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UTILIZAÇÃO DO MAPEAMENTO DE PROCESSOS E SIMULAÇÃO ...

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UTILIZAÇÃO DO MAPEAMENTO DE
PROCESSOS E SIMULAÇÃO
PARA MELHORIA DA PRODUTIVIDADE
DE UMA LINHA DE MONTAGEM DE
COMPONENTES AUTOMOTIVOS
Heráclito Lopes Jaguaribe Pontes
Doutorando em Engenharia Mecânica pela Escola de Engenharia
de São Carlos, Universidade de São Paulo (EESC-USP)

Mamoru Carlos Yamada


Doutor em Engenharia Mecânica pela Escola de Engenharia
de São Carlos, Universidade de São Paulo (EESC-USP)

Arthur José Vieira Porto


Professor Titular da Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo (EESC-USP)

Resumo
A globalização dos mercados mundiais provocou profundas modificações nas organizações, gerando desafios como a
correta utilização dos recursos disponíveis para a produção. Este trabalho tem por objetivo melhorar a produtividade de
uma linha de montagem de componentes automotivos. O trabalho utiliza o mapeamento de processos e a simulação. O
mapeamento de processos produtivos é empregado inicialmente para familiarização e descrição detalhada da linha de
montagem. A segunda etapa é o desenvolvimento de um modelo computacional em um software de simulação, e neste
trabalho o software utilizado foi o Arena®. Na terceira etapa são propostos dois cenários alternativos em que se
observam as respostas do sistema a partir das alterações realizadas. Os indicadores de produtividade utilizados são: o
tempo de atravessamento de um componente na linha de montagem e a quantidade total de componentes produzidos
por dia na linha de montagem. Os dois modelos propostos obtiveram desempenhos melhores do que o modelo atual da
linha de montagem. Os resultados mostram que o mapeamento de processos e a simulação são importantes ferramentas
na melhoria da produtividade em linhas de montagem.
Palavras-chave: linha de montagem, mapeamento de processos, simulação de eventos discretos.

Introdução de uma linha de montagem em uma empresa do setor de


A globalização dos mercados mundiais provocou componentes automotivos.
profundas modificações nas organizações, gerando desafios A empresa em estudo é uma multinacional de médio
como a correta utilização dos recursos disponíveis para a porte, localizada no Estado de São Paulo, que produz
produção. O gerenciamento e a melhoria dos recursos para o setor automotivo componentes como o do sistema
produtivos ocupam papel fundamental numa organização, de transmissão. A empresa conta com um quadro de 250
com o objetivo de aumentar a produtividade, reduzir os funcionários trabalhando em três turnos e produzindo,
custos e atender às necessidades dos consumidores. em média, 5.200 peças por dia. Essa produção é comer-
O mercado automobilístico é altamente competitivo. cializada para clientes no mundo todo.
Para sobreviver nesse mercado, as indústrias fornecedoras
de componentes para o setor têm sido estimuladas a Mapeamento de Processos
tornar suas linhas de montagens mais eficientes e flexíveis. Definição de processo
E o estudo detalhado da linha de montagem é de grande Segundo Harrington (1997), processo é um grupo
relevância para o aumento de sua produtividade. de tarefas interligadas logicamente que utilizam os recursos
O objetivo deste trabalho é, por meio do mapeamento da organização para gerar os resultados definidos, de
de processos e da simulação, melhorar a produtividade forma a apoiar os seus objetivos.

