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Steve Gallagher
www.semeadoresdapalavra.net
ISBN 85-7343-720-0.
IRRESISTÍVEL A DEUS
® Steve Gallagher,2003
AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial para Brad Furges e Linus Minsk, por suas contribuições
valiosas para este livro.
DEDICATÓRIA
Eis para quem olharei, declara Jeová, para o pobre e abatido de espírito e que
treme diante da minha
palavra.
Esta obra é dedicada a Jeff e Rose Colon, santos irresistíveis que se têm
humilhado perante Deus e doado a própria vida para servir aos outros.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................6
BIBLIOGRAFIA............................................................91
INTRODUÇÃO
Na história, existem poucas ocorrências de quando o véu da escuridão que
encobre o Poderoso tenha-se tornado fino o suficiente para que os mortais
pudessem olhar de relance para a assombrosa realidade de Sua abundante
presença.
Isso aconteceu, por exemplo, quando os israelitas receberam os Dez
Mandamentos. Com extrema seriedade, Moisés advertiu o povo para que se
preparasse para encontrar-se com o Senhor. Assim, aproximadamente 3 milhões
de hebreus - homens, mulheres e crianças - ficaram de pé no anfiteatro natural de
pedras na base do monte Sinai, observando, nervosamente, seus rochedos. Ao
redor deles, no cume do morro, estavam enfileiradas miríades de carros de Deus
invisíveis (Sl 68.17).
De repente, a tranqüilidade foi interrompida pela atividade ruidosa do
grande e temível Senhor aparecendo no cimo da rocha. Luzes e trovões
iluminaram o céu escuro, e o som ensurdecedor de uma trombeta foi ouvido (Hb
12.18,19). O monte ardia em fogo até ao meio dos céus, e havia trevas, e nuvens,
e escuridão (Dt 4.11b). As pessoas gritavam e ficavam paralisadas pelo terror,
suplicando para que Moisés se colocasse entre eles e o terrível Deus do Sinai.
Desce, protesta ao povo, disse Jeová a Moisés, que não traspasse o termo para
ver o SENHOR, a fim de muitos deles não perecerem (Ex 19.21).
Outra ocasião em que o homem pôde "ver" o Altíssimo aconteceu alguns
milhares de anos depois, quando o profeta Isaías, no ano em que morreu o rei
Uzias, viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono [...], e os serafins
estavam acima dele [...] e clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo,
Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os
umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu
de fumaça (Is 6.1-4).
Mais tarde, Isaías ouviu o Senhor bradar: O céu é o meu trono, e a terra, o
escabelo dos meus pés. Que casa me edificaríeis vós? E que lugar seria o do
meu descanso? (Is 66.1). Sem dúvida, isso o deixou aterrorizado e tremulo, como
aconteceu com Moisés (Hb 12.21). Contudo, em uma santa, ainda que paradoxal,
maneira, este Ser aterrorizante parece abrandar Sua formalidade e termina Seu
discurso com um longo tom de pesar em Sua voz: Mas eis para quem olharei:
para o pobre e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra (Is
66.2b).
Que declaração surpreendente! O Todo-Poderoso olhando para um ser
humano! A palavra hebraica para olhar (nabat) tem uma conotação muito mais
forte do que sua similar em português. Ela significa olhar de forma concentrada,
com respeito e adoração, para um objeto. Imagine esse Deus onipotente, cujo
retorno à terra causará o escurecimento do sol, a queda das estrelas do
firmamento e o abalo dos poderes do céu (Mt 24.29), sendo considerado pó! Essa
verdade é simplesmente incompreensível, contudo, está gravada nas Sagradas
Escrituras.
Isaías não foi o único a receber essa revelação sobre o Senhor. Muitos
séculos antes, Davi teve uma visão acerca dEle e registrou as seguintes palavras:
Ainda que o SENHOR é excelso, atenta para o humilde; mas ao soberbo,
conhece-o de longe (Sl 138.6). Este verso reitera o que se encontra em Isaías 66,
mas acrescenta uma verdade contrastante. Enquanto o Onipotente considera o
humilde, Ele naturalmente repele - volta-se contra - o orgulhoso. Assim, o
contato íntimo ou a verdadeira amizade entre o Poderoso e aquele que tem
coração altivo é impossível.
Tais declarações refletem uma lei espiritual, algo como plantar e colher, que
trazem uma verdade para os que crêem e também para os que não crêem.
Claramente, pessoas pretensiosas, que reduzem Deus à qualidade humana, estão
em terreno extremamente perigoso, porque Ele é inimigo do orgulhoso (Tg 4.4).
Infelizmente, a perspectiva de muitos crentes sobre a soberba é tão
superficial, que os faz ignorar que, na própria vida deles, esse sentimento esteja
presente. Eles podem facilmente identificá-lo em estrelas arrogantes de cinema,
ricos esnobes, personalidades egoístas dos esportes, ou ainda em colegas de
trabalho verbalmente agressivos. Mas pergunte aos cristãos se eles têm lutado
para não serem orgulhosos, e a negação de muitos virá rapidamente: "Ah, não!
Eu não!". Que pastor atualmente tem recebido em seu gabinete um membro da
igreja ansioso e lamentando estar lutando contra a altivez?
Reconhecendo ou não essa presença odiosa, o orgulho, de fato, cria raízes
dentro de todo coração humano. E um agente corrosivo que irá espalhar-se em
nossa natureza pecaminosa e corroer nossa alma, se não for detectado.
Certamente, há muita altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus (2
Co 10.5).
Este livro é um guia que mostra o árduo, mas recompensador, caminho para
fora da semente da soberba e para dentro dos verdes campos da humildade. Antes
de se aproximar das regiões abençoadas da simplicidade, o homem deve
primeiro, corajosamente, fazer um exame de sua vida. Ele precisa ter a garantia
de estar com toda a dimensão do orgulho exposta e lidar com isso para descobrir
sua posição apropriada perante um Deus santo.
Mesmo difícil e doloroso, como poderá parecer muitas vezes, esse é o único
caminho para as bênçãos do Senhor. Essa é a peregrinação que todo santo de
Deus tem feito. Apenas quando, honestamente, concentra-se na soberba da
própria vida é quando você está pronto para examinar a humildade. Sendo assim,
esta obra está dividida em duas partes: a primeira, intitulada Deus resiste ao
orgulhoso, e a segunda, As bênçãos da humildade.
Eis para quem olharei, declara o Senhor, para o pobre e abatido de espírito e
que treme diante da minha palavra. Essa é a pessoa que se torna irresistível a
Deus!
PARTE UM
DEUS RESISTE
AO ORGULHOSO
Quase não há página nas Escrituras onde não esteja claramente escrito sobre a
resistência de Deus ao orgulhoso e a graça derramada ao humilde.1
Agostinho
Imagine, irmão, o que não é para o pecado ter Deus como seu inimigo.2
Jerônimo
Tão grande é a maldade do pecado, que não há anjo ou qualquer virtude que se
oponha a ele, mas o próprio Deus como seu Adversário.3
John Cassian
UM
A NATUREZA E O DOMÍNIO DO ORGULHO
Embora o ministério de Isaías tenha surgido durante a grande mudança que
aconteceu no reinado de Uzias, o profeta não poderia estar preparado para a
tragédia que seus jovens olhos testemunhariam. O Senhor destruiu o velho rei
com lepra, embora ele tenha lutado contra o mal da terra. O que este homem
honroso poderia ter feito para provocar tamanha execução do julgamento de
Deus?
Uzias tinha apenas 16 anos quando sucedeu seu pai como rei sobre Judá.
Nós ouvimos que o rapaz sincero deu-se a buscar a Deus nos dias de Zacarias
[...], nos dias em que buscou o SENHOR, Deus o fez prosperar (2 Cr 26.5).
Certamente, parecia que tudo ia bem para ele, que restaurou o rico comércio da
nação, construindo o porto de Elate; subjugou os filisteus, amonitas e arábios;
fortificou as cidades de Judá e formou um exército poderoso. Seu renome foi
espalhado até a entrada do Egito, porque se fortificou altamente (2 Cr 26.8).
Contudo, no auge da fama, da prosperidade e do poder conquistados, Uzias
se tornou vítima de uma paixão humana que tem destruído muitas vidas:
Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper;
e transgrediu contra o SENHOR, seu Deus, porque entrou no templo do
SENHOR para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias
entrou após ele, e, com ele, oitenta sacerdotes do SENHOR, varões valentes. E
resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso
perante o SENHOR, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados
para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isso
para honra tua da parte do SENHOR Deus. Então, Uzias se indignou e tinha o
incensário na sua mão para queimar incenso; indignando-se ele, pois, contra os
sacerdotes, a lepra lhe saiu a testa perante os sacerdotes, na Casa do SENHOR,
junto ao altar do incenso. Então, o sumo sacerdote Azarias olhou para ele, como
também todos os sacerdotes, e eis que já estava leproso na sua testa, e
apressuradamente o lançaram fora; e até ele mesmo se deu pressa a sair, visto
que o SENHOR o ferira. Assim ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua
morte; e morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da
Casa do SENHOR; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o
povo da terra. 2 Crônicas 26.16-21
O que poderia ter afetado aquele respeitoso rei que o tenha feito
transgredir perante seu Senhor? Que tipo de paixão poderia tê-lo incitado a agir
de maneira tão presunçosa com os assuntos sagrados do Altíssimo? O que
poderia ter causado sua queda do alto da glória e do poder humanos para ser
forçado a viver o resto de seus dias como um idoso solitário e recluso em uma
casa separada? A resposta para cada uma dessas questões é orgulho.
A Bíblia não deixa dúvidas sobre a posição do Todo-Poderoso a respeito do
orgulho. Salomão disse que olhos altivos são uma abominação para o Senhor (Pv
6.17). Isaías escreveu que, quando o Senhor aparece, a arrogância do homem é
abatida, sua altivez, humilhada, e só o Onipotente é exaltado (Is 2.17). Jesus
declarou que quem a si mesmo se exaltar será humilhado (Mt 23.12a), e Tiago
afirmou que Deus resiste aos soberbos (Tg 4.6b). No livro de Salmos, o próprio
Deus falou que Ele não suportará aquele que tem olhar altivo e coração soberbo
(Sl 101.5b).
Sem dúvida, orgulho é um dos assuntos mais proeminentes da Sagrada
Escritura, a qual utiliza pelo menos 17 palavras diferentes (e incontáveis
derivações) para descrever essa doença espiritual. * Contudo, não importa que
termo é usado; há sempre uma conotação de altivez: algo superior, crescente,
exaltado, ou sendo elevado. Assim, uma pessoa orgulhosa possui uma alta
admiração de si mesma e se coloca acima das demais à sua volta. Esse conceito
de auto-exaltação forma a base para a nossa definição de orgulho: Ter um senso
exagerado de sua própria importância e uma preocupação egoísta com seus
próprios direitos. É a atitude que diz: "Eu sou mais importante que você e, se
for necessário, vou promover minha causa e proteger meus direitos às suas
custas".
Orgulho é o princípio de governo das trevas e a influência sobre o mundo
não-remido. Ele causa contenda nos lares, nos locais de trabalho, no cenário
político e, sim, até na comunidade cristã (Pv 13.10).
Orgulho estimula a competição acirrada entre pessoas de todas as esferas.
Ele motiva as garotas a aparentarem atraentes e tentadas a parecer mais
arrumadas que as outras em sua competição pela posição de "a mais charmosa de
todas". Impossibilitadas de serem consideradas medianas, elas fazem tudo dentro
do seu alcance para se destacarem sobre suas rivais. Homens pretensiosos
competem entre si pelo seu físico, por sua bravura, suas habilidades e posses.
O orgulho acende as chamas do desejo que leva um pecador lascivo
diretamente para a degradação. Um Dom Juan sente uma auto-exaltação de
*
A propósito, em uma frase, Jeremias usa muitos termos para descrever Moabe: Ouvimos falar da soberba [ga'own]
de Moabe, que de fato é extremamente soberba [ge'eh], da sua arrogância [gobahh], do seu orgulho [ga'own], da sua
sobranceria [ga'own] e da altivez [ruwn] do seu coração Gr 48.29 -ARA).
excitamento quando acrescenta uma nova fêmea às suas conquistas. Um
estuprador alimenta seu ego monstruoso subjugando outros. Um exibicionista
enche-se de orgulho ao imaginar uma mulher vendo suas partes íntimas. Uma
adúltera sente-se a maioral ao pensar em roubar a afeição amorosa de um marido
competitivo. Esse tipo de sentimento está por trás também da maior parte da
violência que atinge nosso mundo. Um ego machucado leva um homem a matar
sua esposa e seu amor. O orgulho étnico provoca um aumento do discurso
inflamado contra grupos de pessoas que leva à guerra. Membros de gangues de
rua rivais se envolvem em brigas e pegas de automóveis em retaliação a ataques
prévios de seus oponentes.
