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SOCIEDADE CIVIL

NO BRASIL:
MOVIMENTOS
SOCIAIS E ONGS

Maria da Glória Gohn*

Este trabajo tiene como objetivo realizar una evaluación This paper presents an analysis of the process of social
sobre las últimas décadas del proceso de participación de la participation in the Brazilian civil society, considering the
sociedad civil en la construcción de ciudadanía entre los social movements, NGOs and other forms of association,
brasileños –en especial en los sectores populares– a través as forums, popular plenaries and counsels of public
de movimientos sociales, ONGs y otras formas de administration. It presents a discussion on social movement
asociativismo, como los foros, las plenarias populares y los concept, the difference between social movements and
consejos de gestión pública. Como resultado se presentan – NGOs and the basic characteristics of the new associativism
luego de la delimitación teórico-metodológica de la categoría in Brazil. The document also shows a mapping of current
‘movimiento social’– los rasgos básicos de un nuevo social movements in Brazil.
asociativismo y se marcan diferencias en el universo de las
ONGs. Posteriormente, el texto describe el escenario actual Palabras clave: Movimientos sociales, ONGs, nuevo
de los principales tipos de movimientos sociales de Brasil. asociativismo, tercer sector, ciudadanía, Brasil.

* Dra em Ciência Política FFCHL/UNIVERSIDADE de São Paulo. (1983).Pós/


Doutoramento: Sociologia- New School of University, New York, 1996-1997, com o
Prof. Dr Andrew Arato. Profa Titular da Faculdade de Educação da UNICAMP -
Disciplina “Movimentos Sociais e Educação”.Coordenadora do GEMDEC-Núcleo de
Estudos sobre Movimentos Sociais, Educação e Cidadania/FE/Unicamp e Pesquisadora
I do CNPq. Secretária Executiva do Research Committee “Social Movements and
Social Classes” da Associação Internacional de Sociologia e Membro do Conselho
Internacional do Instituto Paulo Freire. E-mail: mgohn@uol.com.br

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Considerações são portadores não advém de for- que agem como resistência à exclu-
preliminares: o que são ças congeladas do passado, embora são e lutam pela inclusão social. Eles
movimentos sociais este tenha importância crucial ao constituem e desenvolvem o cha-
criar uma memória que, quando mado ‘empowerment’ de atores da
Desde logo é preciso demarcar- resgatada, dá sentido às lutas do sociedade civil organizada à medi-
mos nosso entendimento sobre o que presente. A experiência se recria da que criam sujeitos sociais para
são movimentos sociais: nós os ve- cotidianamente, na adversidade de essa atuação em rede. Tanto os
mos como ações sociais coletivas de situações que enfrentam. Concor- movimentos sociais dos anos 80
caráter sociopolítico e cultural que damos com antigas análises de como os atuais têm construído re-
viabilizam distintas formas da popu- Touraine quando afirmou que os presentações simbólicas afirmativas
lação se organizar e expressar suas movimentos são o coração, o pulsar por meio de discursos e práticas. Eles
demandas. Na ação concreta, essas da sociedade. Eles expressam ener- criam identidades a grupos antes
formas adotam diferentes estratégi- gias de resistência ao velho que os dispersos e desorganizados, como
as, que variam da simples denúncia, oprime ou de construção do novo bem já acentuou Melluci (1994).
passando pela pressão Ao realizarem estas ações,
direta (mobilizações, mar- projetam, em seus partici-
chas, concentrações, pas- pantes, sentimentos de
seatas, distúrbios à ordem pertencimento social.
constituída, atos de deso- Aqueles que eram exclu-
bediência civil, negocia- ídos de algo passam a sen-
ções etc.), até as pressões tir-se incluídos em algum
indiretas. Na atualidade, tipo de ação de um gru-
os principais movimentos po ativo.
sociais atuam por meio de
redes sociais, locais, regi- No início deste novo
onais, nacionais e interna- milênio, os movimentos
cionais, e utilizam-se muito sociais estão retornando á
os novos meios de comuni- cena e á mídia. Neles desta-
cação e informação, como cam-se quatro pontos:
a internet. Por isso, exerci-
tam o que Habermas 1 o - As lutas de defesa
denominou como o agir das culturas locais, contra
comunicativo. A criação e os efeitos devastadores da
o desenvolvimento de no- globalização. Eles estão
vos saberes são produtos ajudando na construção
dessa comunicabilidade. de um novo padrão civi-
lizatório orientado para o
Na realidade históri- Saturnino Ramírez, Tiempo, mixta/papel, 1977 ser humano e não para o
ca, os movimentos sempre mercado, como querem as
existiram e cremos que sempre exis- que os liberte. Energias sociais an- políticas neoliberais de caráter
tirão. Isto porque eles representam tes dispersas são canalizadas e excludente. Um outro papel impor-
forças sociais organizadas, porque potencializadas por meio de suas tante a ser destacado nos movimen-
aglutinam as pessoas não como for- práticas em “fazeres propositivos”. tos atuais é o resgate que eles estão
ça-tarefa de ordem numérica, mas operando, do caráter e sentido das
como campo de atividades e de coisas públicas (espaços, instituições,
experimentação social, e essas ati- Os movimentos realizam diag- políticas etc.).
vidades são fontes geradoras de nósticos sobre a realidade social, 2 o - Ao reivindicarem ética na
criatividade e inovações sociocul- constróem propostas. Atuando em política e, ao mesmo tempo, exerce-
turais. A experiência da que eles redes, constróem ações coletivas rem vigilância sobre a atuação esta-

