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SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA

– BASES PARA UM ESTUDO NA POPULAÇÃO ADULTA

António Luís de Araújo Rodrigues


Nutricionista / Sub- Região de Saúde de Vila Real

1
Este trabalho destina-se à candidatura do Prémio Prof. Gonçalves Ferreira de Nutrição /
Alimentação , 1996

2
ÍNDICE

Notas preliminares.....................................................................................................
Resumo.....................................................................................................................
Introdução..................................................................................................................
Metodologia...............................................................................................................
População a que se refere o estudo..........................................................................
Objectivos..................................................................................................................
Subsídios para uma discussão mais alargada do problema.....................................
O consumo de proteínas : recomendações e práticas..............................................
Os recursos proteicos na alimentação diária............................................................
Complementaridade proteica:...................................................................................
– um pouco de História..........................................................................................
– as recomendações portuguesas........................................................................
As proteínas e a confecção culinária.......................................................................
Bibliografia...............................................................................................................
Anexos.....................................................................................................................

3
NOTAS PRELIMINARES

Não podendo, nem pretendendo, ser exaustivo, por razões óbvias, é preocupação
do autor condensar estudos e levantar pistas que considera de grande utilidade se
exploradas e investigadas pelos profissionais de saúde. A polémica sobre a carne
de vaca, com o agudizar de elementos sobre a doença de Creutzfeldt-Jacob ,
surgida já na fase final da elaboração deste trabalho, apenas me reforçou a
pertinácia do tema.

4
SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA – BASES PARA UM ESTUDO NA
POPULAÇÃO ADULTA

5
SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA – BASES PARA UM ESTUDO NA POPULAÇÃO
ADULTA

Optimização da utilização proteica neta com base em alimentos vegetais e animais

Resumo: O aumento do poder de compra, iniciado nos primeiros anos da década


de 70 em Portugal, veio trazer novos problemas no equilíbrio da ingestão
alimentar, nomeadamente na ingestão proteica.
O aumento significativo do consumo de carne, especialmente de vaca, surgindo
como resposta aos limites económicos anteriormente observados, e a baixa
subsequente do consumo de vegetais e leguminosas, consideradas de menor
prestígio social, trouxe para a capitação proteica valores que ultrapassam
largamente os recomendados, com implicações a necessitar de um estudo mais
aprofundado.
A complementaridade proteica pode surgir como resposta positiva a esta situação,
evitando os custos do consumo excessivo de proteínas animais, melhorando o
aproveitamento do azoto proteico, e melhorando sensivelmente o nível de saúde
da população.

6
INTRODUÇÃO

O Homem necessita de azoto, sob a forma de proteínas alimentares, de modo a


compensar o azoto catabolizado diariamente, mantendo constante o equilíbrio
azotado (4,8,21,33).

As proteínas alimentares são constituídas por 23 aminoácidos, dos quais são


considerados essenciais, segundo diversos autores, oito (14,19,23,33) ou dez
(9,22,23). A tese prevalecente é de que o indivíduo adulto apenas não consegue
sintetizar oito ácidos aminados, sendo outros dois, um essencial na criança (a
histidina) e outro de essencialidade duvidosa (a arginina). O adulto com situação
patológica renal não consegue sintetizar histidina, que se torna neste caso
indispensável (33).

As necessidades proteicas do homem estão bem estudadas, bem como a


proveniência e o papel dos ácidos aminados essenciais que o indivíduo de
referência deve consumir por dia.

Os desvios nos aportes proteicos no mundo contemporâneo apenas estão


parcialmente estudados. Se por um lado a malnutrição proteico-calórica,
característica dos países subdesenvolvidos e de grupos populacionais suburbanos
e rurais de países desenvolvidos preocupa as autoridades de saúde, pelo contrário
a voracidade proteica das sociedades abastadas (37) e que é objecto deste
estudo, tem sido bastante negligenciada.

De facto, um certo boom económico característico da recuperação económica da


Europa do trauma da II Guerra Mundial trouxe consigo um aumento do consumo
de carne, embora em Portugal este fenómeno tenha sido adiado para a época das
grandes saídas migratórias dos anos sessenta.

