havia conquistado como sua confidente,
começou a atacá-lo.
Podemos ver que falaram Miriã e Arão contra Moisés (Nm 12.1). É
evidente que era ela quem estava instigando tal atitude pelo fato de ser
mencionada primeiro e de ter sido a única punida por Deus. Porventura, falou o
SENHOR somente por Moisés?, ela questionou. Não falou também por nós?
Perguntas assim tão diretas revelam que a proximidade de Miriã com seu irmão
mais novo a cegou para a realidade de que a caminhada de Moisés com Deus era
muito mais profunda que a dela. O Senhor falava com ele face a face (Êx 33.11).
Embora ela ainda fosse uma profetisa e tenha permanecido ao lado do Senhor até
este momento, enquanto outros abertamente se rebelavam contra Ele, Miriã
cometeu o terrível erro de se focar na humanidade de seu irmão. Seu orgulho e
seu espírito faltoso a posicionaram contra a autoridade do Todo-Poderoso.
Jesus disse a Seus discípulos: E, assim, os inimigos do homem serão os
seus familiares (Mt 10.36). Não é de surpreender que este seja um problema
entre associações de homens de Deus. Por ser difícil de ver, no dia-a-dia, o que
acontece na vida pessoal com o Altíssimo, é mais fácil os colaboradores
concentrarem-se na liderança natural. A camada de mistério que cerca os líderes
cristãos é desfeita por aqueles que estão próximos a eles. Não há profeta sem
honra, a não ser na sua pátria e na sua casa (Mt 13.57b).
Parece ter havido duas razões para Miriã levantar-se contra Moisés. A
primeira era que, como irmã dele, ela tenha sido exaltada na frente de mais de 1
milhão de pessoas. Ter uma posição de honra tão invejada entre o povo afetou
sua espiritualidade. Há um antigo ditado popular que diz a seguinte verdade:
O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe totalmente". Por essa
razão, Paulo orientou Timóteo a não colocar pessoas na posição de lideres tão
rapidamente: Não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra
na condenação do diabo (1 Tm 3.6 - ARA).
O segundo fator contribuidor pode ser encontrado na seguinte passagem:
Não falou [Deus] também por nós? Como profetisa, Miriã, provavelmente, deve
ter proferido a Palavra do Senhor em diversas ocasiões. Talvez, isso a tenha
levado a pensar que ela estava no mesmo patamar que seu irmão mais novo. O
teólogo e reformador protestante francês João Calvino comentou:
Eles se orgulham do dom de profecias, que, ao contrário, deveria ter-lhes
trazido modéstia. Mas a depravação da natureza do homem é tão grande, que eles
não só abusam dos dons de Deus dados ao irmão que eles desprezam, como
também exaltam com glorificação sacrílega os próprios dons em vez de o Autor
desses dons.3
É interessante que a seguinte afirmação seja feita a respeito de Moisés: E
era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra (Nm 12.3). Foi a mansidão que o segurou de se defender e permitiu que o
Todo-Poderoso lutasse suas batalhas por ele. Miriã deveria saber disso, tendo
sido uma testemunha ocular da fúria de Deus contra aqueles que escarneceram da
liderança de seu irmão. Nós aprendemos que o Senhor ouviu as suas palavras
(Nm 12.2). Seu julgamento foi rápido:
E logo o SENHOR disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda
da congregação. E saíram eles três. Então, o SENHOR desceu na coluna de
nuvem e se pôs à porta da tenda; depois, chamou a Arão e a Miriã, e saíram
ambos. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu,
o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele. Não
é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca
falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois, ele vê a semelhança do
SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra
Moisés? Assim, a ira do SENHOR contra eles se acendeu; e foi-se. E a nuvem se
desviou de sobre a tenda; e eis que Miriã era leprosa como a neve; [...] Assim,
Miriã esteve fechada fora do arraial sete dias. Números 12.4-15a
Os arquivos bíblicos mostram que, em outras ocasiões, quando Moisés foi
atacado, o Senhor respondeu destruindo as pessoas completamente! Contudo,
nessa situação, tudo o que Arão recebeu foi um sermão, e Miriã, uma semana de
lepra. Esse é um ótimo exemplo de como o Senhor age de diferentes maneiras
com os salvos e os não-salvos. Sua sentença de morte instantânea sobre aqueles
que tentaram colocar-se contra Moisés foi para proteger a nação como um todo.
Rebeldes que se recusaram a se arrepender podiam receber julgamentos severos.
Miriã, por outro lado, foi disciplinada como uma falha e restaurada ao convívio
familiar,
Apesar de tudo, o Senhor claramente mostrou Sua grande estima por
Moisés. Um comentarista declarou o seguinte:
Os profetas, consequentemente, eram simplesmente instrumentos por
intermédio dos quais o Altíssimo tornava conhecidos Seus conselhos e Sua
vontade para determinadas situações, em relação às circunstâncias especiais e
situações do desenvolvimento do Seu Reino. Não foi assim com Moisés. O
Onipotente o colocou sobre toda a Sua casa, chamou-o para ser o fundador e
organizador do reino estabelecido em Israel por meio de seu serviço de mediador
e encontrou-o fiel ao Seu serviço [...].
Assim Moisés não era um profeta do Senhor, como muitos outros, nem
meramente o primeiro e maior anunciador da Palavra, o primeiro entres os iguais,
mas ficou sobre todos os profetas, como o fundador da teocracia e mediador da
Antiga Aliança... Seus sucessores, simplesmente, continuaram a se estabelecer
nos fundamentos que Moisés lançou. Se aquele homem de Deus teve esse
relacionamento peculiar com o Pai, Miriã e Arão pecaram gravemente contra Ele,
quando falaram daquela maneira.4
Sem dúvida, o prazer do Senhor com Moisés foi o suficiente para atrair a
atenção dos seus irmãos, mas Miriã precisava aprender essa lição de uma forma
que jamais esquecesse. O Senhor acometeu seu corpo com a praga maligna da
lepra. Por isso, por ter-se exaltado acima do líder escolhido pelo Onipotente, ela
foi condenada a permanecer fora do arraial por uma semana inteira, com muito
tempo para se arrepender.
Evidentemente, essa humilhação atingiu o efeito desejado, pois nós nunca
mais lemos sobre ela exaltando-se novamente. Com toda certeza, tal afirmação é
verdadeira: Porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe
por filho (Hb 12.6).

SAUL: REBELIÃO É COMO O PECADO DA FEITIÇARIA

Uma ilustração muito clara das devastadoras conseqüências que o orgulho


pode causar na vida de alguém e até mesmo no Reino de Deus pode ser vista na
vida de Saul, o primeiro rei de Israel. Esse governante, que, sem dúvida,
começou seu reinado no caminho certo, era pequeno à própria vista. Quando
Samuel disse-lhe que gostaria de ordená-lo rei sobre o povo, ele respondeu:
Porventura, não sou eu filho de Benjamim, da menor das tribos de Israel? E a
minha família, a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que,
pois, me falas com semelhantes palavras? (1 Sm 9.21). Mais tarde, quando o
velho profeta tentou coroá-lo rei, ele se escondeu.
Porém, a humildade de Saul rapidamente começou a desaparecer quando o
Senhor lhe deu algumas vitórias retumbantes sobre os inimigos de Israel. O
primeiro sinal de que ele estava tornando-se orgulhoso surgiu quando ele,
presunçosamente, ofereceu sacrifícios a Deus, em vez de esperar, como Samuel o
tinha instruído. O Altíssimo reprovou e ameaçou Saul por intermédio do profeta,
mas permitiu que o governante confuso permanecesse em seu cargo. O
comentário do púlpito mostra a importância do processo de testes do Senhor:
Deus prova Seus servos e não lhes mostra o Seu favor completo nem Sua
confiança até que eles tenham sido testados. Abraão foi provado e encontrado
fiel, assim como Moisés, Davi e Daniel. O patriarca, inclusive, não era sem
pecado, nem Moisés. Certa vez, Davi pecou gravemente. Mas todos eles se
mostraram puros de coração e confiáveis. Saul desperta a atenção no Antigo
Testamento por ser alguém que, chamado para ocupar uma alta posição no
serviço do Todo-Poderoso e testado inúmeras vezes, ofendeu o Senhor muitas
ocasiões e foi, além de tudo, rejeitado e destituído. A questão na qual o rei foi
testado é a mesma de antes. Ele obedeceria à voz do Senhor e reinaria como Seu
comandante, ou ele seria como os reis das tribos e nações vizinhas e usaria o
poder do qual tinha sido investido de acordo com sua própria vontade e seu
prazer?5
Muitos anos se passaram, e mais vitórias militares foram conquistadas.
Naquele momento, tinha chegado a hora de testar novamente o caráter do déspota
teocrata e dar-lhe uma oportunidade de se render. Depois de lembrar a Saul,
solenemente, que Deus o tinha escolhido como rei, Samuel disse a ele que
destruísse o povo amalequita: Vai, pois, agora, e fere a Amaleque, e destrói
totalmente tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem
até a mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até as ovelhas e
desde os camelos até aos jumentos (1 Sm 15.3). Centenas de anos antes, esses
amargos inimigos de Israel foram avisados do julgamento que viria, mas nunca
se arrependeram de sua insensatez.
O cálice da iniqüidade estava cheio. Eles haviam cruzado a linha; o tempo
de cumprir a profecia havia chegado (Êx 17.14). Era responsabilidade de Saul
aniquilar completamente a nação adversária.
Apesar dos avisos pessoais de Deus, Saul preferiu escolher obedecer
parcialmente, não se dando conta de que a obediência parcial é, na verdade,
desobediência. Em vez de seguir as ordens divinas de destruir cada criatura, ele
poupou o rei - como um troféu individual para ser exibido - e alguns animais para
alimentar seus soldados famintos. Então, para aumentar ainda mais o furor da ira
do Senhor, ele deu uma festa para comemorar a vitória e construiu um
monumento para si mesmo! Diz um comentarista:
Antes de ser elevado à dignidade real, Saul se considerava incapaz de
carregar um fardo tão pesado. Depois dos grandes sucessos militares, ele ficou
cheio de arrogância e reinou de maneira abertamente desafiadora às condições
sobre as quais Jeová o investiu no cargo.6
Quando Samuel encontrou o rei, imediatamente confrontou-o sobre sua
desobediência. Com um rancor profundo, Saul exagerou em sua obediência e
minimizou seus erros. Em uma reação típica de quem está iludido, Saul se
convenceu de que se encontrava motivado por boas intenções. Em sua cabeça,
tinha respondido o chamado do Todo-Poderoso. O fato de ter poupado um
homem e um grande grupo de animais era apenas um detalhe comparado a tudo
aquilo que ele havia feito corretamente. "Dessa forma carnalmente enganosa, os
corações acreditam estar desculpando-se dos mandamentos de Deus à sua própria
maneira", explicou um ministro.7
O olhar penetrante do sério profeta deve ter dado uma bela sacudida nas
fantasias sanguinárias de Saul. O querido ancião, que havia perdido muitas noites
em agonizantes intercessões pelo rei rebelde, não o poupou da repreensão:
Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste por cabeça das tribos de
Israel? (1 Sm 15.17a). Com esta pergunta pungente, Samuel atravessou
completamente o coração desapontado do rei. Como Miriã, o rei Saul corrompeu-
se pelo poder e considerou-se muito mais do que, na verdade, era. Ele também
formou uma falsa impressão do seu relacionamento com o Pai. Mas o cordeiro
berrante e o temeroso rei Agague depunham contra ele.
Saul esqueceu-se de que sua tarefa era apenas ser um agente visível de Deus
para o Seu povo. Foi o Altíssimo quem o colocou naquela posição, deu-lhe favor
perante os olhos daquela nação e concedeu-lhe as vitórias sobre os inimigos de
Israel. Um reino longo e próspero estaria esperando por ele caso aquele
governante tivesse simplesmente escolhido obedecer aos mandamentos de Deus.
Infelizmente, Saul não fez mais do que o mínimo necessário para conseguir isso.
Além disso, em vez de andar no temor do Senhor, era mais zeloso para construir
e promover seu próprio reino longe do Onipotente. Grande ao seu próprio ponto
de vista, aquele rei abandonou seu chamado de autoridade, delegado pelo Todo--
poderoso sobre a tribo de Israel.
Deve ter sido uma cena apavorante quando Samuel proferiu aquelas
palavras imortais, que têm desafiado muitos cristãos ao longo dos séculos: Tem,
porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que
se obedeça a palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o
sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a
rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria.
Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para
que não sejas rei (1 Sm 15.22,23).
Matthew Henry afirma:
Aquela humilde, sincera e conscienciosa obediência à vontade de Deus é
mais agradável e aceitável para Ele do que gordura queimada e sacrifícios. É
muito mais fácil trazer um bezerro ou cordeiro para ser queimado sobre o altar do
que transformar todo pensamento altivo em obediência a Deus e à sua
vontade.8
Dessa forma, podemos ver que o maior pecado de Saul contra o Onipotente
não era tanto o fato de ele não ter cumprido meticulosamente cada detalhe que
lhe tinha sido ordenado. Não, o verdadeiro problema era que, em seu coração, ele
se havia exaltado contra o Pai, rejeitado a Palavra do Senhor e tinha, de fato,
deixado de segui-lO. Tudo isso estava descoberto ao grande Investigador das
almas de quem criatura alguma pode esconder-se (Hb 4.13).
Podemos aprender muitas lições com a vida de Saul, e a primeira delas é
que a obediência ao Senhor é uma questão do coração. Embora aquele rei tenha
vivido ostensivamente em sujeição a Deus, essa provação expôs a verdadeira
condição de seu coração. Saul, como muitos cristãos professos, apenas praticou
aqueles atos de aparente penitência que pareciam confirmar sua espiritualidade
para os que estavam à sua volta. Secretamente seguindo os anseios do seu
coração, ele - como os fariseus da época de Jesus -desejou a glória dos homens
aos invés da glória que vem do Pai (Jo 12.43).
Um outro ponto chave nessa história é que ser fiel nas pequenas coisas do
dia-a-dia é muito mais importante do que fazer grandes atos para Deus. De fato,
o Senhor nunca usará uma pessoa de uma maneira grandiosa até que ela tenha
aprendido as lições diárias de submissão. As palavras de Samuel são verdadeiras:
obediência é melhor do que sacrifício.
Provavelmente, a maior lição que podemos aprender da grande queda de
Saul é a importância de andar humildemente com o Senhor. Aquele governante
havia sido pequeno aos [próprios] olhos uma vez, mas, gradualmente, tornou-se
imenso em sua própria percepção. Quando uma pessoa é assim, rapidamente
toma para si os créditos das coisas boas que acontecem em sua vida, porque o
Criador Se torna pequeno em sua mente. Assim, ela se exalta e recusa-se a
glorificar a Deus (Rm 1.21). Por outro lado, aquele que se vê pequeno aos
próprios olhos enxerga o Altíssimo em todas as coisas e é ágil para lhe dar a
glória devida. Pessoas humildes não se consideram como tal.
Uma lição final tirada dessa narrativa bíblica é que um exame adiado
endurecerá um coração não-arrependido. Embora Saul tenha sido rejeitado como
rei, ele continuou no cargo ainda por muitos anos, persistindo em seu orgulho e
tornando-se mais cruel e insano. O Onipotente, no entanto, lidou com Saul como
Ele trata todo aquele que tem o coração endurecido e se recusa a se humilhar: Ele
foi muito paciente. Contudo, é inevitável que qualquer pessoa que se exalta seja
humilhada, embora o julgamento aparente geralmente não ocorra durante um
longo período. Após o Senhor rejeitar Saul, Samuel imediatamente ungiu Davi
para ser o novo rei de Israel. Entretanto, a mudança, de fato, não ocorreu logo.
Eventos que tomam lugar no reino espiritual, geralmente, demoram a se
concretizar no mundo físico. Depois desse incidente, o Todo-Poderoso
abandonou Saul para o demônio, que o atormentou pelo resto de sua miserável
vida. Sua insanidade crescente finalmente o levou á demência. Tudo isso poderia
ter sido evitado se ele, simplesmente, tivesse-se humilhado e obedecido ao
Criador. O texto de Provérbios afirma: O homem que muitas vezes repreendido
endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura (Pv 29.1)

NAAMÃ: ENSINADO PELOS SERVOS

Passados aproximadamente 200 anos, surgiu, na região da Síria, um grande


homem chamado Naamã, que era de muito respeito por ser um valente de
guerra. Ele, que era um herói nacional e estava acostumado a ser tratado com
reverência e consideração, construiu essa imagem por ter agido bravamente e
obtido muitas conquistas no campo de batalha. Podemos imaginar quantas vezes
ele retornou para ser aclamado pela multidão em Damasco depois de conquistar
grandes vitórias para sua nação. Naamã era muito especial, literalmente falando.
Contudo, quando tudo parecia estar indo bem, ele notou uma marca branca em
sua pele: os primeiros sinais de lepra!
Mal sabia ele que o Onipotente, o Senhor de Israel, já tinha determinado
uma série de acontecimentos que lhe dariam algo mais maravilhoso do que
quaisquer riquezas e toda fama que o mundo já lhe havia oferecido: o
conhecimento de Deus. A história, na verdade, começou algum tempo antes,
quando as tropas sírias haviam seqüestrado uma garotinha judia e levaram-na
para a Síria a fim de servir a esposa de Naamã. Simpatizando com a condição de
seu novo senhor, a jovem escrava mencionou que havia um profeta em Israel que
poderia sará-lo. O grande general, desesperado por um milagre de cura, foi
forçado a receber instruções de uma criada! Esse foi o primeiro de muitos
degraus que aquele orgulhoso guerreiro estava descendo.
Em uma grande demonstração de pompa e arrogância, o poderoso homem
aparece com seu grupo de soldados e chega ao humilde lar do profeta Eliseu.
Naamã era acostumado com a atitude de seus subalternos - como este profeta
judeu - de se curvarem ante a sua presença, em sinal da mais profunda
reverência. Para sua surpresa, Eliseu sequer saiu da casa para cumprimentá-lo.
Em vez disso, enviou seu servo com uma simples mensagem: Vai, e lava-te sete
vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado (2 Rs 5.10b). O
comentário do púlpito descreve sua reação:
O general sírio tinha imaginado uma cena bem diferente. "Pensava eu que
ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o Nome do Senhor, seu Deus,
moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso". Naamã tinha
imaginado uma grande cena, onde ele seria o personagem central, o profeta
descendo, provavelmente com uma varinha mágica, com os ajudantes
posicionados ao redor, os transeuntes parando para observar - uma invocação
solene da deidade, um poder mágico movendo-se em suas mãos, e a cura
imediata, ocorrida nas ruas da cidade, diante dos olhos dos homens, no
barulhento centro da cidade [...] Em vez disso, ele foi orientado a voltar como
tinha vindo, cavalgar cerca de 32km até o rio Jordão, geralmente lamacento ou,
pelo menos, sem cor, e banhar-se, sem qualquer pessoa para ver, exceto seus
próprios ajudantes, sem importância, pompa ou circunstância ou glória alguma.9
Por causa de sua grandiosa imaginação de como aconteceria sua cura,
Naamã ficou extremamente furioso com esse tratamento: Não são, porventura,
Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel?
Não me poderia eu lavar neles e ficar purificado?, ele se indignou (2 Rs 5.12a).
Esse foi um momento crucial. Se tivesse permitido que a raiva afetasse sua
resposta, ele poderia ter feito algo sem pensar, como tentar agredir Eliseu, que
poderia facilmente clamar fogo do céu para destruir toda a sua tropa (2 Rs 1.9).
Porém, alguns dos servos vieram falar-lhe e ponderaram com ele: Meu pai, se o
profeta te dissera alguma grande coisa, porventura, não a farias? Quanto mais,
dizendo-te ele: Lava-te e ficarás purificado (2 Rs 5.13b).
Nada disso fez sentido para a mente racional de Naamã, mas, mesmo assim,
sua grande necessidade o fez humilhar-se e obedecer às palavras daquele profeta
que tanto o havia desrespeitado. Ele fez a viagem de duas horas até o rio Jordão e
se lavou sete vezes. Depois de ter mergulhado a sétima vez no rio sujo, conforme
o homem de Deus havia prometido, a lepra tinha desaparecido totalmente. Assim
como o único leproso purificado que voltou para agradecer a Jesus, Naamã
retornou a Samaria para expressar sua gratidão a Eliseu. Dessa vez, não havia
qualquer indício de ego insuflado ou do desdém soberbo que ele havia mostrado
anteriormente. Ele era um homem mudado que, naquele momento, havia
experimentado a bênção da humildade.
Há um grande número de coisas importantes que podemos aprender dessa
experiência humilhante de Naamã. A mais óbvia é que, quando ele tinha tudo
caminhando da forma esperada, não sentiu a necessidade de procurar um
relacionamento com o Altíssimo, e isso não é diferente hoje, mesmo com os
crentes. A ausência de problemas tende a deixar as pessoas orgulhosas e auto-
suficientes. Então, em Sua misericórdia, o Senhor permite que a adversidade
aconteça em nossa vida para que tenhamos sempre a consciência da necessidade
de Sua ajuda (Sl 119.67,71).
É também interessante como o altivo general sírio teve de receber
constantemente orientações de seus escravos. Primeiro, a pequena escrava disse-
lhe onde procurar pelo poder de cura. Eliseu mandou seu escravo, Geazi, dar as
instruções da restauração. Por último, quando Naamã ficou nervoso, seu próprio
servo teve de lhe mostrar a sabedoria necessária para decidir o que fazer. O fato
da questão é a verdade que servos têm muito mais facilidade de entender o
Senhor, pois o Reino de Deus é fundamentado na servidão. Eles têm uma singela
forma de pensar que os ricos e poderosos não compreendem.
Podemos observar também como a maneira de Deus agir é muito diferente
da do homem. O Senhor deu a Naamã uma simples tarefa para executar: Lava-te
e ficarás purificado. Em nosso orgulho, queremos fazer alguma coisa que nos
torne merecedores daquilo que estamos pedindo a Deus. "Se eu jejuar por 40
dias, certamente, Deus irá libertar-me," é a maneira que geralmente pensamos.
Mas pensar dessa forma é perder totalmente o foco da questão central:
desenvolver a humildade e uma dependência do Senhor. Indivíduos imaturos,
autocentrados, em geral, querem fazer algo grande que eles possam apontar como
a razão para a oração atendida. Em vez de dar a glória a Deus, a pessoa a clama
para si. No caso de Naamã, se lhe tivesse sido pedido que fizesse algo
extraordinário a fim de receber a cura, ele teria voltado para a Síria tão arrogante
como sempre e mais longe ainda do Altíssimo.
Finalmente, os sete mergulhos de Naamã no rio Jordão na frente de toda a
tropa é uma linda ilustração de como o Senhor ajuda as pessoas a se rebaixarem.
Cada vez que ele mergulhava, aproximava-se mais um pouquinho do
conhecimento do Todo-Poderoso. Depois de receber toda a água dos sete
mergulhos, ele estava suficientemente humilde para que enxergasse O mais
humilde de todos. Isso, simplesmente, não seria possível se não experimentasse
essas humilhações repetidas. Esse é o caso dos cristãos hoje em dia. Quando o
Senhor permite que uma pessoa seja humilhada de alguma forma, o Seu desejo é
sempre que ela tenha um conhecimento maior de Jesus.
Muitos poderiam pensar que seria impossível para um homem egoísta e
orgulhoso como Naamã aproximar-se de Deus. Contudo, o Senhor sabe
exatamente como atender à necessidade de cada um. No caso de Naamã, foram
necessárias as ordens de três escravos e muitos mergulhos no rio Jordão para
quebrantá-lo! Mas esse era um homem que estava sendo atraído para o Senhor.
Um homem orgulhoso humilhando-se é uma coisa maravilhosa no Reino de
Deus.