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Para Johansson et al. (1995), processo é o conjunto processo, ou gráfico do fluxo do processo, é uma ferramenta
de atividades ligadas que toma o insumo (input) e o importante, pois possibilita uma melhor compreensão de
transforma de modo a adicionar valor e criar um resultado processos e sua posterior melhoria. O fluxograma representa
(output) que seja mais útil e eficaz ao recebedor acima ou os diversos eventos que ocorrem durante a execução de
abaixo da cadeia produtiva. uma tarefa específica, ou durante uma série de ações. São
De acordo com Davenport (1994), um processo é utilizados alguns símbolos padronizados. Um fluxograma
uma ordenação específica das atividades de trabalho no do processo, de acordo com Fitzsimmons & Fitzsimmons
tempo e no espaço, com um início e um fim e entradas e (2000), é um recurso visual utilizado pelos engenheiros
saídas bem definidas. de produção ao analisar sistemas de produção, buscando
identificar oportunidades de melhorar a eficiência dos
Definição de mapeamento de processos processos.
Para Hunt (1996), mapeamento de processos é uma
ferramenta gerencial analítica e de comunicação que tem Operação Inspeção
a intenção de ajudar a melhorar os processos existentes
ou de implantar uma nova estrutura voltada para processos. Espera Transporte
A sua análise estruturada permite, ainda, a redução de
Armazenagem Operação e inspeção
custos no desenvolvimento de produtos e serviços e a
redução nas falhas de integração entre sistemas e melhora Figura 1 Símbolos utilizados em fluxogramas do processo.
do desempenho da organização, além de possibilitar melhor Fonte: Barnes (1992).
entendimento dos processos atuais e eliminar ou simplificar
aqueles que necessitam de mudanças. Simulação
Cheung & Bal (1998) definem mapeamento de Definição de simulação
processos como a técnica de colocar em um gráfico o Simulação computacional ou simulação é o processo
processo de um setor, departamento ou organização, para de projetar um modelo lógico matemático de um sistema
orientação em suas fases de avaliação, desenho e real e fazer experimentos desse sistema no computador
desenvolvimento. (Pritsker, 1986). Em complemento, Harrel & Tumay (1997)
Mapear processos significa identificar, documentar, afirmam que a simulação é uma atividade por meio da qual
analisar e desenvolver um processo de melhoria. É uma se pode tirar conclusões sobre o comportamento de um
representação visual dos processos de trabalho mostrando dado sistema pelo estudo do comportamento do seu modelo
como inputs, outputs e tarefas estão ligados entre si, correspondente, no qual as relações de causas e efeitos
proporcionando uma nova visão de como o trabalho é são as mesmas ou similares ao sistema real.
realizado, destacando os pontos cruciais das áreas onde Conforme Shannon (1998), simulação consiste no
uma mudança terá impacto bastante significativo para a processo de desenvolver um modelo de um sistema real e
melhoria do processo atual (Anjard, 1996). com ele realizar experimentos a fim de entender o compor-
Segundo Mello & Salgado (2005), para gerenciar tamento do sistema e/ou as evoluções das várias estratégias
um processo é necessário, primeiramente, visualizá-lo. Assim, para a operação do sistema.
o mapeamento representa as diversas tarefas necessárias Segundo Freitas Filho (2001), a simulação permite
e a seqüência em que elas ocorrem para a realização e ao analista realizar estudos sobre os correspondentes
entrega de um produto ou serviço. sistemas para responder a questões do tipo “o que
De acordo com Tseng et al. (1999), o mapeamento aconteceria se”. O principal apelo ao uso dessa ferramenta
de processos deve ser apresentado sob a forma de uma é que tais questões podem ser respondidas sem que os
linguagem gráfica que permita: expor os detalhes do processo sistemas sob investigação sofram qualquer perturbação,
de modo gradual e controlado; descrever o processo com uma vez que os estudos são realizados no computador. A
precisão; focar a atenção nas interfaces do mapa do processo; simulação permite que tais estudos sejam realizados sobre
e fornecer uma análise de processos consistente com o sistemas ainda inexistentes, levando ao desenvolvimento
vocabulário do projeto. de projetos eficientes antes que qualquer implantação
física tenha sido iniciada.
Técnicas de mapeamento de processos
Conforme Leal et al. (2003), as principais técnicas Quando usar a simulação
de mapeamento de processos são: Fluxograma, Mapoflu- De acordo com Maria (1997), a simulação é utilizada
xograma, Integrated Computer Aided Manufacturing antes de um sistema existente ser alterado ou um sistema
Definition (IDEF), Unified Modeling Language (UML) e novo ser construído para reduzir as possibilidades de
Mapa do Serviço. encontrar falhas nas especificações, eliminar gargalos,
Neste trabalho utilizou-se a técnica do fluxograma. impedir a pouca ou o excesso de utilização dos recursos
Barnes (1982) descreve em seu livro que o fluxograma do e para aperfeiçoar o desempenho do sistema.