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tal/governamental, eles orientam a é ser flexível para incorporar os que pós-graduação da academia. Resul-
atenção da população para o que de- ainda não participam mas tem o ta também que vários deles, após qua-
veria ser dela e está sendo desviado; desejo de participar, de mudar as lificados, tornam-se professores
para o tratamento particular que su- coisas e os acontecimentos da for- universitários e voltam-se inteira-
postamente estaria sendo dado a algo ma como estão; é tentar sempre dar mente para a academia, ficando o mo-
que é um bem público, como os im- universalidade às demandas parti- vimento apenas como “objeto” de
postos arrecadados da população culares, fazer política vencendo os estudo e pesquisas. As ONGs per-
estariam sendo mal gerenciados etc. desafios dos localismos; ter auto- manecem como estágios laboratoriais
3 o - Os movimentos têm de iniciação participativa
coberto áreas do cotidiano estando sempre compos-
de difícil penetração por tas, majoritariamente, por
outras entidades ou insti- iniciantes).
tuições do tipo dos partidos
políticos, sindicatos ou
igrejas. Assim, aspectos da 1. A dança dos
subjetividade das pessoas, conceitos e as
relativos a sexo, crenças, novas formas de
valores etc. têm encontra- associativismo
do vias de manifestação
porque o grau de tolerân- O associativismo pre-
cia é alto na maioria dos dominante nos anos 90
movimentos sociais. Mas não deriva de processos de
não podemos deixar de lado mobilização de massas,
ou ignorarmos que intole- mas de processos de mo-
rância também existe e ela bilizações pontuais. Qual
têm estado presente em a grande diferença? No
movimentos fanático/religi- primeiro caso, a mobili-
osos ou no ressurgimento zação se faz a partir de
de movimentos nacionalis- núcleos de militantes que
tas, com suas ideologias não se dedicam a uma causa
democráticas, geradoras de seguindo as diretrizes de
ódios e guerras. uma organização. No se-
4 o - Os movimentos gundo, a mobilização se faz
construíram um entendi- a partir do atendimento a
mento sobre a questão da um apelo feito por alguma
autonomia, diferente do Saturnino Ramírez, Amarillo café, 35 x 25 cm,
litografía/papel, 1986
entidade plural, funda-
que existia nos anos 80. mentada em objetivos hu-
Atualmente, ter autonomia manitários. Pode ser uma
não é ser contra tudo e todos, estar nomia é priorizar a cidadania, organização internacional (Anistia,
isolado ou de costas para o Estado, construindo-a onde não existe, res- Greenpeace), nacional (Campanha
atuando à margem do instituído. Ter gatando-a onde foi corrompida. Fi- contra a Fome) ou local. Mas em
autonomia é, fundamentalmente, nalmente, ter autonomia é ter todos os casos é no local que se de-
ter projetos e pensar os interesses dos pessoal capacitado para represen- senvolvem as formas de mobilização
grupos envolvidos com autode- tar os movimentos nas negociações, e sociabilidade. Este tipo de associa-
terminação; é ter planejamento es- nos fóruns de debates, nas parceri- tivismo não demanda dos indivídu-
tratégico em termos de metas e as de políticas públicas (é grande o os obrigações e deveres permanentes
programas; é ter a crítica mas tam- número de militantes/assessores de para com uma organização. E a
bém a proposta de resolução para movimentos, advindos de ONGs, mobilização se efetua independen-
o conflito em que estão envolvidos; que tem adentrado aos programas de temente de laços anteriores de