Assim, de 1960 a 1980 o consumo de carnes de criação aumentou 1279,4 %,


enquanto que fontes proteicas de origem vegetal, como o grão e o feijão
diminuíram respectivamente 35,4 % e 9,5 % (17).

Particularmente, o bife transforma-se numa autêntica instituição nacional (1),


ressurgindo assim o papel mítico da carne, reminiscências da Idade Média onde a
quantidade e o tipo de carne separava poderes económicos e classes sociais (2,
29), conceito ainda em vigor no século XIX (36).

Com a carne como símbolo, especialmente as “carnes nobres” (nome com que se
encontram à venda em hipermercados), o aumento do rendimento familiar
acompanha-se do aumento do consumo de proteínas de origem animal. O
manifesto desiquilíbrio destas em relação às de peixe, ovos, e principalmente das
de origem vegetal conduz à sobrecapitação quantitativa, mas também a profundos

7
desequilíbrios qualitativos, causados pela monotonia da alimentação corrente em
que alguns ácidos aminados essenciais são ingeridos em excesso e outros em
quantidade insuficiente. A diminuição da procura de proteínas vegetais também
conduz, por simpatia, a carências subtis de vitaminas hidrossolúveis, água e
alguns oligoelementos .
Este desiquilíbrio na ingestão proteica pode induzir patologias diversas, de que se
destaca um défice na produção de anticorpos e maior susceptibilidade às
infecções (14,21,23).

O consumo excessivo e desequilibrado nos seus aminoácidos de proteínas em


relação às suas necessidades conduz a problemas acrescidos: risco de doenças
directamente ligadas ao desiquilíbrio do balanço azotado (4,5,10,29,32), défice no
consumo de nutrientes reguladores, risco acrescido de ateroesclerose no adulto,
hipertensão arterial.
Em relação a certos tipos de cancro, diversos autores apontam para conclusões
contraditórias (20,25,27,32,41).

Aparentemente irreversíveis, se não forem tomadas as medidas educativas


necessárias, a tendência apontada revela-se profundamente preocupante.

8
METODOLOGIA

O autor elaborou este trabalho com base na pesquisa bibliográfica descriminada


no final, bem como no estudo exaustivo do conteúdo em a.a.e. da maior parte dos
nossos fornecedores proteicos, através da suplementação .

Os valores referentes a alimentos isolados são sempre expressos em g de a.a.e. /


100 g de proteínas, tendo como padrão comparativo a proteína de referência da
F.A.O. (9).

As combinações alimentares, salvo indicação em contrário, são expressas em g de


a.a.e., expressas em g de a.a.e./dia/adulto de referência.

Os valores referidos reportam-se ao alimento em cru , por uma questão de rigor


comparativo, uma vez que são escassos os dados referentes ao teor em a.a.e. De
alimentos cozinhados.

Como as recomendações são generosas (33) está sempre salvaguardada


qualquer perda devida ao manuseamento e preparação culinária.

POPULAÇÃO A QUE SE REFERE O ESTUDO

Este estudo tem como alvo preferencial a população adulta saudável, referindo-se
pontualmente os insuficientes renais crónicos e os doentes hepáticos , uma vez
que o período de semi-vida das proteínas nos rins e no fígado é menor que por
exemplo no tecido muscular (33), e também porque estas duas situações ainda
estão sujeitas a restrições proteicas de eficácia duvidosa (10,29,35).

Referem-se ainda situações de esforço violento exemplificadas no desportista (8).

OBJECTIVOS

As pesquisas efectuadas, descritas neste trabalho, pretendem analisar a situação


actual no que se refere ao consumo de proteínas, e apresentar soluções mais
saudáveis quer no que se refere a um melhor aproveitamento do azoto proteico e
um equilíbrio do balanço azotado aproveitando as virtudes da suplementação ,
quer inserindo as proteínas alimentares no conjunto de todos os nutrientes
calóricos , defendendo um equilíbrio cuja quebra conduz ao seu sub-
aproveitamento e a desvios metabólicos (4,5,8,10,14,24).