Querido Pai, eu vejo o orgulho agindo nessas três vidas. Eu


desejo que o Senhor me faça mergulhar sete vezes ou até me
ponha fora do campo por uma semana, mas, por favor, não
deixe que meu orgulho saia tanto de controle que o Senhor
tenha de me punir como fez com Saul.
Amém.
O cobiçoso levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperará.
Salomão - Provérbios 28.25

O orgulho é um artista maravilhoso. Ele aumenta o pequeno, embeleza o feio, honra o


desonrado e faz o homem pequeno, feio e desrespeitoso parecer grande, belo e digno
aos seus próprios olhos. Dizem que Acácio, o poeta, que era um anão, retratou-se como
sendo alto e de belo porte. Na verdade, ele faz com que o homem que tem um coração
demoníaco aparente a si mesmo ser um santo.'
D. Thomas

CINCO

ORGULHO RELIGIOSO
Exceto por alguns poucos isolados períodos na história bíblica, a
desobediência e a rebelião foram as principais características dos judeus. Isso se
manifestou primeiro em sua participação na idolatria inaceitável das nações
pagãs que estavam ao redor deles depois de se terem instalado na Terra
Prometida. O seu exílio na Babilônia trouxe um fim a tudo isso - mais uma vez,
eles clamaram pelo Todo-Poderoso. Mas não muito tempo antes, uma fé
verdadeira em Deus foi substituída por rituais mortos. Em um determinado
ponto, o Senhor os confrontou sobre sua falta de sinceridade na adoração, quando
Ele disse que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me
honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim, e o seu temor para
comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído (Is 29.13).
Essa foi uma acusação grave contra eles, pois expôs que, mesmo naqueles dias
iniciais, os judeus tinham-se tornado descrentes, mudando sua realidade interna
com Deus para outra de religiosidade sem verdade.
Quando Jesus apareceu em cena centenas de anos mais tarde, um
formalismo frio havia tomado conta do judaísmo. Em vez de manter a Lei fora da
adoração sincera ao Senhor, os fariseus ficaram satisfeitos em manter sua fachada
religiosa. Jesus colocou o dedo na ferida quando disse: E fazem todas as obras
afim de serem vistos pelos homens, pois trazem largos filactérios, e alargam as
franjas das suas vestes (Mt 23.5). Tudo relacionado às suas cerimônias, seja usar
amuletos, seja recitar longas preces em público, era realizado com o propósito de
fazer com que parecessem espirituais para aqueles que estavam à sua volta. Sua
"fé" foi tão corrompida pelo orgulho e pela hipocrisia, que, de maneira
aparentemente exasperada, Jesus exclamou: Como podeis vós crer, recebendo
honra uns dos outros e não buscando a honra que vem só de Deus? (Jo 5.44).
Em outras palavras, no lugar de viverem para agradar ao Senhor - a atitude
natural que vem da fé genuína -, os fariseus construíram um sistema
fundamentado na própria glória e no orgulho. Eles eram tão altivos, que não
puderam ver que o Deus encarnado estava sentado à frente deles.
Não há dúvida de que os fariseus * e seus similares "cristãos", os judeus
convertidos, apareceram muitas vezes na mente dos escritores do Novo
Testamento, sendo mencionados mais de cem vezes.
Sua presença formou a base da vida religiosa do primeiro século. Um dos
maiores esforços da primeira igreja cristã foi romper com a superficialidade do
judaísmo. Claramente convencidos de que a verdadeira religião é uma questão do
coração, os que escreveram o Novo Testamento, repetidamente, exortaram
aqueles cristãos a lutarem pela presença real do Altíssimo na vida deles, em vez
de se acomodarem com uma vã religiosidade caracterizada pelo legalismo e por
atos vazios de devoção.
Apesar disso, como a Igreja tem-se desenvolvido nos últimos dois milênios,
o Evangelho de Jesus Cristo tem-se espalhado por todo o mundo. A semente do
verdadeiro cristianismo tem crescido ao mesmo tempo em que as "sementes" da
hipocrisia, ou seja, aqueles que estão satisfeitos com uma forma aparente de
cristianismo em vez de uma realidade interna. A Igreja pós-moderna desenvolveu
a própria forma de dissimulação, feita sob medida para a vida americana
moderna. Embora nossas congregações evangélicas não tenham ministros
segurando talismãs e longas franjas pendendo de suas roupas, criamos a nossa
forma de farisaísmo. O orgulho religioso está tão ativo hoje quanto há dois mil
anos.

ÊNFASE NA APARÊNCIA

A primeira e mais óbvia característica dos fariseus era que eles estavam
muito mais preocupados com a maneira com que pareciam para os outros do que
como pareciam para Deus. Com precisão milimétrica, Jesus lhes mostrou qual
era o seu espírito:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do
copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade. Fariseu
cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior
fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes
aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas
interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim,
também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais
cheios de hipocrisia e de iniqüidade. Mateus 23.25-28
Nessa denúncia agressiva, Jesus expôs a raiz da hipocrisia daquele povo:
Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo 12.43).
Jesus utilizou a palavra grega hipócrita - usada no mundo grego para descrever
atores que atuavam em alguma peça - como o termo ideal para descrever a falsa
piedade dos fariseus. O mundo judeu era o seu palco, e esses atores religiosos
*
Para simplificar, esse termo está empregado em senso geral para descrever todos os hipócritas religiosos dos tempos
de Jesus.
tinham uma habilidade nata para representar o papel de "escolhidos de Deus". A
sua platéia judia buscava neles direção e acreditava que estava sendo liderada
pelo caminho correto. O problema era que, assim como um ator influente de
Hollywood pode ter um papel reescrito para que apareça melhor em um filme, os
fariseus tinham transformado suave e gradualmente a devoção a Deus em um
sistema religioso que recompensava a piedade aparente e ignorava a verdadeira
intenção. Como disse Jeremias, eles recusaram a palavra do SENHOR, e a falsa
pena dos escribas a transformou em mentira (Jr 8.8,9). Ezequiel coloca isso de
maneira ainda mais clara: Os seus sacerdotes transgridem a minha lei (Ez
22.26a). A transformação aconteceu tão gradualmente, que quase ninguém
percebeu.
De maneira mais branda, o mesmo fenômeno está acontecendo na Igreja
moderna nos Estados Unidos. Embora ela tenha seus períodos de verdadeiros
avivamentos, esse fogo está gradualmente se extinguindo por causa do egoísmo e
do secularismo. As pessoas naturalmente preferem o percurso mais fácil, mas
esse é o largo caminho que leva à destruição (Mt 7.13). Existem muitos crentes
sinceros que são devotos do Altíssimo e orientados por Ele, mas outros têm
escolhido um viver mais fácil e têm tentado encaixar o cristianismo dentro do seu
cotidiano. Em outras palavras, como os fariseus, eles têm-se tornado atores
religiosos profissionais que estão espiritualmente vazios. De fato, é muito mais
fácil exagerar no distanciamento de Deus do que, na verdade, lutar contra o
problema propriamente dito.
Jesus advertiu Seus discípulos sobre a contaminação da falsa
espiritualidade: Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus, que é a
hipocrisia (Lc 12.1b). A melhor analogia, hoje em dia, para esta admoestação
seriam as placas que encontramos nas estradas: "Cuidado! Atenção! Pare!
Perigo! Afaste-se!". Para o bom Mestre ter usado um termo tão forte como
acautelai-vos, isso mostra que Ele considerava a hipocrisia extremamente
perigosa. A hipocrisia é muito arriscada porque:
• Reforça o amor-próprio da pessoa.
• Acontece automaticamente quando alguém é altivo e tem dificuldade de
perceber.
• Substitui uma falsa espiritualidade.
• Leva a uma posterior decepção e desilusão.
• Impede que a pessoa veja sua necessidade de se arrepender e mudar.
• Encoraja mais o temor do homem do que o de Deus.
• Exalta os resultados visíveis enquanto cega as pessoas em relação às
conseqüências eternas.
Deveria ser claro que a verdadeira condição espiritual de um homem não é
determinada por uma auto-avaliação otimista. Ele não é de Deus simplesmente
porque se considera assim, nem é devoto porque enganou os outros para que
pensassem que ele é. A realidade da sua situação espiritual é fundamentada
apenas sobre uma coisa: como o Altíssimo o vê. Jesus declarou: Eu sou aquele
que sonda as mentes e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas
obras (Ap 2.23b). O escritor do livro de Hebreus disse que não há criatura
alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos
olhos daquele com quem temos de tratar (Hb 4.13). Tudo o que fazemos em
segredo e o que pensamos (incluindo nossas motivações secretas) são claras
diante do Senhor. Aqueles que não têm uma realidade do Reino do Pai se
enganam pensando que sua animosidade, seu desejo, sua avareza, sua
autopiedade e inveja são problemas insignificantes. Mas, apesar disso, tudo é
revelado claramente no telão do Céu (como se existisse um) diante do Deus
santo. Eles podem convencer a si mesmos e persuadir os outros, afirmando
andarem retamente no caminho do Senhor, mas isso não é necessariamente a
verdade.

ÊNFASE EM ASPECTOS SECUNDÁRIOS DA LEI

Jesus resumiu o verdadeiro fundamento da religião quando falou: Amarás o


Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a
este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos
dependem toda a lei e os profetas (Mt 22.37-40). Qualquer crente sincero (antes
ou depois do Calvário), que tenha conscientemente decidido seguir honestamente
essas regras de vida, deve saber que esses são os grandes e os primeiros
mandamentos. Ele entende que aquele que não ama não conhece a Deus,
porque Deus é amor (1 Jo 4.8 - ARA). Sendo assim, sua vida é tomada de grande
devoção pelo Poderoso e é seriamente envolvida em ajudar, de alguma maneira,
os necessitados.
Embora eu tenha certeza de que os fariseus auto-enganados pensavam que
amavam o Senhor e os outros verdadeiramente, eles viviam para si mesmos
acima de tudo. Amor pelo Altíssimo sempre representa na vida diária a devoção
aos outros, atendendo às suas necessidades (1 Jo 4.20). Considerando que esses
líderes religiosos judeus estavam acostumados com sacrifícios pessoais, eles
simplesmente evitavam a realidade das leis, enfatizando a observação estrita aos
aspectos secundários. Eles davam mais destaque aos pontos menores e reduziam
a importância dos dois grandes mandamentos. Consequentemente, com o
decorrer dos anos, eles deixaram de adorar o Pai e começaram a realizar um
ritual morto.
Um exemplo disso acontecia quando eles, cuidadosamente, pesavam os
fragmentos de cominho e extraíam com a maior precisão o dízimo para ofertar ao
Senhor. Jesus lhes chamou a atenção dizendo: Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! Pois que dais o dizimo da hortelã, do endro e do cominho e
desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém,
fazer essas coisas e não omitir aquelas. Condutores cegos! Coais um mosquito e
engolis um camelo (Mt 23.23,24).
Os fariseus dos nossos dias não pesam meticulosamente, mas ainda evitam
os fundamentos do cristianismo: amar a Deus e o próximo. Como exemplo disso
hoje em dia, há a maneira como alguns ressaltam demasiadamente a importância
da doutrina, como se isso fosse o ponto supremo da fé cristã. Muito da desunião e
da rivalidade orgulhosa presentes no cristão do século 21 é um resultado direto
daqueles que discutem questões doutrinárias com qualquer um que tenha uma
opinião diferente.
Porém, um crente maduro e humilde entende que existe uma distinção entre
os fundamentos da Lei e opiniões sobre conceitos de menor importância. Todo
aquele que é nascido de novo possui certas verdades comuns sobre Cristo, as
quais declaram que Ele:
• É um membro da Trindade.
• Era Deus encarnado.
• Nasceu da virgem Maria.
• Morreu no Calvário e ressuscitou ao terceiro dia.
• Irá voltar para a Terra etc.
Esses são alguns dos dogmas importantes que formam o fundamento da
religião cristã. É apropriado batalhar pela fé contra os falsos mestres que tentam
destruir essas verdades inabaláveis (Jd 1.3). Mas, atualmente, o problema é que
existem aqueles que querem lutar diligentemente com outros crentes que não
concordam com suas perspectivas sobre todos os aspectos do cristianismo.
Sem dúvida alguma, a unidade é um dos sinais de uma igreja saudável. Isso
significa que as pessoas estão tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo. sentindo
uma mesma coisa (Fp 2.2b). Eles estão vivendo com toda a humildade e
mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef 4.2,3).
Jesus orou para que Seus discípulos fossem aperfeiçoados na unidade e
conhecessem que o Altíssimo enviou Seu Filho ao mundo (Jo 17.23). Ele
também disse: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes
uns aos outros (Jo 13.35). Considerando o fato de que muitos cristãos,
frequentemente, têm mais discussões do que comunhão e parecem dar maior
importância em forçar suas opiniões pessoais sobre os outros do que se preocupar
com o bem-estar dos necessitados, há alguma dúvida de que somos
ridicularizados como tolos egocêntricos?
Desunião desnecessária surge quando as pessoas põem questões
doutrinárias secundárias acima da necessidade de amar os outros e ganhar almas
para Jesus Cristo. Questões sobre segurança eterna, duração do júbilo, divórcio e
novo casamento, dentre outras, não deveriam jamais separar os santos. Está tudo
bem se os indivíduos tiverem pontos de vista diferentes. Porém, orgulhosos e
imaturos não podem tolerar os que discordem deles nessas questões espirituais.
O cristão maduro que acredita nos fundamentos da fé crista (como aqueles
mencionados anteriormente) tem uma convicção divina que é fortalecida pela fé.
Quem encontra problemas naqueles que possuem padrões doutrinários diferentes
tem uma opinião intelectual fortalecida pelo orgulho. O crente humilde entende
que, no geral, ele herdou seu ponto de vista por meio de seu embasamento
denominacional. Por exemplo, caso ele tenha crescido em uma igreja batista,
existe grande chance de ele acreditar na segurança eterna. Se ele teve um
crescimento em congregação pentecostal, provavelmente abraçará a perspectiva
Arminiana. Independente de qual conceito ele tenha, não deve permitir que este o
separe de demais cristãos.
Onde existe a soberba, as pessoas se tornam intolerantes com relação àquilo
que os outros crêem. Seguindo o mesmo raciocínio, onde a humildade receber
seu lugar apropriado, a unidade prevalecerá. O acordo cristão e o amor dos
irmãos são mais importantes que a opinião de alguém sobre doutrinas
secundárias! Não é errado apoiar as crenças, mas devemos ser humildes o
suficiente para admitir que nosso conhecimento do Reino de Deus é, no máximo,
minúsculo. É crucial, para o bem da comunhão, que voltemos a nossa atenção
para amar ao Senhor e os outros. Como Davi declarou: Oh! Quão bom e quão
suave é que os irmãos vivam em união! (Sl 133.1).
Aqueles que têm apenas uma forma de obedecer a Deus estarão sempre
procurando alternativas para servir-Lhe e amar os demais com um coração
sincero. Eles mantêm suas máscaras espirituais e podem, inclusive, aderir
honestamente a certos aspectos do cristianismo, mas falta-lhes um
relacionamento vibrante com o Senhor. Em vez de se submeterem humildemente
ao Onipotente, eles se esforçam apenas para manter a aparência de estarem
envolvidos com o Pai. Como o Poderoso pode interagir com pessoas tão
hipócritas? Vejamos o que Ele declarou nas Sagradas Escrituras: Pois que este
povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me honra, mas o seu
coração se afasta para longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em
mandamentos de homens, em que foi instruído (Is 29.13). Possa Deus ter
misericórdia de nós e livrar-nos dos efeitos do orgulho religioso!

Querido Senhor, por favor, guia-me a um relacionamento vivo e vibrante com


Jesus. Por favor, ajuda-me a superar minha tendência natural de me apresentar
como algo que não sou. Também, dá-me a humildade para resistir a tentação de
fazer as pessoas aceitarem minhas crenças. Eu quero conhecer-Te de maneira
real, Senhor. Remove qualquer coisa do meu coração ou da minha vida que
possa impedir que isso aconteça. Obrigado.
Amém.
Apenas um passo entre soberba e o inferno. Arrogância insolente beira à
loucura.1
J. D. Davies

Deus diz de todo homem orgulhoso: "Nós não podemos viver neste mundo
juntos".2
Talmude Judeu

O tempo está a favor do manso e contra o soberbo. Os julgamentos de Deus se


unem, como nuvens negras de tempestade, em oposição àqueles que têm o
coração altivo. A tempestade irá cair muito em breve.3
R. Tuck

SEIS

A NATUREZA DESTRUTIVA DO ORGULHO


Prisões, asilos insanos e cemitérios do mundo fornecem inúmeros relatos de
almas que descobriram, em primeira mão, a verdade da curta, mas deprimente,
afirmação de Salomão:
A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda (Pv
16.18). Mais tarde, ele confirmou isso quando disse: Antes de ser quebrantado,
eleva-se o coração do homem; e, diante da honra, vai a humildade (Pv 18.12).
Suponho que não haja lei espiritual alguma mais constantemente
confirmada para mim do que essas destes versos. Para qualquer lugar que o olhar
de discernimento mire, as conseqüências da altivez aparecem claramente. Muitos
têm destruído a própria vida e a dos outros simplesmente porque não foram
capazes de se humilhar. A altivez está para a alma como o câncer maligno está
para o corpo humano. Não só ele se espalha por todo o organismo, como também
devasta cada aspecto da vida da pessoa. Uma vez que o orgulho tenha-se
desenvolvido totalmente dentro do coração inatingível, a destruição rapidamente
se apodera dele.
Note que Salomão usou a idéia da palavra antes três vezes nessas duas
afirmações. Isso mostra a grande influência do caráter em determinar o que
acontece na vida de alguém. O que ele é determina o que faz. As ações de uma
pessoa não só estabelecem um padrão de vida que reforça o que ela é, mas
também promovem reações variadas. Assim, o princípio de causa e efeito está
agindo. Ser orgulhoso leva as pessoas a fazerem certas coisas, as quais surtem
efeitos que trazem conseqüências terríveis. Como qualquer outro pecado, o
orgulho carrega consigo o próprio julgamento.
Embora o resultado do orgulho na vida de uma pessoa não-salva diferencie-
se de alguma forma do cristão orgulhoso, as mesmas leis espirituais se aplicam
aos dois. As normas físicas, judiciais e espirituais têm um denominador comum:
funcionam com base no princípio de causa e efeito. Se um homem for apanhado
roubando um banco, ele enfrentará o peso do sistema judicial. Se alguém pular de
um prédio alto, será atraído para a terra pela gravidade. Se uma pessoa exaltar a
si mesma, será humilhada. Não interessa se o ladrão de bancos, o suicida ou o
orgulhoso professa Cristo ou não; o princípio de causa e efeito irá atingi-los sem
piedade. A altivez de uma pessoa determinará as conseqüências que ela
enfrentará. Como foi mencionado anteriormente, o orgulho carrega consigo o
próprio julgamento. Jesus disse: E o que a si mesmo se exaltar será humilhado
(Mt 23.12a). Embora Ele não nos tenha dito como seria essa humilhação,
podemos acreditar que quanto mais presunção alguém tiver, maiores serão a
desgraça e a calamidade sobre ele. As seguintes afirmações feitas por Salomão
nos dão uma base para examinar as conseqüências do orgulho:
• Vindo a soberba, virá também a afronta (Pv 11.2a).
• A soberba precede a ruína (Pv 16.18a).
• A altivez do espírito precede a queda (Pv 16.18b).