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pertencimento, o que não ocorre apenas a sociedade civil a grande A Participação Cidadã envolve
com o associativismo de militância dinamizadora dos canais de par- direitos e deveres (diferentemente
político-ideológica. Em suma, o novo ticipação, mas as políticas públi- da concepção neoliberal de cidada-
associativismo é mais propositivo, cas também têm papel importante. nia que exclui os direitos e só des-
operativo e menos reivindicativo, A principal característica deste taca os deveres, vendo o cidadão
produz menos mobilizações ou gran- tipo de participação é a tendên- como um mero cliente de um mer-
des manifestações, é mais estratégi- cia à institucionalização, enten- cado ou um usuário de um serviço
co. O conceito básico que dá dida como inclusão no arcabouço prestado); os deveres, na perspecti-
fundamento às ações desse novo jurídico institucional do Estado, va cidadã, articulam-se à idéia de
associativismo é o de ‘participação a partir de estruturas de represen- civilidade, a concepção republica-
cidadã’. tação criadas e compostas por re- na de cidadão.
presentantes eleitos diretamente
Na Participação Cidadã, a ca- pela sociedade de onde eles pro- A sociedade civil organizada
tegoria central deixa de ser a co- vém. Os conselhos gestores, a se- é vista como parceira permanen-
munidade ou o povo e passa a ser rem tratados adiante, são os te na Participação Cidadã. A cha-
a sociedade. “A participação pre- maiores exemplos. Isto implica a mada “comunidade” é tratada
tendida não é mais a de grupos ex- existência do confronto (que se como um sujeito ativo e não como
cluídos por disfunção do sistema supõe democrático) entre diferen- coadjuvante de programas defini-
(comunidades) nem a de grupos tes posições político-ideológicas e dos de cima para baixo. A parti-
excluídos pela lógica do sistema projetos sociais. Todas as deman- cipação passa a ser concebida
(povo marginalizado), e sim a do das são, em princípio, tidas como como uma intervenção social pe-
conjunto de indivíduos e grupos legítimas. Os novos sujeitos polí- riódica e planejada, ao longo de
sociais, cuja diversidade de ticos se constróem por meio de in- todo circuito de formulação e
interesses e projetos integra a terpelações recíprocas. implementação de uma política
cidadania e disputa com igual le- pública. Para que venha a ocor-
gitimidade espaço e atendimento A Participação Cidadã é las- rer a Participação Cidadã, os
pelo aparelho estatal” (vide Car- treada num conceito amplo de ci- sujeitos de uma localidade/comu-
valho, 1995: 25). Trata-se de dadania, que não se restringe ao nidade precisam estar organiza-
práticas que rompem com uma tra- direito ao voto mas ao direito à dos/mobilizados de uma forma que
dição de distanciamento entre a vida do ser humano como um ideários múltiplos fragmentados
esfera onde as decisões são toma- todo. Por detrás dele há um ou- possam ser articulados.
das e os locais onde ocorre a tro conceito, de cultura cidadã,
participação da população. O con- fundado em valores éticos univer- Destaca-se ainda, nos anos 90, a
ceito de ‘participação cidadã’ está sais, impessoais. A Participação construção de outros novos concei-
lastreado na universalização dos Cidadã funda-se também numa tos como os de cidadania planetária,
direitos sociais, na ampliação do concepção democrática radical sustentabilidade democrática etc.
conceito de cidadania e numa que objetiva fortalecer a socieda- (vide Sousa Santos, 2000; Scherer-
nova compreensão sobre o papel e de civil no sentido de construir ou Warrem, 1999; Gohn, 2001). Esses
o caráter do Estado, remetendo a apontar caminhos para uma nova conceitos preconizam que se deve
definição das prioridades nas po- realidade social, sem desigualda- respeitar as diferenças culturais (os
líticas públicas a partir de um de- des nem exclusões de qualquer valores, hábitos e comportamentos, de
bate público. A participação é natureza. Busca-se a igualdade grupos e indivíduos, pertencentes a
agora concebida como interven- mas reconhece-se a diversidade uma sociedade globalizada pela eco-
ção social periódica e planejada, cultural. Há um novo projeto nomia e pelas múltiplas interações
ao longo de todo o circuito de for- emancipatório e civilizatório por mediáticas dadas pela TV, internet e
mulação e implementação de uma detrás dessa concepção que tem outros). Na realidade, os novos con-
política pública, porque toda a como horizonte a construção de ceitos foram gerados no interior de
ênfase passa a ser dada nas políti- uma sociedade democrática e sem outros movimentos sociais tais como
cas públicas. Portanto, não será injustiças sociais. ‘Ética na Política’.

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2. Movimentos sociais lidade, as causas da desmobilização dade civil organizada e o poder pú-
no Brasil: são várias. O fato inegável é que os blico, impulsionadas por políticas
manifestações na movimentos sociais dos anos 70/80 estatais tais como a experiência do
atualidade contribuíram decisivamente, via Orçamento Participativo, a política
demandas e pressões organizadas, de Renda Mínima, bolsa/escola etc.
No Brasil e em vários outros para a conquista de vários direitos Todos os fóruns atuam em questões
países da América Latina, no final sociais novos, que foram inscritos que dizem respeito a participação dos
da década de 70 e parte dos anos em leis na nova Constituição bra- cidadãos na gestão dos negócios pú-
80, ficaram famosos os movimen- sileira de 1988. blicos. A criação de uma Central dos
tos sociais populares articulados por Movimentos Populares foi outro fato
grupos de oposição ao então regi- A partir de 1990 ocorreu o marcante nos anos 90 no plano
me militar, especialmente pelos surgimento de outras formas de or- organizativo; ela estruturou vários
movimentos cristãos de base, sob a ganização popular, mais institucio- movimentos populares em nível na-
inspiração da Teologia da Liberta- nalizadas, como a constituição de cional tais como a luta pela moradia,
ção. Ao final dos anos 80 e ao Fóruns Nacionais de Luta pela assim como buscou fazer uma articu-
longo dos anos 90, o cenário so- Moradia, pela Reforma Urbana; lação e criou colaborações entre di-
ciopolítico se transformou radical- Fórum Nacional de Participação ferentes tipos de movimentos sociais,
mente. Inicialmente teve-se um Popular etc. Os fóruns estabelece- populares e não populares.
declínio das manifestações nas ruas, ram a prática de encontros nacio-
que conferiam visibilidade aos mo- nais em larga escala, gerando Ética na Política foi um movi-
vimentos populares nas cidades. grandes diagnósticos dos problemas mento ocorrido no início dos anos
Alguns analistas diagnosticaram sociais assim como definindo me- 90 e teve uma grande importância
que eles estavam em crise porque tas e objetivos estratégicos para histórica porque contribuiu, decisi-
haviam perdido seu alvo e inimigo solucioná-los. Emergiram várias ini- vamente, para a deposição (via pro-
principal, o regime militar. Na rea- ciativas de parceria entre a socie- cesso democrático) de um presidente

