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Cuiabá , 2010
Instituto de Física
Av. Fernando Correa da Costa, s/nº
Campus Universitário
Cuiabá, MT - CEP.: 78060-900
Tel.: (65) 3615-8737
www.fisica.ufmt.br/ead
A prática pedagógica nas Ciências
Naturais e Matemática: considerações
sobre o papel do professor.
Autores
Corpo Editorial
• A l c e u Vi d o t t i
• C a r l o s R i n a l d i
• I r a m a i a J o r g e C a b r a l d e P a u l o
• M a r i a L u c i a C ava l l i N e d e r
P r o j e t o G r á f i c o : Pau L o H . Z . A rru d a
R e v i s ã o : A lceu V i d o tti
S e c r e ta r i a : N euza M aria J o r g e C abral
FICHA CATALOGRÁFICA
F383p
Ferreira, Maria Saleti Ferraz Dias
A prática pedagógica nas Ciências Naturais e Matemática: considerações
sobre o papel do professor. / Maria Saleti Ferraz Dias Fereira, Edward Bertholine
de Castro. 2. ed. - Cuiabá: UAB/UFMT, 2010.
45p. il. ; color. - (Eixos Norteadores da Prática de Ensino)
Inclui Bibliografia
ISBN 978-85-61819-07-1
CDU - 371.133.018.43
A p r e s e n ta ç ã o
N
este fascículo, que compõe o módulo 1, em que a ciência se apre-
senta como desafio para entendimento do processo histórico da
construção do conhecimento, estaremos refletindo sobre a conti-
nuidade desse processo através das relações que se estabelecem na
escola entre alunos, professores, saberes e tecnologias. Neste con-
texto queremos dialogar com vocês o papel do professor e da professora em sua
prática de ensinar e, especificamente, ensinar ciências naturais. Iniciamos por
identificar alguns conceitos de importância nesta reflexão.
Vamos tratar principalmente do papel do professor e da professora – pro-
fissão que você está em início de formação.
ensinar e aprender 15
Os pil ar es da educ aç ão 19
Professores e p r o f e s s o r a s a p r e n d e m n a p r át i c a d e e n s i n a r 25
Que s a b e r e s s ã o n e c e s s á r i o s à p r at i c a d o c e n t e ? 31
Referências Bibliográficas 41
P
ara refletir sobre esta questão vamos tomar por base a forma de caracterizar o papel do pro-
fessor e da professora através de importantes pesadores do nosso tempo: Paulo Freire, Moacir
Gadoti, Pedro Demo, Rubens Alves, Edgar Morin entre outros. São autores que vocês, futu-
ros professores e professoras, certamente irão conhecer com mais intimidade.
Vamos iniciar lendo um trecho de uma carta de Paulo Freire endereçada aos professores e professo-
ras.
Como seria seu aprendizado no curso de Ciências Naturais sem a interação com
os professores de forma presencial ou através dos instrumentos de interação ela-
borado por eles?
E nsinar e aprender exige uma relação de dupla direção: a direção de quem ensina e a direção
de quem aprende. Ambas se entrelaçam na afetividade e a tecnologia complementa e facilita
esta interação.
O relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura -UNESCO
(1999) destaca quatro pilares da educação a saber: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender
a viver com os outros e aprender a ser. Essas quatro vias do saber são interdependentes, ou seja,
não há nível de hierarquia, necessitando sempre de trocas de informações entre elas e que dará ao
cidadão e a cidadã uma aprendizagem ao longo de toda vida.
Aprender a viver junto é considerado uns dos pilares mais importantes do proces-
so educativo desses novos tempos. Ressalta a interdependência do mundo moderno e
a importância das relações. Tudo está interligado e tudo que acontece afetará a todos
de uma forma ou de outra. “O que o mundo precisa mais é de compreensão mútua,
intercâmbios pacíficos e harmonia. Trata-se de aprender a viver conjuntamente, de-
senvolvendo o conhecimento dos outros, de sua história, de suas tradições e de sua
espiritualidade. E, a partir disso, criar um espírito novo que, graças precisamente a
essa percepção de nossas interdependências crescentes e a uma análise partilhada dos
riscos e desafios do futuro, promova a realização de projetos comuns, ou melhor,
uma gestão inteligente e apaziguadora dos inevitáveis conflitos...”. (SILVA E
CUNHA, 2002).
A pa l av r a é s u a
Analise a frase: O mundo precisa mais de compreensão
mútua, intercâmbios pacíficos e harmonia.
Reflita e escreva como o professor pode ser construtor da
paz e contribuir para edificar o pilar do aprender a viver com os
outros no contexto da escola pública.
Registre suas palavras:
Q ual é a sua O p i n i ã o?
É possível construir esses pilares com ensino livres-
co, fragmentado, conteudista, estereotipado?
P ara iniciar a reflexão sobre a prática do ensinar vamos ler um trecho do relato da pro-
fessora Maria “Dialogando com a Escola” (ALEMIDA et al. 2004).
