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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
GRADUAÇÃO

VIGOTSKY NA ESCOLA
CONTRAPONTOS COM O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET
.
VITÓRIA
JUNHO - 2009

VIGOTSKY NA ESCOLA
CONTRAPONTOS COM O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET
.

Trabalho apresentado ao Professora Kelly


por exigência da disciplina Psicologia da
Educação I , turno noturno do curso de
Filosofia.

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UFES
Vitória - 22/06/2009

Resumo
A Psicologia, em suas relações com a Educação, parece estar avançando em busca de
maior compreensão do significado do comportamento humano nos contextos de interação em
que ele se insere. O psicólogo que busca atender às necessidades educacionais dos indivíduos
e grupos precisa ir além do comportamento manifesto e das contingências imediatas de
aprendizagem: cabe-lhe preocupar-se com a compreensão dos micro-sistemas em que a
criança se insere e suas mútuas relações, e reconhecer o outro como sujeito, ou seja, como
uma pessoa a ser escutada.
Psicologia da educação estuda o processo ensino-aprendizagem, e o que faz o aluno
estar motivado e a relação professor- aluno. Aborda questões como funcionamento da
atividade mental e influência do ensino no desenvolvimento intelectual.
A educação é multidisciplinar, conjunto de profissionais que estudam o mesmo tema.
Assim a Psicologia da educação permeia tanto a Pedagogia quanto a Psicologia em dois
momentos. O campo de atuação é a escola, onde os alunos aprimoram seus conhecimentos,
habilidades e criatividade e senso crítico. Assim a Psicologia da educação procura entender os
processos cognitivos, tanto na escola quanto na vida.
É nesse viés que pretendemos abordar a contribuição de Vigotsky , contrapondo a
algumas divergências de outro grande teórico que é Jean Piaget

Palavras-chave : Construtivismo, Teoria Histórico - Cultural.

1. Objetivo

Da mesma forma que a Teoria Construtivista ocupou (e tem ocupado) o centro das
discussões entre os professores nas últimas décadas, atualmente fala-se e ouve-se falar em
Vigotsky.
Objetivamos, portanto, apresentar o ponto de vista de um dos maiores pesquisadores
na área de desenvolvimento humano – Lev Semyonovitch Vigotsky, que atuante na área da
Psicologia da Educação, tem atraído o educador por valorizar tanto o papel do professor como
o da escola na formação do indivíduo.
"Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um
significado próprio num sistema de comportamento social, e sendo dirigidas a objetivos
definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até
a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana
complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas
ligações entre história individual e história social". Vigotsky

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2. Introdução – Os pressupostos básicos da Teoria Histórico - Cultural de Vigotsky
Lev Semyonovitch Vigotsky nasceu na BIELO-RÚSSIA em 5 de novembro de 1896.
Graduou-se em Direito pela Universidade de Moscou, dedicando-se, posteriormente, à
pesquisa literária. Entre 1917 e 1923 atuou como professor e pesquisador no campo de Artes,
Literatura e Psicologia. A partir de 1924, em Moscou, aprofundou sua investigação no campo
da Psicologia, enveredando também para o da Educação de Deficientes. No período de 1925 a
1934, desenvolveu, com outros cientistas, estudos nas áreas de Psicologia e anormalidades
físicas e mentais. Ao concluir outra formação, em Medicina, foi convidado para dirigir o
Departamento de Psicologia do Instituto Soviético de Medicina Experimental. Faleceu em 11
de junho de 1934. A divulgação e circulação de suas obras foram proibidas durante muito
tempo na União Soviética, porque embora fosse um militante do Partido Comunista, ele
ressaltou o aspecto individual da formação da consciência, e, portanto, a concepção de que
uma coletividade constitui-se através de pessoas com singularidades próprias. O contexto
social vivido por Vigotsky e seus colaboradores, especialmente Luria e Leontiev, influenciou
decisivamente os seus estudos. Participando de um momento conturbado da História, a
Revolução Comunista, na Rússia, o foco de suas preocupações foi o desenvolvimento do
indivíduo e da espécie humana, como resultado de um processo sócio-histórico. É interessante
destacar que este grupo utilizou, em suas pesquisas, uma abordagem interdisciplinar -
considerando-se as diferentes formações do próprio Vigotsky - o que para nós, educadores, se
reveste de grande importância, porque traz para o campo educacional uma visão integrada de
conhecimentos.
Para Vigotsky, as origens da vida consciente e do pensamento abstrato deveriam ser
procuradas na interação do organismo com as condições de vida social, e nas formas
histórico-sociais de vida da espécie humana e não, como muitos acreditavam, no mundo
espiritual e sensorial do homem. Deste modo, deve-se procurar analisar o reflexo do mundo
exterior no mundo interior dos indivíduos, a partir da interação destes sujeitos com a
realidade. A origem das mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento,
está, segundo seus princípios, na Sociedade, na Cultura e na sua História.