9
Aponta-se também para novas descobertas que apontam substâncias aminadas
como tendo um papel relevante na inibição da replicação do H.I.V. (34), que são,
coincidentemente, dois ácidos aminados de essencialidade duvidosa no adulto – a
histidina e a arginina.

10
SUBSÍDIOS PARA UMA DISCUSSÃO MAIS ALARGADA DO PROBLEMA

11
Uma questão filosófica ?

Os destinos de um povo dependem quer da sua alimentação quer do seu regime.


Os cereais criaram povos de artistas.

H. de Balzac (7)

Reserva-se a carne de criação, considerada pouco alimentícia, às pessoas ociosas


, ou seja, as classes sociais superiores, enquanto as “grandes carnes ou
quadrúpedes “ (vaca, carneiro, porco), mais reputadas de resistentes, são
específicas da alimentação dos trabalhadores esforçados e das pessoas pobres.

(...) Os médicos recomendam o consumo de animais o mais jovens possível aos


nobres e ociosos ,enquanto o povo trabalhador se tem de contentar com as carnes
de grande porte (vaca, carneiro), reputadas de mais terrestres, mais alimentícias e
de mais difícil digestão.

B. Laurioux (28)

-(...) Não se deve comer carne animal – observou gravemente Apolónio .- Todos os
meus discípulos o sabem.
-O que se deve comer?-indagou Jesus.
-Vegetais.
-Mas os vegetais também não têm vida? Não é verdade que uma palmeira morre
quando se lhe corta o topo, tal como um ser humano quando o decapitam?

G. Messadié (*)

• Messadié , Gerard -”O Homem que se tornou Deus”- Editado por O Círculo de
Leitores, edição nº 3225, Setembro de 1991.

12
Seria errado não abordar a multissecular querela filosófico-religiosa sobre o
consumo de carne, condenado por diversas correntes religiosas por implicar a
morte de animais- o argumento mais usado por vegetarianos e vegetalianos para
defender os seus regimes alimentares.

Tentada, na página anterior, a sinopse possível- e perfeitamente actual- penso ser


a altura de a comunidade científica se tornar menos abstencionista na questão,
quer em nome da saúde individual e colectiva, mas também para que não nos
pese na consciência a eventualidade de abates massivos de animais inocentes,
dúvida para já instalada a propósito do fenómeno BSE.

13
O CONSUMO DE PROTEÍNAS : RECOMENDAÇÕES E PRÁTICAS

14
Recomendações de consumo de proteínas

É difícil a abordagem deste ponto sem entrar numa longa série de citações de
diversos autores, procurando aqui citar os dados mais consensuais.
Se o consumo privilegiar proteínas de médio e alto valor biológico, (21) as
necessidades diárias consideram-se perfeitamente satisfeitas com a ingestão, por
indivíduo de referência/dia, de 56 g (8). Ora a prática nos países desenvolvidos
aponta para consumos correntes que atingem de duas a quatro vezes estas
recomendações (5,8,14).
Já nos doentes com insuficiência renal crónica a situação é paradoxalmente
inversa. Nestes doentes o catabolismo proteico atinge 1 g/Kg peso/dia, situando-se
as recomendações de segurança em 1,2 a 1,4 g/Kg peso/dia, quando ainda se
mantêm práticas muito inferiores (10,21,35).
Em situações de esforço físico intenso, como os desportistas, ainda é corrente
lutar contra o mito da carne “como fabricante de músculos”, ou as virtudes de um
bom bife, apesar de autores mais optimistas considerarem esses conceitos como
pertencentes ao passado (8).
Para todos os casos deveria prevalecer o bom-senso, condensado no conceito de
que se os aportes forem adequados, a síntese e a degradação encontram-se em
equilíbrio (8).
É provavelmente aqui que reside a maior necessidade de investigação neste tema.