A DESONRA DO ORGULHO

A primeira lei espiritual prática é que a soberba leva a desonra (do hebraico,
qalown) à vida de uma pessoa. Os sinônimos para este termo são desgraça,
ignomínia, reprovação e vergonha.4
Pessoa alguma gosta de alguém que imagina ser superior a todas as outras à
sua volta. Existe algo repulsivo nele. Em vez de ser tratado com respeito e honra,
o altivo provoca sentimentos ruins em seus semelhantes. O que é triste a respeito
daqueles que são obcecados com o que os demais pensam sobre eles é que
quanto mais preocupados estiverem com a própria aparência, menos as pessoas
irão respeitá-los. Sua tentativa orgulhosa de se exaltar apenas os diminui perante
elas.
O seguinte incidente que aconteceu comigo e com a minha esposa, Kathy, é
uma boa ilustração disso. Há muitos anos, jantamos com um casal influente, em
quem eu queria muito causar boa impressão. Enquanto comíamos, minha mulher
lhes contou uma história engraçada sobre mim que me embaraçou. Se eu tivesse
dado risadas, ela seria rapidamente esquecida, mas como eu estava muito
preocupado com o que eles iriam pensar de mim, fiquei com raiva e chamei a
atenção de Kathy com um tom de voz muito agressivo. Foi uma cena horrível e,
por causa da minha soberba, a coisa que eu mais temia aconteceu comigo: passei
uma péssima impressão.
O orgulho não somente é repulsivo, como também provoca a
competitividade. Pessoas que se preocupam com sua autopromoção quase
sempre o fazem às custas dos outros. Contudo, uma competição exige um
oponente. Não é suficiente para alguém se gabar sobre algum talento,
característica pessoal ou resultados satisfatórios. Que vantagem tem se não há
quem derrotar ou desdenhar?
C. S. Lewis declarou o seguinte:
Nós dizemos que as pessoas se orgulham de serem ricas, ou inte-
ligentes, ou bem-apessoadas, mas elas não são. Elas se orgulham de
serem mais ricas, mais inteligentes, ou mais bem-apessoadas que as
outras. Se todos os outros se tornassem igualmente ricos, inteligentes
ou bem-apessoados não se teria nada do que se orgulhar. É a
comparação que o faz orgulhoso: o prazer de estar acima dos outros.5

Pessoas que vêem as outras como suas rivais, inevitavelmente, dirão ou


farão algo que as ofenderá. As palavras de Salomão confirmam isso:
• O altivo de ânimo levanta contendas (Pv 28.25a).
• Da soberba só provém a contenda (Pv 13.10a).
• Como o carvão é para o borralho, e a lenha, para o fogo, assim é o homem
contencioso para acender rixas (Pv 26.21).
Em cada um desses três provérbios, o conflito surge de um pensamento
orgulhoso. O resultado é a contenda (do hebraico, riyb), que literalmente
significa discussão. Assim como o orgulhoso é levado a manter sua posição
sobre os que estão à sua volta, ele se encontra em uma competição sem fim:
todos são seus desafiantes. É uma batalha de gigantes: ele deve exaltar-se sobre
os demais e defender-se das tentativas deles de tomar o seu lugar. Ele vê com
suspeita as coisas que outros dizem e tende a ser cínico.
Quanto mais uma pessoa pensa, fala e age de acordo com esse tipo de
pensamento, menos os outros gostarão dela e, cada vez mais, evitarão sua
companhia. Aquele que vive para desfazer dos outros logo se verá sozinho.
Maria disse sabiamente que Deus dispersa os que, no coração, alimentam
pensamentos soberbos (Lc 1.51). Talvez, isso aconteça em grande parte
simplesmente porque a soberba é intolerável na presença do Senhor. Ela traz
consigo o julgamento da desonra e isolação.

A QUEDA INEVITÁVEL

A segunda verdade apresentada aqui é que o orgulho mostra o caminho para


a queda. O rei Davi é um triste exemplo disso. Quando jovem, ele se humilhava
completamente na presença de Deus e dos homens. Contudo, uma vida de 20
anos de palácio o fez mudar um pouco. Antes de ver Bate-Seba banhando-se no
palácio vizinho, uma idéia demoníaca de que ele poderia ter qualquer coisa que
quisesse já havia entrado em seu coração. Afinal, ele era o rei! Sua soberba o
levou a cometer adultério e, deliberadamente, mandar matar o marido daquela
mulher. O Onipotente severamente o repreendeu por intermédio do profeta Natã:
Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me
desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para que te seja por mulher.
Assim diz o SENHOR: Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e
tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se
deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu
farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol (2 Sm 12.10-12). Isso foi
o que exatamente aconteceu. As conseqüências da queda de Davi o perseguiram
pelo resto de sua vida.
Quando alguém pensa em um líder espiritual caindo em pecado, o primeiro
pensamento é o de queda moral (como o pecado sexual). Mas a queda nem
sempre acontece da mesma maneira ou no mesmo grau. Algumas pessoas
perdem seus empregos, outras perdem suas famílias, há ainda as que caem
doentes.
Posso dar uma ilustração recente, e um tanto literal, de queda na minha
própria vida. Devido a um grande número de razões, houve um período de vários
meses em que eu estive extremamente ocupado com o trabalho ministerial. Todo
fim de semana, eu tinha de viajar para pregar em algum lugar do país, e só
retornava na segunda-feira para continuar o ministério durante a semana. Embora
eu estivesse em dia com a minha vida espiritual, o cansaço e a pressão do
trabalho pesavam em minha caminhada com Deus. Gradualmente, eu estava
distanciando-me dEle internamente. Tentei encontrar o caminho de volta para
aquele lugar de paz e alegria que vem com a Sua presença, mas parecia que eu
estava lutando em uma batalha perdida. Cada vez mais, sentia-me descontrolado
e agitado. Em todo o tempo, tornava-me mais altivo.
Como um homem que se debate na água, a ponto de se afogar, eu estava
espiritualmente com problemas. Implorei pela ajuda do Senhor, aguardando um
impacto divino ou uma visita do céu. Sua resposta veio, mas não da maneira que
eu esperava.
Eu e Kathy havíamos decidido fazer algum exercício físico para aliviar um
pouco meu cansaço relacionado ao trabalho. Começamos a construir um novo
cômodo em nossa cabana no leste do estado de Kentucky, nos Estados Unidos.
Um dia, instalamos uma janela, e permanecemos em uma plataforma
improvisada na lateral da casa, muitos centímetros acima do chão. Quando pisei
na borda da plataforma, ela se desequilibrou e escorregou sob nossos pés, e
fomos para o chão. Minha clavícula se partiu, e fraturei o meu ombro. Kathy
sofreu uma contusão, teve quatro costelas quebradas e rompeu o ligamento do
ombro.
Não posso provar que foi Deus quem nos atirou ao chão, mas,
honestamente, acredito que Ele tenha usado isso (literalmente) para nos derrubar!
Eu e Kathy temos expressado nossa gratidão por Ele muitas e muitas vezes,
porque esse acidente nos levou de volta à caminhada espiritual. Em algum lugar
entre a dolorosa recuperação da cirurgia, as semanas de fisioterapia e assim por
diante, acalmamo-nos, e a realidade de Sua presença maravilhosa nos foi
restaurada. Para mim, seria impossível descrever quão vitais são as experiências
como essa na vida espiritual de alguém.
Sim, exaltei-me internamente, mas Deus foi fiel para me trazer ao meu
lugar. Porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por
filho.
E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão
de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por
ela (Hb 12.6,11). Sou grato porque, se Ele não tivesse feito algo para me
resgatar, eu teria tido uma queda espiritual com conseqüências devastadoras.

JULGAMENTO E DESTRUIÇÃO

Quando o Senhor permite alguma calamidade na vida de Seus filhos, Ele o


faz para aproximá-los de Si e distanciá-los de uma tragédia ainda maior.
Infelizmente, parece que alguns nunca aprendem a lição. Deus tenta falar com
eles por meio de Sua Palavra, dos sermões, ou mesmo da admoestação de um
ministro fiel. Ele também permitirá provas como a que eu e minha esposa
enfrentamos. Tudo isso é feito (ou permitido) para o bem-estar da pessoa em
mente. Porém, o preço pode ser muito alto quando um homem se recusa a ser
corrigido. Salomão disse: O homem que muitas vezes repreendido endurece a
cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura (Pv 29.1).
Um exemplo disso é a comovente história que contei em outro livro sobre o
jogador de baseball da liga nacional, que entrou no programa de internação dos
Ministérios de Vida Pura (Pure Life Ministries) há muitos anos. Embora Eddie
Smith (um pseudônimo) possuísse um número de recordes, sua carreira havia-se
deteriorado por causa de seu vício por sexo e cocaína. A droga o deixou tão
paranóico, que ele estava morando no quarto de vestir de um amigo com uma
arma carregada.
Tudo parecia muito promissor quando ele se internou no programa. Ele
respondia à presença de Deus no Vida Pura de uma maneira maravilhosa. Passar
o tempo com a Palavra de Deus diariamente, literalmente trouxe sanidade para a
sua mente medrosa e atormentada. O maior problema de Eddie não era a
ganância, a influência do mundo nem mesmo sua obsessão pelo sexo. O seu
maior e mais problemático pecado era a imensa quantidade de orgulho que havia
surgido e sido alimentado por anos de estrelismo. Mesmo depois de ir para o
lugar onde estava morando, em um armário, com uma arma carregada, ele
continuou internamente inquebrável. Assim que começou a recuperar a sanidade,
seu orgulho começou a querer aparecer novamente no Vida Pura.
Primeiro, apenas com coisas banais. Ele não gostava das regras do
programa de internação e, simplesmente, desobedecia àquelas que ele achava que
eram desnecessárias. Há uma regra para respeitar o horário de 22 horas no
programa, mas, se ele quisesse fazer um lanche ou conversar com algum dos
outros rapazes, ele iria. Quando questionado sobre esse comportamento
inaceitável, ele desfazia-se do problema ou dava de ombros. Com o passar do
tempo, ele se tornou mais arrogante e rebelde. Depois de vários meses
trabalhando com ele, seu conselheiro tentou uma última e desesperada manobra:
ele havia tido com o rapaz a chamada "sessão de luz" durante o encontro de
acompanhamento, na noite de terça-feira.
Com o Eddie sentado ali, na parte central do palco, cada homem do
programa era convidado a dividir seu ponto de vista sobre a caminhada do
jogador com Deus. Todos, sem exceção, disseram que ele era extremamente
orgulhoso. Eddie não gostou muito disso, mas permaneceu em silêncio. A equipe
continuou sua oração fervorosa em favor dele, desejando que este incidente
pudesse ajudá-lo a mudar. Infelizmente, seu comportamento continuou a
deteriorar depois disso. Embora lhe faltassem apenas duas semanas para terminar
o programa, eu sabia que não poderia dispensar um homem que tinha o coração
tão endurecido. Relutantemente, chamei-o ao meu escritório e pedi que ele
deixasse o prédio. Isso o chocou. Ele não estava habituado com as pessoas
atrapalhando suas vontades dessa maneira. Ele explodiu em raiva, dizendo: "Oh,
você é como os outros, Steve! Eu ouvi um bocado sobre a misericórdia por aqui,
mas não vejo demonstração alguma desse sentimento!". Ao dizer isso, ele saiu
rapidamente do escritório e bateu a porta com tanta força, que quebrou a madeira
do batente. Oito meses depois, ele morreu de uma overdose.6
O Onipotente não matou Eddie Smith; ele atraiu a morte para si mesmo.
Porém, sou testemunha do fato de que o Senhor fez de tudo para ajudá-lo.
Homens de Deus tinham tentado mostrar-lhe. Ele tinha trazido desonra sobre ele
e a própria família. Ele havia tido tantas quedas da graça, que até perdeu as
contas. Essa foi, talvez, sua última oportunidade de se humilhar perante Deus em
submissão, mas ele se recusou a se quebrantar o mínimo que fosse. Parecia que
calamidade alguma era severa o suficiente para chamar sua atenção. Ele foi
quebrantado de repente sem que houvesse cura, destruído pelo orgulho.
Enquanto não é o desejo de Deus destruir as pessoas, os homens têm o
livre-arbítrio que Ele não violará. Um ministro sabiamente escreveu:
Não há campo do pensamento humano e das ações em que o orgulho não
seja o mais perigoso guia. Ele leva (muito geralmente) ao precipício.7
As Escrituras declaram a seguinte verdade: A soberba precede a ruína, e a
altivez do espírito precede a queda.

Querido Senhor, por favor, quebranta-me!


Por favor, arranca toda raiz do orgulho que estiver no meu
coração ou na minha vida. Não quero encarar a destruição
e o julgamento; confio em Ti para fazer qualquer coisa
possível a fim de me colocar no lugar. Obrigado por
Teu castigo severo, Senhor.
Amém.
PARTE DOIS

AS BÊNÇÃOS DA
HUMILDADE
A Igreja de Deus nunca é tão bem construída como quando é feita com homens
de corações quebrantados. Eu orei ao Altíssimo em segredo muitas vezes,
recentemente, para que Ele levantasse do nosso meio alguém que tivesse
profunda experiência, conhecesse a culpa do pecado, fosse quebrado e destruído
ao pó sobre seu senso de falta de habilidade e de valor [...] Aquele que nunca
esteve no porão, nem no abismo, tampouco se tenha sentido como se estivesse
fora da vista de Deus, como pode confortar os que estão longe do Pai e estão
suplicando no desespero?1

Charles Spurgeon

SETE

SALVO PELA HUMILDADE DO ESPÍRITO


Vimos como o orgulho cega alguém para sua verdadeira condição
espiritual, de que forma distorce sua visão sobre si mesmo e sobre os outros, e
como evita uma amizade quebrantada com o Onipotente. Felizmente, existe uma
chance: por meio da humildade. Enquanto existem coisas práticas que alguém
pode e deve fazer paira limitar o comportamento orgulhoso e agir mais
humildemente, finalmente, o orgulho morre como a sua própria vida (como a
carne e a natureza caída) é desmantelada. Somente quando uma pessoa chega no
fundo de si mesma, ela lida efetivamente com a soberba, e Cristo Se torna mais
glorificado em sua vida. Antes de examinarmos o processo que a traz para esse
estado abençoado, estudaremos os pré-requisitos para entrar no Reino de Deus.

VERDADEIRA SALVAÇÃO

Hoje em dia, existem bilhões de almas sobre a face da terra, sentindo o peso
do seu pecado, eternamente perdidas e destinadas ao inferno. Muitas estão
envolvidas com as coisas desse mundo completamente inconscientes e
despreocupadas sobre sua terrível condição espiritual.
Ocasionalmente, Deus tem a possibilidade (em primeiro lugar, pelas
orações dos santos) a trabalhar conscientemente em uma alma perdida. O Espírito
Santo tenta mostrar por meio da cegueira espiritual a realidade da sua situação de
perdição. Ele faz isso convencendo a pessoa do seu pecado e promovendo
circunstâncias em que ela poderá ver que necessita de um Salvador. Conforme o
fardo da transgressão vai pesando, ela gradualmente se dá conta de que esteve em
total rebelião contra seu Criador. John Bunyan registrou de maneira muito
interessante em seu livro Pilgrim's progress (O progresso do peregrino) a
experiência do profundo desespero de um pecador condenado, como uma busca
verdadeiramente cristã pelo caminho que pudesse remover o fardo do pecado.
Quando alguém reconhece sua pobreza espiritual, sabe que não há coisa
alguma que possa fazer para salvar-se. Ele está completamente sem esperança
por sua condição. Jesus exclamou: Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o Reino dos céus (Mt 5.3). Ele está, se assim podemos dizer,
prostrado sem alguém para quem ele possa pedir por socorro, exceto para Deus.
Seu destino está completamente fora de suas mãos. Em profundo desespero, ele
deve aproximar-se do Poderoso com apenas com um pedido: "Tenha
misericórdia da minha alma pecadora!". Essa é a única entrada para o Reino dos
céus.
É nesse ponto que a pessoa espiritualmente "alcançou o fundo"; não há
mais coisa alguma! Quando um pecador arrependido esgota todas as
possibilidades de se ajudar, joga-se nos braços do seu Salvador. É lá, aos pés da
cruz, que ele deve tomar uma decisão genuína por Cristo. Antigos escritores de
músicas registraram esse momento precioso:
Durante muito tempo meu espírito permanece preso, Fortemente
ligado ao pecado e à noite natural, Meus fracos olhos percebem
um raio, Eu acordo, o porão iluminado com luz: Minhas cadeias
caíram, meu coração estava livre, Eu me levantei, saí dali e segui
a Ti.2
Houve muita misericórdia e graça, eu estava livre; Perdão foi
multiplicado para mim; Lá, minha alma condenada encontrou
liberdade, no Calvário.3

A percepção da necessidade não garante a automática busca pela vida


eterna. Muitos chegam a esse lugar apenas para voltar, incapazes de admitir os
erros, arrepender-se dos seus pecados e aceitar a redenção necessária.
Aparentemente, foi isso o que aconteceu com o jovem rico. Incerto de seu
destino eterno, prostrou-se diante do Salvador das almas e perguntou o que ele
deveria fazer para ser salvo. Porém, quando Jesus pôs seu dedo sobre o ídolo que
estava bloqueando sua verdadeira redenção- o apego às riquezas, podemos ler
que ele, contrariado com essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas
propriedades (Mc 10.17-22). Esse homem se encontrou face a face com sua
necessidade espiritual, mas, quando se deu conta dela, viu-se incapaz de romper
com as coisas desse mundo que o escravizavam.
Veja, perceber a condição de desesperança de uma pessoa é apenas o
começo. A escravidão do pecado, a autodeterminação e o amor às coisas desse
mundo devem ser quebradas em sua vida. Se a semente do Evangelho é plantada
no solo de um coração honesto e bom (Lc 8.15), que é responsivo, então, a sua
realidade se torna clara, e ele se entristece profundamente, com uma tristeza
interior sobre sua situação pecaminosa. Ele se move simplesmente procurando
sua incapacidade de se ajudar para responder à culpa que sente por ter-se
rebelado contra o Deus santo. Ele se quebra diante de seu estado pecaminoso; em
outras palavras, arrepende-se. Essa pessoa, agora, cruza a linha que define uma
nova vida em Cristo.