Brigas de bares surgem de pequenas disputas. Muita hostilidade acontece
simplesmente porque as pessoas estão tentando ganhar o respeito dos outros e ser
admiradas. Com certeza, o orgulho tem causado mais problemas, conflitos,
sofrimento e tristeza nesse mundo do que qualquer outra paixão humana.
Existe um denominador comum entre cada um desses cenários: as pessoas
estão tentando exaltar-se às custas de seus semelhantes ou estão fazendo o seu
melhor para se proteger de outros que se exaltam às custas delas. Cada pedacinho
disso tem o cheiro horrível e egoísta da atitude de preocupar-se em ser o
primeiro.
O REINO DE DEUS
Muito antes de Deus criar o homem, uma grande rebelião aconteceu no céu
quando o querubim Lúcifer disse a si mesmo: Eu subirei ao céu, e, acima das
estrelas de Deus, exaltarei o meu trono, e, no monte da congregação, me
assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e
serei semelhante ao Altíssimo (Is 14.13,14).
A mesma atitude pretensiosa que expulsou do céu o rei do orgulho é a
inclinação predominante deste mundo caído. Como nos diz a Sagrada Escritura:
Sabemos que somos de Deus e que todo o mundo está no maligno (1 Jo 5.19).
Satanás,
agora, utiliza o orgulho para provocar inveja, raiva, perversão e uma longa
relação de outros vícios comuns ao homem. Talvez, isso tenha motivado um
ministro a escrever:
O orgulho foi o pecado que transformou Satanás, um anjo abençoado, em
um demônio amaldiçoado. O diabo conhece melhor do que ninguém o
condenável poder desse sentimento. Existe alguma dúvida, então, que ele o use
frequentemente para contaminar os santos? Seu propósito se torna ainda mais
fácil porque o coração do homem mostra uma tendência natural por ele.4
Quão espantosamente diferente é o Reino de Deus, o qual é governado pelo
Cordeiro inocente que Se permitiu ser sacrificado em favor dos outros! Ele é
manso e humilde de coração (Mt 11.29). A mentalidade que guia aqueles que
fervorosamente O seguem é a despretensão. Indivíduos assim preferem as
necessidades e desejos de outros sobre os seus próprios.
Leva um certo tempo até que um novo convertido ao Senhor se acostume a
esse pensamento altruísta. Ao tentar viver pelos princípios do Reino dos céus,
logo percebe que sua velha e egoísta forma de pensar ainda está muito viva
dentro de si. De fato, ele ainda tem uma natureza carnal que é preenchida pelo
orgulho; sendo assim, encontra-se dividido entre a mentalidade de autopromoção
desse mundo e os valores de auto-sacrifício do Reino celestial.
Certa vez, um amigo meu, lamentando sobre sua falta de habilidade para
vencer essa serpente venenosa, comparou sua luta com o lançamento de um
explosivo na lateral de uma alta montanha. Seu esforço pode produzir um
barulho temporário, mas, uma vez que a fumaça seja dissipada, o grande monte
permanece no lugar tão formidável como sempre. Assim como meu
companheiro, Charles Spurgeon compartilhava a mesma desesperança sobre essa
luta quando escreveu:
Orgulho é tão natural para homens caídos, que brota no coração como erva
daninha em um jardim regado ou mato na beira de um riacho. E um pecado que
invade e cobre todas as coisas, como a poeira das estradas ou farinha no moinho.
Cada toque seu é malvado. Você pode caçar essa raposa e pensar que a destruiu!
Sua maior exultação é a soberba. Pessoa alguma tem mais orgulho do que
aqueles que imaginam que não o tem. O orgulho é um pecado com milhares de
vidas; parece impossível matá-lo.5
Se esse sentimento é tão invasivo e indomável no coração humano, muitos
podem perguntar: "Para que lutar?". Certamente, Deus entende que essa é uma
batalha que não pode ser vencida. Para que se envolver em um briga na qual já se
sabe, de antemão, que vai perder? No entanto, apesar dessa avaliação pessimista,
devemos lutar contra o orgulho! A razão desse combate tão urgente é a própria
natureza demoníaca. Em cada maneira que ela toma conta do caráter de uma
pessoa, aumenta sua semelhança com Satanás, o anjo caído, aquele que provoca
os cristãos a se promoverem, exaltarem-se, envaidecerem-se e protegerem-se às
custas dos outros. Boa parte das ações diabólicas da soberba é tida como normal -
como se isso aliviasse a responsabilidade dos cristãos em combater sua influência
maligna na vida de cada um deles.
Embora seja verdade que sempre existirá algum resquício de orgulho, a
alternativa para permitir-se permanecer em uma posição superior, com uma
atitude mental que desafie Deus, é inimaginável para qualquer cristão sincero.
Embora uma pessoa não possa erradicar totalmente todos os vestígios desse
sentimento dentro de si, com certeza, ela pode avançar, admitindo e
arrependendo-se toda vez que ele se revelar.
PROBLEMA DE TODOS
Há muitas verdades que podem ser aprendidas por meio da exortação desse
sábio e velho apóstolo. Para começar, essas palavras foram direcionadas para
seus irmãos cristãos. Sim, o Altíssimo resiste ao orgulho mesmo entre Seus
filhos! A punição que Davi recebeu quando realizou o censo do povo é um bom
exemplo disso (2 Sm 24.13). Qualquer atitude orgulhosa, motivo ou intenção nos
coloca contra o Onipotente. Em outras palavras, quanto mais a pessoa tiver esse
sentimento em seu coração, mais ela experimentará a resistência de Deus.
Vamos encarar os fatos: nosso Criador insiste em ser o Mestre de Seu povo.
Quando alguém aceita Cristo, ele O recebe não apenas como seu Salvador, mas
também como Senhor.*** Quando esse novo crente, verdadeiramente, rende sua
vida e se entrega à vontade do Todo-Poderoso, a opressão se torna luz, e ele se
**
Sua oposição ao orgulho de um cristão é muito diferente da oposição aos que não são salvos. Aqueles que não
conhecem Deus não têm nada que fique entre eles e o julgamento.
***
A expressão Senhor é usada 7.750 vezes nas Escrituras, enquanto o vocábulo Salvador é empregado apenas 37
vezes. Isso mostra o peso extremo que a Palavra de Deus coloca sobre o senhorio de Cristo.
enche de alegria e paz. Contudo, seu caminho se torna mais difícil quando o
homem insiste em controlar o próprio destino (Pv 13.15). Quando ele determina
que vai controlar a própria vida, encontra-se em discordância com todo o Reino
dos céus. Certa vez, alguém disse: "Pense em ter tudo de Deus, Seus propósitos,
Suas leis, Sua providência, sim, e Seu amor, voltados contra nós".6
O fato de sabermos que Ele resiste firmemente ao orgulhoso mostra quão
prejudicial é o pecado do orgulho.
Pedro também mencionou o cuidado de Deus pelo Seu povo. É importante
lembrar que Ele quer purificar-nos de tudo aquilo que nos machuca ou impede
Seu relacionamento conosco. Por exemplo, muitos cristãos não entendem que
suas orações continuam sem respostas, porque eles se aproximam do trono do Pai
com atitude arrogante, presunçosa e insistente. Em seu orgulho insano, tentam
dar ordens para o Poderoso como se Ele fosse seu ajudante! O Criador Se volta
contra esse tipo de atitude.
Um ministro do Evangelho explica a oposição de Deus ao Seu próprio povo
quando este é presunçoso:
Está fora do cuidado amoroso para conosco; é porque orgulho significa
rebelião, e rebelião é a essência do pecado; e pecado significa miséria, ruína e
morte.7
É interessante notar também como a linha de raciocínio de Pedro o levou do
tema do orgulho diretamente para a guerra espiritual. Houve inúmeras ocasiões
em que Satanás destruiu crentes por meio do próprio orgulho deles; muitas estão
registradas nas Escrituras para orientar-nos, como, por exemplo, a transgressão
de Davi: Então, Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar a
Israel (1 Cr 21.1). O demônio é mestre em persuadir uma pessoa a realizar a
vontade diabólica, apenas apelando para o orgulho dele.
Por isso, o apóstolo Pedro avisou o povo para ser vigilante contra os
ataques malignos. O adversário é a besta maldosa que anda sobre a terra,
procurando almas para se tornarem suas presas.
Não há dúvida de que o orgulho é uma doença horrível da alma que traz
somente miséria e destruição. Todo cristão deveria sentir-se na obrigação de se
livrar do seu veneno maligno. Vamos considerar as seguintes palavras motivantes
do The pulpit commentary (O comentário do púlpito):
O que temos nós para nos orgulharmos? Possui o pecador alguma razão
para se envaidecer? Ele está caminhando em derredor para levar à destruição.
Não é um caminho, nem um projeto, certamente, para se vangloriar! Tem o
santo alguma razão para demonstrar soberba? Claro que não. E pela graça de
Deus que ele é o que é. Não vem das obras, para que ninguém se glorie [...] Fora,
então, com esse sentimento, a vaidade das riquezas, do poder, da sabedoria e da
beleza do rosto de argila! Fora com a altivez de todo coração cristão e a soberba
da casa de Deus e de todos os departamentos de trabalho cristão! Fora com o
orgulho contra nossos irmãos! Vamos seguir os passos dAquele que foi manso e
humilde de coração.8
Senhor, eu quero essa paixão contra o orgulho em meu coração. Dá-me um
desejo ardente de me livrar das poderosas amarras da soberba. Eu quero o
olhar manso de
Jesus reinando em minha vida.
Que assim seja, querido Senhor.
Amém.
O orgulho leva a todos os outros vícios: é a completa forma contra Deus [...] a
soberba de cada indivíduo compete com a de todas as pessoas.1
CS. Lewis
DOIS
A FORMAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DO
ORGULHO
A cultura americana está cheia do orgulho da vida: a beleza feminina é
glorificada de costa a costa; a capacidade física nos esportes está recebendo
reconhecimentos sem precedentes; a engenhosidade humana na ciência e na
tecnologia é exaltada; a ânsia corporativa é estimulada com sólidos
investimentos; os políticos são homenageados não pela sua integridade, mas por
seu pragmatismo. Não resta dúvidas de que estamos sob a maldição darwiniana
da sobrevivência do mais forte.
Poucos dias após o ataque terrorista ao "World Trade Center, o governador
da Flórida, Jeb Bush, insuflado pelo orgulho nacional, expressou o sentimento de
muitos americanos quando disse: "Eles tentaram humilhar-nos, mas nós somos
uma nação orgulhosa e nunca iremos rebaixar-nos somos um país forte!". *
A unidade nacional foi bombardeada com declarações como: "Temos
orgulho de sermos americanos!".
Quase tudo em nossa cultura leva e incita ao orgulho do homem: o
entretenimento, a propaganda, a mídia, o meio acadêmico, os negócios e a vida
doméstica.
Agora, mais do que nunca, tudo é voltado para a imagem e as conquistas
pessoais.
Isso, por sua vez, criou uma forte pressão para derrotar o semelhante - ser
mais inteligente, forte, capaz, atraente e saudável.
*
Escrito de memória por um amigo. Isso não quer dizer que existe algo errado em expressar patriotismo sobre o
nosso país.
PRIMEIRAS LIÇÕES
**
É dito a eles que não se satisfaçam com menos do que a mais alta distinção.
***
Não preciso dizer que os pais ou os professores devem fazer o máximo para inspirar as crianças a darem o melhor
de si. Crianças precisam ser encorajadas a valorizar a qualidade do seu trabalho. É esperado que eles estimulem os
jovens a se envolverem em um campo de interesse. Contudo, a prática atual de usar o orgulho como uma ferramenta
motivacional não é apenas desnecessária, como também perigosa.Alguns do campo acadêmico tentam corrigir tal
pensamento por meio de métodos humanitários, como, por exemplo, recusando-se a reprovar uma criança que não
tenha atingido os requerimentos mínimos necessários.
