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FACULDADE DOM BOSCO

Credenciada através da Portaria nº 2.387, D.O.U. em 12/08/2004


Cornélio Procópio/Paraná

FACULDADE DOM BOSCO


CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

ÉDER RONI MONTANHEIRO


RICARDO JOSÉ TOSTES

A DIFERENÇA ENTRE A PRÁTICA DO ESPORTE NA


ESCOLA E O ESPORTE DA ESCOLA

Cornélio Procópio
2010
ÉDER RONI MONTANHEIRO
RICARDO JOSÉ TOSTES

A DIFERENÇA ENTRE A PRÁTICA DO ESPORTE NA


ESCOLA E O ESPORTE DA ESCOLA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


FACULDADE Dom Bosco, como requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciatura em Educação Física.

Orientador: Prof. Esp. Luiz Henrique Simioli Furlan Oliva

Cornélio Procópio
2010
ÉDER RONI MONTANHEIRO
RICARDO JOSÉ TOSTES

A DIFERENÇA ENTRE A PRÁTICA DO ESPORTE NA


ESCOLA E O ESPORTE DA ESCOLA

Cornélio Procópio, 23 de novembro de 2010.


Dedicar e reconhecer pessoas importantes na
sua vida, e homenagear quem de varias
maneiras o ajudou em vários percursos. Sendo
assim dedico este trabalho, primeiramente, aos
meus Pais, que tanto me apoiaram em tudo
que sempre quis realizar. Dedico também aos
meus irmãos que constituem minha família.
Dedico ainda a minha namorada, que muito
tem me feito feliz e centrado para desenvolver
meus sonhos e desejos.
Dedico este trabalho a Deus por tudo que me
proporcionou na vida.
Aos meus pais, professores e amigos, por estarem
sempre ao meu lado em todas as horas.
A minha irmã Monique Heloise Tostes por acreditar
em mim.
AGRADECIMENTOS

Saber agradecer é uma virtude que devem ter todos os que sabem a
necessidade do outro para si. É reconhecer o valor não só de pessoas bem como de
atitudes. Agradeço então ao corpo docente desta instituição por seus erros e acertos
nesta jornada acadêmica. Agradeço em especial ao Professor Luíz Henrique Simiolli
Furlan Oliva, que muito bem me orientou neste trabalho, o qual tenho profunda
admiração. Agradeço a todos os meus Professores e colegas de curso.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS por tudo que me proporcionou em


minha vida.
A meus pais, Amarildo Tostes e Diomar Santin. Irmã Monique H.
Tostes, á meus avó por serem meus amigos, companheiros e acima de tudo, minha
família. Vocês são tudo na minha vida!
Agradeço minha filha Anna Lívia Tostes, minha namorada Inglyd M.
Ferratto e meu filho que esta por vir, por todos esses anos, de muito carinho,
amizade, companheirismo e felicidade. Obrigado por tudo meu amor, vocês são
demais!
Agradeço ao professor Luiz Henrique Simioli Furlan Oliva, que nas
piores horas esteve ao nosso lado auxiliando e direcionando, não só por isso, mas
também por ser um amigo, companheiro. Obrigada por contribuir com tantos
ensinamentos, tanto conhecimento, tantas palavras de força e ajuda. Carrego tudo
isso comigo juntamente com seu exemplo de profissionalismo.
Agradeço a todos meus amigos e Professores de Curso de
Educação Física.
“A vontade de se preparar tem que ser maior
do que a vontade de vencer. Vencer será
conseqüência da boa preparação.”
(Bernardinho)
MONTANHEIRO, Éder Roni, TOSTES, Ricardo José. A Diferença entre a prática
do esporte na escola e esporte da escola. Trabalho de Conclusão de Curso –
Graduação em Educação Física - 45 folhas. Faculdade Dom Bosco. Cornélio
Procópio –PR. 2010.

RESUMO

A abordagem do presente trabalho enfoca a questão das práticas esportivas na


escola, durante as aulas de Educação Física. As pesquisas indicaram que a
Educação Física entrou para o currículo escolar no Brasil por volta da década de
1930, sob a influência da ideologia militar de condicionamento físico como fator de
rendimento profissional, e após o final da Segunda Guerra Mundial a influência
passou a ser do esporte como rendimento, obtenção de resultados e com grande
destaque para o enfoque da competição e do condicionamento atlético do aluno. Foi
somente após o inicio da década de 1980, com a queda da ditadura militar que as
práticas da disciplina passaram a serem questionadas por teóricos da área,
despertando discussões sobre o papel da Educação Física como disciplina
educativa. Esse fato resultou na mudança do paradigma da Educação Física
enquanto disciplina, dado o seu papel tanto educativo, quanto agregador social e
dessa forma, o paradigma do esporte na escola mudou e agora a bandeira da
disciplina é da Educação Física como instrumento educativo, e como tal enfoca seu
objetivo no despertar do aluno para a descoberta dos movimentos corporais. Assim,
nasceu a prática do esporte da escola e não mais do esporte na escola, pois que
atualmente as práticas esportivas empregadas nas aulas de Educação Física são os
chamados esportes com regras modificadas e com códigos próprios, nos quais os
alunos são chamados a ter, praticar e vivenciar noções sociais de coletividade,
companheirismo, colaboração, responsabilidade e o despertar de suas
competências e habilidades individuais, pois eles podem através do esporte da
escola, viver seu lado lúdico de criatividade e adaptação social, como sujeitos e
cidadãos do saber e da cultura escolar, que a prática do esporte da escola é capaz
de produzir.

Palavras-chave: Esporte. Educação Física. Paradigma. Ludicidade.


MONTANHEIRO, Eder Roni, TOSTES, Ricardo Jose. Difference between the
practice of sport at the school and sport school. Completion of course work -
Graduate in Physical Education – 45 leaves. Don Bosco. Cornelio Procopio, PR.
2010.

ABSTRACT

This paper addresses the issue of difference between the traditional sports, known
as the sport at school and school sport, which actually are sports of all types, but who
do not obey the rules and traditional codes. It was agreed to practice sports sayings
modified in order to promote a paradigm shift from physical education to make use of
traditional sports and end up passing unintentionally students to the goals of modern
sport, which basically are the high income, sense of competition, and recovery of
specific skills, goals are outlined for athletes with professional aspirations, and are
not shown to profile school that aims to teach students, through sports, notions of
body movements along with the development process development of critical sense,
the spontaneous manifestations of creativity and of the purest expressions of playful
students. When seeking to establish the differences between sports, speaking also
on goals, ideologies, and above all change, because this conception of cooperative
games, in the wake of socialization, the sharing in teams, to not delete, and
edification of the student with the subject, automatically it comes to change the
ideology of physical education, which historically has been a long period of
subordination to the dominant system for responsibility to be an important school
subject, highly appreciated by students, and how. Therefore, assuming such a role to
promote the practice of school sports teacher, who therefore must also teach
concepts of citizenship and be playful space for the students.

Keywords: Sports. Physical Education. Paradigm. Playfulness.


SUMÁRIO

agradecimentos............................................................................................................6
agradecimentos............................................................................................................7
SUMÁRIO...................................................................................................................11
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................12
2 ORIGEM DO ESPORTE MODERNO......................................................................14
3 O ESPORTE COMO PRÁTICA ESCOLAR.............................................................24
4 metodologia..............................................................................................................35
5 resultados.................................................................................................................36
6 CONSIDERAÇÕES FINAIs......................................................................................39
REFERÊNCIAS..........................................................................................................41
ANEXOS.....................................................................................................................43
ANEXO A – Instrumento de Pesquisa Utilizado na Coleta de Dados.......................44
ANEXO B – Termo de Consentimento Esclarecido...................................................45
12

1 INTRODUÇÃO

Essa abordagem versa sobre a temática das práticas esportivas nas


aulas de Educação Física escolar. As teorias consultadas dão conta de que existem
basicamente duas formas de abordagem sobre o esporte, aquela que dá preferência
para a prática tradicional da modalidade esportiva, pura e simplesmente
reproduzindo as regras, os códigos, e valorizando as habilidades individuais dos
alunos, e assim, desprezando a coletividade escolar, em benefício de alguns poucos
alunos que tem maiores habilidades, competência e aptidão física.
Já a outra maneira diz respeito às recomendações dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de 1998, que recomenda a adoção das práticas esportivas
escolares dentro do conteúdo do próprio currículo, buscando sempre desenvolver
atividades que enfoquem os movimentos corporais ou a cultura corporal que o
esporte propicia, bem como a dança, as lutas, os jogos cooperativos, a ginástica e o
atletismo.
A motivação escolar é de transformar a prática esportiva na escola,
em um instrumento pedagógico educacional, pois, historicamente o esporte em geral
e, o futebol especialmente, é um elemento cultural da sociedade brasileira que
possui grande aceitação e influência na formação inclusive de valores, na sociedade
em geral.
Por isso, o esporte deve ser aproveitado e explorado pelas práticas
escolares, com o objetivo de incutir valores de ética, cidadania, sociabilidade,
afetividade e convivência entre alunos e a comunidade da qual ele fará parte mais
tarde como sujeito das ações e não como meros expectadores. A razão para essa
nova abordagem escolar do esporte da escola, e não do esporte na escola, é de
dissociar a prática esportiva aos elementos de disciplina militar esportivo de
rendimento, ao qual a prática da Educação Física ficou historicamente vinculada até
meados da década de 1980.
Essa abordagem se justifica, pois, a proposta da escola e da própria
disciplina de Educação Física é, de promover a mudança do conceito e do
paradigma da Educação Física como instrumento modelador de caráter e
comportamento social em benefício dos ideais do sistema político vigente. Hoje, a
proposta escolar e da disciplina de Educação Física é de despertar o aluno capaz,
crítico, criativo, e, sobretudo, cidadão e sujeito de suas ações dentro do contexto
13

social para o qual a escola tem a função de prepará-lo.