15
OS RECURSOS PROTEICOS

16
Os recursos proteicos

Havendo unanimidade no que se refere ao excelente aproveitamento proteico do


ovo e do leite, bem como da carne e peixe em geral, procura-se aqui valorizar
outras fontes, necessidade que considero premente para a diversificação
alimentar.

E se a soja é reconhecida como uma boa fonte proteica, atribuindo-se-lhe um valor


biológico da ordem dos 80% (6,9,22), surpreendentemente encontramos valores
semelhantes noutros alimentos como o germe de milho (9):

Soja
16

14

12

10
g/100g

Proteína de referência
da FAO
8
G de aae por 100g de
proteínas
6

0
Leucina Fenilala Valina Lisina Isoleuci Metioni Treonin Triptofa
nina na na a no

a.a.e.

Gérmen de milho
12

10

8
g/100g

Proteína de referência da
6 FAO
G de aae por 100g de
proteínas
4

0
Leucina Fenilala Valina Lisina Isoleuci Metioni Treonin Triptofa
nina na na a no

a.a.e.

17
Gráficos 1 e 2-Teor em ácidos aminados essenciais de soja -1 e do germe de
milho -2 .São expressos em g de a.a.e. /100g de proteínas dos mesmos alimentos
(barras verticais), comparados com a proteína de referência da F.A.O. (barra
horizontal).

Mas é na suplementação que se devem procurar todas as potencialidades das


proteínas (14) o que aliás é comprovado pelos dois gráficos anteriores : nos dois
há um aminoácido limitante, o triptofano , que carece ser procurado noutra fonte
(anexo 1).

O exemplo seguinte, extraído da revista “ Médecine et Hygiène “ (14) apresenta


uma suplementação com uma eficácia a rondar os 100%:

Milho+Cenoura
100.00%

90.00%

80.00%

70.00%

60.00% Com cenoura


Milho
50.00%

40.00%

30.00%

20.00%

10.00%

0.00%
Um Dois Três Quatro Cinco Seis Sete Oito

18
A questão do mercado

Exclusivo, até anos bem recentes, de casas especializadas em dietética de Lisboa


e Porto, e com uma procura circunscrita a grupos restritos de carácter filosófico e
religioso, a satisfação do mercado em produtos que respondem a estas
inquietações começa a aproximar-se do mínimo desejável. Com caracter
absolutamente aleatório, analisei uma massa integral (versões spaguetti e
massinhas com a mesma composição, marca “Salutem”, em cuja composição
entram: trigo e centeio integrais (90%) e soja (10%). O teor proteico é elevado –
18,1% - apresentando a sua composição em a.a.e. O seguinte resultado:

Massas integrais
12

10

8
g/100g

Proteína de referência
6 da FAO
G de aae por 100g de
proteínas
4

0
Leuci Fenila Valin Lisina Isoleu Metio Treon Tripto
na lanina a cina nina ina fano

a.a.e.

Gráfico 3 -Nas massas integrais “Salutem”, de valor biológico equivalente ao da


soja e do gérmen de milho, o aminoácido limitante continua a ser o triptofano.

Sobrevalorização da carne e do peixe?

Situação semelhante se passa com a carne e o peixe, na sua generalidade, e que


aqui exemplifico com a carne de vaca e com a pescada (22).

19
Vaca
14

12

10

g/100g prot
8
Proteína de
6 referência da FAO
G de aae por 100g
de proteínas
4

0
Leu Fen Vali Lisi Isol Meti Tre Trip
cina ilala na na euci oni oni tofa
nin na na na no
a

a.a.e.

Peixe
14

12

10
g/100g prot

8
Proteína de
6 referência da FAO
G de aae por 100g
de proteínas
4

0
Leu Fen Vali Lisi Isol Meti Tre Trip
cina ilala na na euci oni oni tofa
nin na na na no
a

a.a.e.

20
Gráfico 4 -Proteína da carne de vaca gráfico 5-Proteína da pescada

Refeições

No que se refere à confecção de pratos, que constituem o exemplo prático da


complementaridade proteica, seleccionei três receitas: duas que privilegiam a
junção de proteínas animais e vegetais com um certo predomínio destas (gráficos
6 e 7 ) e uma que se insere perfeitamente no tipo de alimentação mais voltado
para as carnes (gráfico 8).