Inacreditavelmente, essa mesma mentalidade é vista também entre aqueles
que estão estudando para serem ministros. As características divinas, tais como
amor, humildade e bondade, tendem a ser impacientemente deixadas de lado em
favor dos sinais aparentes de sucesso. É comum os mais talentosos pregadores
serem colocados em pedestais. Consequentemente, nossos jovens almejam imitar
aqueles que lideram igrejas maiores, com os programas de rádio mais populares,
os que vendem mais livros e aqueles que têm maior posição de prestígio. Os
alunos da escola bíblica, rapidamente, aprendem que o sistema evangélico
americano é recompensador. Esse pensamento geral permeia muitas igrejas nos
Estados Unidos.
Após anos desta doutrina, a maioria dos jovens é governada pela ambição,
inveja e glória pessoal. William Law, escritor do século 16, levanta algumas
questões problemáticas:
Você ensina uma criança a não permitir ser passada para trás e a almejar
distinção e aplausos; mas existe alguma idéia de que ela continuará a agir da
mesma maneira a vida toda? Agora, se um jovem deseja, até o momento, ser
um cristão que governa seu coração pelas doutrinas da humildade, sinto-me
inclinado a saber em que tempo ele o fará: ou se ele, de fato, será assim
porque nós o treinamos para o contrário? Quão seca e pobre deve soar a
doutrina da humildade para um rapaz estimulado por toda essa indústria da
ambição, inveja e imitação e pelo desejo de glória e distinção! E se não é
para ele agir por esses princípios quando for um homem, porque nós o
ensinamos a ter essa atitude assim na sua juventude? [...]
Deixemos aqueles que pensam que as crianças devem ser exploradas, se elas
não foram assim ensinadas, considerar o seguinte: eles podem pensar que, se
algumas foram educadas pelo Altíssimo ou por Seus santos apóstolos, a
mente delas foi relegada à mesmice e à inutilidade? Ou eles podem acreditar
que elas não foram instruídas nos princípios profundos da estrita e
verdadeira humildade? Talvez digam que nosso abençoado Senhor, que foi
o mais manso e humilde homem que esteve sobre a terra, foi impedido por
Sua humildade de ser o maior Exemplo de valor e ações gloriosas jamais
feitas pelo homem? Podem dizer que Seus apóstolos, os quais viveram no
mesmo espírito humilde de seu Mestre, deixaram de ser úteis e instrumentos
de bênção por todo o mundo? Apenas algumas reflexões como essas são
suficientes para expor todos os pobres argumentos de uma educação de
orgulho e ambição.3
O HOMEM DO POVO
****
Promotores do movimento da auto-estima, certamente, vêem a verdade disso, mas sua solução para
autopromoção apenas piora o problema.
Para lidar com o fato de ser magoada, a criança, que está fazendo apenas
aquilo que lhe parece natural, gradualmente, desenvolve mecanismos de defesa,
os quais, infelizmente, são os embriões do orgulho que se originam na infância,
desenvolvem-se na adolescência e aperfeiçoam-se na vida adulta.
Nesse meio tempo, o jovem não tem noção alguma de que é o alvo principal
de espíritos demoníacos.
UM PADRÃO VITALÍCIO
TRÊS
AS DIFERENTES FORMAS DO ORGULHO
Quando Adão se rebelou no jardim do Éden, seu coração se corrompeu
instantaneamente. Como uma forma agressiva de câncer, uma rede elaborada de
orgulho se formou dentro de seu coração e espalhou-se dentro de si. Agora,
milhares de anos depois, após incontáveis gerações, tal sentimento possui um
sistema de radar altamente desenvolvido que mantém constante observação
sobre qualquer coisa que atravesse seu caminho. Consequentemente, esse
mecanismo aproveita toda oportunidade de se mostrar, promover e proteger seu
hospedeiro. Assim, a vaidade mantém sua posição dentro do coração humano
com muito sucesso.
Na essência, o orgulho é como um fiel cão de guarda, sempre protegendo
seu dono: o poderoso ego Quanto mais cheio de si mesmo alguém estiver, mais
presunçoso será. O cristão que não tiver permitido que o Senhor lide severamente
com sua personalidade cairá nas garras da soberba. Todos os aspectos do viver -
trabalho, diversão, relacionamentos, e vida espiritual - serão fortemente tentados
por esse sentimento, o qual contamina os pensamentos, as palavras e as atitudes.
Assim, tudo deve adquirir uma posição de subserviência ao seu desejo tirânico.
Cristãos não-envolvidos podem dizer que Jesus Cristo é o Senhor da vida deles,
mas a verdade é que apenas o orgulho ocupa essa posição. Esse sentimento rege
o coração desses cristãos, consegue qualquer coisa que desejar e permite apenas
as coisas que servem ao seu interesse. A submissão a Deus é deixada do lado de
fora das barreiras erguidas pelo amor-próprio. O crente só irá submeter-se e
render-se ao Onipotente tanto quanto a imodéstia permitir.
É verdade. O orgulho é uma característica comum do coração humano, e
todo ser humano, inclusive o crente, possui uma única e vibrante personalidade.
Assim, pessoas se exaltam e se guardam em muitas maneiras diferentes. Por
exemplo, cada um dos seis membros da família Johnson é elevado de uma
maneira distinta como indivíduo. Para fazer um diagnóstico melhor do egoísmo
que está dentro de cada um de nós, farei uma parada nas categorias básicas
(geralmente parecidas).*
UM ESPÍRITO SOBERBO
VAIDADE
AUTOPROTEÇÃO
ORGULHO INTOCÁVEL
Uma pessoa intocável é alguém que não suporta ser corrigida. Ela se torna
notavelmente tensa todas as vezes que é admoestada sobre áreas de sua vida que
precisam de mudanças. O orgulhoso e tolo não aceitará reprovação. Salomão
sabiamente disse: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que
censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que
te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á (Pv 9.7,8).
É uma pena que algumas pessoas sejam tão orgulhosas ao serem
reprovadas, porque Deus costuma ser muito confrontador quando está lidando
com aqueles que Ele ama. O escritor de Hebreus revelou como o Altíssimo trata
Seu povo: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies
quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita
a qualquer que recebe por filho (Hb 12.5b,6). A confrontação do pecado por
quem é de Deus é um dos métodos mais efetivos que o Senhor usa para fazer a
mudança necessária na vida de um cristão. Infelizmente, as pessoas não levam a
sério o arrependimento do pecado, do egoísmo, das práticas mundanas ou das
atitudes não-cristãs, até que o Onipotente mande um "Natã" para olhá-las nos
olhos e dizer-lhes a verdade sobre si mesmas. O cristão que é muito altivo para
receber reprovação coloca-se em uma posição inviável para receber aquilo que o
Pai tem de melhor para a sua vida; assim, ele amadurece pouquíssimo. E como
Salomão disse: Mais profundamente entra a repreensão no prudente do que cem
açoites no tolo (Pv 17.10).
ORGULHO SABE-TUDO
Quem se torna altivo pelas coisas que sabe geralmente é alguém talentoso,
inteligente e dotado de dons. Ele costuma achar que pode fazer qualquer coisa e,
de muitas formas, pode! Ele não acredita no potencial dos outros por causa de
sua alta consideração sobre si mesmo (seu ego incorrigível), e pessoa alguma é
tão capaz ou inteligente como ele. Essa é uma das razões pelas quais ele não
gosta de se submeter à liderança dos outros; ele julga que poderia fazer um
trabalho melhor se estivesse à frente. Tal atitude arrogante o torna rebelde
perante seus superiores.
O espírito altivo dessa pessoa faz com que ela considere as próprias
opiniões muito mais importantes do que as dos demais. A verdade é que ela
adora sentir-se superior e tende a pensar que os outros têm pouco a lhe ensinar,
desprezando as idéias alheias. Tal atitude é censurada nas Escrituras, conforme
podemos observar na seguinte declaração de Salomão; Tens visto um homem que
é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há no tolo do que nele (Pv
26.12), Isaías também advertiu: Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e
prudentes diante de si mesmos! (Is 5.21). Mais tarde, Paulo acrescentou:
Ninguém se engane a si mesmo: se alguém dentre vós se tem por sábio neste
mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura
diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia (1
Co 3.18,19).
REBELIÃO
ORGULHO ESPIRITUAL
Por último, a falsa moralidade se opõe àquilo que Jesus descreveu como
pobre de espírito. Alguém que tenha esse tipo de orgulho se imagina como um
gigante espiritual. Deus detesta a auto-aprovação e o orgulho espiritual. Jesus
censurou os fariseus por causa de sua falsa piedade, sua enganosa aparência de
santidade. Eles não eram menos pecadores que os que estavam à sua volta, mas
agiam como se fossem os mais sublimes exemplos de pureza. Contudo, o Mestre
pôde dizer o seguinte a respeito deles: Ai de vos, escribas e fariseus, hipócritas!
Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente
parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda
imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas
interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade (Mt 23.27,28).
Hoje em dia, muitos dos que estão na igreja não agem diferente. Sentam-se
orgulhosamente nos bancos das congregações, julgando todos à sua volta para
ver se eles se encaixam em seus padrões. Alguns são do tipo muito espirituais,
que estão sempre ouvindo uma palavra de Deus, embora sua caminhada cristã
seja caracterizada pela instabilidade, falta de compromisso ou mesmo
desobediência. Assim, eles são espiritualmente arrogantes, pois consideram ter
um nível de maturidade que, na verdade, não atingiram.
Uma outra forma muito comum do comportamento das pessoas com relação
ao Onipotente é quando elas imaginam que podem continuar sem se arrepender
dos pecados e não sofrer conseqüência alguma. Acerca dessas pessoas, as quais
se fundamentam na graça divina, Judas falou: Porque se introduziram alguns,
que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que
convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único dominador e
Senhor nosso, Jesus Cristo (Jd 1.4). Essa é mais uma forma de orgulho espiritual,
a qual é bastante perigosa.
Esse rápido exame sobre a soberba dá uma idéia de como ela se manifesta
dentro da natureza humana caída. Você pode ver como cada um desses tipos de
altivez limita o Senhor de alcançar o homem? Por exemplo, e possível para o
altivo, que se exalta acima dos que estão à sua volta, ter uma comunhão íntima
com o Todo-Poderoso? O Onipotente ouvirá as orações desse rebelde mimado?
Ele abraçará a causa daquele que se protege, mesmo que isso signifique ser rude
com os outros, em vez de se entregar nas mãos do Pai? (1 Pe 2.23). Não! Deus
resiste aos soberbos, e quanto maior o grau de presunção de uma pessoa, mais
ela estará oposta ao Pai.
A notícia maravilhosa sobre o Reino de Deus é que um pecador sempre
pode arrepender-se! Como é possível perceber o orgulho trabalhando em sua
vida, você pode também se forçar a não seguir tudo o que ele manda em seu
relacionamento com o Senhor e com os outros. Deus irá ajudá-lo a superar essa
área do orgulho, pelo menos em grande parte. Esse sentimento não desaparecerá
automaticamente, simplesmente, porque você descobriu que ele está lá, mas, pelo
menos, vê-lo como realmente é auxiliará você a lutar contra ele e arrepender-se
cada vez que ele mostrar sua horrorosa face.
Senhor, por favor, torna clara para mim toda forma de orgulho
que está dentro do meu coração. Expõe cada uma delas pelo que elas são!
Ajuda-me a ser mais consciente de como esse sentimento afeta meu
relacionamento contigo e com os outros. Liberta-me! Amém.
O orgulho aumenta todos os nossos outros pecados, porque não nos podemos
arrepender de nenhum deles sem, antes, deixarmos de ser orgulhosos.1
Bíblia da Vida Prática
Não existe mínimo para o orgulho, não há limite para a soberba, medida que
possa alcançar a vaidade, temperança para a desobediência nem vara ou rédea
que seja confiável para guiar na incerteza e no temperamento irritante de falta de
respeito e desdém.2
W. Dinwiddle
QUATRO
AS FACES DO ORGULHO
A irmã mais velha de Moisés, Miriã, certamente foi uma das mulheres mais
proeminentes da história de Israel. Sua coragem e seu raciocínio rápido ainda
estavam atuando quando, ainda garotinha, ofereceu-se para procurar uma ama
para a filha do Faraó que tinha acabado de encontrar o bebê, Moisés, no carriçal,
à beira do rio. Logo, ela iria tornar-se uma leal ajudante de seu irmão mais novo
enquanto ele encarava muitos desafios com os israelitas durante o êxodo.
Corajosamente, Miriã permaneceu ao lado dele e nunca imaginou que poderia ser
usada pelo maligno para se opor ao homem enviado por Deus para guiar os
hebreus à Terra Prometida.