A APROXIMAÇÃO DE DEUS

Tragicamente, há muitos que "se decidiram por Cristo", mas nunca


experimentaram arrependimento e redenção genuínos. Podemos dizer,
verdadeiramente, que deles é o reino? Eles devem ter entrado no movimento
evangélico, mas o interior orgulhoso que passou uma vida inteira negando o
senhorio de Cristo ainda permanece inteiro. Com o interior soberbo seguramente
instalado em seu coração, eles não vêem a necessidade de desistir de controlar e
entregar-se ao Maior de todos. Assim, agem como ditadores, aprovando ou
rejeitando qualquer pedido que a Palavra de Deus ou o Espírito Santo possam
fazer-lhes. Eles estão inquebráveis, sem arrependimento e redenção.
Na história do fariseu e do publicano, encontrada em Lucas 18, Jesus expôs
essa falsa proximidade com o cristianismo enquanto a contrastou com a
conversão verdadeira. Lucas escreve que Ele disse também esta parábola a uns
que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros
(Lc 18.9). Consequentemente, essa parábola confronta aqueles que nunca
transferiram sua confiança e dependência de si mesmos para Deus. Jesus
começou a história descrevendo a aproximação entre o fariseu e seu Criador.
Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro,
publicano. O primeiro, posto em pé, orava para si mesmo da seguinte forma: O
Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores,
injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na
semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo (Lc 18.11,12).
Jesus expôs a autoconfiança dos líderes religiosos de Sua época por meio
desse inquebrável e orgulhoso fariseu. Como muitos hoje em dia, ele agia de
forma grandiosa e estava interessado apenas no que lhe dizia respeito. Ele era
rápido para dizer as coisas positivas que tinha feito para o Reino de Deus.
Infelizmente, estava completamente cego para o fato de que toda a sua
experiência espiritual estava enraizada e erguida sobre nada mais do que o seu
próprio eu. Não é de se surpreender que ele tenha tido prazer na glória pessoal.
Um senso de necessidade nunca o dominou.
Pelos padrões externos atuais, o fariseu teve uma vida cheia de Deus:
orando, jejuando, dando o dízimo e abstendo-se dos pecados óbvios e visíveis.
Cuidadosamente, deu para Deus todo o crédito pelo sucesso que tinha alcançado.
E interessante notar que quando fez um inventário de sua vida, tudo o que viu
sobre si mesmo era positivo. Facilmente, ele iria enquadrar-se em nosso "famoso
movimento evangélico" contemporâneo, que prega um evangelho falso,
fundamentado nas emoções e nos sentimentos, e mantém uma atitude mental
positiva.
É óbvio também que esse fariseu tinha pouco temor ou reverência a Deus.
O amor-próprio o cegou para o fato de que o Poderoso estava pequeno em sua
mente, enquanto ele mesmo era imenso. Ele não se aproximou do trono do Céu
com a atitude humilde e submissa de um servo perante o seu rei. Em vez disso,
comportou-se como se o Senhor fosse um afortunado por ter um seguidor como
ele. Com uma visão tão exaltada de si mesmo, é fácil perceber como ele ordenava
que o Altíssimo cumprisse todas as suas petições.
A aproximação do outro homem foi um pouco diferente:
O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar
os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim,
pecador! (v. 13). Esse homem não marchou dentro da sala do trono do Pai e
exigiu Sua atenção devida. De fato, ele ficou parado ao longe, incapaz sequer de
olhar para o Senhor. Ele estava consciente de sua falta de mérito enquanto se
apresentava ao Poderoso. Seus pecados estavam sempre diante dele quando se
prostrava na presença do Santo. Ele estava cheio de tristeza por não se parecer
com Cristo e profundamente envergonhado pelo pouco que tinha feito pelo
Onipotente. Sendo assim, ficou lá parado, esperando por apenas uma coisa:
misericórdia.
Hoje em dia, aqueles que vêm de uma esfera superior da igreja podem
sugerir que esse homem simplesmente precisa reassegurar-se de quem ele é em
Cristo. Talvez, eles o condenem por sua atitude negativa e o identifiquem como
um perdedor espiritual, levando uma vida derrotada. "Você é uma criança do Rei
e deveria ver-se como tal!", eles exclamariam. "Você precisa apenas aceitar o
amor de Deus e aprender a perdoar a si mesmo. É necessário que professe sua
fé!" *
É interessante como a perspectiva celestial pode ser diferente da terrena.
George Whitefield, o fervoroso pregador da Grande Reforma e um dos grandes
ganhadores de almas da história da Igreja, teve uma revelação tremenda sobre a
salvação. Ele sabia com o que ela realmente parecia. A respeito do publicano, ele
disse:
Pobre coração! Como ele se rebaixou dessa vez! Somente os outros
publicanos, como ele, podem dizer. Eu o vejo parado ao longe,
pensativo, oprimido e, ainda, cheio de tristeza; algumas vezes, ele
tentava olhar para cima; mas, então, pensava ele, como pode um
pecador como eu ousar erguer minha cabeça culpada? Para mostrar
que seu coração estava cheio do santo auto-ressentimento e que ele se
sentia entristecido diante de Deus, bateu em seu peito, seu infiel,
ingrato e, desesperadamente, fraco peito, o qual, agora, estava pronto
para arder. E, por um longo tempo, fora da abundância do seu coração,
não tenho dúvidas de que, com muitas lágrimas, ele finalmente
clamou: "Deus, seja misericordioso para comigo, um pecador, nascido
em pecado, com pensamentos, palavras e atitudes pecaminosos; um
transgressor como eu, um pecador que fez tudo o que eu fiz; que não
tem nada saudável, em quem não foi achado coisa boa; um pobre,
miserável, cego e nu, da ponta da cabeça à sola dos pés, cheio de
feridas e marcas e malcheiroso; um pecador auto-acusado e
autocondenado". O Senhor declarou: Digo-vos que este, publicano,
desprezado, pecador, mas homem quebrantado, desceu justificado

*
Parte desse material foi extraído de Living in victory (Viver em vitória), escrito pelo autor.
para sua casa [perdoado, e visto como justo por Deus] e não aquele
(Lc 18.14a).4

A BÊNÇÃO DA POBREZA

Aqueles que repetiram a oração do pecador, mas ainda não experimentaram


o arrependimento genuíno - chegaram ao fundo de si mesmo, cheios da tristeza
divina sobre o pecado, quebrantamento e redenção -, têm dificuldade em
entender as bênçãos que o publicano quebrantado e contrito recebeu. Eles nunca
sentiram a necessidade de se lançarem para a misericórdia de Deus. De fato,
passaram a vida toda justificando-se e evitando encarar a realidade de sua
verdadeira condição espiritual. Talvez, inicialmente, tenham rompido com alguns
maus hábitos e feito algumas alterações em seus estilos de vida, para que
pudessem encaixar-se na cultura evangélica, mas, durante a maior parte,
continuaram a se guiar da mesma maneira que faziam antes de professar a fé.
Quão diferentes são aqueles que ficaram absolutamente sem esperança
sobre o seu pecado. Recebi, recentemente, uma carta de um homem de um abrigo
que tinha acabado de ler meu primeiro livro, At the altar of sexual idolatry (No
altar da idolatria sexual). Sua história é um exemplo do que se parece o
arrependimento real:
Eu não sou um novato nos jogos de auto-ajuda e no jogo da ajuda de
Jesus; já li muitos livros de batalha espiritual, cura interior e coisas
desse tipo.
Seu livro é, sem dúvida, o mais claro, acurado, genuíno, o que mais
tocou meu coração! Parecia que tínhamos crescido juntos! Era como
se eu estivesse lendo a minha história de vida! Quanto mais eu lia,
mais reconhecia partes de mim, do meu comportamento, minhas
atitudes, minha doença interior que nunca fui capaz de definir nem
houve quem pudesse defini-la para mim. Quanto mais eu lia, mais me
condenava. Quando a cegueira ia desaparecendo, finalmente, via-me
face a face com a causa do meu pecado. Sua obra literária expôs isso
para mim sem evitar lidar com o assunto, e Deus mostrou o meu
interior: egoísta, arrogante, orgulhoso e, habitualmente, viciado, sem
absolutamente autocontrole algum. Sem mentira: pus o livro de lado
quando o li e me dei conta de que a culpa era toda minha e chorei
incontrolavelmente na sessão de arrependimento mais humilde e
quebrantada, com a mais verdadeira tristeza que jamais experimentei
em toda a minha vida.

Esse homem, como o publicano, chegou ao fundo de sua esperança. O


Espírito Santo onisciente ilumina, com Seu olhar profundo, a alma do homem,
infestada pelo pecado, e expõe tudo o que está dentro. O Senhor, em Sua
misericórdia, mostra-o claramente em seu estado. A verdade dolorosa sobre seu
interior deixa-o horrorizado. Tudo parece perdido. O futuro não parece nada além
de uma grande escuridão. Ele se sente sem esperança e saída. Ele sabe que está
com um grande problema e não tem para onde ir. Mas é precisamente nesse
ponto que se volta para Deus. No profundo do seu coração, renuncia e abandona
o pecado e a vontade própria que tinha nutrido.
De repente, tudo está diferente. Todos os obstáculos que o mantinham
afastado de Deus são removidos. Agora, não há o que o impeça de alcançar o
Salvador. Ele se joga nos braços do Pai celestial e é imediatamente envolvido por
Sua presença gloriosa. Lágrimas de desespero se transformam em alegria! De
fato, todo o Céu está em júbilo por seu arrependimento (Lc 15.7).
Como todos os efeitos do pecado e do orgulho que cegam a alma são
dissipados, esse homem pode descobrir uma nova perspectiva celestial que nunca
tinha conhecido antes. Ele está no calor do primeiro amor, onde tudo parece
novo e interessante! A grama é mais verde, e o céu mais azul do que nunca. A
Palavra de Deus, que antes parecia sem atrativos e sem vida, agora parece cheia
de energia, virtualmente pulando das páginas para dentro do seu coração. Ele
sente a presença do Senhor em todos os lugares. Sua adoração se torna viva
enquanto louva com um coração radiante. Ele também enxerga os demais de
maneira diferente. Em vez de vê-los com olhos egoístas - aquela perspectiva
escura que reduz os outros a rivais que devem ser derrotados -, enxerga suas
necessidades e sente compaixão e amor por eles.
Sua visão de Deus também passa por uma transformação radical. Ele não
precisa mais de um professor da Bíblia para lhe explicar o veredito de
determinação da eternidade proferido por Jesus: Em verdade vos digo que
qualquer que não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira
nenhuma entrará nele (Mc 10.15). Essa afirmação é mais real do que a vida. Ele
se sente como na infância, tem agora um senso de confiança pelo Pai celestial
como alguém de tenra idade e está preparado para se submeter ao Senhor como
qualquer criança obediente estaria. Assim como um garotinho olha para seus pais
à espera do sustento, ele espera confiantemente que o Todo-Poderoso supra suas
necessidades.
E lá, aos pés da cruz, que as primeiras bênçãos da humildade são
descobertas. Aqueles que perdem sua vida procurando por felicidade e satisfação
fora do seu relacionamento com o Onipotente nunca poderão entender a alegria
inexplicável de ter um encontro pessoal com Ele. Só aqueles que se arrependem
como o publicano conhecem a alegria inebriante dessa vida.
Talvez esta seja uma boa oportunidade para você, leitor, pensar se está ou
não descendo para a (sua) casa justificado. Você já chegou ao fundo dos seus
próprios desejos? Já permitiu que Jesus Cristo ocupasse Seu lugar de direito no
trono do seu coração? Já se entregou de verdade para Ele e O fez Senhor da sua
vida? Responder honestamente essas perguntas e ter a certeza de que sua
redenção está completa são a melhor maneira de receber as verdades contidas no
restante deste livro.
Querido Senhor, reconheço que sei pouquíssimo sobre
humildade de espírito, tristeza sobre o pecado e verdadeiro
arrependimento. Por favor, leva-me ao lugar onde eu me
esvazie de mim mesmo. Estou cansado dessa religião
fundamentada em mim mesmo. Quero ser como este
publicano. Por favor, leva-me até o fundo de mim mesmo,
não importa a que custo. Não Te deixarei ir até
que eu receba aquilo de que preciso.
Amém.
Quebrantamento é uma forma de bênção, de fragrância, de frutificar... Submissão
é o sinal do quebrantamento.1
Watchman Nee

Quão poucos do povo de Deus reconheceram efetivamente a verdade de que


Cristo é, de fato, o Dono de tudo ou não é Dono de coisa alguma! Se pudéssemos
julgar a Palavra, ao invés de sermos julgada por Ela; se pudéssemos dar para o
Altíssimo o quanto quiséssemos, então, seríamos senhores, e Ele, o devedor,
grato por nosso dolo em atender a Seus desejos. Se, por outro lado, Ele é Senhor,
vamos tratá-lO como tal.2
Hudson Taylor

OITO

SUBMISSO PERANTE DEUS

O homem é um rebelde e um produto de uma raça de revoltosos. Assim, ele


naturalmente anda segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das
potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência (Ef
2.2). Lúcifer estabeleceu esse padrão mundial logo após sua tentativa fracassada
de tomar, à força, o governo celestial, de forma que ele pudesse usurpar o
controle e a autoridade de Deus. Descontente por apenas andar na presença de
seu Criador, almejou a posição, o poder e o prestígio, e se tornou absolutamente
insano.
Como é diferente o raciocínio do manso e humilde Jesus! Ele desfrutava
dos mais altos de todos os privilégios celestiais, apreciava os momentos de
adoração dos seres angelicais e vivia em perfeita e amorosa harmonia com o Pai.
Ainda assim, Ele desistiu de tudo isso para que pudesse satisfazer as
necessidades da humanidade pecadora. Paulo disse: De sorte que haja em vós o
mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de
Deus, não teve por usurpação o ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo
[de Sua posição e de Seus privilégios], tomando a forma de servo, fazendo-se
semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,
sendo obediente até a morte e morte de cruz (Fp 2.5-8).
Certa vez, Jesus declarou: Eu faço sempre o que lhe agrada (Jo 8.29b).
Consequentemente, Ele nunca Se exaltou. Esse tipo sincero de obediência é o
nosso modelo de verdadeira submissão - sujeição da vontade de uma pessoa à
vontade de outra. É o oposto da vontade própria, autodeterminação e rebelião.
Uma figura clara de obediência pode ser vista no Getsêmani: Pai, se queres,
passa de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua (Lc
22.42).

A MENTALIDADE DO SOLDADO

A Escritura orienta os crentes a se submeterem a Deus (Ef 5.24; Tg 4.7; Hb


12.9). A palavra submeter (do grego, hupotasso) é uma junção de dois outros
vocábulos: hupo, que significa sob, e tasso, posicionar; portanto, posicionar-se
sob ou em sujeição à liderança de outro. A melhor ilustração disso é um
exército organizado em formação de marcha. Todos os homens estão submetidos
aos seus superiores.
Imagine, porém, se há um soldado em desarranjo, andando conforme sua
vontade, algumas vezes em forma, mas, a maior parte do tempo, apenas fazendo
o que lhe dá vontade. O general, vendo a vontade própria e a insubmissão desse
militar, jamais confiaria nele para cumprir ordens. Como ele responderia para
este subalterno caso este lhe viesse pedir alguma coisa? Ele provavelmente
estaria tão desgostoso com sua soberba e audácia que simplesmente o deixaria
falando sozinho. Não seria apropriado que o general não cedesse ao soldado
insubordinado?
Um bom soldado, por outro lado, obedece com todo o respeito e toda a
devoção ao seu líder. Ele se coloca sob a liderança do seu comandante não
apenas aparentemente, mas de todo o seu coração. E mais do que,
simplesmente, obedecer por medo das conseqüências da desobediência. Ele está
comprometido com a causa do seu líder. Na verdade, ele renunciou à própria
vontade em favor da do general. Sua atitude ganhou a confiança de seu superior,
e ele terá, assim, garantido uma posição de responsabilidade.
Nós, cristãos, travamos uma batalha diariamente para permanecermos
submissos ao Espírito Santo. A carne sempre quer controlar e lutar contra os
esforços mais sinceros para viver no Espírito. Paulo fez uma consideração
profunda a respeito desse assunto: Porque a inclinação da carne é morte; mas a
inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade
contra Deus, pois não é sujeita [hupotasso] a lei de Deus, nem, em verdade, o
pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm 8.6-
8).
Como o Senhor traz uma pessoa independente para a real submissão? Da
mesma maneira que o exército transforma um simples recruta em um lutador
disciplinado: a vontade própria do iniciante deve ser destruída, e ele precisa
aprender a se alinhar com o propósito de seu superior.

A IMPORTÂNCIA DO QUEBRANTAMENTO
Até que a vida de um cristão esteja sob o controle de Deus, ele é inútil para
o Seu Reino. A única maneira que ele tem para se tornar submisso é pelo
quebrantamento da sua vontade. Uma boa analogia disso é a de um cavalo
selvagem, o qual pode ser um animal lindo e gracioso, mas é inútil em sua
condição de indomado. No entanto, uma vez que tenha sido amansado, o cavalo
poderoso pode ser controlado e guiado pelas rédeas e pelos comandos verbais do
seu mestre.
O cristão que tem sua vontade quebrantada por seu Pai celestial desenvolve
um respeito pela orientação do Mestre. Ele não exibe o medo que uma criança
castigada tem de um pai cruel, mas, ao contrário, mostra reverência apropriada a
quem deve respeito. Por sua vontade ter sido conquistada, ele não vê mais sua
vida como se tivesse o direito de controlá-la. Davi era um homem que agia dessa
maneira. Mesmo quando o Senhor o repreendeu (por intermédio de Natã) pelo
relacionamento com Bate-Seba, o Altíssimo revelou que ele tinha um lugar
especial em Seu coração: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de
Saul; e te dei a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teu seio e
também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto é pouco, mais te
acrescentaria tais e tais coisas (2 Sm 12.7b,8). Até quando havia atingido o auge
de seu orgulho e caído no precipício do pecado, Davi usufruía de um tremendo
favor do Onipotente.
Uma das coisas que Davi disse para o Senhor, quando se dobrou de joelhos
em profunda penitência pelo seu pecado foi: Os sacrifícios para Deus são o
espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó
Deus (Sl 51.17). Em outra ocasião, ele usou esses mesmos adjetivos: Perto está o
SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito (Sl
34.18). Os termos hebraicos traduzidos como quebrantado (shabar) e contrito ou
oprimido (dakah) são extremamente importantes para aqueles que desejam ser
bem-estimados por Deus. É muito interessante como o termo shabar é
empregado em outros trechos no Antigo Testamento.

• E a saraiva feriu, em toda a terra do Egito, [...] toda a erva do


campo e quebrou todas as árvores do campo (Ex 9.25).

• Antes, os [seus ídolos] destruirás totalmente e quebrarás de todo as


suas estátuas (Ex 23.24b).

• O SENHOR o entregou ao leão, que o despedaçou e matou (1 Rs


13.26b).