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Bertrand & Fransoo (2002) apontam que, apesar de z Pode ser usada inadequadamente, por exemplo, quando
a qualidade científica dos resultados da simulação ser uma solução analítica é factível.
menor que o caso de análise matemática, sua relevância
cientifica é alta. A variedade de modelos científicos na Ferramentas da simulação
qual a simulação é capaz de trabalhar é maior que a de Segundo Shannon (1998), os programas computa-
uma análise matemática. Eles apontam que a simulação é cionais voltados para simulação podem ser implementados
utilizada em casos nos quais os modelos ou problemas em diferentes ferramentas, que são classificadas em três
são muitos complexos para uma análise matemática formal. grandes abordagens: programas codificados em uma
A simulação possibilita que os tomadores de decisão linguagem de propósito geral (linguagem de programação),
das empresas identifiquem algumas questões peculiares linguagem de simulação e pacote de simulação.
ao chão de fábrica, como: o lead-time, a identificação dos Na linguagem de propósito geral (linguagem de
gargalos no fluxo de material, com a localização das máquinas programação), um programa especial é escrito para a
que os geram, o tamanho dos estoques amortecedores, simulação de cada sistema a ser estudado. Essa ferramenta
as taxas de utilização dos operários e das máquinas, o de simulação oferece ao programador a máxima flexibilidade
espaço físico necessário, o volume de produção, dentre em projeto e formulação do modelo matemático do sistema
outras (Rohrer & Banks, 1998). em estudo, tipo e formato de dados de saída gerados e
espécies de experiências de simulação executadas com o
Vantagens e desvantagens da simulação modelo (Naylor et al., 1971).
As vantagens da simulação são citadas por Banks De acordo com Law & Kelton (2000), linguagens
et al. (1996), Banks (1998), Banks (2000), Kelton et al. de simulação são pacotes computacionais de natureza
(1998), Centeno & Carrillo (2001) e Carson II (2004) e são genérica, porém, com características especiais para
relacionadas a seguir: determinados tipos de aplicações em simulação. Assim
como nas linguagens de programação, as linguagens de
z Modelo mais realista com maior liberdade na construção.
simulação também fazem uso de compiladores, mas são
z Processo de modelagem evolutivo. aplicadas especificamente em simulação. Essas linguagens
z Uma vez criado, um modelo pode ser utilizado inúmeras são bibliotecas compostas por macros de linguagens de
vezes para avaliar projetos e políticas propostas. programação.
z Os modelos de simulação podem ser quase tão detalhados Segundo Law & Kelton (2000), pacotes de simulação
quanto os sistemas reais: novas políticas e procedimentos ou simuladores são pacotes computacionais que favorecem
operacionais, regras de decisão, fluxos de informação a modelagem de sistemas específicos com pouca progra-
podem ser avaliados sem que o sistema real seja mação. As vantagens dos simuladores estão associadas
perturbado. ao tempo reduzido para construção do modelo e à facilidade
de utilização com menus gráficos relacionados com o sistema
z Perguntas do tipo “e se?” (“what if?”): em diversos específico. A desvantagem principal é a pouca flexibilidade
casos, em lugar de buscar uma solução, o objetivo de modelagem. Um exemplo de pacote de simulação é o
resume-se em tornar mais claras as possíveis conse- Arena®, da Rockwell Software Corp.
qüências de um conjunto de decisões.
z Aplicação a problemas mal estruturados. Estudo de Caso
z Grande flexibilidade: a simulação aplica-se aos mais Descrição do sistema
variados problemas. Este trabalho foi realizado numa empresa multi-
nacional de médio porte do setor de componentes
z Aquisição de visão sistêmica.
automotivos, com cerca de 250 funcionários e uma produção
z Exploração de possibilidades. de aproximadamente 5.200 peças por dia, que comercializa
Os mesmos autores citam também algumas desvan- para clientes do mundo todo. Os principais produtos da
tagens da simulação: linha de montagem em estudo são os componentes do
z A modelagem e a análise da simulação podem ser sistema de transmissão automotiva.
dispendiosas em termos de recursos financeiros e de Inicialmente, para a familiarização e descrição detalhada
tempo. das atividades da linha de montagem, foi utilizado o
mapeamento de processos (Figura 2 e Tabela 1), efetuado
z A construção de modelos requer treinamento especial.
com o auxílio do Microsoft Visio®. Como técnica de
z A programação de um modelo de simulação pode se mapeamento de processo, empregou-se o fluxograma, por
tornar altamente dispendiosa e desgastante se os recursos sua simplicidade e praticidade em representar os diversos
computacionais não forem apropriados. passos ou eventos que ocorrem durante a execução de
z Os resultados da simulação são, muitas vezes, de difícil um processo. Essa atividade foi possível a partir da
interpretação. observação do funcionamento dos processos.