3. O significado de Zona de Desenvolvimento Proximal

Para entender a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, em Vigotsky, torna-


se necessária a compreensão do conceito de zona de desenvolvimento proximal.
Para Vigotsky, o aprendizado da criança começa muito antes dela freqüentar a escola;
Aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de sua vida. O
nível de desenvolvimento real é caracterizado como o nível de desenvolvimento que já está
completo _ A criança já internalizou determinada função, como, por exemplo, amarrar os
sapatos sozinha. Digamos que a criança ainda não saiba amarrar os sapatos sozinha, mas que,
com a ajuda de um adulto ou de outra criança (com algum tipo de explicação ou com o auxílio
de uma mão), ela consiga amarrar. Esse é o desenvolvimento potencial, isto é, o nível de
desenvolvimento que a criança alcançará.
A Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento
real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de

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desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de
um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.
"A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não
amadureceram, mas que estão presentes em estado embrionário" (Vigotsky, 1989, P.97).
Por esta razão, Vigotsky dá uma grande ênfase ao aprendizado e ao ensino escolar. O
papel da escola é importantíssimo para detectar o nível de desenvolvimento potencial,
reconhecer a Zona de desenvolvimento proximal e elaborar atividades educativas que
promovam o aprendizado, e o posterior desenvolvimento.
Além disso, o aprendizado pode criar a Zona de desenvolvimento proximal,
despertando processos internos de desenvolvimento, tanto quando a criança interage com
pessoas quanto quando coopera com os companheiros no ambiente escolar. Os processos uma
vez internalizados passam a fazer parte das aquisições do desenvolvimento independente da
criança.
Por sua vez, a problemática em Vigotsky é de origem histórico-social do
desenvolvimento. Aqui o papel do agente externo é primordial, pois sem a intervenção do
outro não há desenvolvimento. Através da mediação (presença do outro), o sujeito
internaliza conceitos externos, num processo de formação das funções psíquicas superiores.
Aprendizagem e desenvolvimento estão inter-relacionados, e a aprendizagem antecede o
desenvolvimento, ou melhor, o objetivo da aprendizagem é prever o desenvolvimento
potencial, e interferir na Zona de desenvolvimento proximal, promovendo o
desenvolvimento do sujeito.
Esta é uma visão prospectiva do desenvolvimento, deve-se olhar para além do
momento atual. O ensino escolar é de suma importância, visto que é através da ESCOLA que
se pode detectar o desenvolvimento potencial e a Zona de desenvolvimento proximal.
A trajetória do desenvolvimento humano é de "fora para dentro", por meio da
internalização de processos interpsicológicos que se tornam intrapsicológicos.
É importante salientar ainda que Vigotsky leva sempre em consideração a sociedade
específica em que vive o sujeito, bem como sua cultura.
O significado de Zona de Desenvolvimento Proximal

4. As implicações que o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal traz para a


prática em professores

Este conceito traz uma série de implicações para a prática pedagógica, por que:
• O processo de constituição de conhecimentos passa a ter uma importância vital e,
portanto, deve ser considerado tão importante quanto o produto (avaliação final);
• O papel do professor muda radicalmente, a partir dessa concepção. Ele não é mais
aquele professor que se coloca como centro do processo, que "ensina" para que os
alunos passivamente aprendam; tampouco é aquele organizador de propostas de
aprendizagem que os alunos deverão desenvolver sem que ele tenha que intervir. Ele é
o agente mediador deste processo, propondo desafios aos seus alunos e ajudando-os a
resolvê-los, realizando com eles ou proporcionando atividades em grupo, em que
aqueles que estiverem mais adiantados poderão cooperar com os demais. Com suas