Gráfico 6 -Esparguete no forno


½ Kg de esparguete integral
5 ovos (*) (39)

(*) Por não ter aqui interesse, nas receitas omito a citação dos condimentos.

Gráfico 7 -Hamburguers de flocos de aveia


1 chávena de flocos de aveia
3 ovos batidos (39)

Esparguete no forno
14

12

10
g/100g prot

8
Proteína de
6 referência da FAO
G de aae por 100g
de proteínas
4

0
Leu Fen Vali Lisi Isol Meti Tre Trip
cina ilala na na euci oni oni tofa
nin na na na no
a

a.a.e.

21
Hamburguer de flocos de aveia
14

12

10

g/100g prot
8
Proteína de
6 referência da FAO
G de aae por 100g
de proteínas
4

0
Leu Fen Vali Lisi Isol Meti Tre Trip
cina ilala na na euci oni oni tofa
nin na na na no
a

a.a.e.

Gráficos 6 e 7 -Análise da qualidade proteica das receitas acima descritas

É patente nos dois casos que a proteína resultante não é deficiente em nenhum
dos a.a.e -ou seja, o seu aproveitamento ronda os 100%.

Gráfico 8 -Empada de porco


500g de carne de porco de assar
500g de fígado de porco
200g de toucinho fresco
3 ovos
300g de farinha
200g de manteiga
2dl de natas
4 colheres de sopa de azeite (receita para 6 pessoas) (*)

(*) Extraída do jornal “Público Magazine” de 7 de Outubro de 1990

Analisando a sua composição por pessoa, este exemplo merece algumas notas,
começando por realçar a sua discrepância na distribuição calórica:

22
Valores percentuais
80

70

60

50
%
40

30

20

10

0
HC Lip Pro

O total de calorias é excessivo- 1018 calorias numa só refeição.

Devido à complexidade da receita, optei aqui por seguir outro critério na análise da
composição proteica: aminoácidos essenciais fornecidos versus
necessidades/pessoa/dia.

Empada de porco
6

4
g/100g prot

G de aae por 100g


de proteínas
3 Proteína de
referência da FAO
Ração proteica
2 óptima
Ração mínima de
segurança
1

0
Leu Fen Vali Lisi Isol Meti Tre Trip
cina ilala na na euci oni oni tofa
nin na na na no
a

a.a.e.

23
Gráfico 8- Decomposição em a.a.e. da empada de porco (g/pessoa).

Conclui-se que numa única refeição se ultrapassam largamente os aportes diários


recomendados, com especial destaque para a leucina , lisina e treonina , com a
agravante de o aminoácido limitante, a metionina , se situar na franja entre a ração
proteica se segurança e a ração proteica óptima.
Em casos de necessidades acrescidas, como hipertermia , sudorese intensa,
lesões celulares, fracturas, queimaduras, (4,9,13,14,15,16,21,29,33) é provável
que a metionina se torne insuficiente nivelando por baixo o aproveitamento dos
restantes aminoácidos, que sofrerão assim um desvio metabólico sendo utilizados
para produzir energia sendo o seu azoto eliminado pela urina (14).

Outras fontes proteicas

É de referir que as fontes proteicas não se esgotam, se modo algum, nos grupos
I,II e IV da Roda de Alimentos que sintetiza a classificação portuguesa dos
alimentos. Assim, no grupo V encontramos também alimentos com um razoável

24
equilíbrio de a.a.e., como as couves, as ervilhas, as favas, etc. (6,21).

A maior surpresa reside no café, com um teor de proteínas de 10%, (18,31), com
grande deficiência em lisina mas equilibrado nos restantes a.a.e. (31).

25
COMPLEMENTARIDADE PROTEICA:

UM POUCO DE HISTÓRIA
AS RECOMENDAÇÕES PORTUGUESAS

26
Provavelmente por empirismo, a suplementação proteica tem um lugar na história.
Assim, macarrão e queijo, pão e leite, vagens e carne, são referidos como
praticados há longo tempo (9). O mesmo se pode dizer do consumo de arroz com
lentilhas pelos índios, ou do milho com cenouras no México (14).