Qual a relação do relato da professora Maria com o que estamos abordando no nosso texto?
Com base na reflexão de PICONES (2001), percebemos também que a prática de ensino envolve
comportamentos de observação, reflexão crítica e reorganização das ações, características próprias de um
pesquisador/ investigador, ou seja, aquele que é capaz de refletir e reorientar suas práticas, quando neces-
sário.
Era uma vez um menino que ia à escola Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
Ele era bastante pequeno A professora disse: “Esperem.
E ela era uma grande escola. “Vou mostrar como se faz”.
Mas quando o menino descobriu que podia ir à sua sala cami- E ela mostrou a todos como fazer um prato fundo.
nhando através da porta da rua, ele ficou feliz. “Assim” - disse a professora.
E a escola não mais parecia tão grande quanto antes. “Agora vocês podem começar”.
Uma manhã, quando o menininho estava na escola, a professora Então ele olhou para o seu próprio prato.
disse: Ele gostava mais do seu prato que o da professora.
“Hoje nós iremos fazer um desenho”. Mas ele não podia fazer isso.
“Que bom” pensou o menininho. Ele amassou o seu barro numa grande bola, novamente e fez um
Ele gostava de fazer desenhos. prato igual ao da professora.
Ele podia fazê-los de todos os tipos: leões, tigres, galinhas, va- Era um prato fundo.
cas, trens e barcos e ele pegou uma caixa de lápis e começou a E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer
desenhar. Mas a professora disse: “Esperem, ainda não é hora as coisas exatamente como a professora e muito cedo ele não
de começar”. fazia mais as coisas por si próprio.
E ela esperou até todos estarem prontos. Então aconteceu que o menino e sua família mudaram-se para
“Agora” - disse a professora. outra casa, em outra cidade, e o menininho tinha que ir a outra
“Nós iremos desenhar flores”. escola.
“Que bom”. - pensou o menininho. Esta escola era ainda maior do que a outra.
Ele gostava de desenhar flores. E não havia porta da rua para sua sala.
E ele começou a desenhar diversas flores com seu lápis rosa, Ele tinha que subir grandes degraus até sua sala.
laranja e azul. E no primeiro dia ele estava lá.
Mas a professora disse: “Esperem. A professora disse:
Vou mostrar como fazer”. “Hoje nós vamos fazer um desenho”.
E a flor era vermelha, com o caule verde. “Que bom” - pensou o menininho, e ele esperou que a professo-
“Assim” disse a professora. ra dissesse o que fazer.
“Agora vocês podem começar”. Mas a professora não disse nada.
O menininho olhou para a flor da professora. Ela apenas andava pela sala.
Então olhou para a sua flor Quando ela veio até o menininho disse: “Você não quer dese-
Ele gostou mais da sua flor. nhar?”
Mas não podia dizer isto. “Sim”, disse o menininho. “O que vamos fazer?”
Ele virou o papel e desenhou uma flor igual à da professora. “Eu não sei até que você faça” - disse a professora.
Era vermelha com o caule verde. “Como eu posso fazê-lo?” - perguntou o menininho.
No outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre a “Da maneira de que você gostar”. - disse a professora.
professora disse: “E de que cor?” perguntou o menininho.
“Hoje iremos fazer alguma coisa com barro”. “Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores,
“Que bom” - pensou o menininho. Ele gostava de barro. “Nós como posso saber quem faz o quê?”
iremos fazer um prato” “E qual o desenho de cada um?”
“Que bom” - pensou o menininho. Ele podia fazer todo tipo de “Eu não sei”, disse o menininho.
coisa com o barro: elefantes e camundongos, carros, caminhões. E ele começou a desenhar uma flor vermelha
Mas a professora disse: com um caule verde.
“Esperem. Não é hora de começar”.
E ele começou a amassar e juntar sua bola de barro. Earl, Púllias e Young, A arte do magistério
E ela esperou até todos estarem prontos. http://www.construirnoticias.com.br/
“Agora”. - disse a professora.
Este e s pa ç o é pa r a a s u a r e f l e x ã o
Analise esta afirmativa e escreva o que ela significa neste momento de sua formação.
Fonte: discalculicos.blogspot.com/
Este e s pa ç o é pa r a a s u a r e f l e x ã o
Estas são algumas das características necessárias para a prática do ensinar. Mas participar do processo
ensino-aprendizagem como docente requer um conjunto de habilidades que se constrói no processo de
formação inicial de professores, no processo de formação continuada e na vivência da prática docente.
Paulo Freire aponta quatro passos importantes para delinear o caminho dos professores e das profes-
soras na função de ensinar:
O trabalho não será fácil. Temos um longo caminho a percorrer para superar nossos índices. O Brasil
precisa mudar sua conduta com relação à educação das crianças e dos jovens brasileiros. Vejamos alguns
números revelados pelo relatório do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos):
• A escolaridade média dos brasileiros é de 4,9 anos. Na Costa rica é 6,1; na Argentina 8,8 e nos
USA 12,1.