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A linha de montagem é composta de várias estações (postos automáticos) são realizadas com a parada do
de trabalho manuais e automáticas, interligadas por um palete nas estações de trabalho. As operações manuais
transportador acumulativo (esteira). O produto é montado são realizadas de duas formas: com o palete parado na
sobre um palete e em cada estação de trabalho são estação de trabalho e com o palete em movimento ao
colocados componentes. As operações automáticas transitar de uma operação para outra.

OM4 PA3 OMT1 PA4 PA5 OMT2 PA6 PA7

Início Fim

OM3 OM2 PA2 OM1 PA1 OMI1 OM5

Figura. 2 Mapeamento da linha de montagem.

Tabela 1 Resumo das atividades descritas no z Posto Automático 4 (PA4): posiciona rebites maciços
mapeamento da linha de montagem no lado direito do palete.
z Posto Automático 5 (PA5): posiciona molas de reves-
Símbolo Significado Total timento no lado direito do palete.
z Operação Manual com Transporte 2 (OMT2): um ope-
Operações 12
rador posiciona o disco de torção no lado direito do
Transportes 10 palete e libera para a prensagem com o palete em movimento.
z Posto Automático 6 (PA6): prensa simultaneamente o
Operação com transporte 2 conjunto e o subconjunto montados no palete.
Operação com inspeção 1 z Posto Automático 7 (PA7): grava a laser a identificação
do produto.
z Operação Manual 5 (OM5): um operador retira o pro-
A seguir tem-se uma descrição detalhada das
duto acabado do palete e posiciona-o na máquina de
atividades relacionadas ao mapeamento da linha de
medição. Em seguida, faz medições de características
montagem, de acordo com a Figura 2:
funcionais do produto. O operador, então, retira o produto
z Posto Automático 1 (PA1): posiciona rebites no lado mensurado e disponibiliza-o para a próxima operação.
esquerdo do palete.
z Operação Manual com Inspeção 1 (OMI1): um operador
z Operação Manual 1 (OM1): um operador posiciona o faz exame visual detalhado do produto, identificando
revestimento no lado esquerdo do palete, retira o erros e direcionando o produto para o retrabalho ou
subconjunto do lado direito e posiciona-o no lado para expedição.
esquerdo sobre os rebites e o revestimento já montado.
z Posto Automático 2 (PA2): posiciona rebites do lado Coleta de dados e informações
direito do palete. Para o desenvolvimento do modelo inicial de simu-
z Operações Manuais 2 (OM2), 3 (OM3) e 4 (OM4): em lação foi realizada a coleta de dados na linha de montagem.
cada operação, um operador monta o componente de Visitas à empresa permitiram observar o funcionamento
acordo com o tipo de produto em fabricação. da linha de montagem e entrevistar os responsáveis pelo
z Posto Automático 3 (PA3): posiciona o revestimento
processo produtivo, assim como os responsáveis pela
no lado direito do palete. manutenção.
O objetivo das entrevistas foi compreender melhor
z Operação Manual com Transporte 1 (OMT1): um
os detalhes relacionados à linha de montagem, as possíveis
operador monta o componente de acordo com o tipo paradas por falhas e manutenção e a duração dessas
de produto em fabricação, com o palete em movimento. paradas.