Recomendações portuguesas

Das recomendações do Centro de Estudos de Nutrição cito:

-Pão e queijo
-Leite e cereais
-Carne e vegetais
-Carne e leguminosas
-Peixe e vegetais (11)

São recomendações que se revelam extremamente úteis na alimentação diária,


devido ao valor das proteínas envolvidas (9,22,30).

Ingestão diária de alimentos-recomendações do CEN (12)

Considerando as recomendações diárias, expressas em g de alimentos para a


faixa etária dos 20-49 anos e apontando para 2700 calorias, assim descriminados:

Leite 350 Carne magra 130


Peixe 130 Manteiga 20
Azeite 50 Pão 300
(*)
Arroz/massa 70 Açúcar 25
Vegetais 400 Legumes verdes 300
Batata 400 Fruta 400

Procedi aos mesmos cálculos que no estudo do gráfico 8, chegando às seguintes


conclusões:

-A distribuição calórica insere-se nos padrões recomendados, sendo de:

55% de Hidratos de Carbono


30% de Lípidos
15% de Prótidos

O conteúdo em a.a.e. da fracção proteica consta do gráfico 9.

27
Inserção

Recomenações do CEN
12

10

8
g/100g prot

6 AAE dos
alimentos
Recomendados
4 Ração proteica
óptima
2

0
Leu Fen Vali Lisi Isol Meti Tre Trip
cina ilala na na euci oni oni tofa
nin na na na no
a

a.a.e.

Devo acrescentar que a carne incluída nos cálculos é o lombo de porco magro; o
peixe, a pescada; e o pão, o pão de mistura recomendado pelo Centro de Estudos
de Nutrição, com a composição seguinte: 80% de trigo e 20% de centeio.

Estas recomendações apontam para um fornecimento de todos os a.a.e. Em


quantidades mais que satisfatória (há apenas o caso da metionina, que não pode
considerar-se excessiva), pelo que penso de grande utilidade se fosse aplicado
pela generalidade da população.

_____________
(*) Em todos os cálculos e recomendações para que aponto, o pão é o de mistura,
com 80% de trigo e 20% de centeio.

AS PROTEÍNAS E A CONFECÇÃO CULINÁRIA

28
As proteínas e a confecção culinária

Tal como para os restantes nutrientes, o método culinário deve ser


cuidadosamente escolhido. As manipulações na cozinha são um flagelo na
sociedade moderna (38). O simples grelhado pode conduzir a uma perda de lisina
nas carnes. Mas, se este problema se pode colmatar com a ingestão de alimentos
ricos em lisina (ver anexos) outros métodos se apresentam como de
consequências mais graves. É principalmente o caso da fritura em presença de
farinhas, vulgarmente conhecida como panados, em que a conjugação da proteína
com a farinha forma compostos de Maillard , produtos responsabilizados por
diversas patologias e, mesmo, pelos processos de envelhecimento acelerado
(3,26). A quase indestrutibilidade dos compostos de Maillard e a frequência com
que se fazem estas refeições merecem uma atenção mais cuidada.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

(1) AGUIAR, L.A. Rego-”O bife-instituição nacional”. Revista do CEN, Vol 7, nº 2,