Para a elaboração da abordagem foram realizadas pesquisas
bibliográficas, consultas á professores da área, por intermédio de questionário
devidamente validado e adaptado à realidade do contexto, pesquisas em sites da
Rede de Comunicação Internet e a aplicação sistematizada de instrumentos de
pesquisa, no caso, um questionário aos professores de Educação Física atuantes no
Colégio Estadual “Marcílio Dias”, Ensino Fundamental, Médio e Formação de
Docentes, localizado no município de Itambaracá - PR, cujos resultados serviram
para corroborar a existência de diferenças entre o chamado esporte na escola e o
esporte da escola.
14

2 ORIGEM DO ESPORTE MODERNO

O esporte é sem dúvida um dos conteúdos mais aplicados pela


Educação Física e, por isso, mesmo tem sido tema de constantes discussões. As
críticas dizem respeito às formas das práticas do esporte na escola, principalmente
quando o esporte se torna uma prática meramente repetitiva, em especial os
esportes de alto rendimento (ZUNINO, 2008, p. 20).
A prática esportiva diz respeito a uma atividade que se concentra no
movimento do corpo. Em geral, o esporte possui uma característica competitiva,
dependendo da cultura que prática. No Brasil, o esporte é praticado principalmente
com o objetivo da competição, pois guarda esse traço da cultura européia, onde
nasceu e de onde foi introduzida no Brasil, no início do século XX.
Para Bracht (1997, p. 9) o esporte é tradicional da cultura européia,
onde teria surgido no século XVIII.
O chamado esporte moderno foi o que resultou do processo de
modificação, ou de esportivização dos elementos da cultura corporal que as classes
inglesas mais populares costumavam desenvolver, em geral, se tratava da prática
de jogos com bola. Durante as práticas teriam sido incorporados também elementos
da chamada “cultura corporal de movimento da nobreza inglesa”. Esse processo que
teve início no século XVIII se intensificou muito no final do século XIX e começo do
XX, quando chegou ao Brasil, vindo da Inglaterra.
Porém, isso não significa que o esporte nasceu na Inglaterra, lá
nasceu, de acordo com a historiografia, o esporte moderno, ou seja, as práticas
desportivas que são os resultados do processo histórico linear que vem ocorrendo
desde tempos muito remotos, e que não é a intenção promover seu resgate nesse
momento.
Para falar somente da história do futebol, por exemplo: é necessário
seguir os registros históricos até a Itália do século XVI, e citar “Guioco del Cálcio” ou
ainda mais distante, ir até o Japão por volta de 2600 a. C, e lembrar de uma prática
esportiva chamada Kemari cuja origem seria a chinesa, ou ainda lembrar os antigos
jogos gregos, de Olímpia (BRACHT, 1997, p. 91, apu SCAINO, 1955 e HOPF, 1979,
p. 31).
No caso da Inglaterra, os jogos populares entraram em declínio por
volta de 1800, em consequencia dos novos padrões de vida social gerada pelo
15

crescimento da industrialização e urbanização. A nova classe social se sentiu


incompatível com a prática dos jogos populares.
Contudo, os jogos sobreviveram de alguma forma e, no início do
século XX, se tornaram regulamentados nas escolas públicas, principalmente o
futebol, que ganhou as características modernas assim como é conhecido
atualmente.
De acordo com Bracht (1997, p. 10) as principais características do
esporte moderno a [...] competição, rendimento físico-técnico, record, racionalização
e cientifização do treinamento [...], se identificaram com a ideologia e com os
princípios do sistema capitalista, e, quando ele se instalou em quase todas as
cultura do mundo moderno, se tornou uma espécie de seguimento do capitalismo,
principalmente as modalidades voltadas para o alto rendimento.
Essa expansão do esporte, juntamente com o desenvolvimento do
capitalismo, no interior da Europa, foi aceito, adotado ou incorporado sob a ótica e
os mais diversificados conceitos e os objetivos entre as culturas, por isso, a
existência de tipos de esportes como o [...] de alto rendimento ou de rendimento,
esporte de lazer, esporte educativo, etc [...]. Sendo que, no presente, o esporte de
alto rendimento é o que serve de modelo para outras variações e modalidades de
esportes, muito difundidas, inclusive como prática escolar.

2.1 ESPORTE E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

É preciso considerar que o esporte faz parte da vida cotidiana do


brasileiro desde a infância. Não importa se de perto, ou apenas assistindo pela TV,
todo brasileiro gosta, assiste e prática algum esporte, principalmente as crianças.
Essa é uma das razões pelas quais o papel e a importância da prática dos esportes
na escola é de fundamental importância e, ao longo da história da Educação Física
desempenhou diferentes funções sociopolíticas em diferentes momentos do país.
Segundo Assis de Oliveira (2005, p. 6) em geral a criança brasileira
antes de ir para a escola, já traz consigo uma aproximação com o esporte de alguma
maneira e, ao chegar à escola essa criança já possui algum conhecimento sobre o
esporte, principalmente quando se trata do futebol.
É interessante que aqui o esporte não é visto como a única prática,
ou única alternativa para as aulas de Educação Física, porém, ao mesmo tempo,
16

existe a proposta de que o processo de “desportivação” das aulas de Educação


Física não signifique a rejeição ou o total abandono do esporte escolar, pois “...
recusar o desporto é recusar uma fatia integrante significativa, representativa e
representativa da cultura supranacional” (ASSIS DE OLIVEIRA, 2005, p. 8, apud
BENTO, 1991, p. 74).
Contudo, se intenção não é de abandonar o esporte nas aulas de
Educação Física, e, se existe a constatação de que ele não pode ser a mola-mestra
da disciplina, é preciso então encontrar primeiro a identidade real da Educação
Física e descobrir qual o seu real papel na educação para, a partir dessa resposta,
traçar o perfil ideal do tratamento que deve ser dispensado ao esporte, ou a prática
do esporte como conteúdo disciplinar.
Essa resposta surge quando se reconhece que a Educação Física é
uma Ciência e também uma prática pedagógica, tanto que não se pode mais
separar a Educação Física como profissão e como disciplina escolar, pois, as duas
coisas são a mesma, e hoje, a Educação Física pode e de fato produz conhecimento
científico. A Educação Física não apenas superou como deixou para o passado
aquela tão comentada “crise de identidade” que esteve mergulhada há duas
décadas. Hoje ela é uma prática pedagógica, possui sua tarefa específica e a
transmite dentro do espaço pedagógico escolar que é denominado de Educação
Física escolar (ASSIS DE OLIVEIRA, 2005, p. 11, apud BRACHT, 1997, p. 14).
Pode-se dizer então que a Educação Física não apenas saiu de sua
“crise” como se fortaleceu e encontrou sua identidade que é cultural corporal do
movimento. Por essa razão, hoje é verdadeiro afirmar que existe Educação Física
fora e dentro do âmbito da escola. Fora da escola ela é mais abrangente, possui
outras finalidades e significados, enquanto que a Educação Física escolar possui
sua característica mais restrita e voltada para atividades próprias do
desenvolvimento escolar.
Essa postura atual da Educação Física é diferente daquela dos anos
70 e 80, quando era um instrumento político agregador, mas, ao mesmo tempo,
disciplinador e até alienante, como foi durante os governos da Ditadura militar.
O papel do esporte na Educação Física deve ser considerado no
Brasil, desde o final da Segunda Guerra Mundial, e também durante a Ditadura
militar porque a partir de então, o esporte entrou na Educação Física e foi usado e
manobrado politicamente pelas elites para direcionar o povo e a própria identidade
17

da Educação Física.
De acordo com Assis de Oliveira (2005, p. 15) no Brasil a influência
do esporte sobre a Educação Física que se intensificou com o fim da guerra. O
chamado Estado Novo e a própria trajetória do presidente Vargas chegavam ao fim,
e, emergia no país um processo de urbanização, de industrialização, e
principalmente o avanço dos meios de comunicação de massas, como rádio,
cinema, música e televisão. Tudo isso coincidiu com a chegada, um pouco antes,
em 1940, a adoção do método francês chamado “Educação Física Desportiva
Generalizada”, que foi muito difundido nos cursos de aperfeiçoamento técnico-
pedagógico, pois;

[...] a ascensão do esporte à razão de Estado e a inclusão do binômio


Educação Física/Esporte na planificação estratégica do governo. Ocorreram
também profundas mudanças na política educacional e na Educação Física
Escolar, que subordinou-se ao sistema esportivo, e a expansão e
sedimentação do sistema formador de recursos humanos para a Educação
Física/Esporte (ASSIS DE OLIVEIRA, 2005, p. 15, apud BETTI, 1991, p.
100).