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As principais informações e dados coletados que Tabela 2 O tempo das atividades do modelo inicial.
serviram de base para o desenvolvimento do modelo inicial
foram: tempo de cada operação (operação manual e posto Tempos das atividades
automático), velocidade do transportador e comprimento Atividades Tempo(s)
de cada segmento do transportador, tempo entre paradas PA1 8,7
e tempo de reparo das máquinas.
OM1 5,6 ± 0,56
Desenvolvimento do modelo inicial PA2 8,5
O próximo passo foi o desenvolvimento do modelo OM2 8,4 ± 0,84
da linha de montagem atual, que foi chamado de modelo OM3 5,2 ± 0,52
inicial. Na construção do modelo inicial buscou-se codificar OM4 8,2 ± 0,82
o modelo conceitual em um conjunto de instruções lógicas PA3 8,7
que imitassem comportamentos do sistema real. Essas
OMT1 8,2 ± 0,82
instruções apresentam um formato específico, de acordo
com a ferramenta computacional utilizada. PA4 9,0
O software utilizado para o desenvolvimento do PA5 8,0
modelo inicial foi o Arena®, uma ferramenta de simulação OMT2 3,1 ± 0,31
desenvolvida pela Rockwell Software Corp. que permite PA6 3,0
ao usuário criar modelos de simulação animados que PA7 3,2
representam precisamente um sistema. Módulos de
OM5 16,0 ± 1,6
desenvolvimento são disponibilizados para a construção
do modelo e módulos customizados podem ser criados OMI1 10,1 ± 1,01
para necessidades específicas (Ali et al., 2005). Na
modelagem foram utilizados diversos módulos, reunidos
em grupos (templates) do Arena®: Basic Process (create, Tabela 3 A distância entre as atividades do modelo inicial.
dispose, process, decide, assign, record, resource, entity);
Advanced Process (failure, hold);e Advanced Transfer Distância entre atividades
(acess, convey, exit, conveyor, segment). Atividades Distância (mm)
No desenvolvimento do modelo inicial foram utili- PA1 para OM1 780
zados os tempos das atividades (operações manuais e OM1 para PA2 760
automáticas) e as distâncias entre as atividades (Tabelas
PA2 para OM2 760
2 e 3). Para os tempos das operações manuais empregou-
se uma variação de 10% em torno do tempo padrão da OM2 para OM3 1.480
operação. Os tempos dos postos automáticos foram OM3 para OM 4 4.780
considerados determinísticos. Também foram reproduzidos OM4 para PA3 2.300
detalhes significativos da linha de montagem, como: PA3 para OMT1 980
z Operação da linha de montagem em três turnos de 8 OMT1 para PA4 1.020
horas cada. PA4 para PA5 1.800
z Velocidade do transportador (esteira) de 200 mm/s. PA5 para OMT2 1.700
z Parada da linha de montagem de 1200 segundos por OMT2 para PA6 2.280
turno para a realização de manutenção. PA6 para PA7 6.300
z Parada de 600 segundos por turno nos Postos Auto- PA7 para OM5 1.500
máticos 1 (PA1), 2 (PA2) e 4 (PA4).
OM5 para OMI1 1.320
z Parada de 300 segundos por turno no Posto Automático
3 (PA3).
z Parada de 60 segundos por turno nos Postos Automáticos A partir do desenvolvimento do modelo inicial
5 (PA5) e 7 (PA7). observou-se que a Operação Manual 5 (OM5) está com
z Parada de 120 segundos por turno no Posto Automático um tempo de operação muito alto, tornando-se um gargalo
6 (PA6). para o sistema como um todo.