Julho 1983, pág. 81/83
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(3) AZEVEDO, M.S.-”Compostos de Maillard como causa de envelhecimento”-Acta
Médica Portuguesa 1990;2:126-128
(4) AUSSEL, Ch.; COUDRAY-LUCAS, C. e GIBONDEAU-”Mesure de la balance
azotée en clinique”-Méd. Et Hyg. 51, 2808-2813, 1993
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Lar, S. Paulo-Brasil
(6) BALBACH,A.-”As hortaliças na medicina doméstica”. Edições a Edificação do
Lar, S. Paulo-Brasil
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-”Prise en charge de la dénutrition chez l'insuffisant rénal chronique
hémodialysé” -Méd. et Hyg. 5 Out. 1994
(11) CENTRO DE ESTUDOS DE NUTRIÇÃO -”Associações recomendáveis” .
Revista do CEN, nº 10
(12) CENTRO DE ESTUDOS DE NUTRIÇÃO - Revista do CEN nº1, Novembro
1997
(13) CHAVES Nelson- “Nutrição Básica e Aplicada”. Edições Guanabara
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29
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1992
(15) COMBE C. e APARICIO M. - “O metabolismo proteico no Síndroma Nefrótico
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(19) EL MANUAL MERCK- 7ª Edición en Español . Merck Sharp and Dhome
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(22) FERREIRA, F.A.; Graça, M.E. Da Silva- “Tabela da composição dos
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(23) FERREIRA, F.A.- “Ácidos aminados essenciais na alimentação da população
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(24) FERREIRA,F.A.; AGUIAR, L.A. Rego- “Obesidade e regimes de
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(25) FERREIRA, Raul; SANTOS, Fernando e MARQUES, Manuel- “Alimentação
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(31) MARTINS, Ilda - “O café e o chá em alimentação”. Revista do CEN, nº15
(32) McLEAN, A.E.M. - “Diet and the chemical environement as modifiers of
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(33) PERES, Emílio e STYLIANO, M. Filomena - “Considerações acerca da
satisfação das necessidades proteicas em adultos”. Revista do CEN, nº22, Nov.
1984.
(34) PICHARD, Cl,; KYLE, U.; KAMMER, A. e MULLER, C.- “Critères de choix
des solutions nutritives pour la nutrition entérale lors de SIDA. Méd. et Hyg.,
5.10.1994
(35) PICHARD, Cl. - “Est-ce la fin des régimes alimentaires restrictives?”. Méd. et
Hyg. , 5.10.1994

30
(36) RITCHIE, Carson I.A. - “Comida e Civilização”. Editora Assírio & Alvim,
colecção Coração, Cabeça e Estômago/2.Set.1995
(37) RODRIGUES, A.L. Araújo- “Homossáurios”. Guia do Consumidor, Separata
da revista Tele-Culinária
(38) SANTOS, Beja - “O Império Burger” , in Jornal de Notícias
(39) SANTOS, Olívia - “Receitas de da Olívia – Cozinha vegetariana”. Edições
Saúde e Lar, Publ. Atlântico , S.A.
(40) SCHUTZ, Y.; BRACCO, D. e DI VETTA, V. - “Index de Qualité Nutritionnele
(IQN): la réemergence d'un concept d'entéret dans la pratique courante? “- Méd.
et Hyg. 51, 751-757, 1993
(41) VIDAILLET, M. -”Vers une diétetique preventive chez l'enfant”. Révue du
Practitien, 1993, 43,2

31
ANEXOS

32
ALIMENTOS MAIS RICOS NOS A.A.E. MAIS LIMITANTES (g/100g de alimento)

Fenil. Lis. Met. Tript.


Farinha de soja desengordurada 2,370 3,050 0,760 0,625
Soja 2,174 2,788 0,623 0,393
Bacalhau 1,388 2,810 0,763 0,381
Trigo, glúten 4,520 1,810 1,500 0,690
Farinha de amendoim 2,390 0,550 0,520
Sardinha 1,890 0,630 0,270
Ervilha 1,033 1,692 0,914
Lentilha 1,266 1,739
Vaca 0,789 0,252
Feijão 1,134 0,252
Feijão frade 1,559 0,587
Fígado 1,000 0,530
Vitela 1,751
Porco 1,700
Carapau 0,526
Germen de trigo 0,250
Fava 1,011

Anexo 1

33
Vírus da Imunodeficiência
Humana

Vitamaninas Oligoelementos
A selénio
E cobre
C zinco
B6 ferro

Gorduras
ácidos gordos Proteínas
de cadeia arginina
longa histidina
(ex:óleo de peixe)

IMUNIDADE CELULAR

34
Anexo 2- Importância da histidina e da arginina como reforço da imunidade celular
(34)

35

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