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intervenções estará contribuindo para o fortalecimento de funções ainda não
consolidadas, ou para a abertura de zonas de desenvolvimento proximal. Não
podemos nos esquecer de que a aprendizagem é fundamental para o
desenvolvimento;
• Nesta perspectiva rompe-se com a falsa verdade de que o aluno deve, sozinho,
descobrir suas respostas; de que a aprendizagem é resultante de uma atividade
individual, basicamente interpessoal. Aquilo que o aluno realiza hoje com a ajuda dos
demais estará realizando sozinho amanhã;
• A aprendizagem escolar implica apropriação de conhecimentos, que exigem
planejamento constante e reorganização contínua de experiências significativas para os
alunos;
• A reorganização das experiências de aprendizagem deve considerar o quanto de
colaboração o aluno ainda necessita, para chegar a produzir determinadas atividades,
de forma independente. Desta forma o professor poderá avaliar, durante o processo,
não somente o nível das propostas que estão sendo feitas, mas, sobretudo, o nível de
desenvolvimento real do aluno - revelado através da produção independente - bem
como seu nível de desenvolvimento proximal - onde ainda necessita de ajuda. Chega-
se, assim, a um conhecimento muito maior da realidade do aluno, do "curso interno de
seu desenvolvimento" (Vigotsky), tendo condições de prever o quanto de ajuda ainda
necessita, e como se deve reorientar o planejamento para apoiar este aluno;
• Para que todo este processo tenha condição de se consolidar, o diálogo deve permear
constantemente o trabalho escolar; para Vigotsky a linguagem é a ferramenta
psicológica mais importante;
• Desta maneira é possível verificar não apenas o que o aluno é num dado momento,
mas o que pode vir a ser;
• Rompe-se com o conceito de que as turmas devem ser organizadas buscando-se uma
homogeneidade.

5. A formação dos conceitos segundo os pressupostos da Teoria Histórico - Cultural


Conhecemos bem a função comunicativa da linguagem, que permite ao homem
vivenciar um processo de interlocução constante com seus semelhantes. No entanto, a
linguagem não exerce apenas o papel de instrumento de comunicação. Ela permite ao homem
formular conceitos e, portanto, abstrair e generalizar a realidade, através de atividades mentais
complexas.

Vigotsky (1987:50) afirma que: "A formação de conceitos é o resultado de uma


atividade complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte. No
entanto, o processo não pode ser reduzido à atenção, à associação, à formação de
imagens, à inferência, ou às tendências determinantes. Todas são indispensáveis, porém
insuficientes sem o uso do signo, ou palavra, como meio pelo qual conduzimos as nossas
operações mentais, controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à solução do
problema que enfrentamos".

Através da palavra designamos objetos, os representamos, mas, também, abstraímos e


generalizamos suas características. A palavra "gato", por exemplo, designa qualquer tipo de
gato: branco, preto, selvagem, doméstico, persa, angorá, grande, pequeno, etc.
A função de generalização garante a comunicação entre pessoas. Isto porque, quando
nos comunicamos com outra pessoa, e durante uma conversa nos referimos a determinado