Saturnino Ramírez, dibujo, 1988

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da república por atos de corrupção, é também uma novidade histórica. como na educação e saúde, para cli-
fato até então inédito no país. Ele O mesmo ocorreu com o movimento entelas como meninos e meninas
contribui também, na época, para um negro, que deixou de ser quase que que vivem nas ruas, mulheres com
ressurgimento do movimento dos es- predominantemente formado por baixa renda, escolas de ensino fun-
tudantes com novo perfil de atuação, grupos de manifestação cultural damental etc.
os “cara-pintadas”. para serem também movimentos de
construção de identidade e luta con- O que diferencia um movimento
À medida que as políticas neo- tra a discriminação racial. Os jovens social de uma ONG? O que
liberais avançaram, foram surgindo também geraram inúmeros movi- caracteriza um movimento social?
outros movimentos sociais: Ação da mentos culturais, especialmente na
Cidadania contra a Fome, contra as área da música, enfocando temas de Definições já clássicas sobre os
reformas estatais, movimentos de protesto. movimentos sociais citam suas ca-
desempregados, ações de aposenta- racterísticas básicas: possuem uma
dos ou pensionistas do sistema Deve-se destacar ainda três ou- identidade, têm um opositor e arti-
previdenciário etc. As lutas de al- tros movimentos sociais importan- culam ou se fundamentam num
gumas categorias profissionais emer- tes no Brasil nos anos 90: dos projeto de vida e de sociedade.
giram no contexto de crescimento indígenas, dos funcionários públi- Historicamente observa-se que eles
da economia informal. Como exem- cos (especialmente das áreas da têm contribuído para organizar e
plo, no setor de transportes apare- educação e da saúde) e dos ecolo- conscientizar a sociedade; apresen-
ceram os chamados transportes gistas. Os primeiros cresceram em tam conjuntos de demandas via
alternativos (“perueiros”); no siste- número e em organização nesta práticas de pressão/ mobilização;
ma de transportes de cargas pesadas década. Eles passaram a lutar pela têm uma certa continuidade e per-
nas estradas, os “caminhoneiros”. demarcação de suas terras e pela manência. Eles não são apenas
Algumas dessas ações coletivas sur- venda de seus produtos a preços reativos, movidos só pelas necessi-
giram como respostas à crise socio- justos e em mercados competitivos. dades (fome ou qualquer forma de
econômica, atuando mais como Os segundos organizaram-se em as- opressão) pois podem surgir e se
grupos de pressão do que como sociações e sindicatos contra as desenvolver também a partir de
movimentos sociais estruturados. Os reformas governamentais que pro- uma reflexão sobre sua própria ex-
atos e manifestações pela paz, con- gressivamente retiram direitos so- periência. Na atualidade, eles apre-
tra a violência urbana, também são ciais, reestruturam as profissões, e sentam um ideário civilizatório que
exemplos desta categoria. Se antes arrocham os salários em nome da coloca como horizonte a constru-
a paz era um contraponto à guerra, necessidade de ajustes fiscais. Os ção de uma sociedade democráti-
hoje ela é almejada como necessi- terceiros, dos ecologistas, prolifera- ca. Atualmente suas ações são pela
dade ao cidadão-cidadã comum, ram após a conferência ECO 92, sustentabilidade e não apenas
em seu cotidiano, principalmente dando origem a inúmeras ONGs autodesenvolvimento. Lutam por
nas ruas, enquanto motoristas são (organizações não-governamen- novas culturas políticas de inclusão,
vítimas de assaltos relâmpago, tais). Aliás, as ONGs passaram a ter contra a exclusão. Questões como
sequestros e mortes. muito mais importância nos anos a diferença e a multiculturalidade
90 do que próprios movimentos têm sido incorporadas para a cons-
Grupos de mulheres foram or- sociais. Trata-se de ONGs diferen- trução da própria identidade dos
ganizados nos anos 90 em função tes das que atuavam nos anos 80 movimentos. Lutam pelo reconhe-
de sua atuação na política. Elas cri- junto com os movimentos popula- cimento da diversidade cultural.
aram redes de conscientização de res. Agora são ONGs inscritas no Há neles, na atualidade, uma
seus direitos, e frentes de luta con- universo do ‘terceiro setor’, volta- ressignificação dos ideais clássicos
tra as discriminações. O movimen- das para a execução de políticas de de igualdade, fraternidade e liber-
to dos homossexuais também ganhou parceria entre o poder público e a dade. A igualdade é ressignificada
impulso e as ruas, organizando pas- sociedade, atuando em áreas onde com a tematização da justiça soci-
seatas e atos de protestos. Numa so- a prestação de serviços sociais é al; a fraternidade se retraduz em
ciedade marcada pelo machismo isso carente ou até mesmo ausente, solidariedade; e a liberdade associa-