• Apenas 22% dos brasileiros completam o Ensino Médio. Na Argentina são 51%, na Coréia do
Sul 82% e no USA 91%.
• Dentre os países avaliados pelo PISA o Brasil é o último lugar em leitura e penúltimo em mate-
mática.
Metodologia do ensinar
• Fazer as aulas serem mais atrativas, assim com fez o professor Capetinga.
• Incentivar as habilidades e qualidades dos alunos. O prazer da produção es-
timula novos fazeres. O processo ensino-aprendizagem deve ser pautado na
satisfação e na alegria do aprender.
• Utilizar novos métodos de concepção de trabalho. Daí a posição dos autores
que estamos usando para fundamentar este fascículo em insistir na necessida-
de da formação continuada do professor e da professora.
• Valorizar o conhecimento prévio do aluno. Seu aluno traz consigo um aporte
de saberes que será comungado com os colegas e com o professor na sala de
aula.
• Trabalhar a realidade sócio-cultural. Interagir conteúdos e estratégias de tra-
balho com a comunidade, com o espaço cultural e social da escola, com a vida
do aluno.
Carlos Seabra afirma que o professor do momento deve saber orientar os edu-
cando sobre onde colher a informação, como tratar essa informação, como utilizar a
informação obtida. Esse educador será o encaminhador da autoformação e o conselhei-
ro da aprendizagem dos alunos, ora estimulando o trabalho individual, ora apoiando
o trabalho de pequenos grupos reunidos por área de interesse. Esta não é uma tarefa
simples. A pesquisa deve ser o caminho para aparelhar o professor e a professora a
desenvolver essa função, considerando a perspectiva do professor formador e não do
professor informador.
Cá entre nós......
Você, enquanto estudante, faça registros de tudo aquilo que vivenciar. As aulas
abertas devem ser experiências que realmente o faça aprender a partir do contato direto
com as pessoas, ambientes e demais recursos com os quais não está habituado no processo
de vivência pedagógica tradicional.
Use este espaço para registrar seu comentário sobre a afirmação acima.
6-Quais os traços desse período da história humana são possíveis identificar no processo educativo
atual?
Cenas do cotidian o:
Partei
ras, b
enzed
zeiro eiras
s se r e rai-
eúne
m em
Jenipap
de M o
inas
tidiano
res no co Raizeiros em coleta da planta
Saberes e faze
s indígenas
. “batata de purga” no cerrado.
dos povo
Fonte: www.pnud.org.br
Conhecimento local
Mudando pa r a d i g ma s
Na atividade realizada sobre A Vida Primitiva e sua base material você elaborou
um texto descrevendo como imagina que viviam os nossos ancestrais primitivos, con-
siderando alguns elementos materiais, tais como: vestuário, ferramentas, alimentação,
arte etc.
Nessa sua reflexão como você identifica o conhecimento acumulado pelos povos
que viveram naquele período? É possível reconhecer no seu município grupos humanos
que vivenciam traços desses conhecimentos? Retome o seu texto e complemente-o com
essas informações. Este exercício deve fazer parte da construção da sua formação.
Propomos a você uma incursão nas instituições de seu município (ONGs, EM-
PAER, Secretarias de Governo, pastorais, sindicatos, órgãos públicos e particulares)
que, de alguma forma, tratam das comunidades tradicionais índias e não índias (qui-
lombolas, pantaneiros, ribeirinhos, seringueiros, ruralistas...).
Nessa caminhada, o importante é investigar a diversidade de saberes do seu mu-
nicípio, organizar os resultados e verificar as possibilidades de incorporá-los na cons-
trução dos seus saberes. Perceba sua comunidade como laboratório vivo enquanto ins-
trumento de contextualização.
Pa r a r e g i s t r o , c o n s t r u a u ma ta b e l a o u u s e a q u e s e e n c o n t r a c o m o o e x e m p l o a b a i x o :
Veja na sua região recursos que tem importância atual e cujo conhecimento
vem sendo construído ao longo da história humana.
Registre suas descobertas:
A i m p o r tâ n c i a d o s p o v o s p r i m i t i v o s
Os grupos humanos primitivos que ainda hoje vivem, podem nos ajudar a aproxi-
mar dos conhecimentos produzidos antes da escrita. Eles mantêm vivos conhecimentos
ancestrais através da expressão da arte primitiva de imagens, ídolos, figuras fetichistas,
máscaras e pinturas pelo corpo. Os objetos de uso produzidos com matérias primas
naturais, como a madeira e a pedra, são resultados de técnicas parecidas com a dos
homens da Idade do Bronze.
Louçaria da C u lt u r a Ta pa j ô n i c a
S A N T I L L I , Ju l i a n a . S a b e r e s L o c a i s e Bio d i v e r s id a d e . I n . MOR E I R A , E l i a ne , e t a l l , S em i n á r io
S a b e r L o c a l / I nte r e s s e Glob a l : propr ie d a d e i nte le c t u a l , bio d i v e r s id a d e e c on he c i me nto t r a d ic ion a l
n a A m a z ôn i a , 2 0 0 5.