Assim, o Senhor Se aproxima de quem a vontade própria foi oprimida,


ferida, despedaçada e destroçada. Esses termos descrevem uma pessoa cujo
coração é o oposto ao daquele que é altivo (lembra-se de Uzias?). Muitos querem
ter essa posição especial com o Senhor (imagine os que a têm), mas poucos são
aqueles que estão dispostos a permitir que Ele os quebrante dessa forma.
Esse Pai está próximo do humilde. Pessoas que permitiram que as durezas
da vida quebrantassem o escudo protetor de si mesmas têm os corações mais
ternos de todo o Reino de Deus. Sem dúvida, Ele os acha irresistíveis! O Senhor
proclamou por intermédio do profeta Isaías: Porque assim diz o Alto e o Sublime,
que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito e
também com o contrito [dakah] e abatido de espírito, para vivificar o espírito
dos abatidos e para vivificar o coração dos contritos [dakah] (Is 57.15).
Watchman Nee, em seu excelente livro The release of the Spirit (A liberação do
espírito), diz o seguinte:
Para quebrantar nossa vontade, Deus tem de nos impactar até que nos
prostremos ao chão e digamos: "Senhor, não ouso pensar, perguntar
nem decidir pela minha vontade. Em tudo e todas as coisas preciso de
Ti". Sendo quebrantados, aprendemos que nosso querer não deve atuar
independentemente do Altíssimo [...] Todos os que são quebrantados
por Ele são caracterizados pela submissão. No passado, podíamos dar-
nos ao luxo de ser inflexíveis e obstinados, porque éramos como uma
casa bem-fundamentada por muitos alicerces. Como Deus remove
cada uma dessas bases, a casa pode despencar. Quando os alicerces
são abalados, a força da vontade interior só pode cair.3

CONFORME A VONTADE DE DEUS

Como o Espírito Santo inicia o processo de quebrantamento da vontade


própria do crente, Ele também começa a erigir barreiras em sua vida. Antes de ir
a Cristo, a pessoa era livre para fazer o que bem desejasse. Exceto por algumas
expectativas que sua família ou seu chefe fizessem dela, ela realmente não tinha
de dar satisfação para quem quer que fosse.
Agora ela descobre que deve submeter sua vontade à de outro e que recebeu
novas limitações. Ela pode curtir a vida, mas apenas dentro do que é permitido
por seu novo Mestre. Conforme amadurece na fé, descobre que aqueles
impedimentos se tornam mais restritivos. Durante seu curso de vida, o crente é
continuamente guiado, enquanto o Senhor gradualmente exerce Sua vontade na
vida do Seu servo.
Muitos personagens bíblicos experimentaram essa cerca divina de proteção.
Jó reclamou: O meu caminho ele entrincheirou, e não posso passar (Jó 19.8a).
Davi exclamou: Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a tua mão (Sl
139.5). Jeremias disse: Circunvalou-me, e não posso sair; Circunvalou os meus
caminhos com pedras lavradas (Lm 3.7,9a). Com relação à infidelidade de Israel,
o Senhor fez a seguinte declaração: Portanto, eis que cercarei o teu caminho
com espinhos; e levantarei uma parede de sebe, para que ela não ache as suas
veredas (Os 2.6).
Essas declarações revelam as diferentes maneiras com que o Senhor
estabelece limites na vida de Seus servos. Na maior parte do tempo, o cristão está
inconsciente desses parâmetros invisíveis em seu viver. Apenas quando tenta
transpor essas imposições divinas é que ele se dá conta deles.
Alguns indivíduos se tornam descontentes com tais delimitações.
Determinados a seguir o próprio caminho, eles se atiram continuamente contra
esses obstáculos, muitas vezes "batendo a cabeça" repetidas vezes. Entretanto,
Deus está trabalhando na vida de cada um deles e tentando guiá-los para a paz
que se obtém por meio da obediência. Como um ministro disse: "A ovelha
curiosa é machucada pela cerca, enquanto a ovelha quieta e obediente não sabe
nada sobre os espinhos".4-
A princípio, o principal propósito da barreira é prevenir o novo cristão de
cometer bobagens que poderão machucá-lo. Certa vez, Salomão declarou: Como
a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o
seu espírito (Pv 25.28).
Um cristão indisciplinado é um alvo para o inimigo. Felizmente, a graça de
Deus irá mantê-lo no caminho.
Porém, existe muito mais nesse processo do que simplesmente limitar as
ações de alguém. É desejo do Senhor que o crente amadureça, desenvolva as
próprias convicções e esteja verdadeiramente feliz e.satisfeito com o querer do
Pai. Quando o propósito de alguém é ligado ao do Senhor, as duas vontades são
assimiladas em uma só; as duas se tornam uma.
Nos tempos bíblicos, quando duas pessoas se casavam, a esposa
compreendia que estava unindo sua vida à de seu marido. Hoje em dia, nos
Estados Unidos, o matrimônio é mais uma combinação de duas vidas, duas
carreiras e duas metas de desejos. O papel da mulher, na época bíblica, estava
apenas um patamar acima do da serva da família. A esposa perdia o direito sobre
seus sonhos e suas aspirações para se ligar aos de seu marido. Ela se tornava sua
companheira e submetia seu querer ao dele. Era uma união de duas vontades,
mas era quase uma completa sujeição de um ao outro.
Nós, como Noiva de Cristo, somos chamados a abandonar os interesses,
planos e objetivos que temos e submetê-los ao nosso Senhor e Marido. É Sua
responsabilidade prover-nos, proteger-nos e dar sentido à nossa vida. Quando nos
casamos com Ele, alinhamos nosso viver com Seus planos, submetemos nossas
vontades à Sua e vivemos dentro dos limites desse contrato marital.
A todo cristão é oferecida a surpreendente bênção de se unir em extrema
intimidade com o Ser mais amado e decente que já existiu. Quem não ficaria
extremamente feliz ao receber um convite para jantar na Casa Branca? Sacrifício
pessoal algum seria considerado excessivo para um privilégio tão grande! Quão
maior seria a honra de ser completamente íntimo de Jesus Cristo - ser
considerado Seu querido amigo e, mesmo, amado! Ele deseja que todo crente
experimente esse relacionamento especial, por meio do qual Ele divide Seus
pensamentos mais secretos e detalhes mais íntimos.
Este é um convite aberto a todos: Vinde a mim, todos os que estais
cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e
aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso
para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mt 11.28-
30). Sim, há um jugo para os seguidores de Cristo. Devemos obedecer a Deus e
colocar-nos sob o controle do Espírito Santo. O Altíssimo deve receber o direito
de crucificar a vontade própria dentro de nós e reinar em nós. Porém, os
benefícios de uma união tão próxima assim com Cristo são extraordinários!
Envolve a liberação do assustador e sufocante peso do pecado e do desejo.
Tomar verdadeiramente o jugo de Jesus significa voar com Ele como uma águia!
É o tipo de relacionamento que o Salvador diz que nós precisamos aprender e
almejar.

CONQUISTADO POR DEUS

Uma figura histórica que se tornou próxima do Senhor dessa maneira foi
Moisés. Ele é a figura mais predominante no Antigo Testamento, tendo escrito
seus primeiros cinco livros e sendo mencionado, aproximadamente, 800 vezes na
Sagrada Escritura. Além de ter sido o instrumento que Deus usou para lançar as
pragas no Egito que levaram à libertação da escravidão Seu povo escolhido, ele
também foi usado para fundar a nação de Israel e formar a religião judaica.
Porém, esse vaso escolhido precisou de uma preparação espiritual extensa para
essa grande tarefa.
Moisés cresceu nos palácios do Egito, uma civilização que estava muitos
anos além de seu tempo em diversas áreas de conhecimento, como, por exemplo,
nas de patologia, astronomia e engenharia. Infelizmente, parece que essa
sabedoria extraordinária surgiu do conhecimento das profundezas de Satanás.
Esse império maligno era, com certeza, controlado pelos principados, pelas
potestades e forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Ef 6.12 - ARA).
Sem dúvida, Moisés cresceu em um mundo detestável e extremamente
depravado. Como membro da casa de Faraó, o jovem hebreu recebeu uma
profunda doutrinação, tendo sido instruído em toda a ciência dos egípcios (At
7.22a). Quando tinha por volta de 40 anos, ele estava mergulhado no modo de
pensar egípcio. Porém, foi nessa época que ele teve um encontro com Deus que
mudou completamente o rumo de sua vida. A Bíblia Ampliada expressa de
maneira muito bela a consagração de Moisés quando recebeu esta revelação do
Senhor:
[Movido] Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado [sofrer as
dificuldades] junto com o povo de Deus a usufruir prazeres
transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio [a
vergonha] de Cristo [o Messias que estava por vir] por maiores
riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão
[a recompensa]. [Motivado] Pela fé, ele abandonou o Egito, não
ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme
como quem vê aquele que é invisível (Hb 11.24-27 - ARA).

O Senhor estava preparando para levar Seu povo à Terra Prometida. Suas
leis governariam a nova nação. Para conseguir isso, Ele precisava de um homem
que entendesse a obediência; não simplesmente a obediência externa às regras,
mas uma convicção profunda e sincera para obedecer a Deus. Moisés foi
escolhido desde o seu nascimento para ser tal homem. Infelizmente, ele, como os
demais de seu povo, era um rebelde inveterado. Tornou-se zeloso com o Senhor,
mas estava tão cheio de sua justiça própria, que matou um egípcio. Ele teria de
sofrer uma profunda mudança de caráter antes que pudesse ensinar os outros
acerca da obediência.
A Escritura é estranhamente silenciosa sobre a estada de Moisés no deserto.
Podemos apenas imaginar o que o Criador o fez passar a fim de prepará-lo para o
grandioso desafio que surgiria diante dele. Durante 40 anos, Moisés foi
disciplinado, humilhado, confinado e quebrantado pelo Todo-Poderoso. Ele teve
de ser purificado de sua mentalidade egípcia e aprender como obedecer a Deus.
De qualquer forma, era um homem completamente transformado que entrou no
palácio do Faraó 40 anos depois de ter deixado esse lugar em desgraça. A Bíblia
nos conta que ele foi mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra (Nm 12.3). Pode-se dizer isso de uma outra maneira: a vida de Moisés foi
mais diminuída, controlada e direcionada pelo Espírito Santo do que
qualquer outra. Ele se tornou tão puro no fogo Refinador, que podia falar com o
Senhor face a face (Mt 5.8).
O cristão do século 21 não parece experimentar o mesmo tipo de encontro
que Moisés teve com o Poderoso. Porém, os mesmos princípios espirituais que
estavam em vigor naqueles dias vigoram também hoje. Quanto mais o Espírito
Santo conquista o interior de uma pessoa, mais ela se aproxima do Pai. Quanto
mais profunda sua submissão, maior será sua revelação sobre o Onipotente. Seu
coração entenderá, seus ouvidos ouvirão, e seus olhos verão a realidade espiritual
do mundo invisível onde o Senhor reina (Mt 13.14-16).
Tudo envolvido com o cristianismo gira em torno de um relacionamento
pessoal com Cristo, que depende do seu nível de submissão ao Altíssimo. Assim
como o crente se torna progressivamente mais submisso às regras do Senhor em
sua vida, ele verá a realidade de Deus crescendo dentro do seu ser. Não há
atalhos para essa intimidade preciosa.

Querido Senhor, ofereço meu corpo, minha alma,


minha mente, meu coração, minhas vontades, meus
desejos e meus sonhos como sacrifício em Teu santo altar.
Por favor, quebranta meu ser.
Leva-me a submissão ao Santo Espírito.
Conquista totalmente o meu ser interior.
Senhor, não permitas que eu siga o meu
caminho se isso trouxer desgraça para o Teu Nome,
machucar o Teu povo ou me manchar eternamente.
Eu Te dou permissão para fazer o que for necessário para me
manter dentro da Tua vontade.
Amém.
De certa forma, parece ser uma contradição, mas a verdade é que aquele que anda
em humildade anda no poder.¹
George Ridout

A primeira, a segunda e a terceira coisa na religião é a humildade; pessoa alguma


se torna cristã se não for capaz de ser como uma criança.2
Albert Barnes

E muito difícil competir com alguém que escolhe ser o último.3


Gayle Erwin

NOVE

ANDANDO EM HUMILDADE

Quando alguém recebe a disciplina do Senhor e experimenta o


quebrantamento de sua vida interior e do orgulho que cresce dentro de si, ele se
torna gradativamente mais consciente da realidade de Deus. Com o eu interior
diminuindo, a presença do Altíssimo aparecerá de uma maneira muito maior do
que antes. Por que isso? Qualquer coisa que diminua a vida interior promove a
humildade.
Uma vez que a realidade do Pai invada o coração de uma pessoa, a resposta
natural (e apropriada) é reconhecer-se e adorar ao Senhor. Por exemplo, a Palavra
descreve o seguinte acontecimento quando Jesus andou sobre as águas: Então,
aproximaram-se os que estavam no barco e adoraram-no, dizendo:
És verdadeiramente o Filho de Deus (Mt 14.33). Quando o homem cego foi
curado por Jesus no templo, vemos que ele o adorou (Jo 9.38). Quando as duas
Marias encontraram Cristo ressurreto, elas abraçaram os seus pés e o adoraram
(Mt 28.9). Todos esses que viram o Senhor Jesus Cristo se prostraram e O
adoraram, o que significa que eles entenderam que estavam na presença do
grande Senhor.
Contudo, humilhar-se diante de Deus não é significativo somente para os
que têm uma revelação poderosa dEle. Ao contrário, é a posição apropriada que
todos deveriam ter em seu coração diante do Senhor. Jesus disse para a mulher,
na fonte, que o Pai verdadeiramente procura aqueles que O adorem em espírito e
em verdade (Jo 4.23,24). Essa devoção é de importância fundamental porque
envolve o relacionamento pessoal com o Onipotente.
Tanto em hebraico quanto em grego, o termo adorar dá a idéia de se
prostrar fisicamente diante de alguém. De fato, a palavra transmite a imagem de
uma pessoa curvando-se na mais completa humildade para beijar a mão de
alguém superior.
Muitos pensam que cantar hinos e canções de adoração a Deus aos
domingos é tudo o que se pode fazer para adorará-lO, mas, na realidade, há muito
mais para realizar com a sujeição consciente a Deus do que apenas entoar
louvores. A verdadeira adoração apenas acontece quando alguém reconhece
quem ele é em relação a Deus e quem Deus é em relação a ele. Isso requer
sempre uma grande humildade dentro do coração.
O salmista mostrou isso quando disse: Servi ao SENHOR com temor e
alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no
caminho (Sl 2.11,12a). Tais palavras indicam um indiscutível senso de medo
santo e humildade em um homem que entendeu seu lugar diante do Criador.
Um outro personagem bíblico que compreendeu o verdadeiro significado da
adoração foi Jó. Coisa alguma fará a atitude real de uma pessoa diante de Deus
tornar-se mais evidente do que as provações. Quando todas as suas posses
terrenas foram destruídas, e seus filhos, mortos, Jó se levantou, e rasgou o seu
manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou, e disse: Nu saí do
ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu e o SENHOR o
tomou; bendito seja o nome do SENHOR ( Jó 1.20,21).
Abraão também teve uma atitude apropriada diante do Senhor. Ele havia
esperado 25 anos por um filho, mas, quando o Todo-Poderoso disse-lhe que
fizesse uma viagem de três dias até o monte Moriá e sacrificar Isaque, ele
obedeceu ao Pai sem hesitar. Depois que ele chegou ao lugar, disse para o jovem
que estava com ele: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali;
e, havendo adorado, tornaremos a vós (Gn 22.5).
Cada um desses personagens ilustram o verdadeiro significado da adoração.
Eles tiveram temor ao Senhor e mantiveram seu lugar exato diante dEle em seus
corações. Eles eram tão devotados ao Senhor, que sua adoração continuava
mesmo sob circunstâncias extremamente difíceis. Aquele que simplesmente se
aproxima com suas palavras e cuja reverência por Ele consiste só em
mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu (Is 29.13 - ARA),
não tem compreensão da verdadeira adoração. Embora possa experimentar
uma vaga sensação de Sua presença enquanto entoa hinos e cânticos, sua
revelação de Deus será extremamente superficial.

GANHANDO UMA PERSPECTIVA VERDADEIRA

Muitos dos que procuram nunca se tornam íntimos do Senhor, não se


humilham verdadeiramente diante dEle e jamais O adoram realmente. Orgulho e
outros pecados não-confessados os mantém à distância (Sl 138.6; Is 59.2).
Porém, o que é assustador é que eles pensam que estão próximos de Deus. A
soberba, como todos os pecados, tem o poder de enganar o coração de alguém,
cegando-o para sua verdadeira condição espiritual (Ob 1.3; Hb 3.13). Assim, os
mesmos elementos atuando na vida de uma pessoa que se afasta do Senhor,
simultaneamente, fazem-na acreditar que ela está realmente perto do Pai.
No livro At the altar of sexual idolatry (No altar da idolatria sexual),
escrevi sobre o poder enganador do pecado e como o processo de superá-lo leva
o homem à realidade espiritual:
As pessoas tendem a negligenciar seu pecado profundamente
enraizado porque ele tem uma natureza extremamente enganadora.
Existe uma correlação interessante entre o envolvimento de uma
pessoa com o pecado e sua percepção dele. Quanto mais a pessoa
torna-se envolvida com o pecado, menos ela o vê. Ele é uma doença
hedionda que destrói a capacidade da pessoa de compreender sua
existência. Pode ser comparado a um vírus de computador, que pode
esconder sua presença do usuário enquanto destrói sistematicamente o
disco rígido. Geralmente, aqueles mais envolvidos em pecado são os
que não conseguem notar a presença do mal dentro deles. O pecado
tem o poder de se mascarar tão bem, que poderá realmente fazer a
pessoa que lida com ele pensar, no mínimo, que é a mais espiritual.

O salmista expôs a verdade que está dentro do coração dessa pessoa quando
disse: Aos seus olhos é inútil temer a Deus. Ele se acha tão importante, que não
percebe nem rejeita o seu pecado (Sl 36.1b,2 - NVI).
Por outro lado, quanto mais uma pessoa domina o pecado em sua vida e se
aproxima mais de Deus, mais sua natureza pecaminosa se sobressai. Deus
habita na luz inacessível (1 Tm 6.16) e, assim, conseqüentemente, todo vestígio
de egoísmo, orgulho e pecado será exposto àquele que buscar o Senhor com
sinceridade. A luz intensa e brilhante de Deus expõe o que está no coração da
pessoa. Aqueles que querem aproximar-se mais do Senhor regozijam-se por
causa disso. Eles amam a Luz e, então, abraçam-nA, muito embora isso
signifique que seu verdadeiro eu seja desmascarado. Jesus disse: E a condenação
é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a
luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece
a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas
quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam
manifestas, porque são feitas em Deus (Jo 3.19-21).4
O altivo, que não deseja ser mudado, permanece em profunda ignorância
sobre seu real estado espiritual. Ele faz a própria propaganda pessoal. Assim
como os fariseus com sua auto-aprovaçao e ilusão no templo, ele pensa, ora e
acredita no melhor sobre si mesmo. Por causa desse tremendo amor-próprio, ele
se vê em uma posição de destaque.
Como é diferente o crente capaz de ser honesto consigo mesmo e confessar
o que há em seu coração! Quando inicia o amadurecimento de sua caminhada
com Deus, ele começa a reconhecer os horríveis tentáculos do pecado em todos
os lugares! Não que a iniqüidade tenha crescido; seus olhos cegos simplesmente
se abriram para o que já estava lá durante todo o tempo. Ele agora quer ver a
transgressão porque ele deseja que o Senhor o livre dela. Aquele que foi
quebrantado pelo Altíssimo não precisa ser convencido de sua condição indigna;
seu pecado está sempre diante de si.
Paulo admoestou o cristão: Digo a cada um dentre vós que não pense de si
mesmo além do que convém; antes, pense com moderação (Rm 12.3).
Geralmente, a humildade está simplesmente tendo a perspectiva adequada sobre
o Onipotente, sobre ela mesma e sobre os outros. William Law disse:
Humildade não consiste em ter uma opinião pior sobre nós mesmos do
que merecemos, ou rebaixar-nos mais do que deveríamos; mas, assim
como toda virtude está fundamentada na verdade, a humildade está
alicerçada em uma verdade e em uma impressão correta sobre nossas
fraquezas, nossa miséria e nosso pecado. Aquele que sente e vive
sinceramente nesse conhecimento sobre sua condição vive em
humildade.5

Matthew Henry expressou o mesmo sentimento:


Humildade é a estima de nós mesmos como nós realmente somos. E a
capacidade de ser conhecido, relacionar-se e ser tratado apenas de
acordo com a verdade. É a visão de nós mesmos como perdidos,
pobres e criaturas errantes.6

Ter um conhecimento verdadeiro sobre si mesmo é muito humilhante. O


benefício maravilhoso disso é que, assim como o crente se torna menor na
própria visão, Deus Se torna maior. Como a consciência da pessoa cresce sobre
as limitações de suas virtudes -resultando assim na diminuição dos efeitos da
auto-aprovação que a cegam -, o caminho se abre para que ela veja a infinita
bondade do Pai. Como ela vê o quanto é egoísta, tem maior percepção do
altruísmo do Senhor. Quando reconhecer a tão pequena quantidade de amor que
sente pelos outros, os olhos dela abrir-se-ão para o amor completo do Onipotente.
A proporção que uma pessoa se torna pequena para si mesma, ela desfruta
de uma realidade muito maior do Todo-Poderoso em seu viver. Uma área inteira
que era, anteriormente, desconhecida aparece para ela; seu espírito fica sensível
ao Reino de Deus; as Escrituras tornam-se vivas, e a oração é revitalizada.
Assim, essa crescente conscientização afeta todos os âmbitos de sua vida. Amor,
alegria e paz surgem dentro dela (Gl 5.22). Quanto mais real a presença do
Criador é para ela, mais completa ela se sente. Em essência, Deus preenche Sua
criação com vida abundante. Um cálice transbordante que, verdadeiramente,
aguarda que todo cristão se humilhe perante o Senhor.