Essa subordinação da Educação Física se refere ao fato do esporte


de alto rendimento ter sido usado como sinônimo de sucesso e de ser incorporado
ao ideal econômico de produtividade dos anos de 1960 a 1970. Mais ainda, nos
anos de 1970, como expressão do corpo disciplinado e dócil era o sonho do governo
militar, sonho esse que era canalizado para a população (crianças, adolescentes e
jovens) através da Educação Física Escolar.
Para fundamentar a manipulação indireta que a Educação Física
sofreu por parte dos governos militares, vale lembrar que a Educação Física passou
a ser obrigatória no ensino superior em junho de 1969, um ano antes da Copa do
mundo de 1970, quando a seleção brasileira, considerada uma criação dos militares
tricampeã, foi tricampeã mundial (ASSIS DE OLIVEIRA, 2005, p. 16).
O autor salienta que não se deve pensar que a Educação Física
continuou se subordinando aos governos ou que ainda hoje continue praticando
esporte para a alienação dos alunos, como foi no passado, e que por isso se devem
abandonar os conteúdos esportivos.
As críticas do autor são no sentido de que o esporte não deve ser
mais praticado na escola dentro daquela sua dimensão exclusivista que não dá
espaço para mais nada além dele próprio. O que se espera do esporte na escola de
18

hoje é que ele seja um instrumento educativo que permita aos alunos despertar seu
senso crítico e lhes inspire novos valores, não apenas educativo como também
sociais e que não seja o espírito da superioridade, da competitividade e rivalidade,
os seus princípios. Ou seja, o esporte em todas as modalidades pode e deve ser
usado para educar positivamente os alunos.
De acordo com Bracht (1986) é preciso que os educadores estejam
atentos ao papel do esporte na escola.

Precisamos entender que as atitudes, normas e valores que individuo


assume através do processo de socialização através do esporte estão
relacionados com sistemas de significados e valores mais amplos, que se
estendem para além da situação imediata do esporte.

Assim como vimos, realmente o esporte educa. Mas educação aqui significa
levar o individuo a internalizar valores, normas de comportamento, que lhe
possibilitarão se adaptar à sociedade capitalista. Em suma, é uma educação
que leva ao acomodamento e não ao questionamento. Uma educação que
ofusca, ou lança uma cortina de fumaça sobre as contradições capitalistas
(ASSIS DE OLIVEIRA, 2005, p.p. 16-17, apud BRACHT, 1986, pp. 64-65).

Sendo assim, uma das razões que a escola tem hoje, para não dar
muita ênfase à prática esportiva tradicional é de que o esporte tal como ele é na
modernidade, é extremamente compatível com o espírito capitalista, ou seja, ele se
guia por princípios que não são edificantes para serem ensinados aos alunos como
valores sadios e construtivos, tais como o espírito da sobrepujança, a ideia de se
superar e superar os outros individualmente ou em equipe e, vencer sempre; o
princípio das comparações objetivas, o esporte sempre vencedor que sempre
padroniza os espaços e condiciona a prática de movimentos com atividades
repetitivas e mecânicas; a tendência da seleção, os alunos acabam selecionados
por habilidades, sexo e biotipo físico e aqueles que não se encaixam são
simplesmente eliminados; tendência da especialização, para obter o maior
rendimento, o aluno se foca em uma modalidade só e esquece as demais; e, a
tendência da instrumentalização, melhorar a performance para atingir o maior
rendimento e mais sucesso.

2.2 CRISE DE IDENTIDADE DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Sobre a “crise de identidade” pela qual a Educação Física teria


19

passado como afirma alguns autores, durante ou depois do final da Ditadura Militar,
quando não apenas a Educação Física, mas também outras disciplinas ficaram
vazias e sem referencial teórico, conforme Caparroz (2005, p. 8) o que se seguiu
nessa fase foi que a Educação Física que vinha de servir de instrumentalização para
as políticas públicas, trabalhando quase que apenas biologicamente na formação de
atletas vencedores, mergulhou, enfim, num processo de questionamento de sua
própria significação e de seu papel enquanto disciplina escolar.
Desse questionamento surgiram novas concepções, novas práticas
pedagógicas com a característica de libertar e de transformar as perspectivas da
Educação Física educacional e formadora de valores, conceitos e opiniões.
No auge dos questionamentos de 1980 em diante, o referencial
teórico da Educação Física passou por uma importante inovação:

Dessa forma, colocam-se em cena diferentes concepções:


desenvolvimentista, humanista, construtivista, fenomenológica,
antropológico-cultural, histórico-crítica, histórico-social, sistêmica e crítico-
superadora. A produção a respeito dessas concepções tem se dado por
meio de dissertações, teses, artigos acadêmico-cientificos, livros e
propostas curriculares para o ensino de Educação Física nos estados e
municípios (CAPARROZ, 2005, p. 13).

O autor chama a atenção para um livro lançado em 1983, cujo título


apenas, já serve como um norteador para entender a profundidade das discussões e
que a principal crítica que se fazia à Educação Física era em relação a sua
subordinação ao sistema e as práticas esportivas institucionalizadas. A obra chama-
se A Educação Física cuida do corpo... e “mente”: bases para uma renovação e
transformação da Educação Física., considerada um verdadeiro clássico.
Na obra o autor Medina (1983) primeiro chama a atenção para o
posicionamento da Educação Física para após tecer suas considerações e críticas:

Os adeptos dessa concepção definem a Educação Física simplesmente


como um conjunto de conhecimentos e atividades específicas que visam o
aprimoramento físico das pessoas. Os aspectos psicológicos e sociais aqui
ocupam um papel periférico e, secundário ou mesmo irrelevante. Há ainda
os que argumentam que esses aspectos intelectuais, morais, espirituais e
sociais devam ficar a cargo de outras instâncias da Educação (CAPARROZ,
2005, p. 27, apud MEDINA, 1983, p. 78).

Vale ressaltar que entre as questões cruciais das discussões


ideológicas do significado escolar da Educação Física, forma feitas importantes
20

análises sobre o conteúdo sócio-educativo do ensino dos jogos desportivos nas


escolas.
Nota-se que desde então, não se questionava a prática do esporte
na escola, e sim, a metodologia pela qual se cava essa educação esportiva. Foi daí
que nasceu a tentativa de estabelecer diferenças entre o esporte na escola e o
esporte da escola, cuja teoria fundamenta todas as discussões atuais, como também
estiveram presentes nas discussões, teorias e produções das duas últimas décadas.
Porém, Caparroz (2005, p. 70) citando Bracht (1989, p. 28) entende
que quem de fato se aprofundou nas discussões e conseguiu uma resposta para
indagação acerca da real significação da Educação Física escolar foi de fato Bracht
(1989), pois, ele definiu a Educação Física em seu sentido “restrito” como sendo
aquelas atividades pedagógicas que têm como tema, ou foco, o movimento do corpo
e, cujo objetivo é educacional. E no sentido mais amplo “[...] manifestações culturais
ligadas à ludomotricidade humana”[...]”. Isso foi dito antes da promulgação da Lei
9.394/96, que contempla o esporte, a dança, a ginástica e os jogos como
componentes curriculares da disciplina de Educação Física.

2.3 PREDOMINÂNCIA DO ESPORTE NA ESCOLA

Aqui são apresentados basicamente alguns indicadores importantes


para a predominância dos esportes tradicionais nas aulas de Educação Física. Uma
razão é a existência de muitas escolas localizadas distantes dos grandes centros de
formação de professores, essas escolas não são atraentes para os professores
recém formados, além do que existe a questão vital da aprovação em concursos
quando se trata das escolas públicas.
Nesses casos as aulas de Educação Física, quando existem, ficam a
cargo de professores não licenciados e, claro, inaptos para exercer o magistério com
qualidade, com o agravante que nessa situação, existe ainda a alta rotatividade dos
professores, o que não permite a elaboração de nenhum projeto com os alunos, sem
mencionar o problema dos baixos salários.
Outro problema que limita a abrangência de conteúdos para a
Educação Física é a questão da falta de materiais para trabalhar as aulas. A falta de
equipamentos diminui o alcance do trabalho da Educação Física, pois, em geral as
escolas dispõem de apenas uma quadra esportiva como o único espaço que
21

também se apresenta por si só como um problema e, com os juntamente com a


quadra esportiva, o equipamento disponível quase unicamente bolas e redes. Isso
significa que ao professor resta apenas a alternativa de trabalhar com a prática
esportiva que a quadra permite ou ficar apenas com aulas teóricas em sala de aula
(BRACHT [et al.], 2005, p.38-39).
Assim, independente da formação ou da própria ideologia do
professor, ele se vê na obrigação matemática de dividir suas aulas em duas partes:
uma são as “aulas teóricas” que podem ser ministradas em salas de aulas, e a outra
são as “aulas práticas” que acontecem em espaços próprios, que no presente caso,
são as tradicionais quadras esportivas, que em geral são “espaços normatizados,
fixos, monofuncionais em detrimento de espaços móveis, flexíveis e multifuncionais”.
Outro ponto importante que contribui para a exclusividade do esporte
é no momento, os professores que atuam na rede pública são professores
concursados e que se licenciaram até o meio ou final da década de 1980, ou talvez
um pouco mais adiante, cujo modelo de formação se caracteriza pelo modelo
tradicional-esportivo.