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objeto, um "relógio", por exemplo, mesmo que o nosso interlocutor não faça a mesma
imagem que estamos fazendo (imaginamos um relógio redondo e ele um quadrado), o
entendimento ocorre pois, se mantém preservada a sua característica essencial. Essa
capacidade de generalizar e abstrair, incluindo os objetos, outros seres, ou mesmo ações, em
determinadas categorias, nos liberta dos limites da experiência concreta. Nós não precisamos
estar em contato direto com o relógio, para conversarmos sobre ele (continuando no mesmo
exemplo). Para que se torne compreensível a perspectiva de Vigotsky sobre o
desenvolvimento de conceitos, é necessário entender que o significado da palavra transforma-
se ao longo do desenvolvimento do sujeito; o significado da palavra evolui, posto que
integram novos sentidos, novas conotações.
Assim, o desenvolvimento conceitual não se dá de forma definitiva, mas gradual,
porque também, gradativamente, evolui o significado da palavra. Se, inicialmente, a criança
formula conceitos a partir de uma relação direta que estabelece com a realidade concreta, aos
poucos ela vai isolando determinados atributos do objeto, rumo a abstrações e generalizações
cada vez mais complexos. Vigotsky investigou dois tipos de conceitos: os conceitos
"cotidianos" e os conceitos "científicos". Por conceitos cotidianos ele compreende aqueles que
durante seu processo de desenvolvimento, a criança vai formulando na medida em que utiliza
a linguagem para nomear objetos e fatos, presentes em sua vida diária. Ao falar, ela vai
referindo-se à realidade exterior e, quanto mais interage dialogando com seus semelhantes,
mais se distancia de uma fase em que o conceito está diretamente ligado ao concreto, para
tornar cada vez mais abstrata a forma de generalizar a realidade. Por exemplo, a criança,
quando bem pequena, para falar de um carro, tem que estar diante dele, mas, aos poucos, vai
se distanciando desta situação, em que o nome faz parte do objeto para se referir a ele, ou seja,
é possível falar de um carro, mesmo que não esteja diante de um. Por conceitos científicos,
Vigotsky considerou aqueles formados a partir da aprendizagem sistematizada e, portanto, a
partir do momento em que a criança se defronta com o trabalho escolar. Os conceitos
científicos são todos aqueles que derivam de um corpo articulado de conhecimento e que
aparecem nas propostas curriculares, como fundamentais na organização de conteúdos a
serem trabalhados com os alunos. Geralmente, as crianças formulam os conceitos cotidianos,
mas não conseguem defini-los por meio de palavras, a não ser numa fase mais adiantada de
sua vida. Vejamos: uma criança pode utilizar o conceito de "carro", por exemplo, em sua
vivência diária. Mas se lhe perguntarmos "O que é um carro?", não chegará à definição do
mesmo, respondendo, na maioria das vezes, a partir de seu caráter funcional: "Serve para
passear", ou a partir de dados relacionados às suas experiências: "O meu pai tem um carro".
Com os conceitos científicos o processo de formação ocorre de forma inversa. Ao iniciar o
seu aprendizado na escola, auxiliada pelas explicações e colaborações de seus professores, o
aluno chega à definição dos conceitos científicos, mas a apropriação destes conceitos só
ocorre a partir das atividades escolares.

6. O papel atribuído à linguagem pela Teoria Histórico - Cultural


Durante muito tempo, face aos trabalhos de Piaget, colocou-se excessiva ênfase no
processo de construção do conhecimento, como um fenômeno fundamentalmente individual,
fruto da interação do sujeito com o objeto do conhecimento. A construção do conhecimento é
vista, neste enfoque teórico, como uma atividade de auto-estrutura Embora não se discorde de
que a atividade do sujeito seja básica para a construção do conhecimento, e que há momentos
específicos a serem respeitados, isto não implica necessariamente que a influência do
professor e o tipo de interações em que a criança estiver envolvida, não tenham peso nesta
construção. Pelo contrário, há razões para se crer que a interação mediada pela linguagem tem