UMA NOVA PERSPECTIVA SOBRE OS OUTROS

O resultado final de se humilhar perante o Senhor é que sua percepção


sobre as outras pessoas irá mudar drasticamente. Uma vez que seu ego tenha sido
destronado, o crente é capaz de ver os outros por meio de um prisma
completamente diferente: as pessoas se tornam mais importantes quando vistas
pelos olhos do amor de Deus.
Pedro mostrou a conexão entre a relação com o Altíssimo e os outros
quando disse: Sede todos sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade,
porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos,
pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte (1 Pe
5.5b,6).
O tipo de roupa que uma pessoa usa geralmente identifica o que ela é. Por
exemplo, um anjo das trevas usa suas "cores", os apliques de sua jaqueta que
representam a violência e o vício. Um homem de negócios mostra seu sucesso
usando um terno caro. Uma mulher sedutora atrai os olhares com uma blusa
agarrada e uma saia curta. É muito importante para esses indivíduos que sua
aparência represente adequadamente a imagem que eles querem passar para os
outros. Acredite ou não, o orgulho é o fator motivador por trás de tudo isso.
Pedro, porém, exorta os cristãos a reforçarem o próprio interior com a
submissão. Isso significa que eles devem passar essa impressão para aqueles com
quem vivem e trabalham. O seu comportamento humilde deve ser tão óbvio
quanto o agasalho que vestem. Nos tempos bíblicos, os servos usavam um
determinado adereço que os identificava como tal. Era claro para todos à sua
volta que ele era servo de alguém, um membro da classe mais baixa da
sociedade. Os ouvintes de Pedro entenderam claramente as implicações dessa
afirmação.
Jesus - que, frequentemente, falava em parábolas para mostrar a verdade -
ilustrou esse princípio espiritual, utilizando-o anteriormente com Seus discípulos.
João disse que o Mestre levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma
toalha, cingiu-se. Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos
discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido ( Jo 13.4,5).
Estando "cingido" com uma toalha e fazendo a tarefa de um servo, Ele mostrou
aos discípulos o que esperava da vida de cada um deles: seguir Seus passos,
amando e servindo aos outros.
Então, Cristo explicou Suas atitudes: Vós me chamais Mestre e Senhor e
dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós
deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para
que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que
não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele
que o enviou. Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes (Jo
13.13-17).
Jesus não instituiu um novo sacramento; simplesmente, mostrou-lhes que
um verdadeiro servo de Deus deve ter uma mente servil. Paulo usou termos
claros para explicar a relação dos cristãos com os seus semelhantes: Revesti-vos,
pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de
benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos
outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro;
assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto,
revesti-vos de caridade, que é o vinculo da perfeição (Cl 3.12-14).
Enquanto todos temos áreas de orgulho dentro da moldura de nosso caráter,
devemos esforçar-nos para nos humilhar perante Deus e os homens. Aqui estão
algumas coisas que podemos fazer para aumentar a humildade:
• Tornar nosso pecado conhecido diante do Senhor.
• Adorá-lO com verdadeira reverência.
• Tratar as pessoas com bondade, paciência e mansidão.
• Ser rápidos em perdoar os erros dos outros.
• Mostrar compaixão por eles fazendo o nosso melhor para sanar suas
necessidades.

Em outras palavras, humildade não deveria simplesmente ser um conceito


vago, mas uma parte bem real da vida diária do cristão.

Querido Senhor, reconheço que sou muito grande aos meus próprios olhos.
Por favor, humilha-me para que eu possa ver-Te melhor. Tira-me de qualquer
auto-ilusão que o orgulho ou o pecado tenham criado. Ajuda-me a
adquirir a perspectiva apropriada de mim mesmo em relação a Ti e aos outros.
Faça-me temer-Te! Dá-me um coração de servo. Purifica-me, Senhor,
para que eu possa viver humildemente diante de Ti e dos outros. Amém.
Eu costumava pensar que os dons de Deus estavam em prateleiras, uma acima
das outras, e, quanto mais crescíamos no caráter cristão, mais facilmente
poderíamos alcançá-las. Eu entendo, agora, que eles estão em prateleiras, uma
abaixo das outras, e isso não é uma questão de se tornar maior, mas de se tornar
menor e ter de descer para pegar Seus melhores dons. No serviço cristão, os
galhos que produzem mais frutos se curvam aos mais baixos.1
F. B. Meyer

Nossa humildade não deve ser apenas uma baixa auto-estima de nós mesmos,
mas ser uma remoção prática de distinções e prerrogativas e uma identificação de
nós mesmos com os mais humildes. Precisa levar ao serviço, o qual deve ter por
fim a limpeza de nosso irmão. Uma mente humilde não pensa em seus pedidos
para os outros, mas em suas obrigações para com eles.2
Alexander MacClaren

DEZ
SERVINDO AOS OUTROS

A sabedoria convencional iguala a humildade à modéstia humana. Aos


olhos do mundo, os humildes são modestos por natureza. Porém, de acordo com
o padrão de Deus, algumas vezes, as pessoas exteriormente modestas são as mais
egoístas e orgulhosas. A verdade é que a humildade divina não tem nada a ver
com uma disposição natural da pessoa. Por exemplo, Ele separou dois homens
durões e, radicalmente, transformou-os pelo poder do Espírito Santo: o
desbocado e impositor Pedro, e Paulo, que havia sido um agressor, uma pessoa
violenta. Ambos foram levados para baixo, andaram em humildade e tornaram-
se verdadeiros servos fiéis de Jesus Cristo.
Uma pessoa torna-se humilde quando sua consciência, preocupação e
devoção ao Todo-Poderoso e aos outros cresce. Paulo mesmo diz o que talvez
seja a melhor definição de humildade: Nada façais por contenda ou por
vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si
mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual
também para o que é dos outros (Fp 2.3,4).
Um aspecto essencial da humildade é viver em constante atenção à
importância que se dá às pessoas. Quando um crente se envolve na vida dos
outros, ele fica cada vez menos preocupado consigo mesmo. De maneira
contrária, o orgulhoso está voltado para si. Seus pensamentos quase sempre
giram em torno da própria opinião, de seus desejos e suas necessidades.
Socialmente, ele está interessado na própria vida e na sua família. Há um lugar
bem pequeno para o semelhante, porque ele é muito grande em sua mente. Ao
invés de servir os outros, ele procura ser servido.
Por outro lado, o cristão humilde amadurece, liberta-se desse pensamento
egocêntrico e se interessa por outras pessoas. A medida que a consciência de si
mesmo diminui, ele se torna, gradativamente, cônscio dos objetivos alheios. A
vida de seus semelhantes começa a tomar grande parte de sua consciência, e ele
se torna menor na própria mente. Ter humildade é viver preocupando-se com o
bem-estar dos outros e realizando seus interesses, suas necessidades e
dificuldades, seus sonhos e medos para fazer parte da vida de alguém. Todo
cristão deve carregar o fardo pesado dos outros para que cumpram a lei de Cristo
(Gl 6.2).
Paulo fez a seguinte exortação aos cristãos: Amai-vos cordialmente uns aos
outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros [...].
Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade;
abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com
os que se alegram e chorai com os que choram. Sede unânimes entre vós; não
ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em
vós mesmos (Rm 12.10-16).
Essa é uma definição completa de humildade e descreve o que deveria
caracterizar a vida normal do cristão. Qualquer um que tem o Espírito de Cristo
vivendo dentro de si terá uma vontade interna de ajudar aqueles que estiverem
passando necessidade à sua volta. Por exemplo, observemos o que Jesus fez em
um período de dois dias, como está registrado nos capítulos 5 a 9 do Evangelho
de Mateus:

PRIMEIRO DIA:
• Pregou o sermão da montanha.
• Curou um leproso.
• Sarou o servo do centurião.
• Curou a sogra de Pedro.
• Restaurou pessoas e expeliu demônios de muitas delas aquela noite.
• Entrou em um barco para cruzar o mar da Galileia e adormeceu.
• Acalmou uma tempestade que assaltou o barco.

SEGUNDO DIA:
• Expulsou os demônios de dois homens na outra margem.
• Cruzou o lago de volta para Cafarnaum.
• Curou um paralítico.
• Debateu com os fariseus.
• Jantou com Mateus e seus amigos.
• Curou a mulher com hemorragia.
• Ressuscitou a filha de Jairo.
• Curou dois cegos.
• Expulsou o demônio de um outro homem.

Sou grato a Mateus por ter feito esse registro da vida diária do Salvador, em
vez de, simplesmente, registrar todos os grandes eventos que aconteceram
durante Seus três anos de intenso ministério terreno. Esse relato sobre Seu
cotidiano revela Sua preocupação constante com a vida das pessoas. De acordo
com a afirmação de Sua missão, Ele não veio para ser servido, mas para servir
(Mt 20.28 - ARA).
Os verdadeiros seguidores de Cristo adotam esse mesmo raciocínio porque
Cristo vive neles. * Quando vêem a necessidade, eles são compelidos a ajudar os
necessitados. Os servos cristãos não dão ordens, como muitos ricos tratam seus
serviçais. Eles, sob a orientação de seu Mestre, vivem para satisfazer a
necessidade dos outros. De certa forma, são servos desses necessitados.
Paulo é um ótimo exemplo dessa postura de coração. Continuamente, ele se
identificava como um servo, dedicando seus 30 anos de ministério para servir e
satisfazer as carências espirituais dos gentios convertidos. O que ele enfrentou
para ajudar os outros é absolutamente fenomenal. Assim, as coisas que ele pode
ter desejado para si mesmo (conforto, segurança, prazer, prosperidade, dentre
outras) ficaram em segundo plano quando ele recebeu um chamado de Jesus
Cristo para pregar o Evangelho. Não havia coisa alguma, nem mesmo martírio,
que ele deixaria de enfrentar até o fim.
O livro de 1 Tessalonicenses revela o grande amor desse apóstolo pelas
pessoas. Leia algumas das coisas que ele disse para essa congregação, as quais
significavam muito para ele:
• Tanto mais procuramos com grande desejo ver o vosso rosto (2.17b).
• Pelo que bem quisemos, uma e outra vez, ir ter convosco, pelo menos eu,
Paulo, mas Satanás no-lo impediu (2.18).
• Porque qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura,
não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em sua vinda?
(2.19).
• Na verdade, vós sois a nossa glória e gozo (2.20);
• Pelo que, não podendo esperar mais (3.1a).
• Portanto, não podendo eu também esperar mais, mandei-o saber da vossa fé,
temendo que o tentador vos tentasse (3.5a).
• Desejando muito ver-nos, como nós também a vós (3.6b).
• Porque, agora, vivemos, se estais firmes no Senhor (3.8).
• Por todo o gozo com que nos regozijamos por vossa causa diante do nosso
Deus (3.9b).
• Orando abundantemente dia e noite, para que possamos ver o vosso rosto e
supramos o que falta a vossa fé? (3.10).
A grande devoção de Paulo por essas pessoas é óbvia. Ele passou a vida
inteira envolvido com o bem-estar delas. Sua busca por almas perdidas o levou a
um viver sem descanso. Muitos estavam perdidos na escuridão, indo para o
inferno, e ele se importou profundamente. Esse é o pensamento que todo
cristão deveria ter.
Auto Serviço

*
O religioso pode ir ã igreja e confessar os pecados óbvios e externos, mas, se não tiver uma conversão verdadeira,
ele não sentirá aquela vontade interna de satisfazer as necessidades dos outros. Tiago propõe que a fé é provada por
seus atos de misericórdia (Tg 2.13-16).
Como é diferente a mentalidade que muitos têm hoje! A história de um
jovem, cujo pseudônimo é Keith, vem à minha mente. Ele ingressou no programa
de internação do Pure Life Ministries (Ministérios de Vida Pura), por causa de
seu problema com a homossexualidade. Rapidamente, tornou-se salvo e seguiu
procurando mais liberdade de seu pecado sexual. Ele sentiu o chamado para o
ministério e, finalmente, entrou na escola bíblica com a bênção dos conselheiros.
Ficamos todos muito felizes por ele quando se graduou, dois anos mais tarde, e
estávamos ansiosos para contratá-lo quando ele viesse pedir um emprego.
Porém, quando chegou, rapidamente, ficou visível que ele havia perdido
alguns dos princípios de servidão que havíamos plantado nele. Nós o havíamos
ensinado que o principal propósito do ministério é ajudar outras pessoas. De
alguma forma, na época em que ele se formou, seu principal foco era construir
uma carreira ministerial que girasse em torno dele.
Parecia claro que ele queria ser alguém grande, e o ministério era a sua
passagem para essa grandeza.
Tal atitude se revelou, particularmente, em uma conversa que tive com ele
muitos meses depois de ele ter voltado para trabalhar conosco. Keith ainda estava
lutando com a masturbação constante. Porém, ele me disse que tinha tido um
sonho, na noite anterior, em que o Senhor disse-lhe que queria usá-lo de uma
maneira grandiosa, mas ele estava incapacitado por causa de seu hábito de se
masturbar. Eu sabia que o sonho não vinha de Deus, porque a masturbação é um
mero sintoma de algo muito mais profundo.
"Keith, o Senhor quer usá-lo, mas a masturbação não é o problema; você é
o problema!", eu exclamei. "Masturbação, raiva, amargura e outras coisas contra
as quais você luta são as fraquezas da carne. Para colocar em termos mais
simples: o problema é que você ainda está muito cheio de si mesmo. Enquanto
estiver dessa maneira, o Altíssimo estará muito limitado no que Ele pode fazer
por seu intermédio.
A outra coisa que precisa saber é que seu entendimento sobre o serviço do
Senhor está fora dos eixos", continuei. "Keith, o ministério não se deve
desenvolver em torno da idéia de você ser usado de uma grande maneira. Esse
tipo de pensamento é alheio ao Reino de Deus. Sua perspectiva é que você faça
grandes coisas para o Senhor. Toda a sua motivação para o serviço está centrada
em torno da sua vida: o que ganhará com isso, como as pessoas olharão para
você, quão grande você parecerá aos outros".
"A grandeza no Reino de Deus gira em torno do Senhor, não do
trabalhador", concluí. "O Senhor é o único com o coração magnânimo. Ele é
quem possui um amor enorme pelos outros e o único com poder para fazer
qualquer coisa para ajudá-los. Nossa parte Richard Sobotka tem 23 anos de
idade. Quando tinha nove, sofreu de síndrome de Reye, uma doença que causa a
destruição do tecido nervoso, deixando seqüelas irreversíveis. Seu efeito em
Richard foi a perda da capacidade de se comunicar e algumas habilidades
motoras. Ele respira por meio de um tubo de traqueotomia, o que parece ser um
grande problema, mas Richard aprendeu a servir ao Senhor como ele é.
No último outono, ele decidiu recolher as nozes caídas no chão da
propriedade de seus pais. Ele poderia vendê-las e ganhar algum dinheiro.
Richard gastou uma semana inteira nesse trabalho, que, para ele, era uma
grande tarefa, uma vez que seus problemas de saúde não permitiam muitos
movimentos.
Ele se sentava no chão, pegando os frutos com dois dedos que
funcionavam, e os colocava dentro da sacola. Sua colheita foi impressionante:
122 quilos de nozes foram coletadas dentro de 16 a 20 sacos. Richard levou-as
para o comércio local e recebeu 21 dólares e 60 centavos por seu trabalho.
Em vez de guardar esse dinheiro para o próprio uso, ele decidiu mandá-lo
para os missionários Bill e Judy Kirsch, na África do Sul. Bill escreveu que "foi a
oferta mais generosa que eles já haviam recebido [...]. De muitas formas, Richard
é um exemplo para todos nós. Ele é o modelo do tipo de servo e do auto-
sacrifício que agrada a Cristo e que, geralmente, negligenciamos em nossa
abundância e riqueza".3Quando Deus chama um crente para a vida eterna, Ele
também o convoca para Seu serviço. A Igreja é denominada Corpo de Cristo,
onde cada membro tem seu lugar. O Senhor planejou um ministério que se
adéqua perfeitamente ao temperamento, às habilidades e à fé que cada cristão
possui. A. B. Simpson fez a seguinte declaração:
Existe algo que só você pode fazer; há alguém que somente você pode
alcançar. Seu talento pode vir de uma habilidade natural ou influência
social, de recursos financeiros, de alguma posição na igreja, no
mundo, ou de oportunidades especiais trazidas a você com relação à
sua vida profissional. Esse é o resumo de todas as possibilidades de
utilidade em sua vida. Deus espera que você faça o melhor por Ele e
pelos outros; Ele irá chamá-lo para prestar conta na volta de Cristo
pelo uso que você fez de sua vida.4

Como servos de Cristo, é nossa responsabilidade descobrir a vontade do


Altíssimo para nós. Richard não tinha muito a oferecer, mas doou tudo o que
possuía. As possibilidades de se envolver nas necessidades dos outros são
ilimitadas. Asilos estão sempre procurando por voluntários para ajudar os idosos
que foram esquecidos e abandonados pela família e pelos amigos. Que lugar
maravilhoso para retribuir ao Pai por toda a misericórdia que Ele tem
demonstrado. Os ministérios carcerários precisam de homens que despertarão
interesse nos que estão atrás daquelas grades. As cozinheiras precisam de pessoas
que sirvam sopa aos incapacitados.
Ministérios paralelos aos da igreja podem usar voluntários para ajudar.
Vizinhos idosos sempre podem ser auxiliados por alguém que lave a roupa, leve-
os às compras, corte seu gramado, e assim por diante. Muitos pastores estão
sobrecarregados com as obrigações pastorais e vários problemas relativos aos
membros da sua congregação; eles dispõem de poucas pessoas que podem ceder
seu tempo. Um cristão capaz de ajudar pode perguntar ao seu pastor se há algum
trabalho que precisa ser feito na igreja de vez em quando. Uma pessoa que tenha
habilidades de mecânica pode oferecer-se para ajudar com os veículos do
ministério ou na manutenção. Aqueles que têm habilidade administrativa podem
colocar-se à disposição para digitar os trabalhos, preparar um boletim mensal,
agendar as visitas e um grande número de outras coisas. Pessoas simpáticas
podem trabalhar saudando os visitantes nas manhãs de domingo, visitando
membros novos ou ensinando na escola dominical. Qualquer um desses serviços
de misericórdia são tão importantes quanto pregar e ensinar no Reino de Deus.
Não são poucas as necessidades para se ajudar. O Todo-Poderoso tem um
propósito para a vida de cada um. Ele tem alguma tarefa que é especialmente
adequada para cada pessoa. O que é importante para o crente é envolver-se
auxiliando os outros da maneira que puder. Esse é o raciocínio do Reino dos
céus. O que pode ser mais gratificante na terra do que fazer a vontade do
Altíssimo? Aqueles que não estão atendendo completamente o chamado de Deus
nunca terão conhecimento da alegria que estão perdendo.

Querido Senhor, por favor, convence-me da minha falta de preocupação pelos


outros. Põe um fardo em meu coração que me pressione dia após dia, até que eu
responda. Ajuda-me a ver a necessidade dos outros e dá-me a graça de fazer a
minha parte para satisfazer suas necessidades. Faze Tua vontade conhecida
para mim e eu prometo que obedecerei ao Teu chamado. Obrigado, Senhor.
Amém.
Muitos de nós valorizamos a qualidade em uma pessoa que, quando fala conosco,
diz: "Você, certamente, é igual a mim e, em muitas formas, melhor que eu".1
Anônimo

As pessoas são, por natureza, egoístas, e é a forma da religião que as faz


benevolentes. Naturalmente, procuram os próprios interesses, mas o Evangelho
ensina-lhes a considerar o bem-estar dos outros. Se estivermos verdadeiramente
sob influência religiosa, não haverá sequer um membro da igreja por quem não
nos interessaremos e para quem faremos de tudo a fim de promover o bem-estar
em todas as oportunidades que tivermos.2
Albert Barnes

ONZE

DIMINUIR-SE EM HUMILDADE
Todos os cristãos sinceros perseguem impiedosamente tudo na vida deles
que é desagradável para Deus. Eles desejam profundamente ser puros de coração
(Mt 5.8). Eles compreendem que a Terra é uma provação temporária e que todo
pensamento e qualquer palavra e ação serão julgados um dia. Aquilo que
permitiram que o Criador fizesse dentro deles e por intermédio deles determinará
a qualidade e a medida da recompensa que receberão na eternidade, as quais,
segundo eles, serão fundamentadas, primeiro, no grau que permitiram que Deus
os conquistasse e os moldasse para ser a imagem de Jesus Cristo (Rm 8.29). A
oração de Davi está continuamente em seus lábios: Sonda-me, ó Deus, e conhece
o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim
algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno (Sl 139.23,24).
Quão diferente é o pensamento daqueles que vivem apenas pelo dia de
hoje! A Bíblia os chama de tolos: aqueles que não ponderam e tomam decisões
fundamentadas em resultados imediatos. Certamente, o que as Escrituras dizem
sobre eles é verdade:
• Os loucos desprezam a sabedoria e a instrução (Pv 1.7b).
• O caminho do tolo é reto aos seus olhos (Pv 12.15a).
• Os loucos zombam do pecado (Pv 14.9a).
• O tolo encoleriza-se e dá-se por seguro (Pv 14.16b).
• O tolo despreza a correção de seu pai (Pv 15.5a).
• O coração dos tolos está na casa da alegria (Ec 7.4b).