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se ao princípio da autonomia –da da sombra, colocam-se à frente e até não apenas reivindicativo, ser ativo
constituição do sujeito, não indivi- mesmo na dianteira dos movimen- e não apenas um passivo reivin-
dual, mas autonomia de inserção na tos, tornando-se, em alguns casos, dicante. Muitos movimentos se
sociedade, de inclusão social, de instituições autônomas e desvincu- transformaram em ONGs ou se
autodeterminação com soberania– ladas dos movimentos. Na segunda incorporaram às ONGs que já os
. Finalmente, os movimentos soci- metade dos anos 90, a conjuntura apoiavam. A atuação por projetos
ais, na atualidade, tematizam e econômica alterou ainda mais a di- exige resultados e tem prazos.
redefinem a esfera pública, realizam nâmica dos movimentos sociais em Criou-se uma nova gramática onde
parcerias com outras entidades da geral, e dos populares em particular, mobilizar deixou de ser para o de-
sociedade civil e política, têm gran- assim como das ONGs, que repen- senvolvimento de uma consciência
de poder de controle social e saram seus planos, planejamentos de crítica ou para protestar nas ruas.
constróem modelos de inovações ação, estratégias e forma de atuar, Mobilizar passou a ser sinônimo de
sociais. elaboração de planejamentos estra- arregimentar e organizar a popula-
tégicos etc. Novas pautas foram ção para participar de programas e
E as ONGs? O que as introduzidas, tais como a de traba- projetos sociais. O militante foi-se
caracterizam? lhar com os excluídos sobre questões transformando no ativista organiza-
de gênero, etnia, idades etc. Os dor das clientelas usuárias dos ser-
Nos anos 70/80, as ONGs eram novos tempos, de desemprego e au- viços sociais.
instituições de apoio aos movimen- mento da violência urbana, assim
tos sociais e populares, estavam por como o crescimento de redes de po-
detrás deles na luta contra o regi- der paralelo nas regiões pobres, li- 3. A complexidade do
me militar e pela democratização gadas ao narcotráfico de drogas e novo universo das
do país, ajudaram a construir um outros, também colaboraram, e mui- ONGs: o Terceiro
campo democrático popular. Nes- to, para desmotivar a população ne- Setor
ta fase, as ONGs se preocupavam cessitada para participar de reuniões
em fortalecer a representatividade ou outras atividades dos movimen- As ONGs são a face mais visí-
das organizações populares, ajuda- tos e aderirem aos programas e pro- vel do Terceiro Setor, mas elas são
vam a própria organização se jetos das ONGs. Um grande número apenas uma das frentes de ações
estruturar; muitas delas trabalha- de projetos sociais passa a ser patro- coletivas que o compõem. E as pró-
vam numa linha de conscientização cinado por empresas e bancos, den- prias ONGs são também muito di-
dos grupos organizados. Não se tra- tro de programas de responsabilidade ferentes entre si, quanto aos seus
tava de um tipo qualquer de ONG social, no âmbito da cidadania objetivos, projetos, formas de atu-
mas das ONGs cidadãs, movi- corporativa. Em dezembro de 2003, ação e ação coletiva, paradigmas
mentalistas, militantes. A face e só na área de crianças e adoles- e estilo de participação que ado-
movimentalista encobria, nas pró- centes, a Revista Exame listou 134 tam; e, fundamentalmente, pressu-
prias ONGs, sua outra face, produ- grandes projetos patrocinados por postos político-ideológicos que
tiva, geradora de inovações no empresas e companhias que possu- alicerçam suas práticas (tanto as
campo de alternativas às necessida- em fundações atuando na área do discursivas como as ações concre-
des e demandas sociais. Terceiro Setor. tas). Neste paper procuramos de-
marcar as diferenças entre dois
No início dos anos 90, o cenário Registre-se ainda que a nova tipos de ONGs nos anos 90: as
da organização da sociedade civil se política estatal de distribuição e ONGs oriundas ou herdeiras da
amplia e diversifica. Surgem entida- gestão dos fundos públicos, em par- cultura participativa, identitária e
des autodenominadas como ‘terceiro ceria com a sociedade organizada, autônoma dos anos 70/80, as quais
setor’ (mais articuladas a empresas favorece os projetos focalizados, denominaremos de militantes; e as
e fundações), ao lado das ONGs ci- pontualizados, dirigidos às crianças, ONGs propositivas, que atuam se-
dadãs, militantes propriamente di- jovens, mulheres etc. As palavras gundo ações estratégicas, utilizan-
tas, com perfil ideológico e projeto de ordem destes projetos e progra- do-se de lógicas instrumentais,
político definidos. Essas últimas saem mas passaram a ser: ser propositivo e racionais e mercadológicas.