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papel importante, não apenas na construção do conhecimento escolar, como também no
desenvolvimento de diferentes processos psicológicos.
Se para Piaget o desenvolvimento cognitivo é concebido, fundamentalmente, como a
construção de um plano interno do indivíduo - o equilíbrio das estruturas operatórias - de
forma que as relações interpessoais, suas características e repercussões dependam do nível
alcançado por esta construção, para Vigotsky e os seguidores da Teoria Histórico - Cultural, é
grande o papel da interação social no desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.
Em seus trabalhos, Vigotsky aponta para a importância da linguagem como instrumento de
pensamento, afirmando que a função planejadora da fala, introduz mudanças qualitativas na
forma de cognição da criança, reestruturando diversas funções psicológicas, como a memória,
a atenção voluntária, a formação de conceitos, etc. Para Vigotsky, a linguagem age
decisivamente na estrutura do pensamento, e é ferramenta básica para a construção de
conhecimentos. A linguagem, em seu sentido amplo, é considerada por este autor como um
instrumento, pois ela atuaria para modificar o desenvolvimento e a estrutura das funções
psicológicas superiores, tanto quanto os instrumentos criados pelos homens modificam as
formas humanas de vida. Vigotsky afirma que, num primeiro momento, o conhecimento se
constrói de forma intersubjetiva (entre pessoas) e num segundo momento, de forma intra-
subjetiva (no interior do sujeito).
Quando um bebê estende a mão para trocar um objeto e o adulto o aproxima dele, aos
poucos a criança internalizará este gesto como o de apontar.
Se no início, a criança usa esta forma de linguagem difusamente, gradativamente
passará a estabelecer elos entre sua ação difusa e a organizada por outra pessoa. Os adultos
que cuidam de um bebê não lhe proporcionam apenas cuidados físicos, mas colocam sobre
eles certas representações sociais (imagens, idéias, expectativas) que o introduzem no mundo
da cultura. O bebê nasce num mundo simbólico, onde significados vão sendo usados pelos
indivíduos para controlar seu ambiente a si próprios. É na interação que estabelece com outros
membros da sua cultura (mãe, pai, irmãos, colegas e professores) e com os meios de
comunicação em geral, que as crianças vão construindo seu próprio sistema de
significados.Entretanto, ao mesmo tempo em que depende de sua constituição orgânica, e das
possibilidades de ação e interação que lhe são oferecidas pelo ambiente, as crianças podem
escolher entre diferentes modos de comportamento, construindo novos modos de ação. As
diferentes interações a que estão submetidas são fundamentadas para que isto ocorra. Passo a
passo as crianças vão construindo significados, conhecimentos, valores, num diálogo consigo
próprias, com o outro e com o mundo, levantando mentalmente as várias posições (opiniões,
concepções, perspectivas) sobre determinado assunto.
Nas Salas de Aulas das Escolas Públicas de 1º grau o uso das palavras, sua
combinação em frases e seus significados, muitas vezes revelam que o poder cabe apenas aos
professores. No entanto, sem cair na armadilha do "democratismo" que esconde a necessidade
de uma hierarquia, é preciso que os mestres saibam dar voz a seus alunos, pois é desta
relação, deste diálogo interessado de parte a parte, que nascem conhecimentos e valores
significativos e, portanto duradouros e úteis. Com o apoio de Vigotsky discute-se hoje, a
constituição do pensamento e a construção do conhecimento, incorporando-se o papel do
outro, discute-se como o que ele vê, ouve... Assume significado. Que operação mental entra
neste jogo? Como se compreende palavra dita e também aquilo que não depende de palavras,
depende de gestos, expressões, imagens, silêncios? Para este autor, a transição entre
pensamento e palavra, passa pelo significado, tanto que este autor nos dirá que "Um

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pensamento é como uma nuvem descarregando uma chuva de palavras..." (Vigotsky
1987:129).
A palavra tem um significado dicionarizado a um sentido particular. Este sentido está
ligado a certos enlaces que vão se fazendo a todo o momento, dependendo de operações que
se faz o tempo todo. Há sempre uma troca, uma intermediação entre os significados emitidos
e os sentidos de cada um. Entrecruzam-se o tempo todo os afetos, desejos, memórias,
emoções.
A ênfase na importância da linguagem não equivale, no entanto, à valorização da
transmissão de conteúdos de forma verbal, numa volta ao ensino tradicional, linear onde "o
mestre ensina e os alunos aprendem..." Nosso Paulo Freire em sua grande obra já mostrou a
falácia, o engano desta visão. Para Vigotsky, a linguagem é o sistema simbólico básico de
todos os grupos humanos, sendo a principal mediadora entre o sujeito e o objeto do
conhecimento. Em cada situação de interação, o sujeito está em um momento de sua trajetória
particular, trazendo consigo determinadas possibilidades de interpretação do material que
obtém do mundo externo.