O capítulo 11 do livro de Números relata que Moisés, obedecendo às
instruções do Senhor, escolheu 70 anciãos para assistir o povo e julgá-lo. Essa foi
a delegação de autoridade que Jetro, seu sogro, anteriormente tinha-lhe orientado.
Moisés, cansado de suportar toda a carga do povo, sentiu-se aliviado por outros
com quem dividia a responsabilidade. Porém, Miriã, que claramente se enfureceu
ao pensar em perder o poder que havia conquistado como sua confidente,
começou a atacá-lo.
Podemos ver que falaram Miriã e Arão contra Moisés (Nm 12.1). É
evidente que era ela quem estava instigando tal atitude pelo fato de ser
mencionada primeiro e de ter sido a única punida por Deus. Porventura, falou o
SENHOR somente por Moisés?, ela questionou. Não falou também por nós?
Perguntas assim tão diretas revelam que a proximidade de Miriã com seu irmão
mais novo a cegou para a realidade de que a caminhada de Moisés com Deus era
muito mais profunda que a dela. O Senhor falava com ele face a face (Êx 33.11).
Embora ela ainda fosse uma profetisa e tenha permanecido ao lado do Senhor até
este momento, enquanto outros abertamente se rebelavam contra Ele, Miriã
cometeu o terrível erro de se focar na humanidade de seu irmão. Seu orgulho e
seu espírito faltoso a posicionaram contra a autoridade do Todo-Poderoso.
Jesus disse a Seus discípulos: E, assim, os inimigos do homem serão os
seus familiares (Mt 10.36). Não é de surpreender que este seja um problema
entre associações de homens de Deus. Por ser difícil de ver, no dia-a-dia, o que
acontece na vida pessoal com o Altíssimo, é mais fácil os colaboradores
concentrarem-se na liderança natural. A camada de mistério que cerca os líderes
cristãos é desfeita por aqueles que estão próximos a eles. Não há profeta sem
honra, a não ser na sua pátria e na sua casa (Mt 13.57b).
Parece ter havido duas razões para Miriã levantar-se contra Moisés. A
primeira era que, como irmã dele, ela tenha sido exaltada na frente de mais de 1
milhão de pessoas. Ter uma posição de honra tão invejada entre o povo afetou
sua espiritualidade. Há um antigo ditado popular que diz a seguinte verdade:
O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe totalmente". Por essa
razão, Paulo orientou Timóteo a não colocar pessoas na posição de lideres tão
rapidamente: Não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra
na condenação do diabo (1 Tm 3.6 - ARA).
O segundo fator contribuidor pode ser encontrado na seguinte passagem:
Não falou [Deus] também por nós? Como profetisa, Miriã, provavelmente, deve
ter proferido a Palavra do Senhor em diversas ocasiões. Talvez, isso a tenha
levado a pensar que ela estava no mesmo patamar que seu irmão mais novo. O
teólogo e reformador protestante francês João Calvino comentou:
Eles se orgulham do dom de profecias, que, ao contrário, deveria ter-lhes
trazido modéstia. Mas a depravação da natureza do homem é tão grande, que eles
não só abusam dos dons de Deus dados ao irmão que eles desprezam, como
também exaltam com glorificação sacrílega os próprios dons em vez de o Autor
desses dons.3
É interessante que a seguinte afirmação seja feita a respeito de Moisés: E
era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra (Nm 12.3). Foi a mansidão que o segurou de se defender e permitiu que o
Todo-Poderoso lutasse suas batalhas por ele. Miriã deveria saber disso, tendo
sido uma testemunha ocular da fúria de Deus contra aqueles que escarneceram da
liderança de seu irmão. Nós aprendemos que o Senhor ouviu as suas palavras
(Nm 12.2). Seu julgamento foi rápido:
E logo o SENHOR disse a Moisés, e a Arão, e a Miriã: Vós três saí à tenda
da congregação. E saíram eles três. Então, o SENHOR desceu na coluna de
nuvem e se pôs à porta da tenda; depois, chamou a Arão e a Miriã, e saíram
ambos. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu,
o SENHOR, em visão a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele. Não
é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca
falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois, ele vê a semelhança do
SENHOR; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra
Moisés? Assim, a ira do SENHOR contra eles se acendeu; e foi-se. E a nuvem se
desviou de sobre a tenda; e eis que Miriã era leprosa como a neve; [...] Assim,
Miriã esteve fechada fora do arraial sete dias. Números 12.4-15a
Os arquivos bíblicos mostram que, em outras ocasiões, quando Moisés foi
atacado, o Senhor respondeu destruindo as pessoas completamente! Contudo,
nessa situação, tudo o que Arão recebeu foi um sermão, e Miriã, uma semana de
lepra. Esse é um ótimo exemplo de como o Senhor age de diferentes maneiras
com os salvos e os não-salvos. Sua sentença de morte instantânea sobre aqueles
que tentaram colocar-se contra Moisés foi para proteger a nação como um todo.
Rebeldes que se recusaram a se arrepender podiam receber julgamentos severos.
Miriã, por outro lado, foi disciplinada como uma falha e restaurada ao convívio
familiar,
Apesar de tudo, o Senhor claramente mostrou Sua grande estima por
Moisés. Um comentarista declarou o seguinte:
Os profetas, consequentemente, eram simplesmente instrumentos por
intermédio dos quais o Altíssimo tornava conhecidos Seus conselhos e Sua
vontade para determinadas situações, em relação às circunstâncias especiais e
situações do desenvolvimento do Seu Reino. Não foi assim com Moisés. O
Onipotente o colocou sobre toda a Sua casa, chamou-o para ser o fundador e
organizador do reino estabelecido em Israel por meio de seu serviço de mediador
e encontrou-o fiel ao Seu serviço [...].
Assim Moisés não era um profeta do Senhor, como muitos outros, nem
meramente o primeiro e maior anunciador da Palavra, o primeiro entres os iguais,
mas ficou sobre todos os profetas, como o fundador da teocracia e mediador da
Antiga Aliança... Seus sucessores, simplesmente, continuaram a se estabelecer
nos fundamentos que Moisés lançou. Se aquele homem de Deus teve esse
relacionamento peculiar com o Pai, Miriã e Arão pecaram gravemente contra Ele,
quando falaram daquela maneira.4
Sem dúvida, o prazer do Senhor com Moisés foi o suficiente para atrair a
atenção dos seus irmãos, mas Miriã precisava aprender essa lição de uma forma
que jamais esquecesse. O Senhor acometeu seu corpo com a praga maligna da
lepra. Por isso, por ter-se exaltado acima do líder escolhido pelo Onipotente, ela
foi condenada a permanecer fora do arraial por uma semana inteira, com muito
tempo para se arrepender.
Evidentemente, essa humilhação atingiu o efeito desejado, pois nós nunca
mais lemos sobre ela exaltando-se novamente. Com toda certeza, tal afirmação é
verdadeira: Porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe
por filho (Hb 12.6).
CINCO
ORGULHO RELIGIOSO
Exceto por alguns poucos isolados períodos na história bíblica, a
desobediência e a rebelião foram as principais características dos judeus. Isso se
manifestou primeiro em sua participação na idolatria inaceitável das nações
pagãs que estavam ao redor deles depois de se terem instalado na Terra
Prometida. O seu exílio na Babilônia trouxe um fim a tudo isso - mais uma vez,
eles clamaram pelo Todo-Poderoso. Mas não muito tempo antes, uma fé
verdadeira em Deus foi substituída por rituais mortos. Em um determinado
ponto, o Senhor os confrontou sobre sua falta de sinceridade na adoração, quando
Ele disse que este povo se aproxima de mim e, com a boca e com os lábios, me
honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim, e o seu temor para
comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído (Is 29.13).
Essa foi uma acusação grave contra eles, pois expôs que, mesmo naqueles dias
iniciais, os judeus tinham-se tornado descrentes, mudando sua realidade interna
com Deus para outra de religiosidade sem verdade.
Quando Jesus apareceu em cena centenas de anos mais tarde, um
formalismo frio havia tomado conta do judaísmo. Em vez de manter a Lei fora da
adoração sincera ao Senhor, os fariseus ficaram satisfeitos em manter sua fachada
religiosa. Jesus colocou o dedo na ferida quando disse: E fazem todas as obras
afim de serem vistos pelos homens, pois trazem largos filactérios, e alargam as
franjas das suas vestes (Mt 23.5). Tudo relacionado às suas cerimônias, seja usar
amuletos, seja recitar longas preces em público, era realizado com o propósito de
fazer com que parecessem espirituais para aqueles que estavam à sua volta. Sua
"fé" foi tão corrompida pelo orgulho e pela hipocrisia, que, de maneira
aparentemente exasperada, Jesus exclamou: Como podeis vós crer, recebendo
honra uns dos outros e não buscando a honra que vem só de Deus? (Jo 5.44).
Em outras palavras, no lugar de viverem para agradar ao Senhor - a atitude
natural que vem da fé genuína -, os fariseus construíram um sistema
fundamentado na própria glória e no orgulho. Eles eram tão altivos, que não
puderam ver que o Deus encarnado estava sentado à frente deles.
Não há dúvida de que os fariseus * e seus similares "cristãos", os judeus
convertidos, apareceram muitas vezes na mente dos escritores do Novo
Testamento, sendo mencionados mais de cem vezes.
Sua presença formou a base da vida religiosa do primeiro século. Um dos
maiores esforços da primeira igreja cristã foi romper com a superficialidade do
judaísmo. Claramente convencidos de que a verdadeira religião é uma questão do
coração, os que escreveram o Novo Testamento, repetidamente, exortaram
aqueles cristãos a lutarem pela presença real do Altíssimo na vida deles, em vez
de se acomodarem com uma vã religiosidade caracterizada pelo legalismo e por
atos vazios de devoção.
Apesar disso, como a Igreja tem-se desenvolvido nos últimos dois milênios,
o Evangelho de Jesus Cristo tem-se espalhado por todo o mundo. A semente do
verdadeiro cristianismo tem crescido ao mesmo tempo em que as "sementes" da
hipocrisia, ou seja, aqueles que estão satisfeitos com uma forma aparente de
cristianismo em vez de uma realidade interna. A Igreja pós-moderna desenvolveu
a própria forma de dissimulação, feita sob medida para a vida americana
moderna. Embora nossas congregações evangélicas não tenham ministros
segurando talismãs e longas franjas pendendo de suas roupas, criamos a nossa
forma de farisaísmo. O orgulho religioso está tão ativo hoje quanto há dois mil
anos.
ÊNFASE NA APARÊNCIA
A primeira e mais óbvia característica dos fariseus era que eles estavam
muito mais preocupados com a maneira com que pareciam para os outros do que
como pareciam para Deus. Com precisão milimétrica, Jesus lhes mostrou qual
era o seu espírito:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do
copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade. Fariseu
cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior
fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes
aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas
interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim,
também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais
cheios de hipocrisia e de iniqüidade. Mateus 23.25-28
Nessa denúncia agressiva, Jesus expôs a raiz da hipocrisia daquele povo:
Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus (Jo 12.43).
Jesus utilizou a palavra grega hipócrita - usada no mundo grego para descrever
atores que atuavam em alguma peça - como o termo ideal para descrever a falsa
piedade dos fariseus. O mundo judeu era o seu palco, e esses atores religiosos
*
Para simplificar, esse termo está empregado em senso geral para descrever todos os hipócritas religiosos dos tempos
de Jesus.
tinham uma habilidade nata para representar o papel de "escolhidos de Deus". A
sua platéia judia buscava neles direção e acreditava que estava sendo liderada
pelo caminho correto. O problema era que, assim como um ator influente de
Hollywood pode ter um papel reescrito para que apareça melhor em um filme, os
fariseus tinham transformado suave e gradualmente a devoção a Deus em um
sistema religioso que recompensava a piedade aparente e ignorava a verdadeira
intenção. Como disse Jeremias, eles recusaram a palavra do SENHOR, e a falsa
pena dos escribas a transformou em mentira (Jr 8.8,9). Ezequiel coloca isso de
maneira ainda mais clara: Os seus sacerdotes transgridem a minha lei (Ez
22.26a). A transformação aconteceu tão gradualmente, que quase ninguém
percebeu.