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No Brasil, nos anos 70-80, as pela igualdade com justiça social, como meio ambiente, saúde, lazer
ONGs militantes estiveram por ajudaram a criar o discurso da etc.; ou temas de interesse de coleti-
detrás da maioria dos movimentos ‘participação popular’ como uma ne- vos específicos, como os dos portado-
sociais populares urbanos que cessidade e um componente da de- res de deficiências físicas, mentais,
geraram um cenário de grande mocracia. Suas características eram do vírus da aids etc. Ou seja, as
participação da sociedade civil, similares às dos movimentos popu- ONGs cidadãs/militantes, junto com
trazendo para a cena pública novos lares: enraizamento na sociedade, os movimentos sociais reivindi-
personagens, contribuindo decisi- participação mística estimulada por catórios dos anos 80, construíram um
vamente para a queda do regime ícones emblemáticos (como a cruz), conjunto de práticas que se tradu-
militar e para a transição democrá- crítica e rebeldia, disciplina organi- zem numa cultura de cidadania, algo
tica no país. Elas contribuíram para zativa, formas de luta social que novo num país de tradição centra-
a reconstrução do conceito de ‘so- priorizam os espaços na sociedade lizadora, autoritária, patrimonialista
ciedade civil’ e para a inovação das civil, pouca relação e interlocução e clientelística. Suas ações abriram
lutas sociais inscrevendo, como su- com órgãos públicos instituciona- espaços que demarcaram novos “lu-
jeitos de direitos, categorias até lizados, e uso recorrente de práticas gares” para a ação política, especial-
então esquecidas; criando um novo de desobediência civil, ou práticas mente ao nível do poder local e no
campo ético-político e cultural por não circunscritas à legalidade meio urbano, na gestão das cidades.
meio da ações coletivas desenvol- instituída.
vidas em espaços alternativos de Paulo Freire afirmou que quan-
expressão da cidadania. Deve-se destacar ainda que do falamos em nova cultura políti-
uma nova cultura política foi ca, estamos supondo que exista uma
As ONGs militantes fundamen- construída a partir daquela heran- velha. Isso obriga-nos a refletir so-
taram suas ações na conquista de ça, em relação ao espaço público e bre como se constitui o novo. Ele
diversos tipos de direitos, lutaram aos temas de interesse coletivo, recorda que toda novidade nasce no

Saturnino Ramírez, s.t., 120 x 180 cm, acrílico/tela, 1983

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corpo de uma ex-novidade, que co- O Estatuto da Criança e do Ado- Trata-se de espaços de negociação
meçou a envelhecer. E as novidades lescente (ECA), a Lei Orgânica da e de equacionamento de conflitos
não surgem por decreto, pois há uma Assistência Social (LOAS), a refor- de interesses, numa gestão democrá-
interligação entre as coisas que vão ma sanitária que levou a criação do tica, geradora de uma cultura
ficando velhas e as coisas que vão SUS (Sistema Único de Saúde), a participativa nova na sociedade bra-
nascendo (1995: 71). Em nosso caso, luta pela reforma urbana, as câma- sileira.
a questão a ser pesquisada é quanto ras setoriais da construção civil, as
a herança daquela cultura política câmaras dos usuários do sistema de As ONGs militantes tornaram-
passa no cenário dos anos 90. transportes coletivos, as câmaras se, nos anos 90, minoritárias no
setoriais tripartides na indústria universo das ações coletivas desen-
Nos anos 80, apesar das ONGs automobilística, as experiências de volvidas nos espaços públicos sem
serem, em sua grande maioria, con- orçamento participativo em dife- fins lucrativos. Embora elas parti-
tra o Estado, elas contribuíram para rentes cidades brasileiras, os di- cipem de atividades e eventos
a criação de espaços de interlocução ferentes conselhos gestores de conjuntos com as novas ONGs
entre o Estado e a sociedade civil. políticas de habitação, dos direitos “terceiro-setoristas”, elas têm ori-
Ao final daquela década, as ONGs da mulher, das pessoas portadoras gens e matrizes discursivas nos mo-
militantes passaram a enfrentar um de deficiências, dos idosos, das es- vimentos populares de base da Igreja,
dilema: participar ou não das novas colas, e outras formas de colegiados dos anos 70/80, no novo sindicalismo
políticas sociais estimuladas pelo Es- e estruturas de mediação entre o dos anos 70, e na nova esquerda que
tado. O processo Constituinte e a pro- Estado e a sociedade civil, são exem- deu origem ao Partido dos Trabalha-
mulgação da nova Constituição plos vivos da conquista e da força dores e outras alas progressistas de
brasileira em 1988 representaram um daquela participação organizada. alguns partidos políticos.
divisor de águas, o grande
momento de inflexão e de O ponto crucial que
ruptura com a tradição até determinou a mudança
então predominante: ser no tipo predominante de
contra o Estado. Uma nova associativismo nos anos
concepção de participação 90, e a crise de identida-
iniciou sua construção, de e revisão do campo de
unindo a democracia di- atuação das ONGs mili-
reta à democracia repre- tantes, foi o surgimento e/
sentativa. Tratava-se de ou reorganização de ou-
participar de um novo mo- tras redes associativistas –
mento político que era a como a das novas ONGs
definição das formas de do ‘terceiro setor’ (que
gestão dos equipamentos e não querem ser chamadas
serviços, a definição e im- e nem confundidas com
plantação das leis estaduais as antigas ONGs; autode-
e municipais, a construção nominam-se simplesmen-
dos diferentes conselhos e te como Terceiro Setor)–
câmaras de interlocução e as mudanças nas políti-
do Estado com a socieda- cas sociais dos Estados na-
de. Em suma, participar da cionais, decorrentes da
gestão dos direitos. Não se implantação de um novo
contentar em estar incluí- modelo de desenvolvimen-
do na lei, via um direito to, de desconcentração de
adquirido, mas lutar para várias atividades estatais
sua operacionalização e Saturnino Ramírez, Prostituta encendiendo un cigarrillo, na área social, levando a
gestão. 146 x 114 cm, óleo/tela, 1981. MAM, Medellín desativação da atuação