O currículo tradicional-esportivo enfatiza as chamadas disciplinas “práticas”


(especialmente esportivas). O conceito de prática está baseado na
execução e demonstração, por parte do graduando, de habilidades técnicas
e capacidades físicas (um exemplo são as provas “práticas”, em que o aluno
deve obter um desempenho físico-técnico mínimo). Há separação entre
teoria e prática. Teoria é o conteúdo apresentado na sala de aula (qualquer
que seja ele), prática é a atividade na piscina, quadra, pista, etc. A ênfase
teórica se dá nas disciplinas da área biológica/psicológica [...]. Este modelo
iniciou-se ao final da década de 60 e consolidou-se na década de 70,
acompanhando a expansão dos cursos superiores em Educação Física no
Brasil e a “esportivização” da Educação Física... (BRACHT, 2005, p. 41,
apud BETTI, 1996, p. 10).

Essa afirmação possibilita que seja muito bem entendida toda a


situação que se configura quando da opção apenas pela prática esportiva como
conteúdo escolar para a Educação Física.
A formação desses professores é considerada hoje, tradicional e
foca na fundamentação de modalidades esportivas, e, se o professor não buscou
aprofundar sua formação inicial e não teve abertura teórica e pedagógica para rever
conceitos, modelos e práticas, mesmo após a edição da Lei 9.394/96, esse
professor, no momento atual, se encontra preso às práticas que não têm mais razão
de existir, ou seja, são professores descontextualizados com os novos paradigmas
22

da Educação Física escolar, sua resignificação, seus objetivos e propósitos.


Ressaltando ainda que as razões para que esses docentes não
busquem uma formação continuada que permita a eles se posicionarem mais
abertos e acolhedores da nova conceituação educacional da educação física vão
desde a falta de tempo, pois muito raramente o professor atua em uma escola
apenas, e ainda a questão financeira, sempre presente em sua vida, e passa
também pela questão da motivação, dos estímulos e das próprias condições político-
institucionais.
Lembrando ainda que, em muitos casos, a resistência é o maior
obstáculo para inovar, se encontra no próprio professor, quando ele se considera
auto-suficiente e, que somente sua experiência de décadas de atuação é capaz de
suprir deficiências ou para resolver os problemas. Alguns desses professores não
percebem que a configuração sócio-política do país não é mais aquela da época de
sua formação e de que a concepção de escola hoje é outra, bem como os
problemas também são outros. E nesse caso, a solução é a revisão de conceitos e
práticas, porque a escola e os alunos não irão mudar em função dele, são eles que
devem mudar em função da escola e dos alunos (BRACHT, 2005, p. 42).
Uma das possíveis soluções para essa difícil questão, que não se
reduz meramente à adequação dos meios, mas sim, da revisão dos fins para os
quais os meios se dirigem,está contida na revisão curricular feita nos cursos de
formação de professores de Educação Física, efetuada por meio da Resolução
03/87 do Conselho de Educação Física que instrumentaliza o questionamento da
chamada formação “esportivizante” dos professores. Os professores com formação
mais tradicional pode capacitar através de um curso de pós-graduação e assim,
essa distância teórica e metodológica que se impôs entre ele e a tendência da
Educação Física a partir dos anos de 1990 em diante.
Caparroz (2005, passim) chama a atenção para o fato de que a
chamada crítica progressista que faz atualmente sobre a prática do esporte, não
significa que o esporte deva ser rejeitado e banido das escolas e da Educação
Física educativa. Pelo contrário, o momento de resignificação da Educação Física
aconselha que o esporte seja hoje usado como instrumento educativo de formação
do senso crítico e da conceituação de novos valores, e que não seja mais utilizado
como massa de manobra, para calar e alienar, como foi no passado social e político
do país.
23

O que se propõe para a Educação Física Escolar é que ela incorpore


o esporte em todas as modalidades e não apenas o futebol, como um elemento
sócio-cultural importante que ele é em na cultura brasileira, para agora sim, ele
servir como instrumento educativo na escola e fora dela. Os críticos seguidores do
pensamento crítico-progressista dos anos de 1990 em diante fazem uma proposta
bastante interessante para o novo papel do esporte não mais na escola, mas para o
esporte da escola.
24

3 O ESPORTE COMO PRÁTICA ESCOLAR

Como ficou bem esclarecido anteriormente, o esporte é elemento


cultural do brasileiro, e um dos espaços mais indicados para o seu desenvolvimento
tem sido a escola. Atualmente se discute sobre sua prática e se questiona se o
esporte deve ser na ou da escola? Os educadores, teóricos e até mesmo a própria
escola divergem em alguns pontos, sobre a questão, porém, todos concordam que o
esporte é um elemento importante para ser trabalhado com os alunos, pois se
constitui em uma ferramenta até mesmo pedagógica com a qual se consegue atingir
o aluno e trazê-lo para o espaço escolar, com mais facilidade, porque o aluno, como
todos os brasileiros, gosta e se sente atraído e motivado pelo esporte.
Especificamente sob o ponto de vista educacional, o esporte traz
vários benefícios para os alunos, e pode ser utilizado sob vários processos
pedagógicos, como a cooperação, a socialização, a liderança, como noções de
respeito entre os colegas, enfim, ele é um instrumento que os educadores devem
explorar na preparação das crianças e dos jovens, enquanto alunos (OLIVEIRA,
2010, p. 1).
Lembrando que a origem da palavra esporte tem o significado de
regozijo, ou seja, o esporte é associado ao prazer e a satisfação, ele deve, pois, ser
praticado na escola, sem aquele sentido de alto rendimento, competição e
resultados, que o esporte moderno ganhou. Ao contrário, mesmo contendo regras e
código, o esporte como prática escolar, deve se referir à prática de atividades
corporais, manifestações lúdicas, com o propósito do conviveu social e da
descontração, diversão e, sobretudo, de interação pessoal dos alunos entre si,
alunos e professores e até mesmo, alunos e escola.
Oliveira (2010) entende que o esporte deve ser uma atividade antes
de tudo espontânea e prazerosa

[...] é uma atividade realizada na forma de jogo (no sentido de que não há
certeza absoluta antecipada de seu resultado) em que duas pessoas
confrontam determinadas habilidades motoras específicas, em condições e
limites espaço-temporais preestabelecidos, registrados e controlados
publicamente, sendo o resultado de tal forma confronto passível de
comparação com resultados verificados em outras competições similares
(OLIVEIRA, 2010, p. 2, apud KOLYNIAK FILHO, 1997, passim).

Oliveira (2010, p. 3) esclarece que diferente do jogo, que possui


25

regras fixas e normatizadas por federações, e normalmente não podem ser


modificadas, o esporte na escola, ao contrário, deve ser trabalhado sob outra
conotação, sob a qual o aluno deve ser levado a ter uma perspectiva crítica, e possa
expressar suas características e habilidades durante sua prática e não apenas de
praticá-lo de modo reproduzido. Apesar de alguns professores de Educação Física
insistir em essa prática, é importante lembrar que o esporte é um dos conteúdos da
Educação Física, não é o único, mas que quando trabalhado, deve ser com o
objetivo de atuar na formação do aluno/cidadão, ou seja, aquele aluno que em sua
vida social fora da escola, irá reproduzir os valores e conceitos que aprender na
escola.
Portanto, o esporte quando é trabalhado com responsabilidade e
com objetivos de formação educacional e social, é extremamente benéfico para os
alunos, pois ajuda no desenvolvimento no crítico do aluno, que aprende a refletir e
ser capaz de fazer análises, inclusive sobre a prática de alguns atos impróprios,
como o uso do dopping, e outras situações que afetam a prática em quase todas as
modalidades esportivas atualmente, e que os alunos quando são levados a pensar
criticamente, podem concluir por si próprios que não devem seguir por esses
caminhos.
Por essas e por outras razoes, conforme Oliveira (2010, p. 4) é
importante que o professor de Educação Física proceda a um planejamento bem
estruturado antes de ministrar aulas de Educação Física, cujo conteúdo é o esporte.
O professor precisa ter domínio sobre as propriedades do esporte, ter metodologias
bem específicas, os objetivos que pretende atingir com as aulas, escolher conteúdos
adequados e selecionar seu próprio procedimento de forma que a pratica do esporte
se torne edificante e não apenas uma prática que copia regras, instiga os alunos a
ações competitivas e não acrescenta nada para sua vivencia.