De maneira mais branda, o mesmo fenômeno está acontecendo na Igreja
moderna nos Estados Unidos. Embora ela tenha seus períodos de verdadeiros
avivamentos, esse fogo está gradualmente se extinguindo por causa do egoísmo e
do secularismo. As pessoas naturalmente preferem o percurso mais fácil, mas
esse é o largo caminho que leva à destruição (Mt 7.13). Existem muitos crentes
sinceros que são devotos do Altíssimo e orientados por Ele, mas outros têm
escolhido um viver mais fácil e têm tentado encaixar o cristianismo dentro do seu
cotidiano. Em outras palavras, como os fariseus, eles têm-se tornado atores
religiosos profissionais que estão espiritualmente vazios. De fato, é muito mais
fácil exagerar no distanciamento de Deus do que, na verdade, lutar contra o
problema propriamente dito.
Jesus advertiu Seus discípulos sobre a contaminação da falsa
espiritualidade: Acautelai-vos, primeiramente, do fermento dos fariseus, que é a
hipocrisia (Lc 12.1b). A melhor analogia, hoje em dia, para esta admoestação
seriam as placas que encontramos nas estradas: "Cuidado! Atenção! Pare!
Perigo! Afaste-se!". Para o bom Mestre ter usado um termo tão forte como
acautelai-vos, isso mostra que Ele considerava a hipocrisia extremamente
perigosa. A hipocrisia é muito arriscada porque:
• Reforça o amor-próprio da pessoa.
• Acontece automaticamente quando alguém é altivo e tem dificuldade de
perceber.
• Substitui uma falsa espiritualidade.
• Leva a uma posterior decepção e desilusão.
• Impede que a pessoa veja sua necessidade de se arrepender e mudar.
• Encoraja mais o temor do homem do que o de Deus.
• Exalta os resultados visíveis enquanto cega as pessoas em relação às
conseqüências eternas.
Deveria ser claro que a verdadeira condição espiritual de um homem não é
determinada por uma auto-avaliação otimista. Ele não é de Deus simplesmente
porque se considera assim, nem é devoto porque enganou os outros para que
pensassem que ele é. A realidade da sua situação espiritual é fundamentada
apenas sobre uma coisa: como o Altíssimo o vê. Jesus declarou: Eu sou aquele
que sonda as mentes e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas
obras (Ap 2.23b). O escritor do livro de Hebreus disse que não há criatura
alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos
olhos daquele com quem temos de tratar (Hb 4.13). Tudo o que fazemos em
segredo e o que pensamos (incluindo nossas motivações secretas) são claras
diante do Senhor. Aqueles que não têm uma realidade do Reino do Pai se
enganam pensando que sua animosidade, seu desejo, sua avareza, sua
autopiedade e inveja são problemas insignificantes. Mas, apesar disso, tudo é
revelado claramente no telão do Céu (como se existisse um) diante do Deus
santo. Eles podem convencer a si mesmos e persuadir os outros, afirmando
andarem retamente no caminho do Senhor, mas isso não é necessariamente a
verdade.
Deus diz de todo homem orgulhoso: "Nós não podemos viver neste mundo
juntos".2
Talmude Judeu
SEIS
A DESONRA DO ORGULHO
A primeira lei espiritual prática é que a soberba leva a desonra (do hebraico,
qalown) à vida de uma pessoa. Os sinônimos para este termo são desgraça,
ignomínia, reprovação e vergonha.4
Pessoa alguma gosta de alguém que imagina ser superior a todas as outras à
sua volta. Existe algo repulsivo nele. Em vez de ser tratado com respeito e honra,
o altivo provoca sentimentos ruins em seus semelhantes. O que é triste a respeito
daqueles que são obcecados com o que os demais pensam sobre eles é que
quanto mais preocupados estiverem com a própria aparência, menos as pessoas
irão respeitá-los. Sua tentativa orgulhosa de se exaltar apenas os diminui perante
elas.
O seguinte incidente que aconteceu comigo e com a minha esposa, Kathy, é
uma boa ilustração disso. Há muitos anos, jantamos com um casal influente, em
quem eu queria muito causar boa impressão. Enquanto comíamos, minha mulher
lhes contou uma história engraçada sobre mim que me embaraçou. Se eu tivesse
dado risadas, ela seria rapidamente esquecida, mas como eu estava muito
preocupado com o que eles iriam pensar de mim, fiquei com raiva e chamei a
atenção de Kathy com um tom de voz muito agressivo. Foi uma cena horrível e,
por causa da minha soberba, a coisa que eu mais temia aconteceu comigo: passei
uma péssima impressão.
O orgulho não somente é repulsivo, como também provoca a
competitividade. Pessoas que se preocupam com sua autopromoção quase
sempre o fazem às custas dos outros. Contudo, uma competição exige um
oponente. Não é suficiente para alguém se gabar sobre algum talento,
característica pessoal ou resultados satisfatórios. Que vantagem tem se não há
quem derrotar ou desdenhar?
C. S. Lewis declarou o seguinte:
Nós dizemos que as pessoas se orgulham de serem ricas, ou inte-
ligentes, ou bem-apessoadas, mas elas não são. Elas se orgulham de
serem mais ricas, mais inteligentes, ou mais bem-apessoadas que as
outras. Se todos os outros se tornassem igualmente ricos, inteligentes
ou bem-apessoados não se teria nada do que se orgulhar. É a
comparação que o faz orgulhoso: o prazer de estar acima dos outros.5
A QUEDA INEVITÁVEL
JULGAMENTO E DESTRUIÇÃO
AS BÊNÇÃOS DA
HUMILDADE
A Igreja de Deus nunca é tão bem construída como quando é feita com homens
de corações quebrantados. Eu orei ao Altíssimo em segredo muitas vezes,
recentemente, para que Ele levantasse do nosso meio alguém que tivesse
profunda experiência, conhecesse a culpa do pecado, fosse quebrado e destruído
ao pó sobre seu senso de falta de habilidade e de valor [...] Aquele que nunca
esteve no porão, nem no abismo, tampouco se tenha sentido como se estivesse
fora da vista de Deus, como pode confortar os que estão longe do Pai e estão
suplicando no desespero?1
Charles Spurgeon
SETE
VERDADEIRA SALVAÇÃO
Hoje em dia, existem bilhões de almas sobre a face da terra, sentindo o peso
do seu pecado, eternamente perdidas e destinadas ao inferno. Muitas estão
envolvidas com as coisas desse mundo completamente inconscientes e
despreocupadas sobre sua terrível condição espiritual.
Ocasionalmente, Deus tem a possibilidade (em primeiro lugar, pelas
orações dos santos) a trabalhar conscientemente em uma alma perdida. O Espírito
Santo tenta mostrar por meio da cegueira espiritual a realidade da sua situação de
perdição. Ele faz isso convencendo a pessoa do seu pecado e promovendo
circunstâncias em que ela poderá ver que necessita de um Salvador. Conforme o
fardo da transgressão vai pesando, ela gradualmente se dá conta de que esteve em
total rebelião contra seu Criador. John Bunyan registrou de maneira muito
interessante em seu livro Pilgrim's progress (O progresso do peregrino) a
experiência do profundo desespero de um pecador condenado, como uma busca
verdadeiramente cristã pelo caminho que pudesse remover o fardo do pecado.
Quando alguém reconhece sua pobreza espiritual, sabe que não há coisa
alguma que possa fazer para salvar-se. Ele está completamente sem esperança
por sua condição. Jesus exclamou: Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o Reino dos céus (Mt 5.3). Ele está, se assim podemos dizer,
prostrado sem alguém para quem ele possa pedir por socorro, exceto para Deus.
Seu destino está completamente fora de suas mãos. Em profundo desespero, ele
deve aproximar-se do Poderoso com apenas com um pedido: "Tenha
misericórdia da minha alma pecadora!". Essa é a única entrada para o Reino dos
céus.
É nesse ponto que a pessoa espiritualmente "alcançou o fundo"; não há
mais coisa alguma! Quando um pecador arrependido esgota todas as
possibilidades de se ajudar, joga-se nos braços do seu Salvador. É lá, aos pés da
cruz, que ele deve tomar uma decisão genuína por Cristo. Antigos escritores de
músicas registraram esse momento precioso:
Durante muito tempo meu espírito permanece preso, Fortemente
ligado ao pecado e à noite natural, Meus fracos olhos percebem
um raio, Eu acordo, o porão iluminado com luz: Minhas cadeias
caíram, meu coração estava livre, Eu me levantei, saí dali e segui
a Ti.2
Houve muita misericórdia e graça, eu estava livre; Perdão foi
multiplicado para mim; Lá, minha alma condenada encontrou
liberdade, no Calvário.3
A APROXIMAÇÃO DE DEUS
*
Parte desse material foi extraído de Living in victory (Viver em vitória), escrito pelo autor.
para sua casa [perdoado, e visto como justo por Deus] e não aquele
(Lc 18.14a).4
A BÊNÇÃO DA POBREZA
OITO
A MENTALIDADE DO SOLDADO
A IMPORTÂNCIA DO QUEBRANTAMENTO
Até que a vida de um cristão esteja sob o controle de Deus, ele é inútil para
o Seu Reino. A única maneira que ele tem para se tornar submisso é pelo
quebrantamento da sua vontade. Uma boa analogia disso é a de um cavalo
selvagem, o qual pode ser um animal lindo e gracioso, mas é inútil em sua
condição de indomado. No entanto, uma vez que tenha sido amansado, o cavalo
poderoso pode ser controlado e guiado pelas rédeas e pelos comandos verbais do
seu mestre.
O cristão que tem sua vontade quebrantada por seu Pai celestial desenvolve
um respeito pela orientação do Mestre. Ele não exibe o medo que uma criança
castigada tem de um pai cruel, mas, ao contrário, mostra reverência apropriada a
quem deve respeito. Por sua vontade ter sido conquistada, ele não vê mais sua
vida como se tivesse o direito de controlá-la. Davi era um homem que agia dessa
maneira. Mesmo quando o Senhor o repreendeu (por intermédio de Natã) pelo
relacionamento com Bate-Seba, o Altíssimo revelou que ele tinha um lugar
especial em Seu coração: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de
Saul; e te dei a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teu seio e
também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto é pouco, mais te
acrescentaria tais e tais coisas (2 Sm 12.7b,8). Até quando havia atingido o auge
de seu orgulho e caído no precipício do pecado, Davi usufruía de um tremendo
favor do Onipotente.
Uma das coisas que Davi disse para o Senhor, quando se dobrou de joelhos
em profunda penitência pelo seu pecado foi: Os sacrifícios para Deus são o
espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó
Deus (Sl 51.17). Em outra ocasião, ele usou esses mesmos adjetivos: Perto está o
SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito (Sl
34.18). Os termos hebraicos traduzidos como quebrantado (shabar) e contrito ou
oprimido (dakah) são extremamente importantes para aqueles que desejam ser
bem-estimados por Deus. É muito interessante como o termo shabar é
empregado em outros trechos no Antigo Testamento.
Uma figura histórica que se tornou próxima do Senhor dessa maneira foi
Moisés. Ele é a figura mais predominante no Antigo Testamento, tendo escrito
seus primeiros cinco livros e sendo mencionado, aproximadamente, 800 vezes na
Sagrada Escritura. Além de ter sido o instrumento que Deus usou para lançar as
pragas no Egito que levaram à libertação da escravidão Seu povo escolhido, ele
também foi usado para fundar a nação de Israel e formar a religião judaica.
Porém, esse vaso escolhido precisou de uma preparação espiritual extensa para
essa grande tarefa.
Moisés cresceu nos palácios do Egito, uma civilização que estava muitos
anos além de seu tempo em diversas áreas de conhecimento, como, por exemplo,
nas de patologia, astronomia e engenharia. Infelizmente, parece que essa
sabedoria extraordinária surgiu do conhecimento das profundezas de Satanás.
Esse império maligno era, com certeza, controlado pelos principados, pelas
potestades e forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Ef 6.12 - ARA).
Sem dúvida, Moisés cresceu em um mundo detestável e extremamente
depravado. Como membro da casa de Faraó, o jovem hebreu recebeu uma
profunda doutrinação, tendo sido instruído em toda a ciência dos egípcios (At
7.22a). Quando tinha por volta de 40 anos, ele estava mergulhado no modo de
pensar egípcio. Porém, foi nessa época que ele teve um encontro com Deus que
mudou completamente o rumo de sua vida. A Bíblia Ampliada expressa de
maneira muito bela a consagração de Moisés quando recebeu esta revelação do
Senhor:
[Movido] Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado [sofrer as
dificuldades] junto com o povo de Deus a usufruir prazeres
transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio [a
vergonha] de Cristo [o Messias que estava por vir] por maiores
riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão
[a recompensa]. [Motivado] Pela fé, ele abandonou o Egito, não
ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme
como quem vê aquele que é invisível (Hb 11.24-27 - ARA).