Essas passagens são um bom lembrete da importância de permitir que o


Espírito Santo complete Sua obra dentro do nosso coração. Há muito em risco, e
é um fato inegável que uma das maiores necessidades do homem é ser
humilhado. Até aqui, grande parte deste livro tratou acerca do orgulho e da
humildade sob um ponto de vista teórico. Agora, apresentarei alguns passos
concretos que o leitor poderá seguir para cooperar completamente com a obra de
Deus em sua vida.

LIDANDO COM O ORGULHO

Se você deseja andar em humildade, deve, primeiro, determinar quais as


formas de orgulho que estão atuando em seu coração. Faça a si mesmo as
seguintes perguntas:
• "Existem ocasiões em que me comporto de maneira superior aos outros?"
• "Procuro e tento ganhar a admiração das pessoas?"
• "Sou sensível e defensivo?"
• "Tenho a tendência de me comportar como o 'sabe-tudo'?"
• "Sou rebelde para com os meus líderes?"
• "Resisto à autoridade de Deus em meu viver?"
• "Tento receber a glória por aquilo que o Pai fez em minha vida ou por meio
dela?"

É sábio lidar com essas questões antes do Senhor e pedir a Ele que revele as
áreas de seu coração que estão sendo marcadas pelo orgulho.
Se formos honestos, identificaremos facilmente vários tipos de orgulho
atuando em nosso coração. Sem perder a coragem ou sentir autopiedade,
entregue cada uma delas para o Altíssimo individualmente. Tome consciência
delas e peça para que Ele lhe perdoe por todas as vezes que isso tenha levado
você a destratar o Senhor e as outras pessoas. Você pode lembrar-se também de
algumas coisas que tenha pensado, dito ou feito e pode ter a vontade de ir até
aqueles contra quem você pecou e pedir perdão.
Tendo-se arrependido, agora é hora de tomar alguma atitude contra cada
tipo de orgulho que você tem enfrentado. Parte disso irá contrabalançar suas
tendências orgulhosas naturais, diminuindo o orgulho e aumentando a humildade
(Ef 4.22-24). Por exemplo, o soberbo precisa fazer coisas que o rebaixarão (em
sua mente) ao nível das pessoas. Se ele é arrogante em relação às virtudes de
outros, deverá desenvolver o hábito de parabenizá-los pelas conquistas.
Transferindo, dessa forma, o foco de si mesmo para os demais, ele poderá
contribuir muito para derrotar uma atitude altiva. É preciso também desenvolver
o hábito de comentar seus erros com aqueles que estão à sua volta. Por exemplo,
Bill Johnson poderia melhorar se considerasse realmente por que as pessoas
gostam muito mais do Jim, o zelador, do que dele.
A pessoa vã precisa lidar com sua inclinação de procurar a aprovação dos
outros. Embora a vaidade não seja uma forma de orgulho contra a qual eu tenha
de lutar, posso ver muito claramente minha propensão de me mostrar da melhor
maneira possível. Para combater essa inclinação natural, geralmente, coloco-me
propositalmente em situações em que fico exposto de maneira desagradável. Por
exemplo, se estou indo às compras com a minha esposa, em vez de usar roupas
para situações casuais, prefiro colocar minha calça jeans, suja de lama, e as
botas que eu uso em minhas caminhadas de reflexão, durante as manhãs, no
campo. Talvez, isso pareça bobo e desnecessário, mas é uma coisa pequena que
posso fazer para ir contra a tendência natural do meu orgulho. Acredite em mim,
esse tipo de comportamento opera maravilhas para acabar com a necessidade que
a pessoa tem de se sentir altamente gratificada.
Alguém que luta contra a tendência de ser extremamente protetor vê as
coisas de maneira diferente. Ele deve baixar a guarda e dar-se conta de que está
tudo bem se ele é visto um pouco aquém da perfeição. De fato, é uma experiência
libertadora que o ajudará a ser mais simpático e amável. Enquanto ele aprende a
se tornar mais vulnerável aos outros, descobre que seus muros e suas torres de
proteção - que representam o medo do homem e só podem ser substituídos
quando uma grande preocupação com os outros crescer - ruirão. O apóstolo do
amor disse: No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.
Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no
amor (1 Jo 4.18). Em outras palavras, quanto mais você se envolve com a vida
dos outros, menos medo terá dentro de si.
Um indivíduo rebelde ou que tende a ser inatingível deve lidar sem
misericórdia com seu orgulho, porque o confronto é uma parte vital no Reino de
Deus. Seria uma atitude sábia aproximar-se de seus líderes espirituais e/ou
daqueles próximos a ele, apresentando essas inclinações e pedindo a interferência
dessas pessoas em sua vida. As sábias palavras de Salomão expressam por que
isso é tão vital: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que
censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que
te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á*(Pv 9.7,8).
Uma pessoa muito qualificada, geralmente, luta contra o orgulho do sabe-
tudo em suas áreas de interesse; ela pode estar muito satisfeita sobre seu nível de
conhecimento. Uma boa maneira para lutar contra essa atitude é propositalmente
pedir orientação e informação aos outros sobre diferentes assuntos. Isso pode ser
extremamente difícil (e humilhante) para ela, porque é muito talentosa. Porém,
isso irá fazer-lhe um bem tremendo e, ao mesmo tempo, será uma bênção para os
outros.
O orgulho espiritual exige um grande acordo de arrependimento profundo
diante de Deus. Alguém que lida com essa forma de soberba tende a exagerar em
sua espiritualidade. Seria prudente pedir ao Senhor que lhe desse uma visão
maior do quanto está perdendo espiritualmente. Tal indivíduo não pode fazer-se
pobre de espírito, mas tem a possibilidade de procurar o Altíssimo para que Ele o
faça.
Andar contra a tendência natural do orgulho na vida ajuda tremendamente a
mantê-lo sob controle. Uma palavra de atenção deve ser mencionada aqui.
Enquanto você começa a ver formas diferentes de orgulho em sua vida,
inevitavelmente, torna-se mais consciente delas na vida dos que estão à sua volta.
Você deve policiar-se contra essa propensão e evitar criticar essas pessoas. Em
vez de apontar erros delas, procure maneiras de servir.

FORMAS DE SE HUMILHAR
Além de lidar com atitudes orgulhosas específicas que você possa ter,
existem outras coisas práticas que você pode fazer para se humilhar diante dos
outros.
Antes de tudo, deve mudar a maneira que vê aqueles que estão ao seu redor.
Em lugar de enxergá-los como rivais, considere-os objetos do seu amor, seu
respeito e sua afeição. Deus os ama e mandou Seu Filho para morrer na cruz para
que eles pudessem ter vida. Eles devem ter o melhor daquilo que você puder
oferecer. Em uma manhã em oração, durante os anos iniciais de meu ministério,
o Senhor colocou em meu coração que os homens que viriam para o nosso
programa de internação eram Seus convidados especiais e deviam ser tratados
como tal. Essa revelação realmente mudou a maneira de vê-los a partir daquele
momento.
Em segundo lugar, reconheça como o espírito desse mundo tem afetado
suas perspectivas de vida e a forma como você se vê e observa os outros. Pense
nas palavras de William Law, que escreveu o seguinte muitos séculos antes de a
televisão, o rádio e os computadores começarem a influenciar o pensamento
moderno:
O demônio é chamado, nas Escrituras, de príncipe deste mundo pelo
fato de ele ter grande poder aqui. Muitas de suas regras e seus
princípios são criados por esse espírito maligno, que é o pai de todas
as mentiras e falsidades, as quais nos separam de Deus e evitam nosso
encontro com a felicidade.
Agora, de acordo com o espírito e a moda desse mundo, cujo ar
corrupto todos nós temos respirado [...], não ousamos tentar ser
importantes à vista de Deus e dos anjos, por medo de sermos
pequenos aos olhos do mundo.
Nessa área, surgem as maiores dificuldades da humildade, porque ela
não pode existir em qualquer mente, mas, até agora, está morta para
esse mundo e separada com todos os desejos de aproveitar sua
grandeza e honra. Assim, para ser verdadeiramente humilde, você
deve desaprender todas as noções que aprendeu em sua vida toda
acerca do espírito corrupto desse mundo. Você pode não se posicionar
contra as investidas do orgulho e, talvez, as afeições mansas da
humildade não tenham lugar em sua alma, até que você barre o poder
desse mundo sobre você e decida contra a obediência cega às suas
leis.3

Depois, mude a forma com que você interage com os seus semelhantes.
Uma das coisas que ensinamos aos homens que vêm para o nosso programa de
internação é resumida na frase: "Colocar-se abaixo dos outros". Quando existe
um conflito entre duas pessoas, de uma forma muito real, cada uma delas é
tentada a passar por cima da outra com seu argumento ou sua vontade. Na
maioria das vezes, a pessoa humilde permite que a outra faça isso. Por exemplo,
quando as duas têm opiniões contrárias sobre um assunto controverso, a que é
humilde,
graciosamente, permite que a outra expresse seu ponto de vista sem ter a
necessidade de discutir. Salomão disse: Como o soltar as águas, é o princípio da
contenda; deixa por isso a porfia, antes que sejas envolvido (Pv 17.14). Ele
também declarou: A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita
a ira (Pv 15.1). Permitir que a outra pessoa expresse sua opinião sem discussão
não significa que você concorde com o que ela está dizendo; simplesmente quer
dizer que você tem a sabedoria para compreender que nada de bom resultará de
um desentendimento. Uma boa maneira de lidar com esse tipo de disputa é sorrir
e dizer: "Eu entendo sua opinião" e, delicadamente, mudar de assunto.
Se perceber que há a possibilidade de trocar idéias com a pessoa, você
poderá dizer: "Sim, acho que entendo por que você se sente assim. Talvez, eu
esteja completamente errado, mas a maneira com que vejo isso é...". Expresse sua
opinião de maneira gentil e observe a reação dela. Se perceber que ela se recusa a
entender, mude para a atitude mencionada acima. Mantenha-se em paz e evite
conflitos desnecessários.
Esse conceito de colocar-se abaixo também envolve permitir que os outros
consigam o que querem, ainda que isso esteja sob seu poder. Se alguém deseja o
último pedaço de torta, deixe. Se ultrapassa seu carro no trânsito, não arranje
encrenca por causa disso. Se não tem ânimo de sair para jantar, mas sua esposa
quer, vá com ela! Uma das marcas do verdadeiro cristianismo é desistir da
vontade própria em favor da dos outros. Não é necessário dizer que isso não se
aplica ao caso de um pai ou uma mãe disciplinando uma criança, um professor
insistindo para que o aluno complete sua lição, um pastor repreendendo um falso
mestre, e assim por diante.
É também muito importante assumir rapidamente quando você está errado.
Se discutir com alguém, desculpe-se pela sua falta de tato, ainda que as pessoas
sejam capazes ou não de fazer o mesmo. Você estará apto para sair dessa
situação sabendo que agradou a Deus.
Uma das dificuldades que muitos têm em dizer que estão errados é que eles
estão muito acostumados a pensar que estão sempre certos. Porém, ainda que
alguém não esteja errado sobre o que disse para o outro indivíduo, existem
chances de a atitude em seu coração estar errada. Os fariseus eram "corretos" em
muitas coisas que ensinavam, mas quão terrivelmente errados eles estavam em
seu auto-aprovado desdém pelos outros. Seja rápido para se desculpar e pedir
perdão; seja devagar para se defender. Existem cristãos tão orgulhosos, que,
literalmente, vivem anos sem admitir algum erro sobre qualquer coisa!
Sempre esteja pronto para dar crédito quando for necessário. Tome nota das
coisas boas que as pessoas fazem. Deixe-as saber que você admira os esforços
delas. Adquira o hábito de promovê-las, ao invés de elevar si mesmo. Um pastor
disse:
Se amarmos os outros da mesma forma que Jesus ama, iremos
regozijar-nos tanto em vê-los tendo êxito e sendo destacados, que mal
perceberemos que, em nossos esforços para ajudá-los, ficamos por
último".4
O Salvador também declarou: E como vós quereis que os homens vos
façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também (Lc 6.31).
Por último, envolva-se com a vida das pessoas e mostre que você se
preocupa com elas. No último capítulo, exploramos diferentes maneiras possíveis
para ajudar as pessoas a satisfazer suas necessidades. Você não só deve agir
gentilmente, mas também ter uma atitude de preocupação por elas. Por exemplo,
envolva-as em conversas sobre si mesmas: "O que você faz para viver?; Como
vão as coisas em seu trabalho?; "Você tem filhos? Fale-me sobre eles."; "Onde
você morou na sua infância? Sua família ainda reside lá?"; "Em que parte da
cidade você mora? Você gosta de lá?".
As pessoas adoram falar sobre si mesmas. Perguntas como essas irão ajudá-
las a se abrir e ver que você se importa com elas. Enquanto se envolve com a
vida delas, vê o amor de Deus em relação a elas crescendo dentro do seu coração.
Pode parecer mecânico e artificial, a princípio, mas não permita que isso o
desanime! O Senhor está derramando Seu grande amor pelos outros dentro de
você. Faça tudo o que estiver ao seu alcance para cooperar com os esforços de
Deus. Todos aqueles com quem você entra em contato são extremamente
importantes para o Onipotente. Ele ficaria muito satisfeito se você se interessasse
pela vida deles.

Querido Senhor, vê os diferentes tipos de orgulho em meu


coração. Eu entendo o fato de que eles estão agindo dentro de
mim. Senhor, por favor, ajuda-me a destruir cada um deles,
os quais me tornam feio e limitam minha habilidade para
dar testemunho de Ti perante os outros. Espírito Santo, eu
Te convido a me condenar toda vez que eu agir ou pensar
dessa maneira novamente. Senhor, eu me arrependo e prometo
fazer o que estiver ao meu alcance para deixar de
me comportar assim com as outras pessoas. Por favor,
arranca isso do meu coração. Eu Te peço para me humilhar
e ajudar-me a ver quão pequeno eu sou.
Obrigado por me ajudar.
Amém.
A humildade é uma qualidade amável que força nossa estima em qualquer lugar
que formos. Não existe a possibilidade de desprezar a menor pessoa que a tenha
ou de superestimar o maior homem que não a tenha.¹
William Law

DOZE

SANTOS IRRESISTÍVEIS
Até agora, examinamos a questão do aborrecimento de Deus com relação
ao orgulho e sua admiração pela humildade. A premissa deste livro, a qual tentei
estabelecer por meio das Escrituras, é que a soberba cobra um preço
terrivelmente alto sobre a vida de uma pessoa, enquanto a humildade traz o favor
do Senhor e Suas bênçãos.
Em uma cultura onde é tão fácil fazer muito dinheiro em um curto período
de tempo e em um ambiente religioso no qual os ministros são recompensados de
acordo com as habilidades naturais e o carisma que possuem, as bênçãos do Pai,
geralmente, tornam-se algo corriqueiro. Se alguém almeja regenerar-se, por que
deveria seguir pelo caminho estreito do quebrantamento e da humildade? A
resposta é que cristãos sinceros desejam agradar a Deus e viver em uma
perspectiva eterna. Um dia, aqueles que falsificaram seu caminho para o topo
serão expostos como realmente são, enquanto os que se humilharam perante o
Altíssimo serão publicamente recompensados.
Admito que, pessoalmente, não viajei até muito longe nesse percurso por
meio da humildade. Porém, posso enxergar essa condição e estou determinado a
resolver isso independente do tempo que possa custar. Quero que minha vida seja
agradável para Deus e, depois de tudo o que Ele fez por mim, não quero colocar-
me diante dEle com um legado de orgulho e egoísmo.
Tendo dito isso, concluirei este livro com as histórias de três santos
renomados, cujas vidas testificam o fato de que o Todo-poderoso dá graça aos
humildes. É fácil ver como o Senhor os honrou e usou grandemente a vida deles
em Seu Reino. A biografia de cada um deles é bem-conhecida, por isso, irei
centralizar-me nas afirmações e situações interessantes que revelam o caráter de
cada um.

TREMENDO DIANTE DE DEUS


Porque quem despreza o dia das coisas pequenas?
Zacarias 4.10ª

Talvez você pense que uma das maiores denominações tenha surgido com o
movimento missionário moderno, que seu pioneiro deve ter sido abençoado em
alguma das grandes catedrais e tenha sido o tema de uma gloriosa celebração de
despedida. Porém, foram formas modestas que inauguraram esse monumental
segmento da história da Igreja.
Ainda jovens cristãos, William Carey e um casal de amigos formaram uma
sociedade de missões para estudar a idéia de levar o Evangelho à índia. Porém,
quando eles compartilharam suas idéias no encontro de ministros da região,
foram ridicularizados. Ainda entusiasmado, William começou a fazer planos para
ir àquele país. Após saber de seus planos, seu pai lhe escreveu uma carta,
criticando-o e reprimindo-o por um propósito tão tolo. Pior do que isso, sua
esposa se recusou a acompanhá-lo ou permitir que seus filhos fossem também.
William respondeu à sua mulher em uma carta datada de 6 de maio de 1793:
Se tivesse o mundo todo, eu dá-lo-ia facilmente para ter você e meus
filhos aqui comigo, mas o senso de obrigação é tão forte, que se
sobrepõe a todas as outras considerações. Não posso voltar sem sentir
culpa em minha alma.

Dorothy finalmente cedeu, e a pequena comissão embarcou em um navio


que chegaria a Calcutá seis meses depois.
O movimento missionário moderno começou com muita oposição. Em
poucos meses, o dinheiro havia acabado. Quando parecia que nada mais podia
piorar - viver em um país estranho onde eles não conheciam pessoa alguma -, a
Sra. Carey e seu filho ficaram seriamente doentes. Apesar disso, Deus interveio,
e logo eles se restabeleceram e ficaram aptos para obter uma renda modesta.
Infelizmente, o coração de Dorothy não estava ligado ao de William nessa
empreitada. Em vez de ver isso como uma oportunidade maravilhosa de servir ao
Senhor e levar o cristianismo a uma nação mergulhada na escuridão espiritual,
tudo o que ela via era as dificuldades. Quando seu filho mais novo morreu, ela
chegou ao limite emocional. Os primeiros sete anos da família Carey, na índia,
foram extremamente difíceis, mas esse período foi crucial, quando sua fé foi
testada e a vida própria, esmagada.
De vez em quando, outros provenientes da Inglaterra se uniam a eles. Logo,
o pequeno grupo de missionários ocupou-se na tradução de partes das Escrituras
para a língua local. Durante os 30 anos seguintes, William traduziu toda a Bíblia
em 25 línguas e dialetos indianos diferentes. Em 1825, ele escreveu: "O Novo
Testamento será impresso, em breve, em 34 línguas, e o Antigo Testamento, em
8, além das versões em três variedades do Novo Testamento hindu". Não fez
apenas isso, mas também abriu muitas escolas para ensinar às crianças e um
colégio bíblico que formaria muitos ministros ao longo dos anos.
Embora tenha enfrentado um começo humilde, Deus usou poderosamente a
vida desse homem para abrir uma região inteira do mundo, a qual havia sido
selada contra o Evangelho. No entanto, assim que sua vida começou a chegar ao
fim, ele dedicou ao Senhor todo o louvor de suas conquistas. George Gogerly,
um de seus contemporâneos, conta sobre sua visita ao velho missionário dias
antes de sua morte.
Ele estava sentado perto de sua escrivaninha, vestido com sua roupa
habitual. Seus olhos estavam fechados, e suas mãos, unidas... [Sua
aparência] encheu-me de algo como um grande respeito, pois ele
parecia estar ouvindo as ordens de seu Mestre e pronto para partir.
Fiquei sentado lá por cerca de meia hora sem dar uma palavra, pois eu
temia quebrar seu silêncio e trazer de volta à Terra o espírito que
parecia estar quase no paraíso. Por fim, porém, falei, e lembro-me
muito bem das palavras que trocamos.
"Querido amigo", Gogerly disse, "você parece estar diante do portão
da eternidade. Não pense mal de mim ao perguntar sobre seus
pensamentos e sentimentos".
A questão fez o Dr. Carey corar. Vagarosamente, ele abriu os olhos e,
então, com uma voz fraca e profunda, respondeu: "Eu sei em quem
tenho crido, e estou convencido de que Ele é capaz de manter aquilo a
que fui ordenado por Ele até este dia. Mas, quando penso que estou
para entrar na santa presença de Deus e lembro-me de todos os meus
pecados, eu tremo".2

Ele morreu dois dias depois.