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direta e transferência da operacio- ência quanto aos problemas sociais tura, que por meio de políticas
nalização de vários serviços para o e políticos da realidade. neoliberais buscou desorganizar e
setor privado sem fins lucrativos etc. enfraquecer os setores organizados.
Se rememorarmos o famoso Por isso, ao longo dos anos 90, os
As novas ONGs do Terceiro debate que ocorreu nos anos 80, movimentos sociais em geral, e os
Setor não têm perfil ideológico de- nos Estados Unidos e na Europa, populares em especial, tiveram que
finido. Falam em nome de um sobre o significado e o sentido dos abandonar as posturas mais críticas
pluralismo, defendem as políticas de movimentos e ações coletivas dos e ficarem mais ativos/propositivos.
parcerias entre o setor público com anos 60/70 e 80, ele resultou em Passaram a atuar em rede e em par-
as entidades privadas sem fins lu- duas posições: os defensores da ceria com outros atores sociais, den-
crativos e o alargamento do espa- tese de que os movimentos eram tro dos marcos da institucionalidade
ço público não estatal. A maioria ações estratégicas de determinados existente e não mais à margem, de
delas foi criada nos anos 90 e não grupos sociais (MacAdam, McCar- costas para o Estado, somente no
tem movimentos ou associações thy, Morris e outros), versus os que interior da sociedade civil, como no
comunitárias militantes por detrás. postulavam a tese de que os mo- período anterior, na fase ainda do
Muitas delas surgiram pela iniciati- vimentos eram lutas e ações para regime militar. A nova fase gerou
va de empresários e grupos econô- a construção de novas identidades práticas novas, exigiu a qualificação
micos e seu discurso é muito próximo (sociais, culturais e políticas). A dos militantes; ONGs e os movimen-
das agências financeiras internaci- exemplo de Melucci, Cohen e tos redefiniram seus laços e relações.
onais; outras surgiram por iniciati- Arato, e Touraine, observamos No urbano, os movimentos com
vas de personalidades do mundo que, nos anos 90 no Brasil, houve matizes político-partidários fortes se
artístico e esportivo. na realidade uma fusão dos dois enfraqueceram; fortaleceram-se os
sentidos, com um certo predomí- movimentos com perfil de deman-
Enquanto formado de organiza- nio das ações estratégicas. As pró- das mais universais, mais plurais em
ções/empresas que atuam na área prias alas progressistas das ONGs termos de composição social, como
da cidadania social, o Terceiro Se- afirmam, atualmente, que já não os ecologistas e pela paz. No cam-
tor incorpora critérios da economia bastam princípios gerais e boas po, a luta social recrudesceu e os
de mercado do capitalismo para a análises da sociedade. É necessá- movimentos sociais com perfil de
busca de qualidade e eficácia de rio boas análises para armar estra- lutas de resistência e classistas cres-
suas ações, atua segundo estratégi- tégias políticas viáveis segundo a ceram e tiveram seu auge; entram
as de marketing e utiliza a mídia correlação de forças políticas pre- no novo milênio um tanto desgas-
para divulgar suas ações e desen- sentes na conjuntura. tados, mas como parte da agenda
volver uma cultura política favo- dos conflitos sociais do país, a exem-
rável ao trabalho voluntário nesses plo do MST.
projetos. Usam a racionalidade ins- Conclusões
trumental empírica, voltada para a O exercício de novas práticas
conquista de objetivos imediatos. O perfil dos movimentos soci- trouxe também um conhecimento
ais se alterou na virada do novo mais aprofundado sobre a política
A atuação do Terceiro Setor milênio porque a conjuntura polí- estatal, sobre os governos e suas
tem gerado um universo contradi- tica mudou; eles redefiniram-se em máquinas. Demandas pela ética na
tório de ações coletivas. De um função dessas mudanças. Mas eles política e uma nova concepção de
lado, elas reforçam as políticas so- foram também co-artífices dessa esfera pública foram os primeiros
ciais compensatórias ao interme- nova conjuntura, pelo que ela con- saltos dessa aprendizagem, seguidos
diarem as ações assistenciais do tinha de positivo (em termos de de uma completa rejeição pelos
governo; mas, de outro lado, elas conquista de novos direitos sociais), rumos das atuais políticas neolibe-
atuam em espaços associativos ge- resultado das pressões e mobilizações rais, geradoras de desemprego e ex-
radores de solidariedade e que exer- que eles –movimentos– realizaram clusão social. As redes, as parcerias
cem um papel educativo junto à nos anos 80. Mas os movimentos fo- entre movimentos, as ONGs, geram
população, aumentando sua consci- ram também vítimas dessa conjun- um novo movimento social contra a