O Senhor estava preparando para levar Seu povo à Terra Prometida. Suas
leis governariam a nova nação. Para conseguir isso, Ele precisava de um homem
que entendesse a obediência; não simplesmente a obediência externa às regras,
mas uma convicção profunda e sincera para obedecer a Deus. Moisés foi
escolhido desde o seu nascimento para ser tal homem. Infelizmente, ele, como os
demais de seu povo, era um rebelde inveterado. Tornou-se zeloso com o Senhor,
mas estava tão cheio de sua justiça própria, que matou um egípcio. Ele teria de
sofrer uma profunda mudança de caráter antes que pudesse ensinar os outros
acerca da obediência.
A Escritura é estranhamente silenciosa sobre a estada de Moisés no deserto.
Podemos apenas imaginar o que o Criador o fez passar a fim de prepará-lo para o
grandioso desafio que surgiria diante dele. Durante 40 anos, Moisés foi
disciplinado, humilhado, confinado e quebrantado pelo Todo-Poderoso. Ele teve
de ser purificado de sua mentalidade egípcia e aprender como obedecer a Deus.
De qualquer forma, era um homem completamente transformado que entrou no
palácio do Faraó 40 anos depois de ter deixado esse lugar em desgraça. A Bíblia
nos conta que ele foi mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra (Nm 12.3). Pode-se dizer isso de uma outra maneira: a vida de Moisés foi
mais diminuída, controlada e direcionada pelo Espírito Santo do que
qualquer outra. Ele se tornou tão puro no fogo Refinador, que podia falar com o
Senhor face a face (Mt 5.8).
O cristão do século 21 não parece experimentar o mesmo tipo de encontro
que Moisés teve com o Poderoso. Porém, os mesmos princípios espirituais que
estavam em vigor naqueles dias vigoram também hoje. Quanto mais o Espírito
Santo conquista o interior de uma pessoa, mais ela se aproxima do Pai. Quanto
mais profunda sua submissão, maior será sua revelação sobre o Onipotente. Seu
coração entenderá, seus ouvidos ouvirão, e seus olhos verão a realidade espiritual
do mundo invisível onde o Senhor reina (Mt 13.14-16).
Tudo envolvido com o cristianismo gira em torno de um relacionamento
pessoal com Cristo, que depende do seu nível de submissão ao Altíssimo. Assim
como o crente se torna progressivamente mais submisso às regras do Senhor em
sua vida, ele verá a realidade de Deus crescendo dentro do seu ser. Não há
atalhos para essa intimidade preciosa.
NOVE
ANDANDO EM HUMILDADE
O salmista expôs a verdade que está dentro do coração dessa pessoa quando
disse: Aos seus olhos é inútil temer a Deus. Ele se acha tão importante, que não
percebe nem rejeita o seu pecado (Sl 36.1b,2 - NVI).
Por outro lado, quanto mais uma pessoa domina o pecado em sua vida e se
aproxima mais de Deus, mais sua natureza pecaminosa se sobressai. Deus
habita na luz inacessível (1 Tm 6.16) e, assim, conseqüentemente, todo vestígio
de egoísmo, orgulho e pecado será exposto àquele que buscar o Senhor com
sinceridade. A luz intensa e brilhante de Deus expõe o que está no coração da
pessoa. Aqueles que querem aproximar-se mais do Senhor regozijam-se por
causa disso. Eles amam a Luz e, então, abraçam-nA, muito embora isso
signifique que seu verdadeiro eu seja desmascarado. Jesus disse: E a condenação
é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a
luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece
a luz e não vem para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas
quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam
manifestas, porque são feitas em Deus (Jo 3.19-21).4
O altivo, que não deseja ser mudado, permanece em profunda ignorância
sobre seu real estado espiritual. Ele faz a própria propaganda pessoal. Assim
como os fariseus com sua auto-aprovaçao e ilusão no templo, ele pensa, ora e
acredita no melhor sobre si mesmo. Por causa desse tremendo amor-próprio, ele
se vê em uma posição de destaque.
Como é diferente o crente capaz de ser honesto consigo mesmo e confessar
o que há em seu coração! Quando inicia o amadurecimento de sua caminhada
com Deus, ele começa a reconhecer os horríveis tentáculos do pecado em todos
os lugares! Não que a iniqüidade tenha crescido; seus olhos cegos simplesmente
se abriram para o que já estava lá durante todo o tempo. Ele agora quer ver a
transgressão porque ele deseja que o Senhor o livre dela. Aquele que foi
quebrantado pelo Altíssimo não precisa ser convencido de sua condição indigna;
seu pecado está sempre diante de si.
Paulo admoestou o cristão: Digo a cada um dentre vós que não pense de si
mesmo além do que convém; antes, pense com moderação (Rm 12.3).
Geralmente, a humildade está simplesmente tendo a perspectiva adequada sobre
o Onipotente, sobre ela mesma e sobre os outros. William Law disse:
Humildade não consiste em ter uma opinião pior sobre nós mesmos do
que merecemos, ou rebaixar-nos mais do que deveríamos; mas, assim
como toda virtude está fundamentada na verdade, a humildade está
alicerçada em uma verdade e em uma impressão correta sobre nossas
fraquezas, nossa miséria e nosso pecado. Aquele que sente e vive
sinceramente nesse conhecimento sobre sua condição vive em
humildade.5
Querido Senhor, reconheço que sou muito grande aos meus próprios olhos.
Por favor, humilha-me para que eu possa ver-Te melhor. Tira-me de qualquer
auto-ilusão que o orgulho ou o pecado tenham criado. Ajuda-me a
adquirir a perspectiva apropriada de mim mesmo em relação a Ti e aos outros.
Faça-me temer-Te! Dá-me um coração de servo. Purifica-me, Senhor,
para que eu possa viver humildemente diante de Ti e dos outros. Amém.
Eu costumava pensar que os dons de Deus estavam em prateleiras, uma acima
das outras, e, quanto mais crescíamos no caráter cristão, mais facilmente
poderíamos alcançá-las. Eu entendo, agora, que eles estão em prateleiras, uma
abaixo das outras, e isso não é uma questão de se tornar maior, mas de se tornar
menor e ter de descer para pegar Seus melhores dons. No serviço cristão, os
galhos que produzem mais frutos se curvam aos mais baixos.1
F. B. Meyer
Nossa humildade não deve ser apenas uma baixa auto-estima de nós mesmos,
mas ser uma remoção prática de distinções e prerrogativas e uma identificação de
nós mesmos com os mais humildes. Precisa levar ao serviço, o qual deve ter por
fim a limpeza de nosso irmão. Uma mente humilde não pensa em seus pedidos
para os outros, mas em suas obrigações para com eles.2
Alexander MacClaren
DEZ
SERVINDO AOS OUTROS
PRIMEIRO DIA:
• Pregou o sermão da montanha.
• Curou um leproso.
• Sarou o servo do centurião.
• Curou a sogra de Pedro.
• Restaurou pessoas e expeliu demônios de muitas delas aquela noite.
• Entrou em um barco para cruzar o mar da Galileia e adormeceu.
• Acalmou uma tempestade que assaltou o barco.
SEGUNDO DIA:
• Expulsou os demônios de dois homens na outra margem.
• Cruzou o lago de volta para Cafarnaum.
• Curou um paralítico.
• Debateu com os fariseus.
• Jantou com Mateus e seus amigos.
• Curou a mulher com hemorragia.
• Ressuscitou a filha de Jairo.
• Curou dois cegos.
• Expulsou o demônio de um outro homem.
Sou grato a Mateus por ter feito esse registro da vida diária do Salvador, em
vez de, simplesmente, registrar todos os grandes eventos que aconteceram
durante Seus três anos de intenso ministério terreno. Esse relato sobre Seu
cotidiano revela Sua preocupação constante com a vida das pessoas. De acordo
com a afirmação de Sua missão, Ele não veio para ser servido, mas para servir
(Mt 20.28 - ARA).
Os verdadeiros seguidores de Cristo adotam esse mesmo raciocínio porque
Cristo vive neles. * Quando vêem a necessidade, eles são compelidos a ajudar os
necessitados. Os servos cristãos não dão ordens, como muitos ricos tratam seus
serviçais. Eles, sob a orientação de seu Mestre, vivem para satisfazer a
necessidade dos outros. De certa forma, são servos desses necessitados.
Paulo é um ótimo exemplo dessa postura de coração. Continuamente, ele se
identificava como um servo, dedicando seus 30 anos de ministério para servir e
satisfazer as carências espirituais dos gentios convertidos. O que ele enfrentou
para ajudar os outros é absolutamente fenomenal. Assim, as coisas que ele pode
ter desejado para si mesmo (conforto, segurança, prazer, prosperidade, dentre
outras) ficaram em segundo plano quando ele recebeu um chamado de Jesus
Cristo para pregar o Evangelho. Não havia coisa alguma, nem mesmo martírio,
que ele deixaria de enfrentar até o fim.
O livro de 1 Tessalonicenses revela o grande amor desse apóstolo pelas
pessoas. Leia algumas das coisas que ele disse para essa congregação, as quais
significavam muito para ele:
• Tanto mais procuramos com grande desejo ver o vosso rosto (2.17b).
• Pelo que bem quisemos, uma e outra vez, ir ter convosco, pelo menos eu,
Paulo, mas Satanás no-lo impediu (2.18).
• Porque qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura,
não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em sua vinda?
(2.19).
• Na verdade, vós sois a nossa glória e gozo (2.20);
• Pelo que, não podendo esperar mais (3.1a).
• Portanto, não podendo eu também esperar mais, mandei-o saber da vossa fé,
temendo que o tentador vos tentasse (3.5a).
• Desejando muito ver-nos, como nós também a vós (3.6b).
• Porque, agora, vivemos, se estais firmes no Senhor (3.8).
• Por todo o gozo com que nos regozijamos por vossa causa diante do nosso
Deus (3.9b).
• Orando abundantemente dia e noite, para que possamos ver o vosso rosto e
supramos o que falta a vossa fé? (3.10).
A grande devoção de Paulo por essas pessoas é óbvia. Ele passou a vida
inteira envolvido com o bem-estar delas. Sua busca por almas perdidas o levou a
um viver sem descanso. Muitos estavam perdidos na escuridão, indo para o
inferno, e ele se importou profundamente. Esse é o pensamento que todo
cristão deveria ter.
Auto Serviço
*
O religioso pode ir ã igreja e confessar os pecados óbvios e externos, mas, se não tiver uma conversão verdadeira,
ele não sentirá aquela vontade interna de satisfazer as necessidades dos outros. Tiago propõe que a fé é provada por
seus atos de misericórdia (Tg 2.13-16).
Como é diferente a mentalidade que muitos têm hoje! A história de um
jovem, cujo pseudônimo é Keith, vem à minha mente. Ele ingressou no programa
de internação do Pure Life Ministries (Ministérios de Vida Pura), por causa de
seu problema com a homossexualidade. Rapidamente, tornou-se salvo e seguiu
procurando mais liberdade de seu pecado sexual. Ele sentiu o chamado para o
ministério e, finalmente, entrou na escola bíblica com a bênção dos conselheiros.
Ficamos todos muito felizes por ele quando se graduou, dois anos mais tarde, e
estávamos ansiosos para contratá-lo quando ele viesse pedir um emprego.
Porém, quando chegou, rapidamente, ficou visível que ele havia perdido
alguns dos princípios de servidão que havíamos plantado nele. Nós o havíamos
ensinado que o principal propósito do ministério é ajudar outras pessoas. De
alguma forma, na época em que ele se formou, seu principal foco era construir
uma carreira ministerial que girasse em torno dele.
Parecia claro que ele queria ser alguém grande, e o ministério era a sua
passagem para essa grandeza.
Tal atitude se revelou, particularmente, em uma conversa que tive com ele
muitos meses depois de ele ter voltado para trabalhar conosco. Keith ainda estava
lutando com a masturbação constante. Porém, ele me disse que tinha tido um
sonho, na noite anterior, em que o Senhor disse-lhe que queria usá-lo de uma
maneira grandiosa, mas ele estava incapacitado por causa de seu hábito de se
masturbar. Eu sabia que o sonho não vinha de Deus, porque a masturbação é um
mero sintoma de algo muito mais profundo.
"Keith, o Senhor quer usá-lo, mas a masturbação não é o problema; você é
o problema!", eu exclamei. "Masturbação, raiva, amargura e outras coisas contra
as quais você luta são as fraquezas da carne. Para colocar em termos mais
simples: o problema é que você ainda está muito cheio de si mesmo. Enquanto
estiver dessa maneira, o Altíssimo estará muito limitado no que Ele pode fazer
por seu intermédio.
