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O Processo de Decisão do Comitê de Política Monetária (Copom)

4 de maio de 2007

Em 20 de junho de 1996, foi instituído o Comitê de Política Monetária (Copom), com o objetivo de
proporcionar maior transparência e ritual adequado ao processo decisório sobre o
estabelecimento de diretrizes para a política monetária e de definição da taxa básica de juros da
economia. Em 21 de junho de 1999, por meio do Decreto nº 3.088, o Brasil adotou formalmente o
regime de política monetária baseado nas metas para a inflação. Desde então, as decisões do
Copom passaram a ter o objetivo - legalmente estabelecido - de cumprir as metas para a inflação
definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em 2007, o regime de metas para a inflação
no Brasil está completando oito anos de existência e, neste momento, vale a pena descrever, mais
uma vez, o funcionamento e o processo de decisão do Comitê.

O Copom é composto pelo presidente e pelos diretores do Banco Central do Brasil, sendo as
decisões tomadas por maioria de votos e, em caso de empate, por voto de qualidade do presidente.
Até 2005, o Comitê se reunia ordinariamente doze vezes ao ano, mas, a partir de 2006, a freqüência
passou a oito reuniões por ano. O calendário do Copom para o ano seguinte é divulgado ao público
até o final de outubro do ano corrente. O presidente tem a prerrogativa de convocar reuniões
extraordinárias do Comitê, sendo que a última ocorreu em outubro de 2002. As reuniões incluem
duas sessões, normalmente distribuídas em dois dias sucessivos.

Além dos membros do Copom, participam da sessão do primeiro dia de reuniões seis chefes de
unidade1 e seis outros funcionários graduados do Banco Central e, na sessão do segundo dia, apenas
o chefe do Depep. Na primeira sessão, os chefes de unidade fazem apresentações sobre tópicos
relacionados às respectivas áreas de competência, como, por exemplo, conjuntura internacional,
atividade econômica, mercado monetário e de crédito e avaliação prospectiva da inflação no curto
prazo. Na segunda sessão, após analisar exaustivamente o comportamento da inflação e das
perspectivas para sua trajetória futura dentro do horizonte de previsão estabelecido pelo regime de
metas, bem como o balanço dos riscos a elas associados, o Copom decide sobre as ações de política
monetária. As apresentações sobre conjuntura econômica na primeira sessão e a análise de cenários

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Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep), Departamento Econômico (Depec), Gerência-Executiva de
Relacionamento com Investidores (Gerin), Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), Departamento de
Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban), Departamento de Operações das Reservas Internacionais
(Depin).

O conteúdo deste documento é informativo. Não restringe as ações de política monetária e cambial do Banco Central
do Brasil. Questões e comentários para gerin@bcb.gov.br
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prospectivos no segundo dia de reunião do Copom proporcionam aos membros do Comitê uma base
de informações comum, favorecendo o debate que ocorre na parte final da reunião.

O regime de metas para a inflação, ao introduzir uma âncora nominal clara para a política monetária
e para as expectativas dos agentes econômicos, ampliou ainda mais a transparência das decisões de
política introduzida pela instituição do Copom. O novo regime monetário proporcionou também
mais clareza na definição de responsabilidades pela formulação e implementação da política
monetária. De fato, no regime de metas as decisões de política monetária têm continuamente sido
tomadas com base no conhecimento e na análise profunda de um amplo conjunto de informações.
Além disso, o Copom tem procurado divulgar de forma clara e tempestiva as razões que
sustentaram suas decisões. Nesse sentido, suas diretivas são imediatamente anunciadas após o
término das reuniões e, uma semana após, são divulgadas as respectivas atas, resumindo as
premissas, os cenários analisados e a substância das discussões. Adicionalmente, a cada trimestre, o
Copom divulga um relatório de inflação, onde são aprofundadas as análises contidas nas atas, bem
como são avaliados o desempenho do regime de metas para a inflação, os resultados de decisões
anteriores de política monetária e as perspectivas para a evolução dos preços e da atividade
econômica.

No que se refere especificamente à avaliação prospectiva da inflação, os membros do Copom


analisam projeções obtidas a partir de modelos macroeconômicos estruturais e não-estruturais,
considerando informações externas aos modelos, séries históricas, indicadores antecedentes,
trajetórias esperadas pelo setor privado para variáveis econômicas relevantes, e outras variáveis que
possam afetar a trajetória da inflação.