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Validação e verificação funcionais e grava-se a laser a identificação do produto.


Uma das etapas mais importantes da simulação é a A distância entre as atividades continua a mesma do
verificação e a validação. Se o modelo não refletir o sistema modelo inicial, mas o tempo da OM5 cai de (16 ± 1,6)
real, as saídas do modelo influenciarão negativamente a segundos para 11,8 segundos.
qualidade da decisão. A idéia principal da verificação é
assegurar que o modelo não contenha erros de imple- Discussão dos resultados
mentação das lógicas de funcionamento do sistema, como: A discussão dos resultados é realizada com base
rotinas de decisão, fluxo de entidades, atribuição de variáveis, em dois indicadores de produtividade utilizados como
etc. A validação tem por objetivo garantir que o modelo referência na empresa em estudo:
inicial está representando com acuracidade o sistema real. z Tempo de Atravessamento: é o tempo transcorrido desde
Segundo Sargent (1998), há inúmeras técnicas de validação, a entrada do componente na linha de montagem até a
como técnicas estatísticas ou procedimentos matemáticos, conclusão da última operação constante no roteiro de
testes de hipótese, intervalos de confiança, comparação produção. No cálculo desse tempo foram considerados
com outros modelos, testes degenerativos, validade do os tempos das operações, dos transportes e das esperas.
evento, condição extrema, validação por meio de dados
z Capacidade de Produção ou Quantidade Produzida:
históricos, validade interna, validação multiestágio, gráficos
consiste na quantidade de produção por período de
operacionais, testes de duração, entre outros.
tempo. Neste trabalho utilizou-se, para análise, a produção
A verificação e a validação do modelo inicial foram
por dia da linha de montagem.
realizadas em diversas etapas, envolvendo pessoas
familiarizadas com o processo e os dados históricos. Ao A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos para os
final do desenvolvimento do modelo, com todos os fatores três modelos: Modelo Inicial, Modelo Proposto 1 e Modelo
considerados, obteve-se um modelo com capacidade de Proposto 2.
produção e tempo de atravessamento do produto muito
próximos dos do sistema real. Tabela 4 Resultados obtidos.