A outra coisa que precisa saber é que seu entendimento sobre o serviço do
Senhor está fora dos eixos", continuei. "Keith, o ministério não se deve
desenvolver em torno da idéia de você ser usado de uma grande maneira. Esse
tipo de pensamento é alheio ao Reino de Deus. Sua perspectiva é que você faça
grandes coisas para o Senhor. Toda a sua motivação para o serviço está centrada
em torno da sua vida: o que ganhará com isso, como as pessoas olharão para
você, quão grande você parecerá aos outros".
"A grandeza no Reino de Deus gira em torno do Senhor, não do
trabalhador", concluí. "O Senhor é o único com o coração magnânimo. Ele é
quem possui um amor enorme pelos outros e o único com poder para fazer
qualquer coisa para ajudá-los. Nossa parte Richard Sobotka tem 23 anos de
idade. Quando tinha nove, sofreu de síndrome de Reye, uma doença que causa a
destruição do tecido nervoso, deixando seqüelas irreversíveis. Seu efeito em
Richard foi a perda da capacidade de se comunicar e algumas habilidades
motoras. Ele respira por meio de um tubo de traqueotomia, o que parece ser um
grande problema, mas Richard aprendeu a servir ao Senhor como ele é.
No último outono, ele decidiu recolher as nozes caídas no chão da
propriedade de seus pais. Ele poderia vendê-las e ganhar algum dinheiro.
Richard gastou uma semana inteira nesse trabalho, que, para ele, era uma
grande tarefa, uma vez que seus problemas de saúde não permitiam muitos
movimentos.
Ele se sentava no chão, pegando os frutos com dois dedos que
funcionavam, e os colocava dentro da sacola. Sua colheita foi impressionante:
122 quilos de nozes foram coletadas dentro de 16 a 20 sacos. Richard levou-as
para o comércio local e recebeu 21 dólares e 60 centavos por seu trabalho.
Em vez de guardar esse dinheiro para o próprio uso, ele decidiu mandá-lo
para os missionários Bill e Judy Kirsch, na África do Sul. Bill escreveu que "foi a
oferta mais generosa que eles já haviam recebido [...]. De muitas formas, Richard
é um exemplo para todos nós. Ele é o modelo do tipo de servo e do auto-
sacrifício que agrada a Cristo e que, geralmente, negligenciamos em nossa
abundância e riqueza".3Quando Deus chama um crente para a vida eterna, Ele
também o convoca para Seu serviço. A Igreja é denominada Corpo de Cristo,
onde cada membro tem seu lugar. O Senhor planejou um ministério que se
adéqua perfeitamente ao temperamento, às habilidades e à fé que cada cristão
possui. A. B. Simpson fez a seguinte declaração:
Existe algo que só você pode fazer; há alguém que somente você pode
alcançar. Seu talento pode vir de uma habilidade natural ou influência
social, de recursos financeiros, de alguma posição na igreja, no
mundo, ou de oportunidades especiais trazidas a você com relação à
sua vida profissional. Esse é o resumo de todas as possibilidades de
utilidade em sua vida. Deus espera que você faça o melhor por Ele e
pelos outros; Ele irá chamá-lo para prestar conta na volta de Cristo
pelo uso que você fez de sua vida.4
ONZE
DIMINUIR-SE EM HUMILDADE
Todos os cristãos sinceros perseguem impiedosamente tudo na vida deles
que é desagradável para Deus. Eles desejam profundamente ser puros de coração
(Mt 5.8). Eles compreendem que a Terra é uma provação temporária e que todo
pensamento e qualquer palavra e ação serão julgados um dia. Aquilo que
permitiram que o Criador fizesse dentro deles e por intermédio deles determinará
a qualidade e a medida da recompensa que receberão na eternidade, as quais,
segundo eles, serão fundamentadas, primeiro, no grau que permitiram que Deus
os conquistasse e os moldasse para ser a imagem de Jesus Cristo (Rm 8.29). A
oração de Davi está continuamente em seus lábios: Sonda-me, ó Deus, e conhece
o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim
algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno (Sl 139.23,24).
Quão diferente é o pensamento daqueles que vivem apenas pelo dia de
hoje! A Bíblia os chama de tolos: aqueles que não ponderam e tomam decisões
fundamentadas em resultados imediatos. Certamente, o que as Escrituras dizem
sobre eles é verdade:
• Os loucos desprezam a sabedoria e a instrução (Pv 1.7b).
• O caminho do tolo é reto aos seus olhos (Pv 12.15a).
• Os loucos zombam do pecado (Pv 14.9a).
• O tolo encoleriza-se e dá-se por seguro (Pv 14.16b).
• O tolo despreza a correção de seu pai (Pv 15.5a).
• O coração dos tolos está na casa da alegria (Ec 7.4b).
É sábio lidar com essas questões antes do Senhor e pedir a Ele que revele as
áreas de seu coração que estão sendo marcadas pelo orgulho.
Se formos honestos, identificaremos facilmente vários tipos de orgulho
atuando em nosso coração. Sem perder a coragem ou sentir autopiedade,
entregue cada uma delas para o Altíssimo individualmente. Tome consciência
delas e peça para que Ele lhe perdoe por todas as vezes que isso tenha levado
você a destratar o Senhor e as outras pessoas. Você pode lembrar-se também de
algumas coisas que tenha pensado, dito ou feito e pode ter a vontade de ir até
aqueles contra quem você pecou e pedir perdão.
Tendo-se arrependido, agora é hora de tomar alguma atitude contra cada
tipo de orgulho que você tem enfrentado. Parte disso irá contrabalançar suas
tendências orgulhosas naturais, diminuindo o orgulho e aumentando a humildade
(Ef 4.22-24). Por exemplo, o soberbo precisa fazer coisas que o rebaixarão (em
sua mente) ao nível das pessoas. Se ele é arrogante em relação às virtudes de
outros, deverá desenvolver o hábito de parabenizá-los pelas conquistas.
Transferindo, dessa forma, o foco de si mesmo para os demais, ele poderá
contribuir muito para derrotar uma atitude altiva. É preciso também desenvolver
o hábito de comentar seus erros com aqueles que estão à sua volta. Por exemplo,
Bill Johnson poderia melhorar se considerasse realmente por que as pessoas
gostam muito mais do Jim, o zelador, do que dele.
A pessoa vã precisa lidar com sua inclinação de procurar a aprovação dos
outros. Embora a vaidade não seja uma forma de orgulho contra a qual eu tenha
de lutar, posso ver muito claramente minha propensão de me mostrar da melhor
maneira possível. Para combater essa inclinação natural, geralmente, coloco-me
propositalmente em situações em que fico exposto de maneira desagradável. Por
exemplo, se estou indo às compras com a minha esposa, em vez de usar roupas
para situações casuais, prefiro colocar minha calça jeans, suja de lama, e as
botas que eu uso em minhas caminhadas de reflexão, durante as manhãs, no
campo. Talvez, isso pareça bobo e desnecessário, mas é uma coisa pequena que
posso fazer para ir contra a tendência natural do meu orgulho. Acredite em mim,
esse tipo de comportamento opera maravilhas para acabar com a necessidade que
a pessoa tem de se sentir altamente gratificada.
Alguém que luta contra a tendência de ser extremamente protetor vê as
coisas de maneira diferente. Ele deve baixar a guarda e dar-se conta de que está
tudo bem se ele é visto um pouco aquém da perfeição. De fato, é uma experiência
libertadora que o ajudará a ser mais simpático e amável. Enquanto ele aprende a
se tornar mais vulnerável aos outros, descobre que seus muros e suas torres de
proteção - que representam o medo do homem e só podem ser substituídos
quando uma grande preocupação com os outros crescer - ruirão. O apóstolo do
amor disse: No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.
Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no
amor (1 Jo 4.18). Em outras palavras, quanto mais você se envolve com a vida
dos outros, menos medo terá dentro de si.
Um indivíduo rebelde ou que tende a ser inatingível deve lidar sem
misericórdia com seu orgulho, porque o confronto é uma parte vital no Reino de
Deus. Seria uma atitude sábia aproximar-se de seus líderes espirituais e/ou
daqueles próximos a ele, apresentando essas inclinações e pedindo a interferência
dessas pessoas em sua vida. As sábias palavras de Salomão expressam por que
isso é tão vital: O que repreende o escarnecedor afronta toma para si; e o que
censura o ímpio recebe a sua mancha. Não repreendas o escarnecedor, para que
te não aborreça; repreende o sábio, e amar-te-á*(Pv 9.7,8).
Uma pessoa muito qualificada, geralmente, luta contra o orgulho do sabe-
tudo em suas áreas de interesse; ela pode estar muito satisfeita sobre seu nível de
conhecimento. Uma boa maneira para lutar contra essa atitude é propositalmente
pedir orientação e informação aos outros sobre diferentes assuntos. Isso pode ser
extremamente difícil (e humilhante) para ela, porque é muito talentosa. Porém,
isso irá fazer-lhe um bem tremendo e, ao mesmo tempo, será uma bênção para os
outros.
O orgulho espiritual exige um grande acordo de arrependimento profundo
diante de Deus. Alguém que lida com essa forma de soberba tende a exagerar em
sua espiritualidade. Seria prudente pedir ao Senhor que lhe desse uma visão
maior do quanto está perdendo espiritualmente. Tal indivíduo não pode fazer-se
pobre de espírito, mas tem a possibilidade de procurar o Altíssimo para que Ele o
faça.
Andar contra a tendência natural do orgulho na vida ajuda tremendamente a
mantê-lo sob controle. Uma palavra de atenção deve ser mencionada aqui.
Enquanto você começa a ver formas diferentes de orgulho em sua vida,
inevitavelmente, torna-se mais consciente delas na vida dos que estão à sua volta.
Você deve policiar-se contra essa propensão e evitar criticar essas pessoas. Em
vez de apontar erros delas, procure maneiras de servir.
FORMAS DE SE HUMILHAR
Além de lidar com atitudes orgulhosas específicas que você possa ter,
existem outras coisas práticas que você pode fazer para se humilhar diante dos
outros.
Antes de tudo, deve mudar a maneira que vê aqueles que estão ao seu redor.
Em lugar de enxergá-los como rivais, considere-os objetos do seu amor, seu
respeito e sua afeição. Deus os ama e mandou Seu Filho para morrer na cruz para
que eles pudessem ter vida. Eles devem ter o melhor daquilo que você puder
oferecer. Em uma manhã em oração, durante os anos iniciais de meu ministério,
o Senhor colocou em meu coração que os homens que viriam para o nosso
programa de internação eram Seus convidados especiais e deviam ser tratados
como tal. Essa revelação realmente mudou a maneira de vê-los a partir daquele
momento.
Em segundo lugar, reconheça como o espírito desse mundo tem afetado
suas perspectivas de vida e a forma como você se vê e observa os outros. Pense
nas palavras de William Law, que escreveu o seguinte muitos séculos antes de a
televisão, o rádio e os computadores começarem a influenciar o pensamento
moderno:
O demônio é chamado, nas Escrituras, de príncipe deste mundo pelo
fato de ele ter grande poder aqui. Muitas de suas regras e seus
princípios são criados por esse espírito maligno, que é o pai de todas
as mentiras e falsidades, as quais nos separam de Deus e evitam nosso
encontro com a felicidade.
Agora, de acordo com o espírito e a moda desse mundo, cujo ar
corrupto todos nós temos respirado [...], não ousamos tentar ser
importantes à vista de Deus e dos anjos, por medo de sermos
pequenos aos olhos do mundo.
Nessa área, surgem as maiores dificuldades da humildade, porque ela
não pode existir em qualquer mente, mas, até agora, está morta para
esse mundo e separada com todos os desejos de aproveitar sua
grandeza e honra. Assim, para ser verdadeiramente humilde, você
deve desaprender todas as noções que aprendeu em sua vida toda
acerca do espírito corrupto desse mundo. Você pode não se posicionar
contra as investidas do orgulho e, talvez, as afeições mansas da
humildade não tenham lugar em sua alma, até que você barre o poder
desse mundo sobre você e decida contra a obediência cega às suas
leis.3
Depois, mude a forma com que você interage com os seus semelhantes.