Poucos dias antes dessa visita, enquanto sua saúde parecia deteriorar-se sem
qualquer chance de recuperação, um outro amigo perguntou-lhe se havia alguma
preferência por uma passagem específica da Bíblia para ser usada no sermão de
seu funeral. Ele respondeu: "Oh, sinto que uma criatura tão pobre e pecadora não
pode ter nada de útil para ser dito a respeito dela; mas, se um discurso fúnebre
deve ser pregado, deixe-o ser com as seguintes palavras: Tenha misericórdia de
mim, ó Deus, de acordo com a Sua bondade e a multidão de Sua terna
misericórdia sobre as minhas transgressões".
Segundo seu desejo, gravado em sua lápide estavam as seguintes palavras:

William Carey

Nascido em 17 de agosto de 1761 e morto em 9 de junho


de 1834

Um pecador, pobre e verme inútil.


Em Seus ternos braços eu descanso.

DEPENDENTE COMO UMA CRIANÇA

Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no
Reino dos céus.E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta
a mim me recebe. Mateus 18.4,5
Depois de muitos anos de ministério na Inglaterra, George Mueller
começou a sentir grande compaixão pela terrível situação dos órfãos daqueles
dias. Seu coração sofria pelas crianças maltrapilhas largadas nas ruas. Ele
decidiu que deveria fazer alguma coisa e alugou uma casa para 26 garotinhas em
uma área residencial de Bristol. Durante muitos anos, três outros imóveis foram
alugados também, dando residência para mais cem meninos e meninas.
O aspecto marcante do ministério de Mueller foi que ele nunca falou das
próprias necessidades para os outros. Ele, simplesmente, pedia a Deus que
tocasse as pessoas para contribuírem com seu trabalho. Essa determinação em
confiar apenas no Onipotente pôde ser testada muitas vezes. A seguinte história é
tipicamente a forma com que ele dependia do Senhor para qualquer necessidade.
Em uma manhã, os pratos, as xícaras e travessas sobre as mesas
estavam vazias. Não havia comida na despensa nem dinheiro para
comprar mantimento. As crianças aguardavam a refeição matinal,
quando Mueller disse: "Crianças, vocês sabem que está na hora de ir à
escola". Erguendo as mãos, ele disse: "Pai querido, nós Te
agradecemos por aquilo que Tu irá conceder-nos para comer". De
repente, escuta-se uma batida na porta. O padeiro estava lá, de pé, e
disse: "Sr. Mueller, não pude dormir na noite passada. De alguma
forma, senti que vocês não tinham pão para o café da manhã, e o
Senhor quis que lhes trouxesse alguns. Então, levantei-me às duas
horas da manhã, assei alguns pães e os trouxe". Mueller agradeceu ao
homem. Mal havia acontecido isso quando se escutou uma segunda
batida na porta. Era o leiteiro. Ele contou que seu carro havia
quebrado exatamente na frente do orfanato e gostaria de doar seu leite
fresco para as crianças, a fim de que ele pudesse esvaziar seu carro e
consertá-lo. Não é de se surpreender que, passados alguns anos,
quando Mueller viajava o mundo como evangelista, ele fosse
conhecido como o homem que recebia as bênçãos de Deus!3

Em 1846, o Sr. Mueller sentiu-se movido a mudar as crianças daquele lugar


apertado de sua vizinhança. Além disso, pedidos de outros pequeninos, também
necessitados, continuavam a despencar sobre sua mesa. Ele tinha de fazer mais!
Começou, então, a sondar Deus sobre a possibilidade de construir um prédio.
Passados três anos, a primeira Casa dos Órfãos ficou pronta, com quartos para
acomodar 335 crianças!
Mal essa casa havia sido terminada, George desejou construir mais uma.
Havia muitas crianças necessitadas, mas, pela graça de Deus, ele ajudaria tantas
quantas pudesse. Mais uma vez, começou a orar. Ele não estava preocupado se o
Senhor iria ou não prover tal necessidade, mas sim com seus motivos. Ele
pensava:
Construir uma nova Casa dos Órfãos fará sentir-me orgulhoso? Há o
perigo disso... Um décimo do serviço que Ele me confiou seria
suficiente para me encher de soberba. Não posso dizer que o Senhor
tenha-me mantido humilde, mas posso declarar que Ele me tem dado o
desejo profundo de Lhe dar toda a glória. Não vejo, porém, que o
medo do orgulho possa prender-me de ir mais adiante com esse
trabalho. Ao invés disso, peço que o Senhor me dê uma atitude
humilde.4

No período de nove anos da construção de sua primeira casa, ele abriu mais
duas. Isso permitiu o cuidado de mais de 1.200 órfãos. Em 1870, ele tinha cinco
orfanatos funcionando com mais de duas mil crianças sendo atendidas.
Certa ocasião, ele disse: Se eu estivesse largado à minha própria sorte, eu
teria sido presa (de Satanás) imediatamente. O orgulho, a descrença ou outros
pecados seriam minha ruína e iriam levar-me a trazer desgraça sobre o Nome de
Jesus. Pessoa alguma deve admirar-me, surpreender-se com minha fé ou pensar
em mim como alguém maravilhoso. Não, estou mais fraco como nunca. Preciso
aumentar a minha fé e todas as outras graças.5
O Sr. Mueller morreu em 1898. Não muito tempo antes disso, um amigo lhe
disse: "Quando Deus chamar seu nome, Sr. Mueller, será como um navio na baía
a todo vapor".
"Oh, não", ele disse, "é o pobre George Mueller, quem precisa pedir
diariamente: aumenta a minha fé... para que meus pés não afundem". 6

PEQUENO AOS PRÓPRIOS OLHOS

Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
2 Coríntios 12.9a – NVI

Hudson Taylor, um homem de pequena estatura que tinha um grande amor


pela China, nasceu na Inglaterra em 1832. Enquanto jovem, ele sentiu o chamado
de Deus em sua vida para o campo missionário e ingressou na faculdade de
Medicina. Mal sabia ele como severamente seria testado nos anos seguintes.
Enquanto ainda estava em Londres, ele adoeceu de forma muito grave e ficou tão
doente por meses, que mal podia levantar-se da cama. Passado algum tempo,
finalmente, melhorou e reservou uma passagem para um navio que iria para a
China.
Taylor chegou em Shangai em 1854 e logo começou a visitar o interior para
pregar o Evangelho. A falta de resposta das pessoas o levou a concluir que o
problema era que ele estava vestido de maneira muito estranha para aquele povo.
Para o deleite de outros missionários, o jovem rapaz trocou suas vestes européias
pelas das pessoas da região.
Em uma viagem evangelística, Taylor e seus companheiros de viagem
foram avisados para não entrarem na cidade que se aproximava, ou os soldados
dali, certamente, iriam matá-los. Eles não mudaram de idéia, pois estavam certos
de que o Altíssimo os havia mandado até lá. Ele conta o que aconteceu enquanto
se aproximavam da cidade:
Muito antes de alcançarmos o portão, porém, um homem alto e
poderoso, criado para ser dez vezes mais agressivo, fez-nos saber que
toda milícia não estava muito pacificamente inclinada, segurando o Sr.
Burdon pelos ombros. Meu companheiro tentou escapar dele. Virei-
me para ver qual era o problema e, imediatamente, estávamos
rodeados por uma dúzia ou mais de homens brutos que nos forçaram
com passos largos para dentro da cidade. Minha mala começou a
parecer muito pesada, e eu não podia trocá-la de mãos para aliviar-me.
Logo eu estava coberto de suor e mal podia acompanhar seus passos.
Tinham mandado levar-nos até o chefe, mas nos disseram, por meio
dos maiores insultos, que eles sabiam onde nos buscar e o que fazer
com pessoas como nós. O homem que havia segurado o Sr. Burdon
logo o trocou por mim e tornou-se meu principal tormento, por eu não
ser nem tão alto e nem tão forte quanto o meu amigo e, portanto,
menos capaz de resistir a ele. Tudo o que aquele homem fez foi bater-
me muito, levantar-me pelos cabelos, segurar meu colarinho até quase
me sufocar e apertar meus ombros e meu braços até que eles ficassem
muito marcados. Se esse tratamento tivesse continuado por muito
tempo, eu teria desmaiado.7

Finalmente, eles foram levados até o escritório do chefe e, então, foram


tratados com mais respeito. O chefe se sentiu tão mal sobre o abuso que eles
haviam sofrido, que mandou alguns homens com eles para protegê-los enquanto
pregavam e estudavam os livros! Assim, Deus usou o ataque de Satanás para
espalhar o Evangelho.
Taylor continuou a viajar pela China, pregando em todas as oportunidades,
ensinando a literatura e mostrando sua capacidade de sofrer pela causa de Cristo.
Em 1865, já no campo missionário por 11 anos, o Senhor moveu-o para iniciar
uma organização com a intenção específica de alcançar o inatingível interior
daquele país do Oriente. Ele viajou de volta à Inglaterra, orando e escrevendo
sobre a grande necessidade de evangelizar os milhões de almas perdidas na
China. Ele também começou a pedir a Deus que mandasse trabalhadores para que
ele pudesse empreender um trabalho bem grande.
Um número de pessoas atendeu ao seu chamado e se juntou a ele e à sua
esposa na China. Algumas, mais tarde, caíram no orgulho contra Hudson e
retornaram à Inglaterra, espalhando mentiras maliciosas sobre ele, que se recusou
a responder, ou mesmo, defender-se, deixando isso nas mãos do Pai.
Hudson continuou a orar ao Senhor da seara por trabalhadores. A época da
sua morte, 40 anos depois de ter iniciado a organização, havia centenas de
missionários empregados pela Missão Interior da China. Deus usou Hudson
Taylor e seus seguidores para abrir o interior daquele grande país para a
mensagem de Cristo. Milhares de chineses se tornaram cristãos. A rebelião do
Boxer * tentou acabar com o cristianismo, mas isso só serviu para espalhá-lo
ainda mais.
Embora sua organização tenha-se tornado uma das mais efetivas e
renomadas no mundo, o Sr. Taylor permaneceu pequeno aos próprios olhos.
Uma vez, um líder de uma igreja na Escócia comentou com ele: "Você deve
ser tentado, às vezes, a ser orgulhoso por causa do modo maravilhoso com que
*
Nota da Revisão: De acordo com o Dicionário Houaiss: membro de uma sociedade secreta chinesa organizada no
final do s. XIX, cujo objetivo fundamental era salvar o império chinês e que inspirou o ataque contra os estrangeiros
em Pequim em 1900.
Deus o usou. Duvido que algum outro homem vivo tenha recebido honra maior
que essa".
"Pelo contrário", Hudson respondeu. "Geralmente, penso que o Onipotente
deve estar procurando alguém pequeno e fraco o suficiente para que Ele o use, e
isso Ele encontrou em mim".8
Em 1905, o pequeno homem com o coração tão grande quanto o país para o
qual ele foi chamado a evangelizar voltou para casa a fim de estar com seu
Senhor.
Esses três homens não são considerados gigantes na fé por possuírem
excelentes habilidades organizacionais, força extraordinária de caráter, carisma
que levantava seguidores ou qualquer outra qualidade humana notável. Eles
foram usados por Deus de uma grande maneira, pois aprenderam o segredo de
andar humildemente com Ele, dependendo apenas do Altíssimo e atendendo às
necessidades de outras pessoas. Nenhum deles aceitou crédito pessoal por suas
conquistas; antes, eles foram todos rápidos para dar a glória apenas ao Todo-
Poderoso. De certa forma, não eram pessoas especiais. A vida de cada um deles
simplesmente mostrou o que o cristianismo deveria parecer no viver de qualquer
cristão.

O AMIGO DE DEUS

O Reino do Pai está estabelecido de maneira que toda e qualquer pessoa


tenha o direito de receber tantas bênçãos do Onipotente quantas ela quiser.
Deus não faz acepção de pessoas, Pedro afirmou (At 10.34), querendo
mostrar que a porta está aberta para qualquer um que queira entrar. Que
notícia fantástica!
Entretanto, o Altíssimo tem Seus favoritos. Isso é visto claramente na
história de Sua relação com um certo homem: Abraão foi chamado o amigo de
Deus (Tg 2.23). Gabriel duas vezes intitulou Daniel como um homem mui
desejado (Dn 10.11,19). As Escrituras declaram: E falava o SENHOR a Moisés
face a face, como qualquer fala com o seu amigo (Ex 33.11a). Acredite ou não,
esses homens não foram escolhidos arbitrariamente; eles se fizeram irresistíveis
para Deus, escolheram humilhar-se diante do Senhor e foram ricamente
recompensados com Sua mais profunda amizade. E muito parecido com o que
aconteceu com Jesus em Seu ministério terreno. Sim, Ele falou às multidões e
enviou 70 discípulos. Porém, foi o grupo de 12 que aproveitou a proximidade
com o Mestre e, mais ainda do que esses, Pedro, Tiago e João a desfrutaram.
O segredo do SENHOR é para os que o temem, Davi exclamou (Sl 25.14a).
É muito claro que Deus responde às ações dos homens: Ele Se aproxima
daqueles que se humilham perante Ele. Como Ele poderia fazer-Se de
surdo ao
publicano, que batia no peito angustiado, quebrantado pelo seu pecado?
Como poderia o Altíssimo retirar Suas bênçãos de um homem como José, que
permaneceu fiel nas circunstâncias mais difíceis? Como poderia o Poderoso
fechar os olhos para os problemas de Hudson Taylor, que se recusou a responder
aos seus antagonistas? Como poderia o Onipotente ignorar as orações de George
Mueller, que abraçou a causa daqueles mais rejeitados pela sociedade? Do início
ao fim, a Escritura proclama a resposta em alto e bom som: Deus é
completamente atraído pelos pequenos e age em favor deles.
Agora, que você terminou este livro, quero encorajá-lo a se comprometer a
colocar em prática as lições aqui aprendidas. O que você faz a cada dia é muito
importante. O Poderoso percebe cada palavra ou intenção, cada vez que você Lhe
obedece e se humilha diante dos outros. Cada ato desses o aproxima mais do Pai.
Não apenas isso, mas, quanto mais praticar o bem, mais fácil será você continuar
a praticá-lo como um estilo de vida. Talvez você nunca seja um apóstolo como
Paulo ou Billy Graham, mas pode tornar-se um amigo de Deus. Quanto Ele
anseia por sua amizade!
Humilhe-se hoje. Volte-se para Ele com todo o seu coração. Implore por
Sua ajuda e se submeta à Sua vontade. Veja o Senhor transformar seu caráter de
dentro para fora. Enquanto Ele age, você se sente como o receptor de Suas mais
completas bênçãos.

O Senhor declara: Eis para quem olharei: para o pobre e


abatido de espírito e que treme diante da minha palavra.
Essa é a pessoa que se torna Irresistível a Deus!

BIBLIOGRAFIA

CAPÍTULO UM

1. Agostinho, City of God (Cidade de Deus), Nicene and Post Nicene Fathers,
Philip Schaff, editor. Ages Software, Inc. Rio, WI (www.ageslibrary.com).
Utilizado com permissão.
2. Jerônimo, The principie works of St. Jerome (Os principais trabalhos de São
Jerônimo), Nicene and Post Nicene Fathers, ibid.
3. John Cassian, The works of John Cassian (Os trabalhos de John Cassian),
ibid
4. William Gurnall, The christian in complete armour (O cristão de armadura
completa), Vol.l, The Banner of Truth (A bandeira da Verdade), Carlisle, PA,
1988.
5. Charles Spurgeon, Spurgeon's treasury of the New Testament (O tesouro do
Novo Testamento de Spurgeon).
6. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. XXII, I Pedro,
MacDonald Publishing Co., McClean, VA. p.229.
7. Ibid, p.213.
8. Ibid, Vol. V, II Reis, p.105.
CAPÍTULO DOIS

1. C. S. Lewis, Readings for meditation and reflection (Leituras para meditação


e reflexão) Harper San Francisco, 1992, p.79.
2. A. W. Tozer, God tells the man who cares (Deus fala ao homem que se
importa), copyright 1992.
Utilizado com a permissão de Christian Publi-cations, Camp HiJl, PA.
3. William Law, A serious call to a devout and holy life (Um chamado sério
para uma vida devota e santa), Ages Software.
4. A. W. Tozer, ibid.

CAPÍTULO TRÊS

1. C. S. Lewis, Readings for meditation and reflection (Leituras para meditação


e reflexão) Harper San Francisco, 1992, p. 79.
2. Bishop Hooker, citado em Thepulpit commentary (O comentário do púlpito),
Vol. V. II Reis 5, p. 105.

CAPÍTULO QUATRO

1. Life application Bible (Bíblia da vida prática), Tyndale House Pub., Wheaton,
IL, 1988.
2. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. VII, Ester, p.70.
3. João Calvino citado em Keil-Delitsch Commentary (Comentário de Keil-
Delitsch), AGES Software.

4. Keil-Delitsch Commentary (Comentário de Keil-Delitsch), ibid.


5. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. IV, I Samuel, p. 292.
6. ibid, p. 266.
7. Matthew Henry Commentary (Comentário de Matthew Henry), Ages
Software.
8. Ibid.
9. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. V, II Reis, p. 94.

CAPÍTULO CINCO

1. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. XIV, Obadias, p. 33.


CAPÍTULO SEIS
1. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. XIII, Daniel, p. 160.
2. ibid, Vol. IX, Provérbios, p.310.
3. ibid, Vol. X, Isaías, p.395.
4. Strong's dictionary (O dicionário dos fortes), Ages Software.
5. C S. Lewis, Readings for meditation and reflection (Leituras para meditação e
reflexão) Harper San Francisco, 1992, p.80.
6. Steve Gallagher, Fork in the road (Dividido na estrada), Pure Life Ministries
(Ministérios Vida Pura), 2001.
7. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. IX, Provérbios, p. 327.
CAPÍTULO SETE

1. C. H. Spurgeon, The Spurgeon sermon collection (A coleção de sermões de


Spurgeon), Vol. 4, p. 167, Ages Software.
2. Charles Wesley, And can it he (E não pode ser); Hymns of faith and life
(Hinos de fé e vida), Light and Life Press (Winona Lake, IN) and the Wesley
Press (Marion, IN), 1976; p. 273.
3. William Reed Newell, Years I spent in vanity and pride (Os anos que eu
desperdicei na vaidade e no orgulho); ibid, p.250.
4. George Whitefield, Pharisee and the puhlican (O fariseu e o publicano), Ages
Software.

CAPÍTULO OITO

1. Watchman Nee, The release of the spirit (A liberação do espírito), Christian


Fellowship Publishers, Richmond, VA, 2000, p. 15,98.
2. Dr. e Sra. Howard Taylor, Hudson Taylor's Spiritual Secret (O segredo
espiritual de Hudson Taylor), Discovery House Pub., Grand Rapids, MI, 1990,
p.262.
3. Watchman Nee, ibid, p. 38-39, 98.
4. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. XI, Lamentações, p.
37.

CAPÍTULO NOVE

1. George Ridout, The beauty of holiness (A beleza da santidade), Ages


Software.
2. Albert Barnes, Notes on the Bible (Notas na Bíblia), Ages Software.
3. Gayle D. Erwin, The Jesus style (O estilo de Jesus), Word. Pub., Dallas, TX,
1983, p.92.
4. Steve Gallagher, At the altar of sexual idolatry (No altar da idolatria sexual),
Pure Life Ministries (Ministérios Vida Pura), 2001.
5. William Law, Ages Software.
6. Matthew Henry Commentary {Comentário de Matthew Henry), Ages
Software.

CAPÍTULO DEZ

1. F. B. Meyer, Topical Encyclopedia of Living Quotations (Enciclopédia de


tópicos de citações), Bethany House Pub., Minneapolis, MN, 1982, p. 102.
2. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. XXII, I Pedro 5, p.
219.
3. Mountain Movers Magazine (Revista dos movedores de montanhas), the
Assemblies of God (Assembléia de Deus), c. 1987.
4. A. B. Simpson, The Bethany parallel commentary on the New Testament (O
comentário paralelo do Novo Testamento de Bethany), Bethany House
Publishers, Minneapolis, MN, 1983, p. 215.

CAPÍTULO ONZE
1. Ages Software Questions (Perguntas Ages Software).
2. Albert Barnes, ibid.
3. William Law, ibid.
4. Gayle D. Erwin, ibid, p. 95.

CAPÍTULO DOZE

1. William Law, ibid.


2. Basil Miller, William Carey - The father of modem missions (William Carey -
O pai das missões modernas), Bethany House Pub., 1952, p. 54 e 149.
3. Reese Publications, P.O. Box 5625, Lansing, IL 60438.
4. George Mueller, The autobiography of George Mueller (A autobiografia de
George Mueller), Whitaker House Oub., 1984, p. 208-209.
5. ibid, p. 190.
6. J. Wilbur Chapman, Present day parables (Parábolas dos dias atuais), Ages
Software.
7. J. Hudson Taylor, Hudson Taylor, Bethany House Publishers, Minneapolis,
MN, 1937, p. 21, 68-69, 145.
8. Dr. e Sra. Howard Taylor; ibid, p. 226-227.

***FIM***

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