Quantidade
Tempo de
Experimentação Modelo produzida
atravessamento (s)
Após a verificação e a validação do modelo inicial, (unidades/dia)
os modelos propostos foram desenvolvidos. Nessa etapa Modelo Inicial 6.677 5.212
Modelo Proposto 1 6.365 6.132
foram inseridas variações no modelo inicial para observar
Modelo Proposto 2 4.266 7.068
o comportamento do sistema. É importante ressaltar que
nessa etapa não se procura a melhor alternativa, mas,
sim, avaliar possíveis impactos causados por alterações z Comparação do Modelo Inicial com o Modelo Proposto
no sistema. Foram desenvolvidos dois cenários com 1: a diminuição no tempo de processamento da operação
variações diferentes, chamados de Modelo Proposto 1 e gargalo em 15% gerou melhorias significativas na
Modelo Proposto 2. quantidade produzida, que aumentou em 17,65%. Já
Para cada modelo simulado (Modelo Inicial, Modelo no tempo de atravessamento, a melhoria foi de 4,67%,
Proposto 1 e Modelo Proposto 2) foram realizadas 30 pelo fato de a capacidade de produção da operação
replicações de 1 dia, com 10 minutos de preparação da OM5 ter aumentado, mas ainda continuar sendo o gar-
linha (Warm-up). As variações realizadas nos dois modelos galo para a linha de montagem.
propostos foram as seguintes: z Comparação do Modelo Inicial com o Modelo Proposto
z Modelo Proposto 1: observou-se no modelo inicial que 2: os resultados obtidos mostraram grandes avanços
a Operação Manual 5 (OM5) está com um tempo de em relação ao modelo inicial nos dois indicadores de
operação muito alto, tornando-se o gargalo para o sistema desempenho. O tempo de atravessamento reduziu-se
como um todo. Propõe-se diminuir o tempo de pro- em 36,11% e a quantidade produzida aumentou em
cessamento da operação gargalo OM5 em 15%, passando 35,61%.
de (16 ± 1,6) segundos para (13,6 ± 1,36) segundos. z Comparação do Modelo Proposto 1 com o Modelo
Para diminuir o tempo de processamento da operação Proposto 2: os resultados apresentaram grandes
gargalo podem ser realizadas pequenas melhorias, como: diferenças nos dois indicadores de desempenho utilizado:
aplicação de estudo de tempos e movimentos e o tempo de atravessamento foi reduzido em 32,98% e a
padronização da operação. quantidade produzida aumentou em 15,26%. A grande
z Modelo Proposto 2: neste modelo propõe-se automatizar melhoria do Modelo Proposto 2 está relacionada ao
a operação gargalo OM5 da seguinte forma: em um tempo de atravessamento, pois a linha de montagem
posto automático, retira-se o produto final do lado ficou mais homogênea com relação aos tempos de
esquerdo do palete, realiza-se a medição das características processamentos.

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Conclusões Operations & Production Management, v. 22, n. 2, p.


Os dois modelos propostos obtiveram desempenhos 241-264, 2002.
melhores que o modelo atual da linha de montagem. No CARSON II, J. S. Introduction to modeling and simulation.
Modelo Proposto 1 apenas diminuiu-se o tempo de In: WINTER SIMULATION CONFERENCE, 2004.
processamento da operação gargalo, e essa mudança Proceedings... 2004. p. 1-8.
acarretou ganhos significativos na quantidade produzida.
CENTENO, M. A.; CARRILLO, M. Challenges of introducing
No Modelo Proposto 2, a linha de montagem passa por
simulation as a decision making tool. In: WINTER
uma automatização, e o resultado é uma melhoria
SIMULATION CONFERENCE, 2001. Proceedings... 2001.
considerável nos dois indicadores de desempenho
p. 17-21.
utilizados.
Como conclusão, pode-se afirmar que o Modelo CHEUNG, Y.; BAL, J. Process analysis techniques and
Proposto 1 é um primeiro passo a ser dado para a melhoria tools for business improvements. Business Process
da linha de montagem, por seu baixo custo de investimento Management Journal, v. 4, n. 4, p. 274-290, 1998.
e a simplicidade da solução. O Modelo Proposto 2 é o DAVENPORT, T. H. Reengenharia de processos. Rio de
passo seguinte para tornar a linha de montagem mais Janeiro: Campus, 1994.
flexível, com maior capacidade de produção e menor tempo FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Adminis-
de atravessamento, obtendo-se, assim, melhor desempenho. tração de serviços: operações, estratégia e tecnologia
Os resultados obtidos neste trabalho mostram que
da informação. Porto Alegre: Bookman, 2000.
o mapeamento de processos em conjunto com a simulação
pode ser utilizado como base científica para a tomada de FREITAS FILHO, P. J. Introdução à modelagem e simulação
decisões sem interferir no sistema real. O estudo realizado de sistemas: com aplicação em Arena. Florianópolis: Visual
permitiu também que as diversas pessoas envolvidas no Books, 2001.
projeto de melhoria da linha de montagem discutissem HARRINGTON, J. Business process improvement workbook:
aspectos relevantes do sistema. documentation, analysis, design and management of
business process improvement. New York: McGraw-Hill,
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