Uma das coisas que ensinamos aos homens que vêm para o nosso programa de
internação é resumida na frase: "Colocar-se abaixo dos outros". Quando existe
um conflito entre duas pessoas, de uma forma muito real, cada uma delas é
tentada a passar por cima da outra com seu argumento ou sua vontade. Na
maioria das vezes, a pessoa humilde permite que a outra faça isso. Por exemplo,
quando as duas têm opiniões contrárias sobre um assunto controverso, a que é
humilde,
graciosamente, permite que a outra expresse seu ponto de vista sem ter a
necessidade de discutir. Salomão disse: Como o soltar as águas, é o princípio da
contenda; deixa por isso a porfia, antes que sejas envolvido (Pv 17.14). Ele
também declarou: A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita
a ira (Pv 15.1). Permitir que a outra pessoa expresse sua opinião sem discussão
não significa que você concorde com o que ela está dizendo; simplesmente quer
dizer que você tem a sabedoria para compreender que nada de bom resultará de
um desentendimento. Uma boa maneira de lidar com esse tipo de disputa é sorrir
e dizer: "Eu entendo sua opinião" e, delicadamente, mudar de assunto.
Se perceber que há a possibilidade de trocar idéias com a pessoa, você
poderá dizer: "Sim, acho que entendo por que você se sente assim. Talvez, eu
esteja completamente errado, mas a maneira com que vejo isso é...". Expresse sua
opinião de maneira gentil e observe a reação dela. Se perceber que ela se recusa a
entender, mude para a atitude mencionada acima. Mantenha-se em paz e evite
conflitos desnecessários.
Esse conceito de colocar-se abaixo também envolve permitir que os outros
consigam o que querem, ainda que isso esteja sob seu poder. Se alguém deseja o
último pedaço de torta, deixe. Se ultrapassa seu carro no trânsito, não arranje
encrenca por causa disso. Se não tem ânimo de sair para jantar, mas sua esposa
quer, vá com ela! Uma das marcas do verdadeiro cristianismo é desistir da
vontade própria em favor da dos outros. Não é necessário dizer que isso não se
aplica ao caso de um pai ou uma mãe disciplinando uma criança, um professor
insistindo para que o aluno complete sua lição, um pastor repreendendo um falso
mestre, e assim por diante.
É também muito importante assumir rapidamente quando você está errado.
Se discutir com alguém, desculpe-se pela sua falta de tato, ainda que as pessoas
sejam capazes ou não de fazer o mesmo. Você estará apto para sair dessa
situação sabendo que agradou a Deus.
Uma das dificuldades que muitos têm em dizer que estão errados é que eles
estão muito acostumados a pensar que estão sempre certos. Porém, ainda que
alguém não esteja errado sobre o que disse para o outro indivíduo, existem
chances de a atitude em seu coração estar errada. Os fariseus eram "corretos" em
muitas coisas que ensinavam, mas quão terrivelmente errados eles estavam em
seu auto-aprovado desdém pelos outros. Seja rápido para se desculpar e pedir
perdão; seja devagar para se defender. Existem cristãos tão orgulhosos, que,
literalmente, vivem anos sem admitir algum erro sobre qualquer coisa!
Sempre esteja pronto para dar crédito quando for necessário. Tome nota das
coisas boas que as pessoas fazem. Deixe-as saber que você admira os esforços
delas. Adquira o hábito de promovê-las, ao invés de elevar si mesmo. Um pastor
disse:
Se amarmos os outros da mesma forma que Jesus ama, iremos
regozijar-nos tanto em vê-los tendo êxito e sendo destacados, que mal
perceberemos que, em nossos esforços para ajudá-los, ficamos por
último".4
O Salvador também declarou: E como vós quereis que os homens vos
façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também (Lc 6.31).
Por último, envolva-se com a vida das pessoas e mostre que você se
preocupa com elas. No último capítulo, exploramos diferentes maneiras possíveis
para ajudar as pessoas a satisfazer suas necessidades. Você não só deve agir
gentilmente, mas também ter uma atitude de preocupação por elas. Por exemplo,
envolva-as em conversas sobre si mesmas: "O que você faz para viver?; Como
vão as coisas em seu trabalho?; "Você tem filhos? Fale-me sobre eles."; "Onde
você morou na sua infância? Sua família ainda reside lá?"; "Em que parte da
cidade você mora? Você gosta de lá?".
As pessoas adoram falar sobre si mesmas. Perguntas como essas irão ajudá-
las a se abrir e ver que você se importa com elas. Enquanto se envolve com a
vida delas, vê o amor de Deus em relação a elas crescendo dentro do seu coração.
Pode parecer mecânico e artificial, a princípio, mas não permita que isso o
desanime! O Senhor está derramando Seu grande amor pelos outros dentro de
você. Faça tudo o que estiver ao seu alcance para cooperar com os esforços de
Deus. Todos aqueles com quem você entra em contato são extremamente
importantes para o Onipotente. Ele ficaria muito satisfeito se você se interessasse
pela vida deles.
DOZE
SANTOS IRRESISTÍVEIS
Até agora, examinamos a questão do aborrecimento de Deus com relação
ao orgulho e sua admiração pela humildade. A premissa deste livro, a qual tentei
estabelecer por meio das Escrituras, é que a soberba cobra um preço
terrivelmente alto sobre a vida de uma pessoa, enquanto a humildade traz o favor
do Senhor e Suas bênçãos.
Em uma cultura onde é tão fácil fazer muito dinheiro em um curto período
de tempo e em um ambiente religioso no qual os ministros são recompensados de
acordo com as habilidades naturais e o carisma que possuem, as bênçãos do Pai,
geralmente, tornam-se algo corriqueiro. Se alguém almeja regenerar-se, por que
deveria seguir pelo caminho estreito do quebrantamento e da humildade? A
resposta é que cristãos sinceros desejam agradar a Deus e viver em uma
perspectiva eterna. Um dia, aqueles que falsificaram seu caminho para o topo
serão expostos como realmente são, enquanto os que se humilharam perante o
Altíssimo serão publicamente recompensados.
Admito que, pessoalmente, não viajei até muito longe nesse percurso por
meio da humildade. Porém, posso enxergar essa condição e estou determinado a
resolver isso independente do tempo que possa custar. Quero que minha vida seja
agradável para Deus e, depois de tudo o que Ele fez por mim, não quero colocar-
me diante dEle com um legado de orgulho e egoísmo.
Tendo dito isso, concluirei este livro com as histórias de três santos
renomados, cujas vidas testificam o fato de que o Todo-poderoso dá graça aos
humildes. É fácil ver como o Senhor os honrou e usou grandemente a vida deles
em Seu Reino. A biografia de cada um deles é bem-conhecida, por isso, irei
centralizar-me nas afirmações e situações interessantes que revelam o caráter de
cada um.
Talvez você pense que uma das maiores denominações tenha surgido com o
movimento missionário moderno, que seu pioneiro deve ter sido abençoado em
alguma das grandes catedrais e tenha sido o tema de uma gloriosa celebração de
despedida. Porém, foram formas modestas que inauguraram esse monumental
segmento da história da Igreja.
Ainda jovens cristãos, William Carey e um casal de amigos formaram uma
sociedade de missões para estudar a idéia de levar o Evangelho à índia. Porém,
quando eles compartilharam suas idéias no encontro de ministros da região,
foram ridicularizados. Ainda entusiasmado, William começou a fazer planos para
ir àquele país. Após saber de seus planos, seu pai lhe escreveu uma carta,
criticando-o e reprimindo-o por um propósito tão tolo. Pior do que isso, sua
esposa se recusou a acompanhá-lo ou permitir que seus filhos fossem também.
William respondeu à sua mulher em uma carta datada de 6 de maio de 1793:
Se tivesse o mundo todo, eu dá-lo-ia facilmente para ter você e meus
filhos aqui comigo, mas o senso de obrigação é tão forte, que se
sobrepõe a todas as outras considerações. Não posso voltar sem sentir
culpa em minha alma.
William Carey
Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no
Reino dos céus.E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta
a mim me recebe. Mateus 18.4,5
Depois de muitos anos de ministério na Inglaterra, George Mueller
começou a sentir grande compaixão pela terrível situação dos órfãos daqueles
dias. Seu coração sofria pelas crianças maltrapilhas largadas nas ruas. Ele
decidiu que deveria fazer alguma coisa e alugou uma casa para 26 garotinhas em
uma área residencial de Bristol. Durante muitos anos, três outros imóveis foram
alugados também, dando residência para mais cem meninos e meninas.
O aspecto marcante do ministério de Mueller foi que ele nunca falou das
próprias necessidades para os outros. Ele, simplesmente, pedia a Deus que
tocasse as pessoas para contribuírem com seu trabalho. Essa determinação em
confiar apenas no Onipotente pôde ser testada muitas vezes. A seguinte história é
tipicamente a forma com que ele dependia do Senhor para qualquer necessidade.
Em uma manhã, os pratos, as xícaras e travessas sobre as mesas
estavam vazias. Não havia comida na despensa nem dinheiro para
comprar mantimento. As crianças aguardavam a refeição matinal,
quando Mueller disse: "Crianças, vocês sabem que está na hora de ir à
escola". Erguendo as mãos, ele disse: "Pai querido, nós Te
agradecemos por aquilo que Tu irá conceder-nos para comer". De
repente, escuta-se uma batida na porta. O padeiro estava lá, de pé, e
disse: "Sr. Mueller, não pude dormir na noite passada. De alguma
forma, senti que vocês não tinham pão para o café da manhã, e o
Senhor quis que lhes trouxesse alguns. Então, levantei-me às duas
horas da manhã, assei alguns pães e os trouxe". Mueller agradeceu ao
homem. Mal havia acontecido isso quando se escutou uma segunda
batida na porta. Era o leiteiro. Ele contou que seu carro havia
quebrado exatamente na frente do orfanato e gostaria de doar seu leite
fresco para as crianças, a fim de que ele pudesse esvaziar seu carro e
consertá-lo. Não é de se surpreender que, passados alguns anos,
quando Mueller viajava o mundo como evangelista, ele fosse
conhecido como o homem que recebia as bênçãos de Deus!3
No período de nove anos da construção de sua primeira casa, ele abriu mais
duas. Isso permitiu o cuidado de mais de 1.200 órfãos. Em 1870, ele tinha cinco
orfanatos funcionando com mais de duas mil crianças sendo atendidas.
Certa ocasião, ele disse: Se eu estivesse largado à minha própria sorte, eu
teria sido presa (de Satanás) imediatamente. O orgulho, a descrença ou outros
pecados seriam minha ruína e iriam levar-me a trazer desgraça sobre o Nome de
Jesus. Pessoa alguma deve admirar-me, surpreender-se com minha fé ou pensar
em mim como alguém maravilhoso. Não, estou mais fraco como nunca. Preciso
aumentar a minha fé e todas as outras graças.5
O Sr. Mueller morreu em 1898. Não muito tempo antes disso, um amigo lhe
disse: "Quando Deus chamar seu nome, Sr. Mueller, será como um navio na baía
a todo vapor".
"Oh, não", ele disse, "é o pobre George Mueller, quem precisa pedir
diariamente: aumenta a minha fé... para que meus pés não afundem". 6
Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
2 Coríntios 12.9a – NVI
O AMIGO DE DEUS
BIBLIOGRAFIA
CAPÍTULO UM
1. Agostinho, City of God (Cidade de Deus), Nicene and Post Nicene Fathers,
Philip Schaff, editor. Ages Software, Inc. Rio, WI (www.ageslibrary.com).
Utilizado com permissão.
2. Jerônimo, The principie works of St. Jerome (Os principais trabalhos de São
Jerônimo), Nicene and Post Nicene Fathers, ibid.
3. John Cassian, The works of John Cassian (Os trabalhos de John Cassian),
ibid
4. William Gurnall, The christian in complete armour (O cristão de armadura
completa), Vol.l, The Banner of Truth (A bandeira da Verdade), Carlisle, PA,
1988.
5. Charles Spurgeon, Spurgeon's treasury of the New Testament (O tesouro do
Novo Testamento de Spurgeon).
6. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. XXII, I Pedro,
MacDonald Publishing Co., McClean, VA. p.229.
7. Ibid, p.213.
8. Ibid, Vol. V, II Reis, p.105.
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
1. Life application Bible (Bíblia da vida prática), Tyndale House Pub., Wheaton,
IL, 1988.
2. The pulpit commentary (O comentário do púlpito), Vol. VII, Ester, p.70.
3. João Calvino citado em Keil-Delitsch Commentary (Comentário de Keil-
Delitsch), AGES Software.
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
1. Ages Software Questions (Perguntas Ages Software).
2. Albert Barnes, ibid.
3. William Law, ibid.
4. Gayle D. Erwin, ibid, p. 95.
CAPÍTULO DOZE
***FIM***