3.1 DIMENSÕES SOCIAS DO ESPORTE DA ESCOLA

Essa é uma discussão bastante interessante e que para alguns, não


se chegou à conclusão alguma. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
e também de acordo com a grande maioria dos teóricos atuais, o esporte da escola,
deve ter objetivos muito diversos das modalidades de esportes tradicionais, ou seja,
o sentido de competição, de alto rendimento, quebra de recordes, seletividade, e de
26

obtenção de lucros financeiros, não deve ter o mesmo sentido e o mesmo espírito do
esporte praticado na escola.
O esporte educação deve ter o sentido de democratizar o
movimento, ou seja, todos os alunos devem participar independente de sua
condição física e dele terem mais ou menos capacidade e habilidades, pois o
esporte não pode levar a qualquer tipo de discriminação, de exclusão, ou seja, o
aluno ao praticar o esporte da escola, seja em qual modalidade for, precisa se sentir
sujeito daquela ação, pois o esporte na escola é uma prática pedagógica que tem o
objetivo de educar. Por isso, completa Oliveira (2010, p. 5) as regras precisam ser
flexíveis e modificáveis sempre que for conveniente, a participação deve ser coletiva,
inclusive priorizando a inclusão, os jogos devem ser idealizados ou adaptados pelos
próprios alunos, e o papel do professor deve ser antes de tudo, de mediador, pois, a
característica maior do esporte na escola deve ser a ludicidade dos alunos.
Isso significa que o esporte tem sua dimensão social muito além do
espaço escolar, pois os alunos não viverão eternamente no âmbito escolar, eles
terão uma vida profissional, afetiva e social fora da escola, porém, levando como
bagagem social, as práticas vivenciadas na escola, e como o esporte é notadamente
um ato social influenciador de massas, os alunos também levarão as marcas que as
práticas esportivas na escola produzirão em sua formação.
É, portanto, importante que o esporte seja usado na escola e pela
escola, como instrumento educacional que venha somar na vida do aluno, que em
geral, sofre “massacres” ideológicos pela mídia e outros veículos de comunicação,
para aderir e viver o espírito competitivo do esporte de competição e de rendimento,
em detrimento da vivência social que o esporte pode lhes proporcionar.

3.2 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, OU ESPORTIVIZAÇÃO ESCOLAR?

Segundo Gueriero e Araújo (2010, p. 1) as reflexões sobre o corpo e


a própria cultura do corpo que explica a postura corporal, fazem parte das evoluções
do homem, desde o homem primitivo, até o homem moderno, por isso a Educação
Física escolar trabalha as expressões corporais, com os alunos, por meio dos
movimentos da [...] dança, de jogos, lutas, exercícios, ginástica, esporte,
malabarismo, contorcionismo, mímicas, e outros [...].
E é assim que a Educação Física deveria trabalhar, porém, nem
27

sempre isso acontece, ou seja, as aulas quase sempre se resumem na adoção da


prática esportiva de alguma modalidade que se limita a reproduzir movimentos,
regras e códigos, tanto que durante muito tempo a Educação Física já foi não
apenas ligada ao esporte, mas sim confundida com o esporte.
De acordo com Leite (2010, p. 1) atualmente o esporte se torna
conteúdo escolar porque ele é adotado sob a forma de um projeto que transforma as
aulas de Educação Física em momentos de reflexão do esporte, onde as crianças
podem experimentar e vivenciar o esporte aprendendo com sua prática a construir
novos valores, e resgatar práticas sociais que eles não conhecem e que a prática do
esporte convencional não pode ensinar. Porque o mais importante é a aprendizagem
e não a mera repetição de movimentos, ou seja, é mais importante resgatar ou
contribuir para que o lado lúdico dos alunos aflore de maneira espontânea e positiva
para os mesmo. Nesse sentido, Leite cita Bracht quando “[... afirma que a ação
pedagógica deve ser voltada para a recuperação do caráter lúdico no desporto
escolar”].
Não se pode esquecer que o esporte é sempre um dos conteúdos
mais difundidos nas aulas de Educação Física e essa preferência dos alunos pelo
esporte e isso deve ser aproveitado pelos lados positivos do esporte que são muitos,
para que ele se transforme no esporte da escola, com características, códigos e
regras próprias.
Com esse pensamento, o esporte na escola passou a assumir um
papel diferenciador e deve ser encarada como tal, pelos professores e pela própria
instituição escolar, dando valor a prática de um esporte sem o caráter competitivo e
sem a confrontação entre os alunos.
É preciso lembrar que essa prática crítica do esporte da escola
surgiu nos anos de 1980, quando críticos teóricos questionaram o fato de
subordinação da escola a instituição esportiva reprodutiva. Assim, surgiu à
abordagem crítico-emancipatória, em oposição ao modelo mecanicista da Educação
Física, essa abordagem, que é também chamada progressista, discute a postura de
alienação que a Educação Física assumiu em relação à prática esportiva escolar,
que ficou se parecendo mais com a esportivização da escola, porque o esporte foi
adotado sem questionamentos, sem reflexão alguma, e com isso, sem nenhum tipo
de acréscimo na vida dos alunos.
O propósito da educação que emancipa é de libertar o aluno dessa
28

condição que lhes impõe limites, que não usa a criatividade e as competências e
habilidades dos mesmos. Ao contrário disso, o esporte da escola precisa trabalhar a
interação, a coletividade, a ação educativa do esporte que reside também no fato do
aluno aprender a apreender o sentido agregador do esporte (LEITE, 2010. pp. 5-6).
Lembrando que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a
partir de 1998 inspiraram-se no chamado modelo espanhol e inclui em seus
conteúdos um documento específico voltado para Educação Física, que tem como
base argumentos da Psicologia e da Sociologia, que coloca a Educação Física com
a finalidade de introduzir o aluno na chamada cultura corporal de movimentos cuja
temática envolve o corpo ligado aos esportes, em todas as modalidades, as lutas,
jogos, brincadeiras e atividades rítmicas (LEITE, 2010, p. 6, apud DARIDO, 2008,
pp. 19-21).
Um erro comum que ocorre atualmente é de que as aulas de
Educação Física se restrinjam a quatro modalidades de esporte durante o ano todo,
dedicando a culpa disso ao pouco espaço ou ausência de material para trabalhar
uma variedade maior de modalidades. Assim, a dança, a ginástica, o atletismo e
outras modalidades ficam relegados para um segundo plano e os alunos são
levados a crer que somente essas três ou quatro modalidades podem ser praticadas
na escola. Na verdade tanto a questão do espaço como do material pode ser
facilmente superadas, pois o esporte pode ser trabalhado em várias modalidades
utilizando material adaptado, o que não é nada difícil de ser executado.
Leite, como todos os outros autores consultados são unânimes em
afirmar que o sentido de trabalhar o esporte nas aulas de Educação Física e mais
ainda, de adotar o esporte modificado, é antes de tudo, de resgatar o lado lúdico do
aluno, pois a ludicidade é um instrumento educativo, pois

O lúdico é o conjunto de elementos especificamente humanos que cria


espaço entre o real e o imaginário, no qual sua criatividade transforma-se de
acordo com a cultura, a história e as condições existentes em que cada
individuo se insere (LEITE, 2010, p. 7).

3.3 REINVENTAR O ESPORTE

Quando muito se fala em esporte na escola, esportivização da


Educação Física o esporte a escola, se chega a uma importante questão. Qual
29

alternativa seguir sem parecer radical demais, abandonar as práticas esportivas e


deixar de ministrar aulas de Educação Física com conteúdos voltados para o
esporte, abolir o futebol e adotar outras modalidades? Enfim! São muitas indagações
e talvez uma só resposta.
Para Assis (2005, p. 19) alternativa é reinventar o esporte, ou seja,
criar o esporte da escola, aquele que possui talvez os mesmos princípios das
modalidades tradicionais, contudo, com regras, códigos e objetivos que são bem
distintos. Isso quer dizer ensinar os alunos, nas aulas de Educação Física à prática
do esporte como cultura corporal de movimentos e como ato e fato capaz de
promover a sociabilização entre pessoas, que almejam crescer socialmente até se
transformarem em cidadãos plenos.
Para isso, é preciso que a escola conquiste sua autonomia, que ela
não seja subordinada, que tem não se sinta obrigada a seguir regras que foram
criadas e impostas por outras instituições tais como federações, ou algo do gênero,
que proíba que as regras dessa ou daquela modalidade esportiva não possam ser
mudadas ou adaptadas, como é mais conveniente para a escola.
Essa autonomia é que na verdade irá incutir no aluno, outros ideais
que não aqueles que movem as práticas, ou antes, as disputas esportivas moderna,
nas quais a necessidade de vencer e de ser melhor que o outro é o imperativo. A
autonomia escolar seria para que o esporte, em qualquer modalidade escolhida,
possa ser reinventado com novas regras, novos códigos e novos objetivos, que são
aqueles da escola e da própria Educação Física, para com os alunos, e não de
clubes ou instituições para com os seus atletas.
As vitórias e conquistas com o esporte da escola não se traduzem
em títulos, troféus, fama e dinheiro, pois tudo isso o aluno poderá almejar e até
alcançar, em sua vida futura, como um cidadão responsável, um profissional apto
para desempenhar bem seu papel social na sociedade. As conquistas do esporte da
escola são alunos melhor preparados, com noções de valores morais e éticos, de
companheirismo, de coletividade, de comunidade, de tolerância, de inclusão das
diferenças. E tudo isso, é exatamente o que o espírito do esporte no mundo
capitalista não pode aceitar, porque ideologicamente é contrario ao espírito
capitalista, então o esporte da escola, precisa ter outra ideologia e outro significado.
Mas, Assis (2005, p. 5) adverte que, ao criar um espaço na escola e
ao reinventar o esporte da escola é preciso que a própria escola não se feche em si
30

mesma, e se torne uma instituição isolada e autônoma, que não admita


interferências e mudança, pois a própria adesão ao esporte da escola, já uma
proposta democrática de mudança, que deve vir acompanhada de outras atitudes do
mesmo quilate educacional e social, pois

O pressuposto da possibilidade de reinventar o esporte, além de fincado na


atualidade da crítica ao capitalismo e na compreensão da escola como
espaço de contradições, conflitos e disputas, articula uma determinada
perspectiva teórica, de explicação e interpretação do esporte como dado
cultural com a necessidade de um trato com esse conhecimento, no âmbito
da escola, que seja capaz de promover a sua explicação, negação e
superação.

“[ A possibilidade da reinvenção como pressuposto e, ao mesmo tempo, o


impulso fascinante e o limite desafiador...]” (ASSIS, 2005, p. 23).

É interessante perceber que quando se fala em reinventar o esporte


escolar, que essa autonomia escolar não está prevista apenas para o âmbito interno
da instituição durante as aulas de Educação Física. Essa teoria deve abranger
também os jogos escolares, onde o clima da disputa e da competitividade deu lugar
tomou o lugar da socialização, do intercambio e da interação e integração entre
escolas e alunos,
O que se pretende com isso na verdade, mais que reinventar o
esporte escolar, é sim criar no aluno a cultura escolar do esporte. Isso quer dizer
que o esporte não tem que entrar na escola e sair como entrou, sem sofrer
modificações, alterações, sendo apenas reproduzido e copiado. Deve haver uma
possibilidade de mudança, quando o professor trabalhar com um projeto político-
pedagógico que transforme o esporte que entra na escola para que ele permaneça
na escola, com os contornos, as características e com os valores da escola (LEITE,
2010, p. 6-7).

3.4 ESPORTE DA ESCOLA

Segundo Menezes, Capistrano e Sousa (2010, p. 94) o esporte na


escola é influenciado pela mídia virtual, em especial a televisão, que impõe junto
com o interesse pela prática dessa ou daquela modalidade esportiva, outras
necessidades ligadas as necessidades específicas da modalidade, ou seja, a
31

modalidade esportiva é imposta à partir do momento que o indivíduo adote também


uma linha de conduta, uma postura, uma estética e um modo comportamental que
aquela modalidade faz propaganda, e por isso se diz que a escola se subordina as
instituições do esporte.
No caso do futebol tradicional, o aluno que pratica o futebol na
escola é facilmente iludido a pensar e a querer usar as roupas, os tênis, as
chuteiras, as meias, e os demais acessórios que os jogadores profissionais usam, e
assim também, os alunos são levados a pensar em ganhar a qualquer custo, a
render sempre mais, a excluir aqueles que demonstram serem menos habilidosos,
porque o ideal da competição, da disputa, da seleção, do enriquecer muito e em
curto prazo faz parte do mesmo pacote que vende a prática do esporte tradicional.
E a verdade é que nem todos os alunos poderão vir a ser fenômenos
do esporte, como os atletas da mídia são, e por isso eles não podem sofrer esse tipo
de auto-sugestão, essa hipnose que a mídia vende. E essa verdade cabe a escolar
estabelecer, ou seja, o esporte não se resume apenas rendimentos, conquistas e
lucros financeiros, ele tem outras dimensões, nas quais os alunos podem ser
inseridos através da escola.
O esporte da escola não pode ser nunca uma extensão do chamado
esporte de desempenho, com regulamentos rígidos, imutáveis, desenvolvidos para
gerar a oposição, a disputa, o despertar do processo que gera atletas vencedores
dentro da escola. Claro que há que se tomar o cuidado de não abafar a trajetória de
um aluno que tenha pela frente uma carreira, seja por ambição ou por competência,
esse seria outro ponto, que não entra nessa abordagem, posto que para isso
existam ambientes próprios. Aqui se fala de alunos comuns, que em muitos casos,
terão na escola a única chance de ter contato com esse tipo de educação formadora
de caráter e geradora de valores morais e éticos.
Já para Santos ([et al.], 2006, p. 21) a prática esportiva no âmbito
escolar tem grande importância, pois o homem se sociabiliza através do esporte,
que desperta o respeito mutuo, a união e a amizade. E é a partir desse conceito que
a Educação Física deve trabalhar o esporte da escola, visando principalmente a
ludicidade dos alunos, e a existência de regras impostas, impede qualquer
manifestação lúdica.
O esporte da Educação Física e do currículo escolar faz com que
crianças e jovens consigam sentir prazer em sua prática, tanto que a disciplina de
32

Educação Física é muitas vezes a preferida pelos alunos, exatamente por propiciar a
manifestação lúdica dos alunos, e assim proporcionar a eles momentos de auto-
realização, de momentos de conquista, que de outra forma, talvez alguns dele
jamais teriam a chance de obter e de experimentar.
Para Santos ([et al.], 2006, p. 25) a prática do esporte da escola, em
especial os jogos, deve ser um momento do aluno participar nas tomadas de
decisões, na elaboração da tática de jogo, por meio das quais os alunos podem
reconhecer que os jogos, além do sentido da disputa, também poder ser agradável,
interessante e educativo na medida em que eles são instruídos e tomar atitude e
decisões baseadas na consciência ética. O aluno é chamado a entender e
compreender a dinâmica do jogo, e ainda a identificar princípios pedagógicos,
aplicar seus conhecimentos já existentes aliados a novos conhecimentos, enfim, os
alunos têm reais possibilidades de desenvolvimento em todas as áreas, e assim
desenvolver e construir novas abordagens e saberes.
Esse modelo da aplicação de jogos da escola é conhecido como
Jogos Esportivos Modificados e segundo autores como Almond & Waring (1992)
compreende:

Os alunos constroem algo que é seu, envolvem-se em seu próprio


aprendizado, compartilham idéias, trabalham de maneira cooperativa e,
naturalmente, descobrem por que as regras são importantes e a que
propósito elas servem.

Nesse modelo de ensino dos jogos esportivos, os alunos tornam-se


responsáveis por seu próprio currículo (SANTOS, NERY, ASSUNÇÃO,
TORRES, CORDEIRO, 2006, p. 25, apud ALMOND & WARING, 1992,
passim).

3.5 ESPORTE NA ESCOLA

Para Menezes, Capistrano e Sousa (2010, P. 96) o esporte na


escola leva embutido em sua prática todo o contexto que envolve os esportes de alto
rendimento e voltado para as competições e para a formação de atletas, é seletivo,
excludente, valoriza as habilidade individuais, não trabalha o conceito de equipe, de
valorização das diferentes, não permite a construção do pensamento crítico, pois
não admite a flexibilidade.
33

A escola que adota o modelo de jogos tradicionais se torna


subordinada as instituições desportivas como federações, e instiga naturalmente os
alunos a lutar entre si, pelos melhores resultados, em detrimento da convivência
social compartilhada. O esporte acaba sendo um prolongamento da instituição
esportiva, com subordinação aos seus códigos, sentidos e regras, e se baseia na
execução repetida de movimentos e habilidades específicas, sem possibilidades de
mudanças e de inovações, ou seja, cerceia a criatividade do aluno e o torna alienado
á necessidade imposta da vitoria a qualquer preço.
O esporte na escola segue o método tradicional dos jogos esportivos
cuja prática se estrutura na introdução, que nas aulas corresponde ao momento da
realização de exercícios de aquecimentos, na fase do desenvolvimento, quando são
desenvolvidas as habilidades técnicas, em geral de maneira isolada, como por
exemplo, o ensino dos fundamentos de determinada modalidade esportiva, e da
conclusão, fase na qual se conclui a aula com um jogo, com a tradicional formação
de duas equipes, e já se caracterizando aí nesta situação a discriminação, pois
somente compõem as equipes os alunos aptos fisicamente, os outros ficam de fora
da aula e também do próprio contexto da Educação Física.
Esse modelo tradicional trabalha a competência técnica, as
habilidades separadamente, e sua repetição sistemática.

3.6 DIFERENÇAS

De acordo com Menezes, Capistrano e Sousa (2010, p. 97) as


diferenças são facilmente percebidas, pois os jogos esportivos tradicionais se
iniciam pela execução das habilidades técnicas, com o objetivo principal de treinar
para obter resultados, e segue pela reprodução das regras, a exclusão dos alunos
menos aptos, ou menos habilidosos, os jogos tem uma existência prévia, não admite
inovações, os materiais utilizados são específicos, há a separação por sexo, o
professor desempenha o papel de um mero instrutor, e o aluno não pode
desenvolver sua criatividade e tão pouco seu sendo crítico.
Enquanto que no esporte da escola as regras são flexíveis, os
objetivos são outros, e desenvolvidos de acordo com as necessidades e
possibilidades dos alunos, a busca é pela participação coletiva, sem dar excessivo
valor ao gesto técnico, a inclusão busca priorizar todos e não apenas aqueles alunos
34