NÓMADAS 149
globalização predominante, gerado- 80, quando eles lutaram pela demo-
ra de miséria. Elas clamam, articu- cratização dos órgãos e aparelhos Bibliografía
lados com redes internacionais, pela estatais. Eles fazem parte de um
COHEN, Jean; Arato, Andrew, Civil society
defesa da vida com dignidade. O novo modelo de desenvolvimento and political theory, Cambridge, MIT
perfil do militante dos movimentos que está sendo implementado em Press, 1992.
sociais se alterou e as teorias estão a todo o mundo: o da gestão pública CARVALHO, M.C. Participação social no Bra-
exigir de nós explicações mais con- estatal via parcerias com a socieda- sil hoje. SP, Instituto Pólis, 1995.
sistentes. de civil organizada, objetivando a FREIRE, Paulo, A constituição de uma nova
formulação e o controle de políticas cultura política. Em Villas-Boas, R. e
Uma sociedade civil partici- sociais. Eles representam a possibili- Telles V.S. Poder local, participação popu-
lar, construção da cidadania, São Paulo,
pativa, autônoma, com seus direi- dade da institucionalização da par- Instituto Cajamar/Instituto Pólis/FASE
tos de cidadania conquistados, ticipação via uma de suas formas de e IBASE, 1995.
respeitados e exercidos em várias expressão: a co-gestão; a possibilida- HABERMAS, Jürgen, Teoria de la acción
dimensões, exige também vontade de de desenvolvimento de um espa- comunicativa, Madri, Taurus, 1985.
política dos governantes, principal- ço público que não se resume e não GOHN, M. Gloria, 2000, Mídia, terceiro setor
mente daqueles que foram eleitos se confunde com o espaço governa- e MST. Petrópolis, Vozes.
como representantes do povo, pois mental/estatal; e, finalmente, a pos- ————, Conselhos gestores e participação
trata-se de uma tarefa que não é sibilidade da sociedade civil intervir sociopolítica, São Paulo, Cortez Editora,
2001 (no prelo).
apenas dos cidadãos isolados. Na na gestão pública via parcerias com
MCADAM, Doug; McCarthy, John D. e Zald,
luta pela igualdade, a sociedade o Estado. Os conselhos ampliam o Mayer N. Comparative perspectives on so-
deve-se organizar politicamente espaço público, sendo ainda agen- cial movements, Cambridge, Cambridge
para acabar com as distorções do tes de mediação dos conflitos. Como Univ. Press, 1996.
mercado (e não apenas corrigir suas tais, carregam contradições e MELUCCI, Alberto, Challenging codes.
iniqüidades), lutar para coibir os contraditoriedades. Podem ala- Cambridge, Cambridge Univ. Press, 1996.
desmandos dos políticos e admi- vancar o processo de participação MORRIS, Aldon D. e Mueller, Carol M.,
nistradores inescrupulosos. A de grupos organizados como podem Frontiers in social movement theory, New
Haven, Yale Univ. Press, 1992.
exigência de uma democracia estagnar o sentimento de perten-
participativa deve combinar lutas cimento de outros, se monopo- SANTOS, Boaventura Souza, A crítica da
razão indolente, São Paulo, Cortez Edito-
sociais com lutas institucionais e a lizados por indivíduos que não ra, 2000.
área da educação é um grande es- representem de fato as comunida- TARROW, S., The Power of Movements,
paço para essas ações, via a partici- des que os indicaram/elegeram. Cambridge, Cambridge Univ. Press, 1994.
pação nos conselhos, Consideramos Eles não substituem os movimentos TOURAINE, A., Le voix et le regard, Paris,
estes últimos como parte de um de pressão organizada de massas, Seuil, 1978.
novo modo de gestão dos negócios que ainda são sempre necessários ————, ¿Podremos vivir juntos?, Buenos
públicos, que foi reivindicado pelos para que as próprias políticas públi- Aires, Fondo de Cultura Económica,
próprios movimentos sociais nos anos cas ganhem agilidade. 1997.

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Óscar Jarami llo, s.t., lápiz-tre mentina/papel , 1997. Unive rsidad de Anti oquia

IV
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