Em uma perspectiva de médio e longo prazos, vários modelos foram desenvolvidos para fazer
projeções de inflação, entre os quais se destacam os modelos estruturais que buscam captar as inter-
relações dos principais agregados da economia brasileira. Esse tipo de instrumental é largamente
utilizado pelos bancos centrais, mesmo nos casos em que, ao menos explicitamente, o regime de
metas para a inflação não é adotado. De uma maneira bastante simplificada, esses modelos
procuram replicar o comportamento da demanda e da oferta agregadas. Nesse sentido, a demanda
agregada é representada por uma equação do tipo IS, que relaciona indicadores de atividade
econômica à taxa de juros, enquanto a oferta agregada é representada por uma equação do tipo
curva de Phillips, que relaciona a taxa de inflação corrente com a atividade econômica, com taxas
de inflação passada, com expectativas de inflação e com a variação da taxa de câmbio. Os modelos
utilizados na elaboração de projeções apresentadas ao Copom são atualizados periodicamente,
sendo que a atualização mais recente visou incorporar as novas séries das contas nacionais
divulgadas pelo IBGE.

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No contexto da análise prospectiva considerada pelo Copom, cabe destacar o cenário de mercado,
que leva em conta as trajetórias para a taxa básica de juros e para a taxa de câmbio que constam de
pesquisa realizada pela Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin), junto a
analistas do setor privado, nos dias que antecedem a reunião do Comitê. As projeções de inflação (e
de outras variáveis relevantes) analisadas pelo Copom não são pontuais. Elas explicitam intervalos
de probabilidade que ressaltam o grau de incerteza presente no momento em que a decisão sobre a
taxa básica de juros é tomada. Em particular, cabe enfatizar que as projeções de inflação dependem
não apenas das hipóteses sobre as taxas de juros e de câmbio, mas também de um conjunto de
hipóteses sobre o comportamento de variáveis exógenas. O conjunto de hipóteses considerado mais
provável pelo Copom é utilizado para construir os cenários a que o Comitê atribui maior peso na
tomada de decisão sobre a taxa de juros.

As informações fornecidas pelos modelos estruturais, mais apropriados à construção de cenários


para médio e longo prazos, são complementadas por um conjunto de modelos não estruturais, que
constituem instrumentos importantes para análises de curto prazo. Dentre esses modelos, destacam-
se os de vetor auto-regressivo simples (VAR) e bayesianos (BVAR). Além de gerar projeções de
boa qualidade para o comportamento da inflação no curto prazo, os modelos são marcadamente
úteis na simulação dos efeitos de choques específicos em variáveis exógenas sobre a inflação
medida pela variação do IPCA ou de algum de seus principais componentes. Esses choques podem
estar associados, por exemplo, ao comportamento do preço de uma commodity internacional
importante, como o petróleo (um choque de oferta), ou a uma inovação no mercado de crédito (um
choque de demanda). Sendo assim, além das projeções centrais, consubstanciadas nos cenários de
referência e de mercado, o Comitê examina, em certos momentos, cenários alternativos,
incorporando choques para variáveis que, naquela conjuntura, sejam objeto de maior incerteza.

O Copom também avalia informações detalhadas sobre o comportamento dos preços e da atividade,
cujo acompanhamento e análise estão a cargo de áreas técnicas do Banco Central. No que se refere
aos preços, o Comitê busca identificar tendências e pontos de inflexão para o comportamento da
inflação ao consumidor, considerando as diversas medidas de inflação subjacente - mais conhecidas
como núcleos, assim como indicadores antecedentes. De modo similar, são analisados indicadores
antecedentes e coincidentes da atividade econômica, de forma a antecipar eventuais desequilíbrios
entre a expansão da demanda e oferta agregadas.

É importante ressaltar, por fim, que, na condução da política monetária no Brasil, à semelhança do
que acontece em qualquer outra importante economia de mercado, o exercício do julgamento é
fundamental. Por mais informativos que sejam, modelos serão sempre uma aproximação da
complexa realidade macroeconômica. Nesse sentido, é importante que projeções de inflação,
indicadores antecedentes e todos os demais instrumentos de análise utilizados pelo Comitê sejam

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combinados com o julgamento dos membros do Copom. Essa avaliação qualitativa possibilita a
ampliação do universo de análise, ao viabilizar a incorporação, ao cenário econômico, de elementos
que não são capturados diretamente pelos modelos ou pelos indicadores. Entre esses elementos,
incluem-se julgamentos subjetivos sobre a natureza (temporária ou persistente) e a intensidade de
choques que atingiram ou potencialmente atingirão a economia. Adicionalmente, o julgamento dos
membros do Comitê atribui probabilidades e, conseqüentemente, pesos dentro do processo
decisório, para alguns dos cenários alternativos contemplados ocasionalmente. Esse processo é
fortalecido pela comunicação organizada e criteriosa sobre as decisões de política monetária por
meio dos comunicados, das atas e dos relatórios de inflação.

Em suma, o Copom segue a prática dos bancos centrais modernos, utilizando análise quantitativa e
qualitativa para estabelecer cenários sobre a trajetória futura da inflação, e avalia detidamente o
balanço de riscos associado a esses cenários para então decidir, de forma colegiada, sobre a
implementação da política monetária.

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