mais capazes, o professor tem o papel de mediador das atividades, podendo intervir
nas atividades, com o intuito de incentivar, os materiais não precisam ser
específicos, podem ser adaptados, utilizar sucatas, recorrer a criatividade dos alunos
na construção de jogos esportivos, exercitando sempre a ludicidade e os alunos são
sujeitos das ações.
Existe ainda a possibilidade de combinar os dois modelos, pois os
jogos tradicionais servem para desenvolver os fundamentos das modalidades
esportivas, pois os jogos modificados não implicam necessariamente na ausência da
parte teórica do esporte, que é sempre importante que os alunos conheçam.
Os próprios Parâmetros Curriculares Nacionais promulgados em
1998, se refém aos jogos e aos esportes como sendo componentes curriculares, e a
recomendação é de que busque sempre formular atividades que tenham um
significado maior que a simples repetição de movimentos (MENEZES,
CAPISTRANO E SOUSA, 2010, p. 97-98).
Já para Santos, Nery, Assunção, Torres, Cordeiro (2006, p.26) o
esporte na escola tem a característica de reproduzir regras, buscar sempre a
melhoria, ser excludente, serem pré-existentes, ser tecnicista, não admitir
criatividade, não necessitar da ludicidade, separar sexos. Enquanto que o esporte da
escola promove a flexibilidade, busca a participação coletiva, é inclusivo, precisa da
criatividade dos alunos para sua construção, o professor deve ser o mediador, não é
específico, não separa sexos, e é sempre lúdico.
Sendo assim, fica evidente que existem dois modelos de aplicação
do conteúdo do esporte nas aulas de Educação Física, aquele modelo que adota as
práticas tradicionais da modalidade esportiva, cujo objetivo é o alto rendimento e a
competição, a exemplo do esporte moderno no dentro do contexto capitalista de
produção, e de outro lado, o chamado modelo de Jogos Esportivos Modificados, no
qual o objetivo é a sociabilização entre os alunos e a sociedade, a construção do
aluno como cidadão crítico e sujeito da ação e sua manifestação lúdica, como
pressuposto de seu crescimento e desenvolvimento.
35

4 METODOLOGIA

O estudo foi do tipo descritivo-exploratório, com abordagem


qualitativa não probabilística. Foram realizadas entrevistas professores de Educação
Física do ensino fundamental de instituições de ensino situadas no município de
Itambaracá, PR. A amostra foi constituída por 5 docentes de escolas públicas.
A pesquisa constou de dois momentos: no primeiro momento foi feita
a identificação da população e da amostra, descrita anteriormente. O segundo
momento foi à coleta de dados propriamente dita, para a qual utilizamos a entrevista
semi-estruturada com questionário adaptado à realidade da pesquisa previamente
validado pelo IAAF (International Association of the Federations of Athletics)
Introdução a Teoria do Treinamento de 1991, com perguntas abertas, as questões
norteadoras que deram suporte ao estudo.
Para análise dos dados, as entrevistas realizadas foram transcritas,
lidas, analisadas e codificadas, para que assim pudéssemos interpretar os dados
colhidos e dispô-los em categorias.
As entrevistas somente foram realizadas após a exposição do tema
e objetivos do trabalho, dos cuidados referentes ao sigilo dos informantes e do
caráter voluntário da participação, para isso foi utilizado um termo de consentimento
e livre esclarecido.
36

5 RESULTADOS

5.1 CATEGORIZAÇÃO

As categorias de análise mostradas a seguir surgiram por meio da


leitura dos depoimentos dos entrevistados, dos objetivos preestabelecidos e da base
teórica adotada, elas são indispensáveis, pois permitem melhor análise e
organização dos dados.
• Categoria 1: O que estou tentando conseguir para mim?
• Categoria 2: O que eu quero alcançar com meus alunos?
• Categoria 3: Qual é o meu estilo de ensino?
• Categoria 4: Qual é a minha motivação para lecionar?

5.1.1 Categoria 1: O que estou tentando conseguir para mim?

Nesta categoria procuramos investigar qual a importância que o


esporte e as aulas de Educação Física tem para a vida dos professores, ou de que
forma contribui na vida de cada um, de acordo com a indagação: O que estou
tentando conseguir para mim? Quando questionados a sobre esta questão,
obtivemos as falas a seguir:
“(...) Além de ser meu trabalho e meu sustento familiar, tento
realizar-me como pessoa e cidadã, dando minha contribuição para a minha
comunidade (...)”.
“(...) Aprender a cada dia mais com as experiências vivenciadas com
meus alunos, fazendo com que seja melhor naquilo que faço (...)”.
“(...) A minha realização pessoal e profissional. (...)”
“(...) O fator relevante e importante que eu sempre busco é a
compreensão, a aprendizagem e o respeito pelos alunos (...)”.
“(...) Ser um bom profissional e comprometido com aquilo que penso
e aquilo que faço (...)”.
37

5.1.2 Categoria 2: O que eu quero alcançar com meus alunos?

Nessa categoria procuramos investigar de que forma o professor


esta buscando aproximar-se de seus alunos no caráter afetivo-cognitivo, bem como
que tipo de retorno esse aluno lhe trará nas aulas de Educação Física, e qual a
seqüência pedagógica que o professor utiliza nessas aulas. E para comprovar o que
foi dito adicionamos algumas falas dos sujeitos entrevistados:
“(...) Adquirir conhecimentos e desenvolver autonomia quando a
pática da atividade física de forma saudável (...)”.
“(...) Que eles vejam no esporte uma forma de melhoria em sua
qualidade de vida e não somente uma forma de recrear (...)”.
“(...) Que meus alunos consigam criar as possibilidades para
construção do seu próprio conhecimento (...)”.
“(...) Que eles aprendam, primeiramente o respeito próprio e pelos
demais e consigam cultivar a experiência aprendida. (...)”
“(...) Eu quero que os alunos aprendam a procurar respostas e
sejam autodidatas e a relação professor e aluno seja de maneira informal em clima
de descontração. (...)”

5.1.3 Categoria 3: Qual é o meu estilo de ensino?

Procuramos verificar nessa categoria qual o tipo de estilo de ensino


e se o mesmo é adequado. Para evidenciar o que foi passado quanto à ao estilo
aplicado nas aulas é necessário analisar as falas abaixo:
“(...) Procuro utilizar técnicas e metodologias que despertem o
interesse dos alunos e que contribuam para contribuir de forma positiva na formação
dos alunos como cidadãos conscientes. (...)”.
“(...) Procuro ter um estilo próprio, que mescle vários tipos de
conhecimento, envolvendo pesquisas, vídeos, livros, aulas práticas e pesquisas de
campo. (...)”.
“(...) A relação professor/aluno deve ser cultivada a cada dia.
Procuro investigar a turma, ter uma relação afetiva com os alunos buscando o
melhor processo ensino-aprendizagem.(...)”.
“(...) Minha didática sempre envolve muito a conversa com os alunos
38

e suas necessidades mais importantes. (...)”.


“(...) O aluno é colocado no centro do processo educativo, passando
a ser o elemento ativo, formulando problemas, buscando respostas para as
inquietações formuladas durante a aula. Formação do ser global priorizando a
participação do cidadão em todos os setores da sociedade. (...)”.

5.1.4 Categoria 4: Qual é a minha motivação para lecionar?

Como pode ser visto, nessa ultima categoria, procuramos saber a


opinião dos mesmos a respeito das aulas de Educação Física e o que os leva a
lecionar, sua força motriz, sua inspiração pessoal. Observemos os recortes:
“(...) Sempre acreditei nos conteúdos trabalhados na Educação
Física como uma grande riqueza e força educativa. As experiências vivenciadas nas
aulas de Educação Física quando proporcionadas de forma coerente contribui de
forma muito positiva na formação do caráter dos alunos (...)”.
“(...) Procuro me motivar com aqueles alunos interessados, que
buscam sempre melhorar seus conhecimentos adquiridos. (...)”.
“(...) A minha maior motivação é gostar do que faço trabalhando com
dedicação superando os desafios propostos. (...)”.
“(...) Me motivo muito quando consigo fazer o aluno se interessar
pelas aulas. Isso faz com que o empenho, a didática e o ensino melhorem a cada
aula. (...)”
“(...) É tentar preparar o aluno para a vida do dia a dia, tentando
trazer as experiências deles para a sala de aula para nós tentarmos desenvolver e
acrescentar alguma coisa, realmente preparar o aluno para o futuro. (...)”
O fator mais perceptível nessas respostas está no fato que alguns
professores não compreenderam totalmente a profundidade e a relevância do
trabalho, ou talvez não tenham se expressado bem nas respostas.
39

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir que a compreensão dos professores a respeito da


importância das aulas de Educação Física e da diferença do esporte na escola e o
esporte da escola, não está completamente definido.
De acordo com as entrevistas analisadas e principalmente nas aulas
observadas, evidenciou-se a predominância do esporte na escola onde há a
reprodução de regras já existentes e rígidas e a busca pela melhoria do gesto
técnico. Este predomínio do esporte na escola é resultado da subordinação da
Educação Física aos códigos das instituições esportivas, o que explica o esporte de
rendimento no sistema escolar. Se o esporte apresenta aspectos negativos na
escola é pelo fato de existir um equívoco em sua utilização, por parte do professor
que não tem discernimento para entender que o esporte deve sofrer transformações
para atender as necessidades de um novo ambiente, sendo assim o que deve ser
revisto não é o jogo desportivo em si, mas a visão de mundo do professor que altera
a relação professor e aluno para professor treinador e aluno atleta.
O esporte como conteúdo das aulas de Educação Física deve ser
abordado de modo a vir formar idéias críticas, fazer com que o aluno reflita de
acordo com o que foi transmitido, obedecendo a uma seqüência pedagógica que o
faça participar e se colocar como um ser crítico e participativo no processo ensino-
aprendizagem.
Os objetivos da abordagem foram alcançados posto que foi possível
identificar a origem histórica das práticas esportivas ligadas aos ideais
disciplinadores pelos quais o esporte foi utilizado pelos poderes dominantes em ao
menos dois períodos históricos da sociedade política brasileira, sendo que o período
conhecido como Ditadura Militar, entre 1964 a 1985, com grande ênfase no final da
década de 1970 e inicio de 1980, quando a Educação Física e suas práticas
esportivas foram usadas para treinar os alunos, através da preparação física, para o
trabalho e a produção capitalista.
A partir dos anos de 1980 essa ideologia embutida começou a ser
questionada por teóricos da área e culminou na revisão de conceito, da própria
identidade da Educação Física, e de seu papel educacional. As discussões
repercutiram positivamente no teor da disciplina, contido na redação das Diretrizes
Curriculares Nacionais, que traz a proposta da Educação Física como instrumento
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de sociabilização dos alunos através das práticas esportivas modificadas, cujo teor
foge completamente aos ideais de competição e alto rendimento, que é
característica primordial no esporte moderno.
A proposta da prática do esporte modificado nas aulas de Educação
Física busca integrar e contemplar a participação cooperativa dos alunos sem
promover exclusões, e, ao mesmo tempo, incentivar o desenvolvimento das
potencialidades, da criatividade, do senso crítico e sobre tudo, da ludicidade dos
alunos.
Sendo assim, os resultados das pesquisas bibliográficas foram
aliados aos resultados da pesquisa de campo que apontaram os seguintes
resultados conclusivos.
Os profissionais da área de Educação Física, apesar de possuírem o
conhecimento teórico, não aplicam em sua totalidade o esporte educacional,
havendo mesmo de maneira inconsciente o dito esporte de rendimento.
A conclusão mais importante a que podemos chegar desta pesquisa
é que realmente existe uma necessidade de se alterar a maneira pela qual a
Educação Física é exercida atualmente e, sim, é possível promover esta alteração
pedagógica de modo a se tirar um maior proveito do processo ensino-aprendizagem,
sendo que para isto não precisamos necessariamente abandonar os movimentos de
caráter desportivo, mas adaptá-los a uma realidade que não exerça sobre os alunos
uma pressão constante na busca incessante de resultados. Desta forma podemos
sugerir àqueles que militam na área escolar a realização de uma metodologia que
estimule o aluno em todas as esferas de seu comportamento humano (motora,
cognitiva, afetiva e social) para que assim possamos contribuir dentro da Educação
Física escolar, com o avanço do processo de desenvolvimento motor o qual ocorre
em todos nós, seres humanos.
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REFERÊNCIAS

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Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

ASSIS, Sávio de Oliveira. Reinventando o esporte: possibilidades da prática


pedagógica. 2 ed. Campinas, SP: Autores Associados, chancela editorial CBCE,
2005.

BRACHT, Valter ...[et al.]. Pesquisa em ação: educação física na escola. 2. ed. Ijuí:
Ed. Unijuí, 2005.

BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais,


Educação Física. Brasília, MEC/SEF, 1997.

------ Sociologia crítica do esporte: uma introdução. Vitória: UFES, Centro de


Educação Física e Desportos, 1997.

CAPARROZ, Francisco Eduardo. Entre a educação física na escola e a educação


física da escola: a educação física como componente curricular. 2, ed. Campinas,
SP: Autores Associados, 2005.

CAPISTRANO, Richardson Dylsen de Souza, MENEZES, Maria Simone Máximo,


SOUSA, Maria do Socorro de. Esporte no ambiente escolar: qual predomina:
esporte da escola ou esporte na escola? IV Congresso Cientifico Norte-nordeste,
Ceará, 2010.

DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA/EDUCAÇÃO FÍSICA.


Governo do Paraná/Secretaria de Estado da Educação do Paraná/Departamento de
Educação Básica.

GUERIERO, Djane Aparecida, ARAÚJO, Paulo Ferreira de. Educação física


escolar ou esportivização escolar? Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/efd78/esportv.htm> Acesso em: 26 de out. 2010.

LEANDRO, M.R. Educação física no Brasil: uma história política. Monografia


(Licenciatura em Educação Física) - Curso de Educação Física, Centro Universitário
UniFMu, São Paulo, 2002.

LEITE, Eduardo Alves. O esporte na escola: sua realidade e possibilidade de


mudanças. Revista Digital – Buenos Aires – Año 14 – Nº 142 – Marzo de 2010.
Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd142/o-esporte-na-escola.htm>
Acesso em: 26 de out. 2010.

MENEZES, Maria Simone Máximo de, CAPISTRANO, Richardson Dylsen de Souza


e Sousa, Maria do Socorro Cirilo de. Esporte no ambiente escolar: qual
42

predomina: esporte da escola ou esporte na escola? Livro de Memórias do IV


Congresso Científico Norte-norteste – CONAFF.

OLIVEIRA, Maikon Moises de. Dimensões sociais do esporte: perspectivas


trabalhadas nas escolas da cidade de Pau dos Ferros. 2010. disponível em:
<http://www.efdeportes.com/efd144/dimensoes-sociais-do-esporte-nas-escolas.htm>
Acesso em: 26 de out. 2010.

SANTOS, Edson Arapiraca dos, NERY, Fábio do Couto, ASSUNÇÃO, Laércio da


Silva, TORRES, Robson Silva, CORDEIRO, Sandra Marilu Santos. As diferenças
ente o esporte da escola e o esporte na escola. Revista Treinamento Desportivo.
Volume 7. Número 1. 2006.

VAGO, Tarcisio Mauro. O “esporte na escola” e o “esporte da escola”: da


negação radical para uma relação de tensão permanente. Um diálogo com Valter
Bracht. Movimento – Ano III – nº 5 – 1996.
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ANEXOS
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ANEXO A – Instrumento de Pesquisa Utilizado na Coleta de Dados

Questionário de pesquisa para professores de Educação Física no Município de


Itambaracá - PR.

Existem muitos fatores que podem definir a sua filosofia de ensino.


Existem camadas de pessoas que estão envolvidas direta ou indiretamente e podem
ter uma filosofia de ensino diferente. Seu sucesso como professor dependerá mais
de sua filosofia de ensino do que em qualquer outro fator.
Os professores devem compreender que a filosofia do ensino, a sua
própria filosofia de ensino e as filosofias de todos os envolvidos têm um papel
importante no sucesso dos seus programas. Antes de começar a lecionar e que
você continue, pergunte a si mesmo estas perguntas importantes para que você não
perca de vista porque você é um professor de sucesso.

1. O que estou tentando conseguir para mim?


R:....................................................................................................................................
......................................................................................................................

2. O que eu quero alcançar com meus alunos?


R:....................................................................................................................................
......................................................................................................................

3. Qual é o meu estilo de ensino?


R:....................................................................................................................................
......................................................................................................................

4. Qual é a minha motivação para lecionar?


R:....................................................................................................................................
......................................................................................................................
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ANEXO B – Termo de Consentimento Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Tema da pesquisa: A diferença entre a prática do esporte na escola e o esporte da escola,


em desenvolvimento no Curso de Educação Física em nível de Graduação da Faculdade Dom Bosco,
sob a orientação do Prof. Luiz Henrique Simioli Furlan Oliva.
Pesquisadores Responsáveis: Ricardo José Tostes e Éder Roni Montanheiro.
Este estudo tem o objetivo de documentar a forma que os professores de Educação Física
estão direcionando suas aulas para os alunos situados no município de Itambaracá. Esta pesquisa é
de fundamental importância para o teste de conclusão de curso dos pesquisadores responsáveis
acima citados, no curso de Educação Física pela Faculdade Dom Bosco.
Para tanto será necessário realizar o seguinte procedimento: os participantes do estudo serão
submetidos a um questionário de avaliação com questões relacionadas ao tema acima citado.
Durante a pesquisa, a aplicação do questionário não oferece nenhum risco ao participante, bem
como algum tipo de dano ou desconforto. Será aplicado um questionário em vista, as aulas de
educação física. Caso haja necessidade, o professor entrevistado poderá entrar em contato com
os pesquisadores responsáveis através dos telefones (43) 9615-6873 ou (43) 9613-1426, para
receber orientações ou fazer perguntas a respeito da pesquisa, se necessário.
Após ler e receber explicações sobre a pesquisa, e ter meus direitos de:
• Receber resposta a qualquer pergunta e esclarecimento sobre os procedimentos como será
aplicado os questionários e outros relacionados à pesquisa;
• Retirar o consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo;
• Não ser identificado e ser mantido o caráter confidencial das informações relacionadas à
privacidade.

Declaro estar ciente do exposto a participar da entrevista.

Itambaracá, de de 2.010.

Assinatura:
Professor

Eu, Éder Roni Montanheiro, declaro que forneci todas as informações referentes
ao projeto para o Professor.

Data: / /

Éder Roni Montanheiro

Eu, Ricardo José Tostes, declaro que forneci todas as informações referentes ao
projeto para o Professor.

Data: / /

Ricardo José Tostes

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