7. Como Piaget e Vigotsky concebem o processo de desenvolvimento e os pontos de


divergência entre estes dois teóricos
O referencial histórico-cultural apresenta uma nova maneira de entender a relação
entre sujeito e objeto, no processo de construção do conhecimento. Enquanto no referencial
construtivista o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade (sendo o
sujeito considerado ativo), para Vigotsky, esse mesmo sujeito não é apenas ativo, mas
interativo, porque constitui conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e
interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando
conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de conhecimentos e da
própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações
interpessoais - para o plano individual interno - relações intrapessoais. Desta forma, o sujeito
do conhecimento para Vigotsky, não é apenas passivo, regulado por forças externas que o vão
moldando e não é somente ativo, regulado por forças internas; ele é interativo. Ao nascer, a
criança se integra em uma história e uma cultura: a história e a cultura de seus antepassados,
próximos e distantes, que se caracterizam como peças importantes na construção de seu
desenvolvimento. Ao longo dessa construção estão presentes as experiências, os hábitos, as
atitudes, os valores, e a própria linguagem daqueles que interagem com a criança em seu
grupo familiar. Estão ainda presentes nesta construção, as histórias e as culturas de outros
indivíduos com quem as crianças se relaciona e em outras instituições próximas como, por
exemplo, a escola, ou contextos mais distantes da própria cidade, estado, país ou outras
nações. Mas, não devemos entender este processo como um determinismo histórico e cultural,
em que passivamente a criança absorve determinados comportamentos, para reproduzi-los
posteriormente. Ela participa ativamente da construção de sua própria cultura e de sua
história, modificando-se e provocando transformações nos demais sujeitos que com ela
interagem.
Enquanto para Piaget a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido
pelo sujeito, para Vigotsky, a aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções mentais:
"O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe
em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam
impossíveis de acontecer". (Vigotsky, 1987:101).

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Esse aprendizado se inicia muito antes da criança entrar na escola, pois, desde que
nasce e durante seus primeiros anos de vida, encontra-se em interação com diferentes sujeitos
- adultos e crianças - e situações, o que vai lhe permitindo atribuir significados a diferentes
ações, diálogos e vivências.
Embora a aprendizagem que ocorre antes da chegada da criança à escola seja
importante para o seu desenvolvimento, Vigotsky atribui um valor significativo à
aprendizagem escolar que, no seu dizer, "produz algo fundamentalmente novo no
desenvolvimento da criança". (1987:95)
Piaget X Vigotsky

PIAGET VIGOTSKY

REFERENCIAL REFERENCIAL
CONSTRUTIVISTA INTERATIVISTA

O conhecimento se dá a partir daO sujeito não é apenas ativo, mas


ação do sujeito sobre a realidade;INTERATIVO, porque constitui
Sendo o sujeito consideradoconhecimentos e se constitui, a
ATIVO. partir de relações intra e
interpessoais.

8. Conclusão

Aprendemos com Vigotsky, portanto, que o professor é o mediador da Aprendizagem


do aluno, facilitando-lhe o domínio e apropriação dos diferentes instrumentos culturais. Mas,
a ação docente somente terá sentido, se for realizada no plano da Zona de Desenvolvimento
Proximal. Isto é, o professor representa a pessoa mais competente para ajudar o aluno na
resolução de problemas que estão ao seu alcance, desenvolvendo estratégias para que de
forma gradativa possa resolvê-los de modo independente.
É preciso que a escola e seus educadores atentem para o fato de que sua função não é
ensinar aquilo que o aluno pode aprender por si mesmo, e sim, potencializar o processo de
aprendizagem do estudante.
Bibliografia:
GOULART, Iris Barbosa, Psicologia da educação; Fundamentos teóricos e aplicações à
pratica pedagógica, 5º edição; editora: Vozes, Petrópolis, 1995.
PILITTI, Nelson; Psicologia Educacional,1993, 12 edição, editora Ática.
Psicólogo Brasileiro- Práticas emergentes e desafios para a formação- conselho federal de
psicologia – casa do